segunda-feira, 31 de maio de 2021

Você também pode dar um presunto legal


"Você também pode dar um presunto legal", de Sérgio Muniz (1971)
Documentário filmado de forma clandestina pelo documentarista Sérgio Muniz, deveria ter sido lançado em 1971. Mas Sérgio foi aconselhado a não exibir, por colocar em risco a vida de sua eeuipe e de seu elenco, em plena ditadura militar. O filme foi enviado para Cuba e ali guardado. Em 2006, Sérgio resolveu digitalizar o filme e ele mesmo o reeditou, cm a única cópia em VHS convertida em dvd. O filme acabou sendo lançado no mesmo ano. Co-escrito pelo cineasta e produtor Francisco Ramalho jr, o filme apresenta as ações do temível Esquadrão da morte, formado por policiais que assassinavam bandidos durante os anos 70. O lema dos policias era: para cada policial morto, 10 bandidos cairão. O filme companha manchetes de jornais e tv sobre as ações do esquadrão, e nunca conseguiram identificar os autores. O Delegado Sergio Fleury era um suposto comandante das ações. O filme mescla atores das peças teatrais "A Resistível Ascensão de Arturo Ui" (Bertold Brecht) e "O Interrogatório" (Peter Weiss). Fragmentos das peças e depoimentos do elenco, entre eles, Gianfrancesco Guarnieri e Othon Bastos, dando vida aos personagens reais. A trilha sonora traz "A lingua do P", de GAl Costa, "Camisa 12, de Jorge Benjor, "Apesar de você", de Chico Buarque e o hino ufanista "Eu te amo meu Brasil", de O incríveis.
O filme mostra como a Copa de 70 e a criação da loteria esportiva foram fundamentais para tirar atenção do povo contra as ações do esquadrão e da ditadura militar. O governo aproveitou também para acusar os grupos de esquerda como autores das mortes do esquadrão, uma forma de criar uma imagem ruim dos estudantes e políticos que eram contra o governo.

No strings the Movie


"No strings the Movie", de Rebecca Ugo (2021)
Drama romântico adolescente, "No strings The movie" é uma produção realizada com baixíssimo orçamento, escrito e dirigido por Rebacca Ugo. Nascida na Nigéria, a família de Rebecca se mudou para Dallas, Estados Unidos. Rebecca conseguiu se naturalizar americana e estudou na Universidade do Texas, onde começaram as filmagens do longa.
Jenny (Racheal Ihim, irmã mais jovem da cineasta) é uma jovem criada por ma amiga de sua mãe, assassinada por envolvimento com o tráfico. Jenny cresceu revoltada com o mundo, e resolve descontar na humanidade: ela seduz garotos para depois dispensá-los, quebrando o coração deles. Ao conhecer Diego, um conselheiro sentimental que atendeu os ex-namorados de Jenny, ele lhe propõe um pacto: que eles simulem um relacionamento, para ele provar à ela que vale se deixar envolver por amor.
O filme, dirigido por Rebecca, 23 anos, é bastante amador em todos os quesitos: performance fraca do elenco, fotografia lavada, câmera instável, trilha sonora brega. Mas o esforço de Rebecca em fazer um filme é uma experiência válida para qualquer estudante de cinema: para se aperfeiçoar, é preciso treinar, praticar, e aí sim, chegar a um nível técnico digno de aplausos.

domingo, 30 de maio de 2021

Cidade em pânico


"City in panic", de Robert Bouvier (1986)
Um dos mais obscuros e hoimofóbicos filmes da cultura LGBTQIA+, um slasher fruto da mídia que demonizou gays e Aids, em plenos anos 80.
O filme, de 1986, é uma produção canadense que busca referências no giallio italiano, com a representação do assassino com capas e luvas pretas, além da navalha que usa como objeto do crime. O filme traz referências do clássico "Parceiros da noite", de Willian Friedkin, com Al Pacino no papel de um policial infiltrado. Aqui, o infiltrado é Dave, um radialista de um programa de rádio especializado em crimes. Em Toronto, gays com Aids são assassinados. A polícia quer descobrir o paradeiro do assassino, e para isso, contam com a ajuda de Dave.
Não é preciso ser mágico para saber porquê gays com Aids estão sendo mortos. O filme rouba descaradamente idéias de duas obras-primas do cinema: "Psicose", de onde o cineasta copia o primeiro assassinato em um chuveiro, exatamente igual, plano a plano. E "M, o vampiro de Dusseldorf", usado pelo assassino para retalhar suas vítimas, escrevendo M à navalhadas nas costas dos mortos. Em 1993, o drama LGBTQIA+ canadense "Amor e restos humanos" também trouxe o tema do serial killer que mata a comunidade Lgbtqia+.
Originalmente, o filme se chamava "The Aids murders", e por aí, já dá para entender o tipo de produção que seria. As mortes são toscas, os atores são ruins, mas isso não impede do filme ser um triste registro histórico em uma época onde ser gay praticamente era uma sentença de morte.
A melhor morte: um guarda noturno entra em um banheiro com glory hole para fazer pegação e quando coloca seu pênis no buraco, é castrado e assassinado.

Pindorama- A verdadeira história dos sete anões


"Pindorama- A verdadeira história dos sete anões", de
Roberto Berliner, Leo Crivellare e Lula Queiroga (2008)
Documentário dirigido a seis mãos, premiado em diversos Festivais de cinema e que traz um tema inusitado: uma família de sete anões, todos irmãos, comandam um circo, chamado Pindorama. Cearenses, eles viajam pelo País atrás de seu público. O filme apresenta o dia a dia das apresentações, o sucesso com a platéia, os conflitos, os dramas dos irmãos.
Charles, Gilberto, Cleidy, Zuleide, Cláudio, Rogério e Cleidiomar são filhos do palhaço Pindoba, e todos nasceram com nanismo. Boa parte se casou com mulheres altas, e tiveram filhos com nanismo. Os próprios pais desejam que os filhos nasçam com essa condição para que dêem continuidade aos shows circenses. As relações com as mulheres, os filhos, os irmãos, em depoimentos sinceros, sobre preconceito, vergonha, afirmação e principalmente, seguir a vida do circo com amor e paixão.
O filme apresenta vários temas, mas o mais importante, é a aceitação e o orgulho de sermos quem somos. Os diretores foram felizes em não tratar o tema de forma sensacionalista, e sim, realista e carinhosa.

Porquê todo garoto bonito tem um namorado?


"Bakit lahat ng gwapo may boyfriend?", de Jun Lana (2021)
Comédia romântica LGBTQIA+ filipina, fez grande sucesso em seu país por trazer uma história de amor bastante ingênua e até tosca mas que diverte pelas situações engraçadas em que a protagonista Kylie passa ao tentar se relacionar com os homens.
Kylie é uma cerimonialista de casamentos. Ela e a melhor da área e fica feliz pelos casamentos que ela produz...só que quem se casa, são seus ex-namorados que se descobriram gays. Kylie acredita que todo rapaz que ela conhece é gay, até que conhece Diego, irmão mais velho de um amigo gay. Diego mostra interesse por Kylie, mas ela vai fazer de tudo para provar que ele está no armário/
Os atores são divertidos e todos jovens e bonitos. Para quem quer assistir uma comédia com um elenco que parece saído de capas de revistas de modelos, vai curtir. Tem sensualidade sem ser agressiva, e bastante romance. Um filme colorido e astral de um país com filmografia pouco conhecida em filmes populares.
Hsu Chien

sábado, 29 de maio de 2021

Cruella


"Cruella", de Craig Gillespie (2021)
Prequel de "Os 101 dálmatas", "Cruella" conta a história de Estella (Emma Stone), uma menina que nasceu com o cabelo bicolor e que sempre sofreu bullying na escola por ser diferente. A sua mãe resolve tirá-la da escola e levá-la para Londres, mas antes a leva em um baile de máscaras na Mansão da Baronesa (Emma Thompson), a Rainha das estilistas londrinas dos anos 60. A mãe de Estella acaba morrendo, ao cair de um precipício, atacada pelos dálmatas da Baronesa. Os anos se passam, e Estella, já crescida, conhece os amigos sem teto Jasper e Horace, que se tornam sua família. Por um golpe do destino, Estella vai trabalhar como faxineira em uma grande magazine e acaba conhecendo a Baronesa, que a leva para trabalhar em seu atelier. Mas os maus tratos da Baronesa são muitos, e ao descobrir que ela tem a ver com o assassinato de sua mãe, Estella resolve criar sua dupla personalidade de Cruella e se vingar.
O cineasta Craig Gillespie, realizador dos celebrados "Eu, Tonya"e "Lars e a garota real" realiza um excelente espetáculo visual, bastante sombrio e pouco atraente para crianças, mas que farão a delicia de adultos ligados em moda, música ( grandes clássicos da música pop dos anos 60 e 70) e uma direção de arte impressionante. A fotografia, igualmente escandalosa, e os maravilhosos movimentos de câmera fazem do filme um grande passatempo, que ainda traz um elenco de luxo , entre atrizes conhecidas e outros nem tanto, mas todos igualmente talentosos

A bruxa que veio do mar


"The witch that came from the sea", de Matt Cimber (1976)\
Terror slasher obscuro que provocou bastante polêmica quando foi lançado em 1976, por ter sido protagonizado por Millie Perkins, atriz que em 1959, foi a Anne Frank do clássico "O diário de Anne Frank", de George Stevens. Aqui, ela aparece nua e assassinado todos os homens com quem se envolve.
Molly (Perkins) é uma jovem solteira que mora com sua irmã e seus dois sobrinhos em Malibu, Califórnia. Molly procura emprego como garçonete em um bar, e tem um trauma: quando criança, ela foi abusada sexualmente pelo seu pai, e durante uma transa, ele morreu do coração, e desde então, Molly se sente culpada pela morte dele. Ela sente um impulso de assassinar todos os homens com quem se relaciona.
O filme foi considerado um dos filmes mais desagradáveis dos anos 70 pela sua temática sexual envolvendo incesto. Certamente essa história não seria filmada nos dias de hoje pelo teor bombástico. As cenas de assassinato são mais sugeridas do que vistas, mas ainda assim, dá um calafrio.

E amanhã...o mundo todo


"Und morgen die ganze welt", de Julia von Heinz (2020)
Indicado pela Alemanha à uma vaga ao Oscar de filme estrangeiro 2021, "E amanhã..o mundo todo"foi escrito e dirigido pela cineasta alemã Julia von Heinz, baseado em sua própria história. O filme concorreu no Festival de Veneza em 2020, e traz Julia (Mala Emde, excelente), como protagonista, um alter ego da cineasta.
Julia von Heinz viveu a história nos anos 90, mas decidiu transpôr aos dias de hoje, pois a observação que ela faz é que a Alemanha nazista e fascista está muito mais radical hoje em dia, com grupos de extrema direita.
Julia é uma estudante de direito, convidada pela amiga e namorada Betta a fazer parte do grupo P81, um movimento estudantil ativista e esquerdista contra os grupos de direita. Julia conhece Alfa e Lenor. Ela vai ficando cada vez mais radical nas atitudes e pensamentos, passando a se valer da violência, ao mesmo tempo que mantém relacionamento com Alfa.
O filme, defendido com garra por um excelente elenco de jovens atores, é dirigido com garra pela cineasta, em ótimas cenas de manifestação. Um importante palanque para a discussão política e um raios-x dos dias que vivemos hoje, com governos conservadores e fascistas.

quinta-feira, 27 de maio de 2021

Aqueles que me desejam a morte


"Those who wish me dead", de Taylor Sheridan (2021)
Celebrado como o retorno de Angelina Jolie aos filmes de ação ( o último foi 'Salt", em 2010), "Aqueles que me desejam a morte" é adaptação do livro escrito por Michael Koryta, e adaptado pelo próprio cineasta Taylor Sheridan.
Sheridan é famoso pelos roteiros de "Sicário’ e ‘A qualquer custo’, e como diretor de ‘Terra selvagem’. Os filmes têm em comum os protagonistas honestos em luta contra pessoas corruptas e organizações criminosas. Rodado no Novo México, nos Estados Unidos, o filme traz Angelina como Hannah, uma bombeiro florestal traumatizada por um acidente no passado: ela não conseguiu salvar 3 turistas de um incêndio. Hannah agora atua como vigia em um posto florestal. Seu caminho se cruza com o do menino Connor, cujo pai foi assassinado pela dupla de assassinos Jack e Patrick (Nicholas Hoult), que estão fazendo queima de arquivo e agora querem matar o menino. Hannah precisa salvar o garoto, atravessando a floresta em chamas provocada pelos assassinos.
O filme foi massacrado pela crítica, mas é um bom filme, com boas cenas de ação e excelentes efeitos especiais do incêndio na floresta. Além de Jolie, o filme conta ainda com a trama paralela do vice sheriffe Ethan (Jon Bernthal) e sua esposa grávida Allison (Medina Senghore), cujo caminho também cruza com a dos assassinos. Angelina está ótima, e divide o foco feminino com Medina Senghore, outra heroína em cena.

E Deus..criou os homens


"Et Dieu criá les Hommes", de Jean-Étienne Siry (1978)
Escrito e dirigido por Jean-Étienne Siry , 'E Deus...criou os homens" é um cult LGBTQIA+ francês de 1978, um dos primeiros filmes a incluir cenas de sexo explícito hardcore nos filmes não considerados pornográficos na França. O filme foi rodado em Nova York e apresenta a relação entre dois homens: Lucien, 25 anos, e Mathias, 40. Mathias é casado e tem dois filhos, e mantém o relacionamento com Lucien às escondidas. Pressionado por Lucien, Mathias entre em crise, até que, dirigindo o carro, morre em acidente. Lucien, sem saber que Mathias morreu, e irritado pelo sumiço dele, tenta procurá-lo nas noites de NY, e fazendo sexo com todos os homens que encontra.
Orgias e todos os tipos de fetiche existem nesse filme às profusões, mas nenhuma cena é mais bizarra e pervertida do que quando Lucien, em seu quarto, fala ao telefone com Mathias em FB. Lucien enfia o fone do telefone inteiro em seu ânus, e se masturba. É algo impressionante e aí faz a gente pensar que os anos 70 e 80 foram muito mais vanguardas e ousados do que os dias atuais.

O conto das três irmãs


"Kiz Kasdesler", de Emin Alper (2019)

Doloroso drama que apresenta 3 irmãs, Reyhan, Nurhan e Havva, subjugadas em uma sociedade patriarcal e que não conseguem forças para mudar o destino. Anos atrás, as 3 foram enviadas pelo pai, moradores de um vilarejo pobre na península de Anatólia, para irem trabalhar em uma casa de família rica na capital, como empregadas. Mas algo desagradou à família rica que, uma a uma, foi enviando de volta para o vilarejo. Desiludidas e obrigadas a retornar à pobreza e a vida pacata e sem perspectiva, elas desejam poderem sair de lá novamente.

Ó filme, escrito e dirigido por Emin Alper, lembra bastante o cinema do igualmente turco Nury Bulgen Ceylan, o mais festejado cineasta turco do mundo. Mas Emin está seguindo o mesmo caminho do reconhecimento: seu filme competiu na mostra principal do Festival de Berlin 2019, além de ter ganho prêmios em importantes festivais.
O que chama bastante atenção é a performance das 3 atrizes, extraordinárias, em momentos de emoção, entregues ao sofrimento e à desolação das vidas das personagens.

quarta-feira, 26 de maio de 2021

Transverso


"Transverso", de Fernanda Paz (2015)
Selecionada para o Curta Cinema 2015, "Trasverso" é um ótimo documentário escrito e dirigido pela documentarista Fernanda Paz, trazendo depoimentos contundentes, emotivos e divertidos de trans e travestis da cidade de Maringá, Paraná. As personagens apresentadas discorrem sobre identidade de gênero, nomes de batismo, cirurgia de remoção do órgão masculino, transfobia, relações familiares, desemprego, desprezo da sociedade, abandono. Cada personagem daria certamente um filme solo, com histórias de engajamento, luta e perseverança.
Fiquei apaixonado pela história da trans que se casou ainda homem cis com uma mulher e teve dois filhos, e mesmo depois de sua transição, sua esposa e filhos continuam morando com ela. A afirmação de que amor não escolhe gênero faz sentido ao filme como mensagem. E ainda mostra uma região do País pouco explorada em filmes LGBTQIA_, que é o Norte do Paraná, uma região muito rica em cultura e etnias variadas.

Uma Colônia


"Une colonie", de Geneviève Dulude-De Celles(2018)
Drama coming of age premiado como melhor filme no Festival de Berlin na Mostra Crystal Bear, dedicado a filmes para a juventude. O filme foi escrito e dirigido pela cineasta canadense Geneviève Dulude-De Celles, em seu filme de estréia.
O filme se passa em Pierreville, uma pequena cidade no interior de Quebec. Ali moram as irmãs Mylla (Emilie Bierre), 12 anos, e Cammile (Irlande Côté), 8 anos. Ambas moram com seus pais que estão em vias de separação. Mylla é tímida e não tem muitos amigos, até que conhece Jacinthe, uma menina que a introduz à festinhas, álcool e ao mundo dos adolescentes descolados. Mylla fica amiga também de Jimmy, um garoto que estuda em sua sala e que é descendente da tribo indígena Abenaki. Ambos se sentem atraídos. E logo quando Mylla descobre finalmente a felicidade, sua mãe lhe diz que rá se mudar pra Quebec.
O que mais surpreende nesse delicado e sensível drama juvenil, é a performance naturalista e espontânea das duas atrizes principais, muito talentosas para as poucas idades. Geneviève Dulude-De Celles conduz tudo com muita firmeza e uma suavidade ao contar uma bela história, com roteiro já bastante batido, mas ainda assim, sedutor.

Oxigênio


"Oxygen", de Alexandre Aja (2021)
Realizador dos ótimos filmes de terror "Alta tensão", "Viagem maldita", "Predadores assassinos" entre outros, o cineasta francês Alexandre Aja faz sucesso também em Hollywood, mas em "Oxigênio" ele retorna à França para contar uma história que mescla drama, ficção científica e suspense.
O filme lembra "Passageiros" e "Enterrado vivo". Do primeiro, ele pega o mote de uma mulher que acorda em uma cápsula criogênica em viagem espacial. Do 2o, ele pega o mote da pessoa que está com o tempo contado e com oxigênio rareficando, e que precisa desesperadamente sair de lá. Para isso, Elisabeth (Melanie Laurent) conta com a ajuda de MILO (Mathieu Amalric), uma inteligência artificial que ela procura usar a seu favor para fugir de lá.
O filme foi realizado durante a pandemia, o que justifica poucos cenários e poucos atores, e nas cenas em FB com figuração, as pessoas estão com máscaras. É um filme bem construído na narrativa do suspense, mas tem uma trama mirabolante demais e com um final que obviamente revela um plot twist. Melanie Laurent está ótima no papel, praticamente comandando o filme sozinha.

terça-feira, 25 de maio de 2021

A vez de matar a vez de morrer


"A vez de matar a vez de morrer", de Giovani Barros (2016)
Curta LGBTQIA+ nacional lançado em 2016, "A vez de matar a vez de morrer" mistura gêneros (drama, faroeste, sobrenatural) para falar de machismo e de homofobia em uma cidade do interior do Mato grosso do Sul.
O filme é dirigido por Giovani Barros, que co-escreveu o roteiro com Daniel Nolasco. Nolasco lançou em 2020 um drama LGBTQIA+ com muitas características parecidas com esse curta, inclusive escalando o mesmo ator para protagonizar, Lelio Faria.
Elcio é dono de um posto de gasolina. Debaixo da fachada de um homem hetero, esconde um gay que curte fetiches e pegação com outros homens. Um de seus funcionários, Alan, joga no time de futebol amador de seu primo, Robson. O time de futebol é formado por homens típicos machos do interior, que bebem cerveja o dia todo, falam de futebol e se divertem em baladas sertanejas e boiadas. Quando Elcio flerta Robson, esse se desvencilha, mas é morto por Elcio durante uma partida. O fantasma de Robson surge e pede para Alan que o vingue.
O filme tem uma narrativa naturalista, flertando com gêneros. A fotografia de Flora Dias intensifica a atmosfera árida da região, e a direção de Giovani busca nas cenas de pegação trazer uma aura de fetiches e tesão entre machos, com direito a cusparadas na boca.

Segunda-feira


"Monday", de Argyris Papadimitropoulos (2020)
Co-escrito e dirigido pelo cineasta grego Argyris Papadimitropoulos, "Segunda-feira" é um drama romântico erótico sobre dois americanos que moram em Atenas e se conhecem em uma festa. Mickey (Sebastian Stan) é DJ da festa e Chloe (Denise Gough) é uma advogada que trabalha há anos em Atenas mas decide voltar pros Estados Unidos após se estressar com seu chefe no escritório de advocacia. Ao som de "I feel love", de Donna Summer, o casal se conhece, se apaixona e faz sexo na praia. Ao amanhecer, eles são presos por estarem nús na praia. Chloe diz que vai voltar no dia seguinte de avião, mas a paixão acende e ela decide ficar em Atenas morando com Mickey. O tempo passa, e o casal decide adotar um bebê. Entre paixão, sexo e crises no relacionamento, o casal vai passando os dias.
"Segunda-feira" poderia ter sido um bela drama sobre relacionamentos. Mas a falta de uma dramaturgia mais original e de personagens mais carismáticos acaba não seduzindo o espectador, que se entedia com as duas horas de idas e vindas do relacionamentos, e acompanhando os amigos chatos do casal. Ainda assim, o filme competiu em Tribeca e no Festival de Toronto.
De positivo, a bela fotografia e as locações paradisíacas de Atenas.

Rogai por nós


"The unholly", de Evan Spiliotopoulos (2021)
Terror produzido por Sam Raimi, "Rogai por nós" é adaptação de um livro escrito por James Herbert em 1983.
O filme começa com um prólogo ambientado em 1843: uma mulher acusada de bruxaria é morta no fogueira. A mulher vendeu sua alma ao demônio, e ao ser morta, seu espírito fica preso em uma boneca. Nos dias de hoje, em Boston, um jornalista cético em atividades paranormais, Gerry (Jeffrey Dean Morgan) encontra uma árvore ( a mesma onde foi morta a bruxa) e encontra a boneca. Ele a quebra, sem saber que liberou o espirito da bruxa, que possui o corpo da jovem Alice, uma surfa muda. Ela do nada começa a falar, e a população acredita em milagres e ela aos poucos passa a ter uma seita de fiéis. O que Gerry vai descobrir depois é que Alice está possuída.
O filme é bem meia bomba como terror: não assusta, não tem gore, nas cenas que deveria aparecer violência, a câmera não mostra. É terror para quem tem medo de terror. O roteiro é bem óbvio, e poderia [perfeitamente ter sido um spin off de "Invocação do mal".

segunda-feira, 24 de maio de 2021

Territorio


"Territorio", de Andres Clariond (2020)
Existe um tipo de cinema mexicano que mexe com os sentimentos, as emoções do espectador e de seus personagens de uma forma angustiante, moralmente polêmica, que fala sobre relacionamentos tóxicos ou que apresenta uma violência intimista e que eclode de forma brutal. O cinema do cineasta Michel Franco, Amat Escalante ou de Carlos Reygadas passeiam por esse universo. Em "Território", o roteirista e cineasta Andres Clariond transita por esse mundo desumano e sem esperança.
Um jovem casal, Manuel (José Pescina) e Paulina (Paulina Gaitan) vivem uma relação feliz. Ele trabalha em uma empresa de construção, ela é dona de casa. Manuel sonha em abrir uma loja própria de moveis e junta dinheiro para isso. Pauiina quer ter filhos, mas Manuel descobre ser estéril. Manuel propõe inseminação artificial, mas Paulina quer um filho do seu ventre. Ambos procuram um doador de esperma, até que Manuel decide convidar seu funcionário, Ruben, para ser o doador. Ruben quer viajar pro Estados Unidos e o dinheiro da doação lhe será útil, Mas a inseminação dá errado, e uma nova tentativa custa caro, o casal não te reservas. Até que Manuel ara uma situação onde faça com que Ruben faça sexo com sua esposa e a engravide. Mas as coisas dão errado.
O roteiro traz elementos bastante polêmicos, e coloca a única personagem feminina em um lugar desconfortável e com uma controversa mudança de caráter. Os atores estão bem, mas o filme em si incomoda pelo caminho que segue em termos de dramaturgia. Mas quem busca um filme angustiante, o filme pode ser uma boa pedida.

Buster Keaton- O gênio destruído por Hollywood


"Buster Keaton, the genius destroyed by Hollywood", de Jean-Baptiste Péretié (2016)
Falecido no dia 1 de fevereiro de 1966, aos 70 anos de idade, esse documentário francês procura resgatar a genialidade de Buster Keaton, um dos maiores comediantes e cineastas da história.
O filme procura desvendar os motivos da queda de popularidade e os sucessivos fracassos de Buster Keaton a partir do ano de 1933.
Em 1926, ele era um dos artistas mais famosos e ricos do mundo. Sete anos depois, estava no ostracismo, se tornando um alcóolatra. A entrada do cinema sonoro foi um fator decisivo para a derrocada de Keaton, mas o que o filme procura dar como arremate final para a queda de Keaton é a sua contratação para a Metro Goldwyn Meyer. A partir do momento que ele entrou no esquema dos grandes estúdios, sem ter a liberdade criativa que tinha antes, acabou deixando-o sem personalidade, e muito do seu humor se esvaiu.
O filme é repleto de cenas clássicas de sua carreira. Diferente do documentário de Peter Bogdanovivc que repassa toda a carreira de Keaton, esse filme s concentra nesse período de 26 a 33, e termina mostrando os últimos momentos de Keaton aos 70 anos de idade. Um filme melancólico sobre um gênio do cinema destruído pela Indústria de Hollywood.

domingo, 23 de maio de 2021

Cleopatra


"Cleopatra", de Cecil B. de Mille (1934)
O maior sucesso de bilheteria de 1934, 'Cleopatra" foi indicado a 5 Oscars, incluindo melhor filme, e acabou levando o de fotografia, para Victor Milner. Cecil B. de Mille já era sinônimo de grandes produções em Hollywood, e aqui em 'Cleopatra", ele não economiza orçamento, construindo o Egito nos Estúdios da Paramount. Mas além de todo o cenário nababesco, celebrado hoje em dia pela extravagância carnavalesca, com direito a cenas de dança divertidas com mulheres vestidas com pele de onça, o grande motivo do sucesso do filme se resume à figura hipnótica de uma das maiores estrelas de Hollywood da época, Claudette Colbert. O filme está entre duas obras-primas da carreira de Colbert: "Aconteceu naquele noite", e "Imitação da vida". Claudette bateu o record de ter sido indicada no mesmo ano do Oscar pelos 3 filmes, tendo ganho por "Aconteceu naquela noite", de Frank Capra.
No ano de 48 AC, Cleopatra se envolve com Julio Cezar, Imperador de Roma, que foi traído e assassinado. Depois, ela se envolve com Marco Antonio, que, por ciúmes, se mata. Cleopatra termina o filme se matando com uma cobra dentro de um cesto, em cena antológica.
Foram 3 as famosas adaptações da Rainha do Egito para as telas, todos com grandes estrelas: em 1917, com Theda Bara, e depois em 63, com Elisabeth Taylor. O filme foi motivo de chacota pela platéia italiana, que achou tudo excessivo e o apelidou de filme gay e de travestis, devido aos excessos nas interpretações exageradas.
A cena que mais amo, e que se tornou antológica, e quando um tapete é desenrolado e de dentro dele, surge Cleopatra, gloriosa. Clássico.

Ecos


"Bergmal", de Runar Runarsson (2019)
Premiado no prestigiado Festival de Locarno, "Eco" é um curioso drama escrito e dirigido pelo cineasta islandês Runar Runarsson. Realizador do excelente drama "Volcano", Runarsson filma 56 cenas de mais ou menos 1 minuto cada, composta de plano único. Cada cena é independente, com seu elenco que não se repete. São histórias que se passam antes e depois do Natal, fragmentos da vida de pessoas comuns, retratando drama, humor, melancolia, ou apenas um olhar documental do País. Eu sou complementarmente apaixonado pela Islândia e fascinado pelas suas locações, e o filme, pela sua diversidade temática, faz um passeio geográfico.
Provavelmente Runarsson deve ter contratado todo elenco do País, pois é impressionante a quantidade de pessoas que são apresentadas nas 56 histórias.
Algumas delas poderiam render bons longas, como o mais contundente de todos: uma menina de 10 anos diz ao seu pai que quer mostrar algo que ele ira gostar. Ela treina o piano enquanto o pai não está, mas toca mal. A filha da nova esposa do pai, de sua idade, toca e manda muito bem no piano. O pai chega e pergunta pa filha o que ela queria mostrar e ela desconversa. O filme é composto desses flashes, sem se alongar demais, e esse retrato da vida, que qualquer espectador poderá se identificar, traz um olhar rico do roteiro de Runarsson.

Veludo azul- A filmagem perdida


"Bue velvet- The lost footage", de David Lynch (2011)
"Veludo azul", de David Lynch, revolucionou a narrativa de cinema, ao patentear o mundo bizarro e, poético e violento que permeia o surreal que só David Lynch consegue traduzir em imagens. A marca de Lynch é tão forte que, mesmo hoje em dia, é usado como referência.
Pois o 1o corte do filme tinha quase 3 horas e meia de duração, e o distribuidor exigiu que fizesse cortes para chegar em duas horas. Lynch foi obrigado a cortar 90 minutos de filme. Em 2011, foi lançada uma edição comemorativa dos 25 anos do filme, pelo selo Criterion, e nos extras, foi incluído um extra que é um presente ara os fãs do filme: 52 minutos das cenas deletadas, editadas e sonorizadas. Esse material havia sido dado como perdido, mas
um técnico da MGM, Darren Gross, descobriu a filmagem em um depósito em Seattle depois de vasculhar os estoques das empresas que possuíam o filme antes.
Nas cenas deletadas, é possível perceber que antes da famosa cena inicial do filme original, de Jeffrey andando e encontrando uma orelha cortada, havia todo um prólogo dele na faculdade, sua relação com a namorada, o pai passando mal, sua mãe obrigando que ele voltasse para casa e não podendo mais pagar a faculdade e sua convivência difícil com sua mãe e tia. Mas a cena mais instigante e reveladora é a que mostra Jeffrey, em uma festinha de faculdade, testemunhando uma aluna sendo estuprada, e ele nada faz, apenas observa como Voyeur, revelando mais de sua personalidade dúbia. Existem muitas outras cenas curiosas.
No final, Lynch agradece a todos os atores e figurantes das cenas deletadas, e pede desculpas por não ter podido incluí-las no filme, além de não saber o nome de muita gente que acabou ficando sem créditos.

sábado, 22 de maio de 2021

Multiple maniacs


Multiple maniacs", de John Waters (1970)
Super clássico do trash de John Waters, o filme é tão vanguarda e blasfemo que o Selo Criterion, dedicado a filmes importantes para a história do cinema, o incluiu em seu catálogo. O filme foi lançado em 1970, 2 anos antes do filmes mais famoso de Waters, "Pink Flamingos".
"Multiple maniacs" conta a história de Lady Divine, dona de um Circo de fetiches e aberrações chamado "A cavalgada das perversões". David, amante de Divine, é o show man e seduz pessoas para que elas entrem no circo. Chocados com o que vêem, os espectadores são assaltados e assassinados pela trupe. Quando Divine descobre que David tem uma amante,m ela se junta à uma lésbica, Mink, que se torna sua amante, e trama de matar David e a amante.
O filme apresenta cenas muito bizarras e extravagantes, que na época e muitas décadas depois devem ter chocado muita gente. Mas o bloco de cenas que provavelmente teria feito John Waters ser excomungado por gerações é quando ele faz Divine narrar a história de Cristo dentro de uma igreja, enquanto ela tem um rosário enfiado em seu ânus e gozando no final.
Outra cena que se tornou antológica dentro do Universo Trash é de Divine sendo estuprada por uma lagosta gigante, uma cena inacreditável. E o desfecho, dela correndo atrás de umas pessoas querendo matá-los, em surto total, na cidade de Baltimore, cidade natal de Waters. O filme foi editado, escrito, dirigido, produzido por Waters, certificando que ele teve total controle do filme. E Divine aqui estava começando a sua grande carreira de Rainha do trash.

Four good days


"Four good days", de Rodrigo Garcia (2020)
Drama dirigido pelo colombiano Rodrigo Garcia, que já havia dirigido Glenn Close em 'Albert Nobbs". O filme é baseado em história real publicada no Washington Post em 2016, "Como está Amanda", escrita pelo jornalista premiado Eli Saslow. Estrelado por Glenn Close e Mila Kunis, é um comovente e visceral drama carregado em melodrama sobre uma mulher viciada em heroína Molly (Kunis). Ela vai procurar ajuda de sua mãe, Deb (Close), que se recusa a ajudá-la, depois de muitas tentativas de rehab. Molly ja roubou muitas coisas de casa para comprar drogas, e Molly a expulsou de casa/. Mas ela está no fundo do poço e deseja tomar uma vacina experimental que irá fazer com que seu corpo rejeite substâncias tóxicas no seu corpo. Porém, ela terá que passar por uma prova: ficar 4 dias sem usar drogas, e para isso, terá que contar com a ajuda de sua mãe.
O filme concorreu no Festival de Sundance 2020, e é uma pena que tenha passado despercebido pela temporada de premiações: Mila Kunis está na performance de sua vida, em atuação visceral. Glenn Close está forte também, em papel de mãe leoa que fará tudo para salvar sua filha.O filme peca pelo excesso de melodrama, e talvez isso o tenha prejudicado perante os críticos.

Army of dead: invasão em Las Vegas


"Army of dead:", de Zack Snyder (2021)
Em 2020, o cineasta sul coreano lança "Trem para Busan 2", um filme onde mercenários são contratados por um empresário inescrupuloso para entrarem em Seul, que está cercada e totalmente habitada por zumbis, para resgatar uma alta soma em dinheiro. Um por um, os mercenários vão morrendo, em uma parábola sobre cobiça e ganância. Em 2021, Zack Snyder lança 'Army of dead", e a história...é praticamente a mesma. Além disso, ambos os filmes investem uma fortuna em efeitos de CGI, com zumbis ágeis, inteligentes e mais espertos do que os que vemos em outros filmes.
Em 2004, Zack Snyder lançou "Madrugada dos mortos", uma modesta produção de zumbis que homenageava o filme de George Romero. Por incrível que pareça, é muito, mas muito superior em termos de dramaticidade do que esse aqui.
Snyder teve total controle do filme: dirigiu, escreveu a história, fotografou e produziu, e só isso justifica lançar um filme com quase 15 minutos de duração!!!!!! Fora isso, um final mega óbvio, irritante de tão clichê. O que faz o filme manter interesse é o elenco, construído em cima de estereótipos que qualquer espectador abe quem irá morrer e quem irá sobreviver. De bacana também, o tigre zumbi e os robôs zumbis.

A família Mitchell e a revolta das máquinas


"The Mitchels vs the machines", de Michael Rianda e Jeff Rowe (2021)
Divertida e emocionante animação que mistura comédia, ação, aventura, ficção científica e drama. O filme funciona bastante como filme família, trazendo temas importantes como a família como base de tudo, o desapego, as diferenças geracionais e a incompreensão familiar. Mas o tema que mais se sobressai acaba sendo a influência da tecnologia sobre nossas vidas e o quanto deixamos de lado as relações humanas em prol de atividades inúteis ou de segundo plano que as redes sociais oferecem a todos.
O que une a família Mitchel é a música de Rihanna, "Live your life", que o pai ama, mas a filha mais velha acha coisa de velho.
A família é formada pelo pai Rick, pela mãe Linda (voz de Maya Rudolph), pela filha mais velha Kate e pelo garoto Aaron, além do cachorro. Kate passou pra faculdade de cinema e vai sair de casa. Desolados, os pais decidem levar Kate de carro pra faculdade, acompanhados de Aaron e do cachorro. Kate, que se sente um peixe fora d'água reclama, mas não tem jeito. O que eles não esperavam é que uma invenção tecnológica, um sistema chamado PAL (voz de Olivia Colman) domina os celulares e os trasforma em armas mortais que querem dominar o mundo.
Apesar de bastante divertido, o filme peca pela longa duração, quase duas horas de duração, arrastando o ritmo e levando para sub-tramas que não são tão relevantes. Mas no geral é bem acessível, diversão pra toda a família, com personagens carismáticos e aquele final que todo mundo ama assistir.

sexta-feira, 21 de maio de 2021

Trem do Soul


"Trem do Soul", de Clementino Junior (2021)
Como a própria divulgação do filme tem orgulho de dizer, "um dos maiores movimentos de juventudes negras na cidade do Rio de Janeiro: o Movimento Soul Music. Roteirizado pela cineasta e antropóloga Milena Manfredini, que fez extensa pesquisa sobre a origem do baile Soul no Rio de Janeiro no início dos anos 70, em plena ditadura militar, até os bailes de hoje, em Madureira e outros bairros da Zona Norte e subúrbio carioca.
O cineasta Clementino Junior entrevista grandes Djs, dançarinos, cantores do Soul, como Sandra de Sá, Dom Filó, Gerson King Combo, DJ Neném, Zezzynho Andrade, e trazendo talentos atuais.
O primeiro baile surgiu no Canecão nos anos 70, mas era voltado para a turma da Zona Sul. A turma da Zona norte resolveu criar os seus bailes para popularizar e socializar o movimento entre as comunidades carentes. Santos foi o primeiro baile a tocar black music . O movimento trouxe uma forte identidade visual, com roupas e penteados muito próprios.
Segundo Dom Filó, “O maior movimento jovem que se tem notícia, que se estende até hoje… nos anos 70 nem a Jovem Guarda fez isso. Com todo respeito a história deles, a nossa é essa!”.
durante a ditadura, para evitar de serem presos, os negros andavam em grupos, assim os policiais não os abordavam.
O filme contém uma trilha sonora impecável, com imagens do rio da época e de hoje, e trazendo todo um time de depoimentos emocionantes. No final, presta homenagem a Gerson king Combo. falecido em 2020.

Ilha


"Ilha", de Glenda Nicácio e Ary Rosa (2018)
Depois do grande sucesso de crítica do filme anterior, 'Café com canela", a dupla de cineastas baianos Glenda Nicácio, Ary Rosa escrevem e dirigem esse drama fabulesco sobre o que é a essência do fazer o cinema. A grande premissa do filme é criar olhares diferenciados sobre o cinema autoral e o cinema de indústria, e o filme, até mesmo pelas suas características de filme de baixo orçamento independente, abraça a causa do cinema possível, sem regras nem dogmas da cartilha da linguagem cinematográfica.
Ilha Grande é a maior ilha da baía de Camumu, e dá nome ao filme onde tudo acontece. Henrique (Aldri Anunciação) é um cineasta sequestrado por Emerson (Renan Horta), um jovem morador da comunidade em Ilha Grande. Ele quer que Henrique o ajude e testemunhe a sua história de luta, que envolve relação familiar, homofobia, masculinidade tóxica, abuso doméstico, pobreza e falta de assistencialismo à educação e principalmente, como ampliar o sonho de se fazer Cinema para jovens que não têm condições, por ser uma profissão elitista.
Os créditos finais dizem: "Esse filme é dedicado aos meninos e meninas que escolheram o Cinema, mas que não foram escolhidos por ele.""
Melhor ator pelo juri popular no Festival de Brasília em 2018 (Anunciação) e melhor filme na Mostra novos rumos no Festival do Rio, o filme traz ótimas cenas de exercícios com atores e discute o papel da preparação de atores com não atores. Impossível não lembrar do documentário iraniano "Salve o cinema", de Mohsah Makmalbaff.

Tormenta


"Torment", de Samson Aslanian e John Hopkins (1986)
Obscuro terror psicológico independente americano de 1986, período onde efervesciam os slashers como gênero cinematográfico.
O filme tem uma atmosfera de filme barato e sujo, o que favorece a narrativa e o clima angustiante.
Um homem de meia idade é um serial killer que assassina jovens mulheres. Ele é procurado pelo detetive Michael, que tenta encontrar seu paradeiro. A namorada de Michael, Jennifer, passa uns dias na casa da mãe dele, Senhora Courtland, paraplégica, em uma casa isolada. O assassino acaba parando na casa e ameaça a Senhora Courtland. Jennifer não acredita na história da sogra, achando que ela está delirando.
Com um ótimo clima de suspense e plot twists recorrentes, o filme surpreende pelo bom resultado em produção de baixo orçamento. Os atores são conviventes, e o filme, mesmo com cenas de violência, procura evitar mostrar as cenas de gore, talvez até para economizar dinheiro em efeitos.

quinta-feira, 20 de maio de 2021

Luz anima ação


"Luz anima ação", de Eduardo Calvet. Obrigatório documentário que repassa a história da animação brasileira, lançada em 2013, quase 100 anos após o primeiro desenho animado oficialmente lançado no País, "O Kaiser", em 1017, de Alvaro Marins, infelizmente sem nenhuma cópia existente.
O filme é dividido em capítulos que engloba os pioneiros do início do século XX até os anos 50, daí vai para os vanguardistas, epois para a imersão da animação na Publicidade dos anos 60 até 80, com comerciais clássicos, como Casas Pernambucanas, Sharp, Insetisan, Aquarela da Faber Castel, etc, uma chance extraordinária de rever essas pequenas obras primas.
Daí vem o grande sucesso dos anos 70 e 80 com desenhos de Mauricio de Souza, Marcos Magalhães, Aida Queiroz, Otto Guerra, aé chegar nos dias de hoje, com Marão, Carlos Saldanha e uma geração que faz da animação brasileira uma porta de entrada para o mercado globalizado.
Com depoimentos de professores de cinema, animadores, o filme é um documento histórico imprescindível, e eu ja vou correndo assistir ao primeiro longa de animação brasileiro, 'Sinfonia amazônica, de Anélio Latini Filho, de 1953.
Link para assistir ao filme, exibido no Festival estação virtual.

A mulher ilegal


"La dona il-legal", de Ramon Térmens (2020)
Drama espanhol baseado em fatos reais, retrata a existência dos CIE (Centro de internação de estrangeiros) , centros de detenção para imigrantes ilegais. Desde 2002, foram reportadas 14 mortes nos CIE, sendo 4 deles alegados como "suicídios". O filme, escrito e protagonizado pelo ator Daniel Faraldo, tem Fernando como um advogado que defende imigrantes ilegais, procurando dar-lhes assistência e vistos legais para permanência.
Fernando é incumbido de defender uma imigrante de Kosovo, Zita, presa por prostituição. Ela é detida num CIE, mas logo encontrada morta, dada como suicídio. Fernando resolve investigar o que poderia ter sido a causa da morte dela e se depara com uma rede de corrupção que envolve policiais corruptos, casas de prostituição e as CIE. Fernando conhece Juliet (Yolanda Sey, excelente), ima imigrante da Uganda que era amiga de Zita e que poderia testemunhar a favor, mas ela teme pelas consequências de seu possível testemunho.
Defendido com garra por um time de ótimos atores, o filme se alonga além do necessário, através de uma su-trama desnecessária sobre a esposa de Fernando que está morrendo de câncer. Um filme que vale assistir pelo tema contundente.

Comunhão


"Alice sweet Alice", de Alfred Sole (1976)
Clássico cult do cinema de terror, "Comunhão" é conhecido por ser o primeiro filme da atriz Brooke Shields, na época com 12 anos de idade. Mas o filme se tornou ao longo das décadas um objeto de culto, mudando seu nome diversas vezes: começou com 'Comunnion", depois para "Alice sweet Alice" e finalmente "Holy terror".
O se passa no ano de 1961, em New Jersey. Ali mora Catherine, divorciada, e suas duas filhas: Karen (Shields) e Alice (Paula E. Sheppard). Alice se sente desprestigiada por Catherine, que dá mais atenção à Karen, mais bonita e mais católica. Karen recebe toda a atenção do Padre Tom, o que deixa Alice mais enciumada. No dia da comunhão de Karen, no entanto, ela é assassinada. As suspeitas recaem sob Alice. Novas mortes vão acontecendo, envolvendo todos que circundam Alice.
Com uma direção de arte excelente, dando um tom decadente ao prédio aonde moram os personagens, 'Comunhão" foi inspirado por "Inverno de sangue em Veneza"de Nicholas Roeg e por filmes de Hitchcock, segundo o cineasta Alfred Sole. As cenas de assassinato são muito boas, e o filme cria uma tensão constante.

quarta-feira, 19 de maio de 2021

Sombras


"Shadows", de John Cassavetes (1958)
Primeiro filme dirigido por John Cassavetes, "Sombras" ganhou o Prêmio da crítica no Festival de Veneza em 1960. Rodado em 16MM com câmera na mão, o filme é considerado pela crítica como o início do cinema independente americano. O custo do filme foi de 40 mil dólares, uma bagatela comparando ao cinema dos grandes estúdios realizado na época.
John Cassavetes já trabalhava como ator e deu aulas de interpretação. Ele decidiu realizar o filme com amigos e alunos.
"Sombras" tem um roteiro bem fluído, onde acompanhamos duas histórias paralelas; um grupo de três jovens amigos músicos de jazz batalhando pelo espaço em uma Nova York cosmopolita dos anos 50, e a história da irmã de um deles, Leslie. Leslie é negra e tem dois irmãos, Ben e Dennis, Leila se apaixona por um jovem branco. Por ter pele clara, o homem não a reconhece como negra. Quando ela o apresenta aos irmãos e ele se dá conta da raça, ele se desespera. Essa cena é primorosa pela direção e pelo trabalho dos atores.
No final do filme aparece uma cartela dizendo "Esse filme que acabou de assistir foi uma improvisação". Cassavetes era conhecido por não ter um roteiro com diálogos, deixando aos atores improvisarem. É um filme ousado por lidar com o tema das relações interraciais, numa época onde o assunto era tabu.
CAssavetes rodou o filme em 1957, mas logo depois refilmou metade do filme em 1959. A versão conhecida do público é a segunda, mas quem assistiu a 1a diz que é muito melhor e mais criativa.

O pai


"Bashtata", de Kristina Grozeva e Petar Valchanov.(2019)
Premiado drama com toques de humor da Bulgária, foi o filme selecionado pelo País para representá'-lo para uma vaga ao Oscar de filme estrangeiro 2021.
O filme conta a história de Vasil (Ivan Savov) e Pavel (Ivan Barnev), pai e filho que não se falam há muito tempo. Pavel saiu da pequena cidade do interior para morar na capital Sofia, trabalhando como publicitário. O pai continuou no interior com sua esposa. Quando a mulher morre, Pavel retorna para o enterro e se confronta com o mau humor e o jeito excêntrico do pai, um pintor. O pai foi o ultimo a falar com a esposa, e antes dela morrer, ela estava ao telefone com ele, dando um recado importante, mas não conseguiu completar. Durante o enterro, o telefone de uma mulher toca, e Vasil acredita ser a mulher tentando fazer contato. Ele decide seguir até um medium para ver qual é a mensagem, e seu filho o acompanha em um road movie onde os dois precisarão se entender em suas diferenças.
Com excelentes performances dos atores principais, o filme segue com um ritmo gostoso e diálogos ácidos e emocionantes. O filme lembra o tom de "Toni Edermann", também um filme sobre a difícil relação entre pai e filha.