sábado, 29 de fevereiro de 2020

O chamado da floresta

"The call of the wild", de Chris Sanders (2020) Mais uma adaptação do livro de Jack London, adaptada inúmeras vezes no cinema, A diferença é que agora , o cachorro herói Buck, um São Bernardo, é um animal 100% construído em computação gráfica. Não somente Buck, mas todos os outros cachorros do filme são CGI. Ao mesmo tempo que isso possibilita "animar" as emoções dos cachorros, é o seu pior defeito: tudo sôa extremamente falso. Penso se não teria sido melhor fazer o filme todo em animação, ou como em "O Rei Leão", recriar tudo em computação. A mistura de atores e CGI não ficou com bom resultado. Para quem não se incomodar com a tecnologia, irá encontrar bons atores ( Harrison Ford, Omar Sy) lidando com Buck. No final do século 19, na Califórnia, Buck vive com seus patrões: um juiz e sua esposa. Ricos, eles permitem que Buck seja o companheiro desastrado e bagunceiro. Buck, no entanto, é sequestrado e levado para Yukon. Lá, ele é arrematado em um leilão por Perrault (Omar Sy) e Françoise, uma dupla de carteiros que entrega cartas na região gelada. Buck e outros 8 cães compõe uma matilha que leva a dupla de carteiros. Buck precisa lidar com o ciúme do chefe dos cães, Spitz, e com um orador da cidade, o mau humorado Thompson (Harrison Ford), que na verdade, age dessa forma após a morte de seu filho e assim, deixando sua esposa para trás. O filme se passa na época da busca do ouro nos Estados Unidos e tem como pano de fundo a cobiça e ganância de caçadores de ouro. O filme é soturno e violento para crianças pequenas, e talvez ingênuo para adultos. A curiosidade fica por conta da direção de Chris Sanders, diretor das animações de sucesso "Como treinar o seu dragao" e "Lilo e Stich". A outra curiosidade é que o diretor eo roteirista conferiram a cada cachorro a personalidade de cada um dos 7 anões de Branca de neve, para conferir individualidade.

Seberg contra todos

'Seberg", de Benedict Andrews (2019) Apresentado no Festival de Toronto, de onde saiu debaixo de fortes críticas, "Seberg contra todos" é um belo drama que traz à tona uma cinebiografia complexa e tumultuada dos últimos anos de vida de uma das atrizes icônicas de Godard, Jean Seberg, protagonista da obra-prima "Acossado". Pouca gente sabe, mas Jean Seberg era americana, nascida em 1938, e foi para Paris em 1957 para participar de audição para o papel de Joana D'arc no filme de Otto Preminger. Seberg ganhou o papel, e desde então, seguiu sua carreira na França, tendo casado três vezes. Depois de "Joana D'arc", ela viria a filmar outro filme de Preminger, o clássico "Bom dia, tristeza". Mas foi com "Acossado" que ela ganhou projeção mundial. Seberg foi convidada a trabalhar nos Estados Unidos. Lá, ela conheceu Hakim Jamal ( Anthony Mackle), um dos líderes dos Panteras negras, e tiveram um caso, mesmo sendo casada com o cineasta francês Romain Gary e tendo um filho. Por sua postura contra o racismo e a favor de movimentos revolucionários, Seberg foi vítima do FBI e do famoso diretor da agência John Edgar Hoover, que procurou difamar qualquer indivíduo que contestasse algo em prol da sociedade americana. Um dos agentes do FBI, Jack (Jack O'Connell), começa a investigar a vida da atriz, mas aos poucos, vai se deixando levar pelo espírito livre e libertário de Seberg, uma pioneira do movimento feminista. Kirsten Stewart defende com muita garra o papel principal. Mais linda do que nunca, e vestindo um figurino arrebatador. Kirsten prova ser uma melhor atriz a cada filme que faz. Uma pena que o filme perca muito do seu tempo narrando a história do FBI, podendo ter se atido mais no drama de Seberg. As cenas onde Seberg se vê uma paranóica foram desnecessárias. O filme toma uma postura neutra, não querendo tomar partido entre defender Seberg pela perseguição política que sofreu, e apresentando ela como uma potencial suicida. Seberg foi encontrada morta dentro de um carro em Paris, no ano de 1979, aos 40 anos de idade. A direção de Benedict Andrews é elegante e luxuosa, criando planos bonitos e apresentando um glamour do cinema bem no padrão da época.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

Afogando

"Drowning", de Pasquale Marco Veltri (2019) Drama de suspense canadense, "Afogando" é um filme que fala sobre abusos contra mulheres. Anna é uma prostituta que apanha de seus clientes e de seu cafetão. Cansada dos abusos sofridos, ela resolve reagir. O roteiro do filme é bem simplório, no estilo "Desejo de matar". A diferença é que aqui, o filme investe mais na psicologia da protagonista. Diante do desejo de colocar os seus demônios para fora ou se resguardar, com medo de represálias, Anna cria um alter ego, Christine, que tem vida própria e carrega consigo uma arma. Cansada da violência sofrida, ela resolve virar a toalha e dizer ao mundo que está cansada de abaixar a cabeça. O roteirista e diretor Pasquale Marco Veltri investe em um formato puxando metade para filme de arte, e metade comercial. Nesse híbrido, faltou agradar um ou outro público. Com um elenco sem muita expressão, fotografia que parece não ter sido trabalhada em pós e um roteiro frágil, o filme não sustenta muito a atenção do espectador.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

A escolha de Issac

"A escolha de Issac", de Sérgio Gag (2018) O cineasta Sérgio Gagliardi Gag adaptou um conto do escritor e professor paranaense da UFM, Flávio Ricardo Vassoler, "E se o transatlântico, enquanto vai a pique, fizer o elogio do próprio naufrágio?" e o resultado foi a participação em diversos Festivais, entre eles, o prestigiado Festival Cine Ceará 2018. Tendo como temas o relacionamento abusivo, suicídio, misoginia, fanatismo religioso dentro de um ambiente familiar, Sérgio Gag me fez refletir sobre a importância de escalar atores densos que possam dar veracidade a um projeto tão complexo e ao mesmo tempo, rico de nuances na dramaturgia. Francisco Gaspar e Ariclenes Barroso compõem com muita propriedade o conto de 2 irmãos que se odeiam, uma fábula que adapta ao mesmo tempo, a relação conflituosa entre Caim e Abel e também, a de pai e filho na parábola de Abrão e Isaac. No filme, os papéis são invertidos: é Issac (Ariclenes) que tem que decidir se mata ou não Abrão (Francisco Gaspar). Logo após uma rixa entre os irmãos, Abrão sofre um acidente e fica tetraplégico. Ao retornar para casa em uma cadeira de rodas, ele imediatamente destrata seus 3 irmãos homens: além de Isaac, tem outros 2. Abrão é o irmão mais velho e é ele quem comanda os negócios da família, uma marcenaria. Todos, inclusive sua esposa, Madalena, se reportam a Abrão, e o obedecem sem questionamentos. Culpando Issac pelo seu acidente, Abrão o provoca constantemente, xingando e abusando moralmente o rapaz. Um dia, Abrão lhe propõe o impensável: que o irmão o mate. Com uma direção correta de Sérgio Gag, o filme oferece diferentes estruturas narrativas: teatral, quando o ator Francisco Gaspar declama em fundo preto, um texto sobre o Poder de Napoleão e sua tentativa de suicídio diante da iminente derrota; uma linguagem Glauberiana, repleta de alegoria e misticismo, por conta de uma personagem, uma idosa vestida de preto, que circula entre os personagens, qual uma bruxa de "Macbeth" dando uma de oráculo; e a narrativa realista, que conta a história dos irmãos. Um filme repleto de ousadia, com um bom time de atores coadjuvantes, que só peca pelo excesso de trilha sonora na primeira parte do filme. Um silêncio ou som ambiente poderia ter sido mais interessante para provocar a tensão da sequência da chegada do irmão em casa.

Nós somos o calor

"Somos calentura", de Jorge Navas (2019) Premiado drama musical colombiano, com co-produção argentina. Celebrado como uma versão de 'Cidade de Deus" do Hip hop, "Nós somos o calor" é ambientada na cidade de Buenaventura, na Colômbia. Conhecida por ser uma região extremamente pobre do País, com predomínio da população negra e com grande influência de traficantes que aliciam os moradores para trabalharem para eles. O filme parte de uma premissa bastante clichê: 4 amigos desde a infância, agora enfrentam a realidade nua e crua da vida: para sobreviverem e manterem suas famílias, eles precisam trabalhar para o tráfico. A única forma deles saírem desse mundo excuso das drogas e da violência, é vencendo um concurso de dança. Com o dinheiro, eles poderão pagar suas dívidas. Assim, o grupo Buonavenura Mon Amur se esforça para caprichar na coreografia, jogando toda a raiva que possuem dentro de cada um para as pistas de dança. Mesmo com uma história bastante previsível, "Nós somos o calor" encanta pelo tratamento realista que é dado ao filme. Com atores bastante convincentes tanto na performance quanto nas pistas de dança, o filme ainda ganha um super reforço da fotografia, que busca cores quentes e enquadramentos com estética de video clip para os números musicais. Ótima trilha sonora com hip hop e salsa eletrônica. Um filme denso, melancólico e que não teme deixar clara a sua mensagem de que não há solução contra a violência.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

The staggering girl

"The staggering girl", de Luca Guadagnino (2019) 9O realizador de "Me chame pelo meu nome", Luca Guadagnino, faz várias homenagens no seu filme, que concorreu na Quinzena dos realizadores no Festival de Cannes 2019. Logo no início, nos créditos iniciais, Guadagnino utiliza as cartelas em fundo preto e as famosas letras brancas que Woody Allen usa em todos os seus filmes, se tornando sua marca registrada. No tema, Guafdagnino também "rouba"o mote da escritora que ouve sem querer as confissões de uma vizinha no apartamento do lado, do filme "A outra", de Woody Allen. O costureiro da alta costura Valentino também é homenageado no filme: todas as personagens femininas vestem a sua coleção 2019, espetacularmente coloridas e glamurosas. O fotógrafo tailandês Sayombhu Mukdeeprom, que fotografou para Guadagnino os filmes "Me chame pelo meu nome" e "Suspíria", praticamente recria o Technicolor, sistema de cores dos anos 50 que reforçavam as cores. Rodado em 35 mm, o filme encanta pelo seu visual, filmado em locações de Nova York e Roma. A trilha sonora é assinada pelo mestre japonês Ryuchi Sakamoto. O elenco é composto pela atriz americana Juliane Moore, pelo ator fetiche de David Lynch, Kyle MacLachlan, pela super atriz italiana Alba Rohrwacher e por Mia Goth, atriz que tem trabalhado com Lars Von Triers. Com toda essa ficha técnica impressionante, infelizmente "The staggering girl" é um filme chato que se perde em sua pretensão. Juliana Moore interpreta a escritora Francesca, que está em Nova York escrevendo suas memórias. Ela relembra seu passado e seu relacionamento com sua mãe, a artista plástica Sofia. Agora, Francesca que tem origem italiana, precisa retornar para Roma e rever sua mãe, que está ficando senil. A direção de Guadagnino é sofisticada e sabe aproveitar bem as suas atrizes e a beleza das locações e figurino. Mas o roteiro, escrito por Michael Mitnick, autor da série "Vynil". é confuso e cheio de vai e vem na trama, que mais atrapalha que esclarece.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Maria e João- O conto das bruxas

"Gretel & Hansel", de Oz Perkins (2020) Refilmagem do famoso conto dos irmãos Grimm, "Maria e João- o conto das bruxas" foi dirigido por Oz Perkins, filho d ator Anthony Perkins e que dirigiu o excelente filme de terror "A enviada do mal". Essa nova versão apresenta um viés feminista: já no título, inverteu-se o nome do conto, colocando Maria na frente e deixando claro que o filme é pelo seu ponto de vista. Maria narra o filme quase todo em voz off, enfrentando seus dilemas como tutora do irmão menor, João. Desesperados, com fome e sem lar, após a mãe expulsá-los de casa, Maria e João procuram trabalho, mas Maria é constantemente assediada sexualmente. Logo eles encontram uma casa abandonada no meio da floresta, onde uma velha senhora os recebe com doces. Mas tanto carinho e afeição tem um preço: A velha é uma bruxa que seduz crianças para depois, devorá-los. Maria é interpretada pela ótima Sophia Lillis, da franquia "It, a coisa". Ela segura o filme todo nas costas. O filme investe pesado na atmosfera de pesadelo macabro, deixando claro o destino das crianças feitas reféns pela bruxa: foram todas mutiladas. Em uma cena cruel, um banquete de vísceras e partes de corpos de crianças é transformada em doces apetitosos. O filme é bem dirigido por Oz Perkins, que investe na atmosfera e no clima lento, soturno. Mas com certeza o filme deixará os fãs de filmes de terror irritados: seus sustos são comedidos e o ritmo é bem lento. Mas quem se deixar levar pela visão arrepiante de Perkins, vai curtir bastante. É um filme de terror que investe na embalagem, e vale a pena. Ponto positivo na fotografia e na direção de arte.

domingo, 23 de fevereiro de 2020

Naked boys singing

"Naked boys singing", de Robert Schrock e Troy Christian (2007) Adaptação cinematográfica do famoso Musical Off Broadway 'Naked boys singing". Lançada em 1999 no teatro em Nova York, o filme apresenta 10 atores/cantores totalmente nús, cantando 16 músicas com ritmos bem distintos, que vão do vaudeville, discoteca, romântica e coral. Em cada número, um tom diferente que varia da comédia rasgada, romance LGbtqi+, drama. Divertido e com atores bastante carismáticos, que são totalmente despojados. Os temas falam sobre os dramas da masculinidade e dos gays diante de uma sociedade conservadora: o medo de ficar com ereção em um vestiário; o primeiro amor; a cerimônia do corte do prepúcio na comunidade judaica, a masturbação, a pegação em academia, etc. Para espectadores voyeurs e admiradores do corpo masculino, o filme é uma pedida imperdível. Adaptada em mais de 15 países, em breve ganhará uma segunda versão no Brasil ( a primeira versão foi em 2003).

Em câmara lenta

"Em câmera lenta", de Fernando Lopes (2012) O cineasta português Fernando Lopes faleceu em 2012, e nesse ano, ele lançou seu último filme, "Em câmera lenta", que acaba sendo seu quase testamento: o protagonista, Santiago (Rui Morrison, que já havia trabalhado antes com Lopes) mergulha no mar, e durante a travessia, revê as mulheres de sua vida, Laurence e Contanza. O filme tem influências de "8 1/2" de Fellini e dos filmes existencialistas de Antonioni. Até mesmo poderia afirmar que o filme lembra muito "Eu", de Walter Hugo Khouri, um discípulo do cinema de Antonioni. No entanto, o excesso de hermetismo e de intelectualização dos diálogos, teatrais, e das cenas, espanta uma possibilidade de ampliação de público. É um filme lento, que exige uma platéia mais atenta aos textos bastante verborrágicos escritos pelo próprio Fernando Lopes, nessa sua viagem metafórica sobre a vida de um intelectual.

Shaun, o carneiro: a fazenda contra-ataca

"A Shaun the Sheep Movie: Farmageddon", de Will Becher e Richard Phelan (2019) Em 2015, os diretores Mark Burton e Richard Starzak adaptaram para o cinema o primeiro longa de "Shaun, o carneiro". O filme foi um grande sucesso e foi indicado ao Oscar de longa animação. Agora, quase 5 anos depois, trocaram os diretores e os roteiristas e surge "Shaun o carneiro, a fazenda contra-ataca". Essa continuação brinca com referências a clássicos da ficção cientifica, como "2001", "Et, o extraterrestre" e "Contatos imediatos do terceiro grau", entre outros. Shaun, o cachorro Bitzer e seus amigos precisam lidar com a presença de um pequeno alienígena que caiu na fazenda, e também fazer com que cientistas se mantenham afastado do assustado alienígena. O roteiro não traz nenhuma novidade e tudo é um apanhado de clichês sobre seres que caem na terra e são procurados para serem servidos de cobaias para experimentos. O ritmo do filme também não chega ao primor do filme anterior, muito menos o humor e o roteiro. Mesmo assim, o carisma de Shaun e sua turma ainda consegue captar a atenção dos fãs.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Uma história de amor sueca

"En kärlekshistoria", de Roy Anderson (1971) Chocado com a ousadia desse filme sueco lançado no ano de 1969. Os 2 protagonistas são 2 crianças: um garoto de 14 anos, e uma menina de 13. Par e Annika descobrem o primeiro amor: eles fumam, bebem, agem como adultos. E transam. Tudo no filme é filmado sem pudor: todas as crianças no filme têm liberdade total para fumar, beber e fazerem tudo o que os adultos fazem. Escrito e dirigido por Roy Anderson, na época com 27 anos, foi o representante da Suécia para brigar por uma vaga no Oscar de 1971. Par é filho de um mecânico. Anikka é filha de um pai alcóolatra e sua mãe constantemente apanha do marido. Nesse mundo onde os adultos são losers e não conseguem se encaixar na vida e em um futuro possível, as crianças crescem sem a educação que se espera dos pais. O filme faz uma crítica feroz ao universo dos adultos, e pior, mostrando como toda esse geração de crianças irá se transformar no espelho dos adultos. Ann-Sofie Kylin e Rolf Sohlman impressionam pela espontaneidade de suas performances como Anikka e Par. Fico imaginando no mundo conservador de hoje, o que significaria lançar esse filme, onde os beijos das crianças envolvem língua e na linda cena da primeira transa, o menino levanta o vestido da menina e cheira sua calcinha. Brilhantemente fotografado e com enquadramentos que parecem pinturas. A trilha sonora ajuda a dar um clima romântico e ao mesmo tempo, melancólico desse filme pessimista. Roy Anderson ficou mais conhecido dos cinéfilos quando lançou em 2014 o premiado drama "Um pombo pousou no galho da existência humana", um título que até hoje é lembrado como chacota. Curiosidade: no mesmo ano de 1970, foi lançado o filme americano e grande sucesso de bilheteria "Love story", com Ryan O'neill e Ali Macgraw, e o filme sucesso no seu original também se chama "Love story" e ambos os filmes falam sobre um amor incondicional. "Uma história de amor sueca" ganhou diversos prêmios internacionais, e competiu em Berlin, de onde saiu com um prêmio especial.

Perdrix

"Perdrix", de Erwan Le Duc (2019) Drama romântico com pitadas de humor francês, "Perdrix" concorreu no Festival de Cannes 2019, na Mostra Quinzena dos realizadores. O filme foi escrito e dirigido por Erwan Le Duc, e traz em sua estrutura visual e dramatúrgica elementos que o aproximam do cinema estranho e encantador de Wes Anderson. Personagens losers, enquadramentos fixos, situações beirando à bizarrice e surrealismo. Juliette (Maud Wyler) é uma mulher que perambula de cidade em cidade, tirando fotos e sem destino certo. Ao chegar em uma dessas cidades, ela tem o carro roubado por uma mulher nua, que faz parte de uma gangue de nudistas rebeldes que destroem tudo ligado ao consumismo. uma crítica ao hábito capitalista da sociedade. Ela vai prestar queixa a um policial, o Capitão Pierre Perdrix (Swann Arlaud). Sem ter aonde ir, ela acaba aparecendo na casa dele e se oferece para jantar e ficar ali por um tempo, até que seu carro apareça. Na casa, moram a mãe de Pierre, Therese (Fanny Ardant), uma radialista que comanda um programa na rádio sobre amor, e que também é uma ninfomaníaca que traz homens para sua casa. Tem também o catador de minhocas, Julien, irmão de Pierre, e a adolescente rebelde Marion. Todos têm suas vidas transformadas pela presença da bipolar Juliette. O filme poderia render um filme encantador, mas o excesso de verborragia e de personagens dilui bastante o potencial do filme. Confesso que já no meio do filme, fiquei cansado e torcendo pro filme acabar logo. Fanny Ardant é sempre a diva maravilhosa que queremos ver, mas nem ela consegue dar muito interesse a esse filme sem muitas novidades. O que se salvam é o trabalho do elenco, e algumas cenas provocativas,além da deliciosa trilha sonora oitocentista.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Pussy

"Cipka", de Renata Gasiorowska (2016) Super premiado curta de animação polonês, escrito e dirigido pela cineasta Renata Gasiorowska. O filme venceu, entre outros prestigiados Festivais, os de SXSW, Clermond Ferrant, além de competir em Sundance. Ousado e extremamente sexualizado, o filme apresenta uma mulher que deseja se masturbar sozinha em casa. Mas toda hora acontece um empecilho: o telefone que não para de tocar, o vizinho que insiste em assediá-la. Até que, por rebeldia, sua vagina resolve sair de seu corpo e descobrir prazer por contra própria. O filme deixa bem clara a mensagem de que a mulher independe do homem para conseguir o seu prazer sexual. A masturbação é vista como algo pleno, um prazer solitário totalmente satisfatório para a protagonista. Com traços simples e abusando de cores azuis e vermelhas, o filme é uma delícia de se ver, mas totalmente proibido para crianças. Toda a acção da masturbação é explorada de forma explícita.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

A chance de Fahim

"Fahim", de Pierre-François Martin-Laval (2019) Cinebiografia do jogador de xadrez juvenil Fahim Mohammad, que nasceu em Bangladesh no ano de 2000 e que fugiu com seu pai para a França em 2011. O pai de FAhim se envolveu com manifestações políticas contra o governo e acabou sendo perseguido. Fahim, já pequeno, já demonstrava grande talento no xadrez. Seu pai resolveu fugir para Paris, ara fazer com que Fahim realize seu sonho de ser jogador de xadrez. Para isso, precisam abandonar a esposa e os irmãos de Fahim para trás. Por serem refugiados, ambos irão parar em um refúgio para imigrantes. A condição para que possam permanecer na França é se Fahim ganhar a partida nacional de xadrez, caso contrário, deverão ser deportados. O filme, escrito e dirigido por Pierre-François Martin-Laval. tem um roteiro correto, daqueles ond eo espectador já sabe tudo o que irá acontecer. Gerard Depardieu interpreta o professor de xadrez Sylvain Charpentier, que de início, reluta em dar aulas ao menino, mas logo depois, se torna o seu maior incentivador. Não fosse a presença de Depardieu, dificilmente o filme teria distribuição internacional. A história de superação já foi vista várias vezes, ainda mais nesse ambiente do mundo de xadrez. Vale pela mensagem humanista que o filme passa, por mais que tudo pareça ser um grande conto de fadas, e a gente sabe que a Europa não está tão receptiva assim com os imigrantes.

Chamas da morte

"The burning", de Tony Maylam (1981) Também chamado de 'A vingança de Cropsy", o filme é um clássico cult pioneiro: lançou as carreiras de Harvey e Bob Wenstein, que aqui lançaram sua primeira produção, em 1981. Também foi o filme que lançou as carreiras de Holly Hunter, Jason Alexander ( de "Seinfeld") e Fisher Stevens. Foi também a primeira trilha sonora de um filme de terror composta por Rick Wakeman, do grupo de rock progressivo YES. E para finalizar, o filme é o primeiro do gênero terror a lançar como protagonista um personagem masculino, o chamado "Final boy", contrariando as "final girls"costumeiros no gênero, que são as sobreviventes histriônicas dos serial killers. O filme foi um dos últimos a serem rodados em uma Nova York decadente, principalmente na região de Times Square, que na época, era sórdida e repleta de lojas voltadas para a pornografia e repleto de traficantes e bandidos. Cropsy é o zelador de um acampamento para jovens que é vítima de uma pegadinha de alguns frequentadores. Ele acaba pegando fogo e vai parar no hospital. Cinco anos depois, ele retorna ao acampamento, doido para matar todo mundo que se encontra lá. Antes, ele ainda consegue tempo para matar uma prostituta na Times Square. O filme tem ótimas cenas de assassinato, todas com uma tesoura de jardineiro. O filme é repleto de cenas de nudez total das personagens femininas e muita violência explícita, chavões típicos do gênero, além de punir todo mundo que quer transar. Definitivamente, um dos melhores filmes slashers da história, com várias cenas antológicas, como o massacre da canoa.

Eve

'Eve", de Rory Kindersley (2019) O que acontece quando uma atriz perde o papel que ela tanto queria para uma outra atriz? Partindo dessa premissa, o cineasta inglês dirige e co-escreve um roteiro angustiante sobre uma atriz que tenta retornar ao estrelato mas perde o papel principal para uma outra atriz. Bex ( Rachel Wareen, excelente) acredita que Alex (Christine Marzabo) ficou com o papel principal e resolve ameaçá-la. Alex e seu marido sofrem ameaças anônimas, e ela teme pela sua vida. O universo dos testes de elenco costumam gerar filmes onde o momento que o ator perde ou ganha o papel pode significar uma tragédia ou uma alegria. O cineasta Rory investe em um suspense psicológico que termina em violência explícita no sue desfecho. O filme investe em cenas estilizadas e que aparentam serem criações da mente de Bex, que vai surtando aos poucos. Ótimas fotografias e trilha sonora.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

Venha como você é

"Come as you are", de Richard Wong (2020) Refilmagem americana do premiado filme belga de 2011 "Hasta la vista", "Venha como você é" é tão bom quanto ao seu original, graças ao excelente trabalho dos atores protagonistas, carismáticos dentro de um roteiro que alterna humor, drama e melancolia. Scotty (Grant Rosenmeyer) é tetraplégico e somente mexe sua cabeça. Ele mora com a sua mãe hiper protetora, e frequenta uma clínica de fisioterapia para desabilitados. Lá, ele se apaixona por uma atendente, mas fica chateado quando percebe que ela só dá atenção a Matt ( Hayden Szeto ), um ex-atleta que ficou paraplégico. Mo (Ravi Patel) é um dos atendentes da clínica, e é cego. Juntos, os 3, que são virgens, resolvem viajar de kombi até Montreal para frequentarem um bordel próprio para atender pessoas com problemas físicos. Sem avisar suas famílias, os 3 contratam a enfermeira Sam (Gabourey Sidibe, de "Preciosa") para dirigir a kombi para eles. Os pais descobrem a fuga e vão ao encalço deles. No filme original, os personagens saíam da Bélgica para Madri. Aqui, o destino é Montreal. Como todo road movie, os personagens passam por transformações e conhecem pessoas no caminho que os fazem repensar suas trajetórias. Boa direção, roteiro fiel o original, sem novidades. O elenco é totalmente globalizado: tem ator hindu, negro, oriental e caucasianos. Assim como o original, foi bastante criticado por não escalarem atores com as deficiências de seus personagens, o que abre discussão sobre o papel dos atores e o "lugar da fala", tão em voga hoje em dia.

Vermelho sol

"Rojo", de Benjamín Naishtat (2018) Dirigido e escrito pelo argentino Benjamín Naishtat, que na época da realização do filme tinha 33 anos, "Vermelho sol"ganhou dezenas de prêmios internacionais, entre eles, o do prêmio do juri no Festival de San Sebastian. Protagonizado por Darío Grandinetti, ator argentino que trabalhou com Pedro Almodovar em "Fale com ela" e no filme brasileiro dirigido por André Sturm chamado 'Bodas de papel", o filme se passa na Argentina de 1975, logo após o fim da ditadura militar. O Advogado Claudio (Darío Grandinetti) é casado com Suuzana e tem uma filha adolescente. Reconhecido em sua cidade como o melhor advogado da região. Claudio se envolve com histórias de desaparecidos políticos, em uma sociedade que procura seguir o seu cotidiano como se nada tivesse acontecido. Apesar de amplamente aclamado, confesso que não fui fisgado pelo filme. Fiquei entediado e o que me prendeu a atenção foram as performances de Darío Grandinetti e de Alfredo Castro, no papel de um detetive. O filme tem vários sub-plots, como por ex, o da filha adolescente de Dario e o namorado dela que deseja tirar a sua virgindade. Um plot desnecessário e que só arrasta o filme. Outro ponto positivo é a brilhante fotografia do brasileiro Pedro Sotero, que reproduz com muita propriedade a textura dos filmes policiais e B dos anos 70. Direção de arte e maquiagem também primorosos.

sábado, 15 de fevereiro de 2020

Matthias e Maxime

"Matthias et Maxime", de Xavier Dolan (2019) De todos os filmes de Xavier Dolan, esse foi o que menos gostei. Não que seja ruim: o filme é bom. Mas é uma repetição de temas que ja foram vistos em todos os seus filmes anteriores, e aqui, já encontra sinais de esgotamento. Amores sofridos e platônicos, saídas de armários, brigas de mães com filhos. No quesito narrativo, tudo continua igual: câmeras lentas, muitos clássicos pops na trilha sonora e todo aquele rebuscamento estilístico nos enquadramentos, medidos plano a plano. Xavier Dolan escreve, dirige e protagoniza esse drama melancólico sobre um amor impossível: Matthias (Dolan) e Maxime (Gabriel D'Almeida Freitas) são dois melhores amigos, desde a infância, e fazem parte de um grupo de amigos muito unidos, todos heterossexuais. Um dia, a irmã de um dos amigos quer filmar um cura que consiste em uma única cena: um beijo entre dois homens. Matthias e Maxime, com o apoio dos amigos e de suas namoradas, decidem participar d acena. No entanto, após o beijo, tudo se transforma na vida dos amigos, e aos poucos, eles descobrem que estão apaixonados um pelo outro. Pegando o mote de "A garota dinamarquesa", sobre a descoberta da homossexualidade após participar de algum evento que desperta a sexualidade contida, "Matthias e Maxime" participou do Festival de Cannes 2019 na mostra competitiva. Com um ótimo time de jovens atores, o filme possui lindas cenas muito bem filmadas, mas o excesso de cenas dialogadas tornam boa parte do filme bastante cansativa e enfadonha. A cena onde toca "Always on my mind", dos Pet Shop Boys, e a aparição de um objeto de desejo, é muito bacana e excitante. Xavier Dolan mais uma vez mostra ao público e crítica o seu desejo de se mostrar como um artista completo trabalhando em todas as frentes, e apresenta uma história de amizade com um viés bastante melancolico.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Filmworker- Minha vida com Stanley Kubrick"

"Filmworker", de Tony Zierra (2017) Obrigatório documentário para fãs de Kubrick, estudantes de cinema e cinéfilos, "Filmworker" conta a história impressionante de Leon Vitalli, um ator inglês que estava em ascenção na Inglaterra nos anos 70 e que abandonou toda a sua carreira para trabalhar como assistente pessoal de Stanley Kubrick, seu ídolo e Mestre. "Filmworker" apresenta imagens inéditas de bastidores de filmes de Kubrick, com seu já conhecido perfeccionismo, e com imagens formidáveis de trabalho com atores e seu método para extrair deles o que ele deseja. O filme apresenta diversos depoimentos de técnicos, atores, pesquisadores e os filhos de Leon Vitalli, que procuram entender o porquê de alguém se apagar profissionalmente e dedicar quase 30 anos de sua vida para trabalhar de forma totalmente servil, quase 24 horas por dia, para uma pessoa que abusava da boa vontade dele. Leon Vitalli descobriu sua paixão por Kubrick quando assistiu a "2001" e disse que era o melhor filme que já havia assistido. Depois assistiu "Laranja mecânica"e decidiu que precisava trabalhar com Kubrick como ator. A chance veio em 1975, quando ele fez um papel pequeno em "Barry Lyndon". Ryan O'neil, que interpretou Barry Lyndon, dá um depoimento dizendo que Kubrick o obrigou a bater com o máximo de força em Leon Vitalli na cena, repetindo mais de 30 vezes. Leon permitiu o tratamento em prol da melhor atuação possível. Em troca, Kubrick aumentou a sua participação no filme. Quando o filme acabou, Vitalli falou com Kubrick que adoraria trabalhar com ele por trás das câmeras. Sem qualquer experiência técnica, Kubrick sugeriu que ele fosse trabalhar em qualquer função e depois o procurasse. Leon trabalhou em uma versão sueca de "Frankestein"como protagonista e pediu para trabalhar de graça como editor. Depois disso, ligando para Kubrick, ele lhe deu uma missão: ler o roteiro de "O iluminado". depois, deu-lhe a missão de ir aos Estados Unidos para fazer teste de elenco para Danny. Vitalli testou mais de 4 mil crianças, até que bateu o olho em Danny Llyod. Por ser ator, Leon acessou Danny de forma a concluir para Kubrick que o menino era o ideal para o filme. Durante as filmagens, Danny e Leon criaram uma relação de amizade. Leon foi fundamental como acting coach para Danny e Shelley Duvall. Depois, em "Nascidos para matar", Leon viu milhares de testes de elenco. Para o papel do Sargento, havia sido escolhido um ator, mas quando Leon viu o Sargento R. Lee Ermey dando coach aos atores, teve certeza de que ele seria o ideal para o papel. Kubrick confiava bastante em Leon. Lhe dava várias missões: supervisionar as legendas dos filmes no mundo inteiro, checar laboratórios, material de imprensa, absolutamente tudo. É curioso um depoimento de Matthew Modine, que trabalhou em "Nascidos para matar", que achava que Leon era um X-9 de Kubrick para ver e os atores fumavam maconha ou não estudavam suas cenas. Com a morte de Kubrick em 1999, Leon continua dedicado à sua obra, apesar de não estar contratado por nenhum responsável pela sua herança intelectual. Leon se ressente que as exposições de Kubrick pelo mundo, ninguém o convide. Muito triste ouvir os depoimentos de seus 3 filhos, dizendo que cresceram sem a presença do pai ao seu lado, pois dedicava o tempo integral para servir Kubrick. Com mais de 70 anos, Leon passa dificuldade financeira, mas não se arrepende de ter dedicado sua vida profissional para ser sombra de seu Mestre.

Acampamento sinistro

"Sleepaway camp", de Robert Hiltzik (1983) Um clássico cult de terror slasher de 1983, "Acampamento sinistro" é venerado por estudiosos de cinema pelo uso de temas totalmente vanguardas na época da realização, se tornando o primeiro slasher homoeótico da história. Transsexualismo, pedofilia, abuso sexual, casamento gay, tudo isso é visto nesse inacreditável filme que possui um dos finais mais comentados de toda a história dos filmes de terror, pela sua coragem e ao mesmo tempo, bizarrice. O filme começa com um prólogo: um pai e um casal de filhos pequenos, Angela e Peter nadam no lago. Um acidente de barco provoca a morte do pai e do menino. Oito anos depois, Angela, sobrevivente, é criada pela sua tia. A tia sugere que Angela e Ricky, seu filho, passem um final de semana em um acampamento. Chegando lá, Angela sofre bullying pela sua timidez. Ricky procura salvá-la das investidas violentas. Angela é cortejada por um menino, Paul, que quer namorar com ela. De repente, mortes misteriosas começam a acontecer no local. Assistir a esse filme é uma experiência sociológica e histórica: o acampamento é para crianças de 7 a 12 anos, mas os monitores são homens com mais de 30 anos, que se expõem semi-nus e em determinada cena, ficam todos pelados em uma cena de banho de rio. As crianças são constantemente assediadas sexualmente pelos funcionários do local. As cenas de violência, diferente de outros slashers, não são mostradas na hora das suas mortes, mas sim, depois que os corpos são encontrados. O diretor e roteirista Robert Hiltzik resolveu criar um slasher com perfil diferente de outros os outros, que exploram o corpo feminino e a nudez das mulheres em cenas de banho: aqui, só quem tira as roupas e se expõe são os homens. O filme vai fazer sucesso com o público dos filmes de terror vintage anos 80, e também, com o público gay. O filme é tão bizarro e fetichista que até mesmo os meninos são objetos de erotização. SPOILER: Para quem quer saber um dos finais mais comentados dos filmes de terror, não leia abaixo: no final, descobre-se que Angela na verdade é Peter. Foi o menino quem sobreviveu ao acidente. Mas a tia, querendo criar uma menina, resolveu vestir e educar Peter como tal. Peter presenciou seu pai transando com um outro homem, na verdade seu outro pai, e desejou seu uma travesti. É preciso assistir ao filme para acreditar nesse final. É bom demais.

Surdo

"Sordo", de Alfonso Cortés-Cavanillas (2019) O cineasta russo Elim Klimov realizou a obra-prima "Vá e veja" que fala sobre os horrores da 2a guerra diante do olhar de um garoto. Em uma cena antológica, uma bomba explode próximo ao rapaz e ele fica surdo, e o que ouvimos desde então são ruídos que trazem ao espectador a sensação de não escutar mais nada. Em "Surdo", a referência é a mesma. Ambientada na Espanha Franquista de 1944, ainda sobre os efeitos da 2a guerra mundial, um grupo de revolucionários espanhóis , chamados de Maquis, vindos da França, tentam destruir uma ponte para assim, desestabilizar o Governo franquista e destituir o General Franco. A ação dá errado: a bomba explode antes do momento e mata quase todos os rebeldes, sobrando apenas 3: um deles é morto pelos soldados franquistas que chegam ao local, o segundo, Vicente, é preso e o terceiro, Anselmo, fica surdo e foge pela floresta. A partir daí, Anselmo precisa se proteger de animais selvagens, dos soldados que procuram por ele e de uma sniper russa que também o procura. Anselmo reencontra Rosa, esposa de Vicente, e junto dela tentam um plano para libertar Vicente. O filme tem uma ótima direção de Alfonso Cortés-Cavanillas, que co-escreveu o roteiro. A dinâmica da edição já começa tensa desde o seu início e então não para mais. Valorizando a extrema violência, com cenas bastante fortes de tiros que explodem cabeças e outras cenas de revirar o rosto dos mais sensíveis, "Surdo" busca inspiração estética nos filmes de Sergio Leone, principalmente no protagonista, que se veste igualzinho aos personagens de Clint Eastwood. A trilha sonora também evoca as músicas clássicas de Enio Morricone. O que não gosto é do roteiro, e do desenvolvimento do arco do protagonista. Suas decisões acabam sendo sempre erradas, e selando o destino de muita gente. Do meio em diante já não torcia mais para ele.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Em busca da escuridão

"In search of darkness", de David A. Weiner (2019) Obrigatório documentário de 270 minutos de duração, que faz um apanhado geral sobre os filmes de terror dos anos 80. O filme apresenta um painel cultural, social e econômico da década (surgimento da estética MTV, criação dos VHs e locadoras de vídeo, a Aids, Ronald Reagan, etc) e em cima disso explora mais de 300 filmes, dando detalhes de produção de cada um deles. O mais completo painel já feito sobre os filmes de terror dos anos 80, que em pleno século XXI, influenciam toda uma estética com suas cores fortes, sua trilha sonora de sintetizadores, estética visual em seriados como "Stranger things" e dezenas de filmes que buscam a atmosfera desses filmes. No ano de 1981 foi criada a categoria de Oscar de maquiagem e o primeiro filme a ganhar foi "Um lobisomem americano em Londres", entregue ao Mestre Rick Baker. Na época, os efeitos eram práticos e realizados na hora da filmagem, nada era feito em pós-produção como nos dias de hoje. Atores, diretores, efeitistas especiais, roteiristas, produtores, críticos de cinema, todos dão depoimentos curiosos sobre os filmes citados e as dificuldades para realizar os efeitos especiais. O filme é dividido em ano e por categorias, como Slashers, filmes com datas de feriados, etc. Eu que sou um grande fã de filmes de terror e dos anos 80, fiquei totalmente apaixonado pelo filme, que cita não somente os filmes conhecidos, como também, verdadeiras pérolas que eu nunca havia ouvido falar.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

Indústria americana

"American factory", de Steven Bognar e Julia Reichert (2019) Vencedor do Oscar de melhor longa documentário 2020, "Indústria americana"recebeu outras dezenas de prêmios em importantes Festivais, entre eles, Sundance, de onde saiu com o prêmio de melhor direção. Primeira produção da Higher Ground, produtora do ex-presidente americano Barack Obama e sua esposa Michelle, o filme apresenta uma difícil relação entre americanos e chineses em uma Fábrica nos Estados Unidos, com culturas e formas de trabalho totalmente distintas. Em 2008, devido à crise econômica que assolou os Estados Unidos, uma Fábrica da General Motors em Ohio fechou e demitiu seus 10 mil funcionários. Dois anos depois, um empresário chinês comprou a fábrica e ali montou uma empresa de fabricação de vidros automotivos, a Fuyao Glass America. Muitos chineses foram trazidos da matriz da China para trabalharem na filial americana. Os funcionários americanos, muitos deles demitidos da GM e que ficaram esse tempo todo sem trabalho, de início comemoram o novo emprego. Mas com o passar do tempo, percebem que os chineses procuram trazer regras de seu País, que não se aplicam aos Estados Unidos: não querem saber de sindicato, exigem que os empregados trabalhem horas extras. Outros problemas surgiram: péssimas condições de trabalho e a diminuição dos salários, que eram o sobro na época da GM. Muitos funcionários exigem que o Sindicato faça parte da empresa, mas tanto os chineses quanto alguns funcionários americanos, temerosos de perder o emprego, decidem não apoiar a introdução do sindicato. O filme apresenta cenas filmadas na China e nos Estados Unidos, e mostra como a empresa na China possui quase que um regime escravocata com seus funcionários, que trabalham 12 horas por dia ( os americanos trabalham 8) somente folgam 2 vezes ao mês e recebem salário miserável, sem reclamarem. A melhor sequência do filme mostra um grupo de representantes dos americanos que visita a fabrica na China e são recebidos com festa e até a música "Ymca", do Village People, quando são obrigados a dançar nos palcos. Eles também ficam atônitos com o perfil robotizado dos empregados e são obrigados a trazer esse estilo de trabalho para os Eua. O empresário chinês que montou a empresa , Cao, é uma figura totalmente sui generis: reclama de tudo, diz que os americanos são preguiçosos e não lutam pela melhoria da empresa. A descrição que fazem dos americanos, caricatural, acaba sendo real: em uma reunião com chineses na China, com todos de terno, um dos americanos vai com uma camiseta do filme 'Tubarão". Simbólico, mas no final, os chineses acabaram engolindo os americanos. O filme impressiona pelo fato dos cineastas terem total acesso à fábrica nos Eua e na China, e visivelmente apresentando os chineses como pessoas desumanas, fico pensando como os representantes dela permitiram que o filme fosse lançado e rodado.

Quem a ferro fere

"Quien a hierro mata", de Paco Plaza (2019) O cineasta espanhol Paco Plaza é especialista em filmes de gênero de terror: dirigiu a franquia de sucesso "Rec" e o premiado filme "Veronica", sobre possessão demoníaca. Com "Quem com ferro fere", Paco Plaza aposta no drama de suspense em uma intrincada trama de vingança. Antonio Padin é um poderoso traficante de drogas que foi solto da prisão por doença degenerativa. Ele é pai de 2 filhos, também traficantes. Quando Antonio é internado pela polícia em um asilo, ele recebe cuidados do enfermeiro Mario (Luis Tosar, um ator especialista em filmes de suspense). Mario imediatamente reconhece o homem responsável pela morte de sue irmão, por overdose, há 25 anos atrás. Mario resolve cuidar de Antonio, injetando veneno nele toda noite. No entanto, os filhos de Antonio querem que ele seja retirado do asilo, e ameaçam Mario e sua esposa grávida: caso Antonio não seja liberado, a família de Antonio sofrerá consequências. Com uma boa trama repleta de plot twist, o filme aposta no talento dos atores, e na direção acertada de Paco Plaza, que sabe criar uma atmosfera de suspense. O desfecho é surpreendente.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

Aurora

"Aurora", de Miia Tervo (2019) Premiada comédia dramática Finlandesa, "Aurora" poderia ser um daqueles tipicos filmes americanos onde duas almas que não têm nada a ver uma com a outra acabam se conectando. Essa história já foi vista mil vezes, mas aqui ganha contornos de drama autoral com doses de realismo. Aurora é uma mulher em busca de amor, mas sua solidão à leva ao alcoolismo e a uma vida desregrada. Darian é um refugiado iraniano, pai da pequena Eila. Ele busca asilo na Finlândia, mas uma das poucas possibilidades é se casando com uma finlandesa. Aurora passa as noites com suas amigas em baladas e procurando homens errados, até que um dia seu caminho se cruza com o de Darian, em uma lanchonete. Ele lhe oferece dinheiro para que Aurora consiga uma mulher para ele. Ao mesmo temo, Aurora vai se envolvendo com a filha de Darian, e sem perceber, sua vida vai se tornando mais possível quando ela está ao seu lado. Com ótimas atuações de Mimosa Willamo, no papel de Aurora, e Amir Escandari, no papel de Darian, o filme foi escrito e dirigido por uma mulher, o que reflete bastante na personagem de Aurora, uma mulher cheia de erros, mas sempre pronta a recomeçar. Discutindo assuntos como refugiados e alcoolismo, o filme faz parte do gênero "feel good movie", onde a melancolia e sorriso esparsos surgem para trazer humanidade ao espectador, fazendo-o acreditar que sim, todos podem ter um reinício quando se acredita no próximo e no amor inesperado.

sábado, 8 de fevereiro de 2020

Honey Boy

"Honey boy", de Alma Har'el (2019) Cinebiografia da conturbada vida do ator Shia Labeouff, que também escreveu o roteiro, retratando a sua relação tumultuada com o seu pai, desde que Shia era um ator mirim, até o envolvimento com drogas pesadas e atitudes violentas que tiraram Shia do mainstream dos blockbusters e seu consequente desaparecimento de Hollywood. O filme alterna os anos de 1995, quando Shia tinha 12 anos, interpretado pelo excelente atr mirim Noah Jupe, de "extraordinário"e "Um lugar silencioso", e em 2005, interpretado por Lucas Hedges ( "Manchester à beira mar"), logo após as filmagens de "Transformers"e a sua internação em uma clínica psiquiátrica. Dirigido pela cineasta Alma Har'el, o filme ganhou diversos prêmios internacionais, entre eles, no Festival de Sundance, onde recebeu o Grande prêmio do público. Shia interpreta o seu próprio pai no filme, exorcizando assim todos os fantasmas que existiam da sua relação com ele, que o obrigada a estudar ao extremo as suas cenas e praticava bullying. O pai de Shia arrumava confusão com todo mundo e foi dentro desse lar que Shia se deixou envolver com as drogas e álcool. Maas Shia humaniza a figura do seu pai, evitando demonizá-lo. Ele sabe da importância que sue pai teve para o seu sucesso profissional. A cena final, de reconexão, é comovente. Todos os atores estão ótimos, e que bom rever a atriz Laura San Giocomo, do cult "Sexo, mentiras e videotapes" e "Uma linda mulher", de volta às telas, no papel da psiquiatra.

Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa

"Birds of Prey: And the Fantabulous Emancipation of One Harley Quinn", de Cathy Yan (2020) Segunda mulher a dirigir um filme da Dc Comics ( Patty Jenkins dirige a franquia da "Mulher Maravilha", Cathy Yan é uma diretora chinesa que se mudou aos 14 anos para os Estados Unidos. ela conseguiu a grande proeza de trazer humor negro, ação, drama e muita pancadaria que remete a filmes clássicos, como "Kill Bill", "Taxi driver", "Laranja mecânica" e visualmente se apropria da linguagem de quadrinhos para indicar nomes e feedback de personagens que vão surgindo na trama. O filme começa cm Arlequina (Margot Robbie, sensacional) narrando a sua enorme depressão por conta do chute na bunda que sofreu de Coringa, e de como ela fez para superar o trauma. Passado esse prólogo, ela se envolve com Ewan McGregor (Ewan Macgregor), um russo que deseja um diamante que está no poder de uma menina chinesa, Cassandra. Outras pessoas surgem no caminho de Arlequina: a policial Renee (Rosie Perez), A assassina do arco e flecha e Canário negro, todas mulheres com histórico de frustração com o universo machista. O filme é um dos produtos que surgiram em Hollywood pós #metoo. Boa parte da equipe é formada por mulheres (Diretora, roteirista e produção, de Margot Robbie), e as personagens femininas detonam os homens que surgem no filme. Absolutamente, nenhum homem presta aqui, então resta às mulheres se unirem para dar conta dos machões. Pode ser que o público masculino mais conservador rejeite o filme, mas será uma pena, pois ele é bem divertido, com ótima direção, elenco muito bem envolvido com a proposta das personagens e um visual mega pop.

Venha pro papai

"Come to daddy", de Ant Timpson (2019) Que saudades eu tava do Elijah Wood. E como sempre, interpretando personagens estranhos que funciona super bem com o tipo dele e aquele olhar de psicopata. Depois do cult "O maníaco", onde ele interpretou um serial killer e assim, desconstruiu a persona d e bom moço que estava acostumado a interpretar, muito por conta do sue Frodo de "O senhor dos anéis", Elijah volta ao gênero suspense, dessa vez cm um drama familiar. Norval (Wood) é um jovem nerd que mora com sua mãe na Califórnia. Sue pai o abandonou quando ele tinha 5 anos de idade. Já adulto, Norval recebe inesperadamente uma carta de sue pai, pedindo para que vá encontra'-lo em um lugar ermo. No reencontro, Norval percebe um distanciamento de Gordon, seu pai, um bêbado e que constantemente o trata mal. Um dia, durante uma discussão, Gordon passa mal e morre. A polícia chega e dizem a Norval que o corpo do pai precisa passar o final de semana ali. A partir daí, fatos estranhos começam a acontecer. O filme é a estréia na direção de Ant Timpson, que traz uma narrativa que mistura gêneros : humor negro, suspense, drama. Com alguns plot twists, o filme surpreende pela imprevisibilidade de seu roteiro. Elijah, mais maduro porém com aquele eterno ar jovial, está ótimo no personagem atormentado e em busca do afeto do pai que o abandonou. Participação especial do ator cult do cineasta Hal Hartley, Martin Donovan. O filme tem uma atmosfera que evoca os anos 80.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

Terror 2000- A Alemanha fora de controle

"Terror 2000 - Intensivstation Deutschland", de Christoph Schlingensief (1994) Um dos mais bizarros e estranhos filmes a que assisti, repleto de humor negro , escatologia e cenas politicamente incorretas contra negros, mulheres, gays e imigrantes. Após a reunificação da Alemanha, um grupo neo-nazista resolve sequestrar um assistente social que estava levando uma família polonesa para o seu novo lar, em uma cidade da Alemanha. Dois detetives são incumbidos de descobrir o paradeiro do assistente social, mas descobrem rastros do grupo neo-nazista, comandado por um grupo de psicopatas, entre eles, um Padre (udo Kier) que tem o prazer de estourar os miolos de imigrantes. Dirigido com um terrível mau gosto por Christoph Schlingensief um cineasta cult alemão, do gênero ame ou odeie. As performances beiram à caricatura, com um exagero em todos os níveis. As cenas de sexo são toscas, volta e meia alguém defeca ou vomita. Muitas mortes grotescas, com assassinatos envolvendo atos de xenofobia, racismo e homofobia. Definitivamente, não é um filme para todos os gostos.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

Corpus Christi

"Boze Cialo", de Jan Komasa (2019) Finalista entre os 5 candidatos ao Oscar de Filme Internacional 2020, "Corpus Christi" é um extraordinário drama pungente e visceral, que trata de três temas bastante polêmicos: a religiosidade como arma para controlar as pessoas, o falso testemunho de pessoas que fazem uso do nome de Deus para pregarem em seu nome e a violência nas penitenciárias destinadas à juventude. Daniel (Bartosz Bielenia, em atuação magnífica) é um detento de uma instituição para jovens na Polônia. Religioso, Daniel se aproxima do Padre Tomaz, que prega na Instituição, para se proteger contra a vingança de outros detentos que querem bater nele. Quando Daniel tem a oportunidade de trabalhar em uma carpintaria para infratores, ele acaba conhecendo uma jovem moradora de uma pequena cidade, Eliza. Daniel se apresenta como Padre, e acaba substituindo o padre local, que está doente. Daniel repete tudo o que aprendeu com o Padre Tomaz, mas aos poucos, vai adquirindo identidade própria. Daniel logo descobre que a cidade esta de luto pela morte de vários jovens, cujos pais acusam o motorista de ter matado a todos. Enquanto Daniel procura dar um alento aos moradores, ele teme ser desmascarado a partir do momento que um outro detento descobre a falsa identidade dele. Com uma direção brilhante e um time formidável de atores, "Corpus Christi" é um filme bastante controverso, que ganhou dezenas de prêmios em Festivais Internacionais, entre eles, Veneza. O roteiro é muito provocador , fazendo o espectador questionar o papel de Daniel como um falso Padre, mas que faz mais pela comunidade do que muitos Padres que não se preocupam com o coletivo. Mas o destaque absoluto vai mesmo para o ator Bartosz Bielenia, visceral, brutal, poderoso em cada cena, com uma energia vibrante e avassaladora.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

Canção sem nome

"Canción sin nombre", de Melina León (2019) Extraordinário drama peruano dirigido pela cineasta Melina León, concorreu em importantes Festivais, como Cannes e Estocolmo, tendo ganho dezenas de prêmios. Rodado com uma fotografia em preto e branco do fotógrafo peruano Inti Briones, que acumula diversos filmes brasileiros em seu currículo, como "Hebe", "Canção sem nome" apresenta um País à beira de um colapso político, social e econômico. Durante os anos 80, o país atravessa um período de fortes atentados e desemprego. Acompanhamos a história do casal Georgina (Pamela Mendoza, formidável) e Leo. Ela vende batatas na rua. Ele se apresenta com um grupo folclórico e entretém a população. Georgina está grávida. Quando ela ouve na rádio que uma clínica faz parto de graça para a população carente, Georgina não pensa duas vezes. segue sozinha até Lima de ônibus. Ao chegar na clínica, ela dá à luz. Para sua surpresa, os funcionários levam o bebê e a expulsam da clínica. Desesperada, Georgina pede ajuda ao marido, à polícia, mas ninguém consegue entender o que aconteceu. Georgina resolve procurar o jornal local, e assim, conhece Pedro, um jornalista gay que decide buscar o paradeiro dos integrantes da clínica. Pedro é gay não assumido e flerta com um vizinho, um ator cubano que encena Tenesse Willians no teatro. O filme não dá chance redenção aos seus personagens. É um sofrimento só, uma pedrada atrás da outra. É um filme visceral, vigoroso, repleto de cenas antológicas, como o fabuloso plano-sequência dentro de um barco com Pedro e uma moradora local. Através de uma linha investigativa que beira o documentário, o filme é dirigido com firmeza pela cineasta e roteirista Melina León, com imagens hipnóticas de Inti Brionte.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

Lámen shop

"Ramen Shop", de Eric Khoo (2018) Melodrama e culinária são pratos perfeitos para muitos dramas vindos da Ásia: já tivemos "Comer, beber, viver", de Ang Lee e um inúmero de filmes japoneses sobre o mesmo tema. Com "Lámen Shop", o cineasta da Singapura Eric Khoo narra uma emocionante história de resgate cultural através de uma co-produção entre Japão e Singapura. Masato é um jovem cozinheiro que trabalha com seu pai e seu tio em uma famosa loja de Rámen na cidade de Takasaki, Japão. Apesar do sucesso comercial a vida pessoal de Masako é um desastre: órfão de mãe, o seu pai praticamente deixou de falar com ele desde a morte da esposa. Quando o pai morre, Masako decide ir aé a Singapura por 2 motivos: descobrir porquê porquê o seu pai se tornou uma figura tão amarga, e também, a receita da sopa da costela de porco, prato típico da SIngapura e que ele pretende trazer para sua loja. Com ótimas atuações de todo o elenco, o filme brinda olhos e sentidos da platéia, através de cenas belamente orquestradas com a preparação de comida. Fora isso, o filem resgate um terrível momento histórico da Singapura, quando o governo japonês massacrou milhares de pessoas no país durante a 2a guerra mundial. Ressentimento, perdão, amor, são temas que se apropriam do filme, filmado com muita delicadeza.

Kursk- A última missão

"Kursk", de Thomas Vinterberg (2019) Dramatização do acidente com o submarino russo Kursk, que no ano de 2000 matou 118 tripulantes. Durante um exercício no Mar de Barents, houve uma explosão no submarino que de imediato matou dezenas de tripulantes. 23 deles conseguiram escapar para um compartimento, e ficaram esperando ajuda d Governo que acabou chegando tarde demais. O governo, temendo que vazassem informações oficiais, não aceitou ajuda internacional. Seu equipamento estava totalmente obsoleto. escondendo da opinião pública o acidente e posteriormente o estado dos tripulantes, o Governo finalmente aceitou a ajuda, mas já era tarde demais. O filme acompanha diversos núcleos de personagens: as famílias desesperadas, os oficiais, o governo e os tripulantes que lutaram pela vida. O filme é uma pesada crítica ao governo russo. O acidente foi amplamente divulgado por toda a mídia e a comoção internacional com o desfecho do caso foi avassalador. O filme é dirigido pelo dinamarquês Thomas Vittemberg, dos premiados "Festa em família"e "A caça". O grande trunfo da produção é o seu elenco internacional: Matthias Schoenaerts, Colin Firth, Max Von Sydow, Léa Seydoux e August Diehl. estranho é ver toda essa safra enorme de astros interpretando personagens russos. Preferia ver um filme russo com atores russos, mas entendo a demanda internacional do projeto, o que é uma pena. Mesmo assim, o filme é muito bem dirigido e com uma ótima produção e desenho de produção.

Alta ansiedade

"High anxiety", de Mel Brooks (1977) Um clássico da omédia, 'Alta ansiedade"é co-escrito por Mel Brooks, que parodia os mais famosos filmes de Hitchcock: "Psiicose", "Um corpo que cai", "O homem errado", "Os pássaros", entre outros. Mel Brooks protagoniza o filme, interpretando o psicólogo Dr Richard H. Thorndyke, convidado para fazer parte de uma Instituição psiquiátrica. Chegando lá, ele percebe que os médicos são piores que os pacientes. Aos poucos, se vê numa intrincada trama que faz com que ele seja acusado de um assassinato, e para tanto, precisa descobrir o verdadeiro assassino. Todas as cenas famosas de Hitchcock estão aqui: mas a mais antológica de todas, certamente, é a que sacaneia "Psicose". Mel Brooks garante uma gargalhada atrás de outra e aind atrabalha com 2 de suas atrizes mais recorrentes e divertidas: Madeleine Khan e Cloris Lechman, ambas também em "O jovem Frankestein". Quem não assistiu precisa ver correndo porquê as risadas são garantidas nessa aula de fazer comédia.

domingo, 2 de fevereiro de 2020

Alpha Delta Zatan

"Alpha Delta Zatan", de Art Arutyunyan (2019) Suspense slasher LGBTQI+ , é o filme de estréia do cineasta armênio Art Arutyunyan, que co-escreveu o roteiro e também produziu esse baixo orçamento que evoca filmes slashers dos anos 80, repleto de filtros vermelho e azul e trilha sonora de sintetizadores eletrônicos. Art Arutyunyan era um Fashion designer e assim como Tom Ford, o famoso estilista que virou cineasta, resolveu dar os primeiros passos no Cinema. Só que, diferente de Tom Ford, que preza o bom gosto e refinamento, Art Arutyunyan faz exatamente o contrário: seu filme é uma produção Z: os piores atores do mundo, que falam totalmente de forma não natural, com falas decoradas; roteiro pobre e risível, cenário claustrofóbico que consiste em uma Fart House de Universidade americana e muito sangue feito de mel e corante vermelho. Mas qual o ponto de interesse no filme? Art Arutyunyan não é bobo nem nada: escalou os jovens atores mais bonitos e torneados que encontrou em algum catálogo de atores/modelos iniciantes de Los Angeles, e os colocou totalmente pelados. Metade do filme acontece dentro de um chuveiro, com o elenco tomando banho por horas a fio. Para o espectador voyeur e fetichista, que gosta de ver Jocks (aquelas cuecas americanas), pernas coxudas, peitorais definidos e muita bunda, esse filme é uma pedida imperdível, e que também garante boas risadas por conta das péssimas atuações, som inaudível e diálogos pavorosos. Um cult para a comunidade Lgbtqi+.

Ms Purple

"Ms Purple", de Justin Chon (2019) Competindo no Festival de Sundance 2019, "Ms Purple" é um retrato cruel e desolador de imigrantes que moram em Los Angeles, em busca do "Americam dream". O filme é ambientado no bairro de Koreatown, e segue Kasey (Tiphany Chu), que tem o codinome de Purple, por causa de um vestido púrpura que ela ganhou de um cliente rico. Kasey é atendente de uma casa de Karaokê e faz escort com homen coreanos ricos nascidos nos Estados Unidos, Kasey cuida de seu pai, que está doente e em coma. Ela se recusa a internar o pai em um asilo e havia prometido a ele, antes do coma, de que estaria sempre ao lado dele. Depois da desistência da enfermeira de cuidar do pai, Kasey recorre a seu irmão, Carey, que saiu de casa há anos atrás, abandonando ela e o pai. Carey é viciado em jogos e não trabalha. O filme é um triste relato de loosers que tentaram mas nada conseguiram nas terras americanas. É um filme muito triste, mas não triste de soltar lágrimas, mas sim, por vidas humanas desperdiçadas em histórias sem futuro e que frustraram as expectativas profissionais e pessoais. Os atores estão excelente, e a fotografia e a trilha sonora ajudam a dar esse tom de melancolia eterna na vida desses tristes anônimos.

Ägua acri-doce

"Bittersweet waters", de Jesús Canchola Sánchez (2019) Escrito, dirigido, protagonizado e produzido pelo cineasta mexicano Jesús Canchola Sánchez, radicado em Chicago, "Ägua acri-doce" é um drama LGBTQI+ que faz lembrar bastante de "Brockeback Mountain". A diferença é que aqui tudo é bastante melodramático e com altas dosagens de novela mexicana, ou seja, repleto de exageros narrativos e personagens caricatos. O resultado é bem divertido. Atl (Sanchez) mora com sua mãe, sua avó e uma criada. Atl é órfão de pai, que deixou toda a sua herança para o filho. A mãe, Soledad, tem ódio do filho por dois motivos: por ele ter herdado toda a herança, e por ele ser gay. Ela faz de tudo para tirar o dinheiro dele, inclusive mandando o seu amante assaltar e matar o filho. Por outro lado, Atl é apaixonado por Ramon, com quem namora escondido desde os 15 anos de idade. Como moram em uma área rural do México, o amor deles é vivido sem que ninguém saiba. Mas Ramon engravida Dolores e é obrigado a se casar com ela. Com direção mambembe e atores medianos, o filme diverte pelo amadorismo. As cenas de sexo são mal filmadas e feias, e o exagero do personagem de Soledad é semelhante às piores vilãs de novelas mexicanas.

sábado, 1 de fevereiro de 2020

Memorável

"Memorable", de Bruno Collet (2019) Finalista na categoria de Oscar de melhor curta de animação 2020, "Memorável"venceu o prêmio de melhor curta no prestigiado Festival de Annecy, o maior festival do gênero no mundo. O filme é um contundente retrato do Alzheimer que acomete um pintor de idade, que vive de lembranças recorrentes. Sua esposa procura lidar com a doença do marido, mas todas as memórias do homem vão se esvaindo. Realizado com stop motion e 3D, o filme é um brilhante drama sobre envelhecimento, um filme doloroso, que remete a "Amor", de Michael Haneke. Como suportar a dor de vivenciar a pessoa que você mais ama no mundo ir aos poucos se esquecendo quem é você? O roteirista e diretor Bruno Collet realiza uma obra-prima, um filme tão tocante e melancólico. onde fantasia e realidade se alternam. Pessoas à sua volta se transformam em objetos de pintura. Sua esposa vai se transformando em traços de rabiscos de pintura. Bruno se inspirou nas vidas do pintor William Utermohlen, pintor que mesmo com demência, continuou pintando, e do ator Peter Falk: sua esposa, temendo que o marido saísse de casa e vagasse pelas ruas, mandou construir um estúdio onde ele pudesse ficar.

Nevrland

"Nevrland", de Gregor Schmidinger (2019) Premiado em diversos Festivais, o suspense psicológico “Nevrland” é um filme austríaco repleto de sexo, ácido, viagem psicodélica e paranoia. Filme de estréia do jovem cineasta Gregor Schmidinger, que dirigiu o super premiado curta LGBTQ+ “Homophobia”, o filme busca referência, nas palavras do próprio diretor, em filmes como “Persona”, de Bergman, “De olhos bem fechados”, de Kubrick e “Enter the void”, de Gaspar Noé. A referência a Gaspar Noé explica o visual estonteante repleto de luzes estroboscópicas e um fascínio pelo surreal e pelo fetiche sexual. A trilha sonora é toda de música eletrônica e traz uma sensação de transe hipnótico. Eu diria ainda que existe influência de David Lynch, principalmente na 2a parte do filme, entregue ao surrealismo e sensações abstratas difíceis de verbalizar em palavras. Jacob (Simon Frühwirth, intense), e um jovem de 17 anos que mora com seu pai e seu avô, doente. Sua mãe o abandonou quando criança. Moradores de um pequeno apartamento em Viena, o pai de Jacob trabalha em um matadouro. É para lá que Jacob vai trabalhar. Vivenciando diariamente imagens aterrorizantes de porcos sendo mutilados, Jacob vai adquirindo transtorno psiquiátrico. Em casa, no seu quarto, ele explora sites pornôs gays e bate papo com homens, até conhecer Kristjan (Paul Forman, sedutor), um artista plástico de 26 anos. Quando o avô de Jacob morre, ele finalmente aceita o convite para conhecer Kristjan e seu ateliê, e começa então o seu inferno ao mundo das drogas e do sexo. “Nevrland” é um filme LGBTQI+ que mistura gêneros. Logo no seu início, aparece uma cartela, igual a de “Enter the void” e outros filme de Gaspar Noé, avisando das imagens estroboscópicas que podem fazer mal ao público. Nitidamente dividido em duas partes: a primeira, a relação de Jacob com seu pai, avô e o matadouro que vai enlouquecendo ele. Na 2a parte, é a sua relação com Kristjan e o mundo David Lynchiano repleto de fantasmas e pesadelos oriundos do uso de drogas. Apesar do tema, o filme apresenta uma certa caretice ao não explorar o sexo de forma mais visceral. Não existe nudez, contradizendo o universo que o filme habita, o da pornografia. Faltou o elemento visceral que Gaspar Noé utiliza tão bem. Mesmo assim, é um filme instigante e que explora os sentidos. As cenas da boite são muito boas, repletos de adrenalina.

Para Sama

"For Sama", de Waad Al-Kateab e Edward Watts (2019) Uma imagem simboliza esse extraordinário documentário que ganhou o Golden Eye para melhor documentário no Festival de Cannes e concorre ao Oscar da categoria em 2020: uma mulher grávida, ferida pelo bombardeiro em Aleppo, na Síria, está na maca de um hospital improvisado. Os médicos correm para fazer uma cesariana e salvar o bebê. Ele nasce morto. Mas um dos médicos não desiste e começa uma sessão de reanimação no menino, que continua morto. Minutos depois, após muita palmada e massagem respiratória, o menino abre os olhos. Essa é uma das cenas mais primorosas e tocantes que você verá em anos. “Para Sama” é um filme realizado pela jornalista síria Waad Al-Kateab como um testamento para a sua filha pequena Sama, que nasceu sob os escombros de uma cidade destruída pela guerra civil que se iniciou em 2011. Totalmente narrado como uma declaração de amor para a filha, Waad filmou tudo, fotografou e registrou mais de 400 horas de material. Ao fugirem para a Inglaterra, o produtor e cineasta Edward Watts a ajudou a condensar e editar o material em 1:36 de duração. O resultado é um filme premiadíssimo e aclamado pela crítica e público como um dos momentos mais dramáticos e chocantes registrados da Guerra da Síria, mas que serve como um alerta contra todos os crimes que se voltaram à humanidade. Sob o olhar da mulher guerreira que é Waad, o filme vai e volta no tempo, captando a Síria desde 2011 até os dias de hoje. Em 2011, quando Waad se mudou para Aleppo para estudar na Universidade, mesmo contra a vontade de seus pais, ela já registrou em sua câmera os primeiros movimentos estudantis e civis contra a ditadura do presidente Bashar al-Assad, herdeiro de seu pai que governou o País por mais de 30 anos. O governo reage contra os oposicionistas e começa a bombardear e atacar os civis da cidade. O conflito, apoiado pelo governo russo fiel ao ditador sírio, se alastra até hoje. Waad conhece o médico Hamza, se casa com ele ( a cena do casamento no apartamento é de uma beleza sofrida) e juntos contróem um hospital improvisado que cuidará dos feridos de guerra. Eles juntam voluntários, mas os bombardeios se aproximam cada vez mais. Quando Sama nasce, Waad e Hamza decidem continuar na cidade para cuidar dos feridos. Waad sofre por Sama, e em determinando momento, pede perdão a ele por ter trazido ela ao mundo. O desfecho do filme, com imagens dos companheiros e pessoas que morreram durante o conflito, é de fazer chorar o espectador por um bom tempo. Um filme obrigatório, um momento de reflexão que deveria fazer a todos repensarem suas trajetória de violência contra o ser humano.