domingo, 29 de novembro de 2020

Seus ossos e seus olhos


"Seus ossos e seus olhos", de Caetano Gotardo (2019) Competindo nos prestigiados Festivais de Rotterdan e de Tiradentes, "Seus ossos e seus olhos' foi escrito e dirigido pelo cineasta paulista Caetano Gotardo, um dos mais aclamados e premiados cineastas brasileiros da cena independente. Depois do grande sucesso de crítica de seu longa "O que se move", em 2012, Gotardo tem apostado nas narrativas experimentais e também auxiliado em roteiros de filmes de Marco Dutra e Juliana Rojas, ambos do gênero terror.
"Seus ossos e seus olhos" fala de relacionamentos através de uma narrativa que mescla ficção e documental, tudo em registro de atuação anti-naturalista. João (Gotardo) é um cineasta em crise de meia idade, que discute relacionamento com sua amiga Irene (Malu Galli), um peguete que ele encontra no metrô e seu namorado, com quem tem relacionamento aberto. Entre cenas de sexo e muita conversa, João faz uma pesquisa sobre o seu corpo e as várias formas com que o corpo expressa emoção e um processo de transição.
Eu amei "O que se move", mas em 'Seus ossos e seus olhos" não encontrei uma aproximação. É um filme frio, distanciado, com personagens que não me atraíram. Malu Galli tem vários monólogos maravilhosos no filme, que se aproximam de uma linguagem de monólogo teatral, mas que encantam pelo seu trabalho de atriz.

Vozes


"Voces", de Ángel Gómez Hernández (2020)
Longa de estréia do cineasta espanhol Ángel Gómez Hernández, que também co-escreveu o roteiro, "Vozes" é quase que uma cópia descarada de "Poltergeist" misturado à "Invocação do mal". Isso não tira a sua qualidade, mas dentro dos excelentes filmes espanhóis de gênero que têm surgido nos últimos anos, esse é apenas razoável.
O casa; Daniel e Sara trabalham comprando casas antigas e revendendo por preços maiores, após fazerem reforma. NA nova casa, o filho pequeno deles, Eric, escuta vozes que lhe contam segredos que ele não pode compartilhar. Quando um acidente ocorre, os pais buscam ajuda com um paranormal, German, e sua filha, Sofia, para que os ajudem a entender o que se passa ali.
Não dá para contar muito do filme, pois acaba configurando spoiler. Óbvio que a cena final trará um plot twist. E óbvio que o filme terá a cena de alguém buscando algo debaixo da cama. Aliás, o que seria dos filmes de terror sem uma cena de algum personagem revirando algo debaixo da cama?
O filme se vale de bons atores e de boa fotografia. Mas faltou ser mais inovador. Vale como passatemp

Aspargos


"Asparagus", de Susan Pitt !979)
Quando David Lynch lançou o seu primeiro longa, o cult surrealista 'Eraserhead", ele se tornou um sucesso cult nas sessões Midnight movies. Mas um filme que era exibido junto de "Eraserhead" também chamou bastante atenção: "Aspargos", dirigido pela animadora e cineasta Susan Pitt. O filme levou 4 anos para ser desenvolvido, usando várias técnicas de animação, incluindo stop motion. É difícil dizer exatamente sobre que é o filme, mas as mensagens certamente falam sobre empoderamento feminino, libertação de amarras relacionadas à uma sociedade machista e à liberação sexual feminina. Uma mulher sem rosto e que usa máscara defeca aspargos. Logo ela pega uma mala, onde coloca elementos mágicos, e segue até uma sala de teatro lotada. Quando ela libera os seres estranhos que estão na mala, os frequentadores acabam sendo atacados. Chegando em casa, a mulher arranca um aspargo de seu quintal
(no filme, os aspargos são associados à um pênis ereto), ela pratica sexo oral nele, e o aspargo se transforma me várias coisa,s inclusive drogas. As cores são bastante psicodélicas, e o filme certamente deve ter maior efeito para quem o assiste á devidamente estando fora de seu estado normal de comportamento.

Madonna- Rainha do Pop


"Madonna- Goddess of Pop", de Maureen Goldthorpe (2012) Documentário inglês que traça toda a carreira de Madonna, desde o seu nascimento em 1958, até o ano de 2012, data de lançamento do filme. O filme narra a morte de sua mãe, sua ida para Nova York, sua primeira banda, "The breakfast club", seu primeiro singles, "Everybody", em 1982, o sucesso do primeiro disco, o estouro do segundo álbum que trouxe "Like a virgin" e "Material girl", a explosão dos álbuns seguintes, sua carreira polêmica associada à sexo, seus namoros conturbados com Sean Penn, Warren Beatty, Guy Ritchie, os filmes, os prêmios, os fracassos, a esnobada da crítica e finalmente a mulher poderosa que se tornou. A adoção dos filhos em Malawi, a escritora de livros infantis e termina com o lançamento do álbum "Mdna". Para quem é fã, é imperdível, apesar de não trazer nada de novo.

sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Midnight movies- Do cinema marginal ao Cinema Mainstream


"Midnight movies- from the margin to the Mainstream", de Stuart Samuels (2005)

Documentário obrigatório para quem curte o gênero dos "midnight movies", formado por títulos que sem uma receita de sucesso apropriada, se tornaram objetos de culto por décadas. De 1970 a 1977 6 filmes midnight movies revolucionaram a forma de se fazer e pensar o cinema mainstream. "El topo", de Jodorowsky, "Eraserhead", de David Lynch, 'A noite dos mortos vivos", de George Romero, "Balada sangrenta", de Perry Hanzell, "Rocky horror picture show", de Jim Sharman e "Pink Flamingos", de John Waters. Cada um com a sua particularidade, os filmes foram aplaudidos, vaiados, xingados de pior filme de todos os tempos, mas fizeram a carreira de seus diretores e inclusive muitos de seus astros, como Susan Sarandon. Todos os cineastas dão depoimentos divertidos, falando que os grandes estúdios recusaram seus filmes e decidiram todos bancarem por conta própria, não cedendo à pressões do produtor e fazerem o filme que sempre visualizaram fazer. John Waters diz que as midnight movies eram sessões históricas com o público fumando maconha. Ouvir e testemunhar cenas clássicas dos filmes, como a famosa cena de Divine comendo merda de cachorro , ou de onde vieram as inspirações, como dos mega obscuros "Reeser madness", um filme governamental sobre os efeitos nocivos da maconha, ou "Asparagus", uma animação experimental erótica que inspirou "Eraserhead", ja valem o ingresso. No final, o filme mostra como "Star wars", 'Halloween" e tantos outros blockbusters sofreram influ6encia desses filmes malditos.

quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Até o fim


"Até o fim", de Glenda Nicácio e Ary Rosa (2020)
Após o enorme sucesso de crítica do filme anterior, "Café com canela", de 2017, dirigido pela dupla de formandos de cinema da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, "Até o fim", mais recente trabalho de ambos os cineastas, arrebatou o prêmio do público no Festival de Tiradentes 2020. Muito semelhante à diversos textos teatrais, adaptados ao cinema, como "A partilha", de Miguel Falabella, e "Crimes do coração", o filme conta a história de 4 irmãs que não se viam há 15 anos, e que se reencontram para um acerto de contas com o passado.
Totalmente ambientado no quiosque da mais velha de todas, Geralda (Wal Diaz). Uma à uma vão surgindo Rose (Arlete Dias) a produtora de cinema Oscarizada Bel (Maíra Azevedo) e Vilmar (Jenny Muller). Todas possuem segredos que surgirão à tona, com temas que vão de transfobia, incesto, estupro, aberto, racismo, machismo, violência doméstica. Sim, o filme tem um tom teatral, evidenciado pelo cenário único. Não fosse o talento das 4 atrizes, o filme teria sido cansativo de assistir. É o talento delas que garante o olhar do espectador sobre esse universo da s mulheres, pretas e solidarias, que entendem que para sobreviver a um mundo patriarcal e racista, somente com a sororidade se manterão em pé.

Psychobitch


"Psychobitch", de Martin Lund (2019)
Que lindo esse drama romântico norueguês, premiado em inúmeros festivais internacionais. Para quem tem saudades dos filmes de John Hughes, esse filme trará de volta toda aquela nostalgia regada à trilha sonora pop, personagens carismáticos, intrigas, romance, emoção e muito, muito choro, e claro, a obrigatória sequência do baile de formatura.
Marius (Jonas Tidemann) é um adolescente perfeito: bonito, inteligente, fala fluente o inglês e motivo de orgulho dos pais, que gostam de apresentar o filho aos amigos como um filho sem erros, sem defeitos. Essa pressão em não errar o deixa constantemente tenso. Na sala de aula, uma nova aluna, Frida (Elli Rhiannon Müller Osbourne) se torna motivo de bullying: com tentativas de suicídio, ela é o patinho feio, o que a faz ser rebelde e retraída. Quando o professor propõe que Marius faça dupla com Frida para um trabalho de escola, ambos procuram ajustar as suas nítidas diferenças, mas acabam se apaixonando, e tendo que lidar com as suas personalidades tão contrastantes.
O filme tem todos aqueles clichês que estamos acostumados a ver em centenas de filmes americanos, mas com a diferença de ter um tom realista e dois excelentes atores: Elli Rhiannon Müller Osbourne e Jonas Tidemann emprestam carisma e talento aos seus complexos personagens, repletos de camadas. A direção de Martin Land permite que os atores brilhem em cena, e os diálogos cabem perfeito dentro do universo dos adolescentes e todos os seus dilemas com colegas e pais.

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Convencão das bruxas


"The witches", de Robert Zemeckis (2020)
Remake do clássico de 1990 dirigido por Nicolas Roeg e protagonizado por uma inesqueçivel Anjelica Houston e Mai Zetterling. Agora dirigido por Robert Zemeckis, um dos grandes magos de Hollywood, autor d eobras-primas como "Uma cilada para Roger Rabbit", "Forrest Gump", "De volta para o futuro", e que em seus últimos filmes não tem encontrado mais a receita do sucesso. No remake, agora protagonizado por Anne Hathaway como a bruxa malvada e Octavia Spencer como a avó bruxa bondosa, os efeitos são o ponto alto, e atuações de ambas as atrizes garantem a diversão. Fora isso, a trilha sonora, repleta de clássicos dos anos 60 e 70, são um ar mais pop ao filme, que se passa em 1968 e no final vai até 1979. O filme é adaptado do livo escrito por Roald Dahl e se passa em 1968. Um menino, que acaba de se tornar órfão após um acidente de carro, é cuidado pela sua avó (Octavia Spencer). Pressentindo que o local está habitado por bruxas, ela decide passar uma temporada em um hotel, sem saber que irá acontecer ali uma convenção de bruxas. lideradas por Anne Hathaway. As bruxas odeiam crianças e têm como missão matar todas elas.
Cheio de ação, ótimo ritmo e parte técnica impecável, o filme perde se comparado ao original no humor, já que o original era mais sofisticado e esse aqui apela mais pros efeitos, e tem um tom mais cartunesco. Mesmo assim, é uma ótima diversão para a família. O filme lembra o embate de duas grandes atrizes de outro filme de Zemeckis, 'A morte lhe cai bem", com Meryl Streep e Goldie Hwn, com performances mais caricatas.

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Belushi


"Belushi", de R.J. Cutler (2020)
Excelente documentário, obrigatório para fãs de John Belushi, um ícone do cinema que morreu precocemente, aos 33 anos, em 1982, de overdose de álcool e cocaína. Belushi nasceu em um subúrbio de Chicago, filho de pais imigrantes albaneses. Desde pequeno, ele gostava de imitar os artistas na tv, e tinha um dom para a comédia. Ele juntou um grupo de amigos e formou um pequeno grupo de artistas amadores. Após audições, ele entrou para o "National Lampoon", onde explodiu com o personagem Bluto, e depois, passou para fazer parte do elenco fixo do "Saturday night live", famoso programa de humor ao vivo que lançou os maiores talentos do humor nos Estados Unidos. Era notório o ciúme que Belushi tinha de seu amigo Chavy Chase, que fazia mais sucesso do que ele. Com o mega sucesso de "Os irmãos cara de pau, Belushi se tornou ícone, mas o seu vício em álcool e cocaína afundaram a sua carreira, feita de altos e baixos.
O filme é composto de imagens de arquivo, cenas de filmes, fotos e animação para ilustrar passagens de sua vida. O filme é todo narrado por áudio com vozes de sua esposa Judy e amigos, alguns já fa;ecidos ( os áudios foram gravados em 2005): Harold Ramis, Carroe Fisher, Penny Marshal, além de Dan Akroyd, entre outros. É um filme que traz aquela mensagem que Hollywood ama: glória e o fundo do poço para aqueles que buscam um lugar ao sol. Reconhecer que o mundo e o entretenimento perdeu um de seus maiores talentos, após assistir ao filme, é bastante evidente. Mas também fica claro o quanto Belushi foi uma vítima do sistema, da industria do cinema e da tv.

domingo, 22 de novembro de 2020

Kambyo


"Kambyo", de Joselito Altarejos (2008)
Drama LGBTQIA+ filipino, narra com doses de humor as aventuras de 4 rapazes gays que vão de kombi em busca do amigo de um deles, que desapareceu em uma região turística de Mannila. Dois primos, Macky e Manuel, embarcam de kombi em busca de um amigo desaparecido de Macky. Xavier, amigo de Manuel, também quer ir nessa viagem, acompanhado de Aldo,, um peguete que ele acabou de conhecer. Ao chegarem à praia, descobrem que Philip. o amigo de Macky, na verdade era amante dele, e agora está casado e com filho.
O filme é bastante fraco, com péssimas performances e piadas sem graça. As cenas de sexo são pobres e o filme ainda carece de ritmo. De baixo orçamento, o filme tem uma direção e fotografia muito abaixo da média.

sábado, 21 de novembro de 2020

À oeste do fim do mundo


"À oeste do fim do mundo", de Paulo Nascimento (2013)
Premiado em Gramado em 2013 com os Kikitos de melhor filme do público e melhor ator para o uruguaio César Troncoso, "À oeste do fim do mundo"teve como base o depoimento do veterano da Guerra das Malvinas Juan Carlos Saez. César Troncoso vive León, um veterano das Malvinas que se isola do mundo trabalhando em um Posto de gasolina localizado em uma estrada deserta, na Cordilheira dos Andes. Solitário, ele tem como único amigo Silas (Nelson Diniz), um motoqueiro que aparece lá eventualmente. Um dia, uma brasileira, Ana (Fernanda Moro), que perdeu o ônibus que a levaria até Santiago e quase foi estuprada por um caminhoneiro, surge ali, pedindo ajuda. De poucas palavras e arredio, León aos poucos abre espaço para a presença de Ana, e assim, conhecer um pouco do drama pessoal dela e ela, o passado traumático de León.
Impossível não lembrar de "Bagdad Café", de Percy Adlon. O filme do brasileiro Paulo Nascimento lembra uma versão mais autoral e dramática do cult alemão, sobre duas pessoas solitárias que se encontram e mudam seu olhar sobre o mundo em um lugar perdido no tempo e no espaço. A fotografia de Alexandre Berra é um escândalo, favorecida pela locação estonteante. Trabalho excelente dos atores, um filme que respeita o tempo da reflexão, do cinema e da história.

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Terror nas trevas


"E tu vivrai nel terrore! L'aldila!", de Lucio Fulcci (1981)
Clássico de terror do mestre de terror italiano Lucio Fulcci, "Terror nas trevas" tem um roteiro surreal, mesclando mortos vivos, feitiçaria, aranhas carnívoras, cegas videntes, cachorros assassinos, além de mortes bizarras como a de uma mulher que é dissolvida em ácido ou uma outra que tem o olho perfurado por um prego. Boa parte desses recursos já foram usados por Fulcci em outros clássicos de sua filmografia, mas aqui a festa é bastante completa, e os fãs de terror italiano não irão se decepcionar.
O filme começa na Louisiana de 1927, quando um pintor é morto pela população, após descobrirem que ele conseguiu a chave que abre as 7 portas do inferno. Em 1981, Lisa herda o hotel onde morava o pintor e onde hoje ele está enterrado atrás de uma parede. Durante uma obra, um dos pedreiros liberta sem querer o cadáver do pintor, que ressuscita e possui os mortos, tornando-os zumbis e matando geral.
As cenas de morte são bastante explícitas, com muito olho saltando, muita mutilação e detalhes de vísceras. Visto hoje em dia, tudo sôa bastante trash, mas não deixa de ser divertido. Os atores são canastrões e a trilha exagerada, ou seja, tudo é uma diversão garantida.

Fabiana

"Fabiana", de Brunna Laboissière (2018)
Premiado documentário LGBTQIA+, que acompanha Fabiana Ferreira Camila, uma caminhoneira transgênera de 59 anos. A diretora Brunna Laboissière conheceu Fabiana e resolveu contar a sua história. Fabiana tem 59 anos, e 30 anos de profissão: ela é caminhoneira e dirigiu por todas as estradas do Brasil, de Norte a sul. Durante 28 dias, Brunna acompanha a última viagem de Fabiana, que irá se aposentar. Fabiana reencontra amigos caminhoneiros pelas estradas, fala do preconceito da família, da homofobia, da paixão pelo seu ofício. A última parte do filme é reservado à sua vida familiar: Fabiana é casada com a cabeleireira Priscilla, 28 anos, e também trans. Ambas têm um filho. Fabiana e Priscilla falam sobre serem trans e lésbicas.
"Fabiana" é um bom filme, um pouco repetitivo pelas situações, mas que vale ser visto pela incrível história e pelo amor de Fabiana por coisas simples da vida e pela luta pela dignidade.

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Destruição final: O último refúgio


"Greenland", de Ric Roman Waugh (2020)
Curioso como a base dramatúrgica de quase todos os filmes catástrofes tem como protagonistas um casal à beira da separação com um filho pequeno, que durante algum evento acabam se separando, lutam para voltar a se encontrar e assim, colocam as suas diferenças de lado e batalham pela sobrevivência. Foi assim em 'Vulcano", "Guerra mundial Z" e tantos outros, e aqui e, "Greenland", título original, não poderia ser diferente.
John (Gerard Butler) é um arquiteto, casado com Allison e pais de Nathan, um menino diabético. Quando um cometa chamado Clarke se direciona à Terra, o governo seleciona alguns poucos cidadãos para se esconderem em um refúgio, entre eles, a família de John. Isso faz com que as pessoas que não foram selecionadas se tornem violentas. Durante a fuga, a família se separa.
Com 2 horas de duração, o filme se torna cansativo, pois sempre existem reviravoltas para tornar a saga da família em busca do refúgio mais e mais complicada. Vale como passatempo, apesar do tom altamente pessimista e que faz paralelos com o mundo em que vivemos em 2020. Os efeitos são ok, os atores estão bem, fotografia e trilha eficientes.

quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Rosa e Momo


"La vita devante à sé", de Edoardo Ponti (2020)
Drama italiano que marca o retorno às telas da Diva Sophia Loren, aos 86 anos de idade, e dirigida pelo seu filho Edoardo Ponti. O filme é baseado no livro homônimo escrito por Romain Gary e já adaptado nos cinemas em 1977, com o título de "Madame Risa", protagonizado por Simone Signoret e vencedor do Oscar de filme estrangeiro no mesmo ano.
Momo (Ibrahima Gueye, excelente) é um menino de rua muçulmano e senegalês, que esbarra com a idosa Madame Rosa (Sophia Loren) nas ruas e rouba seus castiçais. Arrependido, ele devolver devolver o roubo. Um agente do governo pede para que Madame Rosa cuide do menino por um tempo. Ela, uma ex prostituta e sobrevivente do Holocausto, reclama, mas aceita. Rosa cuida de outras crianças abandonadas por seus pais. A relação entre rosa e Momo é problemática, mas aos poucos, eles vão descobrindo as afinidades.
Dirigido com bastante sensibilidade, o filme aposta numa vertente mais melodramática, diferente da versão francesa de 1977, mais sêca, Mss a relação entre Sophia Loren e o menino Ibrahima Gueye é mágica, ambos estão formidáveis. Sophia Loren em vários momentos se despe de maquiagem e ousa mostrar seu rosto maltratado pelas cirurgias sem maquiagem. Para quem gosta de histórias edificantes e de superação, e que faça soltar umas lágrimas, é uma bela pedida. E para quem não sabe ou nuca ouviu falar em Sophia Loren, uma das grandes atrizes do cinema de todos os tempos, é a hora de redescobrir o seu histórico.

terça-feira, 17 de novembro de 2020

Santa Maud


"Saint Maud", de Rose Glass (2020)
Premiado terror psicológico inglês, escrito e dirigido pela cineasta Rose Glass, estreando em longas.
O filme lembra "Carrie, a estranha", e "Repulsa ao sexo", esse influência assumida pela cineasta.
Maud (Morfydd Clark) é uma jovem enfermeira que teve um passado traumático em um hospício. Maud é enviada para ser cuidadora de Amanda (Jennifer Ehle), uma ex-dançarina de grande sucesso, mas atualmente com câncer terminal. Quando Maud descobre que Amanda tem um caso com uma outra mulher, e que ela fuma, e é atéia, passa a usar da sua devoção cristã para fazer com que Amanda acredite em Deus e se purifique antes de morrer.
Com atuações brilhantes das duas atrizes, em momentos arrebatadores , o filme faz parte do chamado novo movimento dos filmes de terror, focados mais em atmosfera do que sustos e violência em si, apesar do final arrebatador. Ótima direção de Rose Glass, um filme que certamente estará na lista dos melhores filmes de 2020.

segunda-feira, 16 de novembro de 2020

Três camaradas


"Three comrades", de Vladimir Kozlov (2020)
Drama russo, rodado com baixísismo orçamento , na cidade de St Peterburg. Filmado em apenas 5 dias, o filme lembra "Laranja mecânica" e o brasileiro "Cama de gato": 3 jovens, Gleb, Vlad e Gosha, frustrados com o trabalho e humilhados pelo patrão, decidem sair de noite para beber. A noite acaba sendo a revelação desses jovens educados pela sociedade patriarcal e machista, cujo objetivo é maltratar os imigrantes, os imigrantes e estuprarem mulheres.
O filme tem ótima performance dos três jovens atores, e a produção tem um esquema de baixo orçamento onde tudo acontece praticamente nas externas, durante 24 horas. Pode sôar amador, mas a proposta crua do drama é uma metáfora sobre a juventude russa conservadora, revoltada, alccolizada e sem perspectivas. A cena final é uma afronta a todos aqueles que acreditam na moral e na humanidade.

domingo, 15 de novembro de 2020

Boca de Ouro


"Boca de ouro", de Daniel Filho (2019)Terceira adaptação da obra de Nelson Rodrigues, a 1a de 1963, de Nelson Pereira dos Santos, e a de 1994, dirigida por Walter Avancini. O Diretor Daniel Filho interpretou Leleco na versão de 1963, e imprime um ritmo mais ágil, mais cinematográfico e repleto de referências cinematográficas, que vai desde "Scarface" à "Três anúncios para um crime". Buscando trazer elementos gráficos para atraiar a nova geração, como toda a parte de produção visual e os efeitos que impulsionam a violência bem ao estilo de Tarantino e aos mangás japoneses, Daniel Filho conta com o talento do fotógrafo Felipe Reinheimer, responsável por excelentes planos sequências, como o da abertura, e com um elenco composto por diversas gerações de grandes talentos, como Marcos Palmeira, Malu Mader, Lorena Comparato, Thiago Rodrigues, Anselmo Vasconcelos, Silvio Guindane, Guilherme Fontes e uma exuberante Fernanda Vasconcelos. Cabe à ela e à Lorena as cenas mais viscerais do filme, o que resultou nos prêmios merecidos que Lorena recebeu nos Festivais Cine Fest Brasil Montevidéu e no Brazilian Film Festival of Miami. Marcos Palmeira está certamente em uma de suas melhores performances, em um papel que difere de tudo o que ele já fez.

Sr e Sra Smith


"Mr and Mrs Smith", de Doug Liman (2005)
Um clássico da comédia de ação, "Sr e Sra Smith" ficou mais famoso por ter sido o filme responsável pelo divórcio de seu astro, Brad Pitt, e a atriz Jennifer Aniston. Os rumores de que durante as filmagens, as cenas e bastidores entre Brad Pitt e Angelina Jolie, não eram apenas profissionais, começaram a repercutir na mídia e durante o lançamento do filme, não teve jeito: tiveram que assumir a relação.
Mas abstraindo essa história der bastidores, o que se vê é uma delícia de roteiro, explorando comédia, relação de casal, romance, drama, ação, aventura e policial, tudo em doses maravilhosas e repletas de adrenalina, O carisma de Pitt e Jolie no filme é inegável, e tem o auxílio luxuoso de coadjuvantes ótimos como Vince Vaughn e Adam Brody. É difícil acreditar que o filme tenha quase 16 anos de lançamento, e ele continua super atual, com cenas de ação e efeitos ainda espetaculares. Entre as cenas antológicas, obviamente a do casal tentando se matar em casa, e o duelo cm os bandidos na loja de departamentos. Um excelente passatempo, atemporal, sempre maravilhoso para rever.

sexta-feira, 13 de novembro de 2020

Idade à flor da pele


"Short skin- Il dolori deo Giovani Edo", de Duccio Chiarini (2014) Comédia dramática italiana, vencedor de vários prêmios internacionais e participação nos prestigiados Festivais de Berlin, Veneza, Seattle e Estocolmo.
O tema do filme é a insegurança de um adolescente que tem fimose, e por isso, ele não consegue se relacionar com a jovem que ele ama. A fimose acaba sendo uma metáfora sobre as inseguranças da adolescência, a falta e comunicação com os pais, a pressão feita por seu melhor amigo que é viciado em sexo e por todos que o cercam. Até que Edo (Matteo Creatini, ótimo) decida fazer uma cirurgia e agenda, sem avisar sua família. A cena final, de Edo no trem, colocando a cabeça para fora, em busca de independência, é bastante óbvia e simbólica.
Diferente do que se espera de um filme com uma temática adolescente que envolve sexo e picardia, o filme é dirigido com delicadeza, sensibilidade e ousado, mostrando nudez masculina com nú frontal em várias cenas. Os atores são ótimos, e o roteiro, mesmo que vá para lugares conhecidos, inova com o tratamento realista que a narrativa dá.

quinta-feira, 12 de novembro de 2020

The dark and the wicked


"The dark and the wicked", de Bryan Bertino (2020)
Terror dirigido pelo mesmo cineasta de "Os estranhos", Bryan Bertino, que também escreveu o roteiro. Premiado no maior Festival de gênero, Sitges, com melhor atriz e melhor fotografia, "The dark and the wicked" ainda foi exibido em importantes Festivais, como Tribeca.
O filme é uma mistura de "O exorcista", "A bruxa" e filme de casa mal assombrada, no caso, uma fazenda no Texas.
Dois irmãos, Louise e Michael, retornam para a fazenda aonde cresceram, para visitar o pai que está moribundo. A mãe deles pede que eles vão embora, mas os filhos, preocupados com os pais, ficam. A mãe acaba se cortando com uma faca e se suicida enforcada. Se sentindo obrigados a cuidar do pai, os irmãos moram na fazenda por um tempo, mas logo descobrem que o local guarda segredos malígnos.
Com excelente fotografia, ótimas performances, uma direção que traz sustos inesperados, os jump scares, sem obviedades, "The dark and the wicked" assusta com um terror mais autoral, lento, mas ainda assim, repleto de cenas violentas e muito sangue. Boa pedida para fãs de terror que estão casados da mesmice.

Fica mais escuro antes do amanhecer


"Fica mais escuro antes do amanhecer", de Thiago Luciano (2018)
Rodado na Patagônia e Brasil, esse drama apocalíptico dirigido, escrito e protagonizado pelo ator Thiago Luciano é uma alegoria sobre perdas. Em um povoado no interior rural, sem identificação, moram o casal Iran ( Thiago Luciano) e Lara (Lucy Ramos, casados na vida real). Em luto pela morte do filho pequeno, Lara entre em depressão e deixa de falar com o marido. Iran trabalha em uma fábrica de gelo, cujo chefe, Luciano (Caco Ciocler) possui muitas excentricidades. O vilarejo recebe a informação que em poucos dias o sol sumirá e o inverno e o frio tomará conta de tudo.
O filme tem impressionantes fotografia, de Andre Besen, trilha sonora, de Teco Fuchs, e direção de arte de Phelipe Vittorelli, impressionantes para um filme de baixo orçamento. O roteiro, no entanto, demora a seduzir o espectador. Com muitas metáforas e cenas que buscam a poesia, o filme perde o foco ao sair da história do casal protagonista para ilustrar inúmeras cenas bizarras envolvendo Luciano, em uma performance estranhíssima de Caco Ciocler, que destôa do tom do filme. Entre exageros teatrais e estilização buscando planos e momentos de puro deleite, o filme acaba se tornando uma experiência mais sensorial para os olhos do que para se envolver em uma história cativante. No entanto, a cena final merece ser apreciada, pelo esmero da fotografia e da direção, em um registro bastante melancólico.

terça-feira, 10 de novembro de 2020

L


"L", de Nattawut Poonpiryia e Khamkwan Duangmanee (2018)
Drama romântico LGBTQIA+ tailandês, "L"é um filme sobre o amor lésbico entre uma atriz famosa e uma assistente de produção de um filme que está sendo rodado. I , a assistente de produção, sofre assédio moral do diretor do filme. A atriz, para protegê-la, a chama para o seu camarim para passar o tetxo com ela. Na intimidade do camarim, a atriz seduz a assistente de produção, que descobre o desabrochar de sua sexualidade.
O filme é dirigido com sensibilidade e tem uma linda fotografia, repleta de cores vibrantes. As duas atrizes são bastante carismáticas e é um raro exemplar de filme lésbico que lida com o elemento romântico sem estereótipos de lésbicas machudas ou caminhoneiras.

segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Supernova


"Supernova", de Bartosz Kruhlik (2020)
Premiado drama polonês, 'Supernova" é a estréia na direção do cineasta de 34 anos, que também escreveu o roteiro. O filme tem uma narrativa em tempo real, de um evento que toma proporções gigantescas, em um período de 75 minutos na vida dos personagens. Fiquei até imaginando o filme acontecendo todo em plano-sequência, e o filme ate dá essa sensação, apesar de ser decupado em diferentes planos. em uma região rural da Polônia, uma mulher segue pela estrada, abandonando o marido alcóolatra. Quando o marido para um carro que passa pela estrada, o motorista se assusta e acaba atropelando a mulher e as crianças, matando-os. O motorista, um político, foge, e os moradores locais, padre, imprensa, policiais, familiares chegam procurando saber quem foi o responsável pelo acidente.
O filme, com ótimos atores nos papéis principais, e moradores da região atuando como figurantes, é uma fábula sobre corrupção, falta de compaixão e senso de comunidade. Uma história que certamente poderia acontecer em qualquer lugar do planeta. O filme tem um ritmo dinâmico, e mesmo sendo óbvio na sua mensagem, brinca com as estruturas da linguagem cinematográfica.

domingo, 8 de novembro de 2020

Abraço- a única saída é lutar


"Abraço- a única saída é lutar", de DF Fiuza (2019)
A nota mais curiosa dessa produção é de que ela foi inteiramente financiada pelo Sindicato dos professores do estado de Sergipe, o Sintese. O filme ganhou 3 prêmios no Festival de cinema de Pernambuco em 2019: Melhor filme popular, trilha sonora, de Antonio Abujamra, e atriz, para Giuliana Maria, no papel da professora Ana Rosa. É fácil fazer paralelos com a obra-prima de Martin Ritt "Norma Rae": uma mulher, casada e com filhos, que lidera um movimento sindicalista e cujo marido vê com maus olhos a participação da esposa na luta sindical, ao invés de estar em casa cuidando dos filhos e da família. Esse é um conflito que vive Ana Rosa, que participa de um movimento de professores em Aracaju no ano de 2008. Junto do presidente do sindicato, Jorge (Flavio Bauraqui), eles promovem uma passeata de 30 mil professores que seguem em marcha até a capital para lutar pelos seus direitos conquistados e agora, o Governo decide extinguir. Através do drama de Ana Rosa, acompanhamos as reuniões de sindicatos, as discussões com políticos, tudo de forma bastante didática, como se fosse um documentário. A diferença é que aqui, são atores locais que interpretam esses manifestantes. Flavio Bauraqui e Giuliana Maria trazem mais veracidade aos seus personagens. Paulo Roque, que faz o marido da professora, tem um papel ingrato e unilateral do marido conservador e machista. Os outros atores não transmitem muito realismo aos personagens, o que prejudica bastante a empatia do espectador pelo que é dito.
Como o filme é o carro chefe de um Sindicato, a escolha da música se torna um lugar óbvio para se tocar várias vezes ‘Pra não dizer que não falei de flores’, de Geraldo Vandré, o hino que simboliza a luta de classes. A fotogafia é de Jorge Monclar.
Talvez a grande importância do filme seja levantar a questão da importância da educação em um País onde a derrocada no setor está cada vez mais evidente.
Pedro Mussi

sábado, 7 de novembro de 2020

A aventura de uma mulher trans e sua virgindade


"I Stories-T", Thitiphong Born Thongthawee (2018)
Drama LGBTQIA+ com toques de humor, é um filme tailandês que tem como protagonista a jovem Job, uma mulher trans que ainda é virgem e em busca de um homem por quem ela se apaixone. Durante uma balada, ela conhece Steve, um estrangeiro sedutor. Ela o leva para casa e transam. No dia seguinte, Job descobre que foi roubada e que Steve levou a sua moto alugada. Determinada a descobrir o paradeiro de Steve ela pede ajuda a Deaw, um amigo com quem ela teve um flerte na época do serviço militar, mas que renega que tiveram um caso.
Pittinan Padklang interpreta Job, e estréia como atriz. Mesmo deixando claro que ainda precisa trabalhar mais o seu lado de atriz, ela possui uma bela fotogenia e encanta como a personagem Job com o seu carisma. É um filme divertido, bonito, com bela fotografia. A história é simples, mas vale pelo protagonismo trans.

Bob Esponja: O incrível resgate


"The SpongeBob movie: Sponge on the run, de Tim Hill (2020)
O que mais me chama a atenção no terceiro longa-metragem da franquia do famoso Bob Esponja e sua turma, é utilizar a icônica "Take on me", do A-ha, uma música que entrou em mas de 10 filmes nos últimos 2 anos, e todos blockbusters, como "Deadpool" e "la La Land".
Fora isso, as novidades desse filme é o novo diretor, Tim Hill, que á havia realizado outras animações como 'Alvin e os esquilos" e "Garfield", e a introdução da técnica do 3 D, substituindo os traços 2D que faziam os cenários e personagens ter uma dimensão mais chapada. E é justamente a novidade do 3D que para mim tirou o charme que o filme tinha, com aquela textura mais "tosca"e que super combinava com as maluquices de Bob Esponja, Patrick, Lula Molusco, Seu Siri Caranguejo, Plancton e outros. O filme continua com os elementos nonsense, porém menos do que nos outros filmes. Os pontos altos são a aparição de Keanu Reeves, como um guru que ajuda Bob e Patrick, e de Snoop Doggy Doggy em um divertido número musical envolvendo zumbis.
Bob e Patrick partem para a cidade perdida de Atlantis para recuperarem Gary, o caramujo de estimação de Bob, que foi sequestrado por Poseidon, que usa da gosma do caramujo para manter sua beleza. O filme mescla com flashbacks de Bob e sua turma quando crianças, quando todos se conheceram.
É engraçado, tem um final edificante, mas ainda assim, sem aquele humor caótico e de montanha russa que eu tanto me apaixonei pelos outros 2 longas.

sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Prepare-se comigo


"Get ready with me", de Jonatan Etzler (2020)
Excelente drama sueco, uma crítica feroz ao bullying e ao universo dos Youtubers, através de dois protagonistas com tendências suicidas, uma aluna e um professor.
Lukas (Shanti Roney) é professor de uma turma de colegiais. Ele começa a aula pedindo que os alunos mostrem os seus vídeos caseiros. Vendela (Miriam Ingrid) é a primeira a apresentar. Lukas se choca com o conteúdo do vídeio, que apresenta Vendeta ensinando as pessoas a como se matarem usando uma gilete e cortando os pulsos. Quando Lukas conversa separadamente com Vendela, ele confidencia à ela que ele quando mais novo, também tentou o suicídio. É a deixa para Vendela se promover na internet e o seu canal, fazendo com que se professor se mate e assim, ela bombar na internet.
Cruel, o filme mostra o lado sombrio da juventude e da rede social, associada à pessoas que precisam de ajuda e no entanto, preferem se esconder atrás de computadores e apelidos. O filme traz performances devastadoras dos dois atores principais, e não dá nenhum refresco ao espectador. Uma fábula que se transforma em um enorme pesadelo.

quinta-feira, 5 de novembro de 2020

Travessuras de casados


"We're not married", de Edmund Goulding (1952)

“Travessuras de casados”, de Edmund Goulding, é uma comédia em episódios, dirigida pelo cineasta do clássico “Grande hotel”, de 1932, e de "O fio da navalha". A trama é bastante ingênua, mas tem seus méritos por levantar questões como machismo, inversão de papéis e insatisfação matrimonial. Um advogado senil, Bush (Victor Moore, hilário), é nomeado Juiz de paz na véspera do Natal. Passados dois anos e seis meses, ele recebe a notificação de que ele só foi nomeado Juiz, um ano depois, ou seja, todos os casamentos realizados por ele nesse período foram cancelados. Bush envia uma carta a cinco casais e pede para que retornem ao cartório para re-oficializarem o matrimônio. Essa é a deixa para que os casais reflitam sobre os seus relacionamentos. No elenco, grandes nomes como Gingers Rogers, Marilyn Monroe e Zsa Zsa Gabor dão vida a mulheres exuberantes com conflitos em seus casamentos. Um filme menor, mas ainda assim, divertido, pela sua inocência e humor pueril.

Another round


"Druk", de Thomas Vintemberg (2020)
Que filme foda! Lindo! Extraordinário de emoções tão comoventes e tão humanas! Que atores do caralho, nem precisam falar nada, só de ficarem em silêncio, reflexivos, em conflitos internos, esses 4 atores já mereceriam todos os prêmios. Não à toa, os 4 protagonistas venceram um prêmio coletivo de melhor ator no Festival de San Sebastian em 2020: Mads Mikkelsen, Thomas Bo Larsen, Magnus Millang e Lars Ranthe interpretam os 4 amigos Martin, Thomas, Nikolaj e Peter, professores de uma escola. Os 4 estão na meia idade e em grande crise pessoal e profissional. Acreditam que a vida perdeu o sabor, e que não interessam mas a ninguém: às suas famílias, aos seus alunos. Quando um deles apresenta a tese de um psiquiatra Finn Skårderud de que os seres humanos possuem um déficit de teor alcoólico no sangue, que deveria ser compensado diariamente para uma vida mais feliz, eles decidem beber para alcançar os 0,5% exigidos. O resultado é imediato: ganham a confiança dos alunos, as famílias os redescobrem. Mas a tentação de aumentar o teor alcoólico é grande e os quatro acabam se tornando alcoolatras.
Vintemberg dirigiu Mads Milkensen em 2012 no excepcional 'A caça", que rendeu uma Palma de ouro de Melhor ator. Muito provável que Mads voltasse a ganhar a Palma pelo desempenho impecável, mas a pandemia acabou com os sonhos de Cannes, aonde ele foi selecionado, mas o Festival, cancelado. Mads repete o papel de professor, só que ao invés de pedofilia, a sua crise é de falta de motivação para a vida.
O filme é uma fábula sobre envelhecimento, e segundo Vintemberg, é uma comédia que celebra a vida. Pode até ser, mas com aquele tempero escandinavo que torna tudo bastante melancólico e depressivo. O filme é repleto de cenas magistrais de atuação, mas a cena final é imbatível, me lembrou "Noites de Cabíria". Imperdível.

Laço materno


 

O filme lembra 3 excelentes filmes em seu conteúdo: "Projeto Flórida", "Ninguém pode saber"e "Psicose".
Akiko (Masami Nagasawa) é uma mãe relapsa: não quer trabalhar, maltrata o filho pequeno, Shuhei, e transa com vários homens, trazendo-os para casa. Os pais de Akiko romperam a relação com ela, pois ela só aparecia para pedir dinheiro emprestado, e depois os gastava no jogo. Um dos homens de AKiko, Ryo, arma um golpe contra um dos amantes de Akiko, mas o golpe dá errado. Cinco anos depois, Shuhei, já com 17 anos, trabalha em uma fábrica, e sua mãe e agora a irmã pequena estão em um alojamento para sem teto. Sentindo o desespero, Akiko pede para seu filho cometer um crime hediondo.
Em tempos de desesperança, assistir a esse filme pode trazer uma energia bastante ruim para quem o vê. Mas como eu adoro filmes depressivos, eu gostei, principalmente pelo elenco fantástico. A personagem da mãe e do amante Ryo são desprezíveis e abomináveis, e testemunhar todas as crueldades praticadas por eles é algo bastante incômodo, como por exemplo, espancar uma criança de 10 anos levando socos no estômago até sangrar. O final é muito depressivo, uma pontada no coração.

terça-feira, 3 de novembro de 2020

Problemas monstruosos


"Love and monsters", de Michael Matthews (2020)
Ótima aventura de ação apocalíptica, protagonizada por Dylan O'Brien, um excelente ator jovem que carrega o filme quase todo nas costas, já que ele está sozinho 2/3 do filme. Outro mérito do carisma do filme é o cão Boy, que se torna o grande companheiro de aventuras de Joel (Dylan). O filme pode ser visto como uma versão mais jovem de "Um lugar silencioso", pois o roteiro é bastante semelhante: um asteróide explode e transforma os insetos em enormes monstros devoradores de gente. 96% da população morre devorada, e os sobreviventes se escondem em subterrâneos. Joel tenta de toda forma encontrar a sua amada Aimeé, que está em outra colônia, mas atravessar a superfície seria mortal para ele. Mas o desejo em reencontrá-la fala mais alto e ele segue solitário nessa aventura. No caminho ele encontra dois andarilhos, Clyde (Michael Rooker) e a menina Minnow, duas pessoas espertas e que aprenderam a sobreviver. O cão Boy se junta à Joel na empreitada.
Ótimos efeitos, personagens carismáticos e muita adrenalina tornam esse filme um passatempo mais do que recomendado.

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

A verdadeira aventura de um menino lobo


"The true adventures of a wolfboy", de Martin Krejcí(2019)
Longa de estréia do cineasta tcheco americano Martin Krejcí, "A verdadeira aventura de um menino lobo" é um coming of age sobre um adolescente de 13 anos, Paul (Jaeden Martell, de "It, a coisa"), que tem uma doença rara: a hipertricose, uma doença congênita que faz crescer pêlos no corpo todo da pessoa, chamada também de síndrome de lobisomem. Paul mora com seu pai e evita sair para a rua. Mas no dia de seu aniversário, o pai o leva até um parque de diversões. Paul sobre bullying de todos. Em casa, ele recebe uma carta de sua mãe pedindo para visitá-lo e explicar a origem de tudo. Após discutir com seu pai, Paul foge de casa e resolve procurar sua mãe, mas no caminho, conhece o dono de um circo, o explorador Mr Silk (John Turturro), que quer explorar Paul como uma atração circense.
O roteiro, escrito por Olivia Dufault, tem elementos que o aproximam bastante da fabula de Pinóquio. O filme tem seus momentos de encantamento, as crianças são ótimas. Mas a sub-trama com o personagem de John Turturro eu achei chatíssima, e Turturro beira o caricato, tornando seu personagem antipático. Chloe Sevigny faz uma participação como a mãe de Paul.
A maquiagem do menino lobo é tão chamativa que é impossível não ficar procurando or defeitos.