sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Honeyland- terra do mel

"Honeyland", de Tamara Kotevska e Ljubomir Stefanov (2019) Primeiro filme a receber dupla indicação ao Oscar, tanto para melhor documentário quanto para Filme Internacional, "Honeyland" é um filme da Macedônia dirigido por 2 documentaristas, Tamara Kotevska e Ljubomir Stefanov. Incialmente, os dois diretores iriam dirigir um documentário institucional para o Governo, mas ao fazerem visita de locação, se depararam com a figura de Hatidze Muratova, uma das últimas colheitadoras de mel do País. COm cerca de 50 anos de idade e solteira, Hatidze mora com sua mãe doente, Nazife, que tem 85 anos e que depende 100% dos cuidados da filha. Imediatamente os diretores mudaram o tema do documentário, e passaram 3 anos na região da vila de Bekirlija, no Norte da Macedônia, uma região rural afastada da cidade grande. Hatidze colhe seu mel e totalmente agradecida à natureza, ela recolhe sempre metade do mel, deixando a outra metade para as abelhas, uma antiga tradição dos apicultores. Ela caminha horas para chegar na cidade e vender seu mel em pequenos potes, por cerca de 10 euros cada. Um dia, uma família turca, composta pelo casal, 7 filhos e animais, aporta do lado da casa de Hatidze, Eles também são apicultores, e diferente de Hatidze, o pai recolhe todo o mel, não deixando nada para a natureza. Hatidze fica amiga das crianças, canta e se diverte com elas, mas recrimina a atitude do pai da família por não respeitar a tradição e deixar metade para as abelhas. Um lindo filme com fotografia exuberante, intensificando a intensa e sofrida epopéia de Hatidze para subir montanhas íngrimes, caminhar até a cidade e em seus poucos momentos de lazer, como comprar tintura para cabelo ou tomar um copo de cerveja. O filme parece uma fábula moral: respeite a natureza e ela te protegerá, e também, uma crítica à cobiça de pessoas que não esperam o momento certo de colher seus frutos. Nessa metáfora, ganha o espectador, com um filme protagonizado por uma mulher forte, trabalhadora, educadora e amante da natureza e dos bons hábitos. O filme ganhou dezenas de prêmios internacionais, entre eles, 3 prêmios em Sundance.

Burning cane

"Burning cane", de Phillip Youmans (2019) que mais me impressiona nesse drama intimista e de baixo orçamento não é nem o filme em si, mas a genialidade do seu jovem diretor. Nascido em New Orleans, o afro-americano Phillip Youmans escreveu o roteiro, dirigiu, produziu, fotografou e editou "Burning cane" aos 17 anos de idade. Philip foi apadrinhado pelo cineasta e produtor Benh Zeitlini, diretor de "Indomável sonhadora". Benh foi o produtor executivo de “Burning cane”, que foi exibido no Festival de Tribeca 2019 e arrebatou diversos prêmios, entre eles, melhor diretor, fotografia e ator para Wendell Pierce, no papel do reverendo Tillman. Philip também ficou famoso por seu o mais jovem cineasta a competir em Tribeca. Em Louisiana, Helen (Karen Kaia Livers, excelente), é uma viúva fervorosa à Igreja. Ela tem um filho, Daniel, desempregado, casado e com um filho pequeno. A esposa de Daniel é quem sustenta a casa e o casal vive brigando. Ele a acusa de educar o filho de forma muito liberal, mesmo pensamento compartilhado por sua mãe. Helen, além de ter que cuidar de seu filho, que se tornou alcóolatra e violento, também precisa cuidar do reverendo Tillman, que ficou viúvo e desde então também se tornou alcóolatra. Tillman em seus sermões acusa as mulheres de terem destruído as relações familiares por usarem saias curtas, deixarem os filho fazerem o que bem entenderem. O filme fala sobre uma América conservadora, guiada por reverendos e pela Igreja, e que esconde por trás de sua aparente linha dura, pessoas que não conseguem administrar as suas próprias vidas, entregues à depressão e ao álcool. A crítica que o filme faz é como que alguém supostamente que deveria cuidar das almas de fiéis que necessitam de ajuda espiritual, mal consegue lidar consigo mesmo. O filme foi comparado, estilisticamente, ao cinema de Terrence Malick: fotografia poética, enaltecendo a relação do homem e o poder da natureza, narração em off, trilha sonora épica e uma atmosfera etérea. Não gostei muito do filme, achei de um ritmo muito arrastado, mas não posso negar a grande qualidade técnica e artística do projeto, realizado por um adolescente de 17 anos.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Creep 2

Creep 2", de Patrick Brice (2017) Continuação do premiado filme de terror de 2014, "Creep", que fez um enorme sucesso em Festivais e no circuito indie. Ambos os filmes foram realizados com muito pouco dinheiro e apenas 2 atores, em linguagem de câmera found footage. Aaron (Mark Duplass) é um serial killer que no filme anterior, assassinou o cineasta que fazia um filme sobre ele. Agora, Aaron ( nome que ele roubou da sua vítima do filme anterior) anuncia em um jornal que busca encontros amorosos. Sara (Desiree Akhavan) é uma estudante de cinema que tem um canal onde posta vídeos sobre seus encontros com pessoas que ela encontra online. Logo os caminhos de Aaron e Desireé se encontram. Ela busca reconhecimento na carreira, e vislumbra na figura de Aaron, que se apresenta para ela como um serial killer, a pessoa certa para fazer os vídeos dela bombarem na net. Cm bastante criatividade, Patrick Brice protagonista e diretor do filme anterior, repete a linguagem que na 1a parte foi muito bem desenvolvida. Afinal, realizar um filme somente com 2 atores e em ambientes claustofóbicos, não é para qualquer um.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

Por trás dos céus azuis

"Himlen är oskyldigt blå", de Hannes Holm (2010) Dirigido e escrito pelo cineasta sueco Hannes Holm, "Por trás dos céus azuis"é baseado em uma história real ocorrida em Estocolmo nos anos 70. Martin (Bill Skarsgård, o palhaço Pennywise de "It") é um pós adolescente que mora com seu pai alcoólatra e abusivo e sua mãe, que sofre nas mãos do pai violento. Cansado de viver nessa casa, Martin resolve trabalhar em uma ilha próxima de Estocolmo. Lá, levado pelo seu melhor amigo, Martin consegue emprego como garçon em m Hotel. Martin ingenuamente ajuda um outro colega de trabalho a roubar cervejas. No dia seguinte, Gosta (Peter Dalle), o dono do hotel, pergunta quem roubou o estoque de cervejas. Diante do silêncio da pessoa que roubou, Martin resolve assumir a culpa para que outros empregados não sofram consequências. Pelo seu ato, Gosta acaba contratando Martin para um negócio escuso: venda de cocaína para os turistas. O filme começa com uma ousada cena de sexo explícito entre Bill Skasgard e uma jovem atriz. Logo depois, o filme alterna momento de leve comédia com drama denso. Bill carrega o filme totalmente em suas costas, com uma excelente performance, dando vida a um jovem que está totalmente em dúvida sobre que caminhos escolher. É um bom filme, com belas locações e ótimo elenco de apoio.

terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Herculanun

"Herculanun", de Arthur Cahn (2016) "Herculanun" é um sítio arqueológico localizado na província de Nápoles, na Itália. Assim como Pompéia, ali são encontradas esculturas e objetos soterrados pelo vulcão que vitimou milhares de pessoas no ano 79DC. "Herculanun" é também um drama LGBTQI+, que se apropria da metáfora do vulcão em erupção para falar de um relacionamento que começa com um conflito; dois homens se conhecem em um aplicativo, se amam, se gostam, mas um deles tem um namorado. Marc (Jérémie Elkaïm) e Léo (o diretor e roteirista Arthur Cahn) se conhecem no aplicativo e marcam um encontro no apartamento de Marc. A química entre ambos é muito nítida: se gostam. No final da transa, Marc confessa a Léo que tem um namorado. Mas isso não impede que eles se vejam outras vezes. Com uma direção sensível e ótima atuação, "Herculanun" remete a um cult inglês, "Weekend", de Andrew Heigh. Ambas produções de baixo orçamento, calcados em 2 atores e um apartamento, o tempo todo. Um filme nessas condições seria maçante se não tivesse diálogos interessantes. O filme tem uma narrativa bastante naturalista e minimalista. As conversas entre os dois, regadas a sexo, fala sobre amor, solidão, sonhos e desejos de viajar para Herculano para visitar o vulcão. Um filme simples, mas competente e que entrega um resultado muito melhor que produções mais caras mas com menos verdade.

A grande mentira

"The great liar", de Bill Condon (2019) Adaptação do beste seller homônimo de Nicholas Searle, "A grande mentira" foi dirigida pelo inglês Bill Condon, que já dirigiu Ian Mackellen no cult "Deuses e monstros". Bill Condon tem uma filmografia bastante eclética, que vai da saga "Crepúsculo", "O relatório Kinsey" e o musical "Dreamgirls". "A grande mentira", como o título já entrega, nos apresenta uma história e dois protagonistas, Roy (Meckellen) e Betty (Helen Mirren) que sofrerão um plot twist nos últimos 20 minutos. Roy e Betty se conhecem através de um site de relacionamentos. Roy e Betty se apresentam como viúvos. Mas logo descobrimos que Roy faz parte de um grupo de estelionatários que assediam pessoas fragilizadas e ricas para investirem seu dinheiro em contas fantasmas. Para quem assistiu "Os imorais", obra-prima de Stephen Frears, vai entender o tipo de personagens inescrupulosos que habitam em " A grande mentira". Só que aqui, infelizmente, a reviravolta vem em uma trama bem maluca que envolve nazistas e uma vingança arquitetada com maestria. Se você está apenas a fim de um passatempo, protagonizado por 2 astros ingleses, talvez goste. Só não queira exigir muito. Confesso que fiquei bastante entediado boa parte do filme, que oscila entre uma comédia e um drama de época.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

Espelho de carne

“Espelho de carne”, de Antonio Carlos da Fontoura (1985) “Quem perde, vira”. Com essa frase, e com uma cena protagonizada por Daniel Filho e Dennis Carvalho, o filme “Espelho de carne” se tornou um clássico do cinema nacional. Lançado em 1985, o filme tem como um de seus maiores méritos, o elenco formado por grandes nomes do cinema e televisão: além de Daniel Filho e Dennis Carvalho, tem as grandes estrelas Joana Fomm, Maria Zilda, Hileana Menezes e Iara Neiva, que faz a empregada em uma das cenas mais divertidas do filme. Em participações especiais, Moacyr Deriquém e Roberto Bataglin. O filme é uma grande metáfora da classe média conservadora da emergente Barra da Tijuca. Como nos filmes de Bunuel, os personagens sofrem reflexo de elemento sobrenatural, como em “O anjo exterminador”, e fazem seus instintos sexuais e violentos aflorarem, terminando tudo em uma grande bacanal de sensações e prazeres obscuros. Outra referência é a obra-prima de Pasolini, "Teorema", onde um homem misterioso entra em uma casa de uma família classe média e seduz a todos. Alvaro (Dennis Carvalho) compra um espelho e um leilão. O espelho pertenceu ao Palácio dos prazeres de Madame Solange, um famoso bordel do início do século XX. Ao trazer o espelho para seu apartamento, Alvaro e sua esposa recatada Helena (Hileana Menezes) sofrem os efeitos do poder sobrenatural do espelho: ele faz as pessoas liberarem suas fantasias sexuais, sem repressões. Um casal vizinho, Jairo (Daniel Filho) e Ana (Joana Fomm), e uma outra vizinha divorciada Leila (Maria Zilda) acabam participando de jogos eróticos, promovendo uma intensa libertinagem regada a sexo, drogas e muita loucura sem regras. A grande importância desse filme, contemporâneo de outro clássico da época, “Rio Babilônia”, de Neville D almeida, é justamente terem sido produzidos durante a ditadura militar. O sexo que explode na tela desses filmes acaba sendo uma afronta contra a censura imposta pelos militares. Aqui, o Diabo em pessoa vira uma presença malígna, mas ao mesmo tempo sedutora, representando a ruptura com os padrões conservadores ligados ao erotismo e à religião.

Sonhos alucinantes

"Let's Scare Jessica to Death", de John D. Hancock (1971) Clássico filme de terror de 1971, "Sonhos alucinantes" é um cult obscuro que infelizmente poucas pessoas conhecem. Realizado com pouco dinheiro mas muita criatividade, o filme inspirou alguns clássicos de terror, principalmente 'Sexta feira 13" e a famosa cena do barco na lagoa. O filme apresenta Jessica (Zohra Lampert), uma mulher que acabou de sair e uma clínica psiquiátrica, onde ficou internada por um bom tempo para se tratar de uma crise nervosa. Seu marido Duncan e um amigo do casal, Woody, resolvem se mudar para uma cidade pequena para cuidarem de uma fazenda e assim, poderem tratar de Jessica. Ao chegarem lá, eles conhecem Emily, uma mulher misteriosa que estava morando na casa que eles compraram. Jessica convida Emily para morar com eles. Aos poucos, tudo parece ir bem, até que Jessica vai tendo visões de pessoas que vão surgindo somente para ela, e fica panicada achando que está louca novamente, mas evita falar com seu marido pois não quer ser internada. Com ótimas interpretações de Zohra Lampert e de Mariclare Costello no papel de Emily, o filme é livremente inspirado em Carmilla, a vampira. O filme tem uma ótima atmosfera de pesadelo, com fotografia e trilha sonora favorecendo esse clima obscuro de filme barato de terror, mas bastante tenso. O roteiro vai levando o espectador para caminhos diferentes, e mesmo que muita coisa fique em aberto, não deixa de ser um filme instigante e curioso. "Sonhos alucinantes" merecia uma refilmagem, pois renderia uma excelente performance para qualquer atriz.

domingo, 26 de janeiro de 2020

Klaus

"Klaus", de Sergio Pablos (2019) Essa animação me passou totalmente batida em 2019, quando foi lançada pela Netflix em novembro para a temporada de Natal. Agora, com a sua entrada na lista final dos concorrentes ao Oscar de Longa de animação, resolvi ver o filme que tirou as vagas de 2 peso-pesados, "O Rei Leão" e "Frozen 2" do páreo. "Klaus" e uma versão alternativa para o surgimento da lenda do Papai Noel. Foi dirigida pelo espanhol Sergio Pablos, um animador que trabalhou em filmes blockbusters, como "O planeta do tesouro", "Meu malvado favorito" e "Rio". No Século XIX, em um lugar não definido, existe uma escola para carteiros. Jesper ( na voz de Jason Schwartzman), é filho do General da escola. O pai quer que ele seja um carteiro exemplar, mas Jasper é preguiçoso e só quer vida mansa e de glamour. Como castigo e para fazer com que Jasper dê valor ao trabalho, o pai o envia até Smeerensburg, uma cidade semelhante ao Polo Norte. Chegando lá, Jasper encontra uma cidade cujos moradores pertecem a duas famílias que vivem eternamente em pé de guerra. Ninguém ali envia cartas porquê todos se odeiam. Jasper vai até uma casa isolada e lá encontra Klaus ( J/ K. Simmons), um velho sisudo e mal humorado. Após um mal entendido, os dois se tornam amigos e passam a entregar brinquedos fabricados por Klaus para as crianças que lhes enviam cartas. Isso traz fúria aos patriarcas das duas famílias, que se revoltam quando percebem que seus familiares estão se tornando boas pessoas. Comovente, o filme é uma parábola que fala sobre pessoas que se transformam com o Poder da bondade dos outros. Esse é o espírito natalino e é por isso que o filme foi feito. O filme tem bom ritmo, e foi todo realizado em 2D, à moda antiga. Vale assistir pois fala de bons sentimentos e a criançada com certeza irá adorar.

Pit stop

"Pit stop", de Yen Tan (2013) Concorrendo nos prestigiados Festivais de Sundance e SXSW, dedicados ao melhor do cinema independente, "Pit Stop" é dirigido pelo cineasta da Malásia radicado nos Estados Unidos Yen Tan, que também escreveu o roteiro. O filme me lembrou bastante do argentino "Medianera: o amor na era digital", de Gustavo Taretto, como se fosse uma refilmagem LGBTQI+ do mesmo. "Pit stop" é ambientado em uma pequena cidade próxima a Austin, Texas, e os encontros via aplicativos são marcados em um posto de gasolina. É um drama bastante melancólico sobre pessoas solitárias na faixa dos 40 anos e que não conseguiram manter um relacionamento, deixando a todos deprimidos e sem perspectiva de futuros relacionamentos. Gabe e Ernesto são os protagonistas, mas assim como "Medianera", só irão se conhecer nos 14 minutos finais. Els não se conhecem e cada um deles vive um relacionamento conturbado. Gabe vive com sua ex-esposa, Shannon, e sua filha. Ele decidiu morar com elas por conta da educação da filha. Ao se revelar gay para sua esposa, Gabe acabou tendo um relacionamento tóxico com um outro homem que o deixou bastante abalado. Ernesto, por sua vez, mora com Luis, um rapaz bem mais jovem que ele, mas que não busca por emprego nem estudos, ficando às custa de Ernesto. O filme, curiosamente, apresenta paralelamente as histórias de Shannon e Luís com seus novos pretendentes. Isso para poder dar tempo de encaminhar a história até seu desfecho, quando Gabe e Ernesto finalmente se conhecem. "Pit stop" é um retrato bastante contundente de pessoas solitárias e que apresentam problemas de relacionamento. Em uma divertida cena, Gabe marca um encontro com um professor e o leva para assistir a um filme francês. O professor dorme o filme todo e Gabe se frustra. Os atores são todos muito bons. Gostei bastante do filme, um exemplo de produção de baixo orçamento realizado com muito talento por toda a equipe e elenco.

Querido basquetebol

"Dear basketball", de Glen Keane (2018) Vencedor do Oscar de animação em 2018, "Querido basquetebol"é baseado no poema escrito pela lenda do Basket americano Kobe Bryant, que veio a falecer em acidente de helicóptero no dia 26 de janeiro de 2020. O poema foi escrito como despedida de Kobe dos jogos, quando completou 37 anos. No dia 30 de novembro de 2015, Kobe anunciou sua aposentadoria. O filme é narrado em off por Kobe, e traz uma comovente e emocionante história de um menino de 6 anos, Kobe, e seu sonho em se tornar jogador de basket. Após se tornar uma lenda, ele percebe que seu corpo já não é mais o mesmo, e precisa se retirar de campo. O filme, com trilha emocionante de John Willians, evoca grandes produções de Spielberg, naquele eterno tema do menino que sonha grande. Os traços da animação são bem simples, como se fossem rabiscos de uma vida, e foram realizados por Glen Keane, animador da Disney de largo currículo. Um belo filme de despedida de um Astro. https://www.youtube.com/watch?v=x3x5C3iNLKo&t=14s

Uma vida oculta

"A hidden life", de Terrence Malick (2019) Vencedor de um prêmio ecumênico no Festival de Cannes 2019, onde estava competindo pelo prêmio principal, "A vida oculta" é uma cinebiografia de Franz Jägerstätter, um camponês austríaco que nasceu na pequena cidade de Radegund. Por ter se recusado a servir aos nazistas e de lutar à favor de Hitler, Franz foi acusado de traição e executado por guilhotina no ano de 1943. Hoje em dia, ele foi beatificado e considerado um mártir e um ícone pacifista contra os horrores da Guerra, e pela Paz mundial. O filme marca também as últimas atuações de Bruno Ganz e Michael Nykvist, dois grandes nomes do cinema alemão e sueco. Ambos faleceram em 2017. Terrence Malick levou 3 anos editando o filme. O filme marca também a parceria de Malick com o fotógrafo Jörg Widmer, que havia trabalhado como assistente de Emanuel Lubezky em "A árvore da vida", também de Malick e vencedor da Palma de Ouro em Cannes 2011. Emannuel Lubezky se tornou o grande fotógrafo de Malick desde "A árvore da vida", e juntos criaram uma narrativa que qualquer cinéfilo consegue identificar como sendo um filme de Malick: lentes grandes angulares, imagens épicas, muita poesia e contemplação e interação com a natureza, em imagens quase sempre narradas em off pelos personagens. Em "A vida oculta" temos tudo isso. A fé cristã, também presente na maioria dos seus filmes, está encrustrada no personagem de Franz e de sua esposa Fanny, interpretados com muita garra por August Diehl e Valerrie Pachner. Ambos interpretam um casal de fazendeiros apaixonados, pais de 3 filhas e morando com a mãe de Franz e a irmã de Fanny. Nesse mundo idílico, que somente Malick consegue captar com suas lentes, vemos surgir o terror nazista. Mais da metade do filme acontece dentro da prisão onde Franz é levado. O filme é então costurado por imagens paralelas de Franz na prisão e Fanny na cidade, sendo maltratada pelos vilarejos que acusam a família de ser traidores. O casal escreve cartas e o filme se torna todo narrativo em off, bem ao gosto de Malick. Eu sou apaixonado por "A árvore da vida", mas desde então, fico com a impressão que Malick se repete sempre em todos os seus filmes seguintes. Os filme se tornaram vazios e frios, apesar da parte técnica ser extraordinária. Em "A vida oculta", pelo menos temos uma história forte, mas que fica diluída em quase 3 horas de filme, um exercício de paciência do espectador que já se sente casado quando o filme chega em sua metade.

Timeline

"Timeline", de Tanakorn Bangpao (2013) Filme LGBTQI+ tailandês, dividido em 3 episódios. Todas as 3 histórias retratam o amor entre casais gays jovens, em episódios que mesclam drama, romance, comédia e suspense. No 1o episódio, 2 melhores amigos adolescentes escondem que são apaixonados um pelo outro. Quando um deles confessa ao outro que quer sair com uma garota, mas que nunca beijou ninguém. O amigo se oferece para ser cobaia do beijo, mas o amor imediatamente surge quando eles se beijam. No 2o episódio, um casal gay youtuber de grande sucesso recebe uma carta anônima ameaçando-os de morte. No 3o episódio, um rapaz cuida de seu namorado que está doente. Um inquilino surge, e entre eles surge uma paixão. Mas o rapaz prometeu fidelidade ao namorado doente e sofre diante da possibilidade de um novo amor. Os atores do filme são bastante amadores e crus, e fica evidente que foram escolhidos por serem bonitos. O 2o episódio destoa do filme, por ter um gênero e uma história que difere totalmente da atmosfera do 1o e 2o episódios, que possuem elementos dramáticos em comum. É um filme agradável, mesmo com todos os seus pontos fracos. Muito por conta do esforço visível da produção em realizar um filme independente voltado para um público específico. O filme exagera bastante no melodrama, intensificando as canções melodramáticas. Para quem curte novelão, é uma boa pedida.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Variações

"Variações", de João Maia (2019) Um dos maiores sucessos de bilheteria do cinema português de toda a sua história, "Variações" é a cinebiografia de Antônio Variações, um cantor de pop, rock e fado português que morreu aos 39 anos de idade em 1984 por complicações da Aids. João Maia, que também co-escreve o roteiro, estréia em longa-metragem com um filme que remete muito ao visual dos primeiros filmes de Almodovar, principalmente "Pepi, Luci, Bom e outras chicas de montão", com excesso de cores, purpurinas e muito glam e cafonice, ao som de musicas eletrônicas, disco e de sintetizadores. Antônio Joaquim nasceu em Pilar, cidade pequena de Portugal em 1944. Desde pequeno, de família pobre, ele desejou se mudar para Lisboa. Obrigado a trabalhar para ajudar a sustentar a enorme família de 11 irmãos, Antônio teve aulas de cavaquinho e violão ministrado por seu pai. Ainda jovem, Antônio viajou para países da Europa até se firmar em Lisboa, trabalhando como cabeleireiro. Dono de visual extravagante, Antônio foi em vida comparado a Freddie Mercury. Alguns clientes do salão o ajudaram a se firmar na carreira de cantor, seu grande sonho, principalmente o brasileiro Luís Vitta ( interpretado por Augusto Madeira) exilado em Portugal após fugir da ditadura militar brasileira. Luis era jornalista e radialista, dono do programa de rádio "A meia do rock". Luis apresentou Antônio a várias gravadoras, até que ele gravou sue primeiro disco. em vida, Antônio gravou dois discos, mas suas músicas, com muita influência do Fado de Amalia Rodrigues, ainda hoje fazem muito sucesso em Portugal, sendo reverenciado por gerações pela sua irreverência e luta contra o conservadorismo. O sub-título do filme é "Um homem em cores em um País em preto e branco", o que define bastante o filme que iremos assistir. Sergio Praia, no papel principal, está fenomenal, inclusive canta todas as músicas no filme. Visceral, sua presença em cena é primordial para o sucesso do filme, que tem um roteiro correto, sem grandes surpresas para uma biografia. O filme é até meio chapa branca, pois evita mostrar relacionamentos homossexuais, principalmente com seu amante, interpretado por Filipe Duarte, um dos grandes astros do país. A direção é boa, mas faltou um elemento mais de vanguarda que trouxesse a alma de Antônio para o filme. A direção de arte, figurino e maquiagem são impecáveis. Confesso que eu nunca havia ouvido falar de Antônio Variações, e somente soube de sua pessoa quando assisti ao filme "O ornitólogo", que toca a música "Canção do engate", um de seus maiores clássicos.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Os miseráveis

"Les miserables", de Ladj Ly (2019) O drama "Os miseráveis"ficou conhecido pelos brasileiros por ter dividido o Grande Prêmio do Juri no Festival de Cannes com "Bacurau". Dirigido pelo cineasta nascido no País africano Mali e radicado na França, o filme é livremente inspirado no clássico de Vitor Hugo, "Os miseráveis", escrito em 1845 no bairro Montfermeil, que se localiza na periferia de Paris, local onde todos os operários, pobres, imigrantes e desiludidos moram. No mesmo bairro , em 2018, encontramos a mesma situação sócio-econômica do bairro, agora populada por africanos, muçulmanos e árabes. O filme acontece no mesmo dia em que a França ganhou a Copa do Mundo de 2018. Somente em eventos grandiosos como esse, a população se mistura para comemorar, como se todos fossem um só. Passada a euforia, a realidade cruel e brutal volta à tona. O policial da anti-brigada Stephanie Ruiz é transferido de uma cidade provinciana para Paris e se junta a dois outros policiais, Chris e Gwada, para fazerem a ronda em Montfermeil. Chris e Gwada são obrigados a fazerem um treinamento em Ruiz, que logo percebe que a realidade do bairro e dos seus colegas policiais é muito mais trágica do que parece. Um evento onde os três policiais se envolvem com um garoto rebelde, Issa, que roubou um filhote de leao de um circo culmina em um ato errôneo por parte dos policiais, que acidentalmente aturam uma bala de borracha no garoto. Para piorar a situação, um dos moradores gravou com um drone a ação, e os policias precisam encontrar a gravação antes que o menino poste na internet. Filmes com essa temática já vimos aos montes: "Faça a coisa certa", "Policia", "O ódio", "Cidade de Deus", entre outros. O uso da linguagem documental também já foi bastante explorada. O que o diferencia é a visão de uma juventude relegada à base da pirâmide que decide dar um basta na situação passiva em que se encontram, e partem para a luta. Bem dirigido e com um time de jovens atores muito convincentes, o filme é um retrato desolador de um País de primeiro mundo que insiste em camuflar as suas mazelas.

Waves

'Waves", de Trey Edwards Shults (2019) São poucos os jovens cineastas que me despertaram inveja pela genialidade de seus primeiros filmes. entre eles, estão Damian Chazelle, Xavier Dolan e Trey Edwards Shults, que já em seu primeiro longa, rodado aos 23 anos de idade, já impressionou meio mundo: "Krishna". Depois veio o terror "Ao cair da noite", igualmente instigante, e agora o seu filme mais maduro e primoroso, "Waves". Super premiado em diversos Fetsivais, e constando em várias listas entre os melhores filmes de 2019, o filme é uma experiência sensorial que parece uma mistura do visual e da estética de "A árvore da vida", de Terence Malick, com o drama e as cores de "Moonlight", de Barty Jenkins. O filme tem uma estrutura que divide o filmes em 2 atos: no primeiro, acompanhamos uma família afro-americana, e tendo como protagonista o filho do casal, Tyler (Kelvin Harrison Jr., extraordinário). No 2o ato, o filme dá vez à sua irmã, Emily (Taylor Russell, brilhante). O filme trata de temas como luto, ciúmes, competição, perdão, amor e principalmente, o poder das escolhas. Tyler é um jovem atleta, admirado em sua escola. Seu pai, Ronald (Sterling K. Brown) o terina para que Tyler se supere. Ronald educou seu filho com a seguinte motivação: todo negro tem que lutar 10 vezes mais do que um homem branco. pressionado pelo espírito competitivo do pai, Tyler esconde dele que está sofrendo com um problema no ombro provocado pelo excesso de exercícios. Paralelo, Tyler namora Alexia, e descobre que ela está grávida. Depois de uma tragédia, o filme muda de protagonismo e acompanhamos Emily e a sua luta para poder se recuperar de um ato que ela se pune, acusando=se a si mesma de covarde. Esteticamente, o filme tem o formato de janela 2:35, mas à medida que o filme vai ficando mais dramático e claustrofóbico, a janela vai apertando até virar tela quadrada, retornando depois ao formato original. A fotografia é formidável, trazendo cores fortes à atmosfera da Flórida. A trilha sonora é toda composta por músicas de bandas de rock, como Radiohead. A força do trabalho do elenco é algo digno de nota, em momentos complexos de emoção. Trey evita o melodrama se apropriando de uma linguagem de movimento de câmera impressionante Tem momentos que fico imaginando como ele conseguiu realizar determinados movimentos de câmera, como a do carro e a câmera em 360 graus. Participação especial e comovente de Lucas Gedges, um dos melhores atores da nova geração de Hollywood.

O closet

“Le pacard”, de Francis Veber (2001) Grande sucesso do cinema francês, “O closet” é uma comédia cult de 2001, com performances divertidas e brilhantes de Daniel Auteil e Gerard Depardieu. O filme levanta temas importantes como homofobia, machismo e desemprego. Daniel Auteil interpreta Daniel Auteuil, um Contador que trabalha em uma fábrica de preservativos, cujo presidente Kopel (o veterano Jean Rochefort) deseja enxugar o quadro de funcionários. Pignon fica sabendo que está na lista dos demissionários. Um típico looser, ele não te amigos, está divorciado há 2 anos e seu filho não fala com ele. Ao tentar se suicidar em seu apartamento, ele é dissuadido pelo vizinho, o homossexual Belone (Michel Aumont, excelente), que lhe propõe uma idéia maluca: forjar fotos que digam que Pignon é gay, e daí, a empresa não iria demiti-lo, com medo que a mídia acusasse a empresa de conservadorismo e homofobia. O plano dá certo: mas logo a mentira vai se tornando algo difícil de se sustentar: suas colegas de trabalho o assediam, e pior, Félix Santini (Gerard Depardieu), o colega homofóbico da empresa, é obrigado a tratar Pignon bem, com medo de perder o emprego, mas acaba se apaixonando por ele. “O closet” é uma típica comédia de erros, mas seu roteiro é muito bem amarrado, os diálogos deliciosos e as situações vão beirando a sandices. O diretor Francis Veber foi o roteirista de “A gaiola das loucas” , o que justifica se apropriar de algumas piada semelhantes. O grande trunfo do filme é o seu elenco, todos impecáveis.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

Pegar ou largar

"Võta või jäta", de Liina Trishkina (2018) Escrito e dirigido pela cineasta estoniana Liina Trishkina, "Pegar ou largar" foi o filme indicado pela Estônia para concorrer a uma vaga ao Oscar de filme estrangeiro em 2019. Para quem assistiu ao blockbuster mexicano "Não se aceitam devoluções", vai perceber que existem muitas semelhanças entre os dois filmes. No entanto, Liina Trishkina alega que seu filme é totalmente original. Erik (Reimo Sagor) é um operário na construção civil que dedica seu lazer à bebidas e mulheres. Um dia, uma mulher com quem ele teve um relacionamento de uma noite, Moonika, aparece e diz que teve uma filha dele. Moonika está depressiva e resolve abandonar a criança com Erik, alegando não ter condições de criar a menina. Erik, temendo que a criança seja entregue a um orfanato, resolve criar a bebê. Desajeitado, ele aos poucos se apega à menina. 3 anos se passam, e Moonika surge, querendo a guarda da menina. A diferença dos dois filmes fica no tom: enquanto o sucesso mexicano aposta no humor, "Pegar ou largar" é bem dramático. O filme tem uma atmosfera mais sombria e soturna, com uma fotografia que acentua as cores frias da região e o distanciamento de sue povo. Reimo Sagor, no papel principal, está excelente no papel.

terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Frankie

"Frankie", de Ira Sachs (2019) Drama independente co-produzido por Estados Unidos e Portugal, concorreu em Cannes 2019 na Mostra principal. Ira Sachs é um cineasta americano, que junto do roteirista e amigo Mauricio Zacharias, escreveu e dirigiu "O amor é estranho", "Turn the lights on" e "Little men". Agora, eles desenvolvem uma história protagonizada por Isabelle Huppert. Ela interpreta Frankie, uma famosa atriz francesa que resolve juntar familiares e amigos para passar uns dias em Sintra, em Portugal. Na verdade, o encontro tem um motivo: Frankie está com câncer terminal e quer se despedir de todos. Entre eles, o filho Paul ( Jérémie Renier) e sua melhor amiga, a cabeleireira que trabalha em cinema Ilene (Maria Tomei), que chega com sue namorado, o fotógrafo Gary (Greg Kinnear). O filme apresenta vários sub-plots, envolvendo divórcio, solidão, herança, primeiro amor. Eu sou um grande fã de Isabelle Huppert, mas nem ela consegue trazer muito interesse ao filme, que se arrasta de forma entediante em duas quase duas horas de duração. O filme é uma discussão sem fim sobre relacionamentos conturbados, explorando as lindas paisagens de Sintra. Faltou um roteiro mais envolvente, algo como a trilogia "Antes do amanhecer", de Richard Linklater, que traz espontaneidade nos diálogos. O elenco all star , envolvendo atores americanos, franceses, portugueses e ingleses , se mostram perdidos em tantas histórias, algumas com ou menos interesse.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Keystone

"Keystone", de Scorpione (2019) Prepare-se para assistir ao pior filme do mundo. A idéia até que é interessante: o primeiro filme LGBTQI+ de fantasia, envolvendo ninfos, elfos e bruxas. Mas absolutamente tudo é tão ruim que eu só consigo pensar que o Cineasta e roteirista italiano Scorpione estava a fim de sacanear seu público, ou então ele realmente não tem noção do que estava fazendo. Marco é um jovem assumidamente gay que sofre bullyng do sue irmão, que pede para que ele deixe de ser homossexual. Contrariado, Marco encontra refúgio na floresta. De repente, um portal se abre à sua frente e surge Pan-Ly, um ninfo que veio descobrir o outro lado do mundo. Marco sente atração por Pan-Ly e o beija. Com o beijo, Pan Ly ativa a sua pedra mágica, o que faz os seres chamados de "Shadows" irem atrás de Pan-Ly e ávidos para matá-lo. A história é totalmente sem pé nem cabeça. Os atores, os piores possíveis, parecendo que saíram de um teatro infantil. A maquiagem e o figurino são toscos e constrangedores. Os efeitos especiais são de último nível, com direito a coraçõezinhos e estrelinhas que surgem na tela. Em alguns momentos, o diretor inclui aquelas gotas de suor típico de mangás e animes, quando o personagem está aflito. A trilha sonora plagia e copia várias músicas famosas: "Eye of the tiger", "It's a sin"do Pet Shop Boys e "True colours", de Cindy Lauper. É muito difícil descrever o que é esse filme. Quem tiver paciência e ânimo para assistir, dependendo do seu mood, poderá se divertir bastante. Eu ri muito, mas devido às bizarrices do filme, que ainda se dá ao luxo de inserir trechos do desenho "Os Smurfs" e animais de alguma outra animação.

Os 7 tipos de ira

"7 thymoi ", de Christos Voupouras (2014) Complexo drama grego, repleto de metáforas envolvendo uma narrativa bastante experimental. Petros é um arqueólogo grego que se encontra em Atenas. Lá, ele se envolve com uma amante egípcio mais jovem do que ele, e precisa saber conviver com o seu preconceito com o islamismo. Ele também conhece diversas pessoas que se sentem "estrangeiros" na Grécia: imigrantes vindos de diversos países, todos em busca de um sentido para as suas vidas. "Os 7 tipos de ira" é todo rodado em preto e branco, e é bastante distinto do cineasta grego mais conhecido atualmente, Yorgos Lanthimos, que dirigiu "O sacrifício do cervo sagrado" e "A lagosta". Christos Voupouras aposta em um filme mais radical como linguagem, enquanto Yorgos expõe a decadência e os valores destruídos da classe média. Muitas discussões acerca do pertencimento e também sobre religião e sexualidade. No entanto, o resultado ficou bastante desinteressante e frio. Difícil conseguir assistir ao filme todo sem se sentir entediado.

domingo, 19 de janeiro de 2020

O preço da verdade- Dark Waters

"Dark Waters", de Todd Haynes (2019) Produzida pelo ator Mark Ruffalo, "Dark waters" tem uma estética e narrativa que lembra filmes de denúncia, como 'Spotlight", que por um acaso, é produzido pela mesma produtora. Mas a verdade e que a todo tempo, a gente fica comparando o filme a "Erin Brocovich", filme dos anos 2000 dirigido por Steve Soderbergh e que deu o Oscar de melhor atriz para Julia Roberts, no papel de uma ativista ambiental que luta a favor dos moradores de uma pequena cidade contra uma poderosa empresa de indústria química. Agora, troque Julia Roberts por Mark Ruffalo, e você terá o mesmo filme. Durante 20 anos, o advogado Robert Bilott (Ruffalo) começou uma guerra contra a Poderosa emprese química DUPONT, por poluir a água de CIncinatti, Ohio. A luta começou em 1998 e dura até os dias de hoje. O filme é baseado no artigo da New York Times, escrita pelo jornalista Nathaniel Rich em 2015, e intitulada "O advogado que se tornou o pior pesadelo da Dupont". A perseverança de Billot impressiona tantos os moradores quanto a família dele, que d einíci foi contra a decisão dele lutar contra a Dupont, achando que ele tinha enlouquecido ( Billot era um advogado corporativo, e trabalhava para uma empresa). O filme expõe a tragédia do produto químico PFOA, que se refere ao ácido perfluoro-octanóico, um composto químico utilizado no fabrico de produtos domésticos comuns, como lubrificantes, ceras, revestimentos de papel, embalagens de alimentos, e também do teflon utilizado como anti-aderente em panelas. Apesar de toda a importância do projeto, e do seu ótimo elenco de apoio, que vai de Anne Hathaway a Tim Robbins e Bill Pullman, "Dark Waters" é como "Spotlight': um filme entediante, frio, e que somente interessa a quem busca um filme sobre processos e luta ambiental. Como drama, é um filme muito sem emoção, com um olhar documental bastante cansativo. Mark Ruffalo está ótimo, e carrega o filme nas costas . Mas faltou o fino humor de Erin Brocovich, que consegue trazer carisma para um tema tão árido. O que mais impressiona é o filme ter sido dirigido por Todd Haynes, um cineasta autoral e que nos trouxe obras lúdicas e instigantes como "Carol", "Veneno","Longe do Paraíso", "Velvet Goldmine" e "I'm not there". Nem de longe parece uma obra sua, um filme totalmente distinto de seu Universo.

sábado, 18 de janeiro de 2020

Pacientes de um Santo

"Pacients of a saint", de Russell Owen (2019) Drama de horror inglês, ambientado na Ilha de São Leonardo, no Norte do Atlântico. No presídio, moram os prisioneiros mais perigosos do mundo, vindo de diversos países. Na ala feminina, se encontra Chloe (Meg Alexandra), que é traumatizada pela imagem de sua mãe se suicidando na praia, diante de seus olhos. Chloe precisa aprender a sobreviver no presídio, por conta da alta periculosidade das outras detentas. Misteriosamente, alguns pacientes surgem com um surto de raiva, que mais adiante, vamos descobrir ser experimento que cientistas fazem nos presos para tentarem achar a cura de diversas doenças. Os efeitos das vacinas transformam os pacientes em zumbis sedentos de sangue. O filme não traz nada de novo para quem está acostumado ao Gênero. A curiosidade fica por conta de um elenco de protagonistas femininas, e uma atmosfera que lembra os zumbis de "Extermínio", de Danny Boyle. Mesmo com baixo orçamento, os efeitos são interessantes. Não fosse o filme tão longo, quase 2 horas de duração, teria sido mais interessante. Perde-se muito tempo com dramas pessoais e o investimento nas cenas de ação acabam sendo bem poucas.

Enquanto vivemos

"Mens vi lever ", de Mehdi Avaz (2017) Contundente drama dinamarquês, dirigido pelo cineasta iraniano Mehdi Avaz com roteiro escrito por seu irmão Miladi Avaz. Quem assistiu "Crash"e "Manchester à beira mar"vai gostar bastante de "Enquanto vivemos": ele tem aquele tom de melancolia e tragédia eminente, e a edição vai trazendo novas informações ao espectador. O filme fala sobre perdas, tanto emocionais quanto físicas. O filme, baseado em fatos reais, acompanha a trajetória de diversos personagens, todos interligados por kristian (Sebastian Jessen), Pescador, ele mora com sua noiva no norte da Dinamarca. Kristian é um homem silencioso e guarda para si um trauma do passado do qual não consegue se recuperar. Um dia, um homem bate em sua porta dizendo que um conhecido dele está hospitalizado, à beira da morte. Esse fato deflagra em Kristian o desejo de querer reparar os traumas do passado, e de reconectar com pessoas com quem ele perdeu contato. Com um excelente trabalho de atores, o filme apresenta também lindas locações , uma trilha sonora que compõe bem com as imagens e uma fotografia em tons dramáticos. É impossível não se lembrar dos 2 filmes citados, mas isso não faz desmerecer "Enquanto vivemos". Para quem gosta de um drama carregado em tintas emocionais, é um filme imperdível.

1917

"1917", de Sam Mendes (2019) "O tempo é o inimigo". Com essa frase, Sam Mendes elabora um dos filmes tecnicamente mais extraordinários da história do cinema. O roteiro, escrito pelo próprio Sam Mendes com a roteirista Krysty Wilson-Cairns, é elaborado através das histórias que o pai de Sam Mendes, Alfred Mendes, narrou e que ficou registrado em sua biografia, contando histórias acontecidas durante a 1a guerra mundial quando ele fazia parte do 19o batalhão. Sam Mendes uniu boa parte das histórias e as transformou na figura heróica do soldado Schofield (George Mackay), que junto do soldado Blake (Dean-Charles Chapman), têm a missão de entregar uma mensagem até um batalhão. A mensagem pede para que o ataque previsto contra os alemães seja cancelado, evitando a morte de 1600 soldados, pois foi descoberto que se trata de uma armadilha. A mensagem tem que chegar no máximo um pouco antes do amanhecer, hora marcada para a ofensiva. Com um trabalho absolutamente irrepreensível da câmera e fotografia de Roger Deakins, que aqui faz mágica, colocando a sua câmera em lugares que simplesmente, não sei como foi feito. É como se a câmera não existisse, e pudesse flutuar, entrar na água, se arrastar nas trincheiras, entrar em cavernas, etc. Para tornar tudo mais complexo, Sam Mendes e Roger Deakins conceberam tudo para ser um único plano sequência de 2 horas de duração, com emendas feitas para passarem de forma despercebida, semelhante ao filme "Birdman". Aliás, é de "Birdman"que vem a referência de seu cineasta: "1917"é como a junção do desafio de "Birdman"com a epopéia de um homem só de "O regresso". Pense nesses dois filme se você terá "1917". Esse filme só existe por conta do plano-sequência, que torna tudo mais tenso e desafiador, afinal, existe um tempo preciso para que a ação ocorra. George Maccay , que interpretou o filho mais velho de Viggo Mortensen em "Capitão Fantástico", está esplêndido, e é uma pena que não tenha sido indicado ao Oscar de melhor ator. Ele carrega o filme literalmente nas costas em momentos viscerais e brilhantes. Colin Firth, Benedict Cumbarbach e Richard Madden fazem participações especiais em um filme com um excelente de atores ingleses desconhecidos. O mais curioso, é que o filme faz um marketing errado: na verdade, a idéia não é que o filme seja visto com de um plano único: existe um momento óbvio de passagem de tempo, com clara indicação de corte. Eu diria que é um filme de 2 planos, mesmo que as emendas passem imperceptíveis. (Qualquer fotógrafo e técnico de cinema vai perceber os cortes). Até há pouco tempo, ninguém falava de "1917". Mas bastou ele ganhar os Globos de Ouro de Melhor filme e melhor diretor, roubado todas as atenções de Tarantino e Scorsese, que eram os favoritos com "O irlandês"e "Era uma vez em ...Hollywood", para que o filme ampliasse seus horizontes e fosse visto por quase todo mundo.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Amor de cabelo

"Hair love", de Matthew A. Cherry, Everett Downing Jr. e Bruce W. Smith (2019) Um dos cinco finalistas ao Oscar de curta animação 2020, "Amor de cabelo"é uma adaptação do livro de Matthew A. Cherry, que devido ao grande sucesso da obra literária, foi imediatamente comprada pela Sony para ser exibida antes da animação"Angry birds 2" nos cinemas. A história é sobre uma família afro-americana: uma menina acorda com o cabelo cheio, e pede para que seu pai a penteie de acordo com uma foto de referência que ela mostra em sue Ipad. Diante da dificuldade do pai em fazer o penteado, ela mostra um vídeo no celular de sua mãe mostrando como fazer o penteado, passo a passo. A surpresa do filme fica por conta do paradeiro da mãe. Alternando humor e drama, esse filme é de uma beleza incomum: simples mas direto ao assunto, um projeto que se orgulha de ser representativo da cultura negra americana. O desfecho é emocionante.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

Harriet

"Harriet", de Kasi Lemmons (2019) Não fosse pela indicação da protagonista Cynthia Erivo entre as finalistas do Oscar de melhor atriz 2020, muito provavelmente esse filme teria sido jogado no limbo das distribuidoras e colocado em alguma plataforma de streaming para ficar ali mofando. Dirigido e escrito pela cineasta Kasi Lemmons, "Harriet" é uma cinebiografia correta da abolicionista e ex-escrava Harriet Tubman, que durante a Guerra civil americana , na escravagista cidade de Maryland. Em 19849, ela conseguiu fugir, após ter uma visão divina e seguiu para Pensilvânia.Lá, ela conhece negros abolicionistas e a partir daí, Harriet comanda missões para salvar escravos e fugir com eles para estados onde não existem escravidão. Harriet é conhecida por ter fugido com mais de 750 escravos, e ainda ter sido espiã como aliada da União. Durante vários momentos do filme, Harriet é vista tendo visões. O filme foi bastante criticado por estudiosos e historiadores que acusaram a produção do filme de terem mentido fatos e tornado a figura de Harriet como quase uma super heroína. A direção de Kasi Lemmons é correta, mas conduz tudo de forma burocrática e sem emoção. De qualquer forma, é um filme importante pelo tema, e por ser um projeto conduzido por mulheres, valorizando o trabalho artistico de profissionais mulheres na frente e atrás das câmeras.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

Perdi meu corpo

"J'ai perdu mon corps ", de Jérémy Clapin (2019) Super premiada animação francesa, baseada no livro de Guillaume Laurent, "Happy hand", e surpreendentemente, tendo entrado na seleta lista de indicados do Oscar para longas de animação, tirando do páreo super Blockbusters como "Frozen 2"e "o rei Leão". Dirigido pelo francês Jeremy Clapin, o filme tem uma narrativa muito estranha, quase surreal, acompanhando duas histórias paralelas: Naoufel e sua mão decepada. Naoufel é um entregador de pizzas que fica apaixonado por uma cliente e faz de tudo para se aproximar dela, inclusive indo trabalhar com o tio dela na carpintaria só para ficar perto dela. Acompanhamos também a história da mão decepada de Naoufel, que foge da geladeira aonde ela se encontrava e segue pelas ruas de Paris, fugindo de toda sorte de perigos, para se reimplantar novamente ao corpo de seu dono. O plot do filme é bastante estranho mesmo, tem que se assistir ao filme com uma mente bem aberta e sabendo que vai lidar com elementos lúdicos e poéticos. No fundo, é uma história de amor, carência e de perdas que refletem na vida de uma pessoa atormentada por traumas do passado. Não sei se curti o filme, mas inegavelmente, é instigante e aberta a várias metáforas.

Adoráveis mulheres

"Little women", de Greta Gerwig (2019) Sétima adaptação cinematográfica do romance clássico "Little women", escrito por Louisa May Alcott em 1868. Greta Gerwig adaptou o livro e dirigiu essa bela história familiar que envolve um núcleo de 4 irmãs unidas pela determinação de darem suas vozes em uma sociedade paternalista e extremamente machista, ambientada nos Estados Unidos de 1868, durante a Guerra Civil americana. A família March consiste na carinhosa matriarca Marmee (Laura Dern), que cuida com afinco suas 4 filhas enquanto o marido está no front: Jo ( Saoirse Ronan), a mais velha; Amy (Emma Watson), Meg (Florence Pugh) e Beth ()Eliza Scanlen), além da mau humorada e conservadora Tia March (Meryl Streep). Cada uma das irmãs tem um desejo de ser independente e construir uma carreira. Jo escreve um livro, ainda sem final, e o oferece a um editor, que quer que ela escreva um final onde a protagonista se case, segundo ele, o que faz vender um livro. Jo é contra essa idéia, dizendo que sua personagem é independente. Além desse formidável time de atrizes femininas, o filme tem o apoio de um grupo de atores de primeiríssimo nível: Timothée Chalamet. Louis Garrel, Chris Cooper e e James Norton. Greta Gerwig dirige o filme com muita delicadeza e criatividade, evitando o clichê dos melodramas de época e apostando em mensagens feministas e de inclusão em uma sociedade que quer arrocha a mulher, naquele chavão de casamento e cuidar dos filhos. A trilha sonora, de Alexandre Desplat, é de uma beleza impressionante, e também a fotografia do francês Yorick Le Saux, apostando na cartela de cores padrão dos filmes românticos clássicos de Hollywood. "Adoráveis mulheres"é o oposto do que seu título parece ser: é uma história de protagonistas femininas fortes, que segundo Greta Gerwig, foram suas heroínas de infância ( Jo e a autora do livro). Merecidamente, o filme tem arrebatado muitos prêmios, e trazendo de volta ao grande público uma narrativa mais acadêmica, mas nem por isso, menos eficiente e prazeirosa. Curioso saber que Florence Pugh começou a filmar dias depois de se despir da protagonista de "Midsommar", um filme radicalmente oposto em proposta e tom para a atriz. A coincidência é vê-la em ambos os filmes com um arranjo de flores em sua cabeça. A famosa versão de 1994 também tinha um elenco all star: Winona Ryder, Susan Sarandon, Kirsten Durnst, Claite DAnes, Christian Bale, Gabriel Byrne e Eric Stoltz.

terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Ameaça profunda

"Underwater", de William Eubank (2019) Um híbrido de "Alien, o 8o passageiro" e "Gravidade", com uma protagonista feminina. Ok, "Ameaça profunda" não traz nenhuma novidade para ninguém. O filme é óbvio em todos os seus momentos, e de verdade, nem sequer busca ser algo original. Mesmo assim, dá para assistir como passatempo. Afinal, não é toda hora que se assiste à Kirsten Stewart fazendo uma heroína à la Ripley de Sigourney Weaver., com direito a muita porradaria , tiros e monstros que os criadores nem tentaram fazer diferentes dos bichanos de Aliens. O filme troca o espaço sideral pelas profundezas do oceano pacífico ( Outra referência: "Pacific rim", de Guillhermo del Toro, um mar repleto de monstros escondidos no subsolo e que surgem por conta de um terremoto). O filme é muito escuro e mal dá para ver os bichanos às vezes, mas vale dar um crédito à produção, que ainda traz Vincent Cassel para dar mais credibilidade. Kirsten Stewart parece estar em uma maré de azar, pois no único ano, ela lançou dois mega fracassos: "As panteras"e agora esse 'Ameaça profunda".

segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

O escândalo

“Bombshell”, de Jay Roach (2019) O drama “O escândalo” vem sendo aclamado pelos críticos pela performance arrebatadora do trio feminino principal: Charlize Theron, Nicole Kidamn e Margot Robbie. Também está sendo comentado fortemente pelo trabalho irrepreensível da equipe de maquiagem, que transformou Charlize Theron e John Lightgow em pessoas com fisionomias totalmente diferentes dos atores. Mais: muita gente anda detonando o filme por ele querer defender as mulheres e o abuso do assédio sexual no trabalho, e no entanto, o filme ter sido dirigido e escrito por homens, e acusando do filme ser narrado pelo ponto de vista de autores masculinos. Ou seja, “O escândalo” do filme permeia também os bastidores do projeto, que mesmo com tantas críticas favoráveis ou contra, desperta atenção do espectador justamente pelo trabalho do elenco, mesmo os coadjuvantes de luxo, como Allison Janney e Malcom Macdowell, interpretando Robert Murdoch, o Presidente da News Corporation, que engloba a Fox News, The Times e Wall street jornal. O filme narra os bastidores que levaram à demissão do todo Poderoso CEO da Fox News, Roger Ailes (John Lightgow), por um time de funcionárias da empresa que o acusaram de assédio. Entre elas, as âncoras Megyn Kelly (Theron) e Gretchen Carlson (Kidman). A personagem de Robbie, Kayla Pospisil, é a única fictícia, criada justamente para ser um amálgama de todas as mulheres que sofreram assédio e tiveram que ficar caladas por um bom tempo por conta do ambiente masculinizado e tóxico da empresa. O cineasta Jay Roach é famoso por ter dirigido a franquia “Austin Powers” e o roteirista Charles Randolph é o responsável por “A grande virada”, filme de Adam McKay que criou aquela linguagem que une documentário, sátira política e muito deboche e humor negro. Muito dessa narrativa está presente aqui no filme, que tem uma edição bem próxima ao filme de Mackay. O filme é excelente para se entender os bastidores de uma rede de noticias, com todas as suas malandragens e perfídia. E isso tudo durante a campanha de Trump à Presidência, em 2016. Bem dirigido e com ótimo elenco, o filme cansa às vezes, mas no final fica-se a sensação d éter assistido a um filme que importa e muito.

domingo, 12 de janeiro de 2020

O milagre de Anne Sullivan

“The miracle worker”, de Arthur Penn (1962) Vencedor dos Oscars de Melhor Atriz para Anne Bancroft e de atriz coadjuvante para Patty Duke, aos 16 anos de idade, em 1963, até então a atriz mais jovem a receber o prêmio, o filme é uma biografia de Hellen Keller, que aos 7 anos de idade, em 1888, contraiu uma febre e ficou surda, muda e cega. Arthur Penn dirigiu a peça teatral ‘A miracle worker” em 1959, escrita por Willian Gibson, com as mesmas Bancroft e Patty Duke nos papéis principais. Ao comprar os direitos, a United Artists queria Elisabeth Taylor ou Audrey Hepburn no papel da professora Anne Sullivan, que acabou ficando com a própria Bancroft, por insistência de Penn. Para quem não conhece o cineasta, em 1967 ele iria dirigir a obra-prima “Bonnye e Clyde”. Bancroft interpreta Anne Sullivan, uma jovem professora que já foi cega e que tem métodos pouco ortodoxos para tentar fazer com que Hellen, aos 7 anos de idade, se comporte como uma pessoa civilizada. Por excessos de mimos da mãe, Hellen se tornou quase que uma criança primitiva e rebelde. Com extrema dificuldade, Sullivan procura ensinar a linguagem de sinais e boas maneiras à Helen, que sempre se rebela. Com muita determinação, Sullivan aos poucos vai fazendo a menina entender que o amor é o mais importante na vida. Helen viria a se tornar uma famosa escritora, professora e ativista política nos Estados Unidos. Em 1920, ela escrever a biografia “Essa é a minha vida”, retratando a sua relação com Anne Sullivan. O que mais impressiona no filme, são as performances irrepreensíveis de Anne Bancroft e Patty Duke nesse verdadeiro clássico esquecido dos anos 60. Totalmente entregues aos papéis, em cenas de tirar o fôlego, vide a antológica cena de quase 10 minutos da sala de jantar, com Sullivan tentando ensinar Hellen a segurar uma colher. Uma cena totalmente sem diálogos, só nas performances de corpos e intenções. Uma verdadeira aula de cinema e decupagem. A fotografia também é um item à parte: em preto e branco expressionista, Ernesto Caparrós traz sombras que remetem a filmes de terror para um drama Bergmaniano, com direito a flashbacks surrealistas. Laurence Rosenthal traz uma trilha sonora imponente e arrebatadora. O elenco de apoio também é primoroso, principalmente os atores que interpretam os pais de Hellen. Imperdível.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

A hora de sua Morte

"Countdown", de Justin Dec (2019) Escrito e dirigido por Justin Dec, o terror juvenil "A hora de sua morte" é uma versão tecnológica da franquia "Premonição": após baixarem um aplicativo chamado 'Countdown", os donos dos celulares descobrem quanto tempo ainda tem antes da hora de sua morte. Alguns têm décadas, outros como a enfermeira Quinn, só tem 3 dias de vida. Desesperada, Qunn tenta de todas as formas ludibriar a hora de sua morte, sem sucesso. O aplicativo não consegue ser deletado e nem o hacker consegue mudar o seu sistema operacional. Ou seja, quando chegar a hora da Morte, nada conseguirá mudar o seu destino. Pelo menos, é o que Quinn tentará fazer. O filme utiliza todos os recursos dos clichês existentes em filmes de terror, até trazendo humor no personagem de um padre exorcista. O elenco é ok, o roteiro é fraco mas para um passatempo, o filme quebra o galho.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

Link perdido

"Missing link", de Chris Butler (2019) A animação de bonecos de massinha "Link perdido" foi o grande azarão no Globo de Ouro 2020, ao vencer pesos pesados e francos favoritos como "o Rei Leão", "Frozen 2", "Toy story 4" e "Como treinar o seu dragão 3". Só há uma explicação para tal feito: os votantes resolveram votar em algo original , fazendo uma severa crítica a filmes de franquias (O Rei Leão é uma refilmagem) De todos os 5 filmes, "Link perdido" é o mais fraco e com menos encantamento. A história já nem é tão original: como assim, mais um filme sobre o personagem do Pé Grande? Depois de "Abominável" e "Pés pequenos"??? O que confere charme ao filme é o time de atores que dublam nas vozes originais: Hugh Jackman, Emma Thompson, Zoe Saldana, Zach Galifianakis e Stephen Fry. No início do Séc XX, em Londres, Sir Lionel Frost (Jackman) passa seus dias indo atrás de monstros míticos, como Loch Ness. Frost deseja fazer parte do seleto grupo dos exploradores de Londres, mas os integrantes não lhe dão valor, pois Frost não tem nenhuma prova viva de nenhum dos monstros que diz ter visto. Para isso, resolve ir atrás do pé Grande nos Estados Unidos. Chegando lá, ele encontra Mr Link (Zach Galifianakis), um descendente dos Pé Frios mas com uma diferença: ele é alfabetizado e fala inglês. Frost simpatiza com Link, cujo sonho é reencontrar sua família em Shangri-lá. Frist decide levar Link at;e lá, e pede ajuda à sua ex-namorada, Adelina (Zoe Saldana). O que ele não sabe é que um assassino está em seu encalço. O filme tem uma história que mistura "Horizonte perdido" com um pouco de "Indiana Jones". É um filme simpático, mas os traços dos bonecos achei feios e sem graça. Achei que faltou mais encantamento, e um ritmo mais dinâmico para contar a história. O diretor Chris Butler é o mesmo do interessante "Paranorman".

quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

Um milhão de pedacinhos

"A million little pieces", de Sam Taylor-Johnson (2019) Adaptação do best seller autobiográfico de James Frey, um escritor que ficou mundialmente conhecido quando a apresentadora Oprah Winfrey indicou o seu livro "Um milhão de pedacinhos" para os espectadores. O livro, lançado em 2003, seriam memórias de Frey quando ele foi internado em uma instituição para viciados em drogas, e as histórias de superação e de relacionamento com outros pacientes. Anos mais tarde, descobriu-se que quase tudo no livro foi inventado e que nunca havia acontecido com Frey. Mesmo com a farsa descoberta, Frey continua sendo um escritor de grande sucesso e é dono de uma ONG. A cineasta inglesa Sam Taylor-Johnson, mais conhecida pelo drama "Nowhere boy", sobre a adolescência de John Lennon, ficou famosa na época por, aos 42 anos, ter se casado com o protagonista de seu filme, Aaron Taylor Johnson, que tinha 18 anos na ocasião. Sam dirige seu marido Aaron, que co-adaptou o livro, nessa cinebiografia, que traz a rotina de James dentro da instituição. Para quem está acostumado a ver filmes com tema semelhante, como "Um estranho no ninho" e tantos outros de recuperação, não encontrará nada de novo aqui. Todos os clichês do tema estão aqui no filme, incluindo o suicídio de um dos pacientes. O que chama atenção é o elenco de apoio composto de atores famosos, como Juliette Lewis, Billy Bob Thorton, Charlie Hunnan e Giovanni Ribisi. Aaron não me pareceu a escolha mais adequada pro papel. Sim, ele está bem, é um bom ator. Mas quando ele está sem roupa ou nú, ele está com o corpo totalmente definido de músculos, o que fica incoerente com o perfil de um drogado que, segundo o médico, tem todos os órgãos internos fudidos e que ele não sabe como James continua de pé.

Zombie child

"Zombie child", de Bertrand Bonello (2019) O cineasta francês Bertrand Bonello faz parte de uma geração de realizadores provocadores que levantam temas como colonialismo, atos terroristas pregados pela juventude em cults como "Nocturama" e agora, "Zombie child", que concorreu na Mostra dos realizadores de Cannes 2019. Bertrand Bonello também dirigiu os polêmicos "Saint Laurent"e "L'apollonide", filmes que retratavam questões de subserviência sexual. "Zombie child" é livremente inspirado na história de Clairvius Narcisse, um homem que morreu de doença em 1962 no Haiti que vivia uma ditadura política, presidida por Papa Doc, um tirano que assassinou milhares de civis. O Haiti foi uma colônia francesa por muito tempo antes de Papa Doc. Clairvius Narcisse foi ressuscitado por feiticeiros vodu e ao renascer como zumbi, foi obrigado a trabalhar como escravo na plantação de cana. Em 1980, ele se libertou de sua condição de escravo, se casou e "renasceu"como ser humano, até morrer em 1994. Essa história é contada paralela à de Melissa, a neta de Clairvius que vive na França dos dias atuais. Ele estuda em uma escola de elite somente de mulheres, destinado à filhas de condecorados pela Legião Francesa. Melissa conta à suas amigas a história de seu avô. Somente Fanny acredita na história, e contrata a tia de Melissa, conhecida como feiticeira vodu, para jogar uma magia no ex-namorado de Fanny que a abandonou. "Zombie child", apesar de ter participado de importantes Festivais, foi duramente criticado pela imprensa no que o acusaram de ser "Eurocentrico", um filme com um olhar europeu e branco sobre uma história de cultura africana. Sob alegação de grava apropriação cultural e de também apresentar uma visão estereotipada e fantástica sobre o Vodu, Bertrand Bonello, ainda assim, faz um filme instigante e bizarro, que mescla drama, filme de terror e romance. Talvez a inspiração de Bonello tenha sido os filmes de terror dos anos 80 que abusavam de misticismo e apropriação da magia negra, ma sé inegável a sua capacidade de provocação. Não é o seu melhor filme, mas vale assistir por curiosidade. O filme pode ser visto também pela ótica da metáfora sobre a colonização e de como o Governo do Haiti transformou sua população em 'Zumbis", décadas depois ficando livres da maldição com o fim da ditadura.

terça-feira, 7 de janeiro de 2020

Monos

"Monos", de Alejandro Landes (2019) Vencedor de mais de 20 Prêmios internacionais, entre eles Sundance e San Sebastian, "Monos" é um impressionante drama co-escrito e dirigido pelo Cineasta brasileiro Alejandro Landes, nascido em São Paulo mas de cidadania Colombiana e equatoriana. O filme foi indicado pela Colômbia para tentar uma vaga entre as finalistas do Oscar de filme estrangeiro 2020. Livremente inspirado no clássico livro 'O senhor das moscas", de William Golding, o filme é uma alegoria política e social que tem como protagonistas um grupo de 8 adolescentes revolucionários, que vivem nas montanhas da Colômbia com a finalidade de vigiarem a refém americana que eles chamam de 'Doutora", uma engenheira sequestrada pelo grupo intitulado "A organização". Durante uma bebedeira, um dos rapazes atira sem querer em uma vaca cedida por revolucionários. O grupo acaba sendo atacado e precisam fugir pela selva. A doutora consegue escapar, mas o grupo vai atrás dela. Cinematograficamente, o filme é uma mistura insana e bizarra de : Apocalipse now", "O abraço da serpente" e "Amargo pesadelo". A primeira metade do filme tem uma vocação mais experimental, e a segunda, vira um filme de aventura e perseguição. É um filme com uma espetacular fotografia de Jasper Wolf. tomada por enquadramentos e planos tecnicamente magistrais, e a trilha sonora é da inglesa Mica Levi, responsável pelas trilhas de "Jackie", de Pablo Larain, e "Sob a pele", com Scarlett Johanson. "Monos"não é um filme fácil de se assistir: o início é lento, sem um fluxo narrativo coeso que consiga prender a atenção do espectador comum. Para quem se deixar levar pela cinematografia excitante e arrasadora, vai se vislumbrar com o talento incomum dessa garotada, todos amadores e que nunca atuaram antes. A americana Julianne Nicholson, no papel da Doutora, impressiona com sua garra e visceralidade, fazendo todas as cenas de perigo, não querendo usar stunts. Um trabalho formidável do cineasta Alejandor Landes, certamente alguém para se olhar no futuro. O filme foi uma grande sensação no Festival de Berlin, onde competiu na Mostra Teddy, dedicada a filmes com temáticas LGBTQI+: os adolescentes descobrem sua sexualidade durante o treinamento e até mesmo com a Doutora. Certamente, um filme bastante rico e complexo em sua dramaturgia.

domingo, 5 de janeiro de 2020

The Juniper tree

"The Juniper tree", de Nietzchka Keene (1990) Um filme mágico e ao mesmo tempo assustador como um pesadelo gótico, "The juniper tree" é adaptação do conto de mesmo nome dos irmãos Grimm, "A amoreira". O filme foi adaptado pela roteirista e cineasta islandesa Nietzchka Keene, que filmou o longa em 1986, com pouquíssimos recursos e que somente veio a lança-lo em 1990, quando concorreu ao Grande pRe6mio em Sundance. O filme se tornou um objeto de culto tão imenso, muito por conta da presença da atriz e cantora Bjork no elenco, aos 21 anos de idade, que foi restaurado em 2018 pelo Center for Film & Theatre Research, Wisconsin em qualidade 4K e relançado nos cinemas. Rodado em 35MM e em preto e branco em Seljalandsfoss, Islândia, o filme apresenta 2 irmãs, Katka (Bryndis Petra Bragadóttir), a mais velha, e Margit (Bjork), durante a Idade média. A mãe delas, acusada de bruxaria, foi morta pelos moradores da região. Ambas seguem em peregrinação, e Katla diz à Margit que assim que ela encontrar um homem, irá jogar um feitiço para que ele se apaixone por ela e que elas morem com ele. Elas encontram Johan, jovem viúvo, pai do pequeno Jonas. Johan casa com Katla e engravida ela. O pequeno Jonas acredita que Katla é uma bruxa, mas seu pai não acredita. Margit se afeiçoa ao menino, mas Katla fará de tudo para tirá-lo do caminho. Com um visual estonteante, que lembra trabalhos de Bergman e Bela Taar, "The juniper tree" impressiona pelo visual, sofisticado. A direção de Nietzcka é precisa, minimalista e trabalhando bem com a narração e com os efeitos. O elenco está bem, mas claro que Bjork é a detentora de todos os holofotes, mostrando que j;a jovem, trazia uma estranheza em seu olhar e no jeito de ser, parecendo estar flutuando em cena tal a sua delicadeza. Foi a sua estréia no cinema, coroada depois em 200 com a Palma de ouro em Cannes por "Dançando no escuro", de Lars Von Triers.

O fim do meu mundo

"Mój koniec swiata", de Kamil Krawczycki (2017) Filme de estréia do roteirista e diretor polonês Kamil Krawczycki, é um raro representante do Cinema LGBTQI+ da Polônia, que apesar de ter banido a criminalização aos homossexuais em 1932, sempre apresentou de forma bastante discreta a presença da comunidade Queer em sua filmografia, "O fim do meu mundo" apresenta Filip, um jovem diretor de 25 aos ( referências autobiográficas do próprio Kamil Krawczycki que namora o ator Eryk há alguns anos. Eryk é o primeiro relacionamento e o primeiro amor de Filip. Quando Eryk decide romper com o namoro, Filip se desestrutura emocionalmente, entrando em severa depressão. Eryk desaparece por 3 semanas e sem poder contactar seu ex, Filip perde seu rumo, mesmo diante de insistência de amigos e familiares para que ele siga sua vida. Um dia, durante um temporal Filip esbarra na rua com Janek, um rapaz de 23 anos de Cracóvia em busca de trabalho. Filip sugere que e;e faça um teste para um comercial. Janek demonstra interesse em Filip, que não consegue se aproximar do rapaz. O filme é um drama melancólico mas que aborda também o romance, e graças a Deus, não termina em morte nem suicídio. Com um time de belos atores que desempenham bem os seus personagens, o filem tem uma montagem muito interessante que me enganou direitinho em determinando momento da trama. Kamil Krawczycki estréia bem na direção, trazendo delicadeza e um tratamento adequado à questão da depressão.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

Convite

“Invitation”, de Lee Jae Soo (2013) Curioso suspense sul coreano LGBTQI+, escrito e dirigido por Lee Jae Soo. O filme busca referência nos clássicos “Janela indiscreta” e “O silêncio dos inocentes”. Um rapaz desempregado que mora sozinho busca diariamente oportunidades de emprego nos jornais, sem sucesso. Ele passa o restante do dia em seu apartamento, entediado. Um dia, ele encontra um binóculo na lixeira. Ele o pega e ao se dirigir à sua janela, ele observa o vizinho da frente: um rapaz sedutor que sempre que sai de casa, deixa a chave de seu apartamento debaixo de um vaso de plantas. Instigado a querer roubar algo, o jovem espera o dono do apartamento sair e vai até lá, pegando a chave e entrando no apartamento. O filme é claramente uma homenagem à “O silêncio dos inocentes”, porquê o antagonista se veste igualzinho ao vilão do filme de Jonathan Demme. É um filme instigante, que ao mesmo tempo, faz uma crítica ao desemprego crescente entre os jovens na Coréia do Sul.

A Família Addams

"The Addams familly", de Greg Tiernan e Conrad Vernon (2019) Animação adaptada dos famosos quadrinhos criados pelo cartunista Americano Charles Addams em 1933. A excêntrica Família já foi adaptada para uma série de tv nos anos 60, para quadrinhos, desenho animado e depois, em 1991 e 1993, por dois famosos filmes dirigidos por Barry Sonnenfeld protagonizados por Raul Julia, Angelica Houston , Christopher Lloyd e Cristina Ricci. Os dois longas foram um enorme sucesso, catapultando a carreira de Sonnenfeld, até então, um diretor de fotografia, e que assumiu a direção após a desistência de Tim Burton. Greg Tiernan e Conrad Vernon são dois diretores que lançaram em 2016 um dos mais polêmicos e controversos desenhos animados de todos os tempos, “A festa da salsicha”, desenho para adultos repleto de palavrões e pornografia. O mais curioso é que agora, eles seguraram a mão para “A Família Addams” tornando o filme um entretenimento para crianças. O roteiro do filme é muito semelhante à Parte 2 do longa de 1993: uma mulher decide destruir o Castelo da Família Addams e para isso, ela espalha fake News sobre as bizarrices da família para todo um grupo de whastapp que inclui os moradores da cidade. Referência à “Frankestein” e ao clássico “A festa do monstro maluco” surgem o tempo todo. Mais uma vez, o filme tem como protagonismo as crianças da família e a forma como eles observam as excentricidades de seus familiares diante da caretice e normalidade das pessoas da cidade e da escola. O grande trunfo do filme, é o seu elenco estelar dando voz aos personagens fúnebres: Oscar Isaac dubla Gomez, Charlize Theron dubla Morticia, Chloë Grace Moretz dubla Wednesday (Wandinha), Finn Wolfhard dubla Feioso (Pugsley), Bette Midler dubla a Vovó, Martin Short dubla Tio Funesto, Snoopy Doggy Dog dubla A Coisa, Allison Janney, que ganhou o Oscar de atriz coadjuvante por “Eu, Tonya”, interpreta Margaux, a vilã da história. O roteiro é ingênuo e deixa de investir no humor negro característico dos quadrinhos e dos filmes para deixa-lo mais palatável para a criançada. De qualquer forma, é um passatempo que pode suscitar curiosidade da criançada para discutirem a prática de bullying e o que significa o conceito de ser DIFERENTE.

Valentino: O ídolo, o Homem

“Valentino", de Ken Russell (1977) Cinebiografia de um dos maiores astros do Cinema mudo americano, Rodolfo Valentino, morto prematuramente aos 31 anos de idade, em 1926, no auge de sua carreira, de úlcera. Valentino, nascido na Itália, se mudou para Nova York, onde chegou a trabalhar como gigolô para mulheres mais velhas, para poder se sustentar. Em vida, Valentino conheceu várias mulheres, e uma delas a levou para o cinema, onde estrelou clássicos do cinema mudo como Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse, The Sheik, Sangue e Areia, The Eagle e O Filho do Sheik, que o alçaram ao estrelato. O filme de Ken Russell começa já no dia do velório de Valentino, em Nova York. Foi uma histeria coletiva do público de fãs, que destruíam tudo o que vima pela frente, havendo até relatos de suicídios. Durante o seu velório, várias mulheres vêem visitar seu caixão, e daí descobrimos que são ex-mulheres e ex-amantes. Através da história de cada uma delas, um fato da vida de Valentino é revelado. O inglês Ken Russell foi um dos cineastas mais polêmicos da história do cinema. Seus filmes eram ousados, exagerados e repletos de erotismo. Direção de arte, figurino, maquiagem, atuação, efeitos, tudo é demasiadamente over e Kitsch, e assim ele ganhou fama em seus filmes, que incluem clássicos como “Os demônios” , “Viagens alucinantes”, “Tommy- A ópera Rock”e “Liztomania”. Russell também ousou ao escalar para protagonizar Valentino, o bailarino Rudolf Nureyev. No auge de sua carreira artística, Nureyev queria também investir na carreira de ator. Considerado um ícone sexual dos anos 70, Nureyev acabou sendo uma ótima escolha para representar o símbolo sexual de outro período. O filme é repleto de cenas de sexo e nudez, e Nureyev exibe seu corpo escultural diversas vezes. O ritmo do filme é lento e parece durar mais do que suas 2 horas e 10 minutos de duração. Existem cenas bem barrocas, bem ao gosto de Russell, e para quem aprecia o seu cinema, vai ser um grande deleite visual. No elenco, grandes nomes como Leslie Caron e Peter Vaughan procuram chamar a atenção do público. Infelizmente, o filme se tornou o maior fracasso da carreira de Russell, que logo depois se arrependeu d éter realizado o filme.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

O caso Richard Jewell

“Richard Jewell”, de Clint Eastwood (2019) Novamente retratando uma história real, e assim como “Sully”, sobre um homem anônimo que subitamente vira herói e logo em seguida, um grande pária para a sociedade. ‘Sully” e “O caso Richard Jewell” são dois filmes que se complementam, protagonizados por grandes atores. Em ‘Sully” era Tom Hanks, e aqui é Paul Walter Hauser, que interpretou um racista em ‘Infiltrados no Klan” e agora é um pacato e infantilizado segurança que sonha em ser um policial. No dia 26 de julho de 1996, durante as Olimpíadas de Atlanta, um evento musical acontecia no Parque Centennial. O segurança Richard Jewell avistou uma mochila debaixo de um banco e imediatamente avisou aos outros policiais e seguranças que evacuassem o local. A bomba explodiu, 2 pessoas morreram e centenas ficaram feridas, mas o ato de Richard evitou mais mortes. Richard, um homem pacato, infantilizado e que mora com sua mãe, a discreta Bobi (Kathy Bathes, maravilhosa) em uma casa simples na Georgia, vivem 4 dias de alegria com o ato heroico do rapaz, largamente anunciado na mídia. Mas a mesma mídia, representado pela repórter Kathy Scruggs (Olivia Wilde), que obteve informações confidenciais do agente do Fbi Tom Shaw (Jon Hamm) , transando com ele, publica no jornal que o FBI suspeita que Richard é o terrorista e quis se promover com o ato. Imediatamente a vida de Richard e de sua mãe viram de pernas pro ar: repórteres na cola deles por 24 horas, FBI. Richard pede ajuda para o advogado Watson (Sam Rockwell, que ele conheceu em um trabalho há 10 anos atrás) e juntos precisam provar a sua inocência. O filme faz uma crítica cruel ao Fake News que destrói a vida de um cidadão comum, sem provas. Todos os grandes poderes americanos, FBI e mídia, são retratados de forma estereotipada por Eastwood, justamente para chamar atenção para os exageros desses agentes. A cena de Olivia Wilde chorando no discurso da mãe ficou muito falso, mas enfim, é um filme de expiação de Clint Eastwood, que resolveu em seus últimos filmes levantar a bandeira de heróis anônimos americanos. É um filme ufanista, que de certa forma protege o armamento e Clint ainda dá um tom homofóbico para Richard, que tenta a todo instante provar que não é gay. Clint continua conservador, mas mesmo assim, um grande cineasta aos 89 anos de idade. Curiosidade: Leonardo diCaprio foi um dos produtores do longa, que infelizmente, foi das piores bilheterias da carreira de Eastwood. Um filme que merecia ser visto por um circuito mais amplo de espectadores.