sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Mormaço

"Mormaço", de Marina Meliande (2018) Primeiro longa solo de Marina Meliande, que já co-dirigiu alguns trabalhos com Felipe Bragança ( A alegria, A fuga da Mulher gorila, "Mormaço" é um raro filme brasileiro que fala da crítica social e o traz a um filme de gênero. Terror? Fantasia? Realismo fantástico? Cada espectador interprete de sua forma, mas é inegável entender a grande referência do cinema de Polansky à obra, principalmente, "Repulsa ao sexo". O filme começa grandioso, mostrando grandes planos da cidade do Rio de Janeiro, decadente, opressora, suja, e vai acabando de forma claustrofóbica no apto da protagonista, Ana (Marina Provenzzano, excelente), uma defensora pública. O filme se passa às vésperas das Olimpíadas no Rio de Janeiro, e o governo quer desalojar uma comunidade que mora na área do Autódromo. Ana é responsável em defender os moradores. Ao mesmo tempo, ela está sendo desalojada de seu apartamento na Zona Sul, que será destruído para a construção de um hotel.Ana vai se deixando consumir psicologicamente, seu corpo vai aos poucos apodrecendo, uma metáfora de tudo o que passa ao seu redor: corrupção, sujeira, maus tratos, injustiça social, desemprego, falta de moradia. As pessoas reparam em suas manchas, feridas, mas não ha médico que resolva. O filme conta com o excelente trabalho de Marina Provenzzano, vista recentemente em "O grande circo místico", de Analu Prestes e do jovem ator Pedro Gracindo, muito bem no papel do representante da construtora. A direção de Marina segue lenta, para que o espectador se sinta desafiado nessa fábula de um pesadelo sem fim. Os efeitos de maquiagem são muito bons, e também a atmosfera impregnada ao filme. O filme lembra "Era o Hotel Cambridge", de Eliane Café, pela mistura de atores e dos desalojados reais, dando mais verdade oa projeto. Recomendado.

O ódio que você semeia

O o'dio que você semeia
"The hate U give", de George Tillman Jr (2018) Adaptação do livro de Angie Thomas, "O ódio que você semeia" tem a missão de ser "Faça a coisa certa"dos novos tempos. é um filme vigoroso, tenso, vibrante, repleto de cenas formidáveis, que falam sobre o embate de raças, credos, pensamentos, culturas e dicotomias sócio-econômicas. O cineasta negro George Tillman Jr. vem com força total nesse filme premiado em vários festivais, e que só peca por ter feito um drama de 133 minutos, tempo excessivo para essa história. O filme aliás, me lembrou o recente "Detroit" de Kathleen Bigelow, que sai perdendo na comparação, pois George Tillman Jr. tem o lugar da fala e sabe do que está falando. A adolescente negra Starr (Amandla Stenberg, absolutamente poderosa) é uma porta voz de toda a comunidade negra e dos injustiçados. Mav é casado e tem esposa e 3 filhos. Desde pequenos, as crianças possuem aulas de seu pai de comportamento perante a predominância branca e de como devem reagir na presença de brancos. O tempo passa. Starr já está uma adolescente, estuda e tem amigas brancas e namora um rapaz branco. Durante uma festa de colégio, ela revê um amigo de infância, Hkalil, negro e traficante, que vende drogas para bancar os seus sonhos profissionais. Quando saem da festa, são abordados por um policial branco, que acaba matando Khalil, por achar que a escova de cabelos dele era uma arma. Starr é a única testemunha, De início, ela fica arredia em testemunhar, mas aos poucos vai cedendo à voz da comunidade negra e acaba virando uma porta voz da justiça, mesmo que o traficante local a ameace. Com excelente direção e ótima atuação de todo o elenco, o filme recorre a clichês de dramas que apresentam embates entre podre branco e comunidade negra massacrada, mas o seu resultado final é tão poderoso que a gente esquece deslizes ( até mesmo o sub-plot amoroso entre Starr e seu namorado branco, dispensável). Um filme obrigatório que deve ser visto e discutido por todos, na mesma dobradinha do filme de Spike Lee, "Infiltrados na Klan".

quinta-feira, 29 de novembro de 2018

A mata negra

"A mata negra", de Rodrigo Aragão (2018) Divertido Filme B trash do Cineasta capixaba Rodrigo Aragão, Diretor dos cults "O Chupa cabras" e "Floresta negra", "A mata negra" foi o filme de abertura do Prestigiado Festival de filme de gênero Fantaspoa em 2018. O filme faz muitas referências à franquia de Sam Raimi, "A morte do demônio". Em uma região próxima à uma floresta, moram Clara ( Carol Aragão, filha do Cineasta) e seu pai que a adotou quando criança. Quando Clara vai até uma feira na cidade, ela conhece um homem e se apaixona por ele. No caminho de casa, ela encontra um homem estranho que lhe oferece o Livro perdido de Cipriano, em troca de Clara rezar pela sua alma. Quando Clara decide ir embora da cidade com o homem por quem ela se apaixonou, eles sofrem uma emboscada e o amante é assasinado. Desesperada, Clara pega o livro perdido e faz uma bruxaria para que ele volte ao mundo dos vivos. Mas esse ato irá trazer consequências trágicas a todos os envolvidos. Jackson Antunes faz uma participação como um Pastor conservador que quer matar Clara, acusando-a de bruxaria, e Francisco Gaspar, impagável, é um homem que mora com sua mãe idosa e a sua esposa grávida, e estrela os momentos mais divertidos do filme, quando uma galinha demoníaca ataca a todos. "A mata negra" é um filme de terrir bem Trash, e quem não curtir o gênero, nem assista. Os efeitos são toscos, muito sangue, mas tudo muito divertido, justamente porquê os exageros, tanto dos efeitos quando das performances, são sensacionais. Um momento antológico: a chacina em uma balada de forró. Se o filme fosse mais curto e tivesse menos sub-plots, teria sido bem mais divertido. Destaque para Carol Aragão, uma verdadeira Scream Queen do trash, cheia de dubiedades em sua personagem, que em determinado momento, quer sacrificar uma criança em uma bruxaria. Um futuro clássico, sem dúvida.

Fauve

"Fauve", de Jeremy Comte (2018) Chocado com a qualidade desse curta canadense super premiado, incluindo melhor curta em Sundance 2018. Direção, atuação, fotografia, edição, trilha sonora, tudo de um alto nível que me deixou chapado. Tyler e Benjamin são 2 garotos que brincam em um trem abandonado. Logo, a brincadeira segue até uma mina abandonada. Benjamin acaba entrando em um poço de cimento fresco e vai afundando. Tyler, desesperado, procura por ajuda. Mas o lugar está abandonado. O diretor Jeremy Comte também escreveu o roteiro e tem total domínio sobre o ritmo do filme, dando um tom cada vez mais tenso e assustador, algo comparável a "Encurralado", de Spielberg, mostrando a imensidão de uma locação "engolindo' o ser humano. Uma aula de cinema, enxuto, coeso, sem barriga e poucos diálogos. Cinema puro.

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Distrito

"District", de Anthony Bawn (2018) O Diretor Anthony Bawn é negro e gay assumido. Morando em Los Angeles, ele sentiu a necessidade de dar voz a personagens negros gays. Anthony , junto de seu marido Brestley Bawn, resolveu se mudar para Atlanta, considerada a Capital dos afro-americanos gays dos Estados Unidos, e fundou o Canal de Streaming "Bawn Tv", com conteúdo exclusivo LGBTQ+ com protagonistas negros. Anthony já realizou várias séries em seu canal, e o mais recente, "Distrito", baseado em livro de Tyson Anthony, inicialmente concebido para ser uma Web Série, acabou sendo lançado como longa-metragem. O filme é uma espécie de "Moonlight" do hiper baixo orçamento. "Brothers" que amam outros "Brothers", sem perderem a sua masculinidade. Eles traficam, se prostituem. Assim são Miller e Jayvon. Miller é um striper e trabalha para um homem poderoso da periferia aonde moram. A mãe de Miller está presa por defender Miller quando criança de seu pai, que abusava dele. Jayvon por sua vez, é um em teto e viciado em crack. Miller e Jayvon se curtem e transam alucinadamente, mas as vidas trágicas que cada um deles leva, os impede de serem felizes. Com uma estética suja, muito por conta da falta de dinheiro, acaba sendo um charme extra para a produção: edição de som ruim, fotografia sem marcação de cor adequada, falta de ritmo. Mas a coragem de Anthony Bawn em querer mostrar o submundo da periferia, com um elenco totalmente negro, com cenas de sexo intensas e repletas de testosterona, fazem valer a pena assistir ao projeto. Os 2 atores principais, Brandon Anthony e Jeffrey Erskine, nos papéis de Miller e Javyon, merecem ganhar as grandes produções: são fotogênicos e bons atores, se entregando totalmente à visceralidade do projeto.

terça-feira, 27 de novembro de 2018

Não há tampa no mar

"Umi no futa", de Keisuke Toyoshima (2015) Drama adaptado do livro de Banana Yoshimoto, "Não há tampa no mar" tem como tema o desapego, a mudança e o enfrentamento de novas perspectivas para um futuro incerto. Mari (Akiko Kikuchi, muito carismática) é uma jovem que decide abandonar Tokyo, após passar anos estudando e trabalhando com design, e resolve retornar à sua casa natal, na Ilha de Shizuoka. Nessa Ilha paradisíaca e tranquila, ela resolve pegar de volta para a sua vida, a calma e tranquilidade que a cidade grande lhe tomaram. ela revê amigos e seus pais, e resolve abrir uma pequena loja de raspadinha com xaropes. O negócio vai mal, e ela também precisa cuidar de Hajime, uma adolescente com trauma de infância, filha de uma amiga da mãe de Mari. Todos terão suas vidas transformadas nesse curto período de tempo. Singelo, simpático, o filme, dirigido pelo cineasta Keisuke Toyoshima, tem uma belíssima fotografia que valoriza as cores e paisagens da região. De início o filme parece que vai para um caminho mais light, mas do meio em diante, ele vai ficando triste. As cenas onde Mari prepara a raspadinha são muito bem realizadas e dá vontade de provar a iguaria.

A voz do silêncio

“A voz do silêncio”, de André Ristum (2018) Prêmio de melhor direção no Festival de Gramado 2018, “A voz do silêncio” é dirigido pelo mesmo realizador dos dramas familiares “Meu País” e “ O outro lado do Paraíso”. Em “ A voz do silêncio”, Ristum se apropria do filme mosaico celebrizado por Robert Altman e costura varias historias que acontecem em uma São Paulo capturada com cores deprimentes e melancólicas. São histórias de solidão, de vazio existencial, de cheiro de morte que se aproxima, de pais e a falta de comunicabilidade com seus filhos, desamor, desemprego, crise. As histórias em aí não tem nada surpreendente, são contos simples, singelos, naturalistas. Marieta Severo, Marat Descartes, Arlindo Lopes, e também um elenco de atores argentinos ( o filme tem co produção com a Argentina) compõem esse painel desalentador. Tudo lembra Win Wenders dos anos 70 e 80, mas visto hoje em dia, faltou algo mais original. Valeu a intenção, faltou punch.

Nos corredores

"In den gangen", de Thomas Stuber (2018) Drama alemão, vencedor de inúmeros prêmios em Festivais internacionais, incluindo 3 prêmios no Festival de Berlin 2018. O filme tem como protagonistas uma dupla de excelentes atores, em grande forma: Sandra Hüller ( de "Toni Ederman") e Franz Rogowski ( de "Victoria"). Christian (Rogowski) inicia um período de experiência em uma grande supermercado como estoquista de prateleiras. Um outro funcionário mais antigo, Bruno, ensina a Christian as regras da profissão e também, a manusear a empilhadeira. Christian conhece Marion (Huller), que cuida do corredor de doces como estoquista. Ambos se sentem atraídos, mas Marion é casada, e Christian, extremamente tímido. A história é um fiapo, mas o mais importante no filme, é o seu desenvolvimento, a psicologia de seus personagens. Marion e Christian possuem vidas muito, mas muito simples, sem grandes arroubos. Ambos não buscam grandes feitos, e estão satisfeitos com seu emprego. Felicidade para eles está nas pequenas coisas: um chocolate, um sorriso, um olhar. Com esse filme, o diretor Thomas Stuber faz um lindo retrato de vidas anônimas e vazias. Seus personagens convivem com todas as temáticas próprias de assalariados: risco de desemprego, falta de comunicabilidade, pouco salário, falta de ambição. O filme me lembrou "Arabia", o filme nacional que também tem como protagonista um ex-presidiário que tenta se recompôr na vida, conhece uma mulher por quem se apaixona e tem como amigo uma pessoa mais velha que acaba tendo fim trágico. O discurso de Christian com Bruno lembra muito também o de "Arábia", do protagonista com um funcionário mais velho que lhe relata a dureza da vida sem sentido. O filme é longo e desejei que tivesse 2o minutos a menos. Mas vale pelo retrato carinhoso e ao mesmo tempo frio do diretor para com os seus personagens. Linda fotografia e enquadramentos. Incrível como o ator Franz Rogowski lembra bastante o americano Joaquim Phoenix, até no lábio leporino e no registro físico.

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

A balada de Buster Scruggs

"The ballad of Buster Scruggs", de Joel e Ethan Coen (2018) Exibido no Festival de Veneza 2018, de onde saiu com o Prêmio de melhor roteiro, "A balada de Buster Scruggs" foi financiado pela Netflix, o que é uma pena, por conta da potencialidade cinematográfica em tela grande. Não é um filme para a tela pequena. A fotografia extraordinária de Bruno Delbonnel ( de "Amelie Poulain") , explora com requintes de obra de arte as locações desse faroeste que ao mesmo tempo que parece uma homenagem aos filmes de John Ford (batalha com índios, cenas longas dentro de carruagens, caçada ao ouro, etc) , traz o que os irmãos Coen têm de melhor: muito humor negro, lirismo, bizarrice, surrealismo e violência extrema. O filme é dividido em 6 episódios, todos extraídos de um livro que é folheado ao longo da narrativa, algo como "Era uma vez..". Ep 1- A balada de Buster Scruggs. Buster Scruggs é um perigoso fora da lei apesar de não aparentar, por conta de sua fisionomia franzina ( uma performance insana de Tim Blake Nelson). Misto de faroeste e musical surreal, o filme mostra os duelos de uma forma totalmente inusitada e debochada. Ep 2- Near Algodones. James Franco interpreta um assaltante de bancos que é condenado à forca. Mas quiz o destino que ele tenha o seu destino traçado de outra forma. Esse episódio é o mais curto e o mais engraçado de todos. Ep 3- The meal ticket. Esse é o episódio mais melancólico e contundente de todos. O final é arrebatador. Lian Neeson interpreta um mestre de cerimônias, cuja estrela de seu show é um poeta sem braços e sem pernas ( linda performance de Harry Melling. Mas o público vai ficando cada vez menor, e o homem precisa mudar o show. Um show de direção e técnica, numa metáfora sobre o que é Arte nos dias de hoje. Ep 4- All gold Canyon- Esse é o episódio que eu mais gostei, muito por conta do tom de fábula à La Walt Disney, quanto pela perfomance impecável de Tom Waits, no papel de um velho garimpeiro obcecado em encontrar ouro. Merecia prêmio de melhor curta. Ep 5- The gal who got ratted poderia ter sido um dos grandes episódios do filme, mas a sua longa duração lhe tira sua força, apesar do desfecho totalmente inesperado e cruel. O filme começa como drama, emenda em romance e termina em uma grande batalha. Linda atuação de Zoe Kazan no único papel feminino de peso do filme Ep 6- The mortal remains- Esse episódio poderia ter sido retirado do filme, que tem quase 130 minutos de duração. É chato, apesar dos bons atores, e acontece todo dentro de uma diligência ( uma homenagem explícita ao filme de John Ford, "No tempo das diligências"). O desfecho pode ser encarado como uma metáfora sobre a morte, tema comum a todos os episódios.

#Ninfabebê

"#Ninfabebê", de Aldo Pedrosa (2017) Longa independente de suspense psicológico, "#Ninfabebê" ganhou o Edital do Fundo Municipal de Cultura de Uberada, cidade onde o longa foi rodado. Realizado com muito pouco dinheiro, o filme se passa todo dentro da casa de Cibele (Dandara Adrien), uma adolescente viciada em redes sociais e que expõe tudo o que ela faz na Internet. Quando seu pai e sua madrasta viajam no final de semana, Cibele chama sua melhor amiga, Daiana (Giovanna Almeida), para beberem, se exibirem na internet e se drogar. Mas o excesso de exposição acaba tornando o final de semana das amigas em algo trágico e violento. Para se assistir ao filme, temos que ser condescendentes e pensar que tudo foi feito com pouca grana e com uma equipe com pouca experiência. Tecnicamente, o filme é fraco: fotografia, roteiro, direção de arte e som. Mesmo assim, o longa conseguiu a grande proeza de ser convidado para dezenas de Festivais, sendo premiado no Festival da Romênia com 3 troféus. As duas atrizes tentam dar conta de suas personagens irritantes. O que seduz o espectador, principalmente os jovens, é o seu tema, que traz uma denúncia e uma crítica ao excesso da exposição na internet, e fala sobre os riscos de se expor demais na sua rotina, chamando a atenção de bandidos. A violência gore no filme beira o trash, mas provavelmente, a garotada irá se divertir bastante.

domingo, 25 de novembro de 2018

Noite de lobos

"Hold the dark", de Jeremy Saulnier (2018) Adaptação do livro homônimo de Willian Giraldi, "Noite de lobos" é dirigido pelo mesmo realizador de "Ruína azul"e "Sala verde", dois filmes cults que possuem muito em comum com "Noite de lobos": violência extrema, vingança e psicopatia. Jeremy Saulnier adora criar uma atmosfera sombria e de pesadelo para ambientar os seus filmes. Em "Noite de lobos", ele fala de matricídio, incesto, incomunicabilidade entre parentes e repressão sexual. Tudo isso misturado a uma salada de gêneros que torna o filme algo inclassificável: é ação? Guerra?Suspense? Terror? Policial? Drama? O filme tem tudo isso, e ainda tem um desfecho bastante confuso, deixando o espectador entender o que bem quiser. É um filme complexo na sua narrativa e história, e provavelmente, deixará muita gente puta pelo final em aberto. Afinal, o que o filme quer falar? Eu penso que a mensagem do filme é a relação pais e filhos, e através de seus personagens, entender como a falta de comunicação entre algumas famílias pode terminar em tragédias, ao passo que outras encontram redenção. Russel (Jeffrey Wright) é um escritor de um livro sobre lobos, e há tempos não se comunica com sua filha. Ele é contratado por uma mulher, Medora, para descobrir o paradeiro do lobo que levou sue filho pequeno e que provavelmente o matou. Russel segue até a cidade de Keelut, no Alaska. Paralelo, acompanhamos Vernon (Alexander Skarsgård), um soldado americano lutando no Iraque. Ao ser ferido em ação, ele volta para Keelut, e descobrimos que ele é marido de Medora. Todas as histórias se entrecruzam, seguindo um rumo de violência sem fim. O diretor Jeremy Salnier quiz contar muitos sub-plots e o filme se esvazia e fica muito, muito longo. O roteiro é confuso, e chega a ser bizarro, pois tudo vai ficado quase surreal e eu mesmo fiquei meio perdido, tentando entender que história estava sendo apresentada. O que vale a pena no filme, são os atores e uma cena longa e bastante violenta de tiroteio, que mesmo que não faça muito sentido dentro da trama, é muito bem feita e lembra a cena do tiroteio em "Nascido para matar", com o atirador escondido e inatingível.

sábado, 24 de novembro de 2018

O segredo de Davi

"O segredo de Davi", de Diego Freitas (2018) Longa de estréia de Diego Freitas, realizador do excelente curta de suspense psicológico "Sal", baseado na história do canibal alemão Armin Welmes, que em 2002, contactou um parceiro sexual pela internet e depois o devorou. Agora, em "O Segredo de Davi", novamente Diego retorna ao tema do assassino que mata por prazer. Só que, diferente do tom do seu curta, ele aposta agora no fantástico e no sobrenatural. O que os aproxima é o tom de homoerotismo latente entre seus protagonistas. Davi (Nicholas Prattes) é um estudante de cinema, órfão de pais. Ele mora sozinho, e tem um grupo de colegas nerds da faculdade. Um dia, ele conhece um estudante de cinema mais velho, Jonatas, e as coisas começam a se tornar estranhas para Davi. Para piorar, ele usa sua câmera para bisbilhotas seus vizinhos, e acaba matando a senhora do prédio da frente. Boa parte da crítica comparou o filme a "A casa que Jack construiu", de Lars Von Triers. O tema até pode ser parecido, sobre um serial killer que não busca suas razões para seus atos criminosos. Mas "O Segredo de Davi" tem um terceiro ato que apresenta um flashback que procura explicar os traumas do protagonistas, e é aí que o filme fragiliza. O filme, que caminhava pelo olhar mais realista, acaba indo para um outro tom, que para mim, fez cair o rendimento do roteiro, até então, interessante. Mas o filme tem qualidades: a técnica, principalmente os efeitos de computação gráfica, e a performance de Nicholas Prattes, que mesmo se cercando de maneirismos , tem um interesse, seja pela juventude e frescor do personagem, seja pela frieza de seus atos.

Morto não fala

"Morto não fala", de Dennison Ramalho (2018) Diretor dos cultuados curtas "Ninjas" e "Amor de mãe", Denisson Ramalho ocupa na cinematografia brasileira um espaço honrado de um dos Maiores Diretores de filmes de gênero reconhecido em Festivais do mundo inteiro. "Morto não fala" foi exibido em vários Festivais, entre eles, BFI Film Festival, Sitges e Fantasia. Com um roteiro ousado e bastante criativo do próprio Denisson e de Claudia Jouvin, apostando em uma mistura deliciosa de filme de terror com a realidade da violência urbana da periferia da grande São Paulo ( traficantes, desemprego, dificuldade econômica, assassinatos), o filme encontra no seu elenco a grande força que precisa para ser reconhecido por uma parcela da platéia que ainda vê os filmes de terror com certo desdém. Daniel de Oliveira, Marco Ricca, Bianca Comparato e principalmente a grande performance insana e corajosa de Fabíula Nascimento, em seu melhor papel no Cinema. Parabéns pela coragem desses atores consagrados de terem acreditado e apostado nesse filme tão bizarro e ao mesmo tempo tão excepcional. Stenio (Daniel de Oliveira) trabalha em um necrotério e tem o dom de poder falar com os mortos. Ele desabafa a sua vida com os mortos, da mesma forma que os mortos com ele. Stenio mora em uma comunidade pobre da periferia de São Paulo. Sua esposa, Odete (Fabíula) almeja uma vida melhor. Os dois têm 2 filhos pequenos. Quando um morto conta um segredo para Stenio, ele se utiliza disso para poder se vingar de Odete. Essa vingança irá provocar uma catarse na vida de Stenio e de seus filhos. A parte técnica do filme, fotografia, edição, direção de arte e claro, a maquiagem e efeitos, estão todos de alto nível. Claro, por ser uma homenagem ao Filme B, os efeitos de maquiagem às vezes sôa grotesco, mas o fã de terror sabe que isso faz parte da concepção. "Morto não fala" é um filme que merece ser visto, é um filme diferente, original, com uma idéia incrível que entrega personagens que não não mocinhos nem bandidos, apenas pessoas comuns às vezes em um dia ruim. A cena de Fabíula e Marco Ricca sendo achacados pelos traficantes é um primor de realização. O filme venceu no Festival Rio Fantastik 2018 os prêmios de Melhor Atriz para Fabíula, e de melhor Diretor pela crítica.

Dead Teenager Seance

"Dead Teenager Seance", de Dante Vescio and Rodrigo Gasparini (2018) Diretores do insano filme de terror brasileiro "O Diabo mora ao lado", a dupla de roteiristas e diretores agora surge com esse curta divertidíssimo, que homenageia personagens e temas queridos de fãs de terror: o serial killer mascarado e rituais satânicos. O filme é B na veia, e um verdadeiro deleite para a platéia nerd. Um casal, Rocky e Punk, invade a casa abandonada onde ocorreram vários assassinatos. Adam, o serial killer, surge, e mata a menina Punk. Ela vai parar no limbo, e descobre que outros nerds assassinados por Adam se encontram ali, e decidem fazer um ritual para trazer Adam ao limbo e matarem ele de vez. Criativo, divertido, o filme surpreende pela excelente concepção visual, carisma dos personagens, todos arquétipos de filmes do gênero. Os diretores, fica muito evidente, amam o que fazem e assistir ao filme é trazer a nostalgia daqueles filmes deliciosos dos anos 70 e 80 para os fãs marmanjos.

A sombra do pai

"A sombra do pai", de Gabriela Almeida (2018) Segunda incursão em longa de Gabriela Almeida no gênero terror, após sua vigorosa estréia com o excelente "O Animal cordial". Dessa vez, a roteirista e Diretora Gabriela Almeida sai do realismo e investe no terror sobrenatural homenageando os filmes clássicos "O Cemitério maldito" e "A volta dos mortos-vivos", filmes onde o morto ressuscita para assombrar os vivos. No filme, acompanhamos Dalva ( a menina Nina Ribeiro, excelente), órfã de mãe, que mora com seu pai, vivido com brilho pelo ator Julio Machado, e com sua tia, Cristina (Luciana Paes, como sempre, roubando cenas). O pai trabalha como operário de obras, e vive em luto constante pela morte da esposa, acusando sua filha pela morte da esposa. Dalva, por sua vez, acredita que a sua mãe ira retornar do mundo dos mortos para aliviar a solidão dela. Com um roteiro que brinca com os arquétipos de filmes de terror, mas trabalhados dentro do âmbito do cinema autoral, "A sombra do pai" tem uma direção segura e criativa de Gabriela Almeida, que aposta em clima e em enquadramentos bastante rígidos. Toda a parte técnica é bastante competente, resultando em 3 prêmios ganhos no Festival de Brasília 2018: Melhor som, edição e atriz coadjuvante, para Luciane Paes. No Rio Fantastik, o filme ganhou melhor filme e ator. É um filme corajoso, audacioso e repleto de frescor, realizado com paixão por uma grande fã do cinema de terror.

Para minha gata Mieze

"Para minha gata Mieze", de Wesley Gondim (2018) Curta LGBTQ+ de terror premiado no Festival de Brasília 2018 como Melhor roteiro de curta, e no Rio Fantastik como melhor curta. Com um roteiro criativo e bastante original de Wesley Gondim, essa produção de Brasília conta a história de uma vingança sanguinolenta. Um dono de uma veterinária sofre um ataque de vândalo durante a madrugada. No dia seguinte, ele recebe um convite de um homem para um jantar romântico. Durante o jantar, acontecem fatos estranhos que culminarão em uma verdadeira chacina. O filme aposta em homoerotismo e um desfecho digno da franquia "Jogos mortais": aliás, parabéns à excelência dos efeitos especiais, que não devem nada ao padrão internacional. O Diretor consegue criar uma ótima atmosfera de filme de suspense, se baseando em muitas referências clássicas, como o próprio "Silêncio dos inocentes". Ótimas fotografia e edição.

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Corações puros

"Cuori puri", de Roberto de Paolis (2017) Vencedor de vários prêmios internacionais, "Corações puros"também concorreu no Festival de Cannes 2017 na Mostra Quinzena dos realizadores. A linguagem do filme se assemelha bastante da filmografia dos cineastas belgas Dardenne: protagonistas marginalizados, câmera documental, temática humanista. Agnese é uma jovem de 17 anos, cuja mãe é uma católica super repressora que chega a confiscar o celular da filha para que ela não troque mensagens "obscenas" com suas amigas e pretendentes. A educação dela e regida à mão de ferro. Agnese rouba um celular em uma loja e é presa por um segurança, Stefano, que a acaba liberando. Stefano acaba indo trabalhar de segurança em um estacionamento vizinho a um acampamento cigano, e acaba reencontrando Agnese. Os dois acabam se relacionando, e fazem sexo. Agnese sente-se traída por Stefano, pois a sua religião somente permite fazer sexo após o casamento. Com ritmo lento e arrastado, o filme tem ótimos atores e uma linda cena de sexo. A câmera na mão vai de encontro aos dois protagonistas, mas senti que o filme ficou redundante na segunda metade. Tivesse vinte minutos a menos, o filme ficaria mais interessante. Roberto de Paolis dirige bem seus atores, e acaba fazendo uma crítica à religiosidade excessiva por parte da população italiana, e aproveita para falar sobre a alta taxa de desemprego e imigração dos refugiados. Em determinado momento, uma personagem diz: "O governo paga 2 mil dólares por refugiado e lhe dão casa e comida. Eu que trabalho acabo sendo expulso de casa. Isso é injusto". é um filme que suscita vários temas polêmicos e rende boa discussão após a sessão.

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Onde o Verão Vai: episódios da juventude

"Onde o Verão Vai: episódios da juventude", de David Pinheiro Vicente (2018) Premiado curta português, 100% realizado por alunos da Escola Superior de Teatro e Cinema (ESTC). O filme ainda concorreu na Mostra oficial do Festival de Berlin 2018. O Diretor David Pinheiro Vicente escalou alunos de Teatro da ESTC para dar vida aos 6 protagonistas do filme. Inspirado em um conto de Emily Dickinson, e esteticamente tendo como referência o cinema de Lucrecia Martel, David apresenta a história de 6 adolescentes que estão em um carro, apertados, sensualmente suados em um dia de muito calor. Chegando na floresta, eles se misturam à natureza, e a atmosfera e o ambiente propicia aos jovens uma sensação de furor e liberdade sexual. O filme pode ser visto de uma forma realista ou simbólica. Com poucos diálogos e imagens em planos longos, o filme apresenta os jovens em roupas íntimas, corpos de enroscando, muito erotismo latente entre meninos, meninas e integrantes do mesmo sexo. É uma obra em aberto: a história em si não diz muita coisa, por isso é importante esse referência à Lucrécia Martel: ouvimos o som ambiente da floresta, e um clima de forte tensão sexual, corpos sujos de terra, assim como em "O pântano", filme mais famoso da cineasta argentina. O filme tem um ritmo lento, mas uma interessante sensualidade pairando o tempo todo na tela.

Crimes em Happytime

"The Happytime murders", de Brian Henson (2018) Um dos maiores fracassos de bilheteria americanos do ano ( custou 40 milhões de dólares e não rendeu nem metade) e tendo 25% de aprovação no Rotten Tomatoes, "Crimes em Happytimes" será eternamente lembrado como o Filme adulto dos Muppets. Brian Henson é filho de Jim Henson, falecido recentemente, e criador do Muppets. Aqui, Brian cria bonecos semelhantes aos que seu pai criou, envoltos em cenas de sexo, masturbação, vagina exposta fazendo referência a "Instinto selvagem", jorros de esperma, etc. Não, em hipótese alguma, mostre esse filme para uma criança. Ele chega a ser mais pornográfico do que "A festa da salsicha", animação que já havia causado a ira de pais escandalizados com vulgaridade. O filme apresenta uma Los Angeles onde humanos e bonecos convivem juntos. O problema é que não existe mais harmonia: os bonecos sofrem bullying e são maltratados pelos humanos, como escórias. Phil, um policial boneco, investiga os assassinatos de integrantes de um programa de Puppets dos anos 90. Para ajudá-lo, é chamada a policial Connie (Melissa McCarthy), antiga parceira de Phil e com quem ele já teve um incidente trágico. O filme aposta na já gasta relação entre dupla de policiais que não se dão bem. Melissa MAccarthy faz aquele tipo da mulher meio machona e desbocada, típica dela. Tecnicamente o filme é muito bem feito, e inclusive nos créditos finais, a produção apresenta como foram feitos os movimentos dos bonecos. Tudo no filme é uma grande bobagem, mas a coragem de se fazer um filme adulto e pornográfico, vale a curiosidade. É um filem vulgar ao extremo, ousado, pena que com um roteiro bastante ingênuo. Outra situação divertida e de certa forma macabra, é de ver os bonecos sendo assassinados com tiros na cabeça, mutilados e sendo despedaçados. A trilha sonora está repleta de hits, incluindo "Never gonna give you up", de Rick Astley.

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Nós, os animais

"We, the animals", de Jeremiah Zagar (2018) Drama adaptado do livro de Justin Torres, "Nós, os animais" ganhou diversos Prêmios em Festivais Internacionais, incluindo um Prêmio especial em Sundance 2018. O filme, ambientado na Nova York da periferia rural dos anos 80, apresenta a família liderada por Paps ( Raul Castillo, aqui um pai e marido machista e violento, enquanto que na série "Looking" ele interpretava um homossexual), a matriarca Ma e os 3 filhos pequenos: Jonah, Joel e Manny. O pai é latino, e os filhos também nasceram com traços latinos. Os 3 filhos vivenciam diariamente a relação destrutiva dos pais, testemunhando cenas de violência doméstica. Jonah ( Evan Rosado, brilhante), o caçula, escreve diariamente em seu diário relatos sobre os seus pais, além de fazer desenhos lúdicos e homoeróticos. Até que um dia, seus pais descobrem seu diário. Filme de estréia de Jeremiah Zagar, o forte da produção é o excelente trabalho de direção de atores: tanto os adultos quanto as crianças estão formidáveis. Jeremiah aposta no naturalismo. Esteticamente, seu filme lembra demais Terence Malick e "Moonlight". Bela fotografia, aquela atmosfera etérea que Malick tanto adora em grandes angulares. Um belo e doloroso filme, sobre a descoberta da sexualidade.

terça-feira, 20 de novembro de 2018

Verão

"Leto", de Kirill Serebrennikov (2018) Diretor do excelente drama "O estudante", que concorreu em Cannes 2016, "Verão" é uma cinebiografia dos vocalistas de Rock de vanguarda soviético Viktor Tsoi e Mike Naumenko, das bandas Kino e Zoopark, respectivamente. "Verão" concorreu em Cannes 2018, e é ambientado em 1981, na União Soviética comunista, mais precisamente, em Leningrado, berço do rock do País. Nesse contexto histórico, o rock americano estava proibido, e tudo o que era consumido vinha do mercado negro: David Bowie, Blondie, Iggy Pop, Lou Reed, Beatles, etc. Nos shows, a platéia tinha que se comportar como se estivessem em uma palestra: sentados, sem gritos, quietos e no máximo, aplaudindo, sob os olhares atentos de agentes do governo. As letras das músicas passavam pela censura. Mike, casado com Natasha e pai de um bebê, é vigia, e nas horas vagas, se apresenta com sua banda Zoopark na Casa do Rock. Seu grupo faz sucesso, e ele é uma espécie de mentor de todas as novas bandas. Até que surge Viktor, que encontra em Mike seu mentor, e que se apaixona por Natasha. Ela retribui. O filme apresenta de forma brilhante, um olhar sobre a juventude em tempos de comunismo, e o desejo de liberdade, tanto cultural, quanto social e de relacionamentos. A direção de arte, figurino, maquiagem, e principalmente, a arte gráfica , que transforma em grafismos de video-clip de época as intervenções musicais ( o filme apresenta 3 clips antológicos: "Psicho Killer", "Perfect day"e "Passenger". Fora isso, a trilha com canções russas também são sensacionais. "Verão" apresenta uma atmosfera nostálgica, e eu mesmo me emocionei várias vezes, me teletransportando para os anos 80. Ótimos atores, muitas cenas antológicas e um lirismo que arrebata.

Sonho Florianópolis

"Sueño Florianópolis", de Ana Katz (2018) Co-produção Argentina/Brasil, "Sonho Florianópolis" se passa nos anos 90, e é um filme com olhar feminino sobre a chegada da meia idade e o tédio decorrente de anos de casamento. Como se reinventar? Ainda dá tempo? O filme não oferece muitas respostas, mas oferece alguns momentos de felicidade e prazer durante as férias da família de Pedro e Lucrecia (Mercedes Morán (genial) e seus 2 filhos adolescentes, Julian e Flor. O casal está em cris no casamento, escolhe o aniversário de Lucrecia para poder passar umas semanas em Florianópolis e entender se é melhor se manterem unidos ou se separar definitivamente. Ambos são psicanalistas e convivem há 22 anos. Ao chegarem, conhecem o ex-casal Marco (Marco Ricca, impagável) e Larissa (Andrea Beltrão). Marco aluga uma casa para a família argentina. Em pouco tempo, os casas se misturam, diante da crise de ambos os casamentos. Durante todo o filme, fiquei me lembrando de "Shirley Valentine", filme clássico sobre a virada na vida de uma mulher de meia idade classe média. Lucrecia quer se reinventar, mas não sabe como. O filme acompanha com simplicidade, a rotina dessa família, em momentos de fino humor , drama e melancolia. A direção sutil de Ana Katz, que permite que os atores improvisem, e os tempos dos planos, deixam claro que o tédio da vida continua, mesmo que nas férias. O filme possui muitas cenas divertidas e diálogos deliciosos.

Todas as canções de amor

“Todas as canções de amor”, de Joana Mariani (2018) Cinema e música sempre andaram de mãos juntas, desde a época do cinema mudo. É mais do que óbvio que uma boa música traZ elementos diegéticos que traduzem os sentimentos dos personagens. Foi assim em filmes como “Ouça essa canção”, de Cacá Diegues, “ 9 canções”, de Michael Winterbottom e “ Alta fidelidade, de Stephen Frears. “Todas as canções de amor” são 2 filmes em um: tem o Musical amparado por uma seleção de músicas que falam de amor, que vai de Blitz, Cartola, Gilberto Gil, Marina Lima, Kaoma, Zeze de Camargo e Luciano. Essa é a melhor parte. Quando o filme parte para a história de dois casais, um nos anos 90 e outro nos dias de hoje, conectados ao mesmo apartamento, fiquei pensando: que gente chata! “White people’s problema “, diria um amigo meu. Gente bonita, rica, mal amada e irritante. Mas para me conectar a essa história, precisei me apegar ao clássico de Coppola, “Do fundo do coração”, e aí entender a proposta dessa galera. É um romance que fala sobre desilusão, falta de comunicação, liberdade, aceitação, e é claro, entender o significado da palavra Amor. Chico ( Bruno Gaglisso) e Ana ( Marina Ruy Barbosa) vivem nos dias de hoje e são recém casados que se mudam para um apartamento luxuoso em São Paulo. Lá, Ana, que quer ser escritora, encontra um aparelho antigo de som e uma fita cassete com o título de “ Todas as canções de amor”, editada por Clarisse ( Luiza Mariani), que viveu ali nos anos 90 com Ruy ( Júlio Andrade) e estão no fim de um casamento. O filme tem linda Fotografia de Gustavo Hadba, direção delicada de Joana Mariani e criativa montagem de Leticia Giffone que mescla os dois tempos. Mas faltou para ser perfeito, um roteiro que tornasse os personagens mais carismáticos. Juro que tive vontade de entrar na tela e dar na cara dos quatro protagonistas.

A distração de Ivan

"A distração de Ivan", de Cavi Borges e Gustavo Melo (2009) Premiado curta-metragem da Produtora Cavideo, vencedor de inúmeros prêmios, entre eles Melhor Curta no Festival de Amazonas e Festival Cine PE em 2009, além de ter concorrido no Festival de Cannes em 2010, é inspirado na infância de um dos Diretores, Gustavo Melo, que nasceu e cresceu em Brás de Pina, Bairro do subúrbio carioca, onde foi rodado o filme. A Brás de Pina retratada pelo filme tem um ar nostálgico, de doce infância, e o filme poderia ter sido perfeitamente um filme de época, pois não existem elementos tecnológicos. Ivan ( o ótimo ator mirim Rodrigo da Costa) não vê tv, não usa celular nem computador. ele brinca com seus brinquedos afogando-os na caixa d água de sua casa. Tem os amiguinhos da rua, com quem joga bola. No filme, é retratado um dia na vida de Ivan. Um grupo de amigos adultos joga bola em frente da casa de Ivan e toda hora a bola cai no quintal de sua casa, para angústia de sua avó ( Myriam Pérsia, excelente resgate de uma bela atriz, que na época lecionava no Grupo Nós do Morro). Ela fura a bola e por conta disso, Luciano Vidigal, um dos integrantes do grupo, se vinga do pequeno Ivan. O que Ivan irá fazer? O filme tem o grande dom de trazer um olhar infantil naturalista, sem cacoetes e estereótipos da infância, no mesmo tom de "O menino Maluquinho". São filmes nostálgicos, com aquela melancolia impregnada em cada fotograma, aquela paixão por um momento de nossas vidas, que vistas com o olhar de adultos, provocam saudades. Mas o que o filme quer dizer é que para uma criança, muitas vezes, o desabafo vem na forma de um grito mudo. Um desfecho emocionante. Bela direção da dupla e uma linda trilha sonora que evoca a cena final de "Central do Brasil": enquanto no filme de Walter o menino corre, aqui ele anda de bicicleta. Destaque também para a fotografia de Paulo Castiglioni. https://www.youtube.com/watch?v=1cac_VJ7_3o

Corpo estrangeiro

"Strano telo", de Dusan Zoric (2018) Curta Sérvio que concorreu na Mostra Oficial do Festival de Veneza 2018, certamente é um dos filmes mais ousados e polêmicos a que assisti recentemente, e que deve provocar a ira das feministas. O filme apresenta cenas de sexo explícito e violência, e os dois atores principais, Marko Grabez e Miodrag Dragicevic se entregam por inteiro aos seus personagens viscerais. Em 1994, "Marko" é um menino de 4 anos de idade. "Miodrag" é uma adolescente e ela narra em depoimento ter sido estuprada por 2 soldados sérvios durante a Guerra da Bósnia. Corta para os dias de hoje. "Marko", já adulto, resolve ir até uma balada para encontrar uma garota e transar com ela, sem compromissos, uma forma de provar a sua masculinidade para os seus colegas de natação. Ele acaba conhecendo "Miodrag", uma mulher mais velha. Ela o leva para a sua casa, e transam. No entanto, "Miodrag" pede para que "Marko" a espanque. de início, ele se assusta, mas acaba descobrindo em sia uma agressividade que ele mesmo desconhecia. A cena de sexo explícito, em um plano-sequência, é de uma naturalidade que me deixou perplexo. O filme parte de uma polêmica premissa de que a mulher que possui trauma de violência sexual, acabou contraindo esse vício para a sua vida pessoal. A vítima do estupro sai em busca de homens na noite para que eles a espanquem, como se reproduzissem o estupro. E pior: parte do princípio de que dentro de cada homem, por mais pacato que seja, existe um estuprador adormecido. Sendo bom ou sendo ruim, é inegável a coragem do realizador Dusan Zoric. Vale lembrar que a Sérvia é o mesmo País que produziu um dos filmes mais chocantes da história do Cinema, "Um filme Sérvio".

O assassino de Clovehitch

"The Clovehitch Killer", de Duncan Skiles (2018) Exibido no Festival de Los Angeles, esse suspense é livremente baseado em uma história real. Na cidade e Clovehitch, há 10 anos atrás, ocorreram 10 assassinatos de mulheres, todos com o mesmo requinte de crueldade: amarradas em uma sessão de Bondage e sadomasoquismo, sufocadas até à morte. 10 anos depois, uma família respeitada e tradicional da cidade, liderada por Don (Dylan McDermott), casado e pai de dois filhos, entre eles, o adolescente Tyler (Charlie Plummer). Tyler é escoteiro, e a família, religiosa. Tyler encontra no carro de seu pai uma foto de uma mulher amarrada e passa a suspeitar que sue pai é o serial killer. Mas a sua veneração por seu pai é tão grande, que mesmo com indícios, ele não quer acreditar. Ótimo roteiro, construído em ritmo lento pelo Diretor Duncan Skiles, que prefere narrar o seu filme pelo ponto de vista de Tyler. Não é um filme sobre os assassinatos do serial killer, e sim, sobre alguém próximo a um possível assassino. Ótima direção e atores em excelente performance. Dylan McDermott tem uma sequência dentro de seu quarto absolutamente brilhante, um personagem bastante controverso. Vale assistir como construção de personagem. O filme tem aquele charme de produção independente, dando uma atmosfera de suspense muito interessante.

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Jonathan

"Jonathan", de Bill Oliver (2018) Co-escrito e dirigido por Bill Oliver, "Jonathan" é seu longa de estréia. Pretensioso, seria melhor dizer que Bill Oliver quiz fazer o seu "Gêmeos-mórbida semelhança", de David Cronemberg, mas falhou feio. Faltou ousadia, faltou um Ator mais visceral, não que Ansel Elgort seja mal ator. Ele é bom, mas depende muito do tipo de personagem que lhe dão para interpretar. Ainda falta estofo para ele dar vida a um personagem de dupla personalidade. Ansel Elgort interpreta Jonathan e Jon. Um caso raro de estudo médico, ambos os irmãos gêmeos habitam o mesmo corpo. essa pesquisa está sendo coordenada pela Médica Mina (Patricia Clarkson), que cuida dos irmãos desde a infância deles, quando a mãe os abandonou. Jonathan vive no corpo de 7 da manhã às 19 horas, enquanto Jon vive de 21 às 7 da manhã. Jonathan é certinho, nerd, e vive de dia. Jon é mais porra louca, vive de noite. No pacto que os irmãos promovem, eles precisam gravar todos os dias, um vídeo-depoimento, relatando o que o outro fez na ronda dele. Uma regra em comum: eles não podem namorar. Mas Jonathan passa a desconfiar que Jon não está lhe contando tudo, e contrata um detetive particular para seguir Jon., Recentemente, na Netflix, teve o filme "O que aconteceu com Segunda-feira", com Noomi Rapace interpretando 7 irmãs que precisam relatar o seu dia para que as outras irmãs possam saber. O tema é bastante semelhante. A diferença, é que os irmãos aqui nunca contracenam juntos. "Jonathan" acaba sendo um filme bastante chato, lento, e pior, confuso. O desfecho era para ser emocionante, mas acaba ficando sem sal e entenda quem quiser.

domingo, 18 de novembro de 2018

Estranha presença

"The little stranger", de Lenny Abrahamson (2018) Adaptação do romance gótico de suspense, "Estranha presença", de Sarah Waters, o filme doi dirigido por Lenny Abrahamson, realizador de "O quarto de Jack", filme que lançou Brie Larson e Jack Tembley ao estrelato. O filme se passa em 2 épocas: 1919 e 1948. A protagonista do filme é a imponente mansão aristocrática Hundreds Hall, que viveu seu apogeu antes da 2a guerra, mas que, ao fim da mesma guerra, já se encontra em decadência, e a sua família, Ayres, em péssima situação financeira, Faraday em 1919 era o filho de uma das empregadas da Mansão, e passou boa parte do seu tempo invejando a vida de luxo e glamour dos filhos dos Ayres. Crecsido, ele agora é médico ( Domhnall Gleeson). Ele recebe um chamado para cuidar de um paciente na mansão que ele não visitava há 30 anos. Ele reencontra a Sra Ayres (Charlotte Rampling), sua filha Caroline (Ruth Wilson) e o outro filho, Roderick, desfigurado em guerra, Ele percebe que fatos estranhos acontecem na casa, e logo percebe que algo sobrenatural pode estar ali, habitando: será o fantasma da pequena Suki, a filha da Sra Ayres que morreu quando criança? Não dá para falar muito sobre o filme, pois pode virar spoiler. Mas pode-se dizer que um dos temas do filme é a desigualdade social. O filme faz questão de marcar a diferença entre a classe dos trabalhadores e a dos aristocráticos. O filme é longo, quase 2 horas, e tem um ritmo bem arrastado. é vendido como um filme de terror, mas está muito longe disso. Não assusta, não é um filme de terror. Os atores estão ok, mas nada que todos já não tenham feito melhor. Uma pena, pois a premissa é interessante e poderia ter rendido um ótimo suspense, tipo "Os outros". Ficam uma excelente qualidade técnica, suplantando os defeitos do filme: fotografia, direção de arte, tudo perfeito.

sábado, 17 de novembro de 2018

Sete minutos

"Sete minutos", de Cavi Borges, Julio Pecly e Paulo Silva (2007) Premiado com o Troféu Redentor de melhor curta do Festival do Rio em 2007, "Sete minutos" é um exercício de filme de ação em plano-sequência de 7 minutos. Todo filmado na Comunidade do Coroado no Rio de Janeiro, o filme apresenta os últimos 7 minutos de vida de um traficante, que sai pelas ruas da comunidade com arma em punho, em busca do traficante rival. A linguagem do filme é toda de videoclip em primeira pessoa: nunca vemos o rosto do protagonista, apenas sua arma e a sua voz off , furiosa. A direção a seis mãos funciona que é uma maravilha, e é impossível não se deixar envolver pelo filme, que é conciso, enxuto, criativo e bastante intenso. Parabéns ao elenco, principalmente a Luciano Vidigal e Jonathan Azevedo. https://www.youtube.com/watch?v=nXTOlCTVmAM

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

Kriz Bronze

"Kriz Bronze", de Larry Machado (2018) Na Rua Bf 22 - s/n Qd.29 Lt. 07, Bairro Floresta, Goiânia, está localizada a empresa de estética "Kriz bronzeamento", cuja dona, Kelly Cristina. ganha fama fazendo o famoso bronzeamento de fita isolante, imortalizado no clip da Anitta, "Vai Malandra". O filme, divertido e irreverente em grau máximo, apresenta um dia na vida de Kelly: muito carismática, ela começa o dia preparando uma festa só de mulheres que irá acontecer de noite no seu espaço. Ela recebe as mulheres de dia, manda tirarem suas roupas, vai colocando as fitinhas nelas e as expõem ao sol, como carne defumada. A cena é bizarra. Logo depois, elas saem satisfeitas, e a noite chega: elas retornam produzidas e bronzeadas, curtindo a festa só de mulheres e com direito ao show de streap tease de um "Bombeiro"de 5a categoria. A ordem do dia é se divertir. O cineasta Larry Machado conduz com muita propriedade esse seu material antológico, digno de um Filme B, e que tem na Host Kelly Cristina a sua grande força. Não satisfeita, ela possui uma confecção de linha de lingerie chamada "Hot Mulher".

Majur

"Majur", de Rafael Irineu (2018) Curta escrito, dirigido, editado e fotografado por Rafael Irineu, foi produzido no Mato Grosso e tem uma equipe totalmente de inclusão: Mulheres, indígenas, LGBTQ+ de todos os gêneros. O filme competiu no Festival de Gramado 2018, e conta a história do Índio apelidado de Majur, mas de nome de batismo Gilmar. Majur é homossexual, e é o chefe de comunicação de sua tribo Poboré, e é responsável pela ligação entre aldeia e cidade. Conectado com todas as redes sociais, Majur, de 24 anos, luta pelos direitos dos indígenas de sua comunidade. Na primeira parte do curta, somos apresentados à rotina de Majur em sua aldeia. Logo depois, conhecemos Majur Lgbtq+, que quer se maquiar, quer frequentar baladas gays, dançar, se soltar. Bem dirigido, com um personagem bastante carismático, o filme conquista pela sua simplicidade e pelo teor de denúncia contra os maus tratos sofridos pela comunidade indígena. É também um belo relato sobre indíos gays, e que, mesmo seguindo a tradição milenar de suas tribos, conseguem se conectar à modernidade, à música eletrônica e aos prazeres do mundo hedonista.

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Como um irmão

"Comme un frére", de Bernard Alapetite e Cyril Legann (2005) Drama LGBTQ+ francês, repleto de erotismo e sensualidade. Sebastien é um jovem que sai de sua cidade no interior da França para descobrir a vida gay. Ele conhece Bruno em uma balada, e começam a namorar. Mas Sebastien não consegue esquecer seu grande amor: seu melhor amigo Romain, hetero, que ele deixou na sua cidade. Ambos viviam um "Bromance", onde Sebastien se envolveu mais do que devia. Com apenas 55 minutos de duração, "Como um irmão" tem o tempo certo para narrar a sua história, que acontece em 2 tempos: presente, em Paris, e passado, na cidade praiana de La Baule. A fotografia adquire tons distintos para as duas fases: a atual mais brilhante, cheia de cores, e a do flashback, em tons mais pastéis. O jovem elenco se joga nos papéis e se entregam com bastante paixão e visceralidade nas cenas de sexo, intensas. O roteiro recorre a clichês, mas nada que estrague o filme.

22 de Julho

"22 July", de Paul Greengrass (2018) O Cinema muitas vezes traz coincidências temáticas em curto espaço de tempo na programação, e um dos projetos acaba sendo prejudicado. Em 22 de julho de 2011, em Oslo, Noruega, aconteceram 2 atentados terroristas que matou mais de 80 pessoas: o primeiro atentado aconteceu na cidade de Oslo, em um prédio do Governo, onde morreram 8 pessoas por conta da explosão de uma van estacionada na frente do prédio. Duas horas depois, na Ilha de Utaya, aonde estava acontecendo uma Festa de jovens filiados do Partido dos trabalhadores, outros 77 adolescentes foram assassinados à tiros. O que escandalizou a todos, é que os 2 atentados foram orquestrados e executados por uma única pessoa: Anders Behring Breivik, assumidamente anti-marxista, racista e que odiava a política migratória do Governo. Pois essa história acabou produzindo 2 filmes, no mesmo ano: o norueguês "22 de Julho- Utoya", de Erik Poppe; e "22 de julho", de Paul Greengrass, famoso pela franquia "Jason Bourne" e também por recriar fatos históricos de eventos trágicos, como "Capitão Philiphs", "Domingo sangrento", "Vôo United 93". Comparando os 2 filmes, prefiro mil vezes o de Erik Poppe: é mais Cinema e bastante ousado, por conta do plano sequência retratando os assassinatos na Ilha, em um clima intenso de tensão e desespero, fazendo com que o espectador se sinta no meio do tiroteio. Aonde o filme de Greengrass, que concorreu em Veneza, sai perdendo: - Sua extensa duração ( 150 minutos) - Ser todo falado em inglês!! Mesmo o filme sendo todo rodado em Oslo e com atores locais!!!!! - E pior, a enorme xaropada que vira o filme após o atentado. Todo o atentado dura meia hora. Depois, o filme se divide em 3 frentes: - A recuperação de uma das vítimas, um adolescente - A crise consciência do advogado de defesa de Anders Behring Breivik, - A crise do Governo, quando o Primeiro Ministro foi acusado de negligência no caso do atentado na Ilha de Utoya, após revelação de que o ato poderia ter sido evitado É muito difícil assistir o filme até o final. É cansativo, arrastado, e tudo muito chato. E ainda ter que ouvir o assassino no final dizendo: "Eu faria tudo de novo, se pudesse. Nós somos muitos".

terça-feira, 13 de novembro de 2018

José

"José", de Li Cheng (2018) Curiosa mistural cultural, "José"é dirigido e escrito pelo Cineasta chinês Li Cheng, que em suas andanças pelo mundo, resolveu se estabelecer na Guatemala, um dos países mais pobres do terceiro mundo, e ali, realizar esse drama LGBTQ+ , que acabou vencendo o Queer Lion no Festival de Veneza 2018. O que deve ter despertado a atenção do Juri é o olhar triste e amargo sobre a realidade nua e crua da população Guatemalteca: Um País de forte tradição católica, hoje dominada pelos evangélicos, com alta taxa de desemprego, analfabetismo e crise econômica. Li Chen desenvolve um olhar sem perspectiva de futuro para a sua juventude. José, de 19 anos, filho de uma mãe evangélica e que trabalha clandestinamente como camelô, não estuda e trabalha em um sub- emprego em um restaurante popular. Devoto à sua mãe, José passa partes em pegação, transando com todos os estranhos que puder encontrar através de aplicativos. Em um de seus encontros, ele conhece Luís, que se apaixona por José e quer que ele venha morar com ele em sua cidade e juntos, construírem uma vida em comum José fica dividido entre o amor de sua mãe e o amor a Luís. Lento, sem ritmo, "José" apresenta todos os clichês possíveis e imagináveis sobre o Terceiro mundo. Sociedade machista, aonde o homem abandona sua mulher quando ela engravida; desemprego, homofobia, religiosidade radical; etc. No meio disso tudo, acompanhamos sem muito interesse a vida sem sal e desregrada de José, um personagem totalmente desprovido de carisma. Uma cena merece atenção, mais pela plasticidade do que pela dramaturgia: quando a amiga anuncia que o namorado foi embora, ao fundo, no céu, passa um avião. Ficou bonito. As cenas de sexo são feias, mal filmadas, e a fotografia em muitos momentos ficou escura demais.

Guerra fria

"Zimna wojna", de Pawel Pawlikowski (2018) Premiado no Festival de Cannes 2018 com a Palma de Ouro de Melhor Direção , "Guerra fria" resgata aquelas histórias de amor que fizeram muito sucesso nos anos 60, ambientadas na Segunda guerra e que acabavam de forma trágica: "Dr Jivago", "Os girassóis da Rússia", "Quando voam as cegonhas", "A balada de um soldado", entre outros clássicos. Pawel Pawlikowski, que também escreveu o roteiro, resolveu contar livremente a história de seus pais, que na vida real, durante 40 anos, se separaram diversas vezes, se reuniram, se amaram, se odiaram e acabaram suas vidas cada um de um lado de Berlin dividida pelo muro. No filme, o casal é Zula e Wiktor ( os nomes reais dos pais de Pawel). em 1949, Wiktor, um Maestro, resolve ir até as montanhas, em busca de sonoridade e cantores regionais. ele acaba conhecendo a camponesa Zula, por quem se apaixona perdidamente. Durante 15 anos, acompanhamos os vai e vens do casal, que se separa várias vezes, e isso durante o surgimento do regime comunista na Polônia, a fuga de Wiktor para Paris e Iuguslávia, e suas frequentas idas para os shows de Zula. "Guerra fria" é uma obra prima. Mistura drama, romance, musical, tudo de forma harmônica e sublime. A fotografia esplendorosa e triste de Lukasz Zal, indicado ao Oscar por "Ida", outra parceria do fotógrafo com o diretor, é uma obra de arte. Com formato de tela quadrada de 4X3, o filme apresenta um casal carismático e apaixonante, interpretado com brio, garra e paixão pelo casal de atores Joanna Kulig e Tomasz Kot, por quem a gente torce o tempo todo.

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

3 Faces

"Se rokh", de Jafar Panahi (2018) Vencedor da Palma de Ouro em Cannes 2018 de melhor roteiro, "3 Faces" é um libelo à favor da Arte e do Artista. Mas por ser um filme de Jafar Panahi, famoso no mundo todo por ter sido punido pelo Governo iraniano de continuar filmando e em exílio domicilar, o filme também fala sobre a linha dura do Governo, a ausência de Liberdade, seja do Artista ou da Mulher na sociedade iraniana. Fora isso, o filme discute o contraste entre o Irã moderno (Teerã, das artes, do cinema, da modernidade) com o Irã das vilas, de cultura milenar, quase na idade da pedra, com suas tradições arcaicas, mas unidos pelo Amor ao Artista, no caso a atriz famosa (Panahi cutuca a seu favor quando diz que o povo conhece os atores, mas não sabem quem são os Cineastas). Logo no seu prólogo, o filme discute ao limite entre o real e a ficção, assim como Panahi já tinha feito em "Taxi Teerã": o que estamos vendo é real ou uma representaçãp"? Uma jovem, Marziyeh, em imagem de vídeo gravado em um celular, dá um depoimento direcionado à famosa atriz iraniana Behnaz Jafari: ela diz que sua família é contra ela ir até Teerã estudar Cinema, e a forçaram a se casar. Descontente e sem apoio, ela resolve se suicidar. CORTA PARA: Behnaz Jafari aflita, vendo esse vídeo com o cineasta Jafar Panahi ( ambos interpretam a si mesmos). O vídeo é real ou fake? Os 2 decidem seguir até a vila onde a menina mora para descobrir a verdade. O que eles encontram, são moradores que regem suas vidas em cima de crendices, o que rende risadas de Jafari e Panahi. Logo, os 2 vão se habituando a esse estranho universo arcaico, mas que também, possuem celulares e televisores. Através da personagem de Marziyeh, que é proibida de estudar e trabalhar com Cinema, Panahi fala de si mesmo, de sua proibição de exercer aquilo que mais ama. O cinema é tema durante o tempo todo no filme. Vários personagens comentam sobre o poder ilusório que a sétima arte traz neles. O filme tem várias cenas antológicas, mas a que mais me diverti, foi a da idosa que dorme em sua lápide, que ela chama de sua última morada. Genial.

No Risco do Circo, no Risco da Vida

"No Risco do Circo, no Risco da Vida", de Katia Lund e Lili Fialho (2018) Documentário que mostra a rotina do projeto Crescer e Viver, que construiu uma lona de circo em 2004 na Praça Onze, em um local onde antes era um estacionamento de dia e de noite, zona de prostituição. Com o surgimento da Escola de Circo, a região foi beneficiada: o comércio e principalmente os moradores, que ganharam dinamismo e alegria com a vizinhança de alunos de circo e seus professores. O filme acompanha o dia a dia de alguns desses alunos, todos de classe média baixa e moradores de cortiços das redondezas. Histórias de superação, como o ex-flanelinha de mais de 100 kilos que hoje é trapezista; uma jovem cuja mãe é contra e;a estudar Circo, mas mesmo assim ela frequenta a escola; uma jovem de 16 anos grávida que consegue o apoio de todos, e fora todos os entrevistados cujas histórias se assemelham na luta pela pobreza, dignidade, falta de oportunidade, ainda temos o Juiz Siro Darlan, que dá total apoio ao projeto. Um filme bonito, de apenas 50 minutos, e que tem um desfecho lúdico, condizente com os sonhos de cada um retratados na tela.

Um dia

“Egy nap”, de Zsofia Szilagyi (2018) Absorvendo todas as lições da filmografia de John Cassavettes ( atuação naturalista, tempo real, enfado da vida cotidiana, observação da natureza humana), a Cineasta húngara realiza o maior filme de super heroína que nenhum personagem da Marvel ousou encarnar: a da mulher casada, trabalhadora, mãe de três filhos pequenos, que prepara café da manhã, jantar, leva os filhos pra escola, balé, esgrima, vai pra os eventos escolares das crianças, dirige carro, enfrenta trânsito, briga com motorista, sofre com problemas de encanamento, tem péssima relação com sua sogra, cuida do filho doente, discute cronograma de aula com a sua chefe, e para concluir, precisa arrumar tempo para administrar o caso extraconjugal de seu marido, que a está traindo. Anna ( Zsofia Zsamosi, excelente mas varias emoções) carrega o filme nas costas, nesse filme de olhar totalmente feminista, onde os personagens masculinos, mesmo os coadjuvantes ou figurantes, agem em postura totalmente machista ( até mesmo o filho pequeno). O filme ganhou o Prêmio Fioresci da Crítica em Cannes na Mostra “Semana da Crítica”. Não é um filme fácil de se assistir. De forma simplista, parece que o recado dado é: casamento e filhos destroem qualquer relação. Mas é mais do que isso. É a luta de uma mulher que fez suas escolhas de vida, e precisa administrar de forma estratégica todas as tarefas que lhe são esperadas realizar e cumprir. E a vida segue assim, nessa rotina exasperante, um grito de socorro em silêncio.

Selvagem

“Sauvage”, de Camille Vidal Naquet (2018) Escrito e dirigido pela cineasta francesa Camille Vidal Naquet, “Selvagem” é seu filme de estreia e em Cannes ganhou um Prêmio especial na Mostra “Semana da Crítica”. O filme apresenta o fundo do poço na vida do garoto de programa Leo ( Felix Maritaud, de “ 120 bpm”). Ele se prostitui na periferia de Paris, se droga, dorme na rua, não tem família nem amigos. A única pessoa que ele se preocupa e sente carinho é o garoto de programa ativo e marrento Eric, um ex lutador que se prostitui porque não soube administrar a sua vida. Eric o tempo todo diz para Leo que a única solução para a vida deles é descolar um velho com grana. Nessa relação de amor e ódio com Eric, Leo acaba roubando, é estuprado, arranja clientes violentos. Em todas as possibilidades de redenção, Leo acaba sucumbindo às ruas. O filme tem uma boa direção de Camille, que busca no seu elenco uma boa dose de realismo nas cenas de sexo. Mas o roteiro é problemático: todo explicadinho, o espectador já sabe de antemão tudo o que acontecerá, nesse festival de previsibilidade. O filme sôa bastante anacrônico: difícil de acreditar que nos dias de hoje, com aplicativos e sites de agenciamento, uma pessoa pegue dois vários desprograma com pinta de marginais e traga para a sua casa. Tem que ter muita baixa auto estima e acreditar que o mundo é bom. Felix Maritadaud carrega o filme nas costas: ele se entrega totalmente ao filme, em cenas viscerais que exigem dele total imersão.

O Anjo

"El angel", de Luis Ortega (2018) Nos anos 70, em Buenos Aires, Carlos Robledo Puch, o Carlito, foi um adolescente de classe média baixa que sem que seus pais soubessem, cometeu 11 assassinatos, dezenas de roubos e sequestros. Carlito tinha como parceiro de crime o colega da escola, Ramón, por quem ele sentia paixão platônica. Ao ser preso, Carlito foi apelidado de "O Anjo", por conta de seus cachos loiros e pele muito branca. Lorenzo Ferro e Chino Darin dão vida a Carlito e Ramón, respectivamente. Ambos os atores estão excelentes, e no elenco de apoio, ainda tem o apoio luxuoso de Cecilia Roth e Mercedes Moran. O filme foi produzido pela El Deseo de Almodovar, que também produziram outra película de sucesso argentino, "Relatos selvagens". "O anjo" arrebentou na bilheteria, participou de vários Festivais, entre eles, o Festival de Cannes, e foi indicado pela Argentina a uma vaga ao Oscar 2019. Toda a ficha técnica do filme é formidável: fotografia, trilha sonora, repleta de rock dos anos 70, edição, figurino, direção de arte. A direção de Luis Ortega aposta na mescla de drama e policial, e em alguns momentos, lembra uma versão LGBTSQ+ de "Bonnie e Clyde". Um filme imperdível, que assume um lugar de honra nos grandes filme argentinos dos últimos anos.

domingo, 11 de novembro de 2018

White boy Rick

“White boy rick”, de Yann Demange (2018) Diretor do extraordinário “71-Esquecido em Belfast”, o cineasta francês Yann Demange dirigiu a cinebiografia de Ricardo Warsche Jr, condenado à prisão perpétua no Michigan em 1987 por tráfico de drogas. Seu pai , Richard Warsche (Matthew Maccaughney) , um vendedor de armas de segunda mão, alega que seu filho se tornou traficante por conta de seu trabalho com o Fabi: Richard havia sido contratado pela polícia para ser um infiltrado em seu bairro é assim desbaratar as gangues. Porém, foi justamente esse serviço que o aproximou do tráfico e dos clientes. Um drama muito bem dirigido, com excelente reconstituição de época e ótima fotografia. Mas o grande potencial do filme está em seu poderoso elenco: da turma de veteranos, além de Maccaughney, temos Jenifer Jason Leigh, Bruce Dern e Piper Laurie. Do elenco jovem, destaque absoluto para Richie Merrit, no complexo papel de Richard, e para Bel Powler, no papel de Dawn, sua irmã drogada. É dela as cenas mais dramáticas e aflitivas do filme.

Se a rua Beale falasse

”If Beale street could talk", de Barry Jenkins (@018) Adaptação cinematográfica do livro de James Baldwin, escrito em 1974. Ativista negro , James Baldwin foi uma das figuras centrais do excelente documentário “ Eu não sou o sou negro”, e faleceu em 1987. Barry Jenkins ganhou o Oscar de melhor filme em 2017 por “Moonlight/ sob a luz do luar”, e aqui ele e seu Fotógrafo James Laxton realizam um filme muito bonito de se ver, com luzes quentes contratando com momentos de extrema melancolia. Figurino, trilha sonora e uma montagem que embaralha épocas distintas, favorecendo o tom de romantismo e drama pungente acerca de um jovem casal separado por uma acusação injusta: Tish (Kiki Lane), de 19 anos, e Fonny (Stephan James), 22 anos, se conhecem desde crianças e adultos, resolveram namorar. Mas Fonny, após uma desavença com um policial branco e racista , é acusado de ter estuprado uma mulher branca. Ele vai preso e Tish ao visitá-la, comunica que está grávida. O filme passa a apresentar as memórias de Tish, ao mesmo tempo que ela e sua família procuram uma forma de libertar Fonny da prisão. Particularmente, gosto mais de “Moonlight”. Talvez eu tenha ficado com muita expectativa para “Se minha rua Beale falasse”. Gosto de como o nome da rua entra na história: James Baldwin diz que essa rua, localizado em New Orleans, foi onde nasceu Louis Arnstrong, o jazz e seu pai. E que a Rua Beale é uma metáfora sobre a luta do negro para conseguir ir contra a injustiça, o racismo e o desejo de ser feliz. Excelente direção de Barry Jenkins, que cria momentos de poesia e muita beleza. Mas o ritmo, principalmente na terça parte final, ficou arrastado e me cansou um pouco. Mas o filme reserva pelo menos algumas cenas antológicas: a do convite à família de Fonny para anunciar a gravidez de Tish, a cena aflitiva de Tish trabalhando na loja de departamento e os brancos querendo cheirar sua pele negra e a cena da mãe de Tish, Regina ( a excelente Sharon Rivers), que vai para Porto Rico atrás da mulher que acusou Fonny de estupro.

sábado, 10 de novembro de 2018

O fim da pegação

"The end of cruising", de Antony Hickling (2013) Charles Lum, Xavier Stentz, Todd Verow. Documentário repleto de cenas fetichistas, apresenta um curioso tema: com o advento dos aplicativos como Grindr e Tinder, a popular "pegação", termo gay que significa flertes sexuais em lugares lúgubres e decadentes, como matagal, praia deserta, estacionamentos, banheiros públicos, etc, se tornou um hábito cada vez mais escasso. Muito por conta da violência urbana, os gays têm preferido conhecer seu parceiro sexual nos aplicativos, onde existe o mínimo de informação sobre a outra pessoa. O documentário apresenta 22 episódios, e os 4 diretores se revezam em suas funções: ora um fotografa, ou edita, ou escreve, produz ou dirige. Em cada episódio, acompanhamos o depoimento de uma pessoa, relatando a sua experiência sexual em algum ponto de pegação. Os relatos são bastante pervertidos, e em alguns episódios, apenas vemos o lugar com bastante detalhamento, e e outros, o filme apresenta cenas de sexo explícito, masturbação ou exibicionismo em nudez total. De uma forma geral o filme é bastante entediante e repetitivo, mas para quem curte ouvir sacanagem e muita putaria, é um prato cheio.

A culpa

"Den skyldige", de Gustav Möller (2018) Suspense dinamarquês, vencedor de mais de 14 prêmios Internacionais, incluindo o Prêmio do público em Sundance 2018. Ambientado em apenas uma locação, no caso, a sala da polícia que faz atendimento de chamadas de emergência, o filme é um espetáculo de edição e construção de tensão, muito construído com bastante competência pelo Diretor e roteirista Gustav Möller. Asger é um policial que trabalha na ronda noturna de uma delegacia de atendimento de emergência. Entre um e outro pedido de ajuda, ele acaba recebendo uma chamada desesperada de uma mulher, Iben. Ela diz estar sendo sequestrada pelo marido. A ligação cai. Asger tenta desesperadamente localizar o paradeiro da mulher, antes que alguma tragédia aconteça com ela. Aos poucos, Asger vai descobrindo elementos que o farão se desesperar cada vez mais. Era de esperar que o filme tivesse um Plot twist, e ele vem já quase no final, provocando uma grande surpresa no espectador. O filme é uma aula de direção, de economia de orçamento e de roteiro, provando que um filme pode ser muito bom e prender a atenção do espectador com apenas uma locação.

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Simonal

"Simonal", de Leonardo Domingues (2018) Cinebiografia de Wilson Simonal, cantor popular que faleceu no ano 2000, o filme aposta em pirotecnias de câmera, claramente inspiradas em "Boogie nights" e "Birdman" e seus famosos planos-sequências. Passados esses momentos de exibicionismo técnico, o que o espectador encontra é um drama musical que aposta as suas fichas no romance conturbado de Simonal (Fabricio Boliveira) com Teresa (Isis Valverde) - SImonal , segundo o filme, era famoso por conquistar loiras. O filme vai dos anos 60 até 1975, ano em que SImonal fez um Show para tentar recuperar a sua carreira artística, abalada por um crime: SImonal descobriu que o seu contador (Bruce Gonlewsky) estava roubado dinheiro, e por isso, pediu para que um conhecido seu, um agente do Dops (Caco Ciocler) desse um susto no contador. O contador levou uma surra e acabou publicando na mídia que SImonal teria usado agentes do Dops para sequestrá-lo e dado porrada. Essa história destruiu a carreira de SImonal, que até então, era o artista negro mais bem sucedido do Brasil. O filme, que tem na produção os filhos do cantor, Max de Castro e SImoninha, toma partido de que SImonal foi vítima de notícias caluniosas e por ser negro, não teve chance de se recuperar. Em um momento emblemático, Simonal conversa com Elis Regina e pergunta a ela como que ela, passando pela mesma situação que a sua, foi perdoada, e ele não. O filme tem um elenco que defende com garra os seus personagens ( Fabricio Boliveira está bem, uma pena ter sido dublado, e Isis Valverde tem carisma, mas fiquei atordoado com a peruca que ela usava). "SImonal" faz parte de uma linhagem de filmes caros, com excelente qualidade técnica , muita figuração, figurinos, etc ( vide "Chacrinha", "Pixinguinha", "Chatô"). Para quem é fã do cantor, o filme apresenta um arsenal de canções clássicas. Em Gramado, onde concorreu em 2018, o filme ganhou 3 prêmios técnicos: Fotografia, direção de arte e som.

Vox Lux

"Vox Lux", de Brady Corbet (2018) Concorrendo no Festival de Veneza em 2018, "Vox Lux" é uma espécie de "Nasce uma estrela" em versão pesadelo: violento, sombrio, gótico. Um filme que tem como tema o Mal existente no ser humano, por mais que ele não transpareça, em algum momento, vem à tona. Afinal, qual o preço pago pela Fama? Brady Corbet é Ator, e talvez seu papel mais famoso tenha sido na refilmagem de "Funny games", cult de Michael Haneke. Sua estréia no Cinema se deu com o inquietante filme "A infância de um líder", ousada fantasia que faz uma analogia da origem do mal, através de uma criança que poderia ser uma versão mirim de Hitler. Para quem assistiu a esse filme, irá encontrar muita semelhança com "Vox Luz", tanto no cuidado com o visual, quanto na fotografia, enquadramentos e uma narrativa autoral. O filme começa em 1999, na virada do milênio. Em uma sala de aula, acontece uma grande tragédia. Celeste (Raffey Cassidy), aos 14 anos, sobrevivente, compõe uma música junto de sua irmã, Ellie, para as vítimas e logo ela se torna uma grande Estrela, quando canta ao vivo para a imprensa. Os anos se passam, e aos 31 anos, já na pele de Nathalie Portman, Celeste se tornou uma grande Diva Pop, e como tal, cheia de estrelismos e ataques ao seu staff. O filme acompanha a sua rotina com fãs, seu agente (Jude Law), sua filha e sua irmã, às vésperas de um grande show. Nathalie Portman está exuberante e impressiona com a sua performance matadora. Toda a sequência final, no show, é de cair o queixo. A direção de Brady Corbet é bastante criativa, começando pelos créditos iniciais. Abusando de uma linguagem bastante estilizada, Corbet mescla drama, thrilller, musical e grandes performances de um elenco intenso. As músicas foram compostas pela cantora Sia, e a coreografia, pelo marido de Nathalie Portman.