sábado, 31 de março de 2018

C'est l'amour

"C'est l'amour", de Paul Vecchiali (2015) O Cineasta francês Robert Bresson fez escola com o seu método anti-naturalista. O seu conceito de Ator-modelo até hoje é influencia para cineastas como Aki Kaurismaki, Eugene Green e Paul Vecchiali. Em "C'est l'amour", Vecchiali, que também escreveu o roteiro e atua no filme, quer falar sobre o amor. Mas um amor sofrido, daqueles que fazem a pessoa querer se matar pela impossibilidade de poder amar. Só que esse melodrama é visto em atuações frias, sem emoção, como mandava a cartilha de Bresson. Para espectadores que não conhecem esse método, com certeza estranharão o filme. Odile e Jean são casados. No entanto, ela desconfia de que ele a trai. Com um sentimento de vingança, ela o trai com um ator gay, Daniel, em conflito com sua profissão e que mora com um homem mais velho, que ele conheceu em um ambiente de pegação. Odile e Daniel não poderiam imaginar que dessa relação, surgisse uma historia de amor auto-destrutiva. O filme começa e termina com a mesma cena, Daniel indo embora. Paul Vecchiali quer narrar para o espectador uma história inusitada, com conceito narrativo muito exótico. Por exemplo, vemos a mesma cena sendo vista 2 vezes seguida, sendo que da 1a vez, a câmera está no marido, e na 2a vez, vemos a esposa. O filme provavelmente será apreciado somente por cinéfilos, e mesmo assim, com ressalvas.

O autor

"El autor", de Manuel Martín Cuenca (2017) Ganhador de vários prêmios internacionais, entre eles, Melhor ator (Javier Gutierrez) e atriz coadjuvante (Adelia Calvo), "O autor" é um excelente drama espanhol, com doses de humor negro. Sua trama, diabólica, é muito bem armada, com reviravolta surpreendente no fim. Alvaro (Javier Gutiérrez, brilhante) é o típico looser: trabalha como contador, sua esposa lança um livro, faz sucesso e depois o trai. Seu sonho é se tornar também um escritor de sucesso. Para isso, ele frequenta um curso de roteiro e seu professor Antonio de la Torre, maravilhoso) , o sugere para que observe a vida de estranhos e se inspire neles. Alvaro se muda para um prédio e passa a manipular a vida de alguns moradores, para escrever um romance em cima de suas vidas. O filme tem uma premissa muito semelhante a "The following", de Christopher Nolan, mas o desenvolvimento aqui vai por caminho diferente. E' um drama muito bem dirigido, e fosse em outros tempos, poderia perfeitamente ser um filme de Hitchcock.

quinta-feira, 29 de março de 2018

Marica tú

"Marica tú", de Ismael Núñez (2017) Adaptação cinematográfica de uma Grapich novel espanhola de grande sucesso, "Marica tú" é um relato autobiográfico do escritor dos quadrinhos, Julián Almazán. Aos 30 anos, Julián, gay assumido, se mostra deprimido com o fim do relacionamento de 4 anos com Carlos. Para sanar a solidão, ele recorre ao Grindr, aplicativo de pegação. No entanto, entre muitas trepadas, a presença de Carlos mostra-se cada vez mais forte. "Maricatú" lembra esteticamente os primeiros filmes de Almodovar. Divertido, inconsequente, com personagens carismáticos, o filme apresenta de forma realista a rotina de jovens gays na sociedade de Madri. Ao som de muita música eletrônica, baladas, referencia ao universo Pop, os personagens procuram encontrar um sentido para as suas vidas, escondidas através da falsa ilusão de que o sexo é a resposta para todos os problemas. Apresentando um universo hedonista, o filme foi realizado com muito pouco dinheiro. O elenco é bastante eficiente, e as cenas de sexo, apesar de não explicitas, são bem calientes. O título se refere `a uma paródia que uma dupla de humoristas fez com o mega sucesso pop grego "Dragostin din tei", que no Brasil, teve a versão de Latino, "Festa do ape".

Algo muito natural

"A very natural thing", de Christopher Larkin (1974) Um verdadeiro cult do Cinema independente Lgbts americano, realizado em 1973, o filme provocou bastante polemica na época do seu lançamento e ainda hoje, é um filme escandaloso, por fazer um retrato nu e cru da vida sexual dos gays em Nova York. Um importante documento histórico sobre a vida cultural e sexual americana do início dos anos 70, o filme foi todo realizado em locações e filmado em points famosos da cidade. Antes da Aids, o apetite sexual era descomunal: saunas gays, pegação em praças, ruas, etc. O filme foi todo filmado como um documentário, inclusive com depoimentos de gays dando seu parecer sobre a homossexualidade e liberdade sexual. Em determinado momento, aparece um letreiro de um cinema, onde está passando o clássico "Um homem, uma mulher", de Claude Lelouch. Com certeza, foi uma referencia proposital, pois em "Algo muito natural", acompanhamos a rotina da vida de um casal: David e Mark. David, um ex-monge, agora professor, conhece Mark em uma balada. Após a primeira noite, eles se apaixonam e decidem morar juntos. Porém, Mark tem vício em sexo e não quer se ater a uma relação monogâmica, ao contrário de David. Com muitas cenas de sexo, nudez frontal e orgias ( realmente chocantes), o filme pretende ser um romance, e até hoje, é considerado o primeiro filme que discutiu abertamente um relacionamento gay de forma realista.

Esse não é um filme de Cowboys

"Ce n'est pas un film de cow-boys", de Benjamin Parent (2012) Super premiado curta francês, de temática Lgbts, que ganhou entre eles, Melhor curta em Cannes em 2012. Em um colégio, 2 rapazes e 2 meninas conversam, cada um em seu banheiro, sobre o filme que assistiram em casa na véspera: "O segredo de Brokeback mountain". Durante a conversa, eles falam sobre homofobia, descoberta da sexualidade, saída do armário, amizade e claro, cinema. Com ótimos diálogos e excelente atuação dos 4 atores, entre eles, o conhecido ator Finnegan Oldfield. Uma prova de que é possível fazer um filme barato apenas com um bom roteiro e diálogos primorosos.

quarta-feira, 28 de março de 2018

Arritmia

"Arritmyia", de Boris Khlebnikov (2017) Vencedor de vários prêmios internacionais, esse belo drama russo lembra bastante o Cinema dos Irmãos Dardenne. Com temática humanista, câmera colada nos personagens que lutam para sobreviver na difícil rotina de uma grande metrópole, e um olhar documental sobre tudo e todos, o filme tem como tema uma história de amor, pessoal e profissional. O jovem casal Katya e Oleg trabalham no mesmo hospital. Classe média, ela é cirurgia, ele um paramédico de ambulatório. Oleg vive reclamando das condições médicas e de equipamento do hospital aonde trabalha. Envolvido com o seu trabalho, ele faz de tudo para atender aos seus pacientes, apesar de não tem autoridade para atuar como um médico. Oleg e Katya dividem um pequeno apartamento. Katya se incomoda com Oleg, pois ele se envolve demais com a dura realidade de seus pacientes e ela pede que ele se envolva menos. isso afeta a relação do casal, até que Katya pede para se separar. Oleg fica dividido entre o amor `a profissão ou a Katya. Com ótima performance do casal principal de atores, o filme faz um registro cru e frio do dia a dia em casa e no trabalho. Os pacientes registrados , de classe média baixa, tem todas as características de um descaso social por parte do governo: falta de assistência social, remédios, atendimento precário, engarrafamentos que atrasam as ambulâncias que poderiam salvar vidas. E' um filme contundente, de ritmo lento, com uma olhar naturalista sobre essas pessoas que lutam por dignidade.

terça-feira, 27 de março de 2018

Estávamos aqui

"We were here", de David Weissman e Bill Weber (2011) Premiado documentário sobre a epidemia da Aids em San Francisco, através de depoimentos de pessoas que tiveram suas vidas transformadas desde o surgimento do vírus em 1981. O filme começa mostrando as maravilhas de San Francisco nos anos 70, e a grande migração de pessoas que foram morar lá, em busca de uma vida mais livre. A fama da Rua Castro, as flores, o movimento hippie, o surgimento das grandes comunidades gays, até o assassinato do ativista gay Harvey Milk. O filme apresenta as saunas como as grandes propagadoras do vírus, por conta da grande atividade sexual que acontecia lá dentro. Como filme, o documentário é bastante didático, mas o que faz valer a pena assistir é o grande acervo de fotos e imagens de época, em sua grande maioria chocante, mostrando pacientes com sarcomas de karposi, debilitados, moribundos. Um filme angustiante e revelador.

segunda-feira, 26 de março de 2018

Os 3 porquinhos - Parte 2

"The 3 L'il Pigs 2", de Jean-François Pouliot (2016) Continuação de uma comédia canadense de grande sucesso, lançada em 2007. Quase 10 anos depois, acompanhamos as peripécias de 3 irmãos: Remy, o bem sucedido financeiramente da família, mas que descobre a sua homossexualidade. Mathieu, que não consegue mais ter relações com sua esposa, mas durante um acidente, se sente atraído pela sua enfermeira sessentona. E Christian, o mais sedutor dos 3, que mantém relações com Dominique, esposa de Remy. Essa continuação aposta bastante no romantismo, e no vaudeville, através de várias situações de traição entre todos os casais. Com um elenco carismático e um roteiro repleto de clichês, o filme é ousado nas cenas de sexo, lembrando as comédias maliciosas do Cineasta italiano Dino Risi, porém com nudez.

Roxanne Roxanne

"Roxanne Roxanne", de Michael Larnell (2017) Escrito e dirigido por Michael Larnell, "Roxanne Roxanne" é a cinebiografia da rapper Roxanne Shanté, interpretada ferozmente por Chanté Adams, que ganhou um Premio especial em Sundance por sua performance matadora. Além dela, brilham Nia Long, no papel de sua mãe alcoólatra Peggy, e Mahershala Ali (ganhador do Oscar por "Moonlight"), no papel do marido abusivo de Shanté. Ambientado nos anos 80, quando Shanté tinha 14 anos e começou a fazer seus registros de rapper, quando a voz feminina ainda era novidade no gênero. Nascida no Queens, Shanté acompanhou desde criança a pobreza e abuso masculino dentro de casa. O filme lembra "Preciosa" e "Patty cake", este último fotografado pelo mesmo fotógrafo Federico Cesca. O filme investe mais no drama de Shanté e de sua mãe, mostrando o abuso da violência domestica, assim como na biografia de "Tina Turner". Para quem for assistir ao filme esperando ver um musical, vai se decepcionar. O filme apresenta pouca música e muito drama. Vale pelo trabalho brilhante dos atores.

domingo, 25 de março de 2018

O último terno

"El último traje", de Pablo Solarz (2017) Comovente melodrama argentino, escrito e dirigido por Pablo Solarz, roteirista da comédia de sucesso "Um namorado para a minha mulher". Com pitadas de humor, o filme tem como protagonista Abraham Bursztein (formidável), um idoso de 88 anos, que fugiu da Polônia durante a 2a guerra e se refugiou em Buenos Aires. Ranzinza e com péssimo relacionamento com suas filhas e netos, que vendem sua casa e querem colocá-lo em um asilo, Abraham foge para a Europa, com uma missão: reencontrar Piotrek, um amigo de adolescência a quem ele prometeu retornar. Um road movie típico, com os tradicionais personagens que cruzam o caminho de Abraham para ajudá-lo em sua empreitada, o filme vai retornando em flashbacks para contar o que ocorreu na adolescência de Abraham na Policia da 2a Guerra mundial. Com um excelente elenco de apoio, o filme exagera no melodrama, mas quem gosta de sentimentalismo, vai adorar. Bela direção, lindas locações. fotografia melancólica e um desfecho de arrancar lágrimas.

Maria Madalena

“Maria Magdalena”, de Garth Davis (2018) Curioso que quando “A última tentação de Cristo foi lançado”, houve uma celeuma que quase destruiu a carreira de Martin Scorsese. Em “Maria Madalena”, as polêmicas acerca da versão revisionista do Cineasta Garth Davis “do insosso “Lion”, passaram despercebidas. Maria Madalena é praticamente uma das primeiras feministas da história do mundo; ela está presente na Santa Ceia, e não fosse Pedro, a quem ela acusa de ter desvirtuado as mensagens de Jesus, talvez o catolicismo fosse diferente. Passei a vida toda vendo versões de filmes onde Maria Madalena era uma prostituta, e aqui, isso se quer é mencionado. Explico: houve uma revisão da Igreja Católica em relação à figura de Madalena, difamado por séculos pelo Papa Gregório Magnus no Século VI. Dois pontos negativos no filme: o ritmo é arrastado demais, quase soporífico. E a escalação de Joaquim Phoenix. Ninguém duvida de seu talento, brilhante em “O mestre”. Mas ele já tem idade superior aos 33 anos de Cristo, e a todo momento Phoenix parece que vai fazer alguma Metodologia para caras e bocas. Rooney Mara opta por um registro minimalista, e os outros atores tem poucos momentos em cena, como os talentosos Chiwatel Eijifor, como Pedro, e Tahar Rahin, como Judas totalmente sorridente. As maiores contribuições estão na fotografia soberba de Greig Fraser, de “Rogue one” e “ Lion”, e na trilha sonora.

Proud Mary - A profissional

"Proud Mary", de Babak Najafi (2018) Produzido e estrelado por Taraji P. Henson, que concorreu ao Oscar de Melhor atriz coadjuvante por "Estrelas além do tempo", "Proud Mary" é praticamente um remake de "Gloria", clássico de John Cassavettes, e "O profissional", filme que lançou Natalie Portman. Taraji P. Henson interpreta Mary, uma assassina profissional adotada pelo Big Boss Benny (Danny Glover), um poderoso mafioso. Ao executar uma missão, matando um devedor, ela torna órfao um menino e desde então Mary se sente culpada. Um ano depois, esse menino, Danny (Jahi Di'Allo Winston, em ótima atuação), é adotado por um mafioso rival. Mary acaba adotando o menino, sem contar que foi ela quem matou o seu pai. Uma homenagem aos filmes Black exploitation dos anos 70, com um elenco majoritariamente negro, trilha funk e visual vintage, o filme cumpre sua função de entretenimento, e para quem foi fã de filmes como "Shaft" ou cults estrelados por Pam Grier, musa dos filmes do gênero (homenageada por Tarantino em "Jackie Brown"), existirá muitas razoes para curtir. Taraji P. Henson está carismática e posa de Diva o tempo todo, sempre fazendo caras e bocas divertidas. E claro, com os cabelos sempre penteados, mesmo em cenas de pancadaria. O curioso é a ficha técnica: O Diretor Babak Najafi é iraniano, criado na Suécia, e lá, ele dirigiu o belo "Sebbe", um drama sobre uma difícil relação entre mãe e filho, vencedor de vários premios internacionais.

sábado, 24 de março de 2018

Eu mato gigantes

"I kill giants", de Anders Walter (2017) Baseado na Graphic novel de Joe Kelly, publicada em 2008, "Eu mato gigantes" não é, como faz acreditar o Poster e o trailer, um filme de ação e aventura com monstros gigantes. E' um drama bastante triste, naquela linha de botar o protagonista no mundo de magia para fugir de sua realidade, assim como em "Sete minutos depois da meia noite", "Almas gêmeas", "Labirinto do Fauno" e "Ponte para Terabítia". Na verdade, o filme ´´praticamente um remake de "Sete minutos depois da meia noite", e quem gostou desse filme, vai adorar "Eu mato gigantes". Barbara (Madison Wolfe, ótima) é uma menina que sofre bullying na escola e vive com sua irmã mais velha (Imogen Poots) e um irmão alienado em games. Ela avisa a todos que um Monstro gigante está vindo para destruir tudo, e para isso, ela planta armadilhas para ele. Ninguém acredita nela: a psicóloga da escola (Zoe Saldana) e uma nova aluna, Sophia, tentam ajudá-la. Mas Barbara cada vez mais se rebela ao ponto de todos acharem que o monstro está vindo de verdade. Lindo, com boas atuações, o filme é um melodrama fabulesco, na linha de "Big Fish", de Tom Burton, com um tom mais soturno. Tudo funciona a contento, apesar do roteiro caminhar para tramas paralelas que dispersam a atenção do espectador para um desfecho que traz uma grande revelação.

sexta-feira, 23 de março de 2018

Sobrenatural" A última chave

"Insidious: The last key", de Adam Robitel (2017) 4o filme da franquia criada pelos australianos James Wan e Leigh Whannell, criadores também da franquia "Jogos mortais". O filme coloca como protagonista a personagem Elise (Lin Shaye, ótima), vista nos outros filmes em papel de coadjuvante, como a parapsicóloga que resolve casos de paranormalidade, junto de seus fiéis assistentes atrapalhados e nerds Specs (o roteirista Leigh Whannell) e Tucker. O filme começa com o flashback de Elise quando criança nos anos 50. Ela constantemente sofre bullying e violência doméstica de seu pai, pois ele não acredita que ela tenha um dom. Sua mãe acaba sendo morta por um espirito. Nos dias de hoje, Elise é chamada para um caso exatamente na casa aonde ele morou quando criança, e esse retorno trará de volta o espirito demoníaco que a persegue desde então. Com ótimos efeitos e boa coleção de sustos, bebendo na fonte de quase todos os filmes de casa mal assombrada, o filme diverte e cria uma atmosfera de suspense bem eficiente, com personagens bastante carismáticos. Patrick Wilson, que nos primeiros filmes da franquia interpretava um pai de família que chamava Elise, curiosamente inverteu o papel na franquia "Invocação do mal", também de James Wan, fazendo papel de um paranormal chamado para resolver casos.

quinta-feira, 22 de março de 2018

Espaço negativo

"Negative space", de Ru Kuwahata e Max Porter (2017) Concorrente ao Oscar de melhor curta de animação em 2018 esse emocionante curta francês tem como tema a difícil relação entre pai e filho. O filme começa com o filho, jea adulto, fazendo suas malas para viajar. Ele se lembra de seu pai, que foi ausente a vida toda, pois constantemente viajava `a trabalho. Ele era sisudo e e introspectivo. A sua relação com seu filho se baseou nas malas que o filho fazia pro seu pai para ele viajar. Com apenas 5 minutos, o filme cativa com uma história triste e bastante dolorosa. A animação é simples, mas bastante criativa.

quarta-feira, 21 de março de 2018

Holy Fuck

"Holy Fuck", de Chris Chalklen (2017) Premiado curta inglês, repleto de ironia e humor negro, nos moldes do grupo Monty Phyton. Parodiando a famosa cena do exorcismo do terror "O exorcista", acompanhamos um Padre exorcista que chega até uma casa. Lea ele é recebido por um mulher, que o encaminha até o quarto aonde seu marido está possuído pelo demônio. O filme brinca com o tom e o conceito da cena: existe uma intenção sexual no exorcismo, e é tudo visto como se fosse uma sedução entre uma prostituta e um cliente. As falas tem duplo sentido. Os atores estão hilários, e mesmo realizado com baixo orçamento, a criatividade do Diretor e do roteiro são suficientes para entreter o espectador.

Alexia

"Alexia", de Andrés Borghi (2013) Excelente curta de terror argentino, escrito e dirigido por Andrés Borghi, e claramente inspirado no cult japonês "Pulse". Em 9 minutos, Andrés Borghi conta a história de Franco, que está deprimido no dia do aniversário de sua ex-namorada, que se suicidou. Ele está sozinho em casa vendo a página de Facebook dela, e ao deletá-la, coisas estranhas passam a acontecer. Sem firulas, repleto de atmosfera, o filme diverte, mesmo que trabalhe em cima dos clichês do gênero. O filme venceu dezenas de prêmios internacionais. https://vimeo.com/116106651

terça-feira, 20 de março de 2018

Apenas amigos

"Gewoon Vrienden", de Ellen Smit (2017) Lindo drama romântico adolescente, sobre a saída do armário de Joris (Josha Stradowski), um jovem rebelde de classe média alta. Órfão de pai, ele vive `as turras com sua mãe, uma viciada em cirurgia plástica. E' com sua moderna avó que ele se dá bem. Um dia, ao visitar sua avó, ele conhece Yad ( Majd Mardo), um rapaz que está fazendo serviços domésticos para ela. Os 2 se apaixonam, mas estão em conflito com por conta das relaçoes com suas respectivas mães. O cineasta holandês Ellen Smit filma com muita delicadeza e elegância essa história de amor. O roteiro em si não traz muitas novidades ao tema, mas o carisma de todo o elenco, mais as lindas locações na Holanda e Amsterdã seduzem o espectador em momentos divertidos e românticos.

domingo, 18 de março de 2018

O monstro de Martfüi

"A martfüi rém ", de Árpád Sopsits (2016) Baseado na aterrorizante história real de um serial killer que estrangula, estupra e mata mulheres na pequena cidade de Martful, na Hungria, no período de 1957 a 1964. O filme tem muito da atmosfera de terror de "O silencio dos inocentes". Um inocente é acusado de ter assassinado uma mulher em 1957. 7 anos depois, outros crimes acontecem. A policia local abafa o caso, pois teme sofrer represálias por terem prendido o homem errado. O filme segue em 3 narrativas: a do inocente sofrendo bullying na prisão; a do assassino real; e a dos detetives, em busca do criminoso. Longo, o filme poderia ter 30 minutos a menos, e teria se tornado um pequeno clássico do gênero serial killer. Eu não o recomendo para pessoas sensíveis, pois o filme tem cenas chocantes de assassinato, estupro e necrofilia, incluindo a de uma menina menor de idade. Boa direção, bons atores e um final eletrizante e depressivo. O filme ganhou vários prêmios em Festivais internacionais.

A cordilheira

"La cordillera", de Santiago Mitre (2017) Diretor do polemico "Paulina", o Cineasta argentino Santiago Mitre novamente provoca em seu thriller político "A cordilheira", exibido em Competição no Festival de Cannes, na Mostra "Un certain regard". Trabalhando com Ricardo Darin, na pele do presidente argentino Hernán Blanco, e escalando sua parceira de vida e de trabalho Dolores Fonzi (protagonista de "Paulina", e aqui, interpretando a filha de Darin), o filme mescla trama política com suspense, ao gosto de "Quando fala o coração", de Hithcock, que lida com o tema da hipnose para relembrar traumas de infância. O filme discorre em duas narrativas distintas: Uma convenção de presidentes da America latina, localizada em um distante Hotel na Cordilheira do Chile, para discutir a criação de uma Multinacional do petróleo, que vai contra os interesses dos Estados Unidos. E a trama pessoal, que envolve a mentalmente perturbada Marina (Fonzi), que é levada para a convenção por seu pai, para que ela se afaste de seu ex-marido, que pelo visto tem segredos do passado do presidente argentino para revelar a todos. O filme vai numa narrativa que lembra muito o cinema de Costa Gavras e de Hitchcock. Com excelente diálogos e um elenco primoroso, o filme peca apenas pela narrativa lenta no primeiro ato. Um belo filme para se discutir ética profissional, e interesses que vão acima de qualquer tipo de caráter.

Putta

"Putta", de Lílian de Alcântara (2016) Documentário de conclusão do Curso de Audiovisual da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), o filme companha depoimentos de 3 prostitutas: a dona de um Bordel, Pantera; a travesti Diva Santos e a trans Xayenne Prado. Todas as 3 são moradoras de Foz do Iguaçu. Elas relatam dramas de abuso sexual, estupros, bullying, e a força que encontraram para poder sobreviver da prostituição. Elas não tem o menor pudor ou constrangimento em atuar na profissão. Bem resolvidas, lutam para continuar na pista. Pantera, por ex, hoje em dia e avó, e com o dinheiro do bordel que ela sustenta filhos e netos. O filme começa com um pequeno relato sobre a origem etimológica da palavra "putta", e depois, sobre o período fértil da prostituição na região por conta da construção da Usina de Itaipu, e a consequente migração para a região de serra Pelada e a decadência do local. Didático e sem grandes arroubos de criatividade, o filme se apoia totalmente nos depoimentos e no carisma das mulheres, principalmente de Diva, que é divertida na sua luta, mesmo em momentos de tragédia, ela encontra forcas para se levantar.

sábado, 17 de março de 2018

Ana, meu amor

"Ana, mon amour", de Cãlin Peter Netzer (2017) Dirigido e co-escrito pelo Cineasta romeno Cãlin Peter Netzer, realizador do excelente "Instinto materno", vencedor do Urso de Ouro em Berlin 2013. O filme acompanha durante 7 anos a relação de um jovem casal, estudantes que se conheceram na faculdade e que se apresentam discutindo fllosofia. Ana (Diana Cavaliotti) e Toma (Mircea Postelnicu) se apaixonam de imediato. Mas o espectador também entende de cara que Ana tem problemas de ataques de pânico, e vai cada vez mais se tornando uma mulher depressiva e dependente de Toma. O filme lembra bastante "Uma mulher sob influencia", de John Cassavettes, que retrata a vida de um casal e a deterioração mental da esposa, que sofre de depressão. O filme discute o relacionamento sob a ótica tanto da religião quanto da psicanálise, Os 2 personagens fazem terapias e pedem aconselhamento de um padre. O filme tem uma narrativa complexa, que apresenta 3 tempos: passado, presente e futuro. Com um trabalho formidável do casal principal, que remete a um naturalismo, não é um filme fácil de ser apreciado. Longo ( mais de 2 horas), depressivo e com uma cena de sexo explicito, é recomendado apenas para cinéfilos famintos por filme de arte.

sexta-feira, 16 de março de 2018

Eu não sou uma bruxa

"I'm not a witch", de Rungano Nyoni (2017) Escrito e dirigido pela Cineasta Rungano Nyoni, nascida em Zambia e criada na Inglaterra, "Eu não sou uma bruxa" venceu inúmeros prêmios internacionais. Rungano Nyoni pesquisou a tradição das feiticeiras em seu país. As mulheres acusadas de feitiçaria, são confinadas em um espaço, administrado pelo Governo, e aberto `a visitação de turistas, que tiram fotos. Elas ficam amarradas por uma fita branca, e segundo a lenda, se elas cortarem a fita para fugir, elas viram cabras. Shula, uma menina de 8 anos, é acusada por moradores de seu vilarejo de ser uma feiticeira. ela é levada ao campo, mas acaba sendo a favorita de um integrante do governo, que se aproveita dela para ganhar dinheiro, vendendo falsos dons místicos de Shula. em uma cena ao mesmo tempo divertida e contundente, em um programa de tv, ai vivo, o Homem vende ovos batizados por Shula. Dirigido com maestria por Rungano Nyoni, que teve seu filme exibido na Mostra "Camera D'or" em Cannes 2017, "Eu não sou uma bruxa" alia denúncia contra a sociedade machista e opressora na Zambia. As imagens das mulheres confinadas, amarradas e postas `a humilhação pública são chocantes. AO memo tempo, o filme trabalha com um humor irônico, defendido com maestria pelos atores que interpretam uma feiticeira casada e seu marido, o homem do governo. A pequena , no papel de Shula, está formidável com a sua inocência e olhar assustado. A presença onipresente da cultura estrangeira, através das músicas pop americanas, e referencias `a cantoras famosas, como Beyoncé, Rihanna, Niki Minnaj, ideal de beleza das mulheres negras em Zambia. A cena da cabeleireira colocando perucas nas feiticeiras é hilária e constrangedora pela situação inusitada. O filme é dos mais exóticos que assisti recentemente. Excelente fotografia e enquadramentos.

quinta-feira, 15 de março de 2018

Tomb Raider: A origem

"Tomb Raider", de Roar Uthaug (2018) O cineasta norueguês, responsável pelos sucessos "Cold prey" e "A onda", ficou com a difícil missão de resgatar a protagonista do video game Lara Croft, já levado `as telas por Angelina Jolie. Protagonizado pela ótima atriz sueca Alicia Vikander, o filme, como qualquer adaptação de games para o Cinema, tem no seu roteiro o ponto mais fraco. evidentemente baseado em "Caçadores da arca perdida", o filme recupera o tom de filmes de ação e aventura escapista: a heroína leva saraivada de tiros e não é atingida; ela consegue escapar de uma queda na cachoeira de forma espetacular; ela leva porrada, facada, etc, e nunca se abala. Para quem quer se divertir em um pipoca sem pensar, esse filme pode divertir. Mas quem for ficar questionando tudo o tempo todo melhor ficar bem longe da sala de cinema. Por ex: como é que determinando personagem conseguiu sobreviver...enfim, deixa para lá. O filme antecipa os eventos do filme com Angelina Jolie: mostra Lara trabalhando de entregadora de comida, se sustentando de forma miserável em Londres. Ela é filha de um milionário misto de arqueólogo, que desapareceu. Se recusando a aceitara fortuna da família, ela acaba indo em uma pista para descobrir o paradeiro do pai, que talvez esteja em uma ilha misteriosa no Japão. Confesso que me diverti, mas o filme não se propõe a nada além disso.

quarta-feira, 14 de março de 2018

Asa quebrada

"Ala rota", de Rodrigo Brevis Marqués (2018) Belo curta do cineasta chileno Rodrigo Brevis Marqués, que também escreveu o roteiro. O filme, de temática Lgbts, fala sobre homofobia. Em um dia de rotina do adolescente Gonzalo, gay assumido, ele se diverte com sua família, seus amigos, e se prepara para uma festa. Lá, ele bebe, usa drogas, discute com um ex-namorado. Até que encontra um rapaz desconhecido em sua casa. Seduzido pelo charme do rapaz, Gonzalo o beija. Mas não esperava que esse beijo poderia lhe trazer sérias consequências. Simples mas muito honesto na sua proposta, bem realizado, com atuações naturalistas, o filme impacta pelo seu desfecho. O filme discute a homofobia a partir dos personagens que não se aceitam, e vivem sob uma fachada moralista e violenta. Bela descoberta do Cinema gay chileno.

terça-feira, 13 de março de 2018

Aniquilação

"Annihilation", de Alex Garland (2018) Adaptado do livro de Jeff VanderMeer pelo próprio Cineasta Alex Garland, realizador da ficção cientifica "Ex-machina". em ambos os filmes, Alex Garland trabalha com o tema das cópias. Uma bióloga, Lena (Natalie Portman), está em luto pelo sumiço do seu marido, Kane (Oscar Isaac). Um ano depois, ele retorna misteriosamente. Logo, ele fica doente, e é levado para uma quarentena. Lena tenta descobrir o que aconteceu com Kane, e se depara com a psicóloga Ventress (Jennifer Jason Leigh). ela quer organizar uma expedição formada por mulheres, para entrar em uma zona chamada de "O brilho": vários voluntários entraram ali e nunca mais retornaram. O único que voltou foi Kane. Ao entrarem na zona, as mulheres descobrem um mundo mutante onde todos os seres se transmutam. Ficção científica cabeça, o filme chegou a ser lançado nos Eua e Canadá, mas acabou sendo distribuído mundialmente pela Netflix. Um mix de "Ghost busters", "A história sem fim", "Stalker", " Solaris", "A chegada" e tantas ficções que trabalham com o tema do metafísico e da descoberta de algum Ser Superior (Deus?), o filme deixa muitas pontas em aberto, e no desfecho, provavelmente, muita gente irá ficar irritada. Não fiquei fa do filme. Tem cenas interessantes, mas a mistura entre um filme filosófico e um filme que quer ser de ação, o deixou como o tema do filme: um Ser mutante, perdido nas suas intenções.

segunda-feira, 12 de março de 2018

A história oficial

"La historia oficial", de Luis Puenzo (1985) Vencedor do Oscar de Melhor filme estrangeiro em 1985, e da Palma de Ouro em Cannes de melhor atriz para Norma Aleandro, essa obra-prima argentina foi baseada no livro "No país do faz de conta". Rodado logo depois da queda do regime militar na Argentina, o filme narra o drama de Alicia (Aleandro), uma professora de história de classe média. Alienada de todo o contexto político que aconteceu nos porões da ditadura, Alícia é confrontada por seus alunos de esquerda. Casada com Roberto (Héctor Alterio), e pais adotivos da pequena Gaby. Quando sua amiga Ana (Chunchuna Villafañe) retorna do asilo político, Alicia passa a desconfiar que Gaby seja filha de pais assassinados pela ditadura. Com um roteiro brilhante, e atuações estupendas de todo o elenco, esse filme comoveu o mundo inteiro, com uma história forte e intensa. A Igreja católica ficou irritada com o filme, pois em uma famosa cena onde Alicia vai a um confessionário, fica claro que o Padre é omisso em relação aos crimes da ditadura. O filme é muito importante historicamente, e também, excelente oportunidade para ser visto e debatido. Muitas cenas antológicas, envolvendo verdadeiros monólogos de atores em estado de graça.

Outra história do mundo

"Otra historia del mundo", de Guillermo Casanova (2017) Co-produção Brasil/Uruguai, "Outra história do mundo" foi indicado pelo Uruguai `a uma vaga ao Oscar e ao Goya em 2018, mas não chegou `as finais. O filme é uma sátira política, muito comum na filmografia da America latina dos anos 70 e 80, descrevendo em forma de metáfora, uma crítica ao Governo local, repleto de corrupção, governantes déspotas e uma população pressionada pela falta de liberdade. Na fictícia cidade de Mosquito, vivem os amigos boêmios Milo (Roberto Suárez) e Esnal (César Troncoso). Quando o Coronel (Néstor Guzzini, de "Gigante"), se muda com sua família para c idade, ele impõe regras que afetam a vida da população, entre elas, que somente podem beber até as 22 horas. Os amigos resolvem pregar uma peca no Coronel, mas ele se vinga e prende Milo. Esnal e as filhas de Milo o procuram desesperadamente, pelos porões da ditadura, mas não o encontram. Esnal resolve voltar a lecionar na faculdade e ensinar aos jovens, através da fantasia, a se engajarem. Belamente fotografado pelo brasileiro Gustavo Hadba, o filme tem um primeiro ato e um desfecho brilhantes, mas seu miolo fica cansativo, por conta de uma edição um pouco arrastada. Mesmo assim, é um belo filme, muito bem dirigido e interpretado, que merece ser visto e discutido.

domingo, 11 de março de 2018

Desejo de matar

"Death wish", de Eli Roth (2018) Refilmagem do clássico cult de 1974, com Charles Bronson, essa nova versão tem Bruce Willis e como Diretor, o sanguinolento Eli Roth, de "O albergue". Chicago vive uma verdadeira onde de crimes. Paul Kersey (Willis) é um cirurgião ( na versão de Bronson, ele era arquiteto), casado com Lucy (Elisabeth Shue), pais da adolescente Jordan (Camila Morrone). Uma típica família feliz, até o dia que as duas sao assaltadas em casa por uma quadrilha e ficam entre a vida e a morte no hospital. Decidido a se vingar dos criminosos, Paul acaba ganhando a alcunha de "Anjo da Morte". O mote é o mesmo de qualquer filme de super herói, principalmente de "Spider man". A diferença é que aqui, a violência é explicita. Eli Roth não economizou no grafismo das mortes. Sao cabeças explodindo, e como Paul é cirurgião, imaginem o que ele faz com um bisturi. Eli Roth emula todo a atmosfera soturna e violenta do filme de Charles Bronson. E' um dos filmes mais politicamente incorretos que vi nos últimos anos: os criminosos são latinos, negros e orientais; as armas são vendidas como doces em lojas ( uma crítica de Roth feroz `a política de armamento americano); uma crítica ao universo da internet, que ensina a manusear armas, fabricar bombas, etc; e por último, o mote de que bandido bom é bandido morto. Paul não tem qualquer tipo de remorso. O filme é tenso, com cenas chocantes, mas que fará a platéia torcer pelos atos insanos do nosso herói. Em tempos de corrupção, todos serão `a favor de Paul. O filme tem uma bela participação de Vincente D'onofrio, como o irmão de Paul.

O jovem Torless

"Der junge Torless", de Volker Schlöndorff (1966) Adaptação do livro do austríaco Robert Musil, escrito em 1906, que relata as suas experiências em um colégio interno masculino. Lançado em 1966, o filme venceu o Premio Fipresci no Festival de Cannes, e é considerado um dos baluartes do Movimento do novo Cinema alemão, que lançou cineastas importantes como Fassbinder, Margareth Von Trotta, Win Wenders, entre outros. Ambientado em um colégio para homens na Austria pré Primeira Guerra Mundial, o filme acompanha Torless, um garoto classe média alta, e o seu relacionamento com professores e colegas de classe. Através de seu ponto de vista, ficamos sabendo que um de seus colegas, Bazini, foi pego em flagrante por 2 estudantes, roubado o dinheiro de um deles. Ao invés de denunciá-lo ao Diretor da escola, os 2 estudantes resolvem prender Bazini e torturá-lo no porão, sob o olhar atónito de Torless. O que ele não poderia imaginar, é que durante a sessão de tortura e estupro, ele pudesse sentir desejos pela violência infligida ao colega. Extremamente ousado para a sua época, tanto o livro quanto o filme chocaram pelo seu conteúdo homoerótico e violento, com uma tese muito semelhante ao que a ensaísta Hannah Arendt havia pregado em vários de seus livros, "A banalidade do mal". Uma metáfora precoce ( já que o livro foi escrito em 1906) sobre o surgimento da Alemanha nazista, justificando os atos de Hitler em prol de um País melhor, livre de assassinos, bandidos e homossexuais. Belas atuações do elenco jovem, boa parte não ator, com uma direção seca e narrativa fria conduzida com maestria por Volker Schlöndorff.

sexta-feira, 9 de março de 2018

I want your love

"I want your love", de Travis Mathews (2010) Escrito e dirigido pelo cineasta independente americano Travis Mathews, "I want your love" é um curta de conteúdo Lgbts e explícito. 2 amigos gays discutem sobre a possibilidade deles transarem pela 1a vez. Entre brincadeiras e discussão sobre quem fará o papel do ativo e do passivo, eles acabam transando apaixonadamente. Com atuação espontânea e ousada dos atores Jesse Metzger e Brenden Gregory, que fazem sexo real, é um filme despojado e que discute a amizade colorida de forma divertida, sexy e realista. Belo filme para se assistir com aquela pessoa que você está querendo um algo mais.

quinta-feira, 8 de março de 2018

A Garota Sem Mãos

"La jeune fille sans mains ", de Sébastien Laudenbach (2016) Belíssima animação francesa, vencedora de inúmeros prêmios internacionais, o filme é baseado em um conto dos irmãos Grimm. Um casal pobre de moleiros luta para sobreviver. Um dia, o homem se depara com um demônio, que propõe que ele troque um rio de ouro por uma macieira que o moleiro possui em seu pomar. Sem pensar duas vezes, o moleiro aceita a troca. Porém, ele não imaginou que a sua filha estivesse na macieira, e ela acaba sendo dada como troca. Como a menina se recusa a ir, o demônio pede para que o pai corte as suas mãos. Com traços totalmente minimalistas, o que mais me chamou a atenção nesse filme é o nível de crueldade existente na história. A jovem sofre bastante, e na sua trajetória ela sempre vai cada vez mais sendo ameaçada por quem a rodeia. Violento, definitivamente não é um filme para crianças. Experimental e com cores vibrantes que lembram um pouco o desenho japonês "O conto da princesa Kaguya", é um filme para ser visto pela sua ousadia, e que merece também ter seus temas discutidos. A dublagem do elenco francês, aliado `a linda trilha sonora, elevam esse filme a um nível de altíssima qualidade.

Operação Red Sparrow

"Red Sparrow", de Francis Lawrence (2018) Diretor de vários filmes de aao famosos, como "Eu sou a lenda", "Constantine" e "Jogos vorazes", Francis Lawrence repete sua parceria com Jennifer Lawrence, nessa adaptação do best seller de espionagem "Red Sparrow". O filme evoca aqueles filmes que remetiam `a Guerra Fria, na eterna luta entre Russia e Estados Unidos. Lembra muito também os recentes"Atômica", com Charlize Theron, e "Kingsman", sem o humor do filme inglês. Jennifer Lawrence interpreta Dominika, uma bailarina russa do Bolshoi. ela cuida de sua mãe enferma. Após um acidente durante uma apresentação, e impossibilitada de continuar dançando, Dominika encontra dificuldades financeiras. Seu tio Ivan (Matthias Schoenaerts), que trabalha para a espionagem Russa, propõe a ela que entre para a rede de espionagem Red Sparrow: jovens que seduzem seus alvos e se tornam máquinas assassinas. Sua missão: seduzir o agente da Cia Nash ( Joel Edgerton) e descobrir quem é o espião russo que está passando informações para os Eua. Com um elenco primoroso , que inclui Charlotte Rampling Jeremy Irons e Mary-Louise Parker, o filme tem várias polemicas: cenas de nudez frontal de Jennifer e de um rapaz; mulheres que usam seus corpos como armas de sedução; trazer `a tona o tema de que os russos são os vilões; e uma sequencia inteira coordenada por Charlotte Rampling, aplicando em seus alunos a teoria prática de que para seduzir os alvos, vale tudo: o corpo não pertence `a pessoa, mas ao Estado. Vale ser estuprado. O filme é longo, quase 2:20 horas. Mas confesso que me diverti. Tem cenas tensas, violentas Jennifer está ótima. Mas é um filme ousado, adulto. As cenas de ação são bem feitas, mas como eu disse, ele lida com um tema que com certeza incomodará `a muita gente. Nos tempos onde a mulher quer mandar em seu corpo e nas suas ações, talvez os "Red Sparrows" estejam fora de moda.

quarta-feira, 7 de março de 2018

O desaparecimento de Sidney Hall

"The vanishing of Sidney Hall", de Shawn Christensen (2017) O jovem ator Logan Lerman tem seguido um caminho curioso na sua trajetória cinematográfica. Protagonista da franquia blockbuster "Percy Jackson", ultimamente ele tem investido em dramas autorais. "Indignação", e agora, "O desaparecimento de Sidney Hall", são filme onde Logan tenta provar a todos que ele pode ser um ator sério. ele já havia feito muito sucesso com o cult "As vantagens de ser invisível". Em "Sidney Hall", Logan também é produtor. O filme foi selecionado para Sundance em 2017. mas a grande dificuldade do filme, é conseguir segurar a atenção do espectador durante as quase duas horas de duração. O filme é narrado em 3 épocas distintas, na vida de Sidney Hall (Logan Lerman). Quando ele é um aluno do colégio, com ambição de ser um escritor e apaixonado pela vizinha que mora na frente de sua casa, Melody (Elle Fanning); jea adulto, como um escritor de sucesso e casado com Melody; e aos 30 anos, como um sem teto, vagando pelas estradas. Um detetive tenta buscar o paradeiro de Sidney, que desapareceu sem deixar vestígios. Assim, o filme vai sendo apresentado nas 3 narrativas, muito provavelmente para trazer ao espectador informações que culminem num desfecho elucidativo em relação ao destino de alguns personagens. E' difícil não pensar em J.D. Sallinger. Muito desse filme deve ao autor do clássico O apanhador do campo de centeio". Mas esse vai e vem temporal provoca tédio e muita confusão. Não é um filme fácil de acompanhar. "Manchester by the sea" tinha uma estrutura também desconstruída, mas o roteiro era brilhante. O elenco tem muitas participações de atores talentosos, mas infelizmente, a frieza narrativa deixa o espectador anestesiado.

segunda-feira, 5 de março de 2018

O Segredo de Marrowbone

"Marrowbone", de Sergio G. Sánchez (2017) Longa de estréia do roteirista espanhol Sergio G. Sánchez, mais famoso por ter escrito 2 grandes sucessos de J.A. Bayona, "O orfanato" e "O impossível". "O segredo de Marrowbone" lembra bastante 3 cults de terror: "Split", de Shayamalan, "O mensageiro do diabo" e "Todas as noites `as nove", de Jack Clayton. No ano de 1969, 4 irmãos se mudam com a mãe enferma deles para uma casa aonde a mãe morou há décadas atrás. Quando ela morre, os irmãos fazem um pacto: manter a morte dela em segredo para as outras pessoas, e que eles devem permanecer todos juntos. Mas o segredo surge: o pai deles, de quem eles estavam fugindo, surge para reaver um dinheiro que a mãe deles levou com ela. O elenco jovem do filme é formado por grandes talentos: George MacKay, de "Capitão Fantástico"; Charlie Heaton, de "Stranger things", Mia Goth, de "Ninfomaníaca", e Anya Taylor-Joy, de "Split" e "A bruxa". Bem dirigido, o filme peca pelo roteiro `as vezes confuso, atirando para todos os lados: ele quer apostar no drama, no romance e no terror. Deveria ter investido mais no suspense, aproveitando a deixa da casa mal assombrada. O filme tem problemas de ritmo, mas dá para assistir numa boa, apesar do desfecho meio bizarro.

domingo, 4 de março de 2018

Riot

"Riot", de Jeffrey Walker (2018) Drama australiano realizado para comemorar os 40 anos do Mardi Grass, a parada Gay do País. O filme ficcionaliza personagens reais que durante o período de 1972 a 1978, lutaram pelo Movimento dos direitos dos Gays na Austrália, até a criação do Mardi Grass em 1978. Nessa noite, os manifestantes foram espancados pela Polícia, e a maioria teve seus nomes revelados pela mídia, provocando a demissão em seus trabalhos. O filme finaliza com o hino "Heroes", de David Bowie, sobre a imagem dos personagens reais. Os atores estão ótimos, e a reconstituição de época é muito bem feita. A trilha sonora traz clássicos do pop rock/disco da época. "Riot" faz lembrar de filmes como "Pride", "Mulheres divinas", "Milky" e "Stonewall", todos tendo como o tema a luta pelos direitos humanos, sociais e de inclusão de minorias.

A maldição da casa Winchester

“Winchester”, de Michael e Peter Spierig (2018) Os irmãos Spierig, diretores do último filme da franquia “Jogos mortais”, pareciam ser as pessoas menos recomendadas para dirigir a grande atriz inglesa Helen Mirren. Mas em “A maldição da casa Winchester”, eles realizaram um decente filme de terror que homenageia os antigos filmes da Hammer, principalmente os de casa mal assombradas. O filme tem absolutamente todos os clichês do gênero, até mesmo aquele em que um menino olha debaixo da cama. Só faltou o gato preto. Mas é assistível e dá uma bons sustos. O filme se baseia em uma história real, adaptado ficcionalmente para dar um clima de terror. Em Sam Francisco, a herdeira da família Winchester, Sarah (Helen Mirren), fábrica que produz armas, é dada como insana e seus sócios querem destituí-la da empresa. O Dr Price (Jason Clarke, de “Mudbound”) é enviado para a mansão para avaliar as condições psicológicas dela. A mansão possui mais de cem cômodos, e corredores como se fossem labirintos. Sarah alega ao Dr Price que cada cômodo é para o espírito de um morto pela arma de sua empresa. Price não acredita nela, mas logo percebe que a casa está infestada de fantasmas. Na primeira parte o filme tem problemas de ritmo e os sustos vem do óbvio som estridente e de algo que surge do nada. Mas na segunda parte o filme investe mais no drama dos personagens e melhora bastante. Para quem busca um terror de roer as unhas, pode se decepcionar. O filme aqui tem suspense light, mas no fim, a gente acaba vendo referência a vários filmes, até mesmo, “O sexto sentido”. Passatempo pipoca, vale pela Helen Mirren fazendo filme de terror.

Contadora é para os Amantes

"Contadora is for lovers", de Jorge Ameer (2006) O Cineasta panamenho Jorge Ameer construiu uma prolífica filmografia baseada em filmes com tema Lgbts. Ameer escreve, dirige e produz os seus filmes, todos de baixíssimo orçamento. Fosse nos Estados Unidos, seus filme seriam taxados de "Mumblecore", movimento do cinema independente com filmes muito baratos. Assim como seus outros filmes, "Contadora é para os Amantes" é ruim em todos os quesitos: Elenco amador, roteiro, fotografia, câmera, trilha sonora. O que acaba sendo um ponto positivo, é que Ameer divulga a cultura de seu País, mesmo que de forma exótica, para estrangeiros. ele normalmente filma em externas: nas ruas coloridas, nas praias paradisíacas. Mike e Maria são um casal americano, que resolve passar a lua de mel na Ilha Panamenha de Contadora. Lá, eles são recepcionados pelo guia Gabriel, um jovem e sedutor tipo latino. Gabriel e Mike, durante um passeio na praia sozinhos, acabam se flertando e se beijam. Mike acusa Gabriel de se aproveitar dele, mas logo sua esposa Maria remedia a situação, promovendo um Threesome. Esse filme é tão ruim, que acaba tendo o charme de uma produção mega tosca. As atuações duras, nitidamente de falas decoradas, são um atrativo `a parte. Páreo duro na Lista dos piores filmes da história.

sábado, 3 de março de 2018

Todas as razoes para esquecer

"Todas as razoes para esquecer", de Pedro Coutinho (2017) Um homem tenta a todo custo apagar de sua mente a memória da mulher apaixonada por quem convivei por 2 anos. Não, não estamos falando de "Brilho eterno de uma mente sem lembranças", de Michel Gondry. No filme de Pedro Coutinho, a pegada é realista. A melancolia existe, mas com aquele tom de filme acri-doce, puxando para uma deliciosa comédia romântica. Pedro Coutinho quer falar da crise existencial da geração Millenium: jovens `as voltas com redes sociais e relacionamentos fúteis. Mas Antonio (Jonnhy Massaro, formidável) é um jovem `a moda antiga: sonha em ser escritor, mas trabalha em uma agencia de publicidade como designer. Acabou de se separar de Sofia (Bianca Comparato), e por conta disso, sua luz se apaga. ele fica sem gosto pra vida, e acaba se consultando com uma terapeuta (Regina Braga). O filme é uma comédia paulista. digo isso porque os filmes paulistas tem um ritmo e uma narrativa distinta da comédia carioca. menos editado, com tempos mais cinematográficos, piadas mais contextualizadas para quem mora em uma grande metrópole, onde um dos grandes atrativos é subir na cobertura e vislumbrar os prédios da cidade. Johnny Massaro passeia bem pelo drama, comédia, romantismo, tudo com uma pegada deliciosa e carismática. O filme é dele, ele está em todas as cenas. O elenco de apoio, formado por atores paulistas, são muito bem-vindos. Bianca Comparato empresta o talento que todos já conhecemos, maravilhosa. Gostei bastante do filme, mesmo que ele tenha alguns problemas de ritmo.

Lou

"Lou", de Dave Mullins (2017) Curta de animação da Pixar, concorrendo ao Oscar da categoria em 2018, é uma fábula sobre redenção e bullying narrada em 7 minutos e sem diálogos. Lou é um ser estranho, formado por objetos perdidos e abandonadas pelas crianças em um pátio de uma escola. Lou também é a abreviação de "Lost and found". Um menino solitário pratica bullying em seus colegas na escola. Até que Lou resolve pregar uma peca no menino e fazer ele se desculpar de todos que ele maltratou. Simples, é um filme fofo, mas nao o bastante para estar concorrendo para um Oscar. Acredito que tinham muitos outros filmes de animação formidáveis do mundo todo, mas aqui deve ter pesado a grife da Pixar. Vale assistir, mas nada inesquecível. https://www.youtube.com/watch?v=kOzcE0jW3I

quinta-feira, 1 de março de 2018

Somente Charlie

"Just Charlie", de Rebekah Fortune (2017) Excelente drama Lgbts, com performances contundentes de todo o elenco. Charlie (Harry Gilbi, impecável e emocionante) é um promissor jogador de futebol, aos 12 anos de idade. Ele é a alegria de seus pais e de seus amigos em uma cidade no interior da Inglaterra. No entanto, Charlie aos poucos vai se desinteressando do futebol e dos estudos. Para espanto de seus pais, Charlie revela estar infeliz e que deseja ser uma menina. A partir daí, a vida de todos se transforma, num misto de homofobia e aceitação. O roteiro lida muito bem com o tema da descoberta da sexualidade na adolescência, e aqui, o tema ainda é mais complexo: Charlie quer ser uma mulher. Com a ajuda de sua mãe e de sua irmã, ele vai aos poucos assumindo sua porção feminina, para repulsa de quase todos, inclusive seu pai. O filme lida com o tema de forma realista, elegante e sem sensacionalismo. Gostei bastante, me emocionei e fiquei chocado com o talento desse jovem ator Hatty Gilb, responsável pela credibilidade desse personagem tão complexo como Charlie. Super recomendado.

O trono

"Sado", de Lee Joon-ik (2015) Premiadíssimo drama épico sul coreano, e indicado para uma vaga no Oscar de filme estrangeiro, "O trono" é um filme que se baseia em uma história real: No século 18, o Rei Yeongjo (Song Kang-ho, o maior astro do cinema sul coreano) obriga o seu filho, o príncipe herdeiro Sado (Yoo Ah-in, a maior estrela jovem do país) , a cometer suicídio, por ter provocado uma rebelião para assassinar o Rei. Sado se nega a se mater, e o Rei o prende dentro de uma caixa de madeira, onde Sado permanece por 8 dias, sem comer e beber. O filme é um melodrama repleto de intrigas e tragédias, daquelas de fazer a gente torcer e se contorcer. Excelente roteiro, muito bem dirigido, com enquadramentos e marcações de cena elegantes e bem construídas. Tecnicamente o filme é um primor: fotografia, direção de arte, figurino, maquiagem e a trilha sonora. Um filme complexo pela história cheia de nuances, reviravoltas e narrativa que trabalha com o passado e o presente, trazendo informações que façam o espectador entender o porque do príncipe querer matar seu pai. Bela pedida de filme adulto, classudo e bem produzido e dirigido. O elenco está excelente, com a costumeira interpretação over dos atores sul coreanos.

Mudo

"Mute", de Duncan Jones (2018) Duncan Jones, Cineasta inglês, filho de David Bowie, realizou em sua filmografia 2 cults da ficção cientifica: "Lunar" e "Contra o tempo". Logo depois, realizou "Warcraft", que foi muito mal sucedido em todos os sentidos. Com "Mudo", seu 4o longa, Duncan Jones retorna ao universo da ficção cientifica, mas infelizmente, sem o brilho de seus primeiros filmes. Em primeiro lugar, E' inconcebível que um filme com um roteiro tão simplório tenha 130 minutos. Parece que nunca vai acabar, ainda mais que muito pouco acontece na trama, em situações reiterativas.. A história gira em torna de Leo (Alexandre Skaagard), um barman que trabalha em um bar futurista na Berlin de 2029. Leo é mudo: quando criança, ele sofreu um acidente, mas sua mãe, de religião Amish, proibiu que ele fizesse uma cirurgia que pudesse resolver seu problema de mudez. Leo namora Naadira, uma garçonete no bar onde ele trabalha. Naadirah tem um passado sombrio, mas Leo prefere não saber de nada da história dela. Até que ela some. em sua busca desenfreada, Leo esbarra seu caminho com o cirurgião Bill (Paul Rudd), que trabalha como médico para uma máfia russa. Com um visual sem muita criatividade e um roteiro que não seduz muito o espectador, sobra muito pouco para tornar esse filme um projeto que mereça valer seus 130 minutos. Os atores estão razoáveis, e os efeitos e a concepção visual são praticamente chupados de "Blade Runner". Talvez seja melhor pular logo pros 25 minutos finais, quando existe alguma mudança de dinâmica e quem sabe, fazer o espectador querer ver todo o início na sequencia.