segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

The one you never forget


"The one you never forget", de Morgan Jon Fox (2019)
Premiado curta LGBTQIAP+ independente americano, "The one you never forget" conta a história de Carey, um garoto de 14 anos que se prepara para dançar de noite com alguém que ele gosta. Seus pais ficam curiosos em saber qual o nome da namorada, mas Carey fica tímido e não fala. Quando Carey sai, seu pai o olha pela porta de mãos dadas com um outro rapaz que chega.
Um filme delicado e filmado com sutilezas, tem como sub-texto a inclusão racial e de gêneros. É um filme de aceitação, com um desfecho mais apropriado ara filmes da Disney, mas é importante que o filme seja visto por adolescentes que estejam no armário e tomem coragem para conversarem com seus pais.

Charli XCX- Alone together


"Charli XCX- Alone together", de Bradley Bell e Pablo Jones-Soler (2021)
Documentário que concorreu no Festival SXSW 2021, acompanha a pop star inglesa Charli XCX durante o início da pandemia, quando se instaurou o lockdown em Los Angeles, aonde ela estava morando. Charli começou sua carreira ainda adolescente, mas em 2019 ela estava com uma nova turnê vitoriosa, com recordes de público. Mas com a entrada da pandemia, ela teve que cancelar a turnê. Isolada em sua casa em Los Angeles, Charli temia pela sua saúde mental. Ela decidiu então algo inédito para ela e se desafiar: durante 40 dias, ela anunciou para os seus fãs online que criaria um álbum novo, e a produção seria caseira. Seus produtores a ajudaram mandando equipamentos necessários que Charli e seu namorado Huck pudessem fazer sozinhos. Os colaboradores Bradley Bell e Pablo Jones-Soler enviaram 3 mini câmeras para Charli para que ela registrasse todo o processo. Charli fazia sessões online de chat com fãs do mundo inteiro, em processo colaborativo de escrever letras, criar clipes e fazer remixes. No dia 15 de maio de 2020, foi lançado o álbum 'How I'm feeling now", com 11 faixas e indicada a vários prêmios.
O melhor desse filme é a relação com que os astros mantiveram com os seus fãs mundo inteiro. As entrevistas com os fãs, igualmente isolados em casa, e a maioria da comunidade Lgbt, relatando dificuldades com família, a solidão, depressão, e como foi importante tanto para Charli como para os fãs manter essa conexão criativa. Um filme que discute as novas possibilidades de criação e de relacionamento que a covid trouxe para todos. Um filme atual e bastante interessante.

A babá- o caminho das sombras


"Yaga. Koshmar tyomnogo lesa", de Svyatoslav Podgaevskiy (2021)
Terror russo dirigido pelo cineasta Svyatoslav Podgaevskiy, especializado em filmes de terror de grande sucesso comercial tipo exportação. Entre seus sucessos estão "A noiva" e "A sereia- o lago da morte". Em "A babá- o caminho das sombras", a história gira em torno da lenda eslava da Babá yaga, uma entidade que recruta assistentes que se fazem passar por babás e sequestra as crianças para que a babá se alimente de suas almas. Os pais das crianças se esquecem que tiveram as crianças e a vida segue normal.
Nos dias atuais, Egor (Oleg Chugunov, um menino que lembra Henry Thomas de 'Et") se muda para uma cidade com seu pai, sua madrasta e o bebê recém nascido deles. Na escola, Egor sofre bullying de Anton e sua turma, mas fica amigo de Dasha, uma menina toda conectada em internet. Quando seu pai contrata uma babá, Egor passa a suspeitar dela. Quando a bebê some, Egor relata para seu pai e madrasta, mas eles não sabem da existência de nenhum bebê.
Muita gente detonou o filme. Ele é mega genérico, mas o que curti nele foi ter crianças como protagonistas, fazendo referências diretas a "The Goonies" e "Stranger things", ainda mais que existe um mundo paralelo. As crianças são boas e tem cenas bem inspiradas, como a modelo da foto que cria vida. Mas a trama acaba ficando confusa e mistura muito assunto. No geral, dá para um bom passatempo.

O dirigível Hindenburgh


"The Hindenburgh", de Robert Wise (1975)
É curioso que o cineasta Robert Wise tenha em seu currículo filmes tão díspares como "A noviça rebelde", "West side story", "Star Trek", "o dia em que a terra parou"e entre outros, "O dirigível Hindenburgh", sobre a maior tragédia com dirigíveis Zeppelins ocorrido na história. O desastre do Hindenburg ocorreu em 6 de maio de 1937, em Lakehurst, Nova Jersey, Estados Unidos. O dirigível alemão tinha a bordo 97 pessoas (36 passageiros e 61 tripulantes) e houve 36 mortes.
Robert Wise mandou construir uma réplica do dirigível de 8 metros, o restante foi pintura e cenários em estúdio. O filme foi rodado em technicolor, mas no acidente, muda para preto e branco, para poder aproveitar imagens reais documentadas na época. "O dirigível Hindenburgh" é o típico filme desastre dos anos 70: elenco estelar, muito falatório e apenas 20 minutos de desastre. Era um padrão desse gênero. O filme foi polêmico, pois parte do pressuposto de que a tragédia foi provocada por terrorismo. Os alemães acreditavam que o incêndio foi provocado por anti-nazistas ( na cauda do Hindenburgh havia a suástica nazista). Todo o elenco é formado de atores ingleses e americanos, dando vida a personagens alemãs. Entre eles, George C. Scott, que faz Coronel Franz Ritter, enviado para acompanhar a viagem, após uma vidente americana alertar sobre a tragédia. Ele passa a suspeitar de todos a bordo, entre elas, a. condessa Ursula (Anne Bancroft). Os efeitos variam entre excelente e toscos, como na cena da morte de um personagem que morre por explosão, chega a ser risível. Outro momento tosco é quando um narrador no final vai anunciando fotos de tripulação e passageiros e avisa se está morto ou sobreviveu, e aí aparece uma foto de um cachorro e ele diz que sobreviveu. Filem razoável mas que foi sucesso na época.

22:47- Linha 34


"22:47- Line 34", de Michael Kerre (2019)
Premiado curta suiço, vencedor do prêmio da audiência em Palm Spring e dirigido e escrito por um estudante de cinema da Zurich university of arts, Michael Kerrer.
O filme é todo rodado em um único plano, dentro de um ônibus de transporte público, no horário de 22:47. O filme traz 10 minutos em tempo real na vida de passageiros de um ônibus, onde um único instante poderia transformar tudo em tragédia. 5 adolescentes estão fazendo a maior zona na parte de trás do ônibus. Os passageiros reclamam, mas se sentem acuados pela garotada. Até que entra um bêbado no ônibus.
O que impressiona é a precisão do diretor em marcar a cena de forma tão espontânea, como se acontecesse na vida real. Os jovens atores são todos excelentes, e me lembraram bastante o clima de 'Kids", de Larry Clark. É tenso, bem dirigido, bem atuado e provavelmente todos nós já passamos por situação semelhante. Aquele instante onde tudo poderia dar muito errado.

domingo, 30 de janeiro de 2022

Munique- no limite da guerra


"Munich- the edge of war", de Christian Schwochow (2021)

Adaptação da novela escrita por Robert Harris em 2017, "Munique- no limite da guerra" tem uma trama semelhante a "Operação Walkyria", com Tom Cruise: um plano para assassinar Hitler. Mas ambos os filmes buscam o realismo e a ficção para criar uma trama de espionagem onde os heróis decidem barrar os horrores de Hitler. Mas como não estamos no terreno da galhofa de Tarantino, que quiz reescrever a história em "Bastardos inglórios", onde decidiu matar Hitler, o público já sabe como será o desfecho de "Munique".
No ano de 1938, o assistente do primeiro ministro inglês Neville Chamberlain (Jeremy irons), Hugh Legat (George MacKay), decsobre que um antigo colega da Oxford, o alemão Paul von Hartmann (Jannis Niewöhner), com quem rompera relações por divergências políticas, está em posse de um documento que pode assegurar as reais intenções de Hitler, que é a de expandir o seu poderio sobre a Europa. Chamberlain não acredita nessa possibilidade e decide assinar o tratado de paz em Munique, com a presença de Hitler e os presidentes da França e Itália. Paul decide então que deve matar Hitler.
O filme tem excelente produção, com muita figuração, direção de arte, figurino e fotografia caprichados. Tem também um elenco talentoso, que inclui a alemã Sandra Hüller, no papel de Helen, namorada de Paul. Mas "Munique" não empolga. É um filme correto, convencional, bem feito, mas faltou emoção e tensão. Talvez porque já saibamos que no final, tudo acabaria em 1945 da forma como já vimos em centenas de filmes. Aqui ficou tudo no campo do "E se..?", mas justamente por isso, o final é frustrante. Tarantino se divertiu mais, desvirtuando a história.

Belle


"Belle", de Mamoru Osoda (2021)
Um dos recordistas de de minutagem em aplausos no Festival de Cannes, com 14 minutos ininterruptos, "Belle" foi dirigido por Mamoru Osoda, do comovente "Mirai", indicado ao Oscar de melhor animação. O filme é uma releitura ousada de "A bela e a fera", imitando inclusive várias cenas clássicas do filme da Disney, e incluindo uma forte crítica às redes sociais e a aparência de eterna felicidade que todo mundo se expõe, escondendo a sua verdadeira realidade. Uma rede social chamada "U" tem 5 bilhões de usuários no mundo, e qualquer um que entra cria um avatar. Suzu , deprimida pela morte de sua mãe quando criança, e por isso, perdendo o seu gosto pelo canto, cria um avatar chamada "Belle" e canta no mundo virtual, se tornando uma enorme popularidade. Mas quando surge um avatar com cara de dragão, apelidado de Fera que a salva em momento de insegurança, Suzu se sente atraída por ele, como se ambos tivessem uma conexão em sua história real.
Tudo no filme é sublime: o roteiro, mega atual, as cores, efeitos especiais., trilha, canções e o carisma dos personagens. A cena em que Suzu aproxima dois amigos tímidos que são apaixonados é antológica de tão divertida. Me lembrei do filme "Freeguy" que tem premissa semelhante, e da obra-prima "Paprika".

Heaven reaches down to earth


"Heaven reaches down to earth", de Tebogo Malebogo (2020)
Um belo exemplar de cinema queer negro, "Heav reaches down to earth" é uma produção Sul africana com elenco e diretores negros. Premiado em diversos Festivais e competindo em Clermond Ferrant e Palm Spring, entre outros importantes eventos, o filme é uma representação metafórica, intimista e poética sobre o despertar sexual de dois amigos que escalam uma montanha. Tau faz uma reflexão filosófica e existencial sobre o que está sentindo pelo seu amigo Tumelo, fazendo comparações com as sensações que a natureza proporcionam.
A fotografia é belíssima, e as locações estonteantes. Um projeto experimental que traz sensações sobre os personagens, a gigantesca dimensão da natureza agindo sobre a condição humana.

Clean


'Clean", de Paul Solet (2021)
Co-escrito, produzido e protagonizado por Adrian Brody, que agora investe em papéis de durões. Brody e seu diretor Paul Solet explicitamente disseram que as referências para "Çlean" são "Taxi driver" e 'Drive" :ao invés do táxi, um caminhão de lixo. Ao invés da jovem prostituta de Jodie Foster, uma menina negra salva de um estupro, De "Drive"vieram os martelos usados como arma. "Clean" é um bom filme de vingança repleto de violência, mas a porradaria só começa mesmo no 2o ato. O 1o ato é usado para a preparação e apresentação dos personagens.
Clean é Adrian Brody, um motorista de caminhão que trabalha de noite nas ruas de Nova York recolhendo lixo das ruas. No meio do lixo, ele vez ou outra encontra cadáveres de pessoas mortas pelo chefão do tráfico local. Clean tem um passado traumático: sua filha morreu de forma trágica e por isso ele abandonou a carreira de assassino profissional. Mas quando ele salva uma menina da comunidade de ser estuprada pelo filho do chefão e sua gangue, ele é caçado impiedosamente.
Adrian Brody faz uma narração em off no estilo sussurrado de Christian Bale em "Batman". É um filme estilizado, quase todo noturno. É genérico, mas funciona e vale como passatempo.

sábado, 29 de janeiro de 2022

Prora


"Prora", de Stéphane Riethauser (2012)
Premiado curta LGBTQIAP+ alemão, escrito e dirigido pela cineasta Stéphane Riethauser.
Prora foi um balneário planejado pelo Partido Nazista na ilha Rügen, Alemanha, que também serviu de Colónia de férias para os nazistas. Em 1945 o Exército Soviético passou a controlar a região e utilizá-la para fins militares. Stéphane Riethauser cria uma irônica fábula de amor adolescente. É justamente nesse espaço arquitetônico decadente, onde nazistas e comunistas moraram, que o despertar sexual entre Jan (Tom Gramenz) e Mathieu (Swen Gippa) acontece. Jan é alemão e Mathieu, francês. Os amigos saem de uma balada noturna e decidem passear na orla onde fica o Prora. Mathieu não para de falar nas garotas que ele vai pegar. Jan apenas escuta. Quando Mathieu decide entrar no Prora para explorar o local, Jan vai atrás, preocupado. Mas no meio da brincadeira entre os amigos, desperta a paixão e eles fazem sexo. Mas a amizade não será mais a mesma. .
Belamente fotografado e filmado, "Prora" tem locações inebriantes que contrastam com a opressão dos prédios do Prora. Os dois jovens atores são ótimos, e a cena de sexo, linda e sensual.

Juniper


"Juniper", de Matthew J. Saville (2021)
Esse filme daria uma excelente adaptação teatral, em espetáculo para 4 atores: a avó de 80 anos, o pai de 40 anos, o neto de 17 anos e uma enfermeira de 25 anos.
A história lembra bastante Ensina-me a viver" e "Perfume de mulher". São filmes onde um adolescente se relaciona com uma pessoa mais idosa e ambos saem transformados: ele aprendendo a amar a vida, e ela reaprendendo a viver.
Juniper em português é zimbro, uma fruta usada na preparação do gim. Ruth (Charlotte Rampling, ótima) é uma idosa alcóolatra e mau humorada, que maltrata todo mundo. Ela está doente e não anda mais, estando em cadeira de rodas. Ela vai passar um tempo na casa de seu filho Robert ( Márton Csókás), em uma fazenda na cidade de Aotearora, Nova Zelândia. Sam ( George Ferrier ) é um rapaz de 17 anos, depressivo desde a morte de sua mãe. Ele está suspenso da aula por mau comportamento, e seu pai o leva até a fazenda. Para surpresa de Sam, ele é obrigado a cuidar de Ruth enquanto Robert precisa viajar para Inglaterra. A enfermeira Sarah ( Edith Poor ) ajuda Ruth, mas é Sam que é menosprezado pela avó, que o maltrata. Mas com o passar do empo, avó e neto entendem que ambos passaram por momentos difíceis em suas vidas e que o que os une é a sensação eminente da morte (Sam é suicida).
Apesar de lidar com temas pesados como morte, suicídio, doença terminal, "Juniper" é um drama familiar, com bons diálogos e ótimas atuações. George Ferrier carrega o filme todo nas costas, no papel de Sam. Ele é o filme, e o seu carisma transborda o personagem Sam em alguém que queremos acompanhar até o fim. As cenas dele com Ruth, principalmente no luau, são comoventes.

Fortaleza Hotel


"Fortaleza Hotel", de Armando Praça (2021)
Vencedor dos prêmios de melhor ator (Vanderlei Bernardino) e atriz (Clebia Sousa) no Cine Ceará 2021, "Fortaleza Hotel" é escrito e dirigido pelo mesmo realizador de "Greta", e traz temas bastante semelhantes: a solidão na grande cidade, o encontro entre duas pessoas muito opostas e de culturas distintas mas que se entregam pela solidariedade e pela ausência de afeto. O filme traz referências no cult "Cagdá café", de onde pega emprestado o título e a relação entre uma estrangeira e uma local que se comunicam com um inglês básico, e na filmografia dw Wong Kar Wai, através da fotografia estilizadaa e enquadramentos rígidos. De "Felizes juntos", o filme pega a cena de tango na cozinha.
Pilar (Sousa) é camareira do Fortaleza Hotel. Ela juntou dinheiro para morar e trabalhar em Dublin. Uma nova hóspede, Shin (Yeong-ran Lee) chega após a morte de seu marido, hóspede do hotel e que se suicidou. Shin não tem o dinheiro para cremar o corpo. Pilar tem a filha sequestrada e precisa pagar 10 mil em uma semana. As duas mulheres se unem para tentar resolver os seus problemas, mas caem em um espiral da violência urbana de Fortaleza.
O melhor do filme são as ótimas atuações. De ritmo lento, o filme aposta no silêncio e na estilização das imagens, tornando a narrativa por muitas vezes fria e distanciada.

The requin


"The requin", de Le-Van Kiet (2021)
Um filme de tubarão todo filmado no parque aquático da Universal de Orlando, Flórida, simulando o Vietnã? Alicia Silverstone protagonizando um filme de tubarão? Efeitos de CGI mega toscos que reproduzem o mar, o Vietnã e o tubarão? Um título bizarro sem sentido que mistura inglês e francês? (requin é tubarão em francês). Um cineasta vietnamita especializado em filmes de artes marciais, escrevendo e dirigindo um filme de tubarão com Alicia Silverstone? Uma logline que diz "No mar aberto, o seu grito não será ouvido?", um plágio da logline de "Alien, o 8o passageiro? Todos esses motivos me fizeram assistir a "The requin", e tenho que confessar, esse é um dos sub-gêneros de terror que mais adoro, e é impressionante como toda hora surgem filmes de tubarões assassinos.
Jaelyn (Alicia Silverstone) e Kyl (James Tupper) são um casal em crise: o bebê que estavam esperando morreu durante o parto. Jaelyn ficou depressiva e sofre de pesadelos e alucinações. Para tentar distraí-la, seu marido decide levá-la à uma viagem até o Vietnã e se hospedarem em um bangalô submerso sobre o mar. O que eles não esperavam é que uma tempestade fizesse o bangalô se soltar enquanto dormiam e ao acordar, eles se vêem perdidos em pleno mar aberto. Kyl quebra a perna e resta à Jaelyn tentar uma forma de tirá-los de lá. Como se não bastasse, surgem tubarões, atraídos pelo sangue da perna do marido.
Para minha tristeza, os tubarões surgem somente no final. Até lá, é um filme de sobrevivência. Sério, os efeitos são muito mal feitos, é evidente que os atores estão em um tanque e tudo ao redor foi aplicado em croma. Mas é um filme B que tem seus momentos de diversão. Mas o que me fez ficar triste, é entender a crueldade do mercado de atores em Hollywood: Alicia Silverstone foi uma das atrizes mais bem pagas dos anos 90, protagonista de "As patricinhas de Beverly Hill" e chegou a ser Batgirl. Mas a idade é cruel no audiovisual, e é comovente ver como Alicia teve que entrar nesse projeto. Torço para que seja redescoberta em grandes filmes ( assim como fez uma ponta em "O cervo sagrado", de Largos Lanthimos, mas esse ninguém viu.

Prazer


"Pleasure", de Ninja Thyberg (2021)
Polêmico e visceral drama co-produzido pela Suécia, França e Holanda, concorreu em importantes Festivais de cinema, como Sundance e Cannes, e apresenta com muita crueza a ambição de uma jovem sueca, Bella Cherry ( em atuação corajosa e impactante de Sofia Kappel), de 19 anos, que vem da Suécia para Los Angeles para se tornar uma estrela pornô, mentindo para sua mãe que veio fazer estagio.
Logo no início do filme, Bella está na alfândega sendo entrevistada por um agente na chegada em Los Angeles, que lhe pergunta "Você veio a negócios ou prazer?". Sem titubear, responde: "Prazer!".
O filme apresenta de forma quase documental como se tornar uma atriz pornô em Los Angeles. Entrevista com agente, contrato gravado em celular, afirmando que está fazendo as cenas por livre arbítrio e ciente de tudo o que acontece. A ambição de Bella a fará trair amigas, fazer cenas de BDSM sem estar preparada, sendo estuprada , espancada, cuspida e humilhada. É uma cena ultrajante e difícil de assistir. Ainda assim, ela não desiste e vai para situações cada vez piores, como uma Mephisto que vende a alma ao diabo.
"Prazer" não é um filme fácil de se assistir, é cru, e certamente irritará muitos espectadores. Tem cenas brutais, de total humilhação e que apresenta o ponto de vista da roteirista e diretora sobre a misoginia de uma indústria dominada por homens insensíveis e que só pensam na próxima estrela, uma carreira de curto prazo. O filme tem no elenco diretores e atores reais, misturados a atores profissionais.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

Um herói


"Ghahreman", de Asghar Farhadi (2021)
O cineasta iraniano tem o grande feito de ter 2 Oscars de filme estrangeiro na prateleira, por "A separação" e "O apartamento". "Um herói", grande prêmio do juri no Festival de Cannes 2021, está na seleção para o Oscar de filme estrangeiro 2022, e só não levará seu 3o Oscar por conta do favoritismo do japonês "Drive my car".
Dessa vez, Asghar Farhadi realiza um drama extremamente angustiante, que chegar a ser sádico com o seu protagonista, colocando-o num espiral de mentiras e erros que chega num nível de quase insuportável de assistir. É muito doloroso acompanhar o protagonista Rahim (Amir Jadidi, espetacular em sua fraqueza física e minimalismo), um homem que sai da prisão, por onde está .há 3 anos para uma licença de dois dias para rever sua família e sua namorada. Rahim foi preso por conta de uma dívida com seu ex-cunhado. Sua namorada lhe oferece uma bolsa com moedas de ouro que ela encontrou largado para que ele pague a dívida. Mas quando ele decide, por moral, devolver à sua dona, a vida de Rahim e de todos que o cercam se afund anum poço sem fim de mentiras e arapucas.
Asghar Farhadi novamente apresenta um estudo de moral dos personagens espetacular, mas dessa vez é muito cruel com o destino de todos. Os atores estão todos ótimos, em especial o menino que faz o filho gago de Rahim. Que desespero esse drama, saí arrasado.

Diários de Otsoga


"Diários de Otsoga", de Miguel Gomes e Maureen Fazendeiro (2021)
Premiado mockmentary do premiado cineasta português Miguel Gomes, realizador dos monumentais "Tabu", "Aquele querido mês de agosto" e a trilogia "1001 noites. Exibido no Festival de Cannes 2021, dessa vez Miguel dirige o filme com sua companheira, Maureen Fazendeiro. Juntos, realizam um filme experimento, realizado no confinamento da pandemia de 7 de agosto a 10 de setembro de 2020. O filme acompanha 3 jovens, Crista (Crista Alfaiate), Carloto (Carloto Cotta) e João (João Nunes Monteiro) que decidem passar uns dias numa casa de campo e construir um borboletário. A narrativa é contada de trás pra frente: são 22 dias de diário, começando no 22o e terminando no 1o: a partir de determinando momento desse exercício de minimalismo e naturalismo onde nada de conflitante acontece, descobrimos que é tudo uma encenação, e a própria equipe de filmagem aparece e faz parte do filme. O que é real? O que é ficção? Até que ponto os atores estão fora de seus personagens? A equipe está interpretando? Esse jogo é o que faz desse filme uma obra de reflexão, discutindo o trabalho de criação.
Otsogo é Agosto ao contrário, como o filme é narrado. Em determinando momento, a atriz se recusa a beijar um ator pois ele saiu do confinamento. Esse é um momento chave que fala sobre protocolos de pandemia , inserido dentro de uma obra de ficção.

Anne a 10 mil pés


"Anne at 10000 ft", de Kazik Radwanski (2021)
Premiado drama canadense, do gênero "Mumblecore", que são projetos de baixissimo orçamento. O filme concorreu em Berlim, Shanghai, Toronto, Vancouver e Dublin, afirmando a qualidade dessa delicada trajetória da saúde mental da protagonista Anne, esplendidamente defendida por Deragh Campbell. Esse é um tipo de filme que fica 1000% nas costas da atriz, em um tour de force digno de aplausos. A linguagem lembra muito os filmes dos irmãos Dardenne: a câmera que acompanha a personagem em todos os lugares, um fragmento na vida de alguém que está em momento de explosão interna.
Anne é professora em uma creche. Aparentemente, ela está bem: jovem, bonita. Mas quando ela sai do ambiente das crianças, entendemos que ela sofre um processo de burnout: pressão das professoras que divergem da forma que Anne lida com as crianças, pressão de sua mãe, a falta de um namorado. Quando sua amiga Sarah a chama para uma despedida inusitada, aonde as damas de casamento precisam saltar de paraquedas, Anne tem uma sensação de liberdade durante o salto que ela nunca havia sentido antes. E é essa sensação que Anne tentará trazer para a sua vida.
O roteiro não tem nada de extraordinário,e é justamente essa falta de história que permite que Anne seja como ela é, sucumbindo ao que vier na sua frente. De uma forma naturalista e quase improvisada, o filem é um olhar sobre uma mulher que está tentando se inserir na vida como alguém forte e determinado, mas que no momento, não está conseguindo apoio de ninguém. Para quem gosta de atuações naturalistas, é uma boa pedida.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

As agentes 355


"The 355", de Simon Kinberg. (2021)
O cineasta Simon Kinberg foi responsável pela mais criticada trama de "X-Men", o "Fênix negra". Mas foi lá que ele conheceu Jessica Chainstain, que encomendou para ele um filme de ação e espionagem no estilo Jason Bourne ou "Missão impossivel". Assim nasceu As agentes 355", nome derivado da primeira espia americana que se tem notícia, que lutou na Revolução americana do século XVIII.
Com um elenco de super talentosas e belas atrizes, "As agentes 355" busca foco na diversidade cultural e racial: Jessica Chainstain, Fan Bingbing, Penelope Cruz, Lupita Nyong'o são super espiãs que precisam se unir para lutar contra homens malvados que querem dominar o mundo. Penelope Cruz é a única que não é espiã profissional, mas por amor, ela se une às meninas e vai com tudo.
O filme tem um roteiro obvio e super genérico, onde a única atracão de fato especial é assistir esse super time feminino mandando socos, tiros e chutes nos homens maus. As cenas de ação são boas, mas o filme é longo e dá um cansaço. Faltou para ser melhor, uma pitada de humor, praticamente inexistente. Elas são bad asses e nesse mundo nao tem espaço para a leveza.

O espólio


"The estate", de James Kapner (2020)

Drama LGBTQIAP+ de humor ácido,, buscando óbvias referências em "O talentoso Ripley"  e filmes dos irmãos Coen. 

Escrito e protagonizado por Chris Baker, no papel de George, filho mimado do milionário Marcello (Eric Roberts). A madrasta de George, Lux (Eliza Coupe), é uma mulher fútil. George e Eliza moram em uma mansão, mas Marcello não lhes dá nenhum dinheiro. Quando Lux e George vão para uma balada, conhecem Joe (Greg Finley), um homem sexy e sedutor que vai para a mansão transar com Lux. No dia seguinte, ela propõe que Joe mate Marcello e assim, todos ficam com o dinheiro. Mas George está a fim de Joe, e o triângulo amoroso acaba matando qualquer um que se coloque à frente da herança.

Um filme mediano, com um roteiro óbvio e diversão meia boca. O colorido da produção evoca filmes de Almodovar e Ryan Murphy, trazendo cafonice ao mundo dos milionários.

A vida depois


"The fallout", de Megan Park (2021)
Estréia na direção de longas da atriz Megan Park, "A vida depois" ganhou prêmio do público de melhor filme no SXSW e de melhor estréia de uma cineasta em Palm Spring.
O filme é um duro drama que remete a tragédias vinculadas a um tiroteio em uma escola de ensino médio. Vada Cavell (Jenna Ortega, excelente) tem um dia normal em sua vida: se despede dos pais no café da manhã, de sua irmã mais nova e segue para a escola, pegando carona com seu melhor amigo Nick (Will Ropp). Durante a aula, sua irmã liga. Vada vai ao banheiro e ouve dela que menstruou pela 1a vez. Vada a orienta. No banheiro ela encontra a influencer Mia (Maddie Ziegler), a quem admira. Mas subitamente ouvem tiros. Elas se escondem no banheiro e lá surge o jovem Quinton (Niles Fitch).todo ensanguentado. Os três sobrevivem, e o que vemos a partir daí, são os traumas que ficarem para esses três.
Shailene Woodley faz uma participação como a terapeuta de Vada. O filme é bem dirigido, os atores estão ótimos. A direção de Megan Clark evita realizar um filme depressivo e sempre que pode, alivia a barra com a personagem da irmã. A cena de Vada surtando em aula após tomar ecstasy é ótima. Um desfecho melancólico para um tema tão recorrente nos Estados Unidos.

O joelho de Ahed


"Ahed's knee", de Nadav Lapid (2021)
Após vencer o Urso de ouro em 2019 pelo impactante "Sinônimos", o cineasta Nadav Lapid escreve e dirige um filme que traz muito de si: um filme que fala sobre a morte de sua mãe, que foi editora de seus filmes anteriores, e também, sobre a crise na cultura israelense, através do protagonista Y (Avshalom Pollak), um famoso cineasta israelense premiado em Berlim.
O filme parte de uma triste história real: a palestina Ahed Tamimi viralizou na internet após bater na cara de um soldado israelense, sendo levada presa. Um chefe de Parlamento lamentou ela não ter levado um tiro no joelho e nunca mais poder andar. Diante dessa história, Y decide fazer um filme. Durante as audições, ele é convidado para apresentar seu último filme em um vilarejo no deserto chamado Sapir, onde Yahalom (Nur Fibak), a jovem vice-diretora do departamento de bibliotecas do Ministério da Cultura o recepciona. Y traz memórias a sua mente, que ele compartilha com Yahalom: ele ja foi soldado, e passou por uma situação de humilhação a um soldado em que ele teve que fazer parte. Ele passa pela mesma situação quando Yahalom pede para que ele assine um documento abrindo mão de vários assuntos que ferem sua liberdade de discurso.
Um filme cruel, amargo, melancólico, que fala sobre as tragédias do sucateamento da cultura, e da eterna guerra e treinamento violento de soldados. Os atores são absurdo de fodas, excelentes. O filme ainda assim encontra momentos de poesia em números musicais inusitados, com uma trilha impecável que inclui "Be my baby", de VAnessa Paradis, e "Loving day", de Bill Weathers.

Quinto sexto


"Fuenfsechstel", de Jonas Marowski (2012)
Excelente curta alemão LGBTQIAP+ que certamente renderia uma peca de teatro muito foda com 6 atores, 3 rapazes 3 garotas na faixa dos 18/20 anos. Basta adaptar o filme e estender na descrição dos outros 3 personagens, uma vez que a história centraliza mais na amizade entre 3 amigos: David (Tom Gramenz, ótimo), Tim (Tilman Pörzgen) e Theresa (Annina Euling), esses dois últimos, namorados. O filme se passa 1 ano depois da morte de Tim. Os cinco amigos se encontram em um ginásio. Bebem em homenagem a Tim e decidem fazer uma brincadeira de "Verdade ou consequência". em princípio inocente, o jogo vai revelando segredos. Depois, torna-se um jogo erótico, onde cada um vai tirando peças de sua roupa. Mas quando chega a vez de David e Theresa, a verdade sobre a morte de Tim vem à tona, e segredos são expostos ao grupo.
Trabalho fantástico de todo o elenco, espontâneos, sexies, talentosos. Um filme que seduz, dá tesão e mais do que isso, instiga pelo seu excelente roteiro, revelador.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

Gold


"Gold", de Anthony Hayes (2021)
Drama de sobrevivência no deserto protagonizado por Zac Efron, que teve a sua performance elogiada por vários críticos. O filme foi escrito, dirigido e co-estrelado por Anthony Hayes. Todo rodado em um deserto da Austrália, fico imaginando a tortura que deve ter sido filmar num calor tão angustiante. O filme se passa em um futuro distópico. Virgil (Efron) se oferece para trabalhar para Keith (Hayes), e atravessam o deserto de carro. No meio do caminho, o carro dá defeito. Virgil acaba descobrindo uma enorme pepita de ouro, que eles não conseguem retirar do local pelo tamanho. Keith propõe voltar à cidade e buscar um reboque, e pede para Virgil ficar ali tomando conta. Os dias passam, Keith não retorna e cabe a Virgil lutar contra lobos, cobras, tempestade do deserto e alucinações.
Impossível não se lembrar de "O tesouro de Sierra Madre": ambos os filmes falam sobre ganância e ambição. A falta de senso de coletivo e o egoísmo norteiam o destino dos personagens. Uma produção bastante complicada e louvável, mas no resultado, ficou um filme chato, arrastado e sem ritmo. Sem diálogos e quase todo calcado nas costas de Efron, o filme deveria ter no máximo 70 minutos. Maquiagem exagerada, fico pensando que alguém com aquela craca no rosto já teria morrido desidratado.

Hipbeat


"Hipbeat", de Samuel Kay Forrest (2020)
Há quanto tempo eu não assistia a um filme underground alemão, na tradição de clássicos como "Eu, Cristiane F", e outras pérolas comuns nos anos 80. Mas assistir a um drama experimental LGBTQIAP+ hoje em dia, tem que ter muita criatividade e agendas que façam o espectador ficar atento ao conflito do personagem.
Escrito, dirigido, protagonizado e produzido por Samuel Kay Forrest, "Hipbeat" é uma semi-autobiografia desse autor que é apresentado como um ativista político contra o fascismo em Berlin. Angus (Samuel Kay Forrest) saiu de sua casa após discutir com sua mãe que não entende a sua luta. Angus mora no apartamento de Angie, uma garota porra loca cujo pai odeia Angus. Ambos frequentam baladas noturnas para fazer sexo com outras pessoas, tomar drogas e pirar. Mas quando Angus se sente atraído pelo universo drag, acaba descobrindo em sia mesmo um desejo de ser não binário, não se rotular como gênero. O ativismo se torna político e também a favor de liberdade de gênero.
O filme tem boas intenções, mas é chato demais, com personagens soltos, quase como que em estrutura de documentário, mas sem emoção, nem pelo protagonista a gente chega a torcer por nada. O que vale aqui são imagens de Berlin underground.

O céu de Alice


"Sous le ciel d'Alice", de Chloé Mazlo (2020)
Curta-metragista premiada, a cineasta francesa Chloé Mazlo estréia em longas trazendo a memória de seus avós que moraram no Líbano dos anos 50 aos 70 e sofreram os horrores da guerra que tomou conta do país a partir de meados dos anos 70. Exibido em competição na Semana da crítica do Festival de Cannes 2020, o filme mistura ficção, stop motion e animação, métodos utilizados para baratear os custos de produção. O filme se passa na Suíca e Líbano, mas foi todo rodado na França.
Alice ( a premiada atriz italiana Alba Rohrwacher) decide sair da Suíca, onde nasceu, para ir trabalhar no Líbano, nos anos 50. Ela trabalha de babá, até que conhece o astrofísico libanês Joseph (Wajdi Mouawad), que tem o sonho de construir o primeiro foguete libanês e levar um astronauta até a lua. Ao longo das décadas eles vivem uma vida feliz, t6em uma filha, mas ao chegar nos anos 70, a idéia de paraíso se desfaz com a chegada da guerra.
Lúdico, poético e surreal, o filme encanta pelo visual e pela forma como a cineasta apresenta uma história emotiva de seus avós para as tela,s mesclando realidade e imaginário. Os atores são ótimos, idem a direção de arte e fotografia. Muitas vezes o filme faz lembrar de "Ame;lie Poulain".

terça-feira, 25 de janeiro de 2022

Bleu piscine


"Bleu piscine", de Jean-Baptiste Becq (2011) Um filme repleto de tesão e homoerotismo, sem diálogos, apenas mostrando dois rapazes em uma piscina municipal durante uma tarde. Eles flertam, se olham, nadam, deitam em espreguiçadeiras, tomam banho e vão embora separados, sendo que um deles com a namorada. Mas o momento de flerte foi totalmente cheio de desejo, e a câmera do fotógrafo Thomas Francisque capta com muita paixão e desejo os corpos, olhares, pingos de água. Os atores Enrique Blain e Lucas Struna sabem seduzir o espectador, a câmera e o cineasta deixa claro que o filme existe para esse propósito: seduzir o espectador, torná-lo voyeur e cúmplice dos flertes.

Júpiter


"Júpiter", de Marco Abujamra (2021)
Comédia dramática escrita e dirigida por Marco Abujamra e que traz uma estética e narrativa que remete à filmografia de Mika Kaurismaki e Wes Anderson, focado em enquadramentos simétricos e na apatia dos personagens. Muitos dos quadros são apresentados em planos gerais, formato que os cineastas citados ampliam a sensação do patético e da falta de comunicação.
Mario (Orã Figueiredo) é um detetive particular especializado em traição de casais. Casado com Teresa (Guta Stresser), ele descobre do nada que é pai de Júpiter (Rafael Vitti), um adolescente de 17 anos que estava sendo cuidado pela madrinha (Patricia Selonk). Com a viagem dela, Júpiter vai morar com Mario. A relação fica complicada entre os dois, até que Mario descobre a habilidade de Júpiter para o jogo de xadrez, e o inscreve em um campeonato.
Buscando referências temáticas na série de sucesso "Rainha do gambito" e na exploração de personagens losers, "Jupiter" é um filme simpático que se vale pelo ótimo trabalho do elenco, que também inclui Augusto Madeira, Cadu Favero e uma turma jovem talentosa. A frieza da narrativa pode afastar o espectador em busca de um filme mais solar, mas ainda assim, vale pela busca de narrativas que fujam do padrão.

Três andares


"Tre piani", de Nanni Moretti(2021)
Competindo na Mostra oficial do Festival de Cannes 2021, "Três andares" recebeu 8 minutos de ovação após sua sessão oficial. Vendo o filme, fico pensando o porquê desse exagero. Nanni Moretti é um cineasta premiado, tendo ganho a Palma de ouro com "O quarto do filho". Muitos dos seus filmes falam sobre a desestruturação familiar após uma tragédia, e assim também é em "Três andares". O filme é uma adaptação do romance escrito pelo israelense Eshkol Nevo, e conta a história de três famílias que vivem num prédio de três andares num bairro de Roma. Durante 10 anos, as vidas de cada família são determinadas por eventos que obrigam os personagens a lidar com situações dolorosas. Moretti afirmou que quiz com o filme, falar sobre as escolhas que fazemos na vida e que determinam tudo o que vem a seguir, e também falar sobre a relação pais e filhos.
O melhor do filme é seu elenco, com as estrelas Riccardo Scamarcio, Alba Rohrwacher, Margherita Buy. e o próprio Moretti. Mas é um filme morno, chato, repleto de sub plots, alguns interessantes e outros não.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

Seguindo todos os protocolos

 

"Seguindo todos os protocolos", de Fábio Leal (2022)
Concorrendo na Mostra Tiradentes 2022, 'Seguindo todos os protocolos" é um drama erótico LGBTQIAP+ com toques de humor dirigido e escrito pelo premiado cineasta pernambucano Fábio Leal, diretor dos aclamados curtas "O porteiro do dia" e "Reforma".
Francisco (Fabio Leal) está no décimo mês desde o início da pandemia. Ele está desesperado para fazer sexo. Ele pesquisa na internet todas as formas seguras de se fazer sexo com alguém com todos os rígidos protocolos de segurança. Os vídeos pornôs já não bastam. É necessário o toque humano. Ele tenta uma video chamada com um ex (Paulo Cesar Freire), que está em Salvador, após 10 meses de namoro. Mas a discussão vai para o campo do "colorismo", cor de pele, racismo e inserção racial. Depois Francisco busca o aconchego de um ex que ele não v6e há 3 meses (Marcus Curvello). A putaria é muita, mas a segurança fala mais alto e Francisco o dispensa, após uma discussão sobre corpos e padrão de beleza, auto estima. Por último, chega um jovem médico (Lucas Drummond). O sexo é gostoso, tesão, mas Francisco não consegue mais seguir dentro do formato totalmente realista de narração de casos hospitalares ditos pelo medico.
O elenco, como em todos os filmes de Leal, se entrega totalmente ao visceras, em sensuais e tesudas cenas de sexo e nudez total. Um dos temas principais dos filmes de Leal é justamente a normalização do corpo, independente do tipo físico. É um filme reflexivo sobre a pandemia do covid, que na filmagem ainda estava no patamar dos 300 mil mortos e já gerava tensão e depressão nos personagens. Talvez mereça uma parte 2 relatando os mais de 600 mil mortos.

Infiel


"Infideles", de Claude Pérès (2009)
Qual é o limite que um Diretor tem em relação à intimidade com o seu ator? O cineasta francês Claude Pérès realiza um projeto polêmico, onde ele é um diretor que pede para que seu ator faça sexo com ele. Para evitar polêmicas maiores, Claude contrata um ator pornô, que na hora da entrevista com o diretor, é confrontado com a proposta de fazer sexo com o diretor. Claude discute a partir daí a ética profissional, a questão do desejo e do fetiche e mais adiante inverte a posição: ele vira o ator e o ator pornô Marcel Schlutt se torna o cineasta. E é curioso que no papel de cineasta, Marcel se empodera da sua posição e começa a exigir situações do "ator"Claude Peres que ele não está acostumado a fazer, mas faz.
O filme possui cenas de sexo explícito, mas o filme não é sobre isso. Até porquê o projeto tem um viés documental e experimental, com cenas escuras, ângulos que não favorecem se excitar vendo o sexo. Quais as novas possibilidades do pornô? E se Marcel não fosse um ator pornô? O que de fato um diretor deseja de seu ator em frente a uma câmera?
Um filme interessante para gerar discussões acaloradas sobre os temas. Mas lembrando, é um filme adulto e explícito.

domingo, 23 de janeiro de 2022

O nadador


"The swimmer", de Adam Kalderon (2021)
Lindo drama LGBTQIAP+ filmado com bastante sensualidade dentro do universo da natação. O filme apresenta as cenas mais homoeróticas que assisti recentemente, incluindo uma sensual sequência dos competidores depilando os seus corpos antes da natação.
Erez (Omer Perelman Striks) é um dos cinco nadadores selecionados para um programa de treinamento residencial de elite, onde competem por uma única posição na equipe olímpica israelense. A princípio, favorito, Erez desenvolve uma atração por um de seus companheiros de equipe, Nevo (Asaf Jonas). Isso desperta as suspeitas de Dima, seu treinador homofóbico. O filme é todo realista, mas no final surge uma inusitada cena musical gay ao som de música eletrônica. O roteiro não traz novidades dentro do ambiente esportivo e saídas de armário, mas o que faz a diferença é o ótimo elenco e o olhar sensual e sensual que o cineasta Adam Kalderon faz sobre os nadadores e sobre o esporte.

House of boys


"House of boys", de Jean-Claude Schlim. Premiado drama musical LGBTQIAP+ alemão, é ambientado no ano de 1984, nos primórdios do avanço da Aids no mundo, Frank (Layke Anderson) é um jovem alemão que mora com seus pais conservadores e ricos. Cansado da pressão que seus pais fazem, Franck foge de casa e vai até Amsterdãm, onde vai trabalhar na casa noturna "House of boys". A casa é administrada por Madame (Udo Kier), uma drag queen que gerencia a casa misto de shows de transformistas e também programas sexuais com as artistas e clientes. Frank faz um enorme sucesso e divide quarto com Jack, um dos artistas mas que se considera hetero. Os dois acabam se aproximando e se tornam amantes. Mas manchas surgem no corpo de Jack e logo descobrem ser sintomas da Aids.
Drama musical com pitadas de humor e elementos surreais, como animação, "House of boys" é menos picante do que o tema sugere, e no ato final foca na internação de Jack e a tristeza de todos os que o conheciam. É um filme que termina de forma bastante dramática, e inclusive a maquiagem do sarcoma é tão exagerada que dá até medo. O desfecho foi filmado em Marrocoos, contrastando na fotografia e trazendo um final mais poético e colorido, mas nem tão esperançoso, com créditos anunciando a morte de mais de 25 milhões de vitimas da Aids, e mais de 35 milhões portadores no mundo que convivem com a doença. O elenco conta com a participação de Stephen Rhea como o médico que cuida de Jack. Mas no resultado geral, é um filme razoável, longo e com um elenco mediano.

Olga


"Olga", de Elie Grappe (2021)
Impressionado com a qualidade e a mão firme e segura de um cineasta de 26 anos, Elie Grappe, que escreveu e dirigiu esse drama e ainda venceu diversos importantes prêmios internacionais, entre eles, a Semana da crítica no Festival de Cannes 2021.
O filme é ambientado em 2013, o ano em que as manifestações na Praça Maidan, em Kiev, tiveram início, e que resultou na morte de centenas de civis que protestavam contra o governo do presidente ucraniano, que traiu a população favorável à União européia e se aliou à Rússia. Olga (Anastasiia Budiashkina, ex-integrante da seleção ucraniana, em sua estréia como atriz) é uma atleta olímpica que está estudando para competir no NAtional sports center. Quando sua mãe, uma jornalista ativista em Kiev sofre acidente, Olga é enviada para a Suíça para continuar seu treinamento por lá e se unir à equipe suíça. Mas enquanto Olga treina arduamente, sua mãe sofre consequência por se manifestar contra o governo ucraniano. Olga se desespera, e tenta ver de que forma ela consegue ajudar sua mãe e seu país.
O desfecho do filme é lindo, um intenso hino de amor patriótico ao país ucraniano. É um filme tenso, e também, com ótimas tomadas do treinamento intenso das meninas. Um filme vigoroso e importante, dirigido com maestria pelo jovem cineasta.

O acontecimento


"L'evenement ", de Audrey Diwan (2021)
Grande vencedor do Leão de ouro de melhor filme em Veneza 2021, "O acontecimento" é daqueles dramas porradas sobre aborto, apresentando cenas viscerais que fizeram a fama de dramas premiados como "4 meses, 3 semanas e dois dias" e "A gangue". são filmes que apresentam de forma realista todo o processo do aborto, incluindo a retirada do feto já morto.
Adaptação do livro de Annie Ernaux, premiada romancista francesa e que traz relato autobiográfico da própria Annie no ano de 1963 na Franca, quando o aborto era uma prática ilegal e que poderia levar todos os envolvidos para a prisão.
Anne Duchesne (Anamaria Vartolomei) é uma estudante de letras que deseja ser professora. Ela é uma aluna aplicada, estudiosa mas que não quer ser igual sua mãe (Sandrine Bonnaire), que é dona de um bar. Mas quando Annie descobre estar grávida da única relação que teve, seu mundo desaba: com medo que seus pais e seu professor descubram, ela recorre as amigas, aos médicos, mas todos se negam a ajudar, com medo de punição, até que ela descobre uma mulher que faz aborto clandestino.
"4 meses, 3 semanas e 2 dias" é um filme muito mais envolvente e denso sobre o tema. Aqui, vale muito pelo trabalho da protagonista, Anamaria Vartolomei, fantástica, e pela ficha técnica do filme. O filme vai sendo costurado pelas legendas que apresentam o desenrolar das semanas de gravidez, para criar uma tensão. E que mais uma vez, o aproxima do premiado drama romeno.

I am Syd Stone


"I am Syd Stone", de Denis Theriault (2014)
Premiado curta LGBTQIAP+ canadense, tem como tema jovens atores que escondem a sua homossexualidade para manter as aparências com seu público e mídia. Syd Stone (Gharrett Patrick Paon) é o queridinho do público: bonito, galã. Aonde ele vai, uma legião de mulheres vai atrás. Quando ele vai para a sua cidade natal para um encontro de alunos da época da High school, ele reecontra o grande amor de sua vida, Paul (Sean Skerry). Syd seduz Paul no quarto de seu hotel, mas Paul não quer envolvimento com Syd enquanto ele não se assumir publicamente.
Bem filmado, com lindos atores e uma fotografia que valoriza a beleza deles, 'I am Syd Stone" tem uma história já vista inúmeras vezes sobre a fama acima da vida pessoal de um gay enrustido.