domingo, 31 de julho de 2016

Nahid - Amor e liberdade no Teerã

"Nahid", de Ida Panahandeh (2015) Maravilhoso filme iraniano, dirigido com extrema sensibilidade e competência pela cineasta e roteirista ida Panahandeh. O filme recebeu inúmeros prêmios Internacionais, inclusive um especial em Cannes na Mostra "Un certain regard". O filme, ousado em todos os níveis, é um drama que faz uma denúncia sobre a condição feminina na sociedade machista iraniana. Com um elenco absolutamente extraordinário ( todos, dos adultos às crianças), o filme evoca grandes clássicos do cinema, como "Manhattan", "Os incompreendidos" e "Um homem, uma mulher". Não fosse as referências à cultura iraniana, eu poderia perfeitamente dizer que "Nahid" seria um filme europeu, tal a sua elegância, sofisticação e beleza visual, bem diferente do que habituamos a assistir em filmes iranianos dos Mestres Makmalbaph e Kiarostami. Nahid é uma mulher divorciada, mãe de Amin, um menino de 10 anos. Seu ex-marido é um viciado em jogos e drogas, e para poder ter a custódia de Amin, Nahid acabou entrando em um acordo judicial: ela não pode se casar nem manter relacionamentos com outro homem. No entanto, para poder viver como mulher solteira e livre de sua família. Nahid acaba devendo o aluguel do apartamento aonde mora, às custas do salário baixo que ela receeb como datilógrafa. Para poder custear a sua sobrevivência e a de seu filho, Nahid aceita se casar em segredo com Masood, um dono de Hotel rico, pai de uma menina. Ela agora precisa esconder a sua relação de seu ex-marido e da família, correndo o risco de perder a custódia de seu filho. O filme tem uma estrutura narrativa bem fragmentada em sua primeira parte, e leva um tempo para entendermos a real intenção de Nahid. Ela, e todos os os outros personagens, agem por sobrevivência, e por isso, praticam atos imorais. É um filme intenso, com forte mensagem social, e que deve ser visto por todos que querem assistir a um trabalho inteligente e arrebatador. O final é um primor.

O bom gigante amigo

"The BFG", de Steven Spielberg (2016) Baseado no clássico da literatura infantil escrito por Roald Dahl, mesmo autor de "James e o pêssego gigante' e "A fantástica fábrica de chocolate", e adaptado para o cinema por Melissa Methison, autora da obra-prima "Et o extraterrestre", "O bom gigante amigo"tinha tudo para ser mais uma jóia na cinematografia irretocável de Steven Spielberg. Mas infelizmente, a receita desandou. Está todo mundo lá: seu fotógrafo Januz Kaminsky, seu compositor John Willians, seu novo ator queridinho, Mark Rylance, de "A ponte dos espiões" e a atriz mirim Ruby Barnhill, uma inglesinha esperta e ao mesmo tempo, com um personagem bem irritante. Os efeitos especiais estão bonitos, mas nada impressionantes para uma fábula infantil. Spielberg tentou de tudo: citar "Et" explicitamente no final, "King Kong", "Parque dos dinossauros", O Pequeno príncipe", "Peter Pan", "Harry Potter"..tem tantas referências que a gente acaba se perdendo do próprio filme, que se apresenta sem identidade própria. E quando uma das poucas cenas aonde o público ri tem a ver com piada de peidos, é porquê tem alguma coisa bem errada né? Sofia é uma órfã que mora em um orfanato. Ela acredita na Hora da bruxa: diz-se que em algum momento, durante a madrugada, uma bruxa vem para pegar as criancinhas na cama. Só que, para sua surpresa, quem vem lhe pegar é um gigante, que a leva até a terra dos gigantes. Chegando lá, ela descobre que ele é vegetariano, e por isso, mesmo, sofre bullying dos gigantes malvados, que sequestram e devoram as criancinhas. Sofia descobre que o Gigante coleciona sonhos e juntos, procura descobrir uma forma de impedir o ataque dos gigantes em Londres. Fico pensando o quanto deve ser difícil para uma criança acompanhar o filme. Apesar de ser feito para elas, a história é complexa, cheia de simbolismos e pior, o ritmo do filme é muito lento. Na primeira parte do filme falta magia e ação, que vem lá pro final, meio "Parque dos dinossauros". O mais divertido do filme acaba sendo o vocabulário criado pelo gigante que é analfabeto. Vale pegar essas neo-palavras e se divertir bastante. O filme foi lançado oficialmente durante o Festival de Cannes 2016.

Star Trek- Sem fronteiras

"Star Trek- Beyond", de Justin Lin (2016) O Diretor J J Abrahams, que dirigiu os primeiros filmes da nova franquia de "Star Trek", teve que abandonar a direção desse filme para dirigir o filme do concorrente direto, "Star Wars". Justin Lin, de "Velozes e furiosos", assumiu o posto, e Abrahams apenas acumula a função de produtor executivo. Muitos fãs ficaram apavorados que Justin destruísse a continuação. Mas na saída do filme, o comentário era geral: ele fez o melhor dos filmes da nova geração da Enterprise. Qualquer coisa que eu possa falar sobre o filme, seria contar spoiler. E seriam muitos. Posso dizer apenas que o poster do filme homenageia o primeiro filme "Star Trek" para o cinema, datado de 1979. E essa não é a única homenagem que o filme brinda seus fãs. Tem um momento exato, que faz qualquer coração Trekker soluçar. A história conta uma nova aventura da tripulação da Enterprise: eles vão atender a um pedido de socorro de uma tripulação em perigo em um planeta remoto. Chegando lá, são atacados por Krall, o grande vilão, que deseja ter em mãos um artefato que está no poder do Capitão Kirk, e que lhe trará grande poder. O mote pode lembrar 'Alien, o 8o passageiro". Mas o que veremos a seguir é um verdadeiro Festival de cenas de ação, piadas sensacionais, a maioria envolvendo Spock, e uma nova personagem muito carismática, Jaylah. O elenco original brilha em momentos solos, espertamente desenvolvido em um roteiro que quer previlegiar a todos os personagens queridos pelos fãs. Chris Pine, Zachary Quinto, Zoe Saldana, John Cho, Simon Pegg, Karl Urban e Anton Yelchin ( prematuramente falecido) Preparem-se para aplaudir e vibrar em momentos-chaves do filme. É muita adrenalina, e muita emoção. E sim, nas cenas onde vemos Chekov, ver a última atuação de Anton Yelchin é muito triste. O filme é dedicado a ele e a Leonard Nimoy.

Caça-fantasmas

"Ghostbusters", de Paul Feig (2016) Muito se falou sobre essa refilmagem do cult de 1984, com um elenco masculino formado pelos comediantes Bill Murray, Rick Moranis, Harold Ramis e Dan Akroyd. Polêmicas sobre machismo, feminismo e outros ismos à parte, que não foram o meu foco quando fui assistir ao filme, pois de fato eu só queria passar o tempo e estava curioso, confesso que fiquei decepcionado. Aliás, vislumbrado com a falta de ritmo desse filme. Os personagens são apresentados, os fantasmas vão aparecendo, a porradaria e efeitos especiais comem solto..mas nada de fato me empolgou. O único elemento de interesse do filme, fora o quarteto de atrizes que são ótimas comediantes e de Cris Hensworth que está se divertindo à valer no papel do loiro burro, é a homenagem à cultura oitocentista. Trilha sonora, visual, direção de arte, figurinos, efeitos toscos...sim, o filme para para a geração que assistiu ao filme original, e o Diretor Paul Feig quer porquê quer agradar a esse público e também a novos possiveis fãs. O que faltou foi um roteiro mais original, sem o mesmo desdobramento do filme que serviu de inspiração.( até o desfile de bonecos infláveis??) Bill Murray, Dan Akroyd e Sigourney Weaver aparecem em pontas afetivas? Não fez a menor diferença para mim.

sexta-feira, 29 de julho de 2016

O silêncio do Lago

"Spoorloos", de George Sluizer (1988) Esse filme holandês e' um grande cult dos anos 80, e considerado por muitos críticos o melhor filme europeu de 1988. Baseado no livro " The golden egg", de Tim Krabee, o filme é um thriller de suspense, daqueles de deixar o espectador atônito. O filme começa apresentando um casal holandês de férias na França. Rex e Saskia seguem estrada, e durante o percurso, tem uma discussão. No dia seguinte, já reatados, eles param em um posto de gasolina. Saskia vai buscar bebida e desaparece. Rex desesperado tenta localiza-la, em vão. Passam-se três anos e ele ainda obsessivamente a procura. Contando assim parece que é apenas mais um filme sobre pessoas que somem. Mas subversivamente, logo no início, Rex e' deixado de lado e o protagonista do filme passa a ser Raymond ( Bernard Pierre Donnadieu, excelente). Ele já é apresentado como o sequestrador. Somos convidados a conhecer sua familia perfeita, a sua sala de aula como professor respeitado e a sua casa luxuosa. Tudo aparentemente normal, se Raymond não fosse um psicopata que deseja praticar um ato maldoso. Somente no desfecho da história sabemos o real motivo do sequestro e que fim teve Saskia. A direção de George Sluizer e' brilhante, sem se preocupar em criar um ritmo frenético. O filme vai lento, sem pressa. A atmosfera do filme, sempre misteriosa, e' perfeita. Recentemente teve o filme de Dennis Villeneuve, " Os suspeitos", que lembra bastante a estrutura narrativa desse filme aqui. O final é de pirar. Stanley Kubrick cita o filme como um dos que o influenciaram em seus filmes seguintes. O mesmo diretor filmou um remake nos Estados Unidos com Kiefer Sutherland, Jeff Bridges e Sandra Bullock.

Jason Bourne

Jason Bourne", de Paul Greengrass (2016) Seu nome é Bourne. Jason Bourne. Nesse quarto filme da franquia " Identidade Bourne", o próprio já tem conhecimento de sua origem e de quem ele foi, mas precisa saber o porque que seu pai criou o projeto no qual ele se inscreveu. Para isso, ele vai atrás de informações e conta com ajuda de hackers. Aliás, o que seria dos filmes de espionagem sem os hackers? Paul Greengrass novamente mostra a sua maestria em filmar cenas de ação, dessa vez se atendo única e exclusivamente na aventura ininterrupta. Não dá tempo para narrar dramaturgia: é só correria, tiros e muita confusão, que assim como James Bond, percorre vários países do mundo. A sequência final em Las Vegas impressiona pela alta produção e pelo orçamento gasto. No final das contas, apesar de me divertir com o filme, conclui que é mais um filme da franquia, que pelo visto está longe de terminar. A cada filme, um pequeno item é descoberto. O que mantém o espectador interessado, além da óbvia parte técnica, é o excelente casting, que incluir os ótimos Tommy Lee Jones, no papel do vilão Diretor da Cia, Alicia Vikander como sua subalterna, Vincent Cassel interpretando o enésimo vilão da sua carreira e Riz Ahmed, que interpretou Rick, em "O abutre". O filme flerta com temas atuais: imigração, roubo de dados em redes de computador, manifestações populares na Grécia...para quem busca apenas adrenalina, vai adorar pois o filme tem ação ininterrupta. Para quem buscava logo diferente, talvez se decepcione.

Meu nome é Jacque

"Meu nome é Jacque", de Angela Zoe (2016) O Documentario " Meu nome é Jacque" é um filme necessário. Um filme que fala sobre auto-estima e a busca pela identidade, pelo ser humano, independente de idade, opção sexual, raça ou vícios na vida. O filme abraça vários temas: a mulher Trans, o portador do Hiv, a irmã adotiva negra que quando criança não se aceitava, o irmão ex dependente químico, os filhos adotivos que foram abandonados pelos pais biológicos... Todas essas pessoas querem ser aceitas na sociedade e não serem tratados de forma diferente. Jacqueline Rocha desde criança sabia que era diferente. Como boa parte dos transsexuais, afirmava que tinha nascido em corpo errado. Ela não se considerava gay, e sim, uma mulher. O filme fala sobre a aceitação de suas famílias, da mudança de sexo, do casamento com Vitor, do contagio do viria Hiv, e de sua luta como ativista e militantes dos portadores de Hiv e da mulher nas Nações Unidas, por conta de seu trabalho em uma ong que batalhava pelos direitos dos soropositivos. O filme emociona pelos relatos de Jacque, seu marido e os irmãos dela, em parcial Renato, ex dependente químico e que dizia que sempre respeitou a diferença de Jacque dentro de casa. É um filme simples má formação, mas dirigido e conduzido com extrema sensibilidade, sem apelar para bandeiras e para o piegas.

quinta-feira, 28 de julho de 2016

Dois caras legais

"The nice guys", de Shane Black (2016) Preparem-se para mais uma nova franquia: o mesmo roteirista da cultuada série: "Máquina mortífera", Shane Black, resolveu retomar o mote da dupla de parceiros que não se bicam em "Dois caras legais". A ação acontece em Los Angeles dos anos 70, envolvida com as poderosas indústrias da pornografia e do automobilístico. A trama se assemelha em termos com "Chinatown", de Roman Polansky: uma trama complexa, que mistura corrupção, políticos inescrupulosos e personagens dúbios. Jackson Healy ( Russel Crowe) e Rolland March ( Ryan Gosling) são duas figuras inconstantes e imprevisíveis. Ambos trabalham como detetives particulares. Healy é contratado por Amelia, uma menina de 13 anos, para que ninguém a encontre, inclusive sua mãe, a poderosa chefe da Justiça, Judith ( Kim Basinger). March, pai de Holly (Angourie Rice), é cpntratado por uma senhora para descobrir o paradeiro de sua sobrinha, Misty, uma famosa atriz pornô, dada como morta, mas que ela acredita estar viva. O caminho de March e Healy se cruzam quando descobrem que assassinos estão em busca de Amelia, peça chave para entender os desaparecimentos e assassinatos de pessoas envolvidas com a realização de um filme pornô, protagonizados por Amelie e Misty. O filme tem uma trama cheia de cruzamentos que exige atenção redobrada do espectador, caso contrário, poderá se perder na história. São muitos personagens que entram e saem de cena. A fotografia, a cargo do mestre Philipe Rousselot, é incrível. A trilha sonora é maravilhosa, alternando músicas disco, rock e pop da época. A edição é frenética e a direção de arte, sublime. Mas nada disso funcionaria se não fosse o brilhante trabalho do trio de atores principais: Russel Crowe reencarna Danny Glover, fazendo aquele tipo bronco e sem paciência. Ryan Gosling está sensacional na sua composição, alternando momentos de alta comédia com gags físicas e ótimo timing. E Angourine Rice é uma maravilhosa surpresa. Essa jovem atriz australiana com certeza terá uma carreira excepcional pela frente. A sua doce e esperta Holly rouba todas as cenas em que aparece. Carisma puro. É um filme divertido, cheio de ginga e ação, dirigido pelo mesmo cineasta de "O homem de ferro 3" e "Tiros e beijos". O filme teve a pré-estréia no Festival de Cannes 2016.

Life- Um retrato de James Dean

"Life", de Anton Corbjin (2015) O Cineasta Anton Cobjin lançou anteriormente "Control" (Filme sobre Ian Curtis, da banda Joy Division), "O Americano", com George Clooney e "Um homem mais que procurado", com Philip Seymour Hoffman. Aqui, ele se inspira em um fato real para poder se aprofundar na paixão pela fotografia, a profissão primeira de Anton Corbjin. Nos anos 50, às vésperas de lançar o filme "Vidas amargas", e ainda um mero desconhecido, James Dean se isola na fazenda de sua familia, em Iowa. Ele não se acostumou ao esquema profissional dos grandes estúdios, e nem se v&e encaixado no mainstream e em suas obrigações contratuais como ator. O fato curioso é que ele leva consigo o seu "Amigo", o fotógrafo Dennis Stock, da Revista "Life". Dennis acredita que James Dean irá bombar e pede um ensaio fotográfico para o seu editor chefe, que não crê que James Dean seja uma futura promessa como ator. Pela insistência, Dennis acaba convencendo o editor, e começa a preparar fotos onde procura revelar a "alma" do artista inquieto, que somente James Dean tinha na época. Tecnicamente, o filme é ótimo: bela fotografia e direção de arte. No entanto, o ritmo extremamente lento e a performance de Dane Dehaan, no papel de Dean, me incomodaram. Dane em momento algum transparece em cena o motivo de Dean ter se transformado em símbolo sexual: ele não tem carisma, não fica bonito em cena e para piorar, a maquiagem carrega em olheiras e palidez do personagem. Dane está totalmente sem sex appeal. O jeito de falar também incomoda bastante, parece que está fazendo uma paródia de James Dean. Robert Pattinson, no papel de Dennis, está mas contido, e não compromete. Fiquei até pensando se Pattinson não deveria ter interpretado James Dean no filme, já que a câmera é apaixonada por ele.

Casa 9

"Casa 9", de Luiz Carlos Lacerda (2011) Delicioso documentário que narra a história de uma casa de vila no Bairro de Botafogo, Rio de Janeiro. Na Rua Teresa Guimarães, existe uma vila, e nela, existe a casa 9, todas construídas exatamente iguais. Nos anos 70 e 80, no período da ditadura, a casa foi alugada para o músico e compositor Jards Macalé e o cineasta Luiz Carlos Lacerda ( Bigode). Bigode ficava no 1o andar,. e Macalé, no 2o. O local virou um bunker de resistência cultural, e ali, artistas de todos os naipes a frequentavam e moravam. Macalé diz que a porta só fechava na hora de dormir, e que durante o dia, era aberto a quem quisesse entrar. Sonia Braga, Wally Salomão, Nelson Pereira dos Santos, Fabio Barreto, Gal Costa, Clarice Lispector, Gilberto Gil, Caetano Veloso, etc, e anos depois, artistas nordestinos, como Lenine e Naná Vasconcelos. Através de depoimentos inspiradíssimos dos artistas e do próprio Bigode, e com imagens de arquivo, o filme reconstrói a memória de um lugar que nunca abaixava a sua cabeça para ninguém, Ali, tudo era permitido, principalmente, criar e ser livre. A convivência com os vizinhos era pacífica, e todos viviam harmoniosamente.

terça-feira, 26 de julho de 2016

Fatima

Fatima", de Philipe Faucon (2015) Nesrine é uma jovem que pretende prestar vestibular para Medicina. Ela mora com sua mãe, Fatima, que trabalha como empregada doméstica para sustentar a família. Nesrine tem vergonha da condição de sua mãe e por conta disso, procura encontrar forças para não ser igual a ela. Não, não estamos falando de " Que horas ela volta?". Apesar da grande semelhança temática, " Fatima" , além da questão social, quer falar do preconceito que os franceses têm com quem não fala a língua francesa. Fatima ( a brilhante Soria Zeroual) veio de Marrocos para poder trabalhar e viver na França com suas duas filhas. Divorciado, ela trabalha como doméstica e mal fala francês. Suas filhas tem vergonha dela e não suportam a cultura muçulmana de sua mãe. O filme fala de conflitos culturais e de geração. É um belíssimo trabalho, dirigido por um cineasta marroquino e com um trabalho lindo das três atrizes. O filme foi o grande azarão do Prêmio Cezar 2016, vencendo favoritos como " Cinco graças" e " Margueritte". " Fatima" levou três premios: Melhor filme, atriz revelação ( Zita Hanrot, no papel de Nesdine) e roteiro adaptado. É um filme humanista, na linha dos filmes dos irmãos Dardenne, que aponta a sua câmera para figuras marginalizadas da sociedade.

São Pauli em Hi Fi

São Paulo em Hi Fi", de Lufe Steffen (2014) Delicioso e importante Documentario que faz um registro histórico sobre a noite gay paulistana que vai do final dos anos 60 até final dos anos 80, com o advento da Aids e a consequente baixada de bola dos frequentadores e empresários do mercado Lgbts. O filme pega depoimentos emocionantes, divertidos e inconsequente de grandes empresários da noite, como Celso Cury e Elisa Mascaro, transformistas lendárias e frequentadores badalados. Entre os depoimentos, o de Kaka Di Polly é de chorar de rir. Uma figura bizarra e alto astral, Kaka é um Psicólogo de classe média alta, uma persona andrógina, que narra divertidas historias, entre elas, quando quis arrasar ao chegar em frente a uma badalada boite, alugou um caminhão de mudanças e saltou de trás vestido de borboleta. Entre alegrias e tristezas, o filme faz um relato sobre os efeitos da ditadura sobre o movimento gay e lésbico. Casas lendárias como Hi fi, Nostro mundo, Off, Corintho, Ferro's, Dinossaurus são citados com muita nostalgia por todos. O que se conclui é que as pessoas dessas gerações se divertiam a valer, muito por conta da proibição da liberdade sexual e por conta disso, levantar a bandeira era um plus a mais.

Batman- A piada mortal

"Batman- the killing joke", de Sam Liu (2016) Lançado pela DC comics em 1988, "Batman- a piada mortal" tornou-se imediatamente cultuado por fãs do Homem-morcego, que encontraram no texto de Alan Moore e nos desenhos de Brian Bolland uma verdadeira renovação do personagem. Os quadrinhos ficaram famosos também pois narra a origem do Coringa e mostra a sua trajetória de sangue e violência para se vingar do Comissário Gordon, sua filha Barbara e de Batman. Em 2015, a Dc comics resolveu fazer uma versão em animação dessa história. No entanto, por considerarem a história curta demais para um longa, criaram uma espécie de prólogo, de quase 30 minutos, acompanhando o desencanto e a expectativa de Barbara Gordon em relação à sua paixão platônica por Batman. Batgirl ( a faceta heróica de Barbara) é companheira de Batman nas ações contra criminosos, mas por sua ansiedade em querer mostrar serviço, sempre acaba meio que atrapalhando as investidas de Batman para prender os criminosos. Em uma das fracassadas investidas, Batgirl toma iniciativa para aquela que é uma das cenas mais polêmicas de toda a história das animações de super heróis: ela faz sexo com ele. Terminada essa parte, aí sim, nos encaminhamos para a história de Coringa. ele fugiu do Asilo Arkham e Batman vai em seu encalço. Coringa, porém, tem planos maquiavélicos para todos. Li em várias resenhas que muitos fãs dos quadrinhos não ficaram satisfeitos com o filme. Criticaram o prólogo, achando-o desnecessário. Porém, elogiaram a coragem do filme em revelar momentos cruciais, porém violentos da trama, sem se abaterem pela censura. Eu, que nunca li os quadrinhos, gostei bastante da primeira parte do filme. Acredito que ela intensifica a tragédia que irá desabar na história e na trajetória de um dos personagens. O filme talvez rescinda de mais ritmo, ele é quase um filme noir, com narração em off e atmosfera dark. O filme nem chega a aborrecer, pois é curto, apenas 73 minutos. Vale ser visto, mesmo que alguns se incomodem com os traços simples. A curiosidade fica por conta da voz de Coringa, dublado por Mark Hamill, o eterno Luke Skywalker. Quem diria que ele poderia fazer voz tão sinistra, escondida naquela carinha de anjo?

segunda-feira, 25 de julho de 2016

A piscina

A bigger splash", de Luca Guadagnino (2015) Dirigido pelo realizador de " Eu sou Amor", protagonizado pela mesma Tilda Swinton e ambos rodados na Itália. Tilda interpreta Marianne, uma roqueira famosa. Ela se encontra de repouso na Ilha de Pantelleria, região da Sicília, se recuperando de uma cirurgia nas cordas vocais. Seu namorado, o fotógrafo Paul ( Mathias Schornaerts) faz companhia para ela e juntos formam um casal ávido por liberdade e sexo. Um dia, o ex namorado de Marianne, o produtor musical Harry ( Ralph Fiennes) vem para visita-los. Com ele vem Penélope ( Dakota Johnson, de " 50 tons de cinza"). Durante os dias de convivência, os 4 experimentarão momentos de ciúme e desejo, que culminará em tragédia. O filme foi exibido em Veneza 2015 e foi recebido friamente. Muito por conta da longa duração e da narrativa monótona. O que prende a atenção do espectador no filme é o talento dos atores, com destaque para um Ralph Fiennes em tom de galhofa. Dakota Johnson não é a melhor escolha para o papel, não pela performance, mas pelo biotipo: sua personagem tem 17 anos e ela já aparenta muito mais. A fotografia e a trilha sonora são exuberantes. A luz da Locacao favorece em muito na beleza do filme. Na trilha sonora pop, destaque para " Emotional rescue" dos Rolling Stones.

A lenda de Tarzan

The legend of Tarzan", de David Yates (2016) Essa nova versão do livro de Edgar Rice Burroughs acompanha os ditames dos novos tempos: Tarzan é marombado e politizado, Jane é quase uma feminista e a esse grupo de heróis foi acrescido de um personagem negro, no caso, George ( Samuel L Jackson), um representante do governo americano. Países do terceiro mundo, como os africanos, já não são vistos como primitivos que servem ao homem branco. Eles agora lutam por seus ideais. Hoje em dia, o roteirista precisa pensar em todas as minorias para que possa representa-las nas telas e não receberem críticas da mídia. Nessa nova versão não haveria espaço para uma Jane submissa e encantada com os dotes do homem macaco, nem para a macaca Chita, pois provavelmente algum grupo de direitos dos animais iria dizer que seria um absurdo representar animais subservientes aos caprichos dos humanos. Por conta de tanto politicamente correto, o filme ficou sem brilho e sem alma. O que vemos é um filme de aventuras, onde o drama humano é substituído apenas pelos desejos de cobiça e vingança. Tudo na tela sem aquele peso do deja vu: os efeitos especiais vi os chipamzes, já vimos em " Planeta dos macacos". Christoph Waltz repete aquele vilao pela enésima vez. direção de David Yates, que dirigiu os últimos filmes da série " Harry Potter", pesou na mão e deixou tudo burocrático. O roteiro, estranhissimo, acontece em dois tempos: flashback, mostrando as origens de Tarzan, e no tempo atual, quando Tarzan assume o posto de Lorde Greystoke, morando na milionária mansão e casado com Jane, totalmente civilizado. Greystoke recebe um convite de seus amigos no Congo para visita-los e segue para lá com Jane. Porém ao chegar para, descobre que era armadilha de um Rei que quer vingar a morte de seu filho, morto por Tarzan. Alexander Skaargard e Margot Robbie possuem carisma, mas não o suficiente para fazer o filme alçar voos maiores. A boa notícia é que dá para assistir o filme com a família, pois a violência é sugerida.

A grande ilusão

"The truth about Emanuel", de Francesca Gregorini (2013) Escrito e dirigido pela italiana Francesca Gregorini, radicada nos Eua, " A grande ilusão" e' um drama melancólico sobre perdas e maternidade. Emanuel ( Kayo Scodelario) e' uma adolescente de 17 anos, que mora com seu pai ( Alfred Molina) e sua madrasta, a quem ela rejeita. A mãe de Emanuel morreu durante o parto e ela se culpa por isso. Um dia, uma vizinha, Linda ( Jessica Biel) se muda e Emanuel acaba ido trabalhar como babysitter do bebê dela. Logo Emanuel transforma Linda em uma personificação de sua mãe, e as duas entram em um doloroso e difícil processo de aceitação de perdas trágicas em suas vidas. O filme tem lindas canções pop em sua trilha sonora, é uma excelente fotografia, premiada em vários festivais. O elenco em peso recebeu prêmio em um Festival, além de ter concorrido com louvor em Sundance 2013. O filme trabalha com alegoria, devido ao seu conteúdo emotivo. Não é um filme fácil de assimilar, mas que vale pela sua beleza e sofisticação, além do excelente trabalho de todo o elenco.

Mãos vazias

"Mãos vazias", de Luiz Carlos Lacerda (1971) Filmado em 1970, essa livre adaptação do romance de Lucio Cardoso encontrou forma e conteúdo nas mãos cheias do então jovem e promissor cineasta Luiz Carlos Lacerda. Em sua estreia nos longas, Bigode ( apelido carinhoso) ousa adaptar uma difícil literatura e o faz com maestria. É um filme dificil, alegórico, rodado no Brasil da ditadura. Leila Diniz interpreta uma mulher casada e enfastiada pela vida burguesa, casada com um homem que ela não ama. Eles se mudam para uma pequena cidade do interior, e lá, ela conhece outras pessoas. Incomodada com a monotonia das pessoas, ela prega a liberdade e se torna uma espécie de mártir de si mesma. Bigode se inspira nos filmes de Robert Bresson, além das pinturas de Hopper e outros artistas, para dar vida a atores e fotografia. O elenco atua com uma marcação bastante teatral: para reforçar a vida entediante, todo o elenco aparenta monotonia, em um mundo monocromático onde as emoções não afloram. O tédio domina as vidas vazias dessas pessoas. O grande trunfo do filme é a excelente fotografia de Rogerio Noel, então com 19 anos, que cria enquadramentos preciosos, que parecem verdadeiras obras de arte.

Entre idas e vindas

"Entre idas e vindas", de José Eduardo Belmonte (2016) Me sinto obrigado a começar esse texto falando da extraordinária trilha sonora de Plinio Profeta, que fez uma das mais belas comunhões cinematográficas que já tive o prazer de presenciar no cinema brasileiro: a sua música casa perfeitamente com as imagens e com o conteúdo emotivo do filme, me fazendo como espectador, marionete de sua força dramática. Fico curioso ao observar que cineastas conhecidos pela visceralidade de suas obras, amoleceram os seus corações para trazer histórias que sugerem um mundo lúdico e contemplativo, tendo a infância como referencia. Cláudio Assis, o eterno " enfant terrible", nos trouxe o recente " Big jato", quase uma versão de " Os incompreendidos", de Truffaut. Belmonte, que já polemizou com muitas de suas obras pelo forte conteúdo erótico e social, surpreende com a fábula familiar " Entre idas e vindas". O filme me lembrou bastante do longa da Netflix " Amizades improváveis / The fundamentals of caring", com Paul Rudd no papel de um pai que precisa se reconectar com o seu filho. Falar do filme é óbvio demais: é óbvio o comando de Belmonte com o trabalho dos atores, é óbvio o brilhantismo da fotografia de André Lavenere, é óbvio a delicia e a Fofura do roteiro co- escrito por Belmonte e Claudia Jouvin, em cima de ideia do filho do Belmonte. E é mais do que óbvio o lindo trabalho de todo o elenco, capitaneado por Ingrid Guimaraes, Fábio Assunção, Alice Braga, Rosanne Mulholland e Carol Abras. Ah, e a mais que bem vinda performance de João Assunção, filho do Fabio. O filme é um road movie, e como todo road movie, a estrada é uma metáfora da busca dos personagens por sua verdade interior. As meninas são funcionárias de um telemarketing e nas ferias, resolvem pegar um trailer e seguir pela estrada de Goiânia até São Paulo, para a despedida de solteira de uma delas, Alice Braga. No caminho esbarram com Fábio Assunção e seu filho, com o carro quebrado,e lhes dão carona. Leticia Lima, Bruno Torres e Milhem Cortaz são alguns dos malucos que surgem pelo caminho. Úmero filme brasileiro do gênero " feel good movie".

quinta-feira, 21 de julho de 2016

Mãe só há uma

Mãe só há uma", de Anna Muylaert (2016) Um filme de uma das cineastas mais premiadas do ano de 2015, que realizou o petardo " Que horas ela volta!", com certeza iria provocar um grande buchicho e curiosidade. As comparações seriam inevitáveis. A grande maioria das pessoas que assistiram dizem que o filme com a Regina Case' e' melhor. Pode até ser. Mas " "Mãe só há uma" tem muitas qualidades, e a principal dela e' o brilhante trabalho de direção de atores de todo o elenco. Desde talentos incontestáveis como Matheus Nachtergaele, até lançamentos muito bem vindos, principalmente do protagonista Naomi Nero, excepcional. O roteiro abraça muitas histórias e vertentes, mas a principal gira em torno da história de uma família de classe média: mãe viúva e dois filhos. Um adolescente, Pierre, e uma menina. Pierre e' bissexual com fetiche em vestir roupas femininas. Um dia, os irmãos descobrem que não são irmãos e pior: que a mãe deles não é a mãe biológica. Eles foram roubadas na maternidade. Baseado numa história real, o filme trabalha um olhar documental: planos lentos, ações sem pressa. E' um filme que incomoda, que instiga, que questiona. Com isso tudo, a filme ainda brinda o espectador com cenas memoráveis: a do boliche, a do vestiário.

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Um belo verão

"Un belle saision", de Catherine Corsini (2015) Premiado em Locarno com o Grande prêmio do público, " Um belo verão" se apropria do movimento libertário do feminismo e da revolução sexual para falar dos dias de hoje. Mais do que nunca, a pauta para falar sobre machismo, legalização do aborto, igualdade dos sexos, saída do armário e liberdade de expressão está em dia. Delphine ( Izia Igelin) é uma jovem fazendeira que mora com seus pais no interior. Seu pai é bronco e machista e quer que a filha case logo. Sua mãe faz a esposa submissa e também deseja o mesmo para sua filha. Delphine vai estudar em Paris e acaba conhecendo Carole ( Cecile de France, de " O garoto da bicicleta", dos irmãos Dardenne). Carole faz parte de um grupo de feministas que luta pela expressão e igualdade do direito das mulheres. As duas acabam se apaixonando. Com a doença de seu país, Delphine volta para a fazenda. Mas ela não consegue se esquecer de Carole. Bem dirigido e muito bem interpretado pelo elenco, " Um belo verão" acaba sendo prejudicado pela longa duração e pela obviedade do roteiro. A primeira parte dom e, que se passa em Paris, e' a melhor parte e a mais dinâmica. Quando o filme vai para o campo, ele vai se encaminhando para um melodrama de personagens óbvios. Uma pena, mas mesmo assim vale a pena ser visto pela entrega das duas atrizes, que surgem totalmente nuas e em torridas cenas de sexo.

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Os viciados

"The panic in needle park", de Jerry Schatzberg (1971) Lançado em 1971, essa produção independente americana provocou enorme polêmica e foi proibido em vários países, inclusive no Brasil. Tudo por conta do retrato extremamente realista do dia a dia de viciados em heroína. O filme, em registro quase documental, mostra detalhes das agulhas entrando na veia e também a preparação da heroína para injetar. O filme também é conhecido por se tratar do primeiro papel como protagonista de Al Pacino, que 1 ano depois rodaria "O poderoso chefão" e se tornaria uma estrela em Hollywood. Até então, ele fazia peças of-Broadway e pontas em filmes obscuros. "Os viciados"( no original, o contundente nome de "The panic in needle park", baseado no livro de John Mills), concorreu em Cannes e ganhou o prêmio de Melhor Atriz para Kitty Winn. O título do filme original se dá por conta da fama que o parque Sherman teve entre os viciados: todo mundo se picava ali, e por isso, recebeu o apelido de "Parque da agulha". Bobby ( AL Pacino), é um traficante de quinta categoria que mora em um muquifo e vende droga para poder comprar e fazer uso delas em si mesmo. Um dia, ele conhece Helen ( Kitty Win), uma sem -teto que mora com artista viciado, Marco ( Raul Julia). Bobby e Helen se apaixonam, e Helen vai morar com ele. Ela logo acompanha Bobby em sua rotina de uso e venda de drogas, e ele apresenta todos os seus amigos viciados. Não tarda, e Helen também acaba se viciando. Para manter o vício, ela se prostitui. Bobby quando descobre fica puto, mas acaba relevando, pois é uma fonte de renda para comprar drogas. Esse é o tipo de filme que eu adoraria ver um making of para poder entender o processo de ensaios e de preparação de elenco. Al Pacino e Kitty Win estão magistrais. Incrível como eles são tão verdadeiros com os personagens. Tem uma cena também impressionante, onde vemos um ator se picando e logo em seguida a reação da droga em seu rosto, e como sua fisionomia se altera. Chocante saber que esse filme foi realizado a 45 anos atrás. Ousadia de todo o elenco e do diretor Jerry Schatzberg. Obrigatório.

Procurando Dory

"Finding Dory", de Andrew Stanton (2016) Divertida e emocionante aventura que une os mesmos personagens de "Procurando Nemo", com uma galera totalmente nova. O Diretor e roteirista Andrew Stanton, dos excelentes "Nemo" e "Wall.e", caprichou nas cenas de ação, humor e muitas lágrimas arrancadas da platéia nesse filme que fala sobre pessoas diferentes e excluídas que juntas, ganham força e se sobressaem. Tem de tudo: uma baleia míope, outra baleia beluga com dom de premonição, um pássaro de raciocinio lento, uma lula interesseira, focas e leões matinhos trapaceiros. Com essa turma, Dory, Nemo e seu pai Marlin tentam ir em busca dos pais de Dory. Em seus lapsos de memória, ela consegue se lembrar quando era criança e que se perdeu deles. Todos vão até um Parque aquático na Califórnia tentar descobrir o paradeiro dos parentes de Dory. O filme é repleto de cenas hilárias, tais como a da perseguição na estrada, ou as que envolvem o pássaro. O que incomoda no roteiro é o excesso de "encontros gratuitos": quando você acha que os personagens nunca mais se encontrarão, o roteirista dá um jeito meio Deus-ex Machina para que o filme continue. Mas como o grosso do público é infanto-juvenil, o negócio é relevar as forçações de barra e se divertir. O curta de animação que passa antes, "Piper", é uma excelente entrada para se assistir a "procurando Dory". Ambos os filmes falam sobre a importância da família e os primeiros passos que devemos dar na vida para sermos independentes e auto-suficientes. Piper é um filhote de gaivota que descobre que a partir daquele dia, sua mãe não o alimentará ais na boca, e aí, ele deve ir atrás da comida e acabar com o seu medo de desafios. É muito lindo e bem realizado.

domingo, 17 de julho de 2016

Não seja rebelde

"Non essere cattivo", de Claudio Caligari (2015) Filme selecionado pela Itália para representá-la para uma vaga ao Oscar de filme estrangeiro em 2016, "Não seja rebelde" é um filme belo e extremamente pessimista. Vencedor de 12 prêmios internacionais, nos Festivais de Veneza, David de Donatello e outros, foi o último filme do cineasta Claudio Caligari, que faleceu após a montagem do filme. O filme foi todo rodado na Região de Ostia, mesmo local aonde Pasolini filmou vários de seus filmes e aonde foi assassinado. Cesare e Vittorio são 2 amigos inseparáveis, que moram em Ostia no ano de 1995. Sem qualquer perspectiva de futuro profissional, eles se entregam às drogas, tato consumindo quanto traficando. Boites, bebedeiras e mulheres fazem parte da rotina de ambos. Cesare mora com sua mãe e sua sobrinha doente, filha de sua irmã que faleceu de Aids. Vittorio namora uma jovem, Linda, que pede para que ele abandone as drogas. Dentro dessa roda viva desumana e desencantada, os personagens procuram saída para as suas vidas jogadas à margem do amor e da alegria. O filme tem um excepcional trabalho de atores, em especial Luca Marinelli ( Cesare) e Alessandro Borghi (Vittorio). São cenas intensas, bem dirigidas e realizadas com primor técnico. Não à toa, o filme venceu prêmios de fotografia e de som.

sábado, 16 de julho de 2016

A song for your mixtape

"A song for your mixtape", de Brandon Zuck (2016) Premiado curta do americano Brandon Zuck, que tambéme screveu o roteiro, é um belíssimo drama que fala sobre a depressão e a alta taxa de suicídios entre a juventude gay. Realizado com o apoio da National Suicide Prevention Lifeline e LGBT National Help Center, o filme acompanha um adolescente que chega em uma festa e percebe que ali ele não é bem visto. Totalmente narrado em 1a pessoa, ficamos sabendo que todos que estão na festa, quando crianças, eram todos amigos, mas assim que o jovem se assumiu gay, todos se afastara dele. Ao chegar na varanda e se deparar com uma garota, ele diz a ela o real motivo dele estar ali. Com uma fotografia muito foda e uma linguagem narrativa que lembra Gus Van Sant e Xavier Dolain, é um curta que chega para dar o seu recado sem enrolação: com apenas 7 minutos, preciso e conciso, seduz o espectador e emociona. https://vimeo.com/163416933

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Canibais

"Canibales", de Juanma Carrillo (2009) Curta espanhol exibido em mais de 50 Festivais e vencedor de vários prêmios, com certeza inspirou Alain Guiraudie no seu famoso "Um estranho no lago", filme que mostra encontros sexuais de homens em um local isolado da grande cidade. Baseado em uma história real, "Canibais" é todo filmado em câmera subjetiva, até mostrar um surpreendente desfecho e revelar o personagem que a tudo observa. O filme começa com o nosso protagonista buscando festas de orgias gays no Google, até se deparar com uma onde o encontro se dará em um campo aberto e isolado a 10 minutos da Capital Madri. Ele pega o carro e vai até lá, e ao chegar, voyeuristicamente observa homens de todos os tipos e idades fazendo sexo. O filme é recheado de sexo explícito, e faz uma crítica ao próprio meio gay, que despreza homens fora do padrão de beleza e faz um triste relato sobre o sexo desenfreado e volúvel entre os gays. É um filme que choca, ainda mais que é filmado em preto e branco e durante os 20 minutos, ouvimos um som estranhíssimo, incômodo. Angustiante e mesmo recheado de cenas de sexo, não provocará nenhum tipo de apetite sexual do espectador.

Undress me

"Ta av mig", de Victor Lindgren (2012) Premiado curta sueco, vencedor, entre outros, do Teddy Bear no Festival de Berlin 2013. Ousado, é um filme que narra o encontro amoroso e romântico entre um rapaz e uma jovem, Mikaela, que mais tarde vamos descobrir ser uma trans. Ao convidar Mikaela para sair do bar e dar uma volta com ele, Han se surpreende ao descobrir a verdadeira sexualidade de Mikaela. Curioso, ele aceita o convite dela de ir para casa e passarem uma noite juntos. Ao invés de se entregar a uma noite de amor e sexo, Han vai quebrando o clima romântico com perguntas sobre a operação e o corpo de Mikaela, até culminar com a pergunta: "qual era o seu nome anterior?". Muito bem dirigido e com excelente performance dos 2 intérpretes, Jana Ekspong e Bjorn Elgerd, "Undress me" é uma ótima pedida e uma boa aula de cinema: enxuto, baixo orçamento, bons diálogos e cheio de atmosfera.

A escuridão

"The darkness", de Greg Maclean (2016) Dirigido pelo australiano Greg Maclean que em 2005 realizou o ótimo " Wolf creek", suspense que fez grande sucesso em Sundance, "A escuridão" é o primo pobre de " Sobrenatural" e " Poltergeist". De baixo orçamento, esse suspense sobre uma família atormentada por espíritos indígenas em sua casa promete ma não cumpre o essencial para o fã de filme de terror: assustar. O pior, e' escalar um Ator do naipe de Kevin Bacon que não consegue ajudar o filme a ser algo melhor. Uma família ( país e dois filhos, sendo que o menino é autista) visitam o Grand Canyon. O menino encontra pedras indígenas e o traz para casa. Logo, os espíritos vem reclamar pela criança, que eles querem levar com eles. Pobre, roteiro ruim, sem Atmosfera, o filme decepciona, apesar de um início interessante e bonito, filmado no Canyon. Os efeitos especiais são toscos e o roteiro caminha por sub Plots desnecessários que não se desenvolvem ( por ex, a estagiária de Kevin Bacon).

Florence- Quem é essa mulher?

"Florence Foster Jenkins", de Stephen Frears (2015) Muita gente que assistiu ao francês "Marguerite", de Xavier Gianoli, torceu o nariz para essa versão do inglês Stephen Frears. Houve até quem dissesse que Meryl Streep está a léguas de distância de Catherine Frost, a intérprete francesa de Florence Foster Jenkins. Acho as 2 excelentes no papel, cada uma em seu registro. Catherine mais realista, e Meryl se divertindo mais. Florence Foster Jenkins foi uma rica herdeira americana, amante da música. Benevolente, ela faz doações de grandes somas para Instituições, e por isso a alta sociedade a ama. No entanto, seu marido, St Clair ( interpretado por um excelente Hugh Grant) , "paga" com dinheiro favores para que as pessoas e críticos elogiem a sua voz. Um dia, Florence resolve alugar uma diária do Carnagie Hall e cantar ali para 3 mil pessoas, para desespero de St Clair. Stephen Frears sempre foi famoso pelo seu ótimo trabalho de direção de atores, e aqui não foi deferente. Meryl Sreep está no ponto certo, sem resvalar para uma caricatura, o que é bem difícil, em se tratando de Florence; Hugh Grant tem um de seus melhores momentos de sua carreira e Simon Helberg rouba as cenas como o pianista Mcmoon, sempre assustado e temeroso de queimar o seu filme se apresentando com Florence. É um filme delicioso, de ritmo lento, até careta, mas com uma baita história que aos mais sensíveis, proporcionará boas lágrimas no final. Para variar, bela trilha de Alexander Desplat.

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Amizades improváveis

The fundamentals of caring", de Rob Burnett (2016) Produção da Netflix, essa dramedia me fez cair em prantos. Eu simplesmente amo esse gênero " Feel good movie", que são aqueles filmes acridoces que fazem o espectador rir, se emocionar e chorar. Tudo está perfeito: o elenco, o roteiro, a direção e a trilha sonora. O filme podia até ser chamado de "Como eu era antes de você parte 2", tal a Semelhança com o filme protagonizado pela Emilia Clarke. Paul Rudd, um ator brilhante, interpreta Ben, um escritor em depressao após a morte de seu filho pequeno, morto em um acidente onde ele se culpa. Ele se separa da esposa e vai trabalhar como acompanhante. Acaba indo trabalhar para o jovem Trevor (o ótimo Craig Roberts, de " Submarino" e do clip de Tim Burton, que nasceu para papéis de desajustados). Trevor tem distrofia muscular de Dechenne e não deve viver até os 30 anos. Trevor foi abandonado pelo pai aos 3 anos de idade e por isso fica de mal com a vida. A relação entre Ben e Trevor é tumultuada. Bem resolve levar Trevor para uma road trip para conhecer o maior poço do mundo. No caminho, eles dão carona para algumas pessoas, entre elas Dot ( Selena Gomez). O filme é muito emocionante e milimetricamente estudado para conquistar o espectador. Está tudo ali, certinho. Paul Rudd faz muito bem esse tipo looser americano, e confere muito carisma ao personagem. É quase impossível não gostar do filme.

domingo, 10 de julho de 2016

Águas rasas

"The shallows", de Jaume Collet-Serra (2016) Os filmes de tubaroes andavam totalmente desacreditados, por conta das galhofas que o cana; SyFy fez com os predadores marinhos: Tubarão fantasma, Tubarão exorcista, Tubarões voadores...ninguém mais tinha medo dos bichos. Porém o cineasta Jaume Collet-Serra, realizador dos filmes de terror "A casa de cera" e "A órfã", resolveu voltar ao gênero, depois de realizar vários filmes de ação com o herói Lian Neeson. Em "Águas rasas", acompanhamos a história de Nancy ( Blake Lively, de "A incrível história de Adeline"), uma jovem médica que resolve passar férias em uma praia secreta no México. Tudo isso por conta da morte recente de sua mãe, que morreu de câncer. em memória de sua mãe, Nancy acabou descobrindo o reduto secreto aonde ela oia quando jovem e se sentia feliz. Nancy , sem avisar a ninguém de seu paradeiro, resolve pegar onda na praia, totalmente deserta. A apenas 200 metros da costa, ela é atacada por um enorme tubarão, e acaba se refugiando em uma pequena pedra. Nancy desesperada não tem a quem recorrer, e tenta a todo custo sobreviver, tentando lutar contra o tempo, uma vez que a maré fará a água subir e o tubarão poderá atacá-la. Um filme tour de force para Blake Lively, que praticamente atua sozinha no filme. O filme tem ótima construção de suspense, e os efeitos são muito bons. Tem uma bela cena das águas marinhas, que lembra o clima de fantasia de "Avatar". Para se curtir melhor o filme, o melhor é esquecer a verossimilhança e deixar rolar, uma vez que o desfecho é totalmente sem pé nem cabeça. Fico imaginando a grande dificuldade de se fazer esse filme, e o sacrifício de Blake Lively para dar vida à sua personagem vibrante. Uma grande atração do filme, além, da ótima fotografia, é a atuação da gaivota chamada Sully Seagull, que rouba todas as cenas aonde aparece. É um charme extra e uma graça, quebrando a tensão do filme.

Equals

"Equals", de Drake Doremus (2015) Diretor do cult " Loucamente apaixonados", o americano Drake Doremus escreveu e realizou um romance futurista que lembra bastante um clássico dos anos 90, " Gattaca", de Andrew Niccol, com Uma Thurman e Ethan Hawke. São filmes que falam sobre uma sociedade distópico no futuro aonde o amor não encontra espaço. Em " Equals", os habitantes vivem em um mundo onde ninguém expressa emoção e agem friamente. Mulheres são escolhidas para a concepção artificial para que a população mantenha um crescimento sem que para isso as pessoas precisem fazer sexo. No entanto, algumas pessoas estão desenvolvendo uma doença chamada " Sos", e se apaixonam. Elas são caçadas pelo governo e tratadão de forma que não tenham mais emoção. Silas (Nicholas Hault) e Nia ( Kristen Stewart) são duas pessoas que se apaixonam, e escondem das pessoas esse amor, até que são descobertos. Belamente fotografado e com uma excelente trilha sonora premiada em Veneza, onde concorreu, "Equals" prima pela sofisticação do seu visual. É um filme de ritmo lento e que pode desagradar quem espera um filme de ação e aventura. É quase que um filme de arte. A direção segura e o belo trabalho do elenco ( que inclui Guy Pearce e Jackie Weaver) garantem ótimo entretenimento de qualidade. A piada fica por conta da escalação de Kristen Stewart: pessoas provavelmente dirão que ela é a escolha ideal para um pertinazmente que não expressa emoções. Quem sabe essa não foi a razão pela sua escalação? As locações do filme são um verdadeiro achado: o filme foi rodado em Tokyo e na Cingapura, em construções futuristas com um design incrível.

quinta-feira, 7 de julho de 2016

Julieta

"Julieta", de Pedro Almodovar (2016) Brilhante homenagem ao universo da escritora Patrícia Highsmith e dos cineastas Alfred Hitchcock e Douglas Sirk,"Julieta" é um filme que exala classe e sofisticação em cada fotograma. Seja na trilha sonora misteriosa de Alberto Iglesias, na fotografia clássica e elegante de Jean Claude Larrieu e na direção de arte de Carlos Bodelon e Federico Cambero. O filme se divide em vários tempos: o atual, com uma Julieta madura vivida por Emma Suarez, e em flashback, com Adriana Ugarte vivendo Julieta jovem. As duas estão formidáveis em uma trama que gira em torno do sumiço da filha de Julieta. Conformada com o abandono da filha, Julieta finge estar vivendo em paz. No entanto com a possibilidade de um possível reaparecimento da filha, toda a angústia e sofrimento da perda voltam à tona. Almodovar rege o filme com tanta categoria e firmeza que é impossível não ficar deslumbrado com essa história melodramática, quase novelesca, que poucos cineastas sabem comandar sem cair na pieguice. Uma aula de cinema, de roteiro e de direção de atores, concorrendo em Cannes 2016 e de onde infelizmente saiu de mãos vazias. Imperdivel.

Carnage park

Carnage Park", de Mickey Keating (2016) Exibido em Sundance 2016, "Carnage Park" e' uma mistura insana de Wes Craven, Tarantino, Tobe Hooper e Sam Peckimpah. Misture os clássicos " Viagem maldita" , " O massacre da serra elétrica" com " Cães de aluguel", coloque uma Scream Queen como protagonista e o resultado é esse thriller de suspense e humor negro. A história e' simples: no ano de 1978, ocorre um assalto a um banco numa região próxima ao deserto da Califórnia. Os dois assaltantes levam uma refém, Vivian ( a divertida Ashley Bell). No deserto, eles são encurralados por um veterano do Vietnã, que sai matando todo mundo que atravessa as suas terras. O filme se torna então um jogo de gato e rato. O diretor e roteirista Mickey Keating se inspirou nos clássicos de terror dos anos 70 para contar a sua história sobre sobrevivência. Se utilizando do visual amarelado dos filmes dessa época, a fotografia acompanha com um filtro puxando pro vintage. Nos 80 minutos de filmes acompanhamos um corre corre de um lado para o outro. O interessante é que o filme se utiliza da narrativa de "Cães de aluguel", onde as cenas vão e voltam no tempo para entendermos melhor os personagens. Bem dirigido e com atmosfera o suficiente para manter o espectador atento, apesar do roteiro ter cenas que irritam por criar situações apenas para fazer o filme avançar. Dava quase para ser um curta metragem. O maior mérito vai para Ashley Bell que se mantém gritando e correndo o filme todo.

quarta-feira, 6 de julho de 2016

O diabo mora aqui

"O diabo mora aqui", de Rodrigo Gasparini e Dante Vescio (2015) Delicioso exercício de suspense e horror realizado por 2 amigos jovens paulistas, verdadeiros fãs do filme de gênero. Sapecando referências dos clássicos "Evil dead", "Candyman" e "A bruxa de Blair" , os jovens talentos arrebataram prêmios e palmas em vários Festivais. É um filme curto, divertido e despretencioso, mas que por isso mesmo, cumpre o que promete. Não é uma tentativa de fazer filme trash, e mesmo com algumas deficiências de roteiro e questões técnicas, dá de mil em muito filme de terror nacional banhando em orçamento. Esse filme aqui custou 200 mil reais, e faz exatamente o que todo filme de terror precisa: atmosfera e clima. Com tudo isso, e mais um ótimo trabalho de fotografia, já tem metade da platéia conquistada. A outra metade fica por conta do elenco e do roteiro. O elenco até que surpreende: predominantemente jovem, a galera leva a sério os seus papéis, o que seduz o espectador. Nada de galhofa, nada de auto-paródia. O que peca é o roteiro. Talvez use tantas referências, que ficou um samba do crioulo doido. Mas quem se deixar levar pelo exercício de linguagem e narrativa que homenageia filmes famosos, irá se divertir. 2 casais vão passar uma noite num casarão afastado da cidade. Ali existe uma lenda sobre o Barão da abelha, que na época da escravatura, torturava os escravos. Os jovens , em um ritual, liberam o espírito do Barão, que quer se vingar de todos os que lhe colocaram uma maldição. A maquiagem é bacana, a cargo de Kapel Furman, mago da caracterização no Brasil. Boa trilha sonora, com um rock raivoso e climático.

segunda-feira, 4 de julho de 2016

Calafrios

"Shivers", de David Cronemberg (1975) Primeiro longa do cultuado diretor canadense David Cronemberg, foi rodado em 1974 em Montreal. Recentemente foi restaurado pelo Festival de Toronto. Em seus primeiros filmes, Cronemberg trabalhava com o tema da mutação genética e como ela trazia consequências graves e traumáticas para o ser humano. Se aproveitando do sucesso dos filmes de zumbis de George Romero e da possessão em " O exorcista", Cronemberg escreveu um roteiro ousado e bizarro: em uma Ilha próxima de Montreal, e' inaugurado um condomínio residencial auto-suficiente. Um médico está fazendo experiências genéticas com uma jovem amante mas perde o controle depois que ela fica enfurecida e sedenta de sexo. Ele a mata, mas os amantes dela no prédio passam a se comportar de forma estranha. Logo eles atacam outros moradores: os estupram e dai em diante todos vão se contaminando. Hoje em dia seria impensável realizar esse filme: independente de sexo, raça e familiaridade, todos transam. Vale até pai com filha e pedofilia. O filme visto hoje em dia é tosco, mas é impressionante como era um filme à frente de seu tempo. As atuações são amadoras, mas é justamente essa falta de técnica que torna o filme divertido de ser visto. Se preparem para muito sangue de ketchup.

Cleo de 5 às 7

"Cleo de 5 a 7", de Agnes Varda (1962) Drama romântico clássico lançado em 1962, "Cleo de 5 as 7" acompanha em tempo real duas horas ( na verdade 90 minutos) na vida de Cleo ( Corinne Marchand, exultante). O filme começa com Cleo durante um consulta com uma cartomante que prediz uma tragédia na vida de Cleo. Logo depois descobrimos que ela é uma cantora famosa de canções pop, e muito supersticiosa. Ela está prestes a receber um diagnóstico de um exame médico que ela acredita ser um câncer terminal. Enquanto aguarda o resultado do exame, Cleo passeia pelas ruas de Paris, reencontrando amigos, até culminar no encontro com um soldado argelino prestes a embarcar para a guerra. Filho de Nouvelle vague, movimento cinematográfico francês que pregava a liberdade total, indo contra o classicismo dos filmes americanos e franceses, o filme trabalha com a montagem em Jump cut e altamente ousada. O filme surge como um delicioso narrativo que une o improviso e o romantismo clássico francês. A cena de Cleo cantando em seu apartamento é lindo. Impressiona como a Camera de Varda passeia por toda uma Paris idílica, lúdica e romântica. Fosse hoje em dia seria impossível filmar nas condições que ela filmou, totalmente despojado. A trilha sonora de Michel Legrand é brilhante e Corinne Marchand é o ideal da mulher romântica e sonhadora que Cleo necessita ser para viver. Revisto hoje em dia, o filme provavelmente sofreria um patrulhamento pela visão machista dos homens que assediam as mulheres( aqui no filme de forma ingênua) e pelo polêmico curta que é exibido no filme, protagonizado por Godard e que fã uma piada em cima da mulher negra. O cineasta Richard Linklater, da trilogia " Antes do amanhecer" provavelmente bebeu nessa fonte do encontro fortuito entre duas pessoas solitárias nas ruas de Paris.

King Jack

"King Jack", de Feliz Thompson (2015) Premiado como melhor filme do juri popular do Festival de Tribeca 2015. "King Jack" é um drama que fala sobre a juventude. E claro, hoje em dia é quase impossível tocar nesse assunto sem falar de bullying. Pois esse é o foco principal desse filme intenso e dramático sobre a passagem da fase adolescente para adulta, sem maquiagem. Jack é um menino que mora com seu irmão mais velho, o violento Tom, e sua mãe. A família é pobre e mora em um bairro classe média baixa do subúrbio. Um dia, a mãe de Jack recebe a notícia de que a irmã precisou se hospitalizar. e que precisa tomar conta por um tempo do seu filho. Quando o menino Ben chega, Jack fica na incumbência de tomar conta dele. Sem muita paciência, Jack vai trazendo Ben para o seu mundo: isolado, sem muitos amigos e constantemente sofrendo bullying de uns garotos mais velhos. "King Jack" é um filme e certa forma polêmico, porquê incomoda. é um retrato cruel de pessoas que nao têm absolutamente nada a perder. Loosers, como diria o termo americano. sem emprego, sem futuro, sem amor, sem nada. Essa geração retratada pelo filme não recebe qualquer tipo de carinho pelo roteirista e diretor Felix Thompson. São tipos desprovidos de um abraço amigo. A direção de Thompson é muito boa, dando suporte ao trabalho impecável de todo o elenco jovem. A fotografia e a trilha sonora são ótimas. Filmes sobre bullying já vimos aos borbotões, e esse "King Jack"não acrescenta muita coisa. Mas vale pelo belo trabalho dos jovens atores.

domingo, 3 de julho de 2016

Those people

"Those people", de Joey Kuhn (2015) Drama americano que venceu alguns prêmios em Festivais Lgbt, me remeteu imediatamente ao cult adolescente dos anos 90 "Segundas intenções": ambos os filmes falam sobre jovens abastados de Manhattan, às voltas com sexo, estudos, drogas e futuro profissional. Charlie é gay e desde criança sente uma paixão platônica por seu melhor amigo, Sebastian. Outros 3 amigos se juntam ao seleto grupo de ricos Nova Yorkinos: London, Ursula e Wyatt. Um dia, durante uma festa, Charlie conhece Tim, um pianista gay, mais velho. Ambos sentem uma forte atração, mas por conta de Sebastian, Charlie deixa escapar esse flerte. O pai de Sebastian é preso por causa de negócios ilícitos que lesou muitas famílias, e por conta disso, Sebastian sofre bullying e fica deprimido. Charlie se divide entre esse amor não correspondido com Sebastian e um amor sincero por parte de Tim, que é renegado pelo grupo de amigos de Charlie por ser mais velho. Belo drama, com direção bastante sensível e segura do roteirista e diretor Joey Kuhn. Os atores estão ótimos, competentes em seus personagens conflituosos. É um filme que fala sobre uma geração sem rumo, perdida e extremamente melancólica. A trilha sonora e a fotografia são igualmente boas. Não é um filme moralista, nem mostra o mundo terrível que é ser gay nos dias de hoje. É apenas um drama sincero sobre amor e desilusão. Vale assistir.

Disc Jockey

"Diskzokej", de Jiri Barta (1980) Clássica animação Tcheca de 1980, é um curta premiado que concorreu à Palma de Ouro em 1981, na categoria curta. Utilizando elementos circulares que fazem parte do dia a dia das pessoas, Jiri Barta relaciona os vinis de um DJ aos obejtos redondos que estão na nossa rotina: pratos, painéis do carro, despertador, copo, etc. É um filme muito interessante, experimental, com uma ótima pesquisa de músicas para a trilha sonora. OS traços de Jiri Barta variam entre o singelo e o apuro técnico. A montagem do filme é sensacional e super ousada e criativa. A história gira em torno da rotina de um Dj: ele acorda, toma café, toma comprimido, se arruma, pega um carro e segue para a balada para tocar. Com essa história muito simples, o filme exala criatividade.

sábado, 2 de julho de 2016

Enraivecida na fúria do sexo

"Rabid", de David Cronemberg (1977) Cult de 1977, esse filme canadense do mestre David Cronemberg faz parte da leva de filmes que tem o tema da mutação genética como propagador do horror que irá se instalar entre a humanidade. "Scanners", "Filhos do mal", "Calafrios", "Videodrome", "Existenz", "Gêmeos" são alguns desses filmes. Para protagonizar o filme, Cronemberg foi ousado e convidou a atriz pornô Marilyn Chambers para dar vida a Rose, uma jovem que sofre um acidente de moto com o seu namorado na estrada. Uma ambulância a leva até uma clínica genética que se localiza próximo ao local do acidente. Ali, Rose passa por uma cirurgia onde são implantados enxertos de tecido humano. Passado o tempo de recuperação, Rose sente uma fome enorme de sangue humano. Uma vagina surge no seu suvaco, e dentro dela, surge um animal feroz que morde as pessoas e os transforma em pessoas raivosas, que ao morderem outras pessoa,s morrem. Cronemberg não economizou em bizarrice e aqui rola aos borbotões. É divertido, e tem uma aura de filme B, no limite do trash. O mais assustador, é que o filme foi realizado em 76, anos antes do surto de Aids que assolaria o mundo nos anos 80. O filme é uma grande metáfora da doença sexual sendo vista como elemento mortal. Vale rever o filme e para quem não assistiu, dar uma chance a um belo filme que aos olhos de hoje pode parecer datado, mas que com certeza, influenciou toda uma leva de filmes que vieram depois dele.

sexta-feira, 1 de julho de 2016

Grisalhos

"En la gama de los grises", de Claudio Marcone (2015) Drama chileno de estréia do cineasta Claudio Marcone, vencedor de um prêmio em Miami para Diretor estreante. Bruno é um jovem arquiteto bem sucedido, casado e com um filho pequeno. No entanto ele sente que sua vida está vazia. Ele resolve se separar da esposa e vai morar com o seu avô. Um cliente encomenda para Bruno uma obra em Santiago, e Bruno acaba tendo como assessor um professor de história, Fer, que o auxilia nos estudos. Uma noite Fer leva Bruno para uma noite gay. Bruno aos poucos vai descobrindo a sua verdadeira sexualidade e acaba se envolvendo com Fer. Mas o medo de sair do armário e de se expor irá prejudicar o relacionamento. Belo filme, com excelente fotografia e trilha sonoras. Os atores estão bem e nas cenas de sexo se permitiram bastante, com cenas de sexo quase explicitas. O ritmo do filme é extremamente lento e lá pro meio o filme da uma canseira. Mas as locações são tão bonitas, raras em cinematografia chilenas, que acabam atraindo o olhar do espectador, mesmo quando nada acontece na tela.

Meninos de Kichute

"Meninos de Kichute", de Luca Amberg (2009) Baseado no livro do Londrinense Marcio Américo, " Meninos de Kichute" é um belo drama infanto juvenil, na melhor tradição do filme " O menino maluquinho". Ambientado nos anos 70, durante a ditadura militar e após o Brasil ter se tornado tricampeão, "Meninos de Kichute" é um filme que fala sobre futuro e sonhos. Beto, 12 anos, ( o novato Lucas Alexandre) mora com seus pais , o pintor Lázaro (Werner Schunemann) e a dona de casa Maria ( Viviane Pasmanter). Família pobre, ele ainda tem dois irmãos. A vizinha Leonor ( Arlete Salles) é amiga de Beto é uma das poucas que entendem o seu sonho: ele quer ser goleiro. Seu pai, evangélico, o proíbe de jogar futebol, alegando que é pecado pensar em competição. Mas Beto insiste no seu sonho. Simples em sua execução, a direção de Luca Amberg acaba focando no bom trabalho dos atores. Os adultos estão todos ótimos. As crianças são irregulares, mas a simpatia e leveza da trama ajudam a camuflar eventuais problemas. A trilha sonora mistura vários clássicos da Mpb da época, incluindo Secos e molhados, Os incríveis e Jorge Benjor. Se o filme tivesse uns 20 minutos a menos teria lhe favorecido: a trama tem um ritmo lento e algumas sub tramas acabam sobrando. O curioso é ver Paulo César Peréio participando do filme, o seu papel de olheiro de futebol acaba dando um peso maior nas cenas que participa. Lá pro final o filme acaba pesando no drama, e isso pode ter afastado potencial público jovem. Uma triste passagem da inocência infantil para a vida adulta. O figurino merece destaque por não fazer do visual dos anos 70 um desfile de modas vintage.