quarta-feira, 30 de março de 2011

Uma Professora muito Maluquinha


Dirigido por Cesinha Rodrigues e André Pinto

Adaptado do livro best-seller de Ziraldo, " Uma professora muito Maluquinha" não é, pelo menos no conteúdo, um filme infantil, como aparenta ser.
A história gira em torno de Catarina Roque, Cate para os mais próximos. Ela é professora e mora em uma cidade do interior de Minas. O filme começa com Luizinho, menino da roça, que se encaminha para o seu primeiro dia de aula. Ele logo cria inimizades com garotos da cidade, que zoam dele pelo fato dele ser morador do interior. Ao chegar na sala de aula, Luizinho e todos as crianças ficam admiradas com a beleza e simpatia da Professora Cate. Ela logo ganha a confiança e apreço de todas as crianças, e também, inimizade com outras professoras da escola, que possuem método tradicional e careta de dar aulas. Cate propõe brincadeiras, cantorias, tudo de uma forma divertida, para que as crianças aprendam brincando. Ao mesmo tempo, os homens da cidade se apaixonam por ela, e o mundo vive o temor da segunda guerra mundial.
Essa é uma adaptação extremamente feliz da obra de Ziraldo. O elenco é numeroso, e composto por atores de tv e teatro: Paola Oliveira, Chico Anysio, Rodrigo Pandolfo, Suely Franco, Elisa Pinheiro, Claudia Ventura, Cadu Fávero, Max Fercondini, etc. Tecnicamente é ótimo: fotografia, som, trilha sonora deslumbrante de Ronald Vale.
O filme guarda muito parentesco com o filme francês " O pequeno Nicolau". Além de ser baseado em obra já publicada ( no caso, Goscinny e Sempé), o filme atinge mais os adultos nostálgicos do que o público infantil. Atrás de toda alegria e romantismo existente no filme, guarda uma melancolia tênue que deixa os corações da gente apertado. O filme é uma elegia a um mundo que infelizmente não existe mais. O da imaginação, da felicidade, do romantismo puro.

Nota: 9

domingo, 27 de março de 2011

Confessions


" Kokuhaku", de Tetsuya Nakashima (2010)

A Professora Morigushi se prepara para mais uma aula para a sua turma. Porém, essa aulaé especial. Ela resolve comentar sobre um fato ocorrido: a sua filha foi encontrada morta em uma piscina, afogada. Morigushi investuga e descobre que a morte dela não foi acidental, e que sim, dois de seus alunos que estão presentes na sala são os responsáveis por sua morte.
A partir dessa confissão, a professora prepara a sua vingança, que culminará em mudanças radicais de todos os envolvidos, terminando em eminente tragédia para todos.
Fascinante e perturbador filme japonês, indicado pelo Japão para concorrer ao Oscar de Filme estrangeiro em 2011. O filme no entanto é ousado, e seria muito difícil ter sido selecionado pela Academia.
O roteiro acompanha a vida de vários personagens: A professora, os 2 alunos acusados do crime, uma aluna que se interessa por um dos acusados, e as respectivas mães dos acusados. Cada um deles tem o seu momento de confissão no desenrolar do filme. As reviravoltas são uma constante, revelando detalhes que antes passaram despercebidos.
O visual do filme é um caso a parte: belíssimamente fotografado, o diretor abusa de câmera lenta, trilha sonora melancólica, enquadramentos estranhos, e muito efeito especial, porém sem interferir negativamente no filme. O filme tem um constante clima de pesadelo sem fim. A gente nunca sabe o que acontecerá a seguir. O espectador fica em suspense, querendo absorver mais detalhes. O constante vai e vem na narrativa pode ser um recurso já batido, mas funciona bem.
A atuação do elenco é impressionante. Os garotos são fantásticos, e é incrível como conseguem traduzir tão bem a infelicidade e o escárnio perante a vida dos outros. Takaku Matsuo, no papel da professora, tem uma performance sensacional, mantendo sempre a elegância e postura que a profissão de professora exige, mesmo em momento tão difícil, como o de revelar a identidade dos criminosos.
Para o espectador não familiarizado com as performances dos atores japoneses, podem estranhar a constante gritaria, mas isso é um fato cultural. Os japoneses são assim, extravazam suas emoções através do grito.
Com um tema tão forte como a vingança, o filme poderia facilmente ser confundido com uma produção de Park Chow Woo, cineasta sul-coreano que dirigiu a trilogia da vingança. capitaneado por " Oldboy". Até mesmo o uso da violência gráfica, mostrada em excessos. Lembra bastante. Sinal de que o cinema asiático tem muito a oferecer a cinematografia mundial.

Nota: 9

Feliz que minha mãe esteja viva


" Je suis heureux que ma mére soit vivante", de Claude e Nathan Miller (2009)

Drama familiar dirigido por Claude Miller ( " Um segredo em família" ) e seu filho Nathan.
Narra a história de Julie, uma jovem mãe solteira, que não consegue administrar sua vida pessoal coma profissional. Ela acaba abandonando os 2 filhos pequenos, Thomas e Patrick, a ums instituição de adoção. Lá, os dois são adotados por um casal. os anos se passam, e Thomas mostra-se um garoto rebelde e inconformado com a sua situação de adotivo. Rechaçado pelos colegas de turma, ele carrega esse trauma na vida, diferente de Patrick, que aceita os novos pais. Thomas resolve então sair em busca de sua mãe biológica. Após peregrinação na assitência social, ele acaba obtendo o endereço de Julie. Nesse reencontro amargo, contas devem ser pagas, terminando em um desfecho trágico.
O filme se baseia em uma história policial ocorrida na França. A narrativa se divide em 3 tempos distintos. Mostra Julie antes do abandono dos filhos e a adoção do casal. Depois, mostra Thomas aos 12 anos e depois aos 20 anos. Os 3 atores que interpretam Thomas são excelentes, com destaque óbvio para Vincent Rottiers, que o interpreta aos 20 anos. O elenco adulto também funciona a contento. Porém, a escolha da atriz Sophie Cattani é certeira na 1a fase, mas com o passar dos anos, ela permaneceu com a mesma fisionomia, o que me incomodou bastante. Quando colocada lado a lado com Vincent, parecem irmãos. deveriam ter trocado a atriz. O roteiro é lidado de forma fria por Claude Miller, talvez para demonstrar o desamor dos personagens. Porém, a antipatia do protagonista o impede de ter qualquer tipo de empatia por parte do espectador. Vincente Rottiers faz milagres para administrar o seu complexo personagem, e o desfecho é brutal. A estrutura da história apresentada se assemelha a um melodrama, mas a mão certeira de Miller trata com realismo esse filme que provoca apatia pela sua frieza.
Infelizmente não me emocionei com o filme, e pior, a última parte do filme me causou certo distanciamento. O desenrolar da trajetória de Thomas, mesmo baseada em fatos reais, foi cruel.
Melhor ficar com " O filho", dos irmãos Dardenne, um brilhante filme que trata do mesmo tema d da rejeição e do perdão.

Nota: 6



Sucker Punch, Mundo Surreal


" Sucker Punch", de Zack Snyder (2011)

Zack Snyder possui uma linguagem estética visual facilmente identificável pelo espectador que tem acompanhado seus filmes. Muita cãmera lenta, closes, enquadramentos espertos, fotografia em tons escuros e com aparência de "lavada/bleach".
" Sucker Punch" não é diferente. Baby doll, nome que a personagem recebe ao chegar a uma instituição psiquiátrica, é uma jovem internada à força por seu padrastro. Ele a incriminou de um assassinato, a morte da irmã dela, um crime que ele mesmo cometeu. Uma vez lá dentro, Baby doll conhece outras garotas. Uma terapeuta polonesa (Carla Gugino) está fazendo experimentos com as meninas. Enquanto ouvem música, elas se abstraem do mundo real e criam um mundo paralelo, habitado por montros, nazistas, robôs. Baby Doll se aproveita desse mundo paralelo para tecer um plano de fuga. Mas para isso ela precisa lidar com Blue, um funcionário da instituição corrupto, que convoca um doutor para aplicar a lobotomia em Baby Doll. Ela precisa lutar contra o tempo.
Muito de " Watchmen" e " 300" está presente no filme. O prólogo, onde Snyder conta brevemente a história de Baby Doll antes da instituição, é uma linguagem semelhante ao prólogo de " Watchmen". O roteiro, escrito pelo próprio Snyder, é ousado, mas também confuso e mal delineado. Ele não amarra direito as diversas pontas que ele apresenta na história. E mais, o tal mundo imaginado, não oferece perigo real para as meninas. Os vilões são facilmente derrotados, e são todos caricaturas: nazistas, robôs, dragões, samurais. Baby Doll e as outras meninas também não deixam de ser caricaturas de meninas super-poderosas. Um pouco de " A noiva", de Kill Bill, mais " As panteras", mais as personagens de " Sin City". O que Snyder oferece é uma salada de referências de vários universos, inclusive o de mangás. Mas tudo isso embalado numa narrativa fria, completamnete sem emoção. Nenhum momento empolga. Apesar dos ótimos efeitos visuais e da tentativa de se impôr uma dinâmica através da edição frenética e da trilha sonora pop, a cargo de músicas de Bjork e outros, é tudo muito enfadonho. No elenco, Emily Browning, que interpreta Baby Doll, Jena Malone, Carla Gugino e Vanessa Hudgens ( de High School) tentam dar alma aos personagens. Uma pena, pois a premissa é muito interessante. Lembra bastante " O labirinto do fauno" e " A ilha do medo". Mas sem chegar perto da excelência dessas duas produções.


Nota: 6


sábado, 26 de março de 2011

Another Year


" Another year", de Mike Leigh (2010)

Como lidar com a felicidade dos outros?

Essa é a premissa que o cineasta britânico Mike Leigh propõe para os espectadores. Com uma temática semelhante ao seu filme anterior, " Simplesmente feliz", em " Another year" Leigh exibe a felicidade que existe na relação de um casal, que passa ano, entra ano, continuam se amando incondicionalmente, e observando tudo o que passa ao seu redor de forma otimista e objetiva, sem crises, sempre tentando entender que a vida é plena e que devemos aproveitá-la de uma forma sábia e inteligente. Já entrando na terceira idade, o casal compreeende que a missão deles está cumprida.
A personagem de Gerri (Ruth Sheen) é uma psicóloga, e trabalha em um centro assistencial. Seu marido, Tom (Jim Broadbent) é um engenheiro geólogo. Os dois possuem um filho, Joe, a a relação dos três é a melhor possível. Um exemplo de família centrada e feliz.
Porém, a felicidade parece apenas existir nesse núcleo. Todas as pessoas que os rodeiam, vivem uma vida de infelicidade e desamparo. Mary (Lesley Manville) é uma secretária que trabalha com Gerri, e são amigas a mais de 20 anos. Porém, Mary não aceita o avanço da idade, e nutre uma paixão platônica por Joe. Alcóolatra, ela convive com o casal, até que a chegada de uma nova namorada de Joe a deixa atordoada e provoca um rompimento na relação dos amigos.
O filme se passa no período de 1 ano. Dividido em 4 blocos narrados através da passagem das estações do ano. O filme foi filmado durante esse período e levou 1 ano para ser finalizado. OS atores, como de costume nos filmes de Mike Leigh, se reuniram por 5 meses, para juntos, construírem o roteiro. Leigh é famoso pelo despojamento que constrói seu roteiro, sempre em colaboração com os atores.
É um filme muito melancólico, e os personagens são construídos de forma muito realista. Difícil não nos identificarmos com algum dos personagens. A atuação do elenco, em particular, a difícil e complexa performance de Lesley Manville, são um ponto positivo. Lesley compõe Mary de forma brilhante, sem cair na caricatura da mulher infeliz com a idade chegando, e alcoólatra.
Exibido no Festival de Cannes em 2010, o filme não levou nenhum prêmio. Não acho o melhor filme de Leigh, como os anúncios têm sugerido. Porém, Leigh continua um mestre na arte de narrar seus filmes, com diálogos bem construídos que provocam empatia com o espectador.
Um pouco longo (129 min) e talvez verborrágico demais, mas ainda assim, um filme impecável, uma quase fábula sobre relacionamentos e amizades feitas e desfeitas com o passar do tempo.

Nota: 8

A garota da capa vermelha


" Red hiding hood", de Catherine Hardewick (2011)

Livremente adaptado no conto " Chapeuzinho Vermelho", de Charles Perrault, " A garota da capa vermelha" é uma tentativa de se fazer filmes para adolescentes com toques de ação, erotismo, romance e suspense baseados em clássicos de histórias infantis.
Em um vilarejo medieval, animais são sacrificados a cada luz cheia para um lobo que ronda a região. No vilarejo, mora Valerie (Amanda Seyfried) , uma adolescente que é desejada por dois homens, Peter e Henry. Peter é órfão, e desde criança é amigo de Valerie, e ambos nutrem uma paixão não desenvolvida. A tempos planejam uma fuga do local. Porém, os pais de Valerie arranjam para ela um casamento por interesse, com o rico Henry. Ao mesmo tempo, a irmã mais velha de Valerie é morta pelo lobo, que pela primeira vez ataca um ser humano. Revoltados, a população manda chamar ao local o caçador de lobisomens, Padre Solomon (Gary Oldman), que usa de métodos obscuros para obter o que quer. O Lobisomem surge para Valerie, e ela conversa com ele, para sua surpresa. Logo, os moradores acusam Valerie de ser uma bruxa, e a condenam para ser sacrificada ao lobo.
A diretora Catherine Hardewick, que realizou " Crepúsculo", procura aqui repetir a mesma fórmula que consagrou o seu blockbuster anterior. Usa os mesmos recursos: o triângulo amoroso, jovens sedutores e belos, clima etéreo e mágico, olhares furtivos e apaixonantes, trilha sonora moderna e a base de rock, e uma protagonista dividida entre o amor de dois homens. O elenco de apoio, excelente, é mal aproveitado: Julie Christie está irreconhecível como a avó: aparenta estar pouco a vontade nesse universo fabulesco, e parece que fez plástica, de tão esticado que está o seu rosto. Virginia Madsen, de " Sideways", também está apática. Uma pena, pois ela é uma atriz de ótimos recursos, e inclusive já trabalhou no terror cult " Candyman". Lukas Haas, eternamente lembrado como o garoto de " A testemunha", tem um personagem que é pouco desenvolvido. Gary Oldman infelizmente, retorna aqui às suas performances caricatas. Sempre que ele intepreta um tipo vilanesco, ele exagera na composição, tendendo ao overacting.
Algumas cenas são bem risíveis: por ex, quando Valerie descobre que pode falar com o Lobo. As atuações dos dois galãs são muito fracas. De interessante apenas, a tentativa de modernizar o conto e a bela fotografia. Mas para tal, é melhor ficar com o cult de Neil Jordan, " A companhia dos lobos", muito mais ousado e sim, uma perfeita alegoria sobre despertar da sexualidade na adolescência.

Nota: 6

domingo, 20 de março de 2011

O sequestro de um herói


" Rapt", de Lucas Belvaux (2009)

Drama do cineasta francês Lucas Belvaux, que em 2002 trouxe uma trilogia interessantíssima,
" Um casal admirável", " A fuga" e " Acordo quebrado", com o mesmo elenco e gêneros distintos. Belvaux tem interesses em trazer novidades a gêneros que ele acha desgastado. Talvez isso explique a realização de " O sequestro de um herói", drama que narra o sequestro de um poderoso empresário. Com uma temáctia mais do que comum a centenas de filmes americanos, Belvaux procura ir na contra-mão da ação e do suspense: ele busca o calvário desse homem, e não o desenrolar das ações policiais.
Stanislas Graff ( Yvan Atall, marido de Charlotte Gainsburg), presidente da maior empresa da França e amigo do Presidente Francês. Prestes a viajar para a China na comitiva do Presidente, Stanislas tem uma vida de rotina. Em 5 minutos de filmes, sabemos quem é o personagem: através de um clip, vemos várias reunioes com homens poderosos, o fascínio de seus empregados, sua relação com a amante, a esposa traída, as duas filhas carinhosas, e a presença onipresente de sua mãe controladora. Um dia, saindo de casa, Stan é sequestrado de forma violenta. Levado até um cativeiro, ele é obrigado a escrever uma carta exigindo 50 milhoes de euros em recompensa, e tem um dedo decepado. A partir desse momento, e da exposição na mídia sobre o seu sequestro, descobrimos quem é o verdadeiro Stan: jogador, amante de várias mulheres, playboy, e que teve parte de sua fortuna perdida em cassinos no mundo inteiro. Sujeito arrogante, ele logo é execrado pela mídia e sua vida então passa por um inferno: perde a presidência da empresa, sua família descobre as suas tarições, e perde a confiança de todos. Apesar disso, sua esposa e a polícia tentam negociar o seu resgate.
O filme é longo (125 minutos), que se arrastam em uma narrativa lenta. Apesar de uma ou outra cena de ação, o filme se concentra no lado dramático da situação, e na devastação física e moral que provoca em todos os envolvidos. O roteiro é interessante, apesar de em determinados momentos quase virar uma lavação de roupa suja em âmbito familiar. A força do filme está em seu elenco, capitaneado por Yvan Atall, que se entrega ao seu complexo personagem. O elenco de apoio tambèm é excelente.
A narrativa é seca e bruta, quase em estilo documental
No mais, o filme deixa em aberto para interpretação do público, o seu desfecho enigmático e abrupto.
Um remake americano está a caminho, a cargo da cineasta dinamarquesa Susanne Bier.

Nota: 7


Invasão do Mundo: a batalha de Los Angeles


" The battle of L.A", de Jonathan Liebesman (2011)

Pipocão sem cérebro, perfeito para um final de tarde em um Cinemark desses da vida.
O filme começa em Los Angeles, na véspera de um ataque alienígena. O sargento Natz (Aaron Eckheart) foi destituído de seu cargo, e deve obedecer ao Tenente Martinez, que não tem experiência em campo, apesar de ser muito eficaz em comandos estratégicos. Natz lutou com um pelotão na Guerra do Iraque, mas perdeu vários de seus homens, o que o deixa abatido e mal visto pelos outros soldados.
Cada soldado e cabo tem a sua própria história de vida, narrada em clips. Até que o dia seguinte chega, e misteriosamente, meteoros caem do céu. Descobre-se mais tarde que esses metoros são na verdade naves espaciais que começam a atacar o mundo inteiro. Os alienígenas pretendem tomar a água terrestre, Os marines resolvem entaõ tomar de assalto essa invasão. Mas antes, devem resgatar civis que estão escondidos em uma delegacia. A missão é aplacada pelo alienígenas, e todos devem lutar por suas vidas, uma vez que um ataque de mísseis está previsto para acontecer no local, e o grupo deve sair do local o quanto antes.
Sim, os diálogos são toscos, muitas frases de efeito, muito ufanismo americano, muita propaganda dos Marines americanos, muito suor, sangue e efeitos. Mas se a gente abstrair qualquer coisa que remete a raciocínio, pode se divertir nesse arremedo de video-game proposto pelo cineasta Jonathan Liebesman ( mesmo de " Massacre da serra elétrica, o início"). Liebesman entende de ação e ritmo, ele cria ótimas cenas de tensão. Muitos furos na narrativa (como assim, a internet e transmissão de tv funcionam as mil maravilhas no meio dessa confusão toda???) mas deixando qualquer comentário críticio de lado, me diverti bastante. A sala que assisti ( Cinépolis Lagoon) tem um som e projeção perfeitos, excelentes para esse tipo de filme. O negócio é relaxar e se deixar levar pelos tiroteios, explosões, efeitos....
O filme procura fazer referências a vários outros: "Alien", " Nascidos para matar", " Distrito 9", " Falcão negro em apuros". Tecnicamente é impecável, a Cãmera, trêmula o tempo todo, muito boa. Os atores fazem o que podem, e o roteiro ainda propõe doses de melodrama ao longo da história.
Ah, vale ressaltar também a verdadeira catarse no cinema, quando surge a atriz Michelle Rodriguez no papel da Tenente Santos, a única mulher do grupo. Ela virou especialista nesse papel da mulher machona, guerreira. E que venham mais filmes com esse personagem. hehee
Clássico do sessão da tarde em breve nas tvs.




Nota: 7

domingo, 13 de março de 2011

Sexo sem compromissos


" No strings attached", de Ivan Reitman (2011)

Comédia romântica que narra a história de uma amizade de mais de 15 anos, entre duas pessoas solitárias: Emma (Natalie Portman) e Adam (Ashton Kutcher). Entre vais e vens nesse período, onde eles sempre se desencontram, existe um algo mais que eles não querem assumir. Emma torna-se médica, e Adam, um assistente de produção em um seriado de tv. Adam quer ser roteirista, e seu pai, um famoso apresentador de tv (Kevin Kline) tenta manter a eterna juventude. Ele e o pai mantém uma relação de atritos. Emma e Adam tornam-se " fuck buddies", a famosa amizade colorida, por imposição dela, que não quer compromissos sérios. Adam, por sua vez, tenta fazer com que a relação se torne séria, mas encontra resistencia dela. Até que a relação chega a um ponto onde a única solução é a ruptura.
Comédia romãntica com Ashton Kutcher, é sinônimo de previsibilidade, ainda mais tendo Natalie Portman como parceira em cena. Algum espectador acha que a história não terá final feliz? Pois bem, esse filme foi feito para os casais que ainda estão em dúvida quanto as suas relações, e ele faz acreditar que o amor é lindo, sim, e vale a pena. Algumas piadas fofas, diálogos cheios de chavões mas que funcionam, por conta da ótima química do casal principal, e por possuir um excelente elenco de apoio: kevin Kline, mestre em comédias e Greta Gerwig ( de " Greenberg") são os destaques.
Não é nenhum " O diabo veste Prada", mas é um passatempo correto, que vale uma tarde num cinema em um fim de semana. Curioso ver Natalie Portman, após sua glória em " Cisne Negro", protagonizar uma comédia tão clichê. Cuiroso também comparar essa comédia com " Amor e outras drogas", que apostou em ser uma comédia romântica para adultos (como esse aqui, que tem várias cenas com semi-nudez de Ashton Kutcher), mas exagerou na dose do drama. Ficou chato.

Nota: 7

Eu sou o número quatro


" I´m number four", de D.J.Caruso (2011)

Atenção: esse filme desde já, será um clássico do Sessão da tarde.
John é um pós-adolescente, que vive com Henri, que ele apresenta como seu pai. Eles vivem mudando de cidade em cidade, fugindo de algo. Descobrimos depois que na verdade, ambos são fugitivos de um planeta, e se refugiaram na Terra. Henri é seu protetor. Um grupo de caçadores de um planeta rival caçam John e mais 8 outros fugitivos. Ao total, são 9, cada um sendo chamado por um número. John é o número quatro. Os outros três anteriores foram mortos pelos caçadores, e John será o próximo da lista. Ambos se refugiam em uma cidade pequena, chamada Paradise. Entediado da fuga, John resolve se matricular em uma faculdade local. Ele de cara se apaixona por Sarah (Dianna Agron, a Quinn de " Glee). Mas sofre também com a agressão de um grupo de outros estudantes. Paralelo a sua tumultuada vida estudantil, os caçadores descobrem o paradeiro de John, e vão ao seu encalço.
O grande barato desse filme é que ele quer ser uma diversão para adolescentes e para a família. As cenas de violência são sublimadas, e podem ser vistas por crianças de qualquer idade. É uma misto de " Homem -aranha" , " Crepúsculo", " Man in black" e tantos outros filmes que tem como tema a vida estudantil e ataque de extraterrestres. É uma grande diversão, que além da ação, previlegia também o drama e o romance. Os efeitos são meio "B", e quando Sarah (Dianna Agron) entra em cena, fica para os fãs, impossivel de dissociá-la do " Glee". Mas ela é carismática, e funciona bem, apesar de sua personagem ser mal delineada. Alguns personagens de apoio são ótimos, como a Número 6, e o amigo Sam. O protagonista Alex Pettyfer está ok, e promete ser uma das novas sensações americanas. Curioso é que a caracterização dos caçadores, com suas tatuagens, lembra bastante a caracterização do próprio Alex no seu novo filme, " Fera".
Preparem-se para uma nova franquia. O filme promete várias continuações. Afinal, são 9 os refugiados, né? hehee


Nota: 7

Em um mundo melhor


" Haevnen/ In a better world", de Susanne Bier (2011)

Poderoso drama dirigido por Susanne Bier, diretora dinamarquesa, que iniciou seus filmes no movimento Dogma, com o filme " Corações livres". Ela ficou famosa depois com os premiados " Brothers", " Depois do casamento, e o americano " Coisas que perdemos pelo caminho", com Hale Berry e Benicio del Toro.
" Em um mundo melhor" narra várias histórias que se entrecruzam, baseada em personagens que transitam entre duas famílias distintas. Anton é um médico que serve em um campo de refugiados na África. Ele mora na Dinamarca, mas vive viajando e se divide entre os dois países. Seu filho Elias, adolescente, sofre de Bulliyng na escola. Um dia, surge um novo aluno, Christian, que defende Elias, e os dois passam a ser os melhores amigos. A mãe de Elias é médica, e está sofrendo um processo doloroso de separação com Anton, contra a vontade dele. Ao mesmo tempo, Christian sofre com a morte de sua mãe, por câncer, e culpa o seu pai, Claus pela morte dela. Christian tem transtornos de personalidade, e usa da violência para se vingar de quem abusa dele ou de pessoas próximas a ele.
O filme discute a violência, seja ela externada ou presente internamente em cada um de nós. Os personagens do filme tem o instinto animalesco prestes a eclodir a qualquer momento. Anton, que sofre atos de violência tanto na África quanto em sua casa, procura usar da palavra para se defender do inimigo. Mas o que ele encontra é mais rancor e ódio. Susanne Bier se utiliza de elementos do melodrama para configurar o seu filme. Tem momentos extremamente sensíveis, mas que em mãos de diretor menos habilidoso, esbarrariam feio no dramalhão. Com um excelente elenco em mãos ( incluindo uma atriz que eu amo, presente em vários filmes dinamarqueses, Tryna Dyrholm) e dois garotos espetaculares, que são extremamente expressivos, Bier tem um petardo que seduz os espectadores ávidos por um filme forte e marcante. Muitas cenas fortes, que podem emocionar as pessoas mais sensíveis, fazem desse filme um programa obrigatório. Há quem discuta o tom otimista que prevalece no fim, dando soluções para todos os dramas que surgem ao longo da narrativa. Mas esa é a mensagem que Bier quiz dizer aos seus espectadores. Contar uma fábula , e assim, porque nao mudar o final que nós já sabemos como termina?

Nota: 9

sábado, 12 de março de 2011

Mistério na Rua 7


" Vanishing on the 7th street", de Ben Anderson (2011)

Suspense que narra a história de um acontecimento que acontece na cidade de Detroit, inexplicavelmente. Numa noite, as luzes da cidade se apagam. Tudo fica escuro. Os dias seguintes vão ficando com menos horas de luz do dia, até ficar completamente escuro.
As pessoas desaparecem, e em seu lugar, só ficam as roupas. Porém, 4 sobreviventes resistem às investidas de criaturas noturnas, espectros semelhantes aos espíritos de " Ghost".
São eles: um repórter (Heydan Christansen), uma enfermeira que luta desesperadamente em procurar o seu bebê (Thandy Newton) , um projecionista de cinema (John Leguizamo) e um menino , filho de uma dona de um bar que foi buscar ajuda na igreja e sumiu. Todos os 4 se encontram nesse bar, que tem luz gerada por um motor nutrido por combustível. Juntos, eles tentam sobreviver ao ataque das criaturas, e procuram manter a luz acesa o máximo de tempo posssível, enquanto tentam descobrir o que está acontecendo.
Esse filme parece um episódio do seriado " Além da imaginação". As questões são jogadas para o espectador, mas o filme acaba, e a gente fica sem saber de fato o que aconteceu. Quem são aqueles espectros? Porquê aquele final bíblico, á la Adão e Eva? O que acontece quando as pessoas se transformam em espectros? Tudo bem, entendo que os 4 sobreviveram porque de certa forma, eles estavam protegidos por alguma fonte de luz. Mas numa cidade com milhões de pessoas, só eles tinham alguma luz acesa? estranho, né???
A fotografia é correta, e favorece o clima de mistério do filme. Muita escuridão. A trilha sonora irrita, porquê é over e previsível, cheia de sons estridentes.
O elenco tenta dar veracidade à trama...mas não estão em seus melhores momentos. Quase todos estão histéricos e caricatos. Os efeitos são ruins: a cena do avião caindo é péssima, mal feita. Os espectros não metem medo, porquê a concepção deles é muito tosca. Igual aos espectros de " Ghost".
Uma pena, porquê o filme até tem um clima de mistério de tensão interessantes, mas o roteiro não ajuda. Mais incrível ainda, é que no currículo do cineasta Ben Anderson, tem o maravilhoso filme " O operário", com Christian Bale, esse sim, um filme que lida bem com o delírio e o surrealismo.



Nota: 7

quinta-feira, 10 de março de 2011

Rango


" Rango", de Gore Verbisnky (2011)

Deliciosa e divertida animação da Nickelodeon e Paramount Pictures, uma verdadeira festa para cinéfilos mais atentos.
O filme narra a história de um lagarto, que viaja em um carro, dentro de um aquário. Seus donos se mudam para Las Vegas. Porém, durante a viagem na estrada, ao lado do deserto de Mojave, o aquário se solta do porta-malas e cai na estrada, sem que os donos percebam. O Lagarto fica sozinho, e atravessa o deserto, sedento. Até encontrar Bean, uma jovem lagarta que vai em direção a uma cidade isolada, chamada Dirt. Lagarto a acompanha, e descobre que a cidade é uma espécie de cidade típica de faroeste, sem lei. Toda a população está sedenta, e a água é considerada moeda, inclusice sendo guardada dentro do banco. Acidentalmente, lagarto é confundido com um herói, e assume a identidade de Rango. Logo se transforma no xerife local. Porém, a água do banco é roubada, e Rango precisa descobrir o que está acontecendo com o sumiço dela.
O filme possui um roteiro inteligente que brinca com várias referências cinematográficas: além das óbvias citações a todos os faroestes de Sergio Leone ( Era uma vez no Oeste, Por uns dólares a mais, etc), ele ainda cita " Apocalipse now" e "Star Wars" na fantástica cena de ataque aéreo; " "Chinatown", ao tratar do assunto da falta de água e ao representar o vilão como um espectro de John Houston; " Banzé no Oeste", na brincadeira de colocar um forasteiro como xerife local; " Matar ou morrer", no signo do relógio que bate ao meio-dia; e muitos outros. A trilha sonora é toda referencial a Ennio Morricone e seus clássicos feitos para os filmes de Sergio Leone. A fotografia ganhou consultoria de Roger Deakins, mestre que tem realizado todos os últimos filmes dos irmãos Cohen.
O filme não deverá agradar as crianças, uma vez que os diálogos são rebuscados e as citações complexas demais. Inclusive existe uma cena, antológica, onde o Lagarto contempla um diálogo absurdo com o Fantasma do Oeste, uma brincadeira com Clint Eastwood e suas estatuetas ganhas no Oscar. Não sei porquê não chamaram o próprio Clint para dublar as falas do personagem, teria sido maravilhoso. Aliás, as dublagens sçao um caso a parte. Johhny Depp é fabuloso até mesmo em voz. As variações que ele impõe ao personagem Rango são incríveis, eu enxergava o próprio Depp no desenho. Um erro os distribuidores no Brasil terem apostado na versão dublada do desenho. São poucas as cópias legendadas, o que considero um crime. Deixar de ver o filme, sem a voz original de Depp, é um absurdo.
Uma maravilhosa surpresa esse desenho, de alta qualidade técnica, e que espero, tenha um sucesso comercial e crítico merecido.
Incrível a trajetória do Cineasta Gore Verbisnky. Após o sucesso da refilmagem de terror " O Chamado", e da franquia " Piratas do Caribe", ele ataca com muito sucesso na área da animação.
Obs: Um show a parte é o grupo de mariachis corujas...deliciosamente divertido e irônicos, narrando como um coro grego passagens do filme.

Nota: 9

El Bola


" El Bola/Pellet" , de Achero Manãs (2000)

Comovente e sensível drama sobre violência doméstica.
Pablo, conhecido pelos colegas de turma pelo apelido de " el Bola", tem 12 anos. Ele mora em um bairro de classe média baixa de Madri. Em sua escola, ele não tem amigos. em casa, vive sofrendo maus tratos por parte de seu pai, um tipo bruto.
Um dia, aparece um novo aluno, Alfredo. Pablo e Alfredo se tornam amigos. O pai de Alfredo é tatuador e tem um loja de tattoo. Porém, o pai de Pablo não vê com bons olhos esse nova amizade, e proíbe Pablo de visitar Alfredo e família.
Filme espanhol vencedor de 4 prêmios Goya em 2000, incluindo melhor filme e diretor, " El Bola" é um filme brutal, que narra uma bela amizade sendo destruída pelo rancor do pai do menino. As cenas de violência são fortes. O elenco é sensacional, com destaque absoluto para a performance do menino Juan José Ballesta, que interpreta El Bola. Aliás, a semelhança entre esse filme e " Os incompreendidos", de Truffaut, é tremenda. Inclusive a semelhança física entre Juan José e Jean Pierre Leaud, que interpretou o personagem Antonie Doinel, no filme.
É um filme sério, que tem uma mensagem muito boa, sobre violência doméstica, e que deveria ser assistida por pais e em escolas, como fonte de denúncia.

Nota: 8

terça-feira, 8 de março de 2011

Vida Cigana


" Dom za Vesanje/Time of the gypsies", de Emir Kusturika (1988)

Drama Iuguslavo, participou do Festival de Cannes em 88, de onde saiu com o prêmio de melhor direção.
O filme narra o drama de Perhan, um garoto de 13 anos, que mora em uma vila na Iuguslávia. Ele divide a casa com a sua avó, o seu tio e sua irmã pequena. A Avó sobrevive fazendo trabalhos como curandeira, cuidando de doentes. O tio é um vaggabundo, que passa os dias bebendo e na jogatina. A irmã tem problemas na perna, e sente dores. Perhan possui poderes telecinéticos, e conforme a avó mesma diz, não servem para nada. perhan é apaixonado por uma jovem da vila, Azran, e quer casar com ela. Mas a mãe dela só permitirá o casamento quando Perhan estiver rico. Um dia, Ahmed, um gangster, chega na cidade. Ele promete levar A irmã de Perhan para a Itália e curá-la. Perhan vai junto, e promete a Azran que irá voltar para casar com ela. Porém, o que Perhan nao imaginava é que Ahmed fosse usá-lo como isca para negócios escusos. Ele monta um bando de crianças carentes e faz delas pequenos marginais.
Kusturika faz aqui uma de suas maiores obras-primas. O filme é um épico, e como sempre, ele faz uso de realismo fantástico em tom de fábula farsesca. O elenco é sensacional, as fisionomias são tão cativantes e realistas, parece que você está acompanando a história ao vivo, na locação.
O roteiro é de uma criatividade impressionante. A gente nunca sabe aonde a história vai se caminhando, nada é previsível. A trilha sonora se utiliza de música local, regada a muito acordeão, típica dos filmes de Kusturika.
O filme posssui muitas cenas antológicas: o ritual a beira do rio; a cena da aparição da mãe na viagem do carro, vestida de noiva; o desfecho, sensacional, no trilho do trem.
É incrível como eu nunca havia assistido esse filme até hoje. Ele é de uma sensibilidade ímpar, uma pequena obra-prima, que emociona e encanta com a sua inteligência e sutileza. Alguns efeitos podem ter ficado datados, mas nada que tire a força da história. A versão original do filme tem 270 minutos, eu vi a versão de 136 minutos, distribuída internacionalmente.

Nota: 9

Gnomeo e Julieta


" Gnomeo and Juliet", de Kelly Asbury (2011)

Animação inspirada livremente em " Romeu e Julieta", de Shakespeare".

Gnomeo e Julieta pertencem a famílias rivais. Ambos moram no jardim de casas vizinhas: Os Montequeo e Os Capuleto. Os vizinhos por si só vivem às turras. Julieta pertence aos vermelhos, e Gnomeo, aos Azuis. Um detalhe: eles são cerâmicas de jardins. Gnomeo é um gnomo, e Julieta uma pastorinha. Quando por uma questão do destino ambos se encaram, a paixão acontece. Daí em diante, eles precisam lutar pelo amor, antes que suas famílias acabem com os dois.
O que esse desenho tem de melhor é a sua trilha sonora, toda inspirada em canções de Elton John (aliás, um dos produtores do filme) e a dublagem, composta por atores renomadíssimos ingleses: James Macvoy empresta sua voz para Gnomeo; Emily Blunt para Julieta; Michael Caine faz o pai de Julieta; Maggie Smith, a mãe de Gnomeo; Jason Statham faz Teobaldo, o vilão dos Vermelhos; e Patrick Stewart dá voz a estátua de Willian Shakespeare.
Por ser um filme infantil, a diretora e roteirista Kelly Asbury preferiu não chocar as crianças e investiu em um happy end. Assim, a saga finalmente ganha uma versão onde todos saem felizes.
Os números musicais são muito semelhantes a " Shreck", mas o filme não tem o humor ácido e ferino do ogro. É um filme simpático, bacana, e só. Não traz nenhuma inovação, a não ser a bizarrice de ter como personagens porcelanas de jardim. A sonoplastia é muito interessante, porquê reproduz o barulho das cerâmicas em movimento. Algumas cenas são divertidas, mas a falta de gags talvez aborreça os pequenos.
Um passatempo para uma tarde de domingo.

Nota: 7

Os infelizes


" De helaasheid der dingen/ The misfortunates" , de Felix Van Groeningen (2009)

Drama com tintas de comédia melancólica, participou do Festival de Cannes em 2009, na Quinzena dos Realizadores.
O filme narra a história de Gunther, menino de 13 anos, que mora em uma cidade ma Bélgica. De família pobre, ele mora com seu pai e 3 tios, além da avó. Tanto o pai quanto os 3 tios são alcóolatras, e passam seus dias bebendo em casa, nos bares, arranjando confusão e pegando mulheres. Inclusive levam as mulheres em casa, transando em tudo quanto é lugar, para desespero da mãe deles, que nada pode fazer para impedir. Gunther observa o cotidiano sem perspectiva alguma de melhora de sua família, e procura refletir se o seu futuro será o mesmo para ele. Seu sonho é se tornar um roteirista, e poder ser alguém na vida. O filme trabalha com 2 narrativas: o presente, que mostra Gunther já adulto, e desesperado, ao achar que a sua vida é tão ruim quanto a de seu pai e tios. Ele tenta ser roteirista, mas os roteiros são rejeitados pelas editoras. Está enamorado de uma garota, que engravida. Ele sente repulsa pelo filho que vai nascer, porquê repete exatamente a sua vida, já que ele também foi gerado por acidente.
O filme é vendido como comédia, mas ele está aquém disso. Pode ser comédia, mas é muito acre-doce. É um drama triste, disfarçado de fanfarronice. Os personagens são trágicos, dignos de piedade, porém bem realistas. Os atores são ótimos, e evitam o estereótipo do bêbado, apesar da caracterização dos tipos beirar a caricatura. A atriz que interpreta a avó de Gunther é excelente, assim como o garoto que interpreta Gunther.
O filme tem cenas memoráveis ( a corrida de bicicleta com todos os homens nús; a lição que o pai dá ao filho pequeno para aprender a andar de bicicleta...), e a direção privilegia o uso de câmera na mão, fazendo quase que um registro documental da vida dessa família bizarra.

Nota: 7

segunda-feira, 7 de março de 2011

O retrato de Dorian Gray


" The portrait of Dorian Gray", de Oliver Parker (2009)

Suspense baseado na obra homônima de Oscar Wilde.

O filme é ambientado em Londres Vitoriana, Sex XIX. Dorian Gray (Ben Barnes) é um jovem que retorna a sua mansão onde passou a sua infância. Seu pai morreu, e ele toma conta da mansão. A sua beleza e jovialidade impressionam a todos, que ficam embevecidos. Basil (Ben Chaplin) , um pintor renomado, resolve fazer uma pintura retratando Dorian, o que se tornará a sua obra-prima. O Lorde Henry (Collin Firth) , amigo de Basil, encanta Dorian com o seu prazer pela vida mundana. Ele estimula Dorian a frequentar puteiros, bares e a seduzir e amar quantas mulheres possível. E isso somente enquanto durar a beleza e jovialidade de Dorian. Encantado e seduzido pelos ensinamentos de Henry, Dorian se frustra, esperando a velhice eminente. Porém, ao ver o seu auto-retrato pintado por Basil, ele faz um pacto: a pintura envelhecerá, e ele fisicamente permanecerá belo e jovial. Passam-se os anos, e Dorian permanece jovem, e seduzindo a todos. Mas o seu segredo jamais deverá ser descoberto, e Dorian precisa eliminar todos que o descobrem.
Dito assim, parece que a obra de Oscar Wilde é um filme de terror. Mas não é. oscar escreveu essa fábula para fazer uma crítica a sociedade aristocrática. Cutucar o falso moralismo, o puritanismo vigente.
Porém, o diretor Oliver Parker resolveu levar ao pé da letra, e transformou o filme em uma obra de suspense gótica. Apostou em efeitos especiais e clima de tensão para seduzir o espectador. Mas faltou charme e sensibilidade. As cenas beiram o trash e o ridículo. O Desfecho então é risível. Uma pena, pois o elenco tenta conferir credibilidade ao projeto. Colin Firth está correto, como se espera dele. Ben Barnes, que fez o Príncipe Caspian em " Crônicas de Nárnia", ainda é imaturo para um personagem tão complexo, apesar de emprestar beleza que Dorian necessita. Rebecca Hall, interpretando a filha de henry, aparece pouco, e seu personagem é pouco desenvolvido.
Melhor ficar com a versão de 1945, com George Sanders. O filme não tem a sensualidade que a obra exige, nem toca no assunto do homossexualismo ( Basil sentia atração física por Dorian, um ponto positivo que a versão de Oliver Parker respeita), mas pelo menos o transforma em um drama sobre a imortalidade, sem grande arroubos de tecnologia.

Nota: 6

Zé Colméia, o Filme 3D


" Yoggi bear, the movie", de Eric Brevig (2011)

Adaptação com atores do famoso desenho animado de Hannah Barbera dos anos 60, o urso Zé Colméia, que fez a alegria de várias gerações de crianças mundo afora.
Utilizando a mesma técnica de " Scooby doo", " Garfield" , " Os Flintstones", e " Alvim e os esquilos", " Zé colméia, o filme" possui os mesmos defeitos dessa mistura inusitada de computação gráfica e atores.
A história é simples, e vai direta ao assunto: o parque Jellystone está passando por dificuldades financeiras. O prefeito local, que é candidato a Governador, deseja lotear o Parque para poder angariar fundos para a sua campanha. Para isso, ele precisa fazer com que o local seja um fracasso retumbante. O que ele não conta é com a dedicação do Guarda Belo, sempre atento aos cuidados com o Parque. A ele, se juntam Zé Colméia, Catatau e uma documentarista, Rachel (Anna Farris, dos filmes de " Todo o mundo em pânico"). Belo e Rachel se apaixonam, mas ambos não sabem lidar com o amor.
Unindo comédia pastelão a mensagens de ambientalismo e romantismo, o filme agrada em cheio a criançada. Porém, aos eternos fãs do urso, fica uma sensação de frustração terrível. Afinal, o filme deve agradas as crianças ou aos marmanjos que foram fãs a décadas atrás? Partindo dessa premissa, fica difícil ter uma resposta. Os fãs esperavam um roteiro mais esperto e menos simplório. Os produtores resolveram apostar nas crianças e o filme ficou assim, bobo toda vida.
A interpretação dos atores é caricata, uma opção do diretor Eric Brevig ( de " A viagem ao centro da terra 3d). Muitas caras e bocas, que com certeza fará a festa dos petizes. Aos adultos, fica a sensação de tristeza por ter mais um personagem querido relegado a uma homenagem frouxa.
De qualquer forma, essa adaptação é superior aos outros filmes citados acima. É mais cuidadosa, e a fotografia é bonita. Os efeitos são bacanas, e o uso do 3D , apesar de repetitivo, é funcional.
A diferença desse filme é que Zé Colméia fala e é ouvido pelos humanos. O que facilita e muito na compreensão da história.
O filme é válido pelo carinho com que os personagens são tratados pelo projeto, apesar de não satisfazer os eternos fãs.

Nota: 7

domingo, 6 de março de 2011

Ilegal


"Illégal", de Olivier Masset-Depasse (2010)

Drama belga sobre imigração ilegal. Tania é uma russa que mora ilegalmente na Bélgica com o seu pequeno filho Ivan. Ela recebe uma carta intimação, dizendo que deve abandonar o País. Para evitar a deportação, Tania queima suas digitais com ferro, e vive na marginalidade. Passam-se os anos, e no dia da comemoração do aniversário de seu filho, agora com 13 anos, Tania é presa por fiscais da imigração. Ela é enviada até um centro de detenção de imigrantes ilegais. Lá, ela se recusa a dizer o seu nome e descendência, e se torna uma presidiária sem nome. Ela trava amizades com outros presos, e mantém estreita relação de identificação com uma das carcereiras, que encontra nesse emprego a única forma de sobreviver mantendo seus filhos. Tania evita ser deportada para fora do país, e ao mesmo tempo, evita que seu filho vá trabalhar para um mafioso russo local.
Bom drama, com tintas realistas, com muito uso de câmera na mão e fotografia em tons frios. O filme procura fazer um registro do cotidiano de Tania no cárcere e sua relação com outros presos, se tornando em certo ponto um filme de presídio, abusando de certos clichês ( os policiais maniqueistas, malvados).
A performance de Anne Coesens é tocante. Esposa do cineasta, ela defende com garra o seu personagem, variando nas emoções, ora de felicidade, ora de sofrimento extremo. O diretor espertamente evita o melodrama no filme, tratando-o mais como um filme hiper-realista.
Participou do Festival de Cannes, na Mostra quinzena dos realizadores, em 2010.

Nota: 7

As amizades particulares



" Les amitiés particuliéres/This special friendship", de Jean Dellanoy (1964)

Adaptação cinematográfica da obra homônima, escrita por Roger Peyrefitte. A obra é descrita como autobiográfica, narrando o período que Roger ficou como interno de um colégio de padres católicos.
O filme narra a história de Georges de Sarre, um adolescente de 16 anos, de família aristocrática. Ele é transferido até um rígido colégio de formação religiosa, na França dos anos 20. Lá, ele conhece Lucien, por quem ele se sente atraído. Porém, Lucien já tem um namorado secreto, André Ferron. Georges arma contra André, o que provoca sua expulsão. Abalado, Lucien se deprime. Georges o conforta, mas Lucien não estreita a sua amizade com Georges, que esperava uma entrega por parte dele. No entanto, Georges vem a se apaixonar por Alexander, um garoto de 12 anos. A paixão é mútua. Ambos trocam cartas de amor, sempre mantendo a relação em segredo. Os dois se encontram em um pequeno celeiro abandonado próximo ao colégio. O tempo passa, e os padres do local se revelam pedófilos, desejando ardentemente os meninos. Um deles, enciumado da relação de Georges e Alexander, exige o término da amizade, o que culminará em tragédia.
Um filme ousado para a época, e que lida com muita coragem com temas como homossexualismo e pedofilia. Fosse feito hoje em dia, o filme seria atacado por toda a mídia e causaria muito tumulto. Na época em que foi realizado, a questão da pedofilia não era tão acirrada como hoje, e tudo era visto como uma forma de amor entre pessoas de idade distintas.
A força do filme advém da coragem dos atores em interpretar papéis tão complexos, sem expressar qualquer tipo de falso moralismo. Existe uma entrega formidável, principalmente da dupla Georges ( Francis Lacombrade) e de Alexandre (Didier Haudepin). Vai um destaque absoluto para o trabalho de Didier, incrivelmente talentoso e astuto para a sua idade, conferindo profissionalismo e humanidade ao papel.
A fotografia em preto e branco reforça o clima melancólico do filme, e a locação ambientada em um colégio religioso do início do século XX é perfeita.
A inteligência da direção do filme omite passagens mais objetivas, deixando em aberto ao espectador se a relação dos dois garotos era simplesmente amizade ou se chegou as vias de fato.
Após ver o filme, ficou claro para a mim uma forte referência de Almodovar para o seu filme " Má educação", em muito semelhante a essa história.

Nota: 8

Viver a vida


" Vivre sa vie" de Jean Luc Godard (1962)

Drama dividido em 12 cenas, narra a história de Nana, uma aspirante a atriz, que abandona marido e filho pequeno em prol de seu trabalho. Pobre, ela trabalha em uma loja de discos como vendedora. Endividada ao extremo, ela acaba se prostituindo. Conhece um cafetão, Raoul, que a levará a desgraça.
Incrível como eu até hoje não havia visto essa obra-prima de Godard. Sou fã de seus filmes nessa fase dos anos 60 e 70. Dos anos 80 para cá, poucas são as obras que me interessam. A fase áurea de Godard é justamente a que traz inovação na linguagem, a ruptura com a dinâmica do cinema tradicional.
Aqui em " Viver a vida", Godard flerta com o melodrama. Nana é uma anti-heroína, daquelas que lutam por um ideal, mas a vida acaba se tornando um fardo para a sua existência. Assim como nas protagonistas dos filmes de Lars Von Triers, Godard não se permite que a personagem seja feliz. Talvez em um único instante, na cena da dança na sinuca, ela se permite entregar ao prazer: a dança lhe traz leveza, paz, felicidade. de resto, ela procura se manter da melhor forma possível. Quando ela descobre o amor, já é tarde demais.
Interessante a divisão dos capítulos, todos nomeados , uma espécie de resumo do que iremos ver. O trabalho de câmera é excepcional: alguns capítulos são em plano-sequência, como a da loja de discos. O uso do travelling é fantástico. parece que estamos presenciando um ballet. A cena do bar, quando rola o tiroteio, tambèm é incrível: na hora dos tiros, a câmera vai se acordo com o ritmo dos tiros. Foda!
Godard é tão ousado, que na cena inicial, que dura quase 10 minutos, os personagens contracenam praticamente de costas. Quase não vemos seus rostos, apenas refletidos ao longe no espelho, ou vistos de perfil.
A fotografia em preto e branco carrega em si a tristeza do filme, e a trilha sonora de Michel Legrand pontua o sofrimento da personagem. Interssante a cena do cinema, quando Nana está assistindo a " O martírio de Joana D´arc", de Dryer. Os closes de atriz do filme (Falconetti) se confundem com o de Ana Karina. Um prenúncio do que irá acontecer com a personagem. A morte como libertação de espírito.
Mas o filme não seria nada se não fosse a presença enigmática de Ana Karina. Linda, ela capta o espectador em todas as suas emoções. A tristeza eminente de sua personagem ganha forças com o seu olhar , com a sua postura. Adoro a cena que ela mede o seu corpo. É de uma graciosidade incrível.
A cena final é de uma brutalidade poucas vezes vista. O filme simplesmente acaba com o desfecho da personagem. assim mesmo, narrada secamente. Godard mostra aqui a excelência de seu trabalho como diretor e narrador de histórias, como poucos.

Nota: 10


sábado, 5 de março de 2011

Morrer como um Homem


" To die like a man/ Morrer como um homem", de João Pedro Rodrigues (2009)

Drama musical, do mesmo cineasta dos polêmicos " O fantasma" e " Odete". Mais uma vez, João Pedro Rodrigues trabalha com a temática do homossexualismo. Dessa vez, ele narra a história de Tonia, um travesti que sobrevive fazendo shows em uma boite gay em Lisboa. Após mais de 20 anos fazendo shows, Tonia vai perdendo espaço para os novos talentos. Ao mesmo tempo, ela sofre com a vida marginal de Rosario, seu jovem namorado, que vive com biscates e pequenos roubos. Para piorar a situação, Zé Maria, seu filho que Tonia abandonou quando era criança, retorna para casa, após desertar doi exército, por ter matado um soldado, em acesso de fúria por conta de seu pai ser um travesti. Tonia descobre também que está doente: o silicone implantado em seus seios causaram inflamação irreversível em seu corpo.
O filme é um melodrama musicado, mas bem diferente do estilo colorido e bem humorado de Almodovar. O filme é melancólico, bruto, cru. As cenas de nudez masculina abundam na tela, a fragilidade dos personagens tornam tudo muito realista. O cineasta abusa de filtros nos números musicais, tornando tudo vermelho ou azul.
Fernando Santos, no papel da protagonista Tonia, defende com garra o difícil personagem. O elenco de apoio também é interessante, com destaque para Alexander David, no papel de Rosario. A fotografia é escura em vários momentos, mas de uma forma geral é interessante. As músicas fogem do estereótipo de shows de drag queens, com exceção de um número de dublagem onde a atriz dubla " Total eclipse of the heart", um ícone gay. No mais, são fados tradicionais.
O filme é longo, quase 130 minutos. Tivesse pelo menos 30 minutos a menos, seria muuto mais interessante. O roteiro é curioso, mas lá pela meio, perde seu rumo, numa viagem que Rosario e Tonia fazem até a casa do irmão de Rosário. os dois se perdem e vão parar na casa de uma travesti. As cenas que se seguem tentam dar um clima mágico de fábula, mas me pareceu uma tentativa frustrada. Não combinou com o restante do filme.

Nota: 7


Presos no gelo 3


" Cold prey 3/Frit Vilt 3", de Mikkel Braene Sandemose (2010)

Suspense norueguês, realizado pelos mesmos produtores dos filmes anteriores, que fizeram muito sucesso em circuito mundial.
Essa terceira parte é na verdade um " prequel", um prólogo do que teria acontecido com o garoto de 12 anos que sumiu do hotel comandado por seus pais, em uma região gélida nas montanhas. Para quem assistiu os filmes anteriores, sabemos que o garoto se transformou, 30 anos depois, no assassino do gelo. Um serial killer que sai matando quem invade as dependências do hotel hoje abandonado.
Aqui, um grupo de jovens, no ano de 88, resolve fazer uma viagem até o hotel abandonado. Chegando lá, eles desistem de ficar nas dependências do hotel, e resolvem acampar na floresta próxima. O que eles não esperavam é que o assassino ronda o local, e resolve matar um por um dos 6 amigos.
O filme tem um bom clima de suspense, a ambientação é bem aterrorizante. Mas o acúmulo de clichês tira a novidade da história. Um arremedo de " sexta-feira 13" com outros filmes do gênero. Sim, a indefectível camera do ponto de vista do assassino, os sustos fáceis, o carro que não pega, as pessoas que tropeçam ao correr, tudo está lá.
O problema de se fazer um prólogo de um filme que já virou um franchising, é que sabemos de antemão que ninguém irá sobreviver.
O roteiro irrita pelas implausibilidades. E a medida que o filme avança, irrita ainda mais. Uma pena, pois o filme até cria um suspense digno.
Vale como curiosidade de se ver um filme do Leste europeu, que copia o jeito americano de se fazer filmes de terror.

Nota: 6

Restrepo


" Restrepo", de Tim Hetherington e Sebastian Junger (2010)

Filme vencedor do prêmio de melhor documentário em Sundance 2010, e indicado ao Oscar da Categoria em 2011.
Tim Hetherington é fotógrafo, e venceu um prêmio da World press com a foto de um soldado americano em Restrepo, no Vale do Korangal, Afeganistão. Sebastian é roteirista, e escreveu o roteiro do filme " Mar em fúria". Juntos, acompanharam 15 meses na vida de um pelotão americano (segundo pelotão) na base de Korangal , um vale situado naquela que é considerada a região mais perigosa do Afeganistão, por ser uma área estretégica para os Talibãs.
O slogan do filme é " Um pelotão, um Vale, um ano". O filme registra desde o momento de chegada dos soldados na região, o primeiro encontro com esse local inóspito, os ataques, as mortes dos companheiros, as frustrações, os sonhos e desejos.
O que mais impressiona no filme são as imagens, corajosas por registrarem tudo tão próximo, inclusive com risco de vida para os cinegrafistas. Ter essas imagens realistas causam um impacto profundo, e é fácil entender que esses soldados jamais voltarão a ser o que eram antes de ir para a guerra.
Os diretores não fazem aqui nenhum tratado sobre o tema, nem buscam culpados ou vítimas. Apenas acompanham, com um olhar distanciado, o drama de jovens soldados, muitos sem saber o que de fato foram fazer lá, e qual lugar iriam. Mostra também a arrogância de militares americanos na região, ao impor a construção de uma estrada na região, nem que para isso, eles tenham que negociar com moradores do local, muitos feridos pela guerra. Em uma cena, anciãos querem indenização pela morte de uma vaca, causada pelos soldados. Os militares dizem não ser possível restituir o prejuízo com dinheiro,e sim, com bens. Pegar ou largar.
Um filme que não acrescenta muito ao tema, visto que ultimamente tivemos muitos exemplos de documentários que tratam do mesmo assunto: soldados ingenuamente seguem para uma guerra que eles mesmos não sabem o porquê estão lá, e a descoberta tardia que fizeram uma escolha errada em suas vidas. Vide o recente " Armadillo", filme dinamarquês que também documenta o dia a dia de soldados na região.
De qualquer forma, o filme exala tensão, e é sempre comovente acompanhar o trauma de soldados, que precisam lidar com a constante presença da morte em suas vidas.
O filme foi co-produzido pela CNN e pela National Geographic Channel. O nome " Restrepo" é uma homenagem que os soldados fizeram, a um dos colegas, mortos na primeira investida na região. Eles batizaram o posto americano no Vale com o seu nome, e ficou ativo de 2007 a 2009.

Nota: 7



sexta-feira, 4 de março de 2011

I´m still here : O ano perdido de Joaquin Phoenix


" I´m still here" , de Casey Aflleck (2010)

Documentário que faz o registro de quase 1 ano na vida do ator Joaquin Phoenix, desde o anúncio que ele fez em um evento de caridade, revelando que jamais trabalharia como ator outra vez. Seu último filme até então foi " Amantes", com Gwyneth Paltrow. Seu cunhado, o ator Casey Affleck, faz então um portrait de Phoenix, e seu caminho para se tornar um cantor de rap, que é o seu desejo.
O filme começa com imagens de Phoenix no Panamá, cidade onde seus pais missionários moram. Ao todo, o casal possui 5 filhos, entre eles, o também ator River Phoenix, falecido por motivos de overdose. Joaquin começa a adquirir uma imagem desleixada, descuidando de seu corpo e higiene pessoal. Fica barbudo, cabeludo e uma aparência auto-destrutiva. Acompanhamos as constantes brigas com os seus 2 assistentes pessoais, as bebedeiras, uso de drogas (cocaína) e orgias com prostitutas. Tudo registrado sem pudor. Mostra também a sua relação com o rapper Puff Daddy, e outros do Gênero. O filme também mostra na íntegra a famosa entrevista que ele deu para o apresentador David Letterman. Na entrevista, Phoenix se mostrava apático, chapado e grudou chiclete na mesa. Após esse evento, no qual ele declarou publicamente não querer mais trabalhar como ator, Phoenix virou motivo de chacotas.
O documentário é interessante, apesar de longo. Phoenix se expõe na íntegra, sem censura. Porém, o que se diz por aí é que esse é na verdade um " mockmentary" (falso documentário), tendo tudo devidamente planejado. Seria na verdade uma brincadeira de ego, mais um personagem na vida do ator. Vendo o filme, podemos perceber claramente muitas armações, principalmente no que diz respeito a um de seus assistentes. Phoenix parece brincar o tempo todo diante das câmeras, que não cansam de registrar momentos escatológicos.
Uma curiosidade para quem curte acompanhar o dia a dia de celebridades excêntricas. Exibido no Festival de Veneza de 2010, o filme gerou controvérsias e expeculações sobre sua autenticidade.

Nota: 7

Desconhecido


" Unknown", de Jaume Collet-Serra (2011)

Thriller de ação, estrelado pelo ator irlandês Lian Neeson, que se revelou herói dos filmes de aventura após suas investidas bem sucedidas em " Busca implacável" e " Esquadrão Classe A".
Aqui, Lian interpreta Dr Martin Harris, renomado biólogo que vai até Berlin com sua esposa para uma conferência de bio-tecnologia, patrocinado por um príncipe árabe. No caminho até o hotel, Martin sofre um acidente de táxi e perde parcialmente a memória. Ao reencontrar sua esposa, descobre que ela não se lembra dele, e que ele tem outro em seu lugar. Sem entender o que está acontecendo, Martin é ajudado pela taxista que estava dirigindo na hora de seu acidente. Porém, assassinos profissionais estão em seu encalço, sem que ele saiba o porquê.
Movimentado suspense, com um bom roteiro, porém cheio de furos. Muitas facilidades no desenrolar da trama para ajudar o desmemoriado. Sabe aquela situação que acontece do nada, somente para que a história ande? Por ex, a enfermeira que o ajuda do nada. A personagem de Diana Krueger também é incoerente:como uma imigrante ilegal vai ajudar um cara que ela nunca viu na vida, correndo o risco de ser presa pela polícia? De qualquer forma, o seu personagem é ótimo, a típica parceira que surge do nada para ajudar o herói, e que se revela boa na briga.
Lian Nesson está ótimo, e curioso como sua carreira mudou de tom. Agora ele é astro de filmes de ação, contrariando o seu tipo mais sério que fazia desde os anos 80.
Bruno Ganz e Frank Langela fazem participações de luxo, dando charme a produção.
Sim, o filme remete a muitos outros filmes: " Identidade Bourne", " O Vingador do futuro", " Busca frenética".... O Cineasta Jaume Collet-Serra ( que dirigiu " A Órfã" e " A casa de cera") acerta no tom escapista da trama, com muitas cenas de ação , apesar de sua trama ser rocambolesca demais.
Um filme passatempo, que agradará se for assistida sem compromissos.

Nota: 8


Shocking Blue


" Shocking Blue", de Mark de Cloe (2010)

Drama holandês, centrado na vida de 3 amigos adolescentes inseparáveis: Willian, Cris e Jack. Os três passam o dia fazendo brincadeiras, se divertindo da melhor forma possível, e fortalecendo cada vez mais a união que existe entre eles. Um dia, Jack conhece uma jovem, Manou, por quem se apaixona. Numa festa, eles transam. Willian presencia a transa, e desenvolve em si um sentimento que até então desconhecia. No dia seguinte, numa brincadeira entre os 3 amigos, que estão em um trator, Jack se desequilibra e é esmagado pela roda. A partir desse momento, Willian se rompe para o mundo: acaba sua amizade com Chris, e passa seus dias enjaulado em sua estufa, aonde ele cria tulipas azuis. Até que um dia, reencontra Manou, e ambos se descobrem apaixonados. Manou está grávida de Jack, e Willian resolve assumir a paternidade da criança.
Belíssimo filme, que narra as crises da adolescência de forma poética e romantizada. Os jovens atores são excelentes, atuando de forma naturalista, sem forçar em expressões. O filme transpira jovialidade e beleza. As locações, centradas em uma cidade de plantações de flores, são estonteantes. As tomadas dos campos floridos, tomados por tulipas de todas as cores, são mágicas. A fotografia do filme é estupidamente bela. A trilha sonora, a cargo de canções de Lawrence Horne, são melancólicas, e casam perfeitamente com as imagens.
O roteiro tem falhas na narrativa, e alguns personagens são pouco delineados. Os clichês familiares estão presentes ( a mãe de William saiu de casa, em busca de sexo fácil, e sua irmã namora seu melhor amigo). A personagem de Manou também é pouco explorado,e é estranho que ela não tenha muitos laços familiares, estando livre e desimpedida para qualquer circunstância da vida. Mas de uma forma geral, a ambientação do filme é tão nostálgica e contagiante, que nos deixamos levar pela narrativa lenta, e de imagens hipnotizantes.

Nota: 8