sábado, 30 de novembro de 2019

Freaks

"Freaks", de Zach Lipovsky e Adam B. Stein (2018) Premiado em diversos Festivais de cinema de gênero, "Freaks" é uma produção independente de ficção científica e filme de super heróis, que mistura 'Superman", "X-men", "Fúria", de Brian de Palma, "Cloverfield" e "Chamas da vingança", com Drew Barrymore. Com tantas referências, "Freaks" parece ser uma salada. E é. Mas deve ser dado o desconto de que é um filme independente e de baixo orçamento, e por isso mesmo, o filme surpreende em suas ambições. Emily Hirsch interpreta o pai de Chloe (Lexy Kolker, excelente), uma menina de 7 anos que nunca saiu de casa. O pai diz à menina que existem regras e serem tomadas para que ambos não morram. No entanto, Chloe se sente atraída por uma carrocinha de sorvetes, administrada por Mr Snowcone (Bruce Dern). O filme tem um roteiro surpreendente que a todo momento oferece plot twist ao espectador. Quais as reais intenções dos personagens? Quem é o mocinho e quem é o vilão? O filme pode frustrar quem busca filmes de ação. Aqui tem, e bastante, mas em outro ritmo. Mas vale assistir a esse filme por conta das boas atuações do elenco e por oferecer mais do que as explosões intermináveis em blockbusters como os da Marvel. e também é sempre bom rever o talento de Emily Hirsch, um ótimo ator que anda esquecido por Hollywood.

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Beat é Protesto - O Funk pela Ótica Feminina

"Beat é Protesto - O Funk pela Ótica Feminina", de Mayara Effe (2019) Importante documentário realizado por uma equipe 100% de mulheres, apresenta depoimentos de funkeiras famosas e do underground brasileiro. O filme discute o papel da mulher no gênero Funk, procurando dissociar o discurso da objetificação do corpo feminino e trazer esse tema para "Meu corpo, minhas regras". O filme apresenta artistas cisgêneras e trans, como Pablo Vittar, Liin da quebrada, Renata Prado, Rubia Mara, Fatinossa, Mac keron, entre outras ativistas do movimento musical. O filme começa com uma cartela anunciando "Marielle Franco presente!", deixando claro o posicionamento político e social do projeto. Algumas frases ditas no filme: - "A mulher quando entra no Funk, ela está disposta a enfrentar o mundo." - "O funk é machista, mesmo a mulher sendo a cantora, o homem vai se reportar ao assistente dela, a desautorizando" - "Funk é manifesto, interessa a varias áreas. O mundo só olhou para o funk quando viram os números. Funk movimenta 10 milhões por ano só no Rio. - "Uma forma de dar voz a quem está procurando voz" -" Corpo é apenas corpo, depende de como vc o esta mostrando. Corpo é arte, é protesto, depende do sentido que vc dá a ele" - "Todas as mulheres funkeiras que conheço são empoderadas e sabem se colocar" - "Do mesmo jeito que estou no baile rebolando, estou na faculdade discutindo política pública" - "Da mesma forma que sei rebolar, eu sei trabalhar, sei ler, estudo. É só uma habilidade corporal que eu tenho e outras pessoas não tem, essas mesmas pessoas tem habilidades que eu não tenho e tá tudo certo" - "A música tem a importância de incomodar" - "Funk é ou não cultura: tem que ultrapassar esse pensamento. Funk é arte." Um filme obrigatório para quem quer entender o que significa a presença feminina no Funk e de que forma o feminismo está totalmente envolvido na essência desse gênero, através de cantoras, Djs, produtoras e compositoras que se apropriam dele para serem ouvidas. Além dos depoimentos, o filme tem imagens incríveis dessas artistas no palco e em momentos de expressão artística, apresentando o corpo nú, como um protesto contra a manipulação de corpos perfeitos.

A camareira

"La camarista", de Lila Avilés (2018) Drama indicado pelo México à uma vaga ao Oscar de filme estrangeiro em 2020, "A camareira" é o filme de estréia da atriz Lila Avilés. O filme lembra bastante os excelentes dramas "A criada", filme chileno de Sebastian Silva, e "Roma", de Afonso Cuarón. Em todos os filmes, acompanhamos a rotina de uma empregada que cuida de afazeres domésticos, como se a vida dele fosse somente isso. Lava roupa, passa roupa, arruma cama, limpa banheiro, cata lixo. Todos os dias as mesmas funções na vida de Eve (Gabriela Cartol, extraordinária em seu minimalismo). Ela trabalha em um Hotel de luxo. De vez em quando, ela liga para o seu filho pequeno que ela não vê há tempos. O filme divide a rotina de Eve com hóspedes bizarros que surgem de vez em quando. Eve trabalha no 21o andar, e ela em 2 ambições na vida: ganhar um vestido vermelho que está há tempos no achados e perdidos, e ir trabalhar no 42o andar, dedicado a hóspedes vips. Filmado com bastante economia de planos e com um minimalismo de poucos diálogos, o olhar da diretora Lila Avilés é quase documental sobre a vida desses funcionários anônimos, que vivem para satisfazer seus hóspedes e que possuem poucas ambições na vida. O elenco é todo excelente, e a fotografia em tons acinzentado ajuda a trazer uma atmosfera sóbria, intensificada pela direção de arte, que circunda a protagonista de toalhas brancas o tempo todo. Um filme que não julga os seus personagens e sem um olhar apiedado sobre a classe operária. Imperdível.

Etruska Waters em: O Tombamento da Republiqueta

"Etruska Waters em: O Tombamento da Republiqueta", de Thiago Bezerra Benites (2018) Sensacional homenagem ao cinema marginal, "Etruska Waters em: O Tombamento da Republiqueta" é um trailer promovendo um suposto filme LGBTQI+, nos moldes do grindhouse, aqueles filmes B trash que eram exibidos em dobradinhas com outro filme principal. Usando a linguagem de clássicos como "O bandido da luz vermelha"e "Macunaíma", o filme conta a história da drag queen Etruska Waters, que teve sua mãe assassinada. Crescida, Etruska é raptada, mas logo depois retorna para se vingar. Os personagens são todos gays, e é uma diversão do inicio ao fim, com um roteiro tosco hilário, uma fotografia podre em preto e branco e uma narração que brinca com os programas radiofônicos dos anos 60.

Transamazônia

"Transamazônia", de Renata Taylor, Débora McDowell e Bea Morbach (2019) Documentário LGBTQI+ que apresenta a população trans que reside na Estrada Transamazônica. Inaugurada em 1972 durante a ditadura militar no Brasil, a idéia da estrada era ligar o Norte do Brasil ao Nordeste, unindo Cabedelo na Paraíba ao município de Lábrea, no Amazonas. O documentário é dirigido pelas ativistas: a trans Renata Taylor e Débora McDowell e Bea Morbach, acompanhando duas histórias protagonizadas por trans: Melissa é uma mãe de 21 anos, universitária, estudante de direito, e vive no sudeste paraense, na cidade de Marabá, Pará. Marcelly, 35, está desempregada e mora com a família no interior do Amazonas, na cidade de Lábrea. Marcelly faz bico como vendedora. Ambas fazem parte de um sonho nunca realizado pela Transamazônica, que era prometer emprego e desenvolvimento. O filme mostra a rotina dessas duas mulheres trans, às voltas com busca de emprego, baladas, ativismo político e luta contra a homofobia. O estilo narrativo do filme mistura documentário e uma parte que parece ficcionada. Como ambas não são atrizes, fica faltando a espontaneidade que elas apresentam quando nitidamente é documental. O filme apresenta um Brasil de terceiro mundo, pobre, totalmente afastado na vida cultural do restante do País. Mesmo assim, é curioso observar a presença da televisão na região: em uma cena, Marcelly discute com duas amigas trans a representação sobre o universo trans feito pela novela da Globo, 'A força do querer".

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

A rosa azul de Novalis

"A rosa azul de Novalis", de Rodrigo Carneiro e Gustavo Vinagre (2019) Confesso que sou um fã dos trabalhos do inquietante cineasta, ator e roteirista Gustavo Vinagre. Desde "Nova Dubai", não perco nenhum de seus trabalhos, que sempre têm como tema a sexualidade exposta de forma absolutamente pulsante e poderosa, seja através de imagens explícitas ou em diálogos acaloradamente eróticos e reveladores. Uma espécie de "Filosofia da alo cova", de Marques de Sade, o filme é composto de divagações da vida do ator paulistano Marcelo Diorio, protagonista do filme. Assim como em seu filme anterior, o delicioso e divertido 'Lembro mais dos corvos", com a atriz trans Julia Katherine fazendo revelações acerca de seu trabalho como atriz e abrindo sua alma para afalar de abusos sexuais, trabalho e amor ao cinema, dessa vez Marcelo Diorio revela suas atividades sexuais para o espectador. Como falar de um filme cuja primeira imagem é um close no ânus, e última imagem, é o mesmo Ânus ampliado por um alargador? Afinal, quem é o protagonista? O ânus ou Marcelo Diorio? Ou ambos? A rosa azul do título é o Ânus de Marcelo, que diz ter vivido vidas passadas, incluindo uma que conviveu com o poeta Novalis na Alemanha do Século XVII. Novalis fala da sua convivência com o vírus do HIV, sobre seus parceiros sexuais, detalhados com bastante intimidade e mais do que as declarações, ele se expõe em cenas de sexo explícito, fazendo sexo com um parceiro anônimo. Os diálogos, alternando vivências poéticas e exposições realistas, como a relação incestuosa com seu irmão, são descritas muito despojamento, alternando pornografia e erotismo, sem que isso seja algo censurável. Com imagens belamente captadas pela câmera, "A rosa azul de Novalis" participou de importantes Festivais de cinema, como Berlim, IndieLisboa e Tiradentes. É difícil indicar o filme, pois para poder assisti-lo é preciso ter um desprendimento em relação a tabus e fetiches. Mas quem or assistir, é certo de que nada será como antes.

Ascendente

"Ascendant", de Josh Zammit (2019) Em um futuro distópico, um homem obsessivamente observa uma pista abandonada, onde antes havia competição de corrida de cachorros. Ao se deparar com um cão abandonado, ele resolve treiná-lo para competir, mas logo descobre um terrível segredo. Premiado curta australiano, com supervisão de efeitos especiais do brasileiro Jonas Almeida, essa ficção científica tem excelente parte técnica: fotografia, direção de arte. Seu roteiro é aberto a várias interpretações, mas tem um tom absolutamente pessimista. O desfecho é bem melancólico e para amantes de animais, um soco no estômago. Link para assistir ao filme: https://vimeo.com/369761733?fbclid=IwAR2gz4rLipfOAvfys4yVCLd2me7TGM4cpL1Ce32J83CR0XZMwz12Y6YZ1M8

Uma mulher em guerra

"Kona fer í stríð ", de Benedikt Erlingsson (2018) Indicado pela Islândia a concorrer a uma vaga ao Oscar de filme estrangeiro em 2019, "Uma mulher em guerra" é um filme estranho, que mistura drama, humor negro e musical, muitas vezes quebrando a quarta parede e com um tom bufanesco que remete muito ao cinema do iuguslavo Emir Kusturika. A protagonista é Halla (Halldóra Geirharðsdóttir, excelente), uma professora de música aparentemente amável e dedicada aos seu alunos e suas aulas. Mas sem que ninguém saiba, ela é uma terrorista ativista ecológica: ela sabota uma fábrica de alumínio, cortando energia elétrica e outras loucuras. Ao mesmo tempo, Halla , que é solteira, deseja adotar uma criança. Alternando momentos de agressividade com carinho, Halla é uma mulher em busca de um futuro possível para si mesma. Com uma criativa direção, o filme tem uma espécie de coro grego, que são um trio de músicos e um coro de cantoras eslavas que surgem em momentos inusitados do filme, fazendo trilha de pano de fundo, mas sem interferir no drama da protagonista. Corajoso, o cineasta e roteirista Benedikt Erlingsson aposta em uma salada de referências e de linguagens que tinha tudo para dar errado em outras mãos, mas que aqui funciona deliciosamente.

Meu nome é Dolomite

"Dolomite is my name", de Craig Brewer (2019) O Cineasta Craig Brewer tem em seu currículo a refilmagem esquecível de "Footloose"e também a direção de algumas séries, entre elas, "Empire". Mas ele será lembrado como o cineasta que ressuscitou a carreira de Eddie Murphy, em uma de suas melhores performances, interpretando o ator Rudy Ray Moore, um dos expoentes do movimento "Blackexploitation" dos anos 70. Através de seu icônico personagem, Dolomite, uma espécie de cópia barata e cômica de Shaft, Dolomite significa tudo aquilo que os americanos adoram: uma pessoa comum que acredita em si próprio e banca os seus sonhos. Nos anos 70, Rudy Ray Moore era um vendedor de uma loja de discos que sonhava em ser um cantor famoso. Ele também era o apresentador de uma casa de show voltada para o público negro. Sem sucesso, ele resolve criar uma persona, Dolomite, que fala palavrões e traz expressões da comunidade negra em seus shows stand ups, repletos de pornografia e vulgaridades. O Sucesso é imediato. Dolomite resolve gravar por conta própria alguns discos, e os vende de forma caseira, diante da recusa dos estúdios em lançarem. De novo o sucesso vem através do boca a boca. Rudy ambiciona então aquilo que ele mais queria: produzir um filme com Dolomite protagonizando. Com recursos próprios, ele convoca estudantes de cinema para a equipe, amigos e uma trupe fiel. Aos trancos e barrancos, o filme é lançado de forma independente em uma única sala de cinema à meia noite. o sucesso é estrondoso. A dimension Films resolve comprar o filme, e no ano de 1975, "Meu nome é Dolomite" é um dos grandes sucessos comerciais, faturando mais de 10 milhões de dólares. Dolomite faria mais 7 filmes, todos com muito sucesso. Com uma ótima direção de Craig Brewer, uma trilha sonora espertíssima repleta de pops da época e muito groove, o filme seduz com seu charmes pop e vintage. O elenco é um dos grandes trunfos do filme: além de Eddue Murphy, que está antológico, todo o elenco de apoio está incrível. As caracterizações são divertidas na breguice e nos exageros. Para quem curte o universo dos bastidores de realização de filmes, "Dolomite" vai reservar muitas piadas boas. É impossível não rir durante pelo menos metade do filme. Irresistível, faz lembrar outro grande filme, "O Artista do desastre", também uma homenagem a um cineasta que realizou um dos filmes mais cultuados da história", Tommy Wiseau e seu "The room", considerado um dos piores filmes do mundo, e por isso mesmo, um clássico.

terça-feira, 26 de novembro de 2019

As golpistas

"Hustlers", de Lorene Scafaria (2019) Incensado pela crítica mundial, "As golpistas" é um filme de mulheres emponderadas que botam os homens literalmente no chinelo. A atuação de Jennifer Lopez é uma unanimidade, muitos declarando ser a melhor atuação de sua carreira. A sino-americana Constance Wu, que interpretou a ingênua noiva no grande sucesso "Podres de rico", aqui interpreta uma stripper que luta para sobreviver. "As golpistas" foi escrito pela diretora Lorena Scafaria, realizadora do ótimo "procura-se um amigo para o fim do mundo", com Steve Carrel e Keira Knightley. A base do filme foi o artigo publicado na New York Magazine em 2015, matéria escrita pela jornalista Jessica Pressler intitulado "The hustlers at scores". No ano de 2007, Destiny (Constance Wu) trabalha em uma boite de strippers. Sem muito sucesso, ela fatura pouco e ainda tem que sustentar a casa onde mora com sua avó doente. Ela conhece Ramona (Jennifer Lopez), uma poderosa stripper que arrecada muito dinheiro. As duas se unem para formar uma imbatível dupla de strippers, depois que Ramona resolve ensinar seus segredos de sedução para Destiny. No entanto, com a crise financeira de 2008, os clientes ricos de Wall Street desapareceram. Ramona resolve aplicar um golpe para poder ganhar dinheiro: se junta à Destiny e outras duas meninas e droga alguns clientes poderosos em potencial, aplicando-lhes boa noite Cinderela e roubando seus cartões. O filme, como não poderia deixar de ser, torna as mulheres como anti-heroínas, mesmo elas aplicando golpes para roubar os clientes. Isso porquê os homens são apresentados como assediadores, bobos, ridículos e escrotos, o que faz com que o público sinta simpatia pelas meninas. O elenco feminino todo é excelente, e ainda tem uma participação de Cardi B, famosa cantora, como uma desbocada stripper. O filme tem trilha sonora pop, fotografia bastante colorida e um figurino e maquiagem exuberantes transformando as meninas em poderosas iscas para homens.

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Três homens em conflito

"The good, the bad and the ugly", de Sergio Leone (1966) Presença obrigatória em qualquer lista de melhores filmes de todos os tempos, "Três homens em conflito" fecha a trilogia dos dólares de Sergio Leone, composto por "Por um punhado de dólares", "Por uns dólares a mais" e "três homens em conflito". Todos os 3 filmes têm Clint Eastwood como protagonista, com o codinome de "O homem sem nome", criando o arquétipo do homem misterioso que surge sem qualquer referência de sue passado. Quentin Tarantino considera o filme como “O melhor filme dirigido de todos os tempos” e “a maior conquista da história do cinema”. Não à toa, Tarantino homenageia o filme em vários de seus filmes, inclusive usando trechos da trilha sonora de Ennio Morricone. Ambientado em 1862, durante a Guerra Civil americana, dividida entre soldados da União e Confederados, a trama acompanha três foras da lei: Blondie/The good (Clint Eastwood), Tuco/The ugly (Eli Wallach) e Angel eye's/The bad (Lee Van Cleef). Todos estão em busca de 200 mil dólares enterrados por um soldado em algum lugar específico. Durante o filme, o trio participa de tramas individuais envolvendo os soldados de ambos os lados e outros foras da lei. O filme é repleto de cenas antológicas, e é impossível numerá-las, mas não poderia deixar de citar a sequência final, no cemitério Sad Hill: a cena dos 3 em duelo, em quase 3 minutos de cena, sem diálogos, é uma aula de cinema. Com uma direção absolutamente extraordinária, um roteiro que esbanja humor, ironia e muita tensão,fotografia do companheiro de vários filmes Tonino Delli Colli (também da obra-prima "Era uma vez na América"), sem falar na maquiagem, direção de arte e claro, nas atuações desses 3 incríveis atores protagonistas, cujos closes sem falas, apenas nos olhares, já dão show em muitos atores. Sergio Leone é Mestre em filmar cenas sem falas, apenas em respiração e olhares, infelizmente um hábito cada vez mais raro nos filmes. Mas nada disso teria muito efeito sem a poderosa, primorosa e grandiloquente trilha sonora de Ennio Morricone, que já nos primeiros segundos já toca o seu inesquecível acorde com assovios. Idem digno de nota, os geniais créditos e letreiros do filme, que vão surgindo durante a narrativa. Com 3 horas de duração, o filme é um épico obrigatório para qualquer cinéfilo, estudante de cinema ou estudioso.

domingo, 24 de novembro de 2019

Alaska é uma Drag

"Alaska é uma Drag", de Shaz Bennett. Drama LGBTQI+ independente americano escrito e dirigido pela cineasta Shaz Bennett, participou de dezenas de Festivais mundo afora. O filme foi todo rodado no Alaska e tem como protagonista Leo, um jovem negro assumido e que trabalha em uma peixaria. Seu sonho é ser uma estrela Drag, mas antes, Leo precisa enfrentar a homofobia em seu trabalho, com colegas de trabalho que constantemente batem nele. Declan começa a trabalhar na peixaria e passa a defender Leo, que não quer que ninguém o defenda. Dirigido com bastante sensibilidade por Shaz Bennet, o filme, apesar do tema espinhoso, lida com a rotina de Leo alternando humor e fantasia. Os atores são ótimos, em particular, Martin L. Washington Jr., no difícil papel de Leo. As cenas do sonho de Leo como cantora no cabaret são bem divertidas. O roteiro peca exagerando na figura do rapaz homofóbico: não se explica o porquê da obsessão dele em querer bater em Leo o tempo todo, e nem o porquê do patrão de Leo, um senhor negro, não o defende.

We

"We", de Rene Eller (2018) Adaptação do polêmico livro de Elvis Peeters, 'We" é um aterrorizante drama sobre 8 adolescentes cruéis que moram na divisa da Holanda e Belgica. Lembram de "Kids"e "Ken Park", de Larry Clark? Pois esse filme consegue ser mais chocante, com cenas brutais de estupros, violência contra animais, abusos sexuais e muitas cenas reais de sexo explícito envolvendo um elenco adolescente. Vencedor de diversos prêmios internacionais, e exibido no prestigiado Rotterdam, "We" é daqueles filmes que você pensará 3 vezes antes de indicar para alguém assistir, devido ao teor altamente provocador e radical de seu roteiro. 8 amigos adolescentes, 4 rapazes e 4 garotas, decidem combater o tédio de suas vidas promovendo orgias e jogos sexuais. Thomas, o mais rebelde, resolve se aproveitar das garotas e chantagear os políticos e homens mais velhos da cidade: ele obriga as meninas a se prostituírem para arrecadar dinheiro e acaba gravando as cenas de sexo para que depois possa cobrar dinheiro dos clientes. Mas algumas tragédias irão surgir e fazendo com que a vida dos jovens se altere para sempre. O filme é dividido em 4 capítulos, cada um com um personagem narrando o fato ocorrido em determinada noite, onde uma grande tragédia acontece. O filme começa com os adolescentes no tribunal dando depoimentos. Á Medida que os depoimentos vão surgindo, os mesmos fatos vão se tornando mais violentos e reveladores. Com ótima atuação dos jovens atores, que se colocaram em performances viscerais envolvendo cenas reais de sexo, "We" me deixou irritado, principalmente no desfecho. O filme faz um ode ao mau caratismo, e nesse mundo onde os espertos se dão bem, não existe punição.

Medo profundo: segundo ataque

"47 meters down- uncaged", de Johannes Roberts (2019) Juro que eu adoraria ler alguma resenha que falasse sobre a obsessão dos roteiristas e cineastas em fazer filmes de sobrevivência tendo mulheres como protagonistas. Deve haver alguma pesquisa que diz que os espectadores adoram ver as mulheres sofrendo, gritando e lutando pela vida. Claro, as menos inteligentes, as que provocam bullying, as temperamentais, são sempre as primeiras que morrem, e as tímidas e sofredoras geralmente são as heroínas. essa é a cartilha do terror, e por décadas, raramente mudou a fórmula. Recentemente, tivemos o terror com crocodilos "Predadores assassinos", um excelente exemplar de como utilizar todos os clichês e ainda assim, trazer elementos novos para a trama. O primeiro "Medo profundo"data de 2017, e com o sue tremendo sucesso comercial, era inevitável uma continuação. Ela veio 2 anos depois, com o título de uncaged", no original. Explica-se: no filme anterior, 2 irmãs ficavam enjauladas o filme inteiro, tentando evitar serem devoradas por um enorme tubarão branco. Agora, em "Segundo ataque", outras 2 irmãs são atacadas em uma caverna subterrânea, junto de duas outras amigas de uma das irmãs. Claro, a irmã mais nova sofre bullying. A outra, mais velha, é emponderada. Mas diferente do filem original, que reservava um ótimo plot twist, a segunda parte aposta nas cenas de ação e muita carne fresca servida aos tubarões, que agora são dois, e cegos. Ambientada em um resort o México, o filme tem um elenco predominantemente feminino, enquanto aos homens são reservados os papéis de bobos da corte. O filme reserva alguns sustos e boas cenas de perseguição. Mas o melhor fica pro final, em uma cena épica. O roteirista , claro, adora fazer as personagens sofrerem. Se vier uma terceira parte, adoraria que fosse somente com homens. Queria ver os rapazes gritando a cada ataque. Os efeitos dos tubarões deixam um pouco a desejar, mas as tomadas submarinas são ótimas. Quando ao diretor, o cineasta inglês Johannes Roberts, continuo achando "Adolescentes em fúria", de 2010, seu melhor trabalho, mostrando estudantes querendo assassinar seus professores na escola da periferia de Londres.

A maratona de Brittany

“Brittany runs a marathon”, de Paul Downs Collaizo (2019) Grande vencedor do prêmio do público no Festival de Sundance 2019, “A maratona de Brittany” é uma comédia dramática ambientada em Nova York e tem losers como seus protagonistas, nos moldes de “A pequena Miss Sunshine”. Brittany ( Jullian Bell, comovente) é uma mulher no alto dos seus 30 anos com baixa auto estima: acima do peso, com sub- emprego e cujo médico lhe diz que deve emagrecer, para evitar de correr riscos para alguém de sua idade. Brittany resolve então participar da Maratona de Nova York, sem nunca ter feito exercícios. Sua colega de apartamento, a exuberante Gretchen, a faz se sentir cada vez pior. Com a maratona, Brittany faz novas amizades. Mas Brittany desconfia das reais intenções dessas pessoas, achando que estão querendo ajudá-la por pena. Com um elenco divertido e ao mesmo tempo emocionante em cenas que alternam emoções, o filme seduz o espectador por trazer problemas reais na vida desses personagens desajeitados. Nova York é apresentada como uma cidade de oportunidades mas também de grandes desafios, onde somente quem tem sonhos parece conseguir algo. O cineasta Paul Downs Collaizo faz uma linda estreia em longa, com grande sensibilidade ao lidar com temas complexos como auto estima e desemprego sem constranger seus personagens e dando a todos eles carisma suficiente para nos apaixonarmos por eles. Jullian Bell merece ganhar prêmios por protagonizar essa Davila dramática que evita o tradicional happy end.

sábado, 23 de novembro de 2019

Ford vs Ferrari

“Ford vs Ferrari”, de James Mangold (2019) Brilhante reconstituição sobre a amizade entre o projetista de carros esportivos e piloto americano Shelby Collman (Matt Damon) e o engenheiro e piloto inglês Ken Miles (Christian Bale) que apresenta a década de 60 no período da clássica corrida de Les Mans, que durava 24 horas e desafiava as condições físicas e psicológicas dos pilotos. O filme apresenta também a rivalidade entre a Ferrari, até então detentora de várias vitórias na corrida, e a Ford, que resolveu apostar as suas fichas em Les Mans e assim poder modernizar a sua imagem comercial perante o público consumidor. O filme mostra as diferenças de personalidade entre Shelby e Ken, além de apresentar a vida pessoal de Ken, através de sua esposa e seu filho, interpretados espetacularmente por Caitriona Balfe e por Noah Jupe, que curiosamente, j havia interpretado o filho de Matt Damon em “Suburbicon”. Assim como “Rush- no limite da emoção”, de Ron Howard, que mostrava a rivalidade entre John Hunt e Nick Lauda, “Ford vs Ferrari” aposta no quesito humano dos personagens mais do que nas máquinas que pilotam e é esse seu grande acerto. O elenco em peso, sem exceção, está extraordinário. Claro que Christian Bale tem mais destaque por conta de seu personagem complexo, mas de verdade não tem nenhuma participação que não esteja no mínimo excelente. Todo o quesito técnico é primoroso: direção de James Mangold, de “Logan” e “ Garota interrompida”, a fotografia, edição, trilha sonora, direção de arte, efeitos, maquiagem. O filme emociona e no final é impossível não chorar. Imperdível!

A tabacaria

"Der trafikant”, de Nikolaus Leytner (2018) Drama austríaco/alemão baseado no best-seller de Robert Seethaler, foi um dos últimos trabalhos de Bruno Ganz, que aqui interpreta Sigmund Freud. O filme se passa em Viena de 1938, antes do início da 2a guerra e durante a ascensão do nazismo. Franz é um jovem do interior que é enviado pela sua mãe para Viena para trabalhar em uma tabacaria. O dono, Otto, é um ex-combatente da 1a guerra e perdeu uma perna. Simpatizante do comunismo e dos judeus, ele é hostilizado pelos vizinhos. Franz se apaixona por uma prostituta e se torna amigo de Freud, que é cliente da tabacaria. Drama convencional de ritmo bem lento, vale pelo trabalho de Bruno Ganz, em papel menor, e do jovem Simin Morzé, no papel de Franz. O filme insere sonhos de Franz que teoricamente deveriam ter sido analisados por Freud, mas isso não acontece.

O pintassilgo

"The goldfinch”, de John Crowley (2019) Adaptação do best-seller de Donna Tartt, vencedor do Prêmio Pullitzer em 2013, ele será eternamente conhecido como um dos maiores fracassos comerciais da história de Hollywood. Ao custo de 45 milhões de dólares, o filme não chegou a arrecadar nem 10 milhões ao redor do mundo. John Crowley dirigiu o drama “Brooklyn” e alguns episódios de “True detective”. Protagonizado por estrelas como Ansel Egort, Nicole Kidman, Luke Wilson, Finn Wolfhard e Jeffrey Wright, o filme narra o drama de Theo, um menino de 13 anos que sobreviveu a um ataque terrorista no Metropolitan Art Museum de NY. Sua mãe morreu no atentado, e ao sair do local, Theo rouba uma famosa obra, “O pintassilgo”. Adotado por uma rica família, cuja matriarca, Mrs Barbour (Kidman) o faz criar gosto pelas Artes e cultura. Um dia, no entanto, o pai alcoólatra de Theo (Luke Wilson) surge do nada e decide levá-lo para morar com ele em Las Vegas. Theo fica amigo de Boris (Wolfhard), que lhe apresenta as drogas e álcool. Novos fatos acontecem e determinam o rumo na vida de Theo. Com 150 minutos de duração, o filme apresenta muitos personagens e muitos Sub plots. A trama é arrastada, meio sem Pé nem cabeça, misturando muitos assuntos: violência doméstica, atentado, máfia, bullying. Os atores fazem o que podem, mas são apresentados sem qualquer empatia ou carisma. A fotografia de Roger Deakins valoriza locações em Arnsterdam, Las Vegas e Nova York, mas é pouco para segurar a atenção do espectador.

Desanimado

"Desanimado", de Emilio Martí López (2011) Super premiada animação LGBTQI+ espanholas, que mistura live action e um personagem em animação. O protagonista é um cartoon que se sente deslocado em um mundo onde vivem pessoas reais, inclusive sua família. Ele vai para um psicólogo e relata a sua vida cercada de preconceitos, de pessoas que praticam bullying contra ele somente por ele ser diferente. Divertido e criativo, "Desanimado" tem como sub-texto a homofobia, fazendo um paralelo entre um ser "animado" e o fato dele ser gay. O filme foi desenvolvido por Emilio Martí López quando ele era aluno na Universidade Politécnica, e durante a matéria de Criação artística, ele desenvolveu a história junto de seu professor. O resultado é uma deliciosa comédia no estilo Woody Allen, com o protagonista falando rápido, repleto de neuras com um universo meio "Roger Rabbit".

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

A Dama e o Vagabundo

"Lady and the Tramp", de Charlie Bean (2019) Nessa nova leva de remakes live action de clássicos Disney, não poderia faltar "A dama e o Vagabundo", animação de 1955. Infelizmente, essa versão dirigida por Charlie Bean, da animação "Lego Ninjago" é das adaptações mais fracas. Ambientado em New Orleans do início do Século XX, o filme acompanha o jovem casal Jim e Darling. Jim presenteia Darling com a filhote chamada de Lady. Quando Darling engravida e dá à luz, Lady salva o bebê do ataque de um rato, mas o casal acha que ela ameaçou a criança. Lady acaba fugindo para a rua e conhece Vagabundo, um cão vira-lata que a apresenta ao mundo das ruas. O filme procura ser bastante fiel ao original. Algumas pequenas alterações, como a mudança de gênero de um dos cachorros, não fazem muita diferença para quem assiste. O que me incomodou foi a total falta de magia do filme. Diferente da versão live action de "O Rei Leão", que muita gente reclamou, mas eu particularmente adorei, "A Dama e o Vagabundo" falha nos efeitos especiais. As bocas dos cachorros reais se mexendo para falar ficou bastante falso, e os gatos também não são muito críveis. De bom mesmo, a cena do casal comendo macarronada ao som do cozinheiro do restaurante continua divertida. Pena que o restante do filme não manteve o brilho dessa cena. F Murray Abraham interpreta o cozinheiro e está excelente.

Cadê você, Bernadete?

"Where'd you Bernadette?", de Richard Linklater (2019) O que dizer de um filme que faz você dizer que gostou dele só porquê toca "Time after time", da Cindy Lauper? Confesso que tentei gostar do filme, mas fiquei no meio do caminho. A história de Bernadette, interpretada pela talentosa Cate Blanchett poderia ter rendido um filme tão comovente e divertido como "A vida secreta de Walter Mitty", de Ben Stiler. Mas infelizmente, o filme não provocou a mesma emoção ou carisma. Assim como Walter Mitty, a protagonista é uma pessoa solitária e frustrada com a vida. Casada com o tecnólogo Elgie (Billy Crudup), um workhaholick que vive para o trabalho, e mãe da esperta adolescente Bee (Emma Nelson, excelente), Bernadette é uma arquiteta que simplesmente se fechou para o mundo. Sofrendo de depressão e agorafobia, ela se mantém isolada dos vizinhos e amigos. Ela vive às turras com a vizinha Audrey (Kristen Wiig). Um dia, após ser procurada pelo FBI por ter trocado emails com um vigarista que invadiu a conta do casal, Bernadette desaparece. Seu marido e sua filha resolvem procurá-la e acabam descbrindo que ela foi para a Antartica. Co-escrito e dirigido por Richard Linklater, diretor da trilogia "Antes do amanhecer" e "Boyhood", "Cadê você , Bernadette" tem uma narrativa por vezes fria, e mesmo com o talento do elenco, que inclui participações como a de Lawrence Fishburne, não decola e nem emociona. Kirsten Wiig, excelente atriz, está pouco aproveitada aqui no filme, o que é uma pena. Alternando momentos de um humor refinado com o drama, o filme pode funcionar como passatempo descompromissado, mas fica um gostinho de que poderia ter investido mais na dramaturgia.

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Jonathan Agassi salvou minha vid

“Jonathan Agassi saved my life”, de Tomer Heymann (2019) Super premiado documentário sobre um dos maiores astros do cinema pornô mundial, Jonathan Agassi. O filme expõe corajosamente a vida íntima de Jonathan, fazendo severas críticas ao mundo do cinema pornográfico: Jonathan, por conta do constante uso de drogas durante as cenas d sexo ( drogas para ficar excitado, drogas para ficar acordado, etc) acabou se viciando em drogas pesadas. Durante os 10 anos de sua carreira artística, Jonathan se tornou um dos atores mais bem pagos, mas com o vício e o seu temperamento, o trabalho no pornô diminuiu ( em uma cena, ele diz que sue cachê foi reduzido porquê não conseguiu ejacular na cena). Para poder manter o seu custo de vida, Jonathan acabou se tornando escort, viajando pelos países para fazer sexo com clientes. O filme expõe a sua relação com a família: todos sabem que ele faz pornô. Sua mãe aceita, afinal é com esse dinheiro que ele sustenta a mãe e irmã em um pequeno apartamento em Tela Viv. Os irmãos e seu pai, que se divorciou da mãe de Agassi, Anna, rejeitam o trabalho de Jonathan. Em determinado momento, o pai de Jonathan revela que se divorciou porquê Anna contraiu depressão pós parto e que ela não queria que Jonathan tivesse nascido, pois desejava uma filha. Essa informação é logo desmentida pela mãe. Nascido em Nova York, Jonathan possuía apartamento em Berlin e em Tela Viv, onde fica na casa de sua mãe. Nascido Yonatan Langer, construiu sua carreia artistica como ator pornô em 2009, quando foi convidado a fazer o filme “Men of Israel”, que se tornou imediatamente o maior sucesso do cinema pornô, alavancando a carreira de Jonathan. Ativo e passivo, ele não se descreve como feminino, mesmo quando se veste com lingeries femininas. Cenas familiares se misturam a cenas de filmagens, sessões de foto e depoimentos reveladores sobre a sua solidão e o pensamento de que deveria morrer jovem para poder se tornar uma Lenda, assim como Marylin Monroe, a quem ele se compara. O filme retrata o universo do pornô gay, dos shows de sexo ao vivo e do escort masculino de forma avassaladora. São comoventes os relatos de Jonathan, que acabou abandonando a vida de ator pornô em 2019. Atualmente, ele mora com sua mãe e trabalha em um supermercado, conjugando como ator de peças de teatro. A cena onde Jonathan é visto surtado após o uso de droga é muito triste, e fico imaginando a extrema dificuldade de uma pessoa aceitar as suas fraquezas e buscar ajuda. Outra cena que revela bastante o egocentrismo de Jonathan é quando ele está na premiação dos melhores atores pornôs e ele perde o troféu de melhor ator, após 2 anos sucessivos como vencedor. É o início de seu declínio. Fico imaginando um excelente monólogo teatral somente com o conteúdo do filme, seria um puta personagem para um ator.

Os dias particulares

"Los dias particulares", de Chucho E. Quintero (2019) O roteirista e cineasta mexicano Chucho E. Quintero já ganhou diversos prêmios pelos seus filmes LGBTQI+ produzidos de forma independente. Seu melhor trabalho até agora se chama "Velociraptor", sobre 2 amigos de escola que, no dia anterior ao fim do mundo, resolvem assumir a sua paixão um pelo outro, apesar de um deles ser hetero. Agora com "OS dias particulares", Chucho E. Quintero retorna ao tema da saída do armário entre os jovens. O roteiro é bem simples e bastante comum em diversas produções: um grupo de 8 amigos resolvem passar um último final de semana juntos, se hospedando em uma cabana isolada na floresta, onde não pega celular. A idéia é celebração, mas aos poucos, paixões proibidas e revelações do passado vão surgindo. Casal gay, casal lésbico, poliamor, tem de tudo nessa salada de gêneros sexuais de "Os dias particulares". Como roteiro, o filme não traz novidades , e ele é até realizado de forma bem amadora, com atores pouco carismáticos. O ritmo é arrastado e as cenas de sexo se desenvolvem sem paixão, tudo bastante burocrático.

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Um dia de chuva em Nova York

"A rainy day in New York", de Woody Allen (2018) A essa altura do campeonato, absolutamente todo fã de Woody Allen, e mesmo os seus detratores, já sabem que "Um dia de chuva em Nova York" corria o risco de jamais ser exibido, após as acusações de assédio contra Woody Allen, que provocaram o rompimento do contrato que ele tinha com a Amazon. O filme acabou sendo lançado no Brasil e em alguns países da Europa, mas é provável que jamais seja exibido nos Estados Unidos, até o presente momento. O que sempre me impressionou em seus filmes, é a capacidade de o elenco incorporar a persona de Woody Allen, seja em seus trejeitos, respiração, pausas dramáticas. Ellen Fanning e Thimoteé Chalamet são as personificações de Woody Allen. Ashleigh (Fanning) e Gatsby (Chalamet) são namorados. Ele de NY, ela de uma cidade do interior do Arizona. Ambos estudam em uma faculdade no Norte do Estado. Quando Ashleigh tem a oportunidade de entrevistar um famoso cineasta em Ny (Liev Schreiber), Gatsby resolve acompanhá-la e apresentar a cidade após a entrevista, em um passeio cultural que envolve museus, bares e restaurantes famosos. Mas Ashleigh se encanta com o cineasta, o roteirista (Jude Law) e um ator famoso (Diego Luna) e dá bolo em Gatsby, que acaba reencontrando por acaso a irmã de sua ex-namorada, Shannon (Selena Gomes). A partir daí, uma sucessão de encontros e desencontros selarão o destino dos namorados, em um dia chuvoso em NY. Woody Allen reafirma seu amor incondicional à NY, filmando em locações espetaculares, como o The MET, Carlyle e outros pontos icônicos da cidade. A fotografia de Vittorio Storaro é um presente, emoldurando a paixão dos adolescentes apaixonados por Cultura. Os diálogos, Selena Gomes são deliciosos. Pode não ser dos melhores trabalhos de Allen, mas é uma gostosura de se assistir, um bombom de referências do cinema de Woody Allen. Há quem diga que ele está se repetindo, etc, etc, etc. Ma sna boa? Foda-se! Viva Allen! Ellen Fanning, Thimoteé e Selena Gomes estão sensacionais, mas Cherry Jones, no papel da mãe de Gatby, rouba a cena em um monólogo maravilhoso.

domingo, 17 de novembro de 2019

Trabalho de Atriz, trabalho de Ator

"Trabalho de Actriz, trabalho de Actor", de João Canijo (2011) Documentário obrigatório para Atores que querem entender melhor o processo de descoberta da memória do personagem e vivência emotiva. Em 2011, o Cineasta português João Canijo lançou o premiadíssimo drama "Sangue do meu sangue", sobre uma família portuguesa que vive em um cortiço na periferia de Lisboa. Melhor do que esse filme, é o documentário realizado no mesmo ano, "Trabalho de Atriz, trabalho de ator". O documentário mostra todo o processo de realização do filme "Sangue do meu sangue", desde a concepção do roteiro, construído em conjunto com o elenco de 10 atores, até ensaios e filmagem. Tudo isso aconteceu durante 1 ano de imersão total dos atores e do diretor, que escreveu o roteiro junto dos atores. O filme é dividido em capítulos, desenvolvidos em ordem cronológica de concepção da obra. Estágio 1: Desenvolvimento do roteiro: os atores discutem com o Diretor possibilidades para o roteiro, através de situações e sinopse limitada. A importância do entendimento de dramaturgia e psicologia por parte dos atores, e a contribuição artística entre atores e Diretor. Uma atriz diz que foi-se o tempo do Ator chegar e dizer ao Diretor que fará o que for pedido. Hoje, o processo é outro, é coletivo, é de trocas. Estágio 2 - Investigação do personagem: quem são os personagens que os atores irão vivenciar"o que comem? No que trabalham? A importância da busca da sua história, um processo de pesquisa emocional Estágio 3 - o Ator em busca da memória e da rotina de seus personagens. Vivenciando o personagem nas locações reais. Laboratórios para melhor entendimento das profissões e do meio que os circunda. Estágio 4- iInício dos ensaios. Já com a história, roteiro e memórias dos personagens vivenciadas e descobertas, os atores passam a ser os personagens. Estágio 5 - Realizando a cena final: começando pelos ensaios, pelos improvisos, pela junção da técnica com o improviso, o ensaio nas locações reais e a filmagem com o figurino e a maquiagem. A vivência total. No último estágio, o filme narra o caso curioso de uma atriz que entrou de última hora para substituir uma das protagonistas e o conflito da atriz: como substituir alguém que vivenciou 1 ano do processo, e entrar em cena em menos de 1 semana mantendo a mesma energia e metodologia que a outra atriz vivenciou? Ao final do filme, é fato que o processo de realização de um projeto depende muito da química entre atores e diretor, e o quanto eles cedem e o quanto eles desejam se dedicar e se entregar aos personagens. Em uma cena visceral, uma mulher precisa fazer sexo oral implícito em um homem, e é impressionante o quão real parece ser a cena, que envolve humilhação e violência doméstica. Um filme fundamental para atores, roteiristas e técnicos.

A vida invisível

“A vida invisível”, de Karin Ainouz (2019) O cineasta cearense Karin Ainouz é realizador de um dos filmes que mais amo na vida, “O céu de Suely”. Quase 13 anos depois, ele lança um filme adaptado do romance “ A vida invisível de Euridice Gusmão”, de Martha Batalha, e acabou ganhando o prêmio de melhor filme na Mostra Um certo Olhar em Cannes 2019. Logo de cara me foi impossível não associar ao filme de Spielberg, “ A cor púrpura”. Ambos os filmes tem muitos pontos em comum: são filmes epistolares ( barrados em off por uma das protagonistas através da escrita de cartas), tem duas irmãs que são separadas por um homem brutal, mostram uma sociedade matriarcal onde a mulher só serve para parir e fazer atividades domésticas e servir de objeto sexual para seus maridos, é claro, todos os personagens masculinos são castradores, machistas e ridicularizados. Em comum também, o fato de serem romances escritos por mulheres mas dirigidos por homens. Mas isso não é nenhuma crítica. Tanto Spielberg quando Karin possuem sensibilidade o suficiente para trazer delicadeza e humanidade aos filmes. Com um trabalho técnico excepcional de fotografia e trilha sonora, “A vida invisível” também conta com um belo elenco que alterna novos talentos, como Júlia Stockler e Carol Duarte, com veteranos como Fernanda Montenegro, Cristina Pereira e um divertido Gregório Duvivier, que vive o marido machista e pateta de Euridice ( Carol Duarte), com direito a um Close em seu penais ereto na noite de núpcias. Em 1950, Euridice e Guida ( Stokler) são duas irmãs inseparáveis, filhas de um pai português macaísta e conservador. A mãe delas é uma portuguesa servil ao marido e que nada faz pra defender suas filhas. Quando Guida conhece um marujo grego, ela foge com ele. Nesse meio tempo, Euridice de casa e seu sonho de se tornar pianista vai embora. Quando Guida volta, graúda e desencantado, é expulsa pelo pai que não aceita de volta. Sem saber do paradeiro uma da outra, as irmãs lutam para de reencontrarem. Com ritmo lento mas contemplativo, o filme faz um relato cruel da sociedade patriarcal brasileira dos anos 50, onde a mulher não tinha voz. Todas as mulheres no filme sofrem e todos os homens são uns crápulas. Karin em depoimento disse que o filme é anti/machista. Faz sentido. Para os espectadores que vão assistir ao filme para assistir Fernanda Montenegro, saibam que serão muito bem recompensados com uma das cenas mais lindas já protagonizadas por ela. Um filme melancólico, que fala muito sobre uma sociedade dos anos 50 e que ainda repercute nos dias de hoje de forma velada. Produzido pelo produtor brasileiro Rodrigo Teixeira, “ A vida invisível” é a aposta brasileira para o Oscar de filme estrangeiro em 2020.

sábado, 16 de novembro de 2019

A vida de Diane

"Diane", de Kent Jones (2018) Vencedor de vários prêmios internacionais, entre eles o de Locarno e Tribeca, “A vida de Diane” é um cruel estudo sobre os últimos anos de vida de uma mulher de terceira idade, Diane. Kent Jones, premiado documentarista, realizador de filmes como “Hitchcock Truffaut”, um apaixonado por cinema, estréia na ficção escrevendo a história de pessoas comuns. Diane é uma mulher viúva de terceira idade. Ela vive para servir aos outros. Cristã fervorosa, ela cuida da filha de sua tia, que está com câncer terminal. Cuida dos vizinhos, e também cuida de Brian, seu filho drogado, que recusa a sua ajuda. Diane também trabalha servindo refeições aos necessitados. Acostumada a sempre servir aos outros e jamais pensando em si própria, o mundo de Diane entra el colapso quando de repente, ela percebe que as pessoas não precisam mais dela: a prima morre, sua melhor amiga morre, as pessoas próximas vão morrendo. Sue filho se cuida das drogas e se torna evangélico. Com o tempo, E Diane quem precisa de ajuda, mas ela recusa o amor dos outros. Esse poderoso drama intimista e minimalista daria uma excelente peça de teatro. Com performances naturalistas, a quase ausência de trilha sonora e uma fotografia que intensifica a vida vazia dos personagens, ‘A vida de Diane” fala sobre a Morte e o envelhecimento de forma brutal, sem glamour. É um filme bastante melancólico, que ganha um reforço fenomenal na atuação impressionante de Mary kay Place. Seu rosto personifica todo o cansaço e abatimento que a vida lhe proporcionou. Não é fácil assistir ao filme, tanto pelo ritmo arrastado e a ausência de cenas mirabolantes. Tudo é bem simples, focando na rotina de pessoas anônimas e que somente esperam o dia de morrer.

O farol

“The lighthouse”, de Robert Eggers (2019) Em 2015, o cineasta Robert Eggers escreveu o seu nome na história do Cinema ao lançar o seu primeiro filme, o terror independente “ A bruxa”, co-produzido pelo brasileiro Rodrigo Teixeira. Aclamado por toda a crítica mundial, o filme trouxe uma enorme expectativa para o nome de Eggers. Premiado em diversos festivais, incluindo Fipresci em Cannes 2019, o também co- produzido por Rodrigo Teixeira, “O farol”, foi incensado como um dos melhores filmes do ano. Ambientado no ano de 1890 na Ilha de New England, o filme foi rodado em película 35 Mm e tem formato de 1:19, dando aspecto de Frame quadrado. Thomas ( Willem Dafoe) e Eprahim ( Robert Pattinson) são enviados para passarem 4 semanas na solitária Ilha para cuidarem do farol. Thomas tem uma postura superior e destrua Eprahim, que faz boa parte dos trabalhos braçais. Durante uma tempestade, a sanidade mental dia dois homens é colocada à prova. O filme tem um forte componente surreal e fantástico para descrever o estado psicológico e emocional dos personagens. O espectador testemunha através dos olhos dos personagens e diante de bebedeiras e alucinações, vemos monstros com tentáculos, sereias, gaivotas ameaçadoras e cabeças decapitadas. O filme tem forte influência do cinema expressionista alemão e da estética russa, além de pitadas de Bergman, principalmente de seu filme “ A hora do lobo”. Não é um filme fácil de se assistir: são apenas dois personagens, uma coisa arritirado narrativa beirando o experimental. Mas é uma bela oportunidade de se aprofundar em um tipo de cinema sensorial, provocativo, com cenas violentas e de surto, talvez a melhor referência seja o filme “Possessão”, de Andrej Zulowsky. Os dois atores estão viscerais, em perfomances corajosas e arrebatadoras. Pattinson prova de vez aos seus detratores que é muito mais que um rosto bonito.

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Enter

"Enter", de Manuel Billi e Benjamin Bodi (2018) Escrito, dirigido e interpretado por Manuel Billi e Benjamin Bodi, "Enter" é um filme LGBTQI+ francês. Ousado e polêmico, é um filme que defende os prazeres do sexo sem freios, através da história de um grupo de gays anônimos que se encontram em um apartamento para uma noite de orgias. Protagonizado pelo astro francês Felix Maritaud, dos cults "Selvagem", "120 batimentos por minuto" e "Faca no coração", "Enter"possui cenas de sexo explícitas lindamente filmadas e fotografadas, com dezenas de homens fazendo sexo na sala. Um desses anônimos resolve ir no banheiro e acaba dando de cara com um ex-namorado, por quem sentia uma intensa paixão. Juntos, eles resolvem discutir o relacionamento que tiveram. Existe romantismo em um relacionamento gay? Esse é o ponto onde os roteiristas e diretores querem colocar como pauta nesse drama sensual e provocador. Até o desfecho, ficamos na dúvida se os ex-namorados irão embora do lugar ou se continuarão na orgia com os outros participantes. Um filme visceral e um prato cheio para espectadores voyeurs.

O irlandês

"The irishman", de Martin Scorsese (2019) Em 1992, o ator Danny de Vito dirigiu o drama "Hoffa", baseado na biografia de Jimmy Hoffa, famoso sindicalista americano, que defendia 1 milhão e meio de caminhoneiros e por conta disso, obteve grande poder. Hoffa se envolveu com a Máfia italiana, com os Kennedy, com Nixon e outros políticos para conseguir alguns de seus intentos ambiciosos no Sindicato, mas acabou desaparecendo em 1975, jamais tendo sido encontrado. Em “O irlandês”, Scorsese faz a sua livre interpretação sobre o que teria acontecido com Hoffa. No filme de de Vito, foi interpretado por Jack Nicholson. Aqui, Al Pacino dá vida a esse controverso sindicalista. A sua história cruza com a do matador Frank Sheeran (de Niro) , um irlandês ex-combatente de guerra, que tem a sua vida cruzada com a de Russ (Joe Pesci), um mafioso da Pensilvânia. Os 3 personagens lidam com temas como lealdade, crimes, traições, Poder e ambição, destruindo a vida de seus entes queridos e pessoas próximas. Scorsese faz aqui um filme magistral onde absolutamente tudo está em nível altíssimo de qualidade. A direção, espetacular como há muito não se via em uma obra de Scorsese. O roteiro, baseado no livro de Charles Brandt, ‘I heard you paint houses”, uma metáfora sobre pintores de casas que na verdade, eram assassinos que usavam fachadas para encobrir seus crimes. Os diálogos são primorosos, alternando momentos de intenso drama com humor refinadíssimo, lembrando até mesmo diálogos de Tarantino, como por ex, os personagens ficam discutindo sobre peixe. A fotografia de Rodrigo Prieto, a maquiagem, magistral e sutil transformando o elenco em suas várias fases. Isso sem falar no trabalho preciso da eterna colaboradora na edição Thelma Schoonmaker, aqui costurando épocas e sub-tramas de forma sublime. A trilha sonora é recheada de clássicos que vão dos anos 50 a 80. E ver um filme, onde monstros da atuação como Robert de Niro, Joe Pesci, Al Pacino contracenam juntos, em momentos antológicos e dignos de aplausos, é um presente para qualquer aficionado por Cinema. Outros atores fantásticos fazem participações tão boas quanto, como Harvey Keitel, Bobby Canavale e Jesse Plemons. A Netflix está de parabéns por investir pesado em produções caríssimas de Cineastas consagrados como Afonso Cuarón, Bom Joo Hong, irmãos Coen e agora Scorsese. O filme tem 3:30 horas de duração, e ter assistido em uma tela grande de cinema foi um grande momento.

quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Os 3 infernais

"Three from hell", de Rob Zombie (2019) Essa terceira parte da franquia cult de terror do músico e cineasta Rob Zombie só faz sentido para quem assistiu aos 2 outros filmes, iniciados em 2003 com "A casa dos 1000 corpos"e depois em 2005 com "Rejeitados pelo diabo". Escrito pelo próprio Zombie, que se arriscou em retomar os serial killers 15 anos depois. o filme é aquela antologia de tiros, facadas, decapitações, imolações e escalpelações que já estamos acostumados a assistir nos outros filmes. É sangue, tripas e vísceras espalhadas em quase 2 horas de filme, um exagero de duração em uma história simples que deveria durar no máximo 80 minutos. Para se ter uma idéia, tive a impressão de serem 2 filmes em um: na primeira parte, 15 anos depois do filme anterior, os personagens estão presos e viraram figuras célebres: a população acredita que eles são inocentes. Baby (Sheri Moon Zombie, esposa de Rob Zombie), Captain Spalding (Sid Haig)\) e Otis (Bill Moseley) estão presos. Otis e Captain são condenados à morte,. Captain morre, mas Otis é resgatado por um meio irmão. Para resgatarem Baby, Otis mantém como reféns os familiares e amigos do diretor do presídio. Na segunda parte, todos fogem pro México, mas se envolvem com cartel de drogas e tudo termina em chacina. Não tem como fazer comentário crítico de um filme que tem como finalidade fazer uma homenagem ao gênero exploitation. Para quem curte exageros, violência explcita, o filme é um prato cheio.

Copa 181

"Copa 181", de Dannon Lacerda (2017) Escrito e dirigido por Dannon Lacerda, cineasta mato-grossense estreando em longa-metragem. Financiado inteiramente de forma independente, o filme é um drama LGBTQI+ que tem como cenário principal a sauna gay "Copa 181", onde clientes, garotos de programa, funcionários e cantoras se misturam. Entre os clientes, está Taná (Carlos Takeshi), casado com Eros (Simone Mazzer). Ele voltou depois de uma experiência frustrada de trabalho no Japão e acaba trabalhando em uma pequena loja de materiais de construção em Copacabana. Ela é uma aspirante à cantora. Ambos vivenciam um casamento decadente e sem vida, e profissionalmente estão com o trabalho estagnado e sem ambição. Taná frequenta escondido de Eros a sauna Copa 181, onde mantém relações com os garotos de programa Davi (Gabriel Canella) e Leo (Caetano O’Maihlan. Leo por sua vez mantém a função sexual de ser apenas ativo, e namora a faxineira Kaká (Silvero Pereira), que também canta não local. Desamor, violência, homofobia são temas que costuram as histórias de todos os personagens, bem defendidos por todo o elenco, incluindo participação carinhosa dos ótimos atores Higor Campagnaro, Fernanda Boechat e Otto Jr. O roteiro constrói várias sub-tramas, sendo que algumas acabam sem desfecho. Para uma direção estreante em longa, Dannon desenvolve tudo com mão firme, mas para o tipo de proposta de tema e filme, penso que deveria ter ousado mais nas cenas de visceralidade, pois o conteúdo é bem direcionado para um público alvo. Existe uma construção estética que abafa a dramaturgia em alguns momentos. De qualquer forma, é um filme instigante e provocador. Exibido no Festival do Rio 2018, "Copa 181"tem belos momentos de musical, defendidos com garra pela excelente Simone Mazzer e Silvero Pereira.

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

O homem do Sputnik

"O homem do Sputnik", de Carlos Manga (1959) Clássico do cinema brasileiro, "O homem do Sputinik" foi lançado em 1959 e visto por 15 milhões de pagantes, segundo levantamento feito na época, mas nunca confirmado Com um super elenco de estrelas que vai de Oscarito, Zezé Macedo, Cyl Farney, Norma Benguell, Neide Aparecida e um estreante Jô Soares ( que aqui assina como Joe Soares), o filme é recheado de personagens estereotipados e piadas ingenuamente divertidas. O mote do filme vai em cima da Guerra Fria entre União Soviética e Estados Unidos. Um suposto satélite russo, Sputnik, cai no quintal do casal de caipiras Anastácio e Cleci Fortuna (Oscarito e Zezé Macedo). Revoltados porque o objeto matou duas galinha,s logo descobrem se tratar do satélite russo, e pretendem vender o achado no penhor Caixa Econômica Federal. Só que chegando la, a funcionária Dorinha liga pro seu namorado, um jornalista, para poder publicar a matéria. Um colega do rapaz no mesmo jornal ouve a fofoca e resolve publicar a matéria. Anastácio fica famoso, ganha dinheiro. Mas os russos, franceses e americanos (representado por Jô Soares) resolvem reaver o satélite. Deliciosamente ingênuo, o filme, mesmo datado, ainda diverte, muito por conta do talento dos comediantes. Oscarito e Zezé Macedo são dois gênios do humor. O filme está na lista dos 100 melhores filmes da história do cinema brasileiro, feita pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine.

terça-feira, 12 de novembro de 2019

Fraturado

"Fractured", de Brad Anderson (2019) Famoso pelo seu filme cult de 2004, "O operário', com Christian Bale interpretando um personagem esquelético, Brad Anderson investe agora em um suspense psicológico, com um plot twist no minuto final, digno de uma trama de M. Night Shamalayan. Sam Worthington interpreta Ray, casado com Joanne (Lily Rabe, de "American Horror story") e pai de da pequena Peri. O filme começa com a família no carro, discutindo no Dia de ação de graças, aparentemente porquê os pais de Joanne maltrataram Ray. Ao pararem em um posto de gasolina na estrada, Peri acaba se acidentando e cai num buraco. Desesperado, o casal leva a menina até o hospital mais próximo.Quando mãe e filha seguem até o sub-solo para serem atendidas, Ray aguarda na recepção. Ao acordar, depois de uma estafa, Ray percebe que a mulher e a ilha desapareceram e pior, ninguém no hospital as viu e elas nem sequer foram fichadas. O staff do hospital acredita que Ray está louco, mas ele quer tentar adquirir provas de que o lugar faz transplantes clandestinos de órgãos. Com uma boa direção e bom trabalho dos atores, o filme vai se tornando uma espiral de alucinação. O que de fato está acontecendo? Será paranóia de Ray, ou os funcionários do hospital escondem algo aterrorizante no sub-solo? Como boa parte dos filmes de Shamalayan, o espectador fica no aguardo da virada da trama no momento final. Aos bons observadores, é possível identificar o desfecho ainda no meio do filme. Vale o passatempo.

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

A lavanderia

"The laundromat", de Steven Soderbergh (2019) Baseado no livro de Jake Bernstein, "The secrecy of world", "A lavanderia" concorreu no Festival de Veneza 2019 e foi exibido no Festival de Toronto. Dirigido por Steven Soderbergh e roteirizado por Scott Z. Burns, que já escreveu alguns filmes de Soderbergh, como "Contágio", "Terapia de risco"e "O informante", "A lavanderia" faz parte dos filmes de Soderbergh que fazem denúncias e críticas ao sistema econômico e social americano. O filme se baseia no escândalo dos "Panama papers": em 2016, mais de 11 milhões de documentos vazaram, apontando milhares de empresas de fachadas criadas ilegalmente no Panamá pelo escritório de advogados Mossack Fonseca. Muitos políticos, empresários e artistas foram denunciados por evasão fiscal. Soderbergh mistura fatos reais com fictícios: para ilustrar como a falcatrua funcionava, Soderbergh apresenta várias histórias paralelas envolvendo pessoas prejudicadas pelo esquema fraudulento, entre elas, Ellen Martin (Meryl Streep). Durante um passeio de barco com seu marido, o casal sofre um acidente. O marido morre. Ao tentar receber o seguro, Ellen descobre que a empresa não existe. O filme é apresentado pelos personagens de Antonio Banderas e Gary Oldman, que representam os advogados corruptos Mossack e Fonseca. Quebrando a quarta parede, eles explicam para o publico como o esquema funciona, além de explicar os termos econômicos de forma mais palatável. Não tem como o espectador não remeter aos filmes de Adam McKay: “A grande aposta” e “Vice”. Do primeiro, ele pega a estrutura narrativa de misturar documentário e ficção e explicar ao público os complexos termos econômicos de forma didática e sarcástica. De “Vice”, Soderbergh busca os fatos políticos envolvendo figuras públicas e dando um olhar debochado e crítico, quebrando a quarta parede. O filme tem um roteiro confuso e muitos sub-plots que não ajudam na história principal, que é a de Ellen, que costura todo o filme. Termos difíceis, mesmo sendo explicados de forma acadêmica por Banderas e Oldman se tornam pedantes e áridos. Com um elenco all star, que inclui David Schwimmer, Matthias Schoenaerts, Sharon Stone e Jeffrey Wright, o filme se torna entediante e uma experiência cansativa, que se sustenta quase que somente nas cenas de Meryl Streep, reservando uma bela surpresa no final, desmistificando a fantasia de Hollywood. Outra cena que merece destaque é a do acidente de barco, um primor de técnica e de efeitos especiais.

domingo, 10 de novembro de 2019

A carga

"Teret", de Ognjen Glavonic (2018) O jovem cineasta sérvio Ognjen Glavonic escreveu e dirigiu "A caga", sua estréia na ficção e selecionada para o prestigiado 'Quinzena dos realizadores", no Festival de Cannes 2018. O filme se baseia no premiado documentário dirigido pelo próprio Ognjen Glavonic em 2016, intitulado 'Depth two" e que narra uma aterrorizante história ocorrida em Belgrado durante a Guerra Sérvia em1999. Vários túmulos em massa foram encontrados nos subúrbios de Belgrado, com dezenas de corpos de albaneses trazidos em um caminhão que os trouxe de Kosovo e que seguiu estrada até ser desovado. O filme acompanha Vlada, um desempregado e com esposa doente que necessita de dinheiro. Para isos, ele aceita carregar um caminhão de Kosovo até Belgrado, sem perguntar qual o conteúdo e sem parar durante o percurso,, com prazo para entrega. Durante o trajeto, Vlada é obrigado a desviar o caminho, por conta de bloqueios de caminhões de guerra em chamas. Ele conhece o jovem Paja, um adolescente que deseja migrar para a Alemanha. Paja o orienta para uma nova rota. Outros personagens irão surgir na travessia, atrasando a viagem de Vlada, que precisa chegar em seu destino no horário estabelecido. Impossível não se lembrar da obra-prima "O salário do medo", de Henri-Georges Clouzot, onde um aterrorizado Yves Montand precisa transportar uma carga explosiva durante um trajeto. "A carga" é um filme de guerra mas sem mostrar cenas de guerra. A guerra apresentada é interna, psicológica. O conflito moral de um protagonista, defendido com garra por Leon Lucev, que precisa ganhar dinheiro, meso sabendo que está metido em negócio escuso. Bela direção em um filme minimalista. Ritmo lento, e com um leve suspense. Um filme que apresenta uma triste história recente na Europa que dizimou milhares de civis.

Familiye

"Famíliye", de Sedat Kirtan e Kubilay Sarikaya (2017) Escrito, dirigido e protagonizado pelos cineastas alemães Sedat Kirtan e Kubilay Sarikaya, descendentes de turcos e que falam da dura realidade da classe proletária turca residente na Alemanha. Com óbvias referências aos clássicos "O Ódio", de Mathieu Kassovitz , ao cinema de Scorsese e até mesmo "cidade de Deus", "Familyie" retrata o amor de Danyal (Kubilay) pelos seus 2 irmãos: Muhammed (Muhammed Kirtan, irmão de Sedat Kirtan) , portador da síndrome de Down, e Silvan (Sedat), o irmãos mais novo e que coloca a família em desgraça por causa de sue vício nos jogos. Danyal sai da prisão, após 5 anos, e descobre que sue irmão deve milhares de euros para a máfia turca. Decidido a saldar a dívida do irmão, Danyal fará de tudo para manter a família unida. Com excelente direção, o filme impressiona pelo talento dos 2 cineastas atrás e diante das câmeras, em performances vigorosas. É um filme cru, realista, que apresenta um universo essencialmente masculinizado, brutal, violento. A personagem Silla, uma drogada que foge do hospital e que acaba parando no apartamento dos irmãos, busca trazer um pouco de humanidade a esse mundo, mas acaba sendo destruída pela falta de sensibilidade dos homens. Excelente fotografia em preto e branco, e uma curiosa narração em off de um garoto, residente do bairro, que a tudo observa.

Uma mulher alta

“Dylda”, de Kantemir Balagov (2019) O cineasta russo Kantemir Balagov aos 28 anos de idade lançou em Cannes 2017 o polêmico “Tesnota”, vencedor do Prêmio Fipresci na Mostra Um certo Olhar. O filme foi um verdadeiro escândalo ao mostrar uma cena real de decapitação de um preso político por terroristas. Agora em 2019, Balagov novamente ganha um Fipresci e também o Prêmio de Melhor diretor em Cannes na Mostra Um certo olhar por esse drama lésbico “Uma mulher alta”. Mostrando uma relação obsessiva e psicótica entre duas mulheres, pode-se ver ecos de “Persona” e “Lágrimas amargas de Petra Von Kant”, obras primas de Bergman e Fassbinder. Em 1945, na cidade de Leningrado, logo após o fim da 2a Guerra Mundial, acompanhamos o dia a dia de Ilya, uma jovem alta que trabalha como enfermeira em um hospital para vítimas da guerra. Ela cuida de uma criança, Paschka, que na verdade é filho da soldado Masha, que deixou o filho aos cuidados de Ilya enquanto ela luta no front. Ilya possui uma doença adquirida com os traumas da guerra: constantemente, ela “sai do ar”, em estado inconsciente por breves minutos. Por causa de uma das crises, ela acaba matando a criança, ao cair em cima dela, em uma das cenas mais trágicas da história do cinema. Quando Masha retorna da guerra e pergunta pelo filho, ela entra em choque ao saber da morte dele. Sem poder ter outro filho por conta de acidente no front, Masha pede para que Ilya engravide e dê o filho para ela. Ilya se recusa, mas por nutrir uma paixão platônica por Masha, acaba cedendo. Com 140 minutos de duração, o drama tem um ritmo extremamente lento mas contemplativo. A fotografia e absolutamente deslumbrante, lembrando quadros famosos, como “Moça com brinco de pérolas”. Contrastando cores pastéis e cores vivas, o filme mostra que mesmo com o fim da guerra, a destruição mental e psicológica permanece nos sobreviventes, algo como o devastador “A escolha de Sofia”. O trabalho das duas protagonistas é acachapante: Viktoria e Vasilisa, como Ilya e amanhã, produzem uma agonia na tela que deixa o espectador em suspenso. Performances brilhantes dentro de uma densidade aterrorizante do drama das personagens.

sábado, 9 de novembro de 2019

David Bowie: os últimos 5 anos

"David Bowie: the last five years", de Francis Whately (2017) Excelente documentário que faz um registro histórico dos 5 últimos anos de vida de David Bowie, um período criativamente fértil, quando ele lançou 2 discos e um musical encenado na Broadway, "Lazarus", com músicas tiradas desses cds. Nascido em 8 de janeiro de 1947, e falecido 69 anos depois, em 10 de janeiro de 2016, o filme faz um retrospecto de sua vida e músicas desde os anos 60, passando pela fase das drogas dos anos 70, auge do Ziggy Stardust e Major Tom, personagens icônicos que ele criou para criar performances para as suas músicas. Em 2003, ao realizar a sua maior tuenê mundial, Bowie começou a passar mal. Logo depois, foi diagnosticado com câncer, e secretamente, deu início a um tratamento. Em 2013, deu uma guinada musical quando lançou "Next day", onde trouxe elementos melancólicos e nostálgicos ao som. Mas foi com "Blackstar", de 2016, que ficou clara as metáforas acerca da morte iminente. "Lazarus"foi um musical lançado no mesmo ano, tomando o personagem que Bowie protagonizou no filme "O homem que caiu na Terra". O documentário é recheado com material inédito com entrevistas e registro de show com Bowie, além de depoimento de músicos que tocaram com ele nos últimos discos. Michael C. Hall, intérprete da série "Dexter", protagoniza o musical "Lazarus" e também fala com emoção sobre a sua relação com Bowie durante os ensaios do musical, deixando claro que praticamente ninguém sabia da doença de Bowie. O filme é absolutamente obrigatório para fãs de Bowie, para entender melhor o processo criativo de um dos artistas seminais para se entender a cultura pop do Século XX e XXI.

sexta-feira, 8 de novembro de 2019

Doutor Sono

"Doctor Sleep", de Mike Flanagan (2019) 40 anos após o lançamento de "O Iluminado", o próprio Stephen King resolve escrever a continuação do filme clássico dirigido por Stephen King. Agora protagonizado por Danny Torrance (Ewan Macgregor), um homem em seus 45 anos, alcóolatra e trabalhando como enfermeiro noturno em um asilo de idosos. Com o dom de prever as mortes dos idosos, Danny é procurado por Abra, uma menina ameaçada pelo grupo "Nó", liderado por Rose (Rebecca Ferguson). Rose e seus asseclas são uma espécie de vampiros, só que ao invés de sugarem sangue, sugam o "vapor"dos iluminados, algo como uma alma que nutre os integrantes da seita. Rose pressente que Abra é poderosa e poderá alimentá-los por um bom tempo. Para poderem liquidar Rose e seu grupo, Dan e Abra precisam retornar ao local onde Danny começou a sentir seus poderes: o Hotel Overlook. Impressionante como o filme resgata a atmosfera do filme de Kubrick: claro que a trilha sonora antológica de Wendy Carlos e Rachel Elkind ajudam a trazer a nostalgia dos apaixonados pelo filme original. Mas resgatar o Hotel Overlook e os seres que ali habitam é um golpe magistral! Com reconstituição foda do Hotel, sua direção de arte e seus personagens , algo realizado há 2 anos por Spielberg em "Jogador Número 1", que já havia impressionado todo mundo quando construíram Jack Nicholson todo em 3 D. Aqui, escalaram atores para viverem os 3 personagens do filme original. O filme é bastante longo, com 2:40 de duração. O primeiro ato é bem lento, apresentando os 3 protagonistas: Danny, Abra e Rose. Depois os caminhos se cruzam até chegar ao desfecho apoteótico. Sim, é um filme totalmente desnecessário, e nem de longe será clássico como o filme de Kubrick. Mas já que ele existe, posso dizer que é um filme decente. Pena que de certa forma, destruiu o mistério do filme anterior, ao querer dar explicações a tudo o que vimos antes. De positivo, Mike Flanaghan manteve um charme vintage nos efeitos especiais e no figurino, parecendo que estamos diante de um filme dos anos 80.

quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Paradise Hills

"Paradise Hills", de Alice Waddington. Produção dirigida pela Cineasta espanhola Alice Waddington, "Paradise Hills" é uma fantasia de cunho feminista ambientado em um futuro distópico, onde o mundo é dividido entre a elite e a classe dos pobres. Na elite, as mulheres são criadas para servir aos seus maridos e serem recatadas e do lar. Uma (Emma Roberts) é forçada a se casar com um homem que foi responsável pelo suicídio de seu pai. Uma também é apaixonada por Markus, um jovem da classe dos pobres, com quem namora às escondidas. Por seu comportamento rebelde, Uma é enviada até uma Ilha onde as jovens indisciplinadas são reeducadas pela Duquesa (Milla Jovovich). Uma conhece outras meninas na mesma situação que a dela: Chloe ()Danielle Macdonald, obrigada pela família a emagrecer; Yu (Awkwafina), uma jovem ansiosa; e Amarna (Eiza González), uma cantora que deseja cantar repertório próprio, contrariando sua família. Quando elas descobrem as verdadeiras intenções do local, elas tentam fugir. Misturando drama, fantasia e ficção científica, uma mistura de "Jogos vorazes" e "Alice no País das maravilhas" , "Paradise Hills" é um filme curioso com ótimos efeitos e direção de arte. O filme tem uma ótima idéia, um time de excelentes atrizes e vale como um passatempo que denuncia uma sociedade machista, uma metáfora sobre tempos conservadores e misóginos. Curioso é que o roteiro foi escrito por homens, apesar da direção ser uma mulher e idem as protagonistas. O filme concorreu em importantes Festivais de Cinema, como Sundance, Sitges e Vancouver.

quarta-feira, 6 de novembro de 2019

O Exterminador do futuro: destino sombrio

"Terminator: Dark fate", de Tim Miller (2019) Todo mundo já sabe que esse filme segue diretamente o 2o filme da franquia, 'Julgamento final", dirigido por James Cameron, que aqui atua como produtor e roteirista, ignorando totalmente os outros filmes que vieram depois. O mais doido é que o filme lançado em 2015, "Genesis", era uma espécie de desfecho da franquia, recuperando personagens que aqui têm desenvolvimento totalmente diferente. Dirigido por Tim Miller, realizador de "Deadpool", o filme copia quase que literalmente todos os acontecimentos dramatúrgicos de "Julgamento final". Para quem acompanha a franquia, infelizmente esse filme não adiciona nenhuma trama de fato original. Quem ainda se surpreende com a aparição de Schawrzenneger no filme? A única realmente surpresa do filme, é terem recuperado a verdadeira Sarah Connors dos 2 primeiros filmes, a atriz Linda Hamilton, que é símbolo da heroína, interpretada em "Genesis"por Emilia Clarke. No mais, é a mesma porradaria, explosões, efeitos espetaculares, perseguições de veículos, exterminadores quase importais, e claro, aquele final emocionante que simboliza que todos se emocionam, inclusive as máquinas. Reza a lenda que esse filme de verdade, encerra a franquia. Vamos esperar para ver.

segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Rainhas do crime

"The kitchen", de Andrea Berloff (2019) Filme de estréia da atriz Andrea Berloff na direção, adaptando uma Graphic novel lançada em 2015 intitulada "The kitchen", escrita por Ollie Masters e ilustrada pela desenhista Ming Doyle. O filme é estrelado por Melissa McCarthy, Elisabeth Moss e Tiffany Haddish, um trio de atrizes poderosas protagonizando um filme que é uma versão feminina de "O poderoso chefão" envolvendo a Máfia italiana de Nova York do início dos anos 70. Kathy (Maccarthy), Ruby ( Haddish) e Claire )Moss) são mulheres subjulgadas pelos seus maridos. Em uma sociedade machista, elas pouco podem fazer para terem poder de decisão sobre algo, muito menos serem ouvidas pelos outros homens. Quando um assalto planejado pelos maridos dá errado, sendo presos pelo FBI, as mulheres ficam sem ter como se sustentar. Elas acabam decidindo tomar frente nos negócios dos maridos, mesmo que isso abra os olhos de gangues rivais. Para um filme de estréia, a diretora Andrea Berloff fez um trabalho surpreendente. Dominando um gênero normalmente associado a diretores homens, Andrea faz um belo trabalho de direção de atrizes, sem tornar o universo masculino totalmente calhorda em termos de personalidade. Elisabeth Moss e Hardiff estão ótimas, e Maccarthy mais uma vez prova que é uma ótima atriz de drama, feito comprovado no seu filme "Poderia me perdoar?", de 2015. O elenco de apoio se completa com uma ótima escalação de atores famosos, entre eles, o irlandês Domhnall Gleeson.