domingo, 17 de novembro de 2019
A vida invisível
“A vida invisível”, de Karin Ainouz (2019)
O cineasta cearense Karin Ainouz é realizador de um dos filmes que mais amo na vida, “O céu de Suely”. Quase 13 anos depois, ele lança um filme adaptado do romance “ A vida invisível de Euridice Gusmão”, de Martha Batalha, e acabou ganhando o prêmio de melhor filme na Mostra Um certo Olhar em Cannes 2019.
Logo de cara me foi impossível não associar ao filme de Spielberg, “ A cor púrpura”. Ambos os filmes tem muitos pontos em comum: são filmes epistolares ( barrados em off por uma das protagonistas através da escrita de cartas), tem duas irmãs que são separadas por um homem brutal, mostram uma sociedade matriarcal onde a mulher só serve para parir e fazer atividades domésticas e servir de objeto sexual para seus maridos, é claro, todos os personagens masculinos são castradores, machistas e ridicularizados. Em comum também, o fato de serem romances escritos por mulheres mas dirigidos por homens. Mas isso não é nenhuma crítica. Tanto Spielberg quando Karin possuem sensibilidade o suficiente para trazer delicadeza e humanidade aos filmes. Com um trabalho técnico excepcional de fotografia e trilha sonora, “A vida invisível” também conta com um belo elenco que alterna novos talentos, como Júlia Stockler e Carol Duarte, com veteranos como Fernanda Montenegro, Cristina Pereira e um divertido Gregório Duvivier, que vive o marido machista e pateta de Euridice ( Carol Duarte), com direito a um Close em seu penais ereto na noite de núpcias.
Em 1950, Euridice e Guida ( Stokler) são duas irmãs inseparáveis, filhas de um pai português macaísta e conservador. A mãe delas é uma portuguesa servil ao marido e que nada faz pra defender suas filhas. Quando Guida conhece um marujo grego, ela foge com ele. Nesse meio tempo, Euridice de casa e seu sonho de se tornar pianista vai embora. Quando Guida volta, graúda e desencantado, é expulsa pelo pai que não aceita de volta. Sem saber do paradeiro uma da outra, as irmãs lutam para de reencontrarem.
Com ritmo lento mas contemplativo, o filme faz um relato cruel da sociedade patriarcal brasileira dos anos 50, onde a mulher não tinha voz. Todas as mulheres no filme sofrem e todos os homens são uns crápulas. Karin em depoimento disse que o filme é anti/machista. Faz sentido. Para os espectadores que vão assistir ao filme para assistir Fernanda Montenegro, saibam que serão muito bem recompensados com uma das cenas mais lindas já protagonizadas por ela.
Um filme melancólico, que fala muito sobre uma sociedade dos anos 50 e que ainda repercute nos dias de hoje de forma velada.
Produzido pelo produtor brasileiro Rodrigo Teixeira, “ A vida invisível” é a aposta brasileira para o Oscar de filme estrangeiro em 2020.
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