domingo, 31 de maio de 2020

Já não estou aqui

"Ya no estoy aqui", de Fernando Frias (2020) Premiado drama mexicano, concorreu no Festival de Tribeca em 2020, e narra a luta de um jovem mexicano que é obrigado a fugir de sua cidade no México, Monterrey, por causa de um embate com uma gangue de traficantes. Ulysses tem 17 anos e é líder de uma gangue de dançarinos de Cumbia, um ritmo típico da região. Ulysses é admirado por todos pela sua postura de liderança. Ao fugir como clandestino para Nova York, vai parar no bairro do Queens. ele vai trabalhar como peão, mas não fala inglês. Ele se irrita com as piadas dos companheiros latinos que sacaneiam o seu visual e o seu corte de cabelo, típico de quem dança cumbia. Ao trabalhar em uma loja chinesa consertando o telhado, ele conhece uma jovem chinesa, Lin, que simpatiza com ele. Mas Ulysses se sente um peixe fora d'água nos Estados Unidos, e culturalmente ele não se encaixa. Um retrato cruel da violência no Mexico, que arregimenta os jovens para o tráfico, e também da vida do imigrante clandestino nos Estados Unidos, "Já não sou daqui" tem como tema o conflito de identidade. O filme é bem dirigido e tem uma excelente fotografia, que capta a decadência da cidade mexicana e também de uma Nova York da periferia, sem glamour. Não fiquei apaixonado muito pelo filme, e confesso que a personagem da chinesa achei mega irritante. O ator que interpreta Ulysses, Juan Daniel Garcia Treviño, faz um belo trabalho, em um personagem complexo .

Inocência

"Inocência", de Walter Lima Jr (1983) Listado entre os 100 melhores filmes brasileiros pela Abracinne, "Inocência" é a adaptação do livro de Visconde de Taunay, escrito em 1872. O filme ganhou 2 Prêmios no Festival de Brasília em 1982: Melhor direção e melhor ator coadjuvante para Sebastião Vasconcelos, no papel do cruel pai da menina Inocência (Fernanda Torres). Ambientado no Brasil imperial do Século XIX< contemporâneo à escrita do livro, o filme narra o romance do médico Cirino (Edson Celulari), chamado às pressas por Martinho para cuidar da malária de sua filha. Martinho deixa um aviso para Cirino: tratar Inocência como paciente, e não como uma mulher. Mas o pedido é em vão: logo, Inocência e Cirino se apaixonam. Mas Martinho prometeu Inocência em casamento à Manecão, um rico fazendeiro, por dividas. O jovem casal planeja uma fuga. A tragédia dos apaixonados tem tons de Shakeapeare. Edson Celulari, aos 24 anos, e Fernanda Torres aos 18 anos demonstram talento e beleza ao personificarem a história de amor no interior de Minas Gerais. "Inocência" é a primeira ficção de Walter Lima Jr após o sucesso de "A lira do delírio". O filme foi rodado em Casimiro de Abreu, Estado do rio, e na floresta da Tijuca. O filme é bastante conhecido por conta da delicadeza com que trata uma trama melodramática , fortalecida pela fotografia de Pedro Farkas e ela trilha sonora de Wagner Tiso. Participações de Chio Diaz, Chica Xavier e Fernando Torres.

A canção do sul

"Song of the south", de Harve Fostere e Wilfred Jackson (19460 Esse filme na minha infância era o meu clássico da Disney, assisti umas 10 vezes com minha mãe no cinema e sempre chorava na parte final, quando apelava pro sentimentalismo e para uma eminente tragédia. O filme recebeu em 1948 o Oscar de melhor canção, pela antológica e inesquecível "Zip-A-Dee-Doo-Dah". ator James Baskett recebeu um Oscar honorário por sua comovente e carismática performance como o Uncle Remus, clássico da literatura escrito no Século XIX por Joel Chandler Harris. Mas aí o tempo passa, a gente cresce, toma consciência e descobre que o filme foi banido pela própria Disney, no único caso de filme cancelado e nunca mais colocado em circulação da empresa. Hoje em dia, só se encontram cópias ilegais. Nos canais da Disney, o filme nem sonha em ser exibido. Logo após a sua exibição nos cinemas, fazendo um enorme sucesso comercial, o filme foi acusado por associações de movimento negro de ser altamente racista. A representação dos negros no período dos Estados Unidos pós Guerra da Secessão, e pós abolição da escravatura, apresenta-os ainda como servis aos brancos, com um trabalho corporal e de dicção bem caricato e pior para o Tio Remus, que traz um olhar saudosista sobre a sua juventude!!!!!!! Tio Remus é uma espécie de "Big Fish"do Tim Burton, um senhor idoso que conta histórias fantásticas para as crianças, e as fazem acreditar que elas são reais. Jonnhy (Bobby Driscoll) é ;evado para a fazenda de sua avó, e fica lá com sua mãe. Sue pai vai embora para trabalhar em Atlanta. Saudoso do pai, Jonnhy resolve fugir, mas o ex-escravo Tio Remus o encontra e passa a contar histórias para ele, do Coelho, do urso e da Raposa. Tecnicamente, o filme é um primor: a fotografia, os efeitos de animação interagindo com os atores foi uma revolução e a primeira vez utilizada em um filme. As canções, os atores, (Hettie Macdoweel está no elenco também, quase reprisando seu papel em "E o vento levou.." "A canção do Sul" é um representante máximo do que Spike Lee chamou de "Magical negro": personagens negros que são secundários na trama, e que só existem para ajudar o homem branco, sendo seu serviçal e fazendo ele entender que a vida vale a pena.

Ninguém crê em mim

"The windown", de Ted Tetzlaff (1949) Ótimo filme B noir de 1949, com uma criança como protagonista. é uma adaptação de um conto do escritor Cornell Woolrich, mesmo autor de "A janela indiscreta", de Hitchcock, que seria lançado 5 anos depois. "Ninguém crê em mim" acaba sendo um laboratório ara a obra-prima de Hitchcock. Um menino, Tommy (Bobby Driscoll), de 10 anos, em um dia de muito calor em Nova York, pede autorização para os seus pais para dormir no terraço do prédio. De lá, ele acaba testemunhando um assassinato por uma janela: um casal de vizinhos assassina um homem. Tommy desesperado tenta contar para seus pais, mas eles não acreditam nele ( Tommy já tinha um histórico de contar histórias fantasiosas). Tommy segue para a polícia, que também não acredita nele. Até que a mãe de Tommy o leva até o apartamento dos vizinhos para pedir desculpas, e os vizinhos acabam sabendo que o menino testemunhou o crime. Uma delícia de suspense, que tem o talento do super star Bobby Driscoll, então com 11 anos, para estrelar o filme. Driscoll já havia feito sucesso em filmes da Disney, como "A canção do sul", e foi cedido pela Disney, fato que consta inclusive da cartela de abertura do filme. O que mais me entristeceu foi pesquisar sobre a vida de Bobby Driscoll: ele foi muito famoso quando criança, inclusive serviu de modelo e voz para a animação de Peter Pan. Mas ao crescer, foi perdendo trabalhos e acabou no ostracismo, se afundando em drogas pesadas como heroína e cocaína. Acabou morrendo de overdose aos 31 anos, tendo sue corpo encontrado por crianças em um terreno. Foi enterrado como indigente. Vendo o filme, dá para perceber o grande talento do garoto, que sabe lidar com cenas de humor, tensão e drama. Realizado com pouco orçamento o filme constrói um suspense light, até porque tem uma criança no filme. Mas funciona bastante, e a sequência final, no telhado, é muito bem feita.

Isha

"Isha", de Christopher Manning (2017) O ator brasileiro Lino Facioli, que trabalhou em "Game of Thrones" como Robin Arryn, interpreta um dos protagonistas desse premiado curta inglês LGBTQI_. Produzido e dirigido pelos alunos da The British Film School, o filme concorreu em diversos Festivais, incluindo o FBI London Film Festival. Rahmi mora com sue irmão menor Cemil (Faccioli) e sua mãe em sua casa na periferia de Londres. Eles são romenos, e imigraram para morar em Londres há anos. Cm a morte do pai de Rahmil, ele agora precisa tomar conta da família, como reza a tradição muçulmana. Mas Rahmil tem uma outra vida: ele mora com seu namorado. Ele mente pra família dizendo que sempre faz hora extra, até que Cemil o flagra saindo do trabalho. Discutindo temas importantes como a diferença cultural, a religiosidade extremista e as tradições milenares, 'Isha" tem um ótimo elenco em um roteiro profundo e bastante dramático. É impressionante a qualidade do filme realizado pelos alunos de cinema, com qualidade infinitamente superior a muito filme de gente bamba por aí.

Manivald

"Manivald", de Chintis Lundgren (2017) Escrito e dirigido pela cineasta eslovena Chintis Lundgren, a animação LGBTQI+ "Manivald" concorreu em alguns dos mais importantes Festivais de cinema do mundo; Sundance, SXSW, Annecy, Clermond Ferrand, Denver. A história tem como protagonista Manivald, uma raposa que mora com sua mãe, uma ninfomaníaca. Manivald vai completar 33 anos e sua mãe prepara um bolo para ele. No entanto, a máquina de lavar quebra e ela chama um encanador. Chega então Toma, uma mega hiper raposa bombada, que deixa tanto Manivald quanto sua mãe desejosos de tesão. A mãe de Manivald é é mega protetora e rege a vida do filho , que mal tem liberdade para poder expressar o que quer fazer ou sentir. O grande tema do filme são os filhos já adultos que ainda vivem sob a guarda dos pais. Sem motivação nem ambição para alçarem vôos maiores, se acomodam. As cenas de sexo são absolutamente geniais e criativas, brincando com os clichês do romantismo brega. Muito bom! Os traços da animação são uma fofura, e Tomas, a raposa Bofe, é sensacional!!! O desfecho parece até uma homenagem à "Noites de Cabíria", de Fellini.

Os cães plagueados

"The plague dogs", de Martin Rosen (1982) Chocado como esse filme é triste, trágico, violento. Em termos de tristeza, só é comparado à animação "O túmulo dos vagalumes". Quatro anos depois de ter lançado a animação "Uma grande aventura", um dos desenhos mais brutais da história, ao mostrar a crueldade da natureza, Martin Rosen lança "Os cães plagueados", do mesmo escritor de "Uma grande aventura", Richard Adams. O filme é totalmente desenhado à mão e narra a história dos cães Snitter ( voz de John Hirt) e de Rowlf ( Voz de Christopher Benjamin). Ambos se encontram em um laboratório onde os animais são utilizados para todos os tipos de experimentos. Snitter é afogado e reavivado várias vezes, e por isso, tem fobia e água. Rowlf tem o crânio aberto para experiências. Os outros animais são dissecados e servem de cobaias. Por descuido de um funcionário, os dois conseguem escapar e fogem para a floresta. Agora eles precisam lutar pela sobrevivência, fome, fúria dos fazendeiros e dos policias que são mandados pelo laboratório para os matarem, espalhando a notícia de que eles estão contaminados pela peste bubônica e devem ser mortos. Para ajudá-los, eles conhecem uma esperta raposa, Todd. Nossa, como tem tragédia nesse filme, é difícil até enumerar. Por ex, um fazendeiro que resolve ajudar os cães é morto com tiro de espingarda no rosto porquê um dos cães sobe nele para fazer carinho e acidentalmente pisa no gatilho da espingarda. Em oura cena chocante, um dos policias morre e os cães e a raposa comem ele para poderem não morrer de fome. O filme é absolutamente proibido para crianças. O tema é a luta pela sobrevivência, e para tal, não se deve medir as regras do bom senso. O filme tem belos traços, feitos à mão. O desfecho é arrebatador. O filme infelizmente se tornou obscuro, muito por conta de sua violência e de seu realismo chocante

sábado, 30 de maio de 2020

Coldplay: A head full of dreams

"Coldplay: A head full of dreams", de Mat Whitecross (2018) Documentário obrigatório e imprescindível para quem é fã da banda Coldplay. O filme foi rodado pelo documentarista Mat Whitecross, amigo da banda desde o início da formação em 1996, quando o grupo se chamava Starfish e tocava em pequenas casas de Candem, Londres. Mat foi co-diretor do documentário premiado 'Estrada para Guantanamo", junto de Michael Winterbottom, em 2006, e já rodou muitos videoclips musicais, principalmente de Coldplay. O filme descreve a formação, a mudança do nome para Coldplay, o grupo fala sobre cada álbum, o divórcio do vocalista Chris com Gwhyett Paltrow w de como o disco 'Ghost stories"veio como um luto. Imagens incríveis dos shows da bnda e depoimentos pelo período de 20 anos, que é o período que esse documentário tem sido filmado. O filme começa com o show em São Paulo mega lotado para o show "A head full of dreams", A banda deixa claro que o sucesso do grupo vem da amizade de todo o grupo, amigos desde a época da escola. É muito lindo ouvi-los falando sobre o quanto se adiram, e como conversam sobre tudo em conjunto, sem egos. O momento mais emocionante é quando Chris fala sobre seu baterista Will: que no início da carreira, gravando em estúdio, o produtor pediu para que o trocassem, que ele não era bom. Will foi dispensado. O grupo todo se sentiu deslocado, e imediatamente chamaram Will de volta. O depoimento que Chris dá é demais: recado para as bandas: sempre escutem o seu baterista. Para quem é fã, é impossível não se emocionar e até chorar. Quando toca "Yellow"então, e o sucesso que essa música deu ao grupo, é de soltar lágrimas.

O Anjo nasceu

"O anjo nasceu", de Julio Bressane (1969) Listado entre os 100 melhores filmes brasileiros pela Abraccine, faz pensar que o filme de Murilo Salles, 'Como nascem os anjos", traz muita referência a esse clássico de Bressane, não somente com a semelhança dos títulos, mas com a trama. Dois bandidos, Santamaria (Hugo Carvana) e Urtiga (Milton Gonçalves) estão cercados pela polícia em uma comunidade no morro. Santamaria está ferido na perna, levou um tiro. eles invadem uma casa de classe média alta localizada no morro. Lá, eles matam o dono e mantém como reféns a esposa (Norma Bengell) e a empregada (Maria Gladys). Representante do cinema marginal, “O anjo nasceu” traz semelhanças com ‘o bandido da luz vermelha”, de Rogerio Sganzerla: em ambos os filmes, os bandidos invadem casas e matam seus donos de classe média alta. Esbanjando na violência, um correlato ao período violento da ditadura pelo qual o País estava atravessando, Julio Bressane ousa em vários momentos no filme: logo no prologo inicial, ele já dá spoilers do filme todo, com flashes do que iremos ver. Equipe técnica e claquetes surgem a cada instante. Os personagens de Urtiga e Santamaria são misóginos, homofóbicos, mata sem piedade. Santamaria é religioso da umbanda e tem uma cena divertida fazendo um despacho com galinhas pretas e cachaça. MA as maior de todas as ousadias está reservada para o último plano do filme; um plano fico, de 7 minutos, do carro dos personagens sumindo na estrada e a câmera fica focada na estrada, sem nada acontecer, ao som de “Peguei um Ita no norte”, de Dorival Caymmi. Mas talvez a cena mais emblemática para mim, de todo o cinema marginal, é uma cena onde Santamaria e Urtiga estão nús. Urtiga está ajoelhado de frente para Santamaria, como se fosse fazer um boquete. Eles estão posados, como estátuas. Seria um indício de homossexualidade dos personagens? Fiquei sem respostas.

O chão sob meus pés

"Der Boden unter den Füßen", de Marie Kreutzer (2019) Vencedor de diversos prêmios internacionais e concorrendo no Festival de Berlin 2019, "O chão sob meus pés" é um filme escrito e dirigido pela cineasta austríaca Marie Kreutzer. O filme traz dois universos da mulher moderna, bem sucedida e empoderada: a que possui doenças mentais, e a que é workhaholick e dedica 100 por cento de sua vida ao trabalho. Ambas dessas mulheres tomam fortes remédios de tarja preta, e possuem vidas desestruturadas e por um fio de sanidade mental. Lola (Marie Kreutzer, de "A vida oculta", de Terrence Malick) e a workaholick. Conny (Pia Hierzegger) é a esquizofrênica paranóica. Ambas são irmãs. Conny é mais velha e Lola tem a sua guarda, pagando clinicas caras para manter a irmã distante de si e poder se dedicar ao trabalho. Elas não tem família, nem ninguém para cuidar delas. Quando Lola tenta o suicídio, Lola viaja no final de semana para visitá-la, saindo de Berlin, aonde trabalha, para Vienna, sua residência natal com a irmã. Lola é amante da sua chefe na empresa, Elisa, que constantemente sobrecarrega Lola de tarefas e de cobranças. Lola vive um mundo de assédios morais e sexuais por parte dos colegas e parceiros na empresa, e passa a questionar a sua sanidade mental e se a doença é hereditária. Bom drama, que se sustenta muito por conta do talento das atrizes, principalmente de Marie e de Pia, viscerais em cenas muito pungentes e dramáticas. É um filme de certa forma moralista, por colocar a mulher independente e bem sucedida em um lugar de emoções frias e narcisistas. Achei o filme bem longo e em determinando momento cansou.

O jovem caçador

"El cazador", de Marco Berger (2020) O cineasta argentino Marco Berger é um dos mais famosos e premiados autores do cinema LGBTQI+ no mundo. Estreou com "Plano B', depois vieram 'Ausência", "O loiro", "Taekwedo"e "Tensão sexual" e muitos outros. A sua câmera sempre capta com extrema sensualidade os corpos masculinos, e os olhares exalam tesão como poucos filmes o fazem. Agora com "O jovem caçador", Berger competiu no prestigiado Festival de Rotterdan. Diferente de seus outros filmes, o investimento agora é no suspense. A primeira parte do filme acompanhamos Ezequiel (Juan Pablo Cestaro), um jovem de classe média alta de 15 anos. Seus pais saem de férias e ele fica um mês sozinho em casa. Ezequie é gay enrustido, e traz a cada hora um amigo para curtirem o dia em casa e pernoitar por lá. Discretamente, Ezequiel procura seduzir cada amigo, mas a tática não funciona. Com os hormônios me ebulição, e repleto de tesão, Ezequiel se desespera. Ao frequentar a pista de skaate, ele conhece um rapaz mais velho, Mono, com quem cria amizade. Ezequiel o leva para casa e ficam amigos. Um dia, Mono leva Ezequiel para pernoitar na casa de seu primo, Chino. Mono e Ezequiel acabam transando. Aí começa a segunda parte do filme. Mono some,e Ezequiel insiste em mandar mensagens para ele, sem sucesso. Até que Mono responde com uma mensagem e um vídeo: a transa deles foi gravada por Chino, que começa a chantagear Ezequiel. Ele disse que vendeu o vídeo, com os rostos desfocados para um site e quer que Ezequiel forneça vídeos de sexo dos amigo dele, caso contrário, ele irá postar o vídeo e viralizar. Ezequiel desespera, e começa a fazer amizade com o jovem Juanito (Lautaro Rodriguez) , de 14 anos, que ele sabe que está a fim dele. Berger continua explorando a tensão sexual e a sensualidade de seus personagens, mas dessa vez, sem nudez e sexo, pois o elenco é menor de idade. Os atores que interpretam Ezequiel e Juanito são ótimos e captam bem a essência do filme e a sua visceralidade. Um filme bem dirigido e bem fotografo, com uma trilha sonora às vezes exagerada no tom de suspense. O filme traz uma mensagem e um alerta para uma geração que compartilha vídeos e que faz sexo deliberadamente, sem medir as consequências.

Guia sexual para o segundo encontro

"A Guide to Second Date Sex", de Rachel Hirons (2019) Adaptação da peça teatral escrita e dirigida pela inglesa Rachel Hirons, ganhando prêmios e fazendo muito sucesso nos palcos. De produção independente e com baixo orçamento, Rachel Hirons estréia na direção de cinema com uma comédia deliciosa, com texto baseado em centenas de entrevistas com jovens millenials relatando seus medos, aflições, micos, alegrias nos primeiros encontros com o parceiro/a. O resultado é um festival de gargalhadas, protagonizado por 2 excelentes atores da nova geração inglesa: Alexandra Roach, de "Killing Eve", e "George Mackay, protagonista do mega filme de ação "1917", e que aqui, explora bastante a sua veia cômica, surpreendendo com muita desenvoltura o papel do jovem inseguro que tem angústia de tudo dar errado na hora do sexo. Após m primeiro encontro ao acaso em uma boite, Laura e Ryan decidem marcar um segundo encontro. No primeiro, encheram tanto a cara que acabaram nem se conhecendo melhor. Agora sóbrios, decidem dar uma chance a um relacionamento novo. Laura rompeu um relacionamento com seu namorado de 6 anos, depois dele se assumir como gay. Ryan rompeu com a ex depois que ela o traiu com seu amigo. Tudo acontece de errado: Laura, achando que o 2o encontro era apenas cinema e jantar, esqueceu de se depilar. Ryan coloca o filme "Segundas intenções" para ver se Laura se excita na cena do beijo lésbico. Para uma estréia no cinema,a diretora Rachel Hirons se apropria bastante dos reduzidos cenários, explorando bem os ambientes e dando bastante ritmo na edição. Mas seu grande trunfo são os atores: além dos protagonistas, o time de coadjuvantes é maravilhoso ( atores ingleses!!!). A cena da mãe de Laura dando spray de aromatizador de banheiro na filha é sensacional!

sexta-feira, 29 de maio de 2020

O mundo em sua janela

"The World in Your Window", de Zoe McIntosh (2017) Puta que o pariu, que filme lindo! Premiado em diversos festivais, incluindo o prestigiado Clermont Ferrand, esse curta co-escrito e dirigido pela cineasta Neo-Zelandesa Zoe McIntosh é uma fábula realista que envolve 3 pessoas totalmente marginalizadas pela sociedade, vivendo em um acampamento de sem terras. Um menino de 8 anos, seu pai, em eterno luto pela morte de sua esposa e sem forças para nada, e uma vizinha transsexual, que se torna amiga do menino. O garoto passa o dia todo solitário,e com a ajuda da amiga trans, eles vão ao centro fazer compras de necessidades básicas. De noite, o pai brinca com seu filho de jogo de sombras, usando uma caixa onde ele ilumina fotos. Quando o filho coloca a foto de sua mãe na caixa, o pai fica transtornado. Talento incrível da diretora em dirigir, enquadrar e trazer uma atmosfera de improviso ao filme, quase sem diálogos. Performance arrebatadora do pequeno David Lolofakangalo Rounds, e também de Lena Regan, como a amiga trans, e de Joe Folau, como o pai. Poesia pura no meio de tanta tragédia e falta de perspectiva.

Tempo com você

"Tenki no ko, de Makoto Shinkai (2019) Com um feito extraordinário de ter sido escolhido pelo Japão para representar o país à uma vaga ao Oscar de filme estrangeiro em 2020, "Tempo com você" repete a façanha de "A princesa Mononoke", de 1997, sendo os dois únicos animes que seguiram à uma indicação pelo País para o Oscar. Makoto Shinkai, que escreveu e dirigiu o filme, ficou famoso mundialmente após o mega sucesso internacional da fantasia romântica "Seu nome", cujos direitos Steven Spielberg comprou para transformar em live action. "Tempo com você" vai na mesma vibração que "Sue nome": amor entre adolescentes, mundos paralelos, fantasia e uma força mágica que separa os apaixonados. Hodaka é um jovem de 16 anos que sai de sua ilha para Tokyo, abandonando a família e disposto a vencer na cidade grande. Chove torrencialmente em Tokyo durante meses. Hodaka sofre com a falta de oportunidade de empregos, por ser menor, e acaba dormindo na rua. Ele decide procurar Saga, um homem que o salvou na viagem de navio, e vai trabalhar para ele: uma revista cujas matérias falam sobre lendas urbanas e ocultismo. Ao fazer entrevista sobre suposta 'Garota do sol", Hodaka acaba conhecendo Hina. Ele a salva de aliciadores de menores. Logo Hodaka descobre que Hina é uma garota do sol e tem poderes para fazer parara chuva e fazer surgir o sol em determinada região. Eles se juntam e ganham dinheiro fazendo parara chuva em lugares aonde haverão eventos. Mas essa alteração no curso da natureza fará com que um grande dilúvio caia sobre a cidade. E somente um sacrifício poderá parar a tragédia. O filme tem uma denúncia clara que é a ação do homem contra a natureza, a como ela reage a isso. Como pano de fundo, o filme traz uma bela história de amor, daquelas bem de primeiro amor, repleto de ingenuidade e romantismo. Os traços da animação surpreendem com o uso de computadores, e tem momentos realmente primorosos. Achei o filme longo, com quase duas horas de duração, e na comparação com "Seu nome", esse filme sai perdendo. Mas a criatividade do diretor Makoto Shinkai é tão grande, que vale super assistir a esse filme que ganhou diversos prêmios internacionais.

O dragão da maldade contra o Santo guerreiro

"O dragão da maldade contra o Santo guerreiro", de Glauber Rocha (1969) Vencedor da Palma de melhor direção em Cannes 1959, dividido com o techo Vobtech Jasny por “Todos os meus compatriotas”, “O dragão da maldade contra o Snato guerreiro” é a continuação de “Deus e o Diabo na terra do sol”, lançado em 1965. Na história, a continuação de Antonio das Mortes (Mauricio do Valle) acontece 29 anos depois que ele matou o último cangaceiro da região, Corisco. Antonio perde a sua razão de ser, que é a de matar os cangaceiros. Quando ele é procurado pelo Delegado Mattos (Hugo Carvana), que vem a mando do Coronel Horácio (Jofre Soares) para matar o cangaceiro Coirana (Lorival Pariz) e seu bando, Antonio recupera a sua sina de matador e parte para a cidade. Lá, ele conhece Laura (Odete Lara), esposa do Coronel mas amante do Delegado, que promete levar ela para fora daquele lugar, e o professor (Othon Bastos), desiludido com o rumo da questão social e política da cidade. Antonio duela com Coirana e o fere. A Santa que protege o bando de Coirana se aproxima de Antonio das Mortes, que a partir daí, muda radicalmente a sua postura e passa a se preocupar cm os pobres e os necessitados. Primeiro filme colorido de Glauber, realizado depois da obra-prima “Terra em transe”, “O Dragão”..” é um dos filmes favoritos de Martin Scorsese, que inclusive apresentou para o seu elenco de “Gangues de Nova York”, a famosa cena de duelo entre Antonio e Coirana, em que lutam como segue a tradição: com um pano na boca de cada um, que só deverá cair quando um dois dois morre. A fotografia de Affonso Beatto intensifica as cores ds figurinos e da direção de arte, e é de uma extrema beleza, alternando no mesmo quadro com a aridez da região. A figura de Odete Lara, vestida de roxo, caminhando no sertão com flores coloridas na mão, é um daquele momentos mágicos do cinema, junto da famosa cena do duelo. O filme tem uma narrativa totalmente diferente de “Deus e o Diabo..”. O filme é uma grande ópera cinematográfica, encenada no sertão. Misturando elementos dos faroestes e do Teatro de Cordel , Glauber vislumbra uma obra alegórica de intensa metáfora com a ditadura vigente no País.

Pequeno Joe

"Little Joe', de Jessica Hausner (2019) Vencedor em 2019 da Palma de Ouro em Cannes de melhor atriz para a inglesa Emily Beecham, "Pequeno Joe" é uma homenagem aos filmes de ficção científica e terror psicológico de diretores como Don Siegel e seu "Vampiros de almas" e "Invasores de corpos", de Philip Karffman passando por David Cronemberg e seus experimentos científicos com a mente e corpos humanos. Alice é uma pesquisadora de área genética de um laboratório que cria novas plantas. Junto de sua equipe, ela cria uma planta, apelidada de "Pequeno Joe" (Alice tem um filho pequeno chamado Joe) que tem o dom de trazer felicidade às pessoas que cuidam delas, dando água, carinho e conversando ( tipo o Tamagoshi, para quem lembra). No entanto, uma das cientistas, Bella, fala para Alice que o pólen da flor pode trazer sérias consequências ao cérebro da pessoa e que possivelmente a flor está tentando se reproduzir utilizando os seres humanos. Alice no dá muitos ouvidos à Bella e traz para casa uma das flores, para que sue filho Joe cuide dela. Mas com o passar dos dias, Alice estranha o comportamento de todos no trabalho, como Bella havia previsto, e procura entender se a planta realmente é a responsável. Um filme que mistura gêneros : drama, terror, ficção científica) é um grande feito para concorrer em Cannes na competição oficial, e ainda ganhar a Palma de atriz. Mas em um ano onde atuações femininas como a da atriz de "Parasita", que interpreta a mãe pobre, e Sonia Braga em "Bacurau", é de estranhar essa escolha. Emilly está bem no filme, mas não surpreendente. Aliás, o filme promete mais do que oferece. O suspense é anunciado, mas nunca cumprido, e a ajuda vem da estranha trilha sonora que evoca instrumentos ríspidos e música oriental. O ritmo é bastante lento, e os personagens não são muito carismáticos, difícil torcer por alguém ali. Mas vale pela curiosidade, de se revisitar um gênero de forma autoral. Os efeitos da flor são discretos, mas eficientes. A fotografia de Martin Gschlacht, do excelente terror "Boa noite, mamãe", ajuda a dar a atmosfera que faltou para o roteiro. No final, penso que o filme é uma metáfora sobre a vida da mulher moderna, mãe solteira, independente, que mal dá conta de sua vida pessoal em detrimento da profissional e que encontra em sue filho todas as desculpas para o seu mundo infeliz.

Uma noite de aventuras

“Adventures in babysitting”, de Chris Columbus (1987) Difícil imaginar o cinema de entretenimento sem Chris Columbus. Tanto como roteirista, produtor ou diretor, alguns dos maiores clássicos do entretenimento tem o seu toque. Roteirista de “Os Goonies”, diretor dos giga sucessos “Esqueceram de mim 1 e 2”, “Uma babá quase perfeita”, “Harry Potter 1 e 2”, entre outros. Mas muito pouca gente sabe que ele estreou na direção em 1987 com esse clássico juvenil “Uma noite de aventuras”, uma releitura de “Depois de horas”, de Martin Scorsese, onde durante uma noite, absolutamente tudo dá errado na vida da babá Chris (Elisabeth Shue) e das três crianças que ela toma conta, a pequena Sara (Maia Brewton) e os pré adolescentes Brad (Keith Coogan e Daryl (Anthony Rapp). Após levar um fora de seu namorado, Chris aceita tomar conta dos irmãos Sara e Brad. Mas quando uma amiga de Chris, Brenda (Penelope Ann Miller, em início de carreira, divertidíssima) liga para ela pedindo ajuda para buscá-la na rodoviária do cidade, Sara se vê numa grande enrascada. Ao sair com as 3 crianças para ir buscar Brenda, eles acabam se envolvendo com mafiosos, um motorista de guindaste e toda a sorte de encrenca. É incrível como os anos 80 definitivamente foi uma época onde não havia o mínimo pudor com o politicamente correto. Em determinado momento, Daryl pergunta para Sara se ela pode estuprá-lo. Brad diz à Sara que o Thor, que ela admira, é homossexual. Daryl paquera uma prostituta na rua. Duas gangues de rua chamam Chris de puta. Daryl é punheteiro e carrega com ele uma revista Playboy. É um tapa na cara do conservadorismo que o cinema de entretenimento se transformou, quase 35 anos depois. Chris Columbus acerta totalmente a mãe em sua estréia, com um filme ágil, divertido, e um elenco espetacular: Elisabeth Shue está super carismática, engraçada e nas horas de ação ela se dá muito bem. Esse filme foi um dos pontapés para a ascenção de sua carreira. As 3 crianças estão brilhantes, muito talentosas e agindo mesmo como crianças de suas idades. Nisso Chris Columbus é mestre. Vincent D’onofrio, também em início de carreira, faz uma maravilhosa participação como o dono da oficina mecânica que a menina Sara confunde com o Thor. Mas a melhor cena é o do Blues, com Chris e as crianças sendo obrigadas a cantar Blues em uma casa de shows, após fugir dos mafiosos. Um filme gosto de ver e que garante altas gargalhadas.

quinta-feira, 28 de maio de 2020

Pernoite

"Sova over", de Jimi Vall Peterson (2018) Escrito e dirigido pelo sueco Jimi Vall Peterson, "Pernoite" é um belo curta LGBTQI+ sobre a amizade de dois adolescentes. Melhores amigos, Simon e Hjalmar vão para o cinema e antes da sessão, programam as atividades que farão com as garotas da escola que toparam sair com eles. Hjalmar decide dormir na casa de Simon para pernoitar lá. Durante a madrugada, já deitados na cama, Hjalmar observa Simon dormindo, encantado. SImon de repente acorda e observa o amigo o observando de uma forma carinhosa.e apaixonada. Quando tudo leva a crer que irá rolar um algo a mais, Simon se vira na cama e fica de costas para Hjalmar. No dia seguinte, durante oo café da manhã, nada mais será o mesmo. Um filme simples, com apenas dois atores mas filmado com bastante sensibilidade pelo diretor e boa performance dos dois jovens atores. É um filme que fala sobre possibilidades, paixões platônicas e silêncios.

Meu nome é Tonho

“Meu nome é Tonho”, de Ozualdo Candeias (1969) Listado entre os 100 melhores filmes brasileiros pela Abraccine, “Meu nome é Tonho” é um bizarro e sensacional faroeste dirigido pelo cineasta do clássico “A margem”, realizado 2 anos antes e o filme que deflagrou o movimento do cinema marginal no Brasil. Pesquisei sobre o filme, que eu jamais tinha ouvido falar, e uma história de bastidores que eu li é absolutamente genial e merecia um filme por si só: Ozualdo Candeias trabalhou com José Mojica Marins como assistente de direção, produtor e co-diretor em várias produções. Mojica tinha uma escola de interpretação e constantemente convocava os alunos para os seus filmes. Ozualdo resolveu também chamar os alunos para estarem no elenco do seu filme. Mas Ozualdo, sabendo que os alunos eram amadores e muito crus, estabeleceu uma das diretrizes mais estranhas da história do cinema: praticamente sem diálogos, todos do elenco, principalmente os vilões, ao invés de falarem, deveriam gargalhar e rir. O mais louco é que eles riem em cenas onde inclusive, estão sendo mortos. Uma cena que também merece entrar para a história é quando Tonho ( Jorge Karan), o herói d filme, cruza na estrada com um peão e absolutamente do nada, mas do nada mesmo, o cavalo onde Tonho está e a égua onde o peão está resolvem transar. E Tonho e o peão começam a gargalhar! É um momento tão esdrúxulo, que chega a ser poético e comovente pela pureza e ingenuidade dos envolvidos. O filme foi rodado na mesma cidade do clássico “O cangaceiro”, de Lima Barreto: Vargem Grande do Sul, interior do estado de São Paulo. A história é comum aos faroestes da época, que têm como tema a vingança. Ozualdo pega um pouco da trama de “Rastros de ódio” e mistura com filmes de Sergio Leone. Tonho quando criança foi sequestrado pelos ciganos e conviveu com eles. Já adulto, resolve sair da comunidade e seguir o mundo. No caminho, ao chegar em um bordel, ele conhece uma bela jovem (Bibi Vogel) e descobre que ela é sua irmã. Sem contar para ela, ela narra que toda a família foi assassinada pelo bando de Manelão (Nivakdo Lima, sensacional). Tonho resolve se vingar então do bando, que massacrou várias famílias para ficar com as posses. Deliciosamente divertido pela pouca estrutura mas mesmo assim convincente, “Meu nome é Tonho” é uma quase paródia do universo dos western spaghetti, uma brincadeira que já começa no titulo comum aos filmes do gênero. Hoje em dia, o filme poderia ser visto por parte do público como sendo um exemplar de em cinema trash, tal a canastrice do elenco. Mas a delícia do trash, quando bem-feito, é se divertir com esse amor à arte, ao cinema, que mesmo em quesitos técnicos falhos, tem o seu valor histórico e cultural. Uma verdadeira pérola do cinema brasileiro.

Shooting heroin

"Shooting heroin", de Spencer T. Folmar (2020) Drama devastador baseado em fatos reais, apresenta uma cidade do interior da Pensylvannia, Whispering Pines, destruída por uma epidemia de heroína. Traficantes aliciam estudantes e moradores e a solução encontrada por alguns moradores é se vingar dos traficantes. A sinopse do filme parece que vai nos apresentar um filme de ação no estilo vingativo de "Desejo de matar", mas não é. Apesar de tratar do tema da justiça pelas próprias mãos, o filme procura dar ouvidos aos dois lados da moeda. O que na verdade existe, e em algum momento um personagem diz que não somos nós, não é a cidade, nem o País, é o sistema. Um sistema que permite um médico prescrever quantos anfetaminas quiser para um paciente e o farmacêutico vender sem problemas na farmácia. Ou um traficante vender na escola. O filme tem um poderoso trabalho de atores defendidos por um bom roteiro e uma boa direção. Duas grandes musas dos anos 80 e 90 retornam aqui com grande performances comoventes: Sherilyn Fenn, de "Twin Peaks", interpreta uma mãe de dois meninos mortos por overdose, e Cathy Moriarthy, que interpretou a esposa de Jack la Motta em "O touro indomável", interpreta a mãe do protagonista, Adam ( Alan Powell, excelente). Os outros atores também estão muito bem defendidos por muito bons atores. E um drama que expõe o drama das drogas, e a um primeiro olhar pode parecer moralista, mas o filme fala justamente de pessoas que perderam seus entes queridos. É bem contundente.

Straight up

"Straight up", de James Sweeney (2019) Exibido em diversos festivais, “Straight up” é uma deliciosa comédia romântica com doses de drama, no estilo de “Harry e Sally feitos um para o outro”, mas em versão LGBTQI+. Escrito, dirigido e protagonizado pelo jovem James Sweeney, que interpreta o protagonista Todd. É um excelente exemplo de filme realizado para promover um artista, e James Sweeney surpreende em seu filme de estréia, com bastante domínio de cena e com uma performance que surpreende pela dificuldade do personagem, que é portador de Toc. O roteiro do filme é bastante atual e complexo: o filme discute questão de gênero, sobre se aceitar em se colocar em um rótulo. Todd desde criança foi chamado de gay na escola por ser delicado. Todos os seus amigos acham que ele é gay. Todd nunca namorou e nem fez sexo. Todd se acha hetero e decide provar a todos que pode namorar uma mulher. Ao conhecer Rory (Kate Findlay, excelente) por acaso em uma biblioteca, eles se conecta imediatamente: ela é atriz, mas frustrada por nunca conseguir passar em um teste. Ela veio para Los Angeles para poder trabalhar naquilo em que acredita, mas o sonho vai ficando cada vez mais distante, pois ela se torna com baixa auto-estima. Sem dinheiro, ela aceita o convite de Todd de ir morar na casa dele. Logo Todd pergunta se Rorey pode ser sua namorada, mas sem sexo. Rorey aceita e socialmente se apresentam como namorados. Mas logo Rorey entende que essa relação não está lhe fazendo bem e diz a Todd que quer fazer sexo com ele. Um amigo gay de Todd o recrimina acusando ele de ser um homofóbico por não se aceitar como gay, e Todd entra em crise. Com diálogos muito bons, dinâmicos e super entrosados com a geração dos 20/30 anos, que esperam oportunidades na vida, sejam elas pessoais ou profissionais, o filme dialogo com vários públicos; hetero, gay, jovens ou adultos. É uma delicia de se assistir, e ainda traz um time de ótimos jovens atores, todos desconhecidos mas bastante talentosos.

quarta-feira, 27 de maio de 2020

Copperman: um herói especial

"Copperman: Um herói especial", de Eros Puglielli. Drama com doses de realismo fantástico, que certamente buscou referências em "Amelie Poulain", tanto na narrativa, quando na fotografia, direção de arte e trilha sonora. Alternando momento de drama, fantasia e lúdico, o filme narra a história de Anselmo, que desde criança cresceu em um pequeno vilarejo no interior da Itália. Anselmo mora com a sua mãe, e diz que o pai dele virou super-herói e foi salvar o mundo. Anselmo coleciona revistas de heróis e sonha em ser um também. Anselmo tem uma condição: ele é autista, e isso o faz ser motivo de bullying na escola e na vizinhança. Quando Anselmo conhece Titti, seu mundo muda: ela o trata de igual para igual, e Anselmo promete se casar com ela. Mas o violento pai de Titti o repele, chamando-o de retardado e vai embora da cidade com Titti. 2 décadas depois, Anselmo ganha uma armadura de cobre feita pelo seu amigo Silvano, e a partir de agora, ele é Copperman, o herói que vai salvar quem necessite de sua ajuda. Até que ele reencontra Titi. Queria muito ter gostado do filme, mas fiquei meio perdido sme entender qual era o público alvo. Tem horas que parece ser bastante infantil, outras ele se torna violento e traz insinuações de incesto, além de ter um personagem que assedia sexualmente as mulheres, batendo nelas e ameaçando de estupro. Mas o bom trabalho do elenco, tanto infantil quanto adulto, e a excelência da ficha técnica me deram bastante interesse, mais do que o roteiro. O ator Luca Argentero, que interpreta Anselmo adulto, era um ex-modelo que se tornou ator, e aqui ele tem o grande desafio de interpretar um personagem autista.

A marvada carne

"A marvada carne", de André Klotzel (1985) Listado entre os 100 melhores filmes do cinema brasileiro pela Abraccine, "A marvada carne" é o filme de estréia do cineasta paulista André Klotzel, recém saído da Eca Usp. O filme venceu 11 Kikitos no Festival de Gramado em 1985, e foi convidado para ser exibido no Festival de Cannes. Ambientado no interior de São Paulo, o filme conta a história de Quim (Adilson Barros, encantador) , um matuto que tem o desejo de comer carne. Ao seguir até a capital, ele esbarra com Carula (Fernanda Torres sensacional), uma caipira de família pobre que tem o desejo de se casar, rezando o tempo todo para Santo Antônio. Ao conhecer Quim, ela diz a ele que se casar com ela, o pai (Dionísio Azevedo) mata um boi para fazer uma festa. Quim aceita e se casa com Carula. Trabalhando na roça, o casal tem 2 filhos. Mas Quim descobre que o papo do boi era mentira e resolve fazer um pacto com o demônio: vender uma galinha preta e comprar carne. Ao receber o dinheiro, Quim segue até a capital para finalmente, comprar carne. Fazendo uma homenagem ao cinema do homem simples do interior, celebrizado por tipos como Mazzaropi, "A marvada carne" faz também uma representação da pobreza no País, mostrada tanta na rotina de extrema pobreza das famílias do interior quanto nos saques na capital, em uma cena onde a população invade um supermercado e rouba tudo. A fotografia de Paulo Farkas é linda, representando bem as cores da terra marrom da roça. Uma cena antológica de extrema beleza: as famílias da roça criando um mutirão para construir um galpão e depois, a festa no mesmo local. Regina Casé fz uma divertida participação como a Curupira.

O despertar dos mortos

“Dawn of the dead”, de George Romero (1978) O clássico dos clássicos dos filmes de Zumbis, “O despertar dos mortos” foi lançado 10 anos depois do cult “A noite dos mortos vivos”. O filme é uma continuação, dessa vez colorida, da tomada dos mortos vivos, que dominam o mundo. A frase do pôster para mim é uma das mais criativas e chamativas da história: “Quando não houver mais espaço no inferno, os mortos caminharão sobre a Terra.” Já dá o tom exato do filme que será visto. O filme é uma co-produção Estados unidos e Itália. O mestre do cinema de terror italiano Dario Argento foi co-roteirista junto de George Romero. Tom Savini, um dos maiores artistas de próteses e maquiagem dos filmes de terror ( concebeu as mortes na franquia “Sexta feira 13”). A banda “Goblins”, que fez a trilha de quase todos os filmes de Argento, assina a sensacional trilha de “O despertar dos mortos”, alternando momentos de tensão e também criando trilha divertida para os momentos de paródia consumista. Ousado, Romero lançou o filme com 130 minutos de duração, uma duração longa para um filme de terror. Aqui, ele lançou praticamente todo o Abc de filmes de zumbis, incluindo o mote de que a ameaça aos sobreviventes não são apenas os zumbis, mas também a própria raça humana. A trama do filme é bem simples: sobreviventes se escondem em um shopping center e lutam contra zumbis e um grupo de motoqueiros rebeldes. O grande lance e o fator desse filme ter entrado na ista dos 500 melhores filmes da história pela revista ‘Empire”, é a forte crítica ao consumismo e materialismo. Os zumbis seguem para o shopping pois eles estão com a memória das ações que eles faziam em vida, que é comprar. Em um mundo destruído, os motoqueiros querem roubar dinheiro e jóias. Os tipos também que interpretam zumbis são sensacionais; tem freira, hare krishna, crianças. Tom Savini participa interpretando o chefe dos motoqueiros, e George Romero faz um diretor de tv.

Picardias estudantis

"Fast Times at Ridgemont High", de Amy Heckerling (1982) Clássica comédia adolescente de 1982, é um filme repleto de pedigree tanto na frente quanto atrás das câmeras. A direção é da cineasta Amy Heckerling, diretora de "As patricinhas de Beverly Hills"; o roteiro é do cineasta Cameron Crowe, adaptado de seu livro autobiográfico que narra sua rotina na Southern California high school; o elenco é composto pelos então jovens e desconhecidos atores Sean Penn, Jennifer Jason Leigh, Forest Whitaker, Eric Stoltz, Judge Reinhold e Nicholas Coppola, que vem a ser Nicolas Cage antes de firmar seu nome artístico e usar o sobrenome do famoso tio. O filme é tudo o que se espera de um filme com adolescentes em ponto de ebulição: sexo, drogas e rock'n roll. A diferença é que aqui, mesmo sendo comédia, procura um tom mais realista, sem ser muito chamchadesco. Isso se deve muito à direção, ao roteiro e aos atores, que mesmo em início de carreira, já mostram talento. Mas o destaque absoluto vai para Sean Peen em seu papel antológico de Jeff Spicoli, um aluno maconheiro típico californiano. Os seus olhos sempre vermelhos, a dicção e a postura corporal evocam um maconheiro mega divertido, sem cair na caricatura. Dá muita vontade de ver Sean Penn voltando afazer comédias. Entre as cenas antológicas, tem uma que é sempre comentada: Jennifer Jason Leigh na escola aprendendo a fazer sexo oral usando cenouras. Hilário.

Os terroristas

"Poo kor karn rai", de Thunska Pansittivorakul (2011) Documentário LGBTQI+ tailandês que concorreu no Festival de Berlin, é um dos filmes mais estranhos e sem lógica que já assisti. O filme parte da sangrenta guerrilha que consome a Tailândia, que em 2010, assassinou mais de 4000 civis. Nos letreiros iniciais, o roteirista coloca um texto dizendo que irão se vingar dos assassinos do povo e que o filme é uma forma de mostrar a violência imposta contra a população. Entre cenas documentais de guerrilha, mortes, ataques terroristas, o diretor insere cenas aleatórias de jovens se masturbando, e até uma onde um militar masturba um prisioneiro em cena explícita. Não sei a metáfora entre a pornografia e a violência na masturbação, mas para espectadores que adoram homoerotismo pornográfico em filmes de arte, esse é uma boa pedida.

terça-feira, 26 de maio de 2020

O despertar da Besta

"O despertar da Besta", de José Mojica Marins (1970) Listado entre os 100 melhores filmes brasileiros pela Abraccne, "O despertar da Besta"foi lançado em 1970 com o título de "O ritual dos sádicos". Porém o filme foi proibido pela ditadura e somente liberado para exibição nos anos 80. Certamente um dos filmes mais polêmicos realizados no Brasil, o filme é um festival de perversões sexuais e o maior de todos os escândalos, pela primeira vez o uso explícito de Lsd é filmado no Brasil. O filme já começa com uma jovem aplicando em detalhes uma seringa em seu pé. O filme é dividido em duas partes: a primeira, em preto e branco, são episódios isolados e independentes apresentando situações narradas por um psiquiatra relatando casos reais de perversidade sexual: orgias, coprofagias, estupros, suicídio, zoofilia, vale tudo nesse mundo bizarro de Zé do Caixão. Na 2 parte, que começa em preto e branco, um psiquiatra e José Mojica Marins fazem um debate acerca do uso do Lsd: o psiquiatra defende que a droga não interfere no comportamento de ma pessoa, quem tem tendência a ser assassino será independente do uso da droga. Já José Mojica defende que o Lsd intere sim, e para provar, ele manda convocar 4 voluntários para usarem Lsd e olharem para o poster de um filme do Zé d Caixão. A partir dái, o filme fica colorido, apresentando os 4 voluntários no inferno, sendo recepcionados pro Zé do Caixão que mostra todo os tipos de atrocidades. Fico imaginando a sensação de se assistir a esse filme na época do lançamento, em 1970, a loucura que não deve ter sido. Hoje sôa como um filme trash, mas na época deve ter sido realmente aterrorizante, ainda mais com a trilha sinistra e os gritos contínuos das mulheres. "Ele está certo: é a força do homem, e a submissão da mulher". Essa frase é dita por um personagem em deter minado momento,e sintetiza os filmes de Zé do CaixãoL acusado por muitos como misógino, por cinta da representação das mulheres em seus filmes: espancadas, violentadas, assassinadas. Não sei o que é dito de seus filmes nos dias de hoje, dentro do olhar politicamente correto, mas certamente, Zé não fez filmes para agradar ninguém.

Os irmãos cara de pau

"The blues brothers", de John Landis (1980) Mega clássico da comédia de ação musical, "Os irmãos cara de pau" é cultuado no mundo inteiro, tanto pelo filme em si, que é uma insanidade à toda prova, quanto pela sua trilha sonora repleta de blues que fizeram a cabeça de muita gente. Mas nada é mais antológico do que a figura dos irmãos Joliet Jake (Jim Belushi) e Elwood (Dan Aykroyd). Por alguma inspiração divina, a caracterização dos dois é copiada eternamente. Até Tarantino copiou o visual deles em "Cães de aluguel": chapéu preto, óculos escuros, terno e sapatos pretos. Eles passam o filme inteiro com o mesmo figurino e mesmo na cena da sauna eles mantêm o chapéu e os óculos. John Landis era um cineasta em ascenção depois do sucesso de "O clube dos cafajestes". Em sua carreira, consta pelo menos 3 grandes clássicos: Além de "The blues brothers", ele filmou "Um lobisomem americano em Londres", e o icônico videoclip "Thriller", de Michael Jackson. eu assisti a esse filme na infância e esqueci como o filme é grandiloquente, e só pensei no orçamento para tanta figuração, tanto carro destruído e tanto evento. Li que destruíram 103 carros. As cenas de destruição rivalizam com "Transformers": tem uma cena épica onde eles invadem um shopping center e destroem absolutamente tudo, com a polícia atrás deles. É uma cena impressionante! Jim Belushi tinha um tipo de performance muito peculiar, que lembra o estilo totalmente cool de Bill Murray: muito triste que ele tenha falecido em 1982, por overdose de cocaína e heroína. Ele e Dan Aykroyd são muito sensacionais em seus personagens, criando um estilo de interpretação que lembra muito Jacques Tati e Buster Keaton: quase não esboçam reações. O filme tem duas versões, de 133 e 148 minutos. Assisti a essa versão de quase 2:30 , e incrível que o filme não perde o ritmo em momento algum. As cenas musicais são antológicas: Aretha Franklyn, Ray Char;es, Cob Calloway e James Brown tem números épicos cada um. O elenco de apoio tem o reforço de grandes estrelas: Carrie Fisher, John Candy, Chaka Khan, Frank Oz e muitos outros fazendo pontas. O roteiro, co-escrito por Dan Aykroyd, traz os irmãos Jake, que eram sucesso no programa 'Saturday night live", como dois malandros que resolvem ajudar o orfanato de onde vieram a arrecadar 5 mil dólares, e evitar de ser vendido. Para isso, resolvem remontar a banda The Blue Brothers. A missão agora é resgatar cada ex-integrante por Chicago e se apresentarem. Em seu encalço tem de tudo: policiais, cowboys e nazistas. O filem investe em um humor totalmente surreal e cáustico, onde vale absolutamente tudo. Obrigatório ser revisto sempre.

segunda-feira, 25 de maio de 2020

Instinto materno

"Duelles", de Olivier Masset-Depasse (2018) Excelente suspense belga, que traz elementos de Hitchcock à sua trama. O filme lembra dois cults dos anos 90: "A mão que balança o berço"e "Mulher solteira procura", sobre psicopatia entre pessoas além de qualquer suspeita. Nos anos 60, duas vizinhas são as melhores amigas. Alice (Veerle Baetens), mãe de Theo, e Celine (Anne Coesens), mãe de Maxime. Elas são tão íntimas que uma tem a chave da casa da outra e confiam sue filho à amiga. Um dia, Alice avista Maxime na janela e corre para avisá-lo a tomar cuidado, mas o menino cai no chão e morre. As duas famílias ficam devastada, mas logo Alice vai percebendo que Celine a culpa por não ter salvo seu filho. Com uma direção estilosa e delicada, que aproveita o trabalho das excelentes atrizes e as bota para dominar as cenas, o diretor Olivier Masset-Depasse recria um suspense elegante de época, sem ritmo frenético dos filmes atuais. É um filme que segue em seu ritmo, e vai construindo a história de forma a deixar o espectador em dúvida da personalidade de cada uma das protagonistas. A direção de arte e fotografia recriam bem a época. O final é devastador, saí arrasado.

À meia noite levarei sua alma

"À meia noite levarei sua alma", de José Mojica Marins *1964) Clássico maior do cinema trash no Brasil, o filme, de 1964, é a primeira produção de filme de terror brasileira. Listado entre os 100 melhores filmes brasileiros pela Abraccine, "à meia noite levarei sua alma" lançou o icônico personagem de Zé do Caixão mundo afora, ganhando até um nome em inglês, "Coffin Joe". Tão divertido quanto o filme, são as histórias de bastidores. José Mojica convidou todos os seus alunos de interpretação para atuarem no filme. Para poder financiá-lo, vendeu sua casa e seu carro. Em uma cena, o câmera se recusou a filmar e José apontou uma arma para ele para que ele filmasse. Em uma cidade do interior, Zé do Caixão é um famoso coveiro que trabalha no cemitério da cidade. A população o teme, mas mesmo assim, ele tem uma esposa que o ama e um casal de amigos. Zé deseja ter um filho que continue a sua saga, mas sua esposa é infértil e ele acaba matando-a. O que Zé agora deseja é desvirginar a noiva de seu amigo para que ela carregue no ventre o seu filho. No entanto, a bruxa da cidade faz uma previsão e diz que Zé terá um destino cruel. Realizado com parcos recursos técnicos, o filme seduz o espectador justamente pelo seu amadorismo, tanto nos efeitos, quanto nas atuações, e esse é o seu charme. O roteiro é uma delícia, e os diálogos divertidíssimos. .

O funcionário da noite

"The night clerk", de Michael Cristofer (2020) Um filme de suspense que conta com os super astros Tye Sheridan, Ana de Armas, Helen Hunt e John Leguizamo, de talentos inquestionáveis, não teria como dar errado. Ainda mais trazendo elementos de Hitchcock ( "A janela indiscreta") e um revival do cinema noir e suas Femme fatale. E como cereja de bolo, uma produção de baixíssimo orçamento, o que me chamou atenção pela presença desse elenco, que certamente confiou no projeto. Mas puxa vida, que frustração! COmo eu queria ter gostado desse filme. Adoro Tye Sheridan, acompanho seus trabalhos desde que ele fez o seu primeiro filme, "A árvore da vida", depois "Mud" e finalizando com o mega blockbuster de Spielberg, "O jogador número 1". Ana de Armas é a super estrela internacional da vez em Hollywood. Cubana, ela explodiu com a comédia de suspense "Entre facas e segredos" e agora é a bond girl no novo James Bond. A direção frouxa e o roteiro, ambos de Michael Cristofer ( seu último filme foi o razoável "Pecado original", com Antonio Banderas e Angelina Jolie") não ajudam muito nessa história de um jovem com síndrome de asperger e que também é um voyeur. Bart (Sheridan) trabalha como recepcionista noturno em um hotel mediano ae uma cidade do interior. Bart tem problemas de socialização, e por isso, ele coloca câmeras escondidas em algum quarto para observar o comportamento das pessoas e copiar. Quando Bart testemunha o assassinato de uma hóspede, acaba sendo colocado como suspeito pelo policial (Leguizamo). Bart é transferido para outro hotel da mesma rede e acaba conhecendo a hóspede Andrea (Ana de Armas), por quem acaba sentindo paixão platônica. Não é fácil interpretar um personagem com Asperger. Muitos atores o fizeram, alguns bem sucedidos. Mas Tye Sheridan, excelente ator, não teve sorte. Provavelmente por pedido de direção, que investe em caricaturas e excessos de trejeitos. Pior são s diálogos de seu personagens tiques, que torna alguns momentos até risíveis " toda vez que ele fica nervosos ele repete "oh boy, oh boy". Helen Hunt interpreta a sua mãe e quase não tem muita presença em cena. Ama de Armas traz sensualidade à sua personagem, mas é muito óbvia as suas ações. O filme tem um suspense que funciona de forma muito light, e faltou um ritmo maior na edição.

domingo, 24 de maio de 2020

A última noite de Boris Grushenko

"Love and death", de Woody Allen (1975) Rever essa obra-prima de Woody Allen foi uma experiência extremamente agradável: eu simplesmente não lembrava de como o filme é engraçado, cáustico e anárquico. Lançado em 1975, o filme já trazia elementos narrativos usados em seu filme seguinte, um de seus filmes mais conhecidos e premiados, "Noivo neurótico, noiva nervosa", que acabou faturando vários Oscar, entre eles, filme, direção, roteiro e atriz. Quebra da quarta parede, metalinguagem, monólogos existenciais, e principalmente, as muitas referências artísticas, literárias e cinematográficas. Allen bebe na fonte da literatura russa de Tolstoi, Dostoievsky e no cinema de Eisenstein, Bergman e Fellini. Talvez a sua maior superprodução, com centenas de figurantes, cenas da batalha , efeitos especiais, fico até imaginando o grande stress que não deve ter sido esse filme para o Woody Allen, além de trabalhar com uma equipe que ele mal conseguia se comunicar ( o filme foi rodado em Budapeste, Hungria e França). No século XIX, um homem está preso, aguardando o fuzilamento pelos franceses. Ele é o russo Boris Grushenko (Woody Allen), que se recorda de sua vida, desde a infância até as vésperas de sua prisão. Quando a Rússia entra em guerra contra Napoleão os homens são convocados para lutar. Covarde, Boris faz de tudo para não ir pro front. Mas vai obrigado, junto de seus dois irmãos. Boris é apaixonado por Sonja (Diane Keaton, na primeira parceria com Woody Allen). Mas Sonja só tem olhos para Ivan, irmão de Boris. Por um golpe do destino, Boris volta como herói e acaba se casando com Sonja. Quando Napoleão invade e Russia, Sonja arma um plano para assassiná-lo, e quer que Boris a ajude. Trazendo elementos de Bergman ( Persona e Sétimo selo, com as hilárias aparições da Morte) e planos da batalha que homenageiam "O encouraçado Potenkim", o filme traz uma eficiente cena de batalha que impressiona pela sua plasticidade. O mais anárquico é que no meio da batalha, aparece um time de cheer leaders lideradas por Woody Allen vestidos de universitários, além de um vendedor de cachorros quentes. O filme inteiro é essa piração, em uma fase que Allen não repetiria com tanta efusão, é um humor mais histriônico mas não menos engraçado. Allen está absolutamente genial, e Dianne está deslumbrante e a companheira ideal das idéias loucas de Allen. Uma cena antológica de Keaton: o diálogo dela com Jessica Harper, brilhante.

Os inconfidentes

"Os inconfidentes", de Joaquim Pedro de Andrade (1972) Como parte das comemorações aos 150 anos da Inconfidência mineira, o governo, sob o regime dos militares, promoveu que cineastas filmassem fatos históricos enaltecendo a história do Brasil. Dessa leva saiu o filme ufanista "Independência ou morte", e também, filmes críticos ao regime, como essa produção de Joaquim Pedro de Andrade. Claro que as críticas estão nas entrelinhas, para bons entendedores. A primeira imagem que abre o filme é um close em uma carne mutilada e repleta de moscas. No final, vemos a mesma imagem, dessa vez ja entendendo o contexto que é uma alusão ao corpo mutilado de Tiradentes, único dos inconfidentes punido com a morte. Sobre essa imagem chocante, toca a música "Aquarela do Brasil", de Ary Barroso, fazendo uma quase paródia ao ato violento que vemos na tela. Diferente de "Inconfidência ou morte"que aposta no espetáculo, com muito elenco e muita figuração ostentosa, aqui é um registro mais econômico e mais teatral, revelando em narrativa não linear, os antecedentes e o que viria a seguir durante o julgamento dos inconfidentes. José Wilker, Carlos Gregorio, Carlos Kroeber, Paulo Cesar Pereiro, Fernando Torres. Luiz Linhares e Nelson Dantas dão vida aos inconfidentes. Um grande elenco em atuações formidáveis, mesmo que em registro mais teatral. Margarida Rey, como , Rainha Maria de Portugal, também merece destaque, principalmente na cena onde profere a condenação de Tiradentes. Com forte crítica ao regime da ditadura, o filme faz alusões claras nas cenas de tortura e em diálogos onde os inconfidentes declaram o seu ponto de vista sobre a situação do Brasil ante a colonização portuguesa, enaltecendo o uso dos poderes e da força militar.

Uma grande aventura

"Watership Down", de Martin Rosen (1978) Fico imaginando que se eu tivesse assistido à essa animação quando criança, eu teria ficado com pesadelos até hoje. Uma das poucas animações a fazerem parte da Coletânia Criterion, dedicado a filmes essenciais da sétima arte, "Uma grande aventura" é adaptado do livro homônimo best seller de Richard Adams, lançado em 1972. O filme foi lançado em 1978 e foi um grande sucesso de crítica e público, apesar dos protestos de pais diante da extrema violência do filme. O filme inclusive ganhou um certificado de censura, e até hoje é o filme mais violento a ganhar ao certificado PG, para maiores de 13 anos. De produção inglesa, o diretor Martin Rosen escalou o melhor do elenco inglês para botar a voz nas fofas e nem tão fofas criaturas do filme, entre eles, John Hurt. Art Garfunkel compôs a bela canção "Bright eyes", que ilustra um momento emocionante do filme. O filme é muito violento e chocante, cm imagens explícitas de morte e pior, uma cor de sangue e machucados e arranhões realmente assustadores. Esse não é definitivamente um filme para menores. Imaginem coelhinhos que nem esse do poster, sendo devorados por gaviões, morrendo de tiros, massacrados por cães? É de fato assustador. um choque brutal. A história gira em torno do coelho Fiver, que tem o dom da premonição e avisa aos coelhos de seu grupo que uma grande tragédia se aproxima. Alguns coelhos acreditam, outros não. O general proíbe dos coelhos irem embora, mas eles fogem assim mesmo. Fiver guia o grupo até um lugar que ele acredita ser seguro. No caminho, eles lidam com predadores e homens que os ameaçam. Um filme forte, mas ao mesmo tempo, com traços na animação belíssimos, variando entre o desenho clássico e e o experimental. É uma obra primorosa, um filme adulto, com uma representação da floresta como filme de terror, mil vezes mais assustadora que em "Branca de neve", da Disney. Os olhos ameaçadores dos coelhos maus são uma imagem que demora a sair da mente, de tão realista que ela foram desenhadas, com profundo rancor e ódio. Uma mistura de lirismo, poesia, experimentação, metafísica e espiritismo. Imperdível.

Dirty

'Dirty", de Matthew Puccini (2020) Esse é um dos curtas LGBTQI+ mais lindos, brilhantes, sensíveis e formidáveis que eu já assisti, e olha que já vi milhares. Vencedor de prêmios nos mega prestigiados Festivais de Sundance e SWSX, o filme lida com dois temas fundamentais para um adolescente gay: a sua primeira vez, e pior, o maior de todos os pesadelos de um gay passivo: passar cheque com o seu namorado na primeira transa. Marco esta vivendo o seu Dia D: Sua mãe vai passar o dia todo fora de casa. Ele assiste a um filme pornográfico para ver como transar direito pela primeira vez. Na escola, ele se encontra secretamente com Graham, seu namorado. Os dois não são assumidos e fazem tudo com bastante descrição. Marco leva Graham até sua casa e se certifica que sua mãe não esta. No seu quarto, se beijam e quando partem para as preliminares, Marco pede um tempo para tomar banho. Ao transarem apaixonadamente, e se certificando que Marco não está sentindo dor, do nada, Graham para e resolve ir embora. Marco não entende porquê, até ver o sue lençol. Marco se desespera, morre de vergonha, Graham diz que isso é normal com qualquer um. Mas Marco fica tão envergonhado que não consegue mais encarar Graham. Se fosse dirigido por mãos erradas, esse filme seria um desastre. Mas a sensibilidade com que o diretor e roteirista Matthew Puccini filma é impressionante. O filme todo prepara o espectador para a cena da transa. A gente vive o lugar de Greg, sua ansiedade. As atuações dos jovens Morgan Sullivan, como Marco, e Manny Dunn, como Graham, são de tirar o chapéu. Uma verdadeira aula de como fazer um filme barato, apenas com 2 atores e um roteiro excepcional. O tema do filme é tratado de forma tão poética, sem escatologia, que deveria ser de utilidade pública e ganhar todos os prêmios.

Out

Out", de Steven Clay Hunter (2020) Filme pioneiro da Pixar por apresentar pela primeira vez um protagonista gay, Com apenas nove minutos, logo no início o filme diz se basear em uma história real. Um jovem Greg, está de mudança para outra cidade. Seu namorado Manuel pede para que ele se assuma para os seus pais, mas Greg não tem coragem. Um cão aparece na casa de Greg e ele resolve adotá-lo Greg desabafa com o cão que a vida ele é mais fácil pois não precisa passar pela situação dele de ter que assumir para os pais e deseja ser o cão. Nesse momento, magicamente, os dois trocam de lugar. Os pais chegam e Greg, agora em forma de cão, precisa esconder todos os indícios de vida gay em sua casa: seu porta-retratos com Manuel suas revistas eróticas. Uma maravilha esse filme, que usa a fantasia para poder fazer uma metáfora sobre a grande dificuldade dos gays não assumidos de serem aceitos por seus parentes e amigos. O filme ainda abusa da fantasia com cães mágicos que surgem nas casas das pessoas para ajudá-las em suas missões. Uma grande fofura e um filme importante para promover a educação e a aceitação de todos.

Minha vida é um desastre

"Better off dead", de Savage Steve Holland (1985) Cult da comédia adolescente de 1985, "Minha vida é um desastre" é um filme estranhíssimo, que o coloca num lugar diferenciado das outras comédias da década. Tem humor negro, uma pitada de surrealismo e elementos fantásticos, coisas bem estranhas mesmo. John Cusack, que na época tinha 18 anos, saiu da pré-estréia do filme xingando o diretor e o filme, afirmando ter sido o pior filme que ele viu e que se envergonhava bastante do seu trabalho. Vendo o filme hoje em dia, diria que foi um exagero da parte dele. É um filme bastante particular pro diretor, e os atores entrarem bem na onda dele. O personagem de Cusack é bem complexo: Lane tem uma namorada, Beth, que o troca por um instrutor de Ski na neve, que é o oposto de Lane: bonitão e atlético. Isso faz com que Lane tente se suicidar , mas todas as vezes ele falha ou não tem sucesso. A sua família é toda disfuncional: a mãe é uma dona de casa que tenta inventar comida para agradar o paladar da família, seu irmão menor é um nerd que inventa aparelhos, e que compra livros de prostitutas pelo correio; o pai é um advogado que teme o menino que faz entregas de jornal, que sempre quebra um vidro da garagem. Na vizinhança, ele conhece Monique, uma estudante francesa que faz intercâmbio e que se apaixona por ele. O filme tem todos aqueles estereótipos da comédia dos anos 80: gordofobia, machismo, deboche contra orientais e franceses...isso é o mínimo esperado. Mas o que realmente criou fama para esse filme, são os personagens e as situações bizarras, que fazem a gente pensar que o roteirista, que é o próprio diretor, tava muito doido e tomou ácido: Um dos amigos de Lane é um drogado que, por falta de cocaína, cheira de tudo: gelatina, comida, etc. O menino que entrega jornal cobra 2 dólares de Lane, e aparece em tudo quanto é lugar cobrando ele, até no ski na neve ( esse "two dollars"virou o meme do filme"). O personagem de Ricky, o rapaz obeso que a mãe tenta empurrar para Monique, é mega bizarro. A questão do suicídio entre adolescente sé tratado com humor negro aqui no filme, fazendo lembrar um dos personagens do francês "Delicatessen", que tenta se matar a todo momento. O filme é ok, mas todas essas loucuras fazem ele ser um filme que vale ser visto, e ver que os anos 80 eram de fato, insanos.

sábado, 23 de maio de 2020

O garoto

"The kid", de Charles Chaplin (1921) Uma das obras primas máximas de Chaplin, o filme, de 1921, começa com uma cartela anunciando o filme como "Um filme para sorrir....e soltar lágrimas.". Alternando momentos de humor maravilhoso com comovente drama, "O Garoto" apresenta uma das químicas mais perfeitas entre atores: impossível não se lembrar da perfeição de Chaplin e do menino de 6 anos Jackie Coogawn, que depois do filme, conseguiu criar uma bela carreira, atingindo o ápice como o Tio Fester no seriado "A família Addams", não sem antes interpretar Oliver Twist e Tom Sawyer no cinema. A curiosidade fica por conta do cachê do menino: li que os pai acabaram torrando todo o cachê dele, e que por conta disso, o SAG obrigou os responsáveis a abrir uma conta em nome do menor e que somente poderá usar quando for maior de idade. O filme traz um mundo muito cruel: mães que abandonam bebês, homem que abandona a mulher, tudo em nome da carreira: a criança irá atrapalhar o sonho deles. A mãe ( Edna Purvience, atriz recorrente nos filmes de Chaplin) abandona seu bebê em um carro, que acaba sendo roubado por dois bandidos. Ao avistarem o bebê, os bandidos o abandonam num beco. Carlitos o encontra e procura encontrar alguém que cuide dele, mas diante da recusa de todos, ele decide ele mesmo criar. Passam-se 5 anos, o menino já está esperto e ajuda Carlitos nas malandragens, sedo constantemente perseguidos por um policial. Paralelo, a mãe, já uma atriz famosa, decide ir atrás de seu filho. Com uma excelente direção de Chaplin, em cenas antológicas que fazem parte de qualquer antologia do cinema, "O garoto" é um filme obrigatório, uma aula de cinema, de roteiro e de poesia: tem uma cena onde Carlitos sonha que a sua rua está repleta de anjos e demônios e num efeito sensacional, ele como anjo, voa. Um efeito impressionante para o ano de 1921! A trilha sonora é um primor!

Vida de cachorro

"A dog's life", de Charles Chaplin (1918) Curta metragem de 33 minutos dirigido, escrito e protagonizado por Charles Chaplin, já em seu personagem do Vagabundo. Realizado em 1918!!!, o filme traz Carlitos novamente fazendo malandragens para poder sobreviver. Seu alvo é um trailer de comida, onde ele tenta roubar comida. ( o dono do trailer é Syd Charplin, irmão de Charles e pela primeira vez, trabalhando juntos). Carlitos salva um cachorro viralata de apanhar de outros cachorros e resolve adotar ele. Juntos, ele e o cão continuam a aprontar malandragens. Um dia, Carlitos resolve entrar em um cabaret para ver se consegue algo ali. Ele conhece a dançarina Edna, e os dois imediatamente se apaixonam. Mas Carlitos não tem dinheiro e o seu destino coloca dois bandidos em seu caminho. O filme é hilário, e entre tantas cenas antológicas, tem uma que é toda em plano único, um primor de coreografia e de dinâmica, que é quando Carlitos tenta se inscrever para um emprego, mas toda vez que vai para o balcão, alguém fura fila. A cena final é de uma fotura total, e nessa fase o Vagabundo de Chaplin tinha direito a finais felizes.

Akira

"Akira", de Katsuhiro Ôtomo (1988) Clássico do anime, "Akira" é uma adaptação do mangá homônimo escrito pelo próprio cineasta, Katsuhiro Ôtomo, em 1982. Seis anos depois, Otomo lançou o filme que seria um divisor de águas para os gêneros ficção científica e ação, que até hoje certamente influencia todos os filmes que tratam de personagens com poderes de telecinese, além de suas fantásticas cenas de destruição em massa, realizadas com requinte e detalhamento. "Akira" foi o primeiro anime a ser lançado comercialmente nos Estados Unidos, e também o maior orçamento para o gênero no Japão. No futuro, ano de 2019, a cidade de Neo Tokyo vive sob a ação de terroristas que agem contra o governo, e gangues de motociclistas que lutam entre si. Em uma das richas,Tetsuo, da gangue de Kaneda e seu amigo, é ferido e em seguida levado pelas autoridades do Governo. Tetsuo é usado como cobaia para uma experiência que o governo está fazendo com poderes telecinéticos. Outras três crianças foram usadas como cobaias e hoje elas são usadas pelo governo para experiências. Quando a raiva de Tetsuo e o sentimento de vingança afloram em Tetsuo, logo ele se transforma em uma arma mortal. Paralelamente, Kaneda tenta localizar o paradeiro de Tetsuo, e para isso conta com a ajuda de Kai, uma jovem revolucionária. As crianças temem que Tetsuo consiga o mesmo poder que Akira, uma criança de outrora responsável pela destruição de Tokyo em 1988 e que foi mantida em cativeiro por conta de seu perigo. Assistir "Akira" é uma tarefa que exige pelo menos ser visto duas vezes: a primeira vez o espectador ficará tão encanado com o visual extraordinário, com as cores, a dinâmica do filme, que a história, complexa, se perderá um pouco. Aí na segunda vez, é hora de prestar atenção no roteiro. Um filme que mistura poderes telecinéticos, terroristas, governo corrupto, militância, filosofia e divagações metafísicas , certamente vai exigir bastante concentração. Toda a parte técnica do filme, incluindo a edição de som, trilha sonora realmente intrigante misturando instrumentos orientais e a fotografia são impressionantes.

Blá blá blá

"Blá blá blá", de Andrea Tonacci (1968) Listado entre os 100 melhores filmes brasileiros pela Abraccine, o filme foi escrito e dirigido pelo cineasta italiano radicado no Brasil Andrea Tonacci. Lançado em 1968 imediatamente foi censurado pela ditadura, por conta do seu forte teor revolucionário e por clara alusão ao governo militar vigente no País. Três anos depois, Tonacci viria a lançar o seu filme mais famoso, "Bang bang". Mas é aqui em "Blá blá blá"que a semente do Cinema marginal, do qual Tonacci foi forte representante, se faz presente. Com uma linguagem ousada e uma narrativa que entrelaça várias histórias que acontecem paralelamente, o filme traça o perfil de um ditador de um país desconhecido frente `à sua população que sai às ruas contra o sue governo. O ditador é represnetado por um atacado Paulo Gracindo, formidável. Usando o discurso ao vivo de um pronunciamento de tv, o ditador fala e seu discurso é rebatido pelo que se vê nas ruas: revolucionários e populares descontentes, apanhando de militares. É impressionante o quanto esse filme é visionário, poderia ter sido lançado hoje em dia que a mensagem soaria super atual. No elenco, também temos Nelson Xavier e Irma Alvarez, A equipe técnica é formada por toda a turma do cinema marginal: Neville D'almeida, Silvio Lanna e outros. As imagens da equipe preparando a transmissão ao vivo são incríveis, um belo registro histórico.

M.O.M. Mães de monstros

"M.O.M. Mothers of monsters", de Tucia Lyman (2020) Escrito e dirigido pela cineasta Tucia Lyman, o filme é um suspense de baixíssimo orçamento, rodado quase todo em uma casa e com uma narrativa bem semelhante ao sucesso de bilheteria 'Procurando..". São filmes 100% vistos por câmeras, seja de celular, de segurança ou de filmadora. Abbey é mãe solteira de Jacob, que acaba de fazer 16 anos. Ela encontra evidências em casa de que ele irá cometer um assassinato na escola. Ela resolve rever s vídeos que ela grava do filho desde que ele era criança e já tinha tendências assassinas, para pode provar para os psiquiatras. Sem que o filho saiba, ela espalha câmeras pela casa e continua a registrar tudo, até um dia, ele descobrir a existência dos vídeos. O filme é todo em narrativa "found footagr" e basicamente só tem dois atores, apesar de algumas participações. O roteiro fica toda hora pregando peças no espectador, trazendo novas informações principalmente no terceiro ato. É um filme curioso pela forma como foi realizado com pouca grana, se valendo de um bom roteiro. Poderia ter uns 20 minutos a menos, para dar mais ritmo.

Lillian

"Lillian", de Andreas Horvath (2019) Angustiante e melancólico drama austríaco que concorreu no Festival de Cannes 2019 na Mostra Quinzena dos realizadores, é uma produção do cineasta austríaco Ulrich Seild, de quem sou grande fã. O filme se baseia na trágica história real de Lillian Ailling, ocorrido no ano de 1926: sem dinheiro e sem ter a quem pedir ajuda, a polonesa Lillian caminhou de Nova York até o Alaska, na esperança de poder retornar para o seu País à pé. Ela desapareceu durante a sua jornada. O documentarista austríaco Andreas Horvath estréia em ficção com esse filme arrebatador, que me lembrou um pouco "Na natureza selvagem", de Sean Penn, mais pela proposta do filme do que pela história, que não tem nada a ver. O filme é um road movie impressionante, realizado com olhar totalmente documental e uma equipe apenas do diretor que também fez a câmera e um produtor. A video artista polonesa Patrycja Planik estréia como atriz em uma performance arrebatadora, sem dizer uma única palavra ao longo do filme de 130 minutos de duração. O filme foi adaptado para os dias de hoje. Lillian é uma imigrante russa que está com o Visa expirado e sem documentos. Ela tenta trabalhar como atriz pornô, mas por conta da documentação, o produtor não aceita e diz que ela deveria retornar para a Rússia. Lillian leva o recado ao pé da letra e decide caminhar até a Russia. No seu caminho, ela rouba roupas, comida, é assediada, passa frio, calor. Fiquei de boca aberta com a produção do filme: filmaram de verdade durante toda a trajetória que vai de NY até o Rio Yukon, que divide os Estados Unidos e Canadá. A fotografia do filme é impressionate, com paisagens magistralmente captadas. A cena final, com Lillian deitada observando a aurora boreal é arrebatadora. O filme reserva um capítulo à parte, que mostra uma caça de baleias, uma metáfora à vida de Lillian. É um filme porrada, triste, que mostra um Estados Unidos do interior, conservador, branco, vazio.