terça-feira, 12 de maio de 2020
Deus e o Diabo na terra do Sol
"Deus e o Diabo na terra do sol", de Glauber Rocha (1964)
Listado entre os 100 melhores filmes brasileiros pela Abraccine em 20 lugar ( perde para "Limite", de Mario Peixoto"), "Deus e o Diabo na terra do sol", é o segundo longa de Glauber e o filme que projetou o seu nome mundialmente. Em 1964, competiu ao prêmio máximo no Festival de Cannes, competindo com outra obra-prima brasileira, "Vidas secas", de Nelson Pereira dos Santos".
Representante máximo do Movimento do Cinema novo, com a estética da fome, crítica à religiosidade, misticismo e tendo o homem do povo selando o destino das pessoas no sertão que seria então a cara do Brasil pobre, foco das atenções das câmeras dos realizadores da época.
Manuel (Geraldo del Rey) e Rosa (Yoná Magalhães) são um casal que mora em um casebre pobre no meio do sertão do Monte Santo, na Bahia. Manuel é vaqueiro e faz um serviço para um rico fazendeiro: transportar um gado até ele, atravessando o sertão. No caminho, morrem 4 cabeças. Ao chegar ao seu destino, o fazendeiro exige que Manuel desconte de sua parte as 4 vacas que morreram. Desesperado com o pouco caso do fazendeiro, Manuel o mata. Jagunços vão em seu encalço, e quando Manuel chega em sua casa, encontra a sua mãe assassinada. Após enterrá-la, Manuel e Rosa fogem . No caminho, encontram Sebastião, um Messias que promete uma vida menos sofrida para os seus seguidores. Manuel entra em transe com as falas do Beato, que pede para que ele sacrifique um bebê. Rosa se desespera ao ver que o marido matou a criança, e acaba matando o Beato. Antonio das Mortes (Mauricio do Valle), um assassino de aluguel contratado pela Igreja católica e os latifundiários surge e mata todos os seguidores. Ao testemunhar o beato morto, ele decide deixar Manuel e Rosa soltos. Novamente, o casal segue caminho e dessa vez encontram Corisco (Othon Bastos), um cangaceiro remanescente.
Um faroeste alegórico filmado em um preto e branco magnífico de Waldemar Lima, o filme tem o roteiro co-escrito por Walter Lima Jr e uma trilha sonora com canções compostas por Sergio Ricardo. As canções narram dramaturgicamente várias passagens do filme, como se fossem cordéis. Os 4 atores principais transformam os seus personagens em figuras míticas do cinema brasileiro, tal a força com que vivem a sua trajetória cercada por violência e morte. A metáfora que o filme faz, relacionando a Igreja, o cangaço, o messianismo e os latifundiários à sangue e violência é algo aterrador. O homem do campo se vê sem perspectiva e tudo parece uma continuidade de sua tragédia e desgraça. Uma orar-prima que resiste ao tempo, graças a um conjunto de talentos capitaneados por Glauber Rocha, um viisionário do cinema e do Poder que ele tem em mãos.
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