quinta-feira, 14 de maio de 2020
Serras da desordem
"Serras da desordem", de Andrea Tonacci (2006)
É curiosa a trajetória do cineasta italiano Andrea Tonacci, falecido em 2016. Chegou com sua família em São Paulo aos 11 anos de idade, Em 1968, lançou o curta "Blá blá blá"e logo depois o longa "Bang bang", que concorreu na Mostra quinzena dos realizadores em Cannes. Um dos papas do Cinema marginal, junto a Rogerio Sganzerla e Julio Bressane, Andrea quiz mostrar em seus filmes a inquietação com a ditadura e com a violência sofrida pela população. Esse mesmo pensamento vem em seu premiado documentário 'Serras da desordem", que em 2006 ganha três prêmios em Gramado: Melhor filme, direção e fotografia.
O filme, uma mistura em sua narrativa de documentário e ficção, com os próprios personagens reais "personificando" seus papéis na tela, como atores em reconstituição dos fatos reais. É visível a falta de técnica de interpretação de todos, mas isso é irrelevante frente ao poderoso roteiro que por si só, já valia um outro filme.
O grande tema do filme é a identidade cultural, e s sua perda para um processo de "aculturamento da sociedade branca e urbanizada".
Em 1977, na Amazônia que faz divisa com o Maranhão, vive um tribo indígena awá-guajá. Madeireiros e grileiros invadem a região e matam toda tribo. Carapiru é o único sobrevivente. Durante dez anos, ele vaga pelo sertão e por regiões onde nunca esteve antes, até chegar no município baiano de Santa Luzia, onde ele é adotado pelos moradores. Passado um tempo, representantes da Funai, sabendo de sua existência na comunidade, o resgatam à força e o levam até Brasília, onde ele fica na casa do sociólogo e sertanista Sydney Ferreira Possuelo, que o ensina a se vestir, usar vaso sanitário, comer usando talheres e a se portar como um homem civilizado. Sidney aguarda que um representante de uma tribo indígena que mora em terras da Funai chegue e veja se reconhece Carapiru. Para surpresa de todos, o rapaz que vem é filho de Carapiru, que se salvou do massacre. Ao retornar à aldeia agora civilizada, Carapiru percebe que nem os moradores indígenas mantêm mais as suas tradições.
Com longos 136 minutos, o filme é dividido narrativamente em 3 partes: a primeira, a parte ficcional com Carapiru e sua tribo, em imagens antropológicas, antes do massacre. Depois a sua fuga, e imagens documentais do Brasil em fase de crescimento econômico, e por fim, sua recepção em Santa Luzia. A terceira parte é sua chegada em Brasília e depois, o retorno à sua aldeia.
O mais surpreendente no filme, é o seu desfecho: Vemos uma equipe e o diretor dando ações para Carapiru fazer em cena, as imagens iniciais do filme. É uma metáfora cruel da vida de Carapuri, que passou toda a sua vida seguindo ordens, sem uma identidade própria ou dono de suas vontades.
O filme faz parte da lista dos 100 filmes da Abraccine.
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