domingo, 24 de maio de 2020
A última noite de Boris Grushenko
"Love and death", de Woody Allen (1975)
Rever essa obra-prima de Woody Allen foi uma experiência extremamente agradável: eu simplesmente não lembrava de como o filme é engraçado, cáustico e anárquico. Lançado em 1975, o filme já trazia elementos narrativos usados em seu filme seguinte, um de seus filmes mais conhecidos e premiados, "Noivo neurótico, noiva nervosa", que acabou faturando vários Oscar, entre eles, filme, direção, roteiro e atriz. Quebra da quarta parede, metalinguagem, monólogos existenciais, e principalmente, as muitas referências artísticas, literárias e cinematográficas. Allen bebe na fonte da literatura russa de Tolstoi, Dostoievsky e no cinema de Eisenstein, Bergman e Fellini. Talvez a sua maior superprodução, com centenas de figurantes, cenas da batalha , efeitos especiais, fico até imaginando o grande stress que não deve ter sido esse filme para o Woody Allen, além de trabalhar com uma equipe que ele mal conseguia se comunicar ( o filme foi rodado em Budapeste, Hungria e França). No século XIX, um homem está preso, aguardando o fuzilamento pelos franceses. Ele é o russo Boris Grushenko (Woody Allen), que se recorda de sua vida, desde a infância até as vésperas de sua prisão. Quando a Rússia entra em guerra contra Napoleão os homens são convocados para lutar. Covarde, Boris faz de tudo para não ir pro front. Mas vai obrigado, junto de seus dois irmãos. Boris é apaixonado por Sonja (Diane Keaton, na primeira parceria com Woody Allen). Mas Sonja só tem olhos para Ivan, irmão de Boris. Por um golpe do destino, Boris volta como herói e acaba se casando com Sonja. Quando Napoleão invade e Russia, Sonja arma um plano para assassiná-lo, e quer que Boris a ajude.
Trazendo elementos de Bergman ( Persona e Sétimo selo, com as hilárias aparições da Morte) e planos da batalha que homenageiam "O encouraçado Potenkim", o filme traz uma eficiente cena de batalha que impressiona pela sua plasticidade. O mais anárquico é que no meio da batalha, aparece um time de cheer leaders lideradas por Woody Allen vestidos de universitários, além de um vendedor de cachorros quentes. O filme inteiro é essa piração, em uma fase que Allen não repetiria com tanta efusão, é um humor mais histriônico mas não menos engraçado. Allen está absolutamente genial, e Dianne está deslumbrante e a companheira ideal das idéias loucas de Allen. Uma cena antológica de Keaton: o diálogo dela com Jessica Harper, brilhante.
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