quarta-feira, 30 de junho de 2021

Limbo


"Limbo”, de Ben Sharrock (2020)
Premiado em diversos Festivais, incluindo San Sebastian, ‘Limbo” é um lindo e melancólico drama inglês escrito e dirigido por Ben Sharrock. O filme traz aquele humor constrangedor e ácido de Aki Kaurismaki e Eli Suleiman, e é um tipo de observação sobre o patético do ser humano que eu adoro.
O filme traz uma história inusitada: em uma ilha remota e isolada da Escócia, imigrantes refugiados de diversos países aguardam a aprovação ou não do visto da imigração inglesa para que eles possam morar e trabalhar no País. Homens solitários sem famílias, aguardam ansiosos. Entre eles, o afegão Farhad (Vikash Bhai), fã de Fredie Mercury e razão de ter escolhido a Inglaterra, os irmãos nigerianos Abedi (Kwabena Ansah) e Wasef (Ola Orebiyi), apaixonados pela série “Friends”. E finalmente Omar (Amir El-Masry), um músico que herdou um instrumento de seu avô mas que por insegurança e frustração não se acha mais capaz de tocar. Os personagens vivem uma rotina de eterna melancolia e entre um outro momento divertido, sentimos uma enorme tristeza por essas pessoas tão sem futuro ou perspectivas. Omar tem cenas ótimas no orelhão falando com sua mãe que está na Turquia. Com lindas paisagens que intensificam a tristeza e a solidão, o filme comove pelo excelente trabalho de atuação. A cena inicial da professora ensinando aos refugiados a questão do assédio sexual é brilhante.

Balão


"Balloon", de Pema Tseden (2019)
Belíssimo drama tibetano que faz uma crítica à política do governo chinês do filho único, implementado nos anos 80 e que ficou vigente até a pouco tempo atrás. O filme se passa nos anos 90, numa região de pasto no Tibete, e acompanha a vida do pastor de ovelhas Dargye, sua esposa Drolkar e seus três filhos pequenos. A esposa descobre estar grávida e o marido se desespera: dentro da nova política, um novo filho significa multa que deve ser paga ao governo, além de perder os direitos à escola e saúde.
O filme recebeu mais de 22 prêmios internacionais, entre eles, um especial em Veneza. É um filme de beleza estonteante, fotografado por Songye Lu. De ritmo bastante lento e contemplativo, o filme reserva uns poucos momentos de humor, através dos dois filhos pequenos, que encontra camisinhas que o pai usa e os enchem como se fossem balões.

Prece ao nascer o dia


"A prayer before dawn", de Jean-Stéphane Sauvaire (2017)
Cinebiografia do lutador de Muay Thai Billy Moore, um boeador inglês que foi preso na Tailândia por porte de heroína e arma de fogo. Billy Moore ( Joe Cole) tinha um temperamento explosivo e ao ser preso na Prisão Central de Klong Prem em Bangkok, ele foi colocado em uma cela com prisioneiros perigosos. Ele levou muita surra tanto dos presos quanto dos guardas, testemunhou estupros e tentou o suicídio. A sua salvação foi fazer parte de uma luta interna de Muay Thai, de onde saiu vitorioso, mas devido aos golpes, teve hemorragia. Ao ser preso, tentou escapar, mas arrependido, retornou ao hospital. Após 3 anos preso, foi repatriado para o Reino Unido em 2010. O seu livro autobiográfico virou best seller e hoje ele faz parte de grupos de ressocialização de narcóticos anônimos e está casado, morando em Liverpool.
O filme participou do Festival de Cannes e ganhou diversos prêmios no BIF , Fetsival inglês, incluindo melhor ator.
Para quem está acostumado a ver filmes de presídios barra pesadas, talvez o filme não acrescente muito, apesar do excelente trabalho de Joe Cole e da figuração ser toda de ex presidiários reais. Impossível não se lembrar de "O expresso da meia noite", de Alan Parker

terça-feira, 29 de junho de 2021

Os Diários de Tchaikovsky - Confissões de um Compositor


"Die Akte Tschaikowsky - Bekenntnisse eines Komponisten", de Ralf Pleger (2015)
Tchaikovsky é considerado o maior compositor russo da história. Nasceu em 1840 em Sant Petersburg e faleceu no dia 6 de novembro de 1893 na mesma cidade. Oficialmente, ele morreu de cólera. Mas ainda muitas pessoas que acham que ele foi assassinado ou se suicidou, e muito, em função de seus conflitos com sua homossexualidade, que ele escondia de todos.
O filme, escrito e dirigido pelo cineasta alemão Ralf Pleger, faz um curioso docudrama, ficcionalizando a vida de Tchaikovsky e a homofobia que sofreu em vida, fazendo um paralelo com a sociedade atual, trazendo o drama da comunidade LGBTQIA+ e a luta em fazer sua voz ser ouvida O filme se apropria de atores para reciar a história, além de trazer depoimentos de historiadores, dançarinos, músicos sobre vida e obra do compositor, que foi admirado ao mesmo tempo que odiado por muitos. Apesar de tudo, é um filme estranho, que nem sempre funciona artisticamente como misto de ficção e documentário.

Uma corrente selvagem


"Una corriente salvaje", de Nuria Ibañez (2018)
Premiado documentário mexicano, dirigido pela cineasta Nuria Ibanez,apresenta lindas imagens do norte do México, a baixa Califórnia. Ali, isolados em uma baía de pescadores, moram Chilo e Omar. Vivem isolados, sem mais ninguém por perto. Somente os dois e a natureza. Chilo se isolou após a morte de seu filho. Omar se estressou na cidade grande e também se isolou. Juntos, eles pescam. Chilo não sabe nadar, Omar o ensina. Eles falam sobre vários assuntos, em noites iluminadas pelas velas.
O filme é isso: um tratado sociológico sobre dois homens comuns, unidos em seus passados que o fizeram encontrar um motivo para viver no isolamento com a natureza. A câmera explora um certo homoeoritsmo, nas cenas onde ambos ficam apenas de sunga, se olham, Chilo ensina Omar a nadar. Um filme que derruba as convenções sobre como um homem deve se portar diante de outro homem, e sem conotações sexuais. Um belo filme, apesar de cansativo.

Meu coração não pode bater a menos que você diga para


"My heart can't stop beat unless you tell it to", de Jonathan Cuartas (2020)
Ótimo drama de terror, longa de estréia do roteirista e cineasta Jonathan Cuartas, vencedor de diversos prêmios internacionais em importantes Festivais como Sitges e Tribeca. O filme lembra bastante o sueco "Deixa ela entrar", filme de jovens vampiros.
Thomas ( Owen Campbell ), Jessie ( Ingrid Sophie Schram ) e Dwight ( Patrick Fugit) são irmãos e moram em um bairro do subúrbio. Dwight é o irmão mais jovem, mas ele tem uma condição: ele é um vampiro. Necessita diariamente de sangue, que não pode ser dos irmãos, e não pode pegar sol. Thomas e Jesie saem em busca de vítimas: moradores de rua, prostitutas. Thomas começa a sentir remorso pelas mortes e deseja ir embora. Jessie é a que mantém a família unida, e quer que Thomas mantenha os crimes. Dwight, por sua vez, sente solidão e procura fazer amizade cm os garotos da rua.
Produção independente, o filme é belamente filmado, com ótima fotografia e atmosfera que dão um constante clima de tensão. O filme aposta no drama, mais do que o suspense, e tem o auxílio de um ótimo time de atores.

Gay chorus deep south


"Gay chorus deep south", de David Charles Rodrigues (2019)
Documentário LGBTQIA+ premiado com mais de 12 prêmios, entre eles, melhor filme do público do Tribeca Film Festival em 2019. O filme é uma resposta à política racista e homofóbica do governo Trump. Em San Francisco, centenas de homens gays rejeitados por suas famílias e igrejas decidem formar um coral, o
San Francisco Gay Men's Chorus. Muitos dos membros são fugidos de estados do Sul, famosos pelo racismo e homofobia. OS membros do coral decidem arrecadar fundo para levar o coral para se apresentar em uma turnê pelo sul dos Estados Unidos, uma provocação à política de segregação, e também, uma forma dos gays expulsos pela família e igreja tentarem se reconectar com as famílias. O tour aconteceu em outubro de 2017, nos estados de Mississippi, Tennessee, Alabama e Carolinas do Sul e do Norte. O filme entrevista diversos integrantes, que contam as suas histórias de violência e ódio por se assumirem gays. É um filme comovente, sobre gays devotos ao cristianismo e que aos poucos, são abraçados pelos fiéis das igrejas.

segunda-feira, 28 de junho de 2021

O homem com as respostas


"The man with no answers", de Stelios Kammitsis (2021)
Drama romântico LGBTQIA+ grego, com co-produção da Alemanha.
Victoras (Vasilis Magouliotis) é um ex-campeão de natação grego. Ele mora com sua avó, que está eme stado temrinal no hospital. Victoras vive de seu passado e hoje em dia é um loser, trabalha em uma loja de marcenaria e sem perspectivas de um futuro melhor. Quando a avó morre, Victoras decide ir visitar sua mãe, que se casou de novo e foi morar na Alemanha. Victoras pega o carro velho da avó e faz um road trip de Atenas até a Alemanha. No caminho, ele conhece o alemão Mathias (Anton Weil), que lhe pede carona. Mathias é o oposto de Victoras: falante, extrovertido, social. Entre os dois nascem rusgas, mas também, o amor.
Um filme sensivel, raro para uma produção grega que normalmente aposta nos filmes violentos e crus. Aqui, o roteirista e cineasta Stelios Kammitsis realiza um filme sobre o amor, sobre perdas e recomeços. Com lindas paisagens no trajeto do road movie, o filme conta também com a ótima performance dos atores, carismáticos e muito entregues aos papéis. Lindas cenas de amor entre os dois.

domingo, 27 de junho de 2021

The ice road


"The ice road", de Jonathan Hensleigh (2021)
Drama de ação e suspense dirigida e escrita por Jonathan Hensleigh e protagonizada por Lian Neeson. Jonathan Hensleigh dirigiu em 2004 "O justiceiro", baseado em quadrinhos da Marvel, numa época onde a Marvel ainda não produzia os seus próprios filmes. Lian Neeson volta ao personagem que o caracterizou nas últimas décadas: a do homem pacato que se envolve com vilões e precisa ajudar a salvar o mundo, ou parte dele. É impressionante a longevidade de Neeson nesses papéis, e melhor, a dignidade que ele traz aos projetos, por mais simples e mais do mesmo que eles sejam.
Dessa vez, Neeson interpreta Mike, um caminhoneiro americano que trabalha na gelada região de Winnipeg, Manitoba, no Norte do Canadá. Ele trabalha junto de seu irmão Gurty (Marcus Thomas, excelente), um ex-soldado americano que combateu no Iraque e que voltou com problemas neurológicos. Ambos são demitidos de uma empresa após Marty defender seu irmão dos colegas de trabalho que o chamaram de retardado. Marty é chamado para uma missão, o que vem a calhar, pois precisa de dinheiro: levar um carregamento até uma mineradora, onde houve um acidente e onde 26 mineiros estão enterrados, esperando socorro. Marty é contratado por Goldenrod (Laurence Fishburne) , que lidera o comboio, onde tambem vão Marty, Tantoo )Amber Midthunder, ótima) e Varnay (Benjamin Walker), um representante da seguradora. Eles precisam atravessar o Ice road, uma estrada formada por gelo e cuja superfície é o rio. Somente caminhoneiros experientes podem atravessar o ice road, correndo o risco de afundarem.
O filme tem ótimos efeitos, principalmente da Ice road, e boas cenas de ação. O roteiro é esquemático: os bons são bons, e os maus, muito maus. A locação é cinematograficamente bela, com linda fotografia. Mas o que mantém a atenção do espectador é o ótimo trabalho dos protagonistas, bastante carismáticos. Um passatempo dos bons.

sábado, 26 de junho de 2021

Roma Termini


"Roma Termini", de Bartolomeo Pampaloni (2014)
Uma das maiores estações ferroviárias da Europa, a Stazione Termini ou Roma Termini tem uma circulação de quase 500 mil pessoas por dia. O documentarista Bartolomeo Pampaloni, em seu filme de estréia, acompanhou durante 4 meses a rotina da estação, mostrando a dinâmica das pessoas que estão sempre atrasadas, e também, das figuras solitárias que por ali habitam, entre vendedores, sem teto, turistas e moradores. Bartolomeo entrevista 4 homens de meia idade, todos com um passado inglório que os fizeram morar dentro da estação, como sem teto. Antonio Allegra, que abandonou esposa e filhos, Gianluca Masala, Stefano Pili e Angelo Scarpa. Cada um narra para as lentes a sua história de vida, histórias tristes que resumem muito do ser humano, em constante convívio com a tristeza, desemprego, doenças mentais, abandono, fome e sonhos desfeitos.
O filme tem um tom bastante triste, um olhar sobre as pessoas onde sentimos que sonhar não coincide com esperança, quando não existe um suporte para tal, seja ele financeiro, familiar ou do governo. O filme venceu a menção honrosa do Festival de Roma em 2014.

Eu quero viver!


"I want to live!", de Robert Wise (1958)
Quatro anos antes de uma de suas grandes obras-primas, 'Amor sublime amor", o cineasta Robert Wise realizou um drama clássico, que foi referência para posteriores dramas penitenciários: 'Eu quero viver!", baseado na história real de Barbara Graham, uma prostituta e envolvida com bandidos e amantes mau caráter, condenada à pena de morte na Califórnia, e morta aos 31 anos em 1955. O filme se baseou em cartas da própria Barbara, matérias de jornais e autos da justiça para traçar um perfil de Barbara e dos que estavam próximos à ela, como o jornalista Edward Montgomery, simpático à defesa e inocência de Barbara, e o advogado de defesa Richard.
Barbara é acusada de ter assassinado uma viúva aleijada, junto de dois outros bandidos que ela conhece. Perkins e Santo. Barbara alega inocência, dizendo que na noite do crime ela estava cuidando de seu bebê e do marido viciado, Harry. Mas o próprio Harry, irritado com Barbara, nega que estivesse com ela na noite do crime, o que desmente o álibi.
O filme, rodado em preto e branco, deu à Susan Hayward o Oscar e Globo de melhor atriz em 1958, em uma performance memorável e corajosa. A sequência final, de sua condenação, filmada de forma documental, com a preparação do gás que irá matá-la no câmera de gás, é assustadora e dolorosa de se ver. Essa sequência é uma aula de cinema.

Que é você, Charlie Brown?


"Who are you, Charlie Brown?", de Michael Bonfiglio (2021)
Documentário obrigatório para fãs de Charlie Brown e sua turma, e também, para quem quiser conhecer o sue autor, Charles M. Schulz. Nascido em Minneapolis, 1922, e falecido em 12 de fevereiro de 2020, Schulz criou a primeira tirinha do que viria a ser Charlie Brown e Snoopy em 1950, para um jornal. Com o tempo, os traços dos personagens Charlie Brown, Lucy, Linus, Patty Peppermint, Snoopy, Woodstock e outros foram ganhando forma e conhecidos como são hoje. Schulz dizia que ele era Charlie Brown: quando criança, se sentia rejeitado e ao sentar na cadeira de barbeiro da barbearia de seu pai, tinha que sair toda hora para dar lugar a um cliente. Essa insegurança é a marca registrada de Charlie Brown. Os personagens na verdade, eram um pouco de Schulz, e cada um trazia uma característica sua. O que fez os personagens se tornarem tão amados e eternos é a sua visão sobre o mundo dos adultos, refletindo o existencialismo e angústias por estarem vivos.
Franklyn foi um personagem negro que surgiu em 1968, sob a sugestão de uma amiga de Schulz, Herriet Glickmann. Martin Luther King havia acabado de ser assassinado, e Herriet dizia que SChulz tinha que fazer algo a respeito. Schulz dizia que ele não poderia desenhar e criar um personagem de um menino negro, pois não estava na pele dele, não saberia retratá-lo com propriedade. Herriet então o apresentou a um casal negro com filho, Kennet e Monica Gunning, que o ajudaram. Schulz sempre foi à frente de seu tempo, e com um olhar sobre o social: suas personagens femininas são mais fortes do que os masculinos.
O filme é entremeado com entrevistas com famosos, como Drew Barrymore e Paul Feig, a viuva de Schulz e integrantes de sua equipe criativa. Cada um fala sobre um personagem, e o filme descreve como cada um foi concebido. Toda a estrutura do filme é em cima da parte animada: Charlie Brown precisa fazer um dever de casa, se descrever em 500 palavras quem é ele. E assim se dá início a um atormentado menino tentando entender o existencialismo. Um filme genial.

Dracula, morto mas feliz


"Dracula dead and loving it", de Mel Brooks (1995)
Em 1974, o Cineasta Mel Brooks lançou um dos grandes clássicos do cinema de humor, "O Jovem Frakenstein", uma paródia irresistível que se tornou tão popular que virou musical na Broadway. 21 anos depois, em 1995, Brooks lança "Dracula, morto mas feliz", uma tentativa de trazer novamente a um clássico de terror uma revisitada na comédia. A vítima da vez foi 'Dracula, de Bram Stoker', que Coppola lançou em 1992. O filme de Brooks impressiona pela direção de arte e pelos efeitos, que assim como no filme de Coppola, homenageia as trucagens sem uso de computação gráfica. O filme tem momentos hilários, daqueles de gargalhar alto, muito por conta da liberdade com que Brooks lida com o humor politicamente incorreto. Mas mesmo com tanta diversão, faz muita falta toda aquela trupe de atores que sempre trabalhou com Brooks e que tornaram os filmes memoráveis: Gene Wilder, Dom de Louise, Madeline Khan, Cloris Leachmann, Marty Feldman. Anne Bancroft faz uma pequena e hilária participação como uma cigana. Steven Weber, no papel que foi de Keanu Reeves está bem no galã abobalhado. Peter MacNicol faz o que seria um papel para Marty Feldman, e o próprio Brooks faz o papel de Van Helsing.
Vale pela zoação e pelo escracho, mas a fina flor do humor era somente a trupe de Brooks quem trazia. Pelo menos tem o impagável Leslie Nilsen no papel de Dracula, brilhante.

sexta-feira, 25 de junho de 2021

Gaia


"Gaia", de Jaco Bouwer (2021)
Impressionante filme de terror sul africano, vencedor do prêmio de fotografia no Festival SXSW 2021. O filme faz parte do que ba parte dos críticos está chamando de "Eco terror": por conta da pandemia do covid, alguns filmes estão trazendo a revolta da natureza contra o ser humano. Foi assim em "In the earth", de Ben Wheatley. E agora com "Gaia".
Na reserva florestal de Tsitsikamma, dois guardas florestais, Gabi e Winston estão fazendo a vistoria. Quando Gabi perde o seu drone, ela resolve saltar do barco e procurá-lo. Ela combina com winston de se encontrarem mais tarde. Gabi se machuca em uma armadilha e é salva por um pai e filho que moram escondidos na floresta, Barend e Stefan. Logo, Gabi descobre que na floresta moram criaturas formadas por fungos, que atacam as pessoas e os transformam em fungos.
O filme é um claro alerta contra as ações do homem contra a natureza, que agra se revolta contra ele. O que impressiona no filme, além da fotografia, são s efeitos de maquiagem, capazes de produzir homens fungos incríveis e também a infecção que toma conta do corpo das pessoas. Uma produção independente, mas de alto valor técnico. Os atores são ótimos.

Os melhores anos de uma vida


"Le plus belles annés d'une vie", de Claude Lelouch (2019)
55 anos depois do filme original, "Um homem uma mulher", de 1966, vencedor da Palma de ouro em Cannes e do Oscar de melhor filme estrangeiro, Lelouch revisita seus personagens marcantes para várias gerações, Jean Louis (Jean-Louis Trintignant) e Anne (Anouk Aimée). No filme "Um homem uma mulher, 20 anos depois", Lelouch ja mostrava uma relação desgastada. Esse 2o filme da trilogia foi fracasso de crítica e público. A última parte vem como um fechamento e um pedido de desculpas de Lelouch que também escreveu o roteiro, por ter realizado uam 2a parte desnecessária, tanto que, no flashback, nenhuma menção a esse filme é apresentado.
Jean Louis agora está senil e com Alzheimer, e residente em um asilo. Seu filho, Antoine, procura por Anne, agora dona de uma loja e que não vê Jean Louis há muitos anos, desde que se separaram. Antoine pede que Anne vá visitar seu pai, relatando que ele só se lembra dela em sua vaga memória. O filme passa então a alternar cenas do presente e do passado cm imagens do clássico de 66.
Muitos críticos torceram o nariz para esse filme, alegando ser um filme preguiçoso ou caça níqueis. Eu vejo esse filme como um tesouro emocional, rever os atores e seus personagens quase 6 décadas depois é um presente. Os dois, Jean Louis e Anouk, estão muito emotivos, é atordoante e belo vê-los ja tão idosos, mas ainda tão cinematográficos e talentosos. Não é filme para crítica, e sim, para guardar no coração.

Um lugar silencioso Parte 2


"A quiet place Part 2", de John Krasinski (2020)
Lançado em 2018, "Um lugar silencioso" se tornou o grande filme de error do ano, lançando e coroando John Krasisnky como um grande diretor de filmes de ação. Um ano depois, a parte 2, inevitável, seria lançada nos cinemas, mas a pandemia atrapalhou a estréía e somente agora, em 2021, o filme foi lançado. Apesar de não ser mais novidade o lance dos alienígenas que são cegos mas que têm um dom para a audição, o filme mantém a tensão e principalmente, extrai o melhor do seu elenco: Evelyn (Emily Blunt), Regan (Millicent Simmonds), Marcus (Noah Jupe) e agora, acrescido de Emmet (Cyllian Murphy). John Krasisnky retorna como o pai da família Lee Abbot em flashback: o filme começa com um prólogo apresentando o dia 1 do apocalipse, o dia em que, a cidade em vida normal, é atacada pela invasão alienígena. Depois, o filme corta pro dia 480, continuando onde acabou no anterior. A família Abbot procura sobreviver e encontrar ajuda com sobreviventes, e recebem ajuda de Emmet. Mas os personagens acabam se separando e aí vem a grande sacada do filme: o filme se divide em 3 núcleos distintos. O espectador acompanha com tensão o destino de cada integrante da família.
John Krasisnky se revela novamente um excelente construtor de climas, e coloca seu elenco em performances maravilhosas. O filme me lembrou em vários momentos de cenas de "Jurassic Park", o grande clássico de monstros ameaçadores.

quarta-feira, 23 de junho de 2021

A vida e os tempos do conde Luchino Visconti


"The life and times of count Luchino Visconti", de Adam Low (2013) Documentário sobre a vida e obra de Luchino Visconti, um dos mais aclamados cineastas italianos da história. Nascido em Milão em 1906 e falecido em Roma em 1976, Visconti nasceu em berço aristrocrático de uma tradicional família rica de Milão. Durante a sua juventude, cuidou dos cavalos de sua família, mas acabou trabalhando como assistente do cineasta francês Jean Renoir. Os encontros com os amigos comunistas de Renoir transformaram Visconti para sempre, que acabou se tornando um comunista. Por toda a sua vida, Visconti foi visto como uma personalidade contraditória: milionário, porém comunista. Para financiar parte de seus dois primeiros longas, "Ossessione" e "La terra trema", Visconti vendeu jóias herdadas de sua mãe. Ambos os filmes são considerados a gênese do neo realismo italiano: "Ossessione" foi lançado em 1942, durante a 2a guerra,. A Italia produzia até então comédias, mas com a situação da guerra Visconti resolveu fazer um drama social, baseado no livro americano "O destino bate à sua porta", antes mesmo da versão americana.
O filme explora cada um dos filmes de Visconti, com detalhes, e com depoimentos de Helmut Berger, Charlotte Rampling, Franco Zefirelli, Annie Girardot, Farley Granger e Claudia Cardinalle. As grandes obras-primas 'Rocco e seus irmãos", "O leopardo", "Morte em Veneza", "Os deuses malditos", entre outros, são apresentados com cenas do filme e making of. "Rocco e seus irmãos"foi o filme que lançou ao estrelato Alain Delon e Annie Girardot. "O Leopardo", estrelado por Burt Lancaster, ganhou a Palma de Ouro em Cannes em 1963.
O filme também fala dos relacionamentos de Visconti com Franco Zefirelli e com Helmut Berger. Apresenta a sua paixão por óperas, a amizade com Maria Callas e as óperas que dirigiu. Durante as filmagens de "Ludwig", Visconti sofreu um ataque cardíaco que o deixou para sempre em uma cadeira de rodas.
Um filme bastante detalhado, com muitas imagens de arquivo e narrado com paixão. Um depoimento de Claudia Cardinalle sobre "O leopardo"define bastante o preciosismo e detalhamento de Visconti: "As flores, os candelabros, a comida, tudo era real. Inclusive os objetos dentro de minha bolsa, que nunca apareciam em cena, como perfume, luvas.".

terça-feira, 22 de junho de 2021

Mel Brooks: faça barulho


"Mel Brooks: Make a noise", de Robert Trachtenberg (2013)
"Tendo uma aparência estranha e sendo baixinho, eu tinha que criar alguma ferramenta para ser aceito. Resolvi entrar para a comédia.". E assim, surgiu Mel Brooks, melhor, Melvin Kaminsky. Seu tio, um taxista, o levou aos 9 anos de idade, em 1935, para assistir a um musical na Broadway, e desde então, Brooks se encantou com o mundo do espetáculo. O documentário é uma aula obrigatória a todo mundo que quiser entender melhor sobre do que se trata uma comédia. A palavra "Liberdade" ganha contornos de criatividade e expressão dentro do universo de Mel Brooks: mulheres sexies que são engraçadas, Losers que se dão bem. Um crítico feroz que retrata todas as minorias e preconceitos, Mel Brooks escalou atores e atrizes que se tornaram sua marca registrada: Gene Wilder, Don de Louise, Zero Mostel, Madeline Khan, Cloris Leachmann, Teri Gaar, Marty Feldman, entre outros. Um cineasta, produtor, roteirista, ator e compositor, Brooks prosperou no cinema e no teatro. "Os produtores", musical baseado em "Primavera para Hitler", bater record de prêmios Tony. Quando lançou "Primavera para Hitler" em 1968, levou o Oscar de melhor roteiro original, batendo pesos pesados como "2001:, de Krubrick, e "A batalha de Argel", de Gillo Pontecorvo.
Brooks dirigiu comédias que estão na lista de qualquer antologia de melhores comedias da história: além, de "Primavera para Hitler", trouxe "O jovem Frankestein", "Alta ansiedade", "Silent movie", "A história do mundo parte 1", 'Banzé no Oeste". A sua produtora Brooks films investiu em dramas premiados, como "O homem elefante", de David Lynch, "Frances", e "A mosca", de David Cronemberg. Produziu também filmes para a sua esposa, a atriz Anne Bancroft, como o cult romântico "Nunca te vi, sempre te amei". Mel Brooks dá depoimento genial, além de atores, roteiristas , cineastas e produtores que trabalharam com ele. Imperdível.

Sinfonia Amazônica


"Sinfonia Amazônica", de Anelio Latini (1953)

Primeiro longa de animação na história do cinema brasileiro, 'Sinfonia Amazônica" foi lançado em 1953. O fluminense Anélio Latini, nascido em Nova Friburgo, levou cinco anos desenhando sozinho mais de 500 mil ilustrações. De colaborador, ele só teve sue irmão, Mario Latini, que fez a fotografia. Admirador de Walt Disney, Latini se baseou em "Fantasia". e no lugar de Mickey, colocou um índio amazônico, o Curumi. É ele quem costura as 7 histórias de folclore brasileiro do norte do país: A lenda do fogo; Caipora; O Jabuti e a Onça; Iara; A lenda do Arco-Íris. O filme começa com um prólogo apresentando Lantini em seu processo de trabalho, uma espécie de making of. É um lindo filme, um hino de amor ao cinema e um ode a um realizador que, sozinho, conseguiu fazer parte da história do cinema brasileiro.

Firebird


"Firebird", de .Peeter Rebane (2021)
Baseado em uma história real, "Firebird" é um drama de guerra LGBTQIA+, uma co-producão Estônia e Inglaterra. Adaptaçao do livro de memórias escrito por , Sergey Fetisov, o filme é ambientado na Estônia de 1977, em uma base militar soviética. Sergey (Tom Prior, co-roteirista) é um soldado que é apaixonado por fotografias. Sergey e amigo de Luisa( Diana Pozharskaya ), uma datilógrafa que snha em ser médica. Quando surge o Tenente russo Roman (Oleg Zagorodnii), Sergey sente algo que nunca havia sentido antes. Sergey e Roman se apaixonam. Mas o homossexualismo é crime, e ambos escondem sua paixão. Mas Roman sente que pode ser descoberto e resolve se casar com Luisa, para desespero de Sergey.
"Firebird" é uma superprodução da Estônia que traz um melodrama eficaz para quem gosta de histórias de amor apaixonantes, mas trágicas. Com um time de belos e talentosos atores, o filme tem um ar nostálgico na fotografia e na ambientação, com requinte e sofisticaç

2 ou 3 coisas que eu sei dela


"2 ou 3 choses qui je sais d'elle", de Jean Luc Godard (1967)
Realizado entre dois de seus filmes mais conhecidos, "Made in Usa" e "A chinesa", "2 ou 3 coisas que eu sei dela" foi lançado em 1967, no auge da crise da Guerra do Vietnã, e início das construções de condomínios populares na periferia de Paris. Godard se inspirou em um artigo sobre donas de casa de um conjunto habitacional no subúrbio de Paris, que se prostituíam para alimentar o próprio consumismo supérfluo. O filme se aproxima bastante de "Zabriskie point", de Antonioni, ao fazerem um discurso crítico contra a sociedade de consumo. Godard , que narra o filme em um off sussurrado, alerta que o consumismo fez a sociedade esquecer de Hiroshima, de Asuchwitz, da fome, do desemprego, do Vietnã....
O filme, como todos os filmes de Godard dos anos 60, é um experimento linguístico, onde mistura-se ficção, documentário e teses sócio-políticas divagadas pelo próprio Godard, em off, oe pelos personagens.
O filme já começa com uma linda metalinguagem: Godard apresenta a atriz Marina Vlady: seus cabelos, sua roupa. Daí, ele apresenta Juliette: seus cabelos, sua roupa, que são o mesmo que o de Marina Vlady. Ou seja, Vlady é Juliette. Nesse exercício metalinguístico, reside a essência do filme. Vlady/Juliette vez ou outra quebra a quarta parede para falar com o espectador. Ela é uma mulher casada e com dois filhos, que para sustentar seus desejos consumistas, se prostitui.
"Você sabe a diferença entre o Amor falso e o Amor verdadeiro? O Amor falso é quando eu continuo sendo a mesma. O verdadeiro Amor é quando eu mudo, quando o meu amado muda." Esse belo diálogo é dado por Juliette ao seu indiferente marido. É no meio de frases de efeito como essa que o filme encanta e traz um protagonismo luminoso de Vlady, ao mesmo tempo que a atriz fetiche de Godard, Ana Karina, estampa um poster na parede. Visualmente, o filme é belíssimo, cheio de frases e palavras estilizadas na tela grande.

Vale das bonecas


"Valley of the dolls", de Mark Robson (1967)
Jaqueline Susan foi uma escritora best seller dos anos 60 e 70, e "Vale das bonecas", uma de suas obras mais conhecidas, vendeu mais de 30 milhões de exemplares. A adaptação cinematográfica foi lançada em 1967, e foi um verdadeiro escândalo, pela sua visão conservadora em relação ao sexo e ao uso de drogas. "Dolls" era uma gíria às drogas. O cineasta Mark Robson, que há 10 anos atrás havia lançado seu clássico do melodrama, "A caldeira do diabo", com Lana Turner, realizou em "Vale das bonecas" , um dos filmes mais cultuados da cultura gay, com cenas, diálogos e visual copiados pela comunidade, por conta do visual Kitsch e das extravagâncias apresentadas nos figurinos, na direção de arte, figurino e performances de suas estrelas. Barbara Perkins, Patty Duke Austin e Sharon Tate dão vida à Anne, Neele e Jennifer, Anne vem de uma cidade pequena para Nova York, em busca de um sonho, de trabalhar no mundo do entretenimento. Neelie é uma cantora com problemas de polaridade. Jennifer é uma corista insegura, é pressionada por sua mãe que pede dinheiro e acredita que os homens só querem seu corpo. As três irão se envolver com homens que as deixam infelizes, e o mergulho em bebidas e drogas torna-se inevitável.
O filme ficou famoso pela música tema cantada por Dionne Warwick. O selo Criterion Colection, destinado a filmes fundamentais para a história do cinema, colocou o filme em seu catálogo, deixando claro a importância do filme para a cultura pop. Judy Garland havia sido escalada para um papel de uma estrela decadente, mas por problemas com álcool, foi substituída por Susan Hayward, vencedora do Oscar de melhor atriz em 59 por "Quero viver".
Assistir ao filme é uma delicia, uma cafonice maravilhosa, com performances exageradas das atrizes, em momentos de histeria e surtos. Não à toa, artistas trans e drags vivem copiando as cenas. Sharon Tate foi assassinada por dois após esse filme.

segunda-feira, 21 de junho de 2021

Veneza


"Veneza", de Miguel Falabella (2021)

A peça "Veneza", adaptada por Falabella da obra do argentino Jorge Acamme e cuja estréia nos palcos aconteceu em 2003, foi um sucesso avassalador. No elenco, grandes nomes como Laura Cardoso, Arlette Salles, Debora Olivieri, Juliana Baroni, Tuca Andrada e Cristiano Gualda deram vida aos personagens ambientados em um universo lúdico e poético. Falabella agora lança a sua versão cinematográfica, ampliando a quantidade de personagens e sub-tramas de um lugar perdido no tempo e no espaço de algum lugar do Brasil. Um Brasil pobre, decadente, onde os sonhos já não existem mais. Navegando em dois tempo, passado e presente, costurados por Gringa (Carmen Maura), uma ex-dona de bordel e prostituta, cega. Gringa tem um último desejo: ir até Veneza, para poder se despedir do amor de sua vida, Giacomo (Magno Bandarz). Para ajudá-la, as prostitutas vividas brilhantemente por Dira Paes, Carol Castro, Dani Wnits, Maria Eduarda, Laura Lobo, e também, Du Moscovis. Yuri Ribeiro, André Mattos, Pia Manfroni e um grande elenco. O valor de produção é gigantesco: filmado em Montevideo e Veneza, com a premiada fotografia de Gustavo Hadba e direção de arte de Tulé Peak. O filme é certamente um dos grandes trunfos do cinema contemporâneo no Brasil, um cinema do universo tão particular de Falabella, onde sonho, melancolia, desalento e realismo fantástico caminham juntos para trazer alguma luz no fim do túnel.

&Me


"&Me", de Norbert ter Hall (2013)
Rodado em 4 países, o drama romântico "&Me" foi filmado em Berlin, Sitges, Armsterdan e Bruxelas. O filme apresenta 3 protagonistas solitários, moradores de grandes metrópoles mas que não se encaixam na vida que levam. Todas as 3 histórias irão convergir para Bruxelas.
Eduard (Mark Waschke) é um homem de 40 anos que trabalha no Parlamento europeu. ele mora em Berlin, é gay mas vive infeliz. Ele é transferido para Bruxelas, e ali, ele decide conhecer uma mulher para mudar a sua vida. Edurne(Verónica Echegui) é espanhola, 20 anos. Ela mora com sua mãe (Rossy de Palma), dona de um pequeno hotel em Sitges. Ela é advogada, infeliz no amor, e decide ir trabalhar em Bruxelas. Richard (Teun Luijkx) mora em Armsterdam, tem 30 anos, e se muda para Bruxelas para poder ter trabalho. Os 3 se esbarram em um pequeno acidente. Eduard convida Edurne para morar com ele. Quando surge Richard, ambos se apaixonam por ele, mas Eduard resolve não se envolver, preferindo sofrer de amor e permitindo que Edurne se envolva com o belo rapaz. Isso irá provocar um conflito entre os 3.
A triz Almodovariana Rossy de Palma faz uma pequena participação, naquele perfil divertido que a calebrizou. O filme é delicado, a história é tratada com bastante respeito, sem caricaturas. Dirigido com sutilezas, e com sensualidade é uma produção bonita, com ótima fotografia, trilha e traz um gosto acre doce que nos faz sentir que, mesmo morando em uma grande cidade, somos solitários. Os três atores são muito carismáticos.

domingo, 20 de junho de 2021

Transe


"Transe", de Diego Moraes (2021)
Peça filme dirigida por Diogo Moraes e roteirizada por Pedro Henrique Lopes, que além de protagonizar no papel de João, produz, edita e mixa esse projeto que deveria ter sido lançado como peça teatral no rio de Janeiro, mas por conta da pandemia, foi executada como cinema. O filme foi rodado em um apartamento em Santa Teresa, e tem um visual estonteante cartão postal da cidade, com linda fotografia.
A trama de início parece bem confusa, mas ao longa da narrativa o espectador vai entender referências principalmente de "O clube da luta", de David Fincher: a disputa de uma pessoa, João, em conflito com o alter ego que ele criou, o garoto de programa Nicolas (Oscar Fabião). Os dois são opostos em tudo: João é inseguro, tem questões com seu corpo e por isso, toma remédios que o deixam paranóico. Nicolas é seguro, se acha, tem um corpo trabalhado, é sensual e dono de si. Chega uma hora que João já não sabe mais quem ele é.
Levado em consideração as limitações orçamentárias, "Transe"é um produto bem acabado, com bela trilha, fotografia bonita, direção de arte eficiente e um trabalho orgânico dos dois atores, em personagens baseados em relatos de garotos de programas reais.

Em um bairro de Nova York


"In the heights", de Jon M. Chu (2021)
Adaptação cinematográfica do mega sucesso da Broadway "In the heights",
com música e letra de Lin-Manuel Miranda. A história se passa ao longo de três dias, envolvendo personagens negros e latinos do Washington Heights em Upper Manhattan , Nova York.
O espetáculo estreou em 2008e no mesmo ano, foi indicado a treze Tony Awards e ganhou quatro, incluindo Melhor Musical .
O filme foi dirigido por John M. Chu, diretor do sucesso "Podres de ricos".
Em "Um bairro de Nova York", acompanhamos vários personagens, todos lutando por uma vida melhor, cada um com a sua perspectiva: Usnavi (Anthony Ramos) é dono de um mercadinho do bairro e sonha em juntar um dinheiro e retornar para o seu país, República Dominicana. Entre uma profusão enorme de personagens e milhares de figuração (retrato de um cinema pré-pandemia), "Um bairro em Nova York" prima pela excelência técnica: fotografia, trilha, figurino, maquiagem, edição. existem várias coreografias deslumbrantes, mas a antológica é a da piscina e a da despedida da personagem Daniela, uma dona de salão. Através desses personagens, o filme discute e critica a gentrificação da metrópole que afasta pequenos comerciantes que precisam dar lugar a grandes empreendimentos. Um colírio para olhos e ouvidos.

Luca


"Luca", de Enrico Casarosa (2021)
Todo mundo que assiste "Luca" se lembra logo do clássico "A pequena sereia". Mas muita gente também enxerga nessa animação da Disney Pixar uma metáfora do "diferente", que pode servir tanto para questões sociais, raciais ou de identidade de gênero.
Luca (voz de Jacob Tremblay) mora com seus pais, Daniela (Maya Rudolph) e Lorenzo (Marco Barricelli) nas profundezas do mar mediterrâneo. Eles são integrantes de seres marinhos. A mãe de Luca lhe diz para jamais subir à superfície. Um dia, Luca conhece Alberto (Jack Dylan Grazer) que o convida para ir à superfície. Luca cede à tentação eoa chegar em terra firme, se surpreende que ele ganha o corpo de um garoto humano, assim como Alberto. Luca se encanta com a cidade, fazem amizade com a espevitada Giulia (Emma Berman). Mas os garotos da cidade, que querem caçar a lenda dos monstros marinhos, estranham a presença de Luca e Alberto.
Simpática aventura infantil, que valoriza a amizade entre as crianças, "Luca" é uma delicia que traz a nostalgia dos anos 50 e 60 de filmes clássicos italianos e das canções populares. Certamente fará a alegria de pequenos e dos pais que irão se esbaldar com a beleza dos cenários e com a delicia das músicas. A svozes originais são ótimas, defendidas por um super elenco.

A felicidade no seu pior


"Lagsta graden av lycka", de Sebastian Ljunggren Wiberg(2014)
Certamente, um dos filmes mais degradantes sobre a condição humana que já assisti, 'A felicidade no seu pior" poderia render facilmente um visceral e angustiante texto teatral com 2 atores, um de 40 anos e outro de 18 anos.
Pensem um texto onde um pedófilo de meia idade, Herkules, anda nas ruas caçando garotos, até que se depara com Hamlet, um jovem de 18 anos, vítima de abuso sexual quando criança. Hamlet mora nas ruas, e Herkules insiste que venha para a sua casa para beber e conversar. Chegando na casa, Herkules força um beijo. Hamlet foge, mas logo depois retorna, e confessa estar apaixonado por Herkules.
Um atordoante drama onde a carência afetiva e a necessidade de atenção faz com que um jovem se sinta protegido nos braços de um pedófilo que ainda por cima, é homofóbico e não se aceita ser homossexual, maltratando Hamlet e desferindo nele toda a sua fúria contra a sua condição de ser gay.
O filme foi rodado com quase nenhum orçamento. são dois atores, poucas locações e um texto violento e brutal. Esse texto nas mãos de Fassbinder se tornaria um cult mas nas mãos do cineasta sucesso ,Sebastian Ljunggren Wiberg se torna um obscuro filme underground. sujo, feio, maldito. A pobreza estética e a câmera documental conferem ao filme um realismo chocante. Os dois atores se entregam aos seus papéis de forma sensorial.

O assassino reservou nove lugares


"L'assassino ha riservato nove poltrone", de Giuseppe Bennat (1974)
Giallio obscuro de 1974, "O assassino reservou nove lugares" tem um início curioso e bastante inventivo: 9 personagens são apresentados ao espectador, cada um dentro de um carro, indo em direção a um antigo teatro abandonado, pertencente à família. Todos os 9 são integrantes da família. Chegando ao teatro, eles descobrem estar trancados por alguém misterioso, e que por um motivo que remete a fantasmas do passado da família, vai provocando assassinatos, matando um a um.
Interessante como o nome de Agatha Christie vem à mente, pois lembra bastante a estrutura de "O Caso dos dez negrinhos". Confinados em um único ambiente, um teatro repleto de corredores e saguões escondidos, lugares perfeitos para os assassinatos. As cenas de assassinato são toscas, e o roteiro e diálogos são cheios de furos. Vale como curiosidade.
Como boa parte dos Giallio, os atores são fracos. O cineasta apela para o erotismo, despindo a roupa de todo o elenco feminino, de forma desnecessária e que em nada contribui para a trama.

Censor


"Censor", de Prano Bailey-Bond (2020)
Concorrendo no Festival de Sundance, esse filme de terror independente inglês foi co-escrito e dirigido pela cineasta Prano Bailey-Bond. O filme é ambientado em 1985, durante o apogeu do mercado de filmes realizados para produções baratas de VHS. Enid (Niamh Algar, excelente) é uma censora voltada para filmes de terror slashers, com cenas de extrema violência. Ela tem a missão de vetar cenas onde acreditem que o espectador irá ficar seduzido em querer realizar crimes reais. Quando Enid assiste a um filme onde duas irmãs adolescentes seguem para uma igreja, ela se recorda de sua irmã mais nova, que foi dada como desaparecida. Enid acredita que a mulher do filme seja sua irmã, e resolve ir atrás do produtor e do cineasta.
Homenageando as produções slashers dos anos 80, com fotografia azul e vermelha e muita trilha de sintetizadores, o filme explora a extrema violência e gore, com efeitos dignos de Filmes B. É um filme estranho: começa bem, mas finaliza trazendo elementos surreais e de pesadelo.

sábado, 19 de junho de 2021

Noturna- A noite mágica


"Nocturna", de Adrià García e Víctor Maldonado (2007)
Premiada animação co-produzida pela Espanha e França, "Noturna- a noite mágica" venceu o prêmio de melhor animação no Goya, e concorreu no Annecy.
O filme tem um tema que lembra o brasileiro "Tito e os pássaros", e também, "A história sem fim".
Tim é um menino que mora em um orfanato. Ele sofre bullying dos outros meninos pois teme a escuridão, e constantemente é zoado. De noite, na varanda, ele percebe que sua estrela favorita, Adhara, desapareceu, e que os estrelas do céu estão sumindo. Ele é abordado por uma estranha criatura, o Pastor de gatos, que vive rodeado de gatos, e que o procura, na missão d elevá-lo ao mundo paralelo de Noturna e lutar contra uam entidade chamada Escuridão, que se alimenta de meninos que tem medo do escuro.
Com traços encantadores, que fogem do padrão da Disney e Pixar, "Noturna" é uma linda aventura infantil que traz o tema da coragem e da determinação contra as adversidades e medos que temos que enfrentar para avançar.

sexta-feira, 18 de junho de 2021

Sonata de Tokyo


"Tokyo sonata", de Kiyoshi Kurosawa (2008)
Realizador de filmes de terror e suspense, o aclamado cineasta Kiyoshi Kurosawa fez de "Sonata de Tokyo uma das grandes obras primas do cinema japonês contemporâneo. O filme recebeu diversos prêmios internacionais, entre eles, o Grande prêmio do juri da Mostra um certo olhar em Cannes 2008.
O filme é um retrato cruel do desemprego e da crise econômica no Japão, um país notório pelo alto índice de suicídio, uma sociedade que não aceita o fracasso.
Ryuhei (Teruyuki Kagawa), Megumi (Kyôko Koizumi), Takashi (Yû Koyanagi) e Kenji (Kai Inowaki) formam uma família feliz que mora numa confortável casa de dois andares. Ryuhei, o patriarca, trabalha em uma grande empresa. Sua esposa, Megumi. é dona de casa. Takashi, o filho maior, deseja se alistar no exército americano e lutar na guerra do Iraque. e Kenji, o filho menor, sonha em aprender a tocar piano, contra a vontade de seu pai.
Quando Ryuhei é demitido do emprego, ele fica com vergonha de anunciar à sua família, e vaga pelas ruas, fingindo continuar o trabalho. Ele reencontra um amigo de adolescência, Kurosu, que também está desempregado e ensina uns truques à Ryuhei para fingir em casa que está trabalhando. Mas Ryuhei se sente cada vez mais frustrado, fazendo entrevistas que não dão em nada.
O filme lembra o francês "O adversário", e tem o mesmo peso dramático. A sensação que fica é que o filme se encaminha para uma grande tragédia. Os atores estão todos formidáveis em personagens complexos e ricos em camadas. Um grande filme, forte e devastador.

Paternidade


"Fatherhood", de Paul Weitz (2021)
Diretor da sensível comédia dramática "Tudo sobre um garoto" e da comédia 'Entrando numa fria", Paul Weitz escala o comediante Kevin Hart para dar vida a Matt, um homem que perde sua esposa no pós-parto e é obrigado a se virar sozinho na criação da filha, Mandy. Atormentado pelo luto, Matt precisa lidar com o preconceito, com a família da falecida e co o passar do tempo, com a chegada de um novo amor.
O filme é adaptado do romance autobiográfico de Matt Logellin, "Two kisses of Mandy", e lida com respeito e carinho com os dilemas do personagem. Kevin Hart trabalha bem as várias nuances de Matt, trabalhando humor e drama, além de romance. Os personagens secundários dos seus amigos seguem um tom de comédia que destoa do filme, mas é o alívio cômico pro filme não pesar no drama.

Senhora


"Madame", de Stéphane Riethauser (2019)
Documentário LGBTQIA+ premiado em diversos Festivais, "Senhora" é um filme de memórias do seu realizador, Stéphane Riethauser. Através das lembranças de sua avó, Caroline Della Beffa, com quem conviveu intensamente na sua infância e adolescência, ele faz um relato sobre a sua homossexualidade e a coragem de sair do armário e se tornar um advogado militante das causas da comunidade gay.
A avó de Stephane faleceu há 20 anos, mas ele desenvolve a narrativa em forma de uma carta póstuma: narrando o filme todo em primeira pessoa, ele conversa com a avó sobre a sua história e sobre o medo que ele tinha de se expor em uma sociedade machista e conservadora, sob a fachada de hetero e namorando meninas. A história de sua avó, uma mulher que se casou aos 15 anos e que teve que batalhar por tudo sozinha, foi a sua grande inspiração. O filme é repleto de imagens de arquivo em filmagens e fotos. Um filme delicado, por vezes repetitivo, mas um belo conto de amor.

quinta-feira, 17 de junho de 2021

Closure


'Closure", de Bryan Tucker (2017)
Documentário dirigido por Bryan Tucker, marido de Angela Tucker. A história acontece em Washington. Angela, mulher negra, foi adotada por um casal branco, Teresa e seu marido, que já tinham 7 crianças adotadas, de raças e gêneros distintos. Angela, quando bebê, era dada como tendo problemas de locomoção devido à condições de má formação do quadril. Mas isso nunca aconteceu e Angela se tornou uma atleta de basquete. Aos 25 anos, Angela conhece e se casa com Bryan Tucker, diretor do filme. Bryan e branco. Angela decide que quer conhecer seus pais biológicos. Teresa fica preocupada, com medo de que Angela a troque pela outra família. Angela passa dois anos procurando pelas informações de seus pais, até que consegue o contato. Ela descobre que seu pai nunca soube que ela havia nascido. E sua mãe, mãe de vários filhos, não tinha condições de criá-la.
O filme é comovente, e tem como temas, a questão do sistema de adoção nos Estados Unidos. Mas aonde o filme toca o espectador é na questão da adoção trans-racial: famílias brancas adotando crianças negras, e de que forma a criança assimila uma cultura que não é a dela. É um tema polêmico e bastante controverso, e certamente, fonte para muitos debates.

Meu pai, minha mãe


"Ang Tatay, kong nanay", de Lino Brocka (1978)
O cineasta LGBTQIA+ filipino Lino Brocka é um dos mais prolíficos diretores do mundo. Em 1978, ano de "Meu pai, minha mãe", ele dirigiu 6 longas, em enorme feito.
No filme, o cabeleireiro Dioscoro Derecho assume a persona de Coring, uma Dra queen nos concursos. Respeitado pelas outras drahs, Dioscoro teve um caso com um rapaz chamado Dennis, que sumiu há anos. Dennis surge do nada e traz com ele seu filho, um bebê, Nonoy. Dennis se tornou num marinheiro e conheceu uma prostituta, Mariana. Ambos não tem condições de criar o filho e ele o deixa à guarda de Dioscoro, que recusa, mas acaba aceitando.
Drama de enorme sucesso popular nas Filipinas, protagonizado pelo comediante Dolphy, muito conhecido nas Filipinas. Assim como todo filme de Lino, a história se estica mais do que deve, com quase duas horas, e a produção é muito pobre, quase trash. Mas as boas intenções do filme, mesmo que caricatas, trazem uma bela mensagem de aceitação.

Selva trágica


"Selva trágica", de Yulene Olaizola (2020)
Drama de realismo fantástico mexicano, concorreu em prestigiados Festivais como San Sebastian e Veneza, de onde saiu com um prêmio especial. O filme foi co-escrito e dirigido pela cineasta Yulene Olaizola.
Em 1920, uma mulher, Agnes, foge de um casamento arranjado com um colonizador inglês mais velho. Ela foge com sua irmã e um amigo, e todos são mortos durante a fuga pelo marido e seus capangas. No entanto, Agnes ressuscita, agora tomada pelo espírito de Xtabay, uma entidade feminina que seduz e mata os homens. Agnes é encontrada por um grupo de homens que colhem goma das arvores, e acabam sendo mortos um a um.
Um olhar feminino e feminista sobre uma sociedade machista e agressiva, protagonizado por uma mulher e que precisa sobreviver em um mundo fadado à violência contra a mulher. O filme busca referências em filmes de terror e de realismo fantástico, e talvez uma boa referência fossem os filmes do tailandês Apichapong. É um filme lento e estranho, mas ainda assim, instigante.

Não há relacionamento sexual


"lI'll nya pas de rapport sexuel", de Raphaël Siboni (2011)

Documentário sobre as filmagens dos filmes de sexo explícito do famoso diretor francês HPG (Hervé Pierre-Gustave), HPG realiza filmes heteros e gays, e sempre dirige os atores e filma com a câmera usando cueca ou totalmente nú, para deixar o elenco à vontade. Cada ator ou atriz que surge no filme dando depoimentos inusitados mostram sua carteirinha profissional de atores pornô. O filme mostra muitas cenas de sexo reais e outros simulados, o que vem a ser a parte mais reveladora dos bastidores do pornô. Muitas das cenas que vemos nos filmes pornô são simuladas, para que o elenco possa dar o melhor de si em relação a reações. Em muitas das cenas, onde não se mostra a penetração, os atores falseam que estão transando. Uma mulher geme a cada palmada que o parceiro dá em seu bumbum, mas na verdade, o ator bate em si mesmo ou dá palmas fora de quadro. Em outro momento, o diretor ensina uma atriz a fazer sexo oral no parceiro sem colocar o pênis de verdade na boca. São simulações divertidas e curiosas.

Família sem cortes


"Uncut family", de Costas Zapas (2004) Estranho e experimental filme grego, rodado com a câmera Hi-8, comum no início dos anos 2000. O filme, um drama em registro documental mas com linguagem experimental, apresenta 3 personagens: mãe, pai e filho. O filme é dividido em cinco capítulos: O filho, o pai, a mãe, pai e filho, a sagrada família. Como o capítulo diz, cada segmento apresenta o personagem citado. O filho surge nu ou de cueca, os pais em momentos íntimos na banheira, ou na sala. O filme não tem diálogos. Lembra os filmes dos anos 60 de Andy Warhol, onde nada acontece diante da câmera. Os personagens são filmados e eles agem de forma naturalista, ora relacionando cm a câmera, ora fazendo algo totalmente nada. Não entendi o simbolismo do filme, pode ser que seja um anti-filme, onde os atores se sintam desconfortáveis com a presença da câmera. De qualquer forma, é um filme chatooooo. Para quem é voyeur, pode ser uma boa pedida.

quarta-feira, 16 de junho de 2021

Você está sozinha?


"Are you in the house alone/", de Walter Grauman (1978)
Suspense baixos teores de 1978, cujo maior atrativo é ter no elenco Blythe Denner e o jovem Dennis Quaid, em início de carreira.
O filme remete a clássicos de terror que tem como mote uma jovem babá ameaçada por um assediador ao telefone: 'Mensageiro da morte" e "Black christmas' são alguns exemplos, além de "Halloween".
Gail (Kathleen Beller) é uma estudante que mora com sua mãe Anne (Blythe Danner). Gail namora Steve e tem como melhor amiga Allison, que namora Phil (Dennis Quaid). Quando Gail vai trabalhar de babá, ela recebe um telefonema anônimo a ameaçando. Os telefonemas são constantes, mas ninguém acredita nela.
Como suspense, o filme é bem fraquinho. Os atores estão ok, e comparando a outros do gênero, o filme parece até sessão da tarde. Vale como curiosidade.