domingo, 31 de dezembro de 2017

Sem Deus

"Bezbog", de Ralitza Petrova(2016) Premiado no Festival de Locarno 2016 com os Prêmios de Melhor filme e Atriz, "Sem Deus" ainda ganhou dezenas de outros Prêmios em festivais mundo afora. Tanto prestígio talvez se deva ao caráter extremamente pessimista da obra. A história se ambienta na Bulgária pós comunismo, e a protagonista é uma enfermeira, Gana (Irena Ivanova, excelente). Morando com sua mãe, desempregada após o fim do comunismo e totalmente deslocada, Gana tem como pacientes, idosos dementes que ela atende `a domicilio. Seu namorado, um mecânico de automóveis, é seu parceiro no crime que Gana comete contra os pacientes: ela rouba as identidades deles e os vende pro mercado negro. Um dia, ao conhecer Yoan, um idoso cantor, ela tem a chance de mudar de vida. "Sem Deus' faz parte daquele tipo de filme que deixa o espectador totalmente arrasado após a projeção. O roteiro de Ralitza Petrova não faz a mínima questão de fazer o espectador se apiedar de qualquer personagem, e nem existe espaço para redenção. Um filme cru, frio, assim como a triste paisagem da cidade. Para quem gosta de filmes depressivos, é um prato cheio.

O artista do desastre

"The disaster artist", de James Franco (2017) Pouca gente sabe, mas o Ator James Franco é um dos mais prolificos Cineastas no Cinema, tendo dirigido dezenas de filmes em poucos anos, a maioria produção independente. Justamente por amar esse Universo dos independentes, que Franco resolveu homenagear o maior de todos, considerado o pior filme de todos os tempos, suplantando "Plan 9 from outer space", de Ed Wood, que por muito tempo ficou com esse posto. Estamos falando de "The Room", um filme de 2003, totalmente financiado, escrito, protagonizado e editado por Tommy Wiseau. Quando foi lançado, o filme foi execrado pela crítica, mas o público fez dele um objeto de culto, a ponto das pessoas saberem as falas de cor, se vestirem igual ao protagonista, etc. Até hoje, sessões são organizadas mundo afora com a presença de Wiseau e de seu amigo Greg Sestero, ator e produtor do filme. O motivo de tanto cainho pelo filme? As interpretações canastras, o roteiro sem pé nem cabeça, os efeitos toscos, a fotografia pavorosa, o cenário cafona, etc. James Franco fez dessa história um Hino de amor ao Artista. Para ele, mesmo o pior Ator do mundo, merece o seu lugar ao sol.O filme homenageia ao mesmo tempo uma época ( a trilha sonora é repleta de clássicos pop dos anos 90 e início dos 2000 ( Finally, Rhytm of the night, Can't get out of my head", etc) , Em uma cena maravilhosa, James Franco ( Tommy Wiseau) e Dave Franco ( Greg Sesterro) cantam "Never gonna give you up", de Ricky Astley, dentro de um carro. O filme mostra a luta de Greg e de Wiseau para se firmarem no mercado, a ida deles para Los Angeles, as várias negativas dos produtores até que Wiseau decide ele mesmo fazer um filme. Ele contrata equipe, elenco, escreve o roteiro e faz de tudo na produção. As cenas de teste de elenco são sensacionais, e o filme dea uma cutucada no cruel Universo dos Atores, que lutam e sofrem para conseguir alguma coisa, até mesmo um teste. O Elenco é repleto de astros: Jacky Weaver, Zac Efron, Seth Rogen, Josh Hutcherson, Sharon Stone, Melanie Griffith. No prólogo, atores, diretores e roteiristas famosos dão depoimento dizendo porque amam o filme original, "The room". entre eles, J J Abrams, Kevin Smith, Danny McBride e Kristen Bell. Emocionante e divertido, garantia de gargalhadas altas e de algumas lágrimas.

Desencanto

"Brief encounter", de David Lean (1945) Obra-prima do Cinema inglês, Vencedor da Palma de Ouro de Melhor Filme em Cannes 1946, "Desencanto" é a adaptação da peça homônima escrita por Noël Coward. Filmes como "La la land", " As pontes de Madison" e a trilogia "Antes do entardecer" de Richard Linklater devem muito a esse filme de David Lean. E' um filme sem final feliz, que narra a aventura amorosa de dois estranhos que se encontram toda as 5as feiras em uma estação de Trem de Londres. Ambos casados, se apaixonam `a primeira vista, e entram em um grande conflito moral. Laura (Celia Johnson) e o médico Dr Alec (Trevor Howard) constantemente marcam encontros fortuitos em restaurantes e salas de cinema, mas eventualmente são flagrados por alguma amiga de Laura, que precisa ficar toda a hora mentindo. Com maravilhosa fotografia em preto e branco, que intensifica o melodrama e a tragédia dos personagens, "Desencanto" é um primor de roteiro e de diálogos. Assistindo depois de "La la land", achei curioso que Damien Chazelle buscou aqui a sua referencia para o "futuro possível", quando um dos personagens imagina uma vida futura com a outra pessoa. David Lean logo depois focaria mais famoso pelos seus grandes épicos: "Dr Jivago", " Passagem para a India", "Lawrence das Arábias".

Três anúncios para um crime

"Three Billboards Outside Ebbing, Missouri", de Martin McDonagh (2017) O cineasta inglês Martin McDonagh é da mesma linhagem de filmes de Tarantino, Irmãos Coen e Guy Ritchie: são filmes que possuem personagens psicóticos, violentos, geralmente morando em um ambiente opressor e que estão em busca de vingança. Ah sim, não podemos esquecer da cultura pop, que é fundamental para os seus filmes. Ou você acha normal um policial truculento ouvir "Chiquitita" de Abba, dançar e achar isso normal? Martin McDonagh. dirigiu os excelentes "Na mira do chefe" e "Sete Psicopatas e um Shih Tzu". Agora, com "Três anúncios para um crime", ele atinge o seu ápice. Seu roteiro é extraordinário, o Elenco, como um todo, está muito foda e a direção, não menos que brilhante, O filme tem pelo menos 2 cenas antológicas, verdadeiras aulas de cinema: o plano sequencia do Policial Dixon ( Sam Rockwell, soberbo) quebrando tudo numa sala de anúncios de classificados, e a cena do incêndio. O filme alterna momentos de tensão, drama e comédia de humor negro, Típico dos irmãos Coen, mas quem viu os outros filmes de Martin McDonagh. sabe que ele sempre foi assim, e o seu humor esta próximo ao inglês. Mildred (Frances McDormand) é uma mulher em busca de vingança. Sua filha foi estuprada e assassinada, e ela culpa a policial local de sua cidade de não avançar no caso. Ela resolve então alugar 3 anúncios na estrada, e isso faz o caso voltar `a tona, incomodando a todos na cidade. E' um deleite assistir tantos atores foda dando tudo de si em interpretações vibrantes. Além de Frances e de Sam Rockwell, temos Woody Harrelson, sensacional, e os jovens Lucas Hedges ( de "Manchester `a beira mar" e "Ladybird") e Caleb Landry Jones. Ah, e quem atua na cena de Chiquitita" é Sam Rockwell, fenomenal.

sábado, 30 de dezembro de 2017

Quem tem medo de Virginia Woolf?

"Who's Afraid of Virginia Woolf?", de Mike Nichols (1966) Longa de estréia do Ator e Cineasta Mike Nicholas, lançado em 1966. Um ano depois, Nichols lançaria outro clássico, "A primeira noite de um homem", e daí em diante, seguir uma filmografia de grandes filmes, em comum, com excelente trabalho de direção de atores. Adaptado da peça teatral de Edward Albee pelo roteirista Ernest Lehman, o filme recebeu 5 Oscars em 1966: Melhor atriz (Elisabeth Taylor), Atriz coadjuvante (Sandy Dennis, Melhor figurino, Fotografa e Direção de arte. Nichols perdeu o Oscar de Direção para Fred Zimmerman, de "O homem que nao vendeu sua alma". Uma pena, pois o trabalho de Direção de Mike Nichols é brilhante. Pegar uma peça teatral de quase 2:20 horas de duração, e torna-lo cinematográfico, sem aparentar estarmos vendo uma peca filmada, é uma tarefa para poucos, ainda mais sendo filme de estréia. Sua direção prima pela marcação de atores em cena e pela movimentação da câmera, que segue os personagens em cena. A história acontece toda em uma madrugada: após saírem de uma Festa da Universidade aonde George (Richard Burton) dá aula de história, Martha (Elisabeth Taylor), sua esposa, chega em casa e avisa que convidou um casal para beber com eles. Martha é filha do Dono da Universidade, e por conta disso, ela descarrega todo tipo de humilhação contra George, que em principio acata tudo passivamente. O jovem casal chega: Nick (George Segal), professor de biologia na mesma Universidade, e Honey (Sandy Dennis), sua esposa. Todos bebem bastante e durante a bebedeira, rola uma lavação de roupa para todos os lados, onde todos se agridem verbalmente. Com um trabalho extraordinário de todo o elenco, e uma direção precisa de Mike Nichols, o filme é uma perfeição para onde quer que se olhe. Tecnicamente impecável, os diálogos ácidos e cruéis são cuspidos pelos personagens com muito veneno. Resta ao espectador rir, ficar chocado e se emocionar com esses 4 personagens patéticos. Toda a cena no Bar é antológica. Um filme obrigatório para os Atores assistirem.

Na glória, a amargura

"I could go on singing", de Ronald Neame (1963) Drama musical inglês, mais conhecido por ter sido o último filme da atriz Judy Garland, que morreria 6 anos depois, em 1969. O filme é visto pelos fãs como uma espécie de mea -culpa de Judy: a protagonista, Jenny Bowman, uma famosa atriz, abdica de sua vida pessoal em prol do estrelato. Retornando para Londres para fazer uma série de shows, Jenny reencontra o Dr David (Dirk Bogarde). Há 15 anos atrás, em NY, eles foram amantes e tiveram um filho, Matt. Por conta da carreira, Jenny deixou o filho com Matt, que voltou a morar em Londres. Agora viúvo, David contou ao filho Matt que ele foi adotado, escondendo a existência de Jenny. Agora ela quer conhecer seu filho, mas David a impede. Drama lacrimogêneo ( chorei muito na cena que Matt, o ótimo Gregory Phillips, descobre a verdade). tenta recuperar o prestigio de Judy Garland com seu grande sucesso, "Nasce uma estrela". O filme não tem o mesmo brilho, mas é uma bela chance para os fãs de Judy assistirem `a sua última performance em filmes. Ela canta divinamente vários números musicais, entre eles, a musica titulo, "I could go on singing". Rodado em Londres, é um filme que conta com o talento extraordinário de Judy, e em especial duas cenas, aonde ela traz performance dramática admirável: na cena ao telefone com o filho, e na cena do hospital cm David. No desfecho, ela arrasa cantando nos palcos, com total domínio em cena.

Projeto Flórida

"The Florida Project", de Sam Baker (2017) Sam Baker é daqueles Cineastas que metem a mão na massa e fazem de tudo em seus filmes independentes. Foi assim em "Starlet", depois no premiado "Tangerine" ( famoso por ter rodado o filme com 4 celulares Iphone 6) e agora com o também super premiado "Projeto Flórida". Rodado em 35 mm, apenas na cena final, com as meninas correndo pela Disneyland, ele rodou com Iphone, escondido da segurança da Disney ( ele usou o mesmo recurso do cult de terror "Fugindo do amanhã", de Randy Moore, totalmente rodado `as escondidas na Disney). Sam Baker dirigiu, escreveu, editou e produziu esse comovente drama sobre mãe e filha desajustadas em uma Orlando longe da Fantasia da Disney, Choca, e muito, o talento de Brooklynn Prince, no papel de Moonee, uma menina de apenas 6 anos de idade! Que talento! Além dela, Willen Dafoe, no papel de Bob, gerente do Motel onde elas moram, Bria Vinaite, no papel de Halley, mãe de Mooneey e as outras crianças do casting conferem uma performance naturalista em um filme que mais parece um documentário sobre a sociedade marginalizada dos Estados Unidos, os sem teto brancos, negros e latinos que não possuem qualquer tipo de futuro brilhante em suas vidas. Desemprego, prostituição, trapaças, roubo, vale tudo para sobreviver no dia a dia dos personagens. O filme traz um olhar para uma parcela da população que não tem casa para morar, e vivem em Motéis de 35 dólares a diária. Uma dessas pessoas é Halley e sua filha Mooney. Halley faz de tudo para ganhar um dinheiro suado, desde vender perfumes falsificados até se prostituir. Mooney, por sua vez, se diverte com os filhos de outros moradores. Bob age como uma figura paterna, botando ordem no local e na vida dos moradores. Não é um filme fácil de assistir. Sam Baker não se preocupa se nos, os espectadores, sentiremos pena das personagens, Ele não faz questão de piedade, tanto que mãe e filha são irritantes, mal educadas e mau caráter. Fazem tudo errado e ainda contagiam pessoas inocentes para embarcar nessa viagem louca pelo lado marginal da vida. Sam Baker quer ir além: quer mostrar a falta de assistencialismo do Governo, que não supre as necessidades básicas para os sem teto. Quando a assistência social aparece, vem de forma truculenta, violenta. A melhor coisa do filme, é o paralelo que Baker faz entre o Mundo encantado da Disney para quem frequenta seus parques caríssimos, e o mundo encantado" dos pobres, formado por lojas de 5a categoria, rodovias e parques infestados de pedófilos. Uma cena antológica: um casal de brasileiros ( atores brasileiros mesmo!) levando um susto ao chegarem para o check in no Motel vagabundo e descobrirem que foi tudo um engano ( afinal, o Motel se chama "Magic Kingdom). O filme foi exibido na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes 2017.

A vida de um Gênio - Rebelde no campo de centeio

"Rebel in the rye", de Danny Strong (2017) Longa de estréia do ator Danny Strong, "A vida de um genio" é a cinebiografia do escritor J.D. Salinger, famoso mundialmente pelo seu livro "O apanhador no campo de centeio", lançado em 1951. Salinger (Nicholas Hoult, de lentes escuras) nasceu em Manhattan, filho de pai judeu e mãe de origem escocesa. Salinger sempre gostou de escrever, para desgosto de seu pai, que queria que ele fosse um comerciante. Sua mãe o estimulou a estudar em uma faculdade, onde começou a escrever contos. Nesse período, Salinger começou a se envolver com a jovem atriz Oona O'neill, que mais tarde veio a se casar com Charles Chaplin, para sua infelicidade. Após ter um conto publicado no The New Yorker, Salinger foi convocado para lutar na 2a Guerra, inclusive tendo participado do Dia D. Ao voltar da guerra, Salinger retornou totalmente perturbado mentalmente. isso, mais o seu contato com a religião budista, o influenciaram na escrita de "O apanhador..", que se tornou um grande sucesso. Salinger se casou, teve um filho, mas o sucesso o tornou recluso, alheio ao público. Salinger acabou indo morar no campo, aonde viveu até 91 anos de idade, no ano de 2010. Tendo escrito poucos livros em vida, Salinger teve uma vida conturbada. Infelizmente, o filme foi dirigido de forma totalmente burocrática. Sem emoção, sem grandes arroubos, apenas flat e rotineiro. Nicholas Hoult interpreta Salinger de forma automática, distante de suas grandes atuações. Kevin Spacey interpreta Whit Burnett, seu professor de literatura na Faculdade. Estranho assistir a um filme de Spacey depois do escândalo de assédio, porque fica impossível olhar para ele e não pensar no caso. Uma pena que um ator tão talentoso tenha tenha se afundado na sarjeta de forma tão melancólica.

sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Antiporno

"Antiporno", de Sion Sono (2016) Em 2016, o estúdio japonês Nikkatsu comemorou 45 anos de existência. Em 1971, `a beira da falência, ela resolveu produzir softporns, chamados de "Roman porno". Foram produzidos mais de 1000 filmes em quase 20 anos de produção. Os filmes seguiam uma espécie de Dogma: mesmo orçamento, período de filmagem. Como parte da comemoração, foram produzidos 5 longas homenageando essa estética e temática. "Antiporno" foi o primeiro dos filmes a ser produzido. Dirigido pelo cultuado Cineasta SIon Sono, o filme é uma experiência bastante bizarra e experimental. Eu mesmo sou um grande fã de seu cinema ( Noriko's dinner table", "Tokyo Tribe", "Suicide club" são alguns de seus melhores filmes.) No entanto, aqui em "Antiporno", Sono exagerou demais na dose. Não consegui apreciar essa obra, e desde o inicio eu já me sentia incomodado com a premissa. Quase todo rodado em um apartamento ( que descobrimos mais tarde ser um cenário de uma filmagem), o filme apresenta Kyoko, uma jovem escritora, que trata a sua assistente Noriko como uma escrava sexual, humilhando-a na frente de todo mundo. Logo mais, os papéis se invertem, quando descobrimos que era tudo uma filmagem e que na verdade, quem pratica humilhação é Noriko em Kyoko, pois a atriz que interpreta Noriko é uma grande estrela e humilha Kyoko por ela ser incompetente. As feministas vão tacar fogo nesse filme, pois ele reitera o papel da mulher como objeto sexual ( afinal, o filme homenageia um tipo de cinema porno realizado nos anos 70 e 80 onde não existia o politicamente correto. As mulheres eram submetidas a taras sexuais e vistas como objetos sexuais.) No final, Sono faz a sua protagonista expor um depoimento contra o cinema porno e a submissão da mulher, mas até lá, esse discurso não tem força alguma, pois passamos mais de 1 hora vendo todo tipo de bondage. Destaque para as atrizes que se dispuseram a se entregar aos personagens de forma visceral, em cenas de humilhação e nudez.

Sedução da carne

"Senso", de Luchino Visconti (1954) Adaptação do livro de Camillo Boito, "Sedução da carne"" é uma obra prima magistral de Luchino Visconti. Com esse filme, lançado em 1954, Visconti rompeu com a linguagem Neo realista de seus primeiros filmes e começou a fazer uso de uma direção de arte, figurino e maquiagem impecáveis. Visconti é reconhecido mundialmente pelo seu rigor com a estética e visual de seus filmes. Ambientado na Itália de 1866, quando estava sob a ocupação da Austria, narra a paixão proibida da Condessa Livia Serpieri (Alida Valli, Diva) pelo tenente austríaco Frank (Fraley Granger, americano que já havia trabalhado com Hitchcock em "pacto sinistro" e " Festim diabólico"). Por esse amor, a condessa trai os seus compatriotas, seu marido e abandona tudo para ficar ao lado dele. Mas as intenções de Frank são as piores possíveis: ele quer o dinheiro dela para suprir suas necessidades por bebidas, luxo e mulheres. O filme começa dentro de um Teatro em Veneza, aonde está sendo apresentada a ópera "Il Trovatore". E' nesse ambiente que a Condessa e o Tenente Frank se conhecem. O filme é dirigido com um rigor estético formal e impressionante: enquadramentos que valorizam as locações, a arquitetura, o caráter épico do drama. O filme foi rodado em Veneza, Roma e Lombardia. A impressão que se tem, assistindo a esse drama de 2 horas, é que a opera apresentada no inicio, se estende para a vida real dos personagens, tal a dimensão da tragédia que se abate sobre todos. Impecável, obrigatório, um primor de realização e de marcação de cenas, tudo com extremo luxo e requinte. Na ficha técnica, os futuros cineastas Franco Zefirelli e Francesco Rosi foram os assistentes de Direção, e Giuseppe Rotunno, brilhante fotógrafo que iluminou "Rocco e seus irmãos", de Visconti, além de "Amarcord" e outros filmes de Fellini, foi o operador de câmera.

O jantar de Natal

"La cena di natale", de Marco Ponti (2016) Comédia romântica italiana, continuação do sucesso "Eu só amo você", de 2015. Marco Pont é um famoso Diretor italiano que possui em sua filmografia, comédias românticas populares. Estrelado pelo astro Riccardo Scamarcioi ( do grande sucesso "O primeiro que disse"), o filme é ambientado na cidade costeira de Polignano a Mare. Riccardo interpreta Damiano, casado com Chiara, grávida de 8 meses. Damiano possui uma amante, e por conta disso, inventa muitas mentiras `a sua esposa. Seu pai, Don Mimi, tem uma paixão platónica de juventude pela mãe de Chiara, e assim o filho acaba repetindo o conflito amoroso que seu pai teve na sua idade. Para piorar, a mãe de Damiano resolve promover uma grande Ceia de natal, juntando a todos na mesma mesa, sme saber que está promovendo uma grande confusão. Típica comédia italiana de confusões relacionadas `a traições, o filme tem alguns momentos divertidos, mas no geral, é uma comédia sem sal. Mal se ri, e mesmo a parte romântica é meio sem carisma, afinal todos traem todos e fica difícil simpatizar por alguém. O que de fato vale nesse filme é apreciar as lindas locações da costa italiana, devidamente captadas pelas câmera de Roberto Forza.

quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Debaixo da árvore

"Undir trénu ", de Gunnar Sigurðsson (2017) Candidato da Islândia para uma vaga para o Oscar de filme estrangeiro 2018, "Debaixo da árvore" foi dirigido por Gunnar Sigurðsson, mesmo realizador de "Either way", seu cult de 2011, que ganhou uma refilmagem americana em 2013 chamada de "Prince avalanche". Vencedor de vários prêmios em festivais internacionais, e tendo concorrido no Festival de Veneza 2017, o filme causa espanto por ter ganho prêmios de "Melhor comédia". Claro, considerando o que os Islandeses poderiam chamar de comédia, pois para os espectadores brasileiros, pode soar como um drama trágico e até violento. Tem quem possa enxergar o humor negro mais violento dos Irmãos Coen na história, ou uma versão hardcore de "Guerra dos Rose". Sao 2 histórias que correm paralelas, envolvendo conflitos entre pessoas que se odeiam: um casal, Atli e Inga, se separam, após a esposa flagrar um video porno do marido fazendo sexo com uma amiga. Ela o expulsa de casa e o impede de ver a filha. Ele vai morar com seus pais, que por sua vez, estão em pé de guerra com os vizinhos por conta de uma árvore. O início até tem uma cena que a gente ri, mas depois disso, é só cacetada. A direção do filme procura intensificar uma tensão crescente que chega a um clímax sangrento. Os atores são todos ótimos, o roteiro é cruel e tem como tema central a sordidez humana e os instintos violentos que cidadãos comuns carregam dentro de si. Quase um Michael Haneke.

Lou

"Lou Andreas-Salomé", de Cordula Kablitz-Post (2017) Dirigido e co-escrito pela Cineasta alemã Cordula Kablitz-Post, "Lou" é uma cinebiografia de Lou Andreas-Salomé, escritora e psicanalista russa que viveu na Alemanha e morreu em 1937. Uma mulher `a frente de seu tempo: independente; numa época aonde as mulheres não estudavam e cuidavam do lar, ela ficava o dia todo estudando livros de filosofia na biblioteca, contrariando o pedido de sua mãe que não queria que ela estudasse; foi objeto de inspiração e desejo de vários intelectuais e pensadores, como o poeta Rainer Rilke, Nietzsche, Paul Reé. Ela jurou nunca se casar e ter filhos, e por muito tempo evitou fazer sexo pois queria ter domínio sobre o seu corpo. O filme segue uma estrutura convencional de biografia, mas aonde ele me conquistou em cheio foi na solução que a diretora Cordula propôs ao projeto para resolver problemas de produção: fez animações de fotos de época e inseriu seus atores na foto. A técnica ficou muito interessante e estilizada. O filme é lento, segue meio aborrecido, mas vale como curiosidade para quem, como eu, não conhecia nada da história dessa Mulher que foi um dos pilares do movimento feminista no inicio do Sec XX.

Sem fôlego

"Wonderstruck", de Todd Haynes (2017) Adaptação de um livro escrito por Brian Selznick, autor de "Hugo Cabret", "Sem folego" é dirigido por Todd Haynes, mesmo Diretor de "Carol", "Eu não estava lá", "Velvet Goldmine" e "Longe do paraíso". Haynes é um Cineasta que quase sempre está em busca de novas linguagens e estilizações. Seus filmes sempre tiveram um apuro técnico incrível para a fotografia e a direção de arte. Aliás, é justamente o quesito técnico que chama a atenção nesse filme que concorreu em Cannes 2017. A fotografia de Ed Lachman (indicado ao Oscar por "Carol") e a direção de arte de Ryan Heck e Kim Jennings são um verdadeiro escândalo. O filme se passa em 2 épocas: 1927 e 1977. No passado, a foto é em preto e branco. Haynes quiz trazer a sua narrativa autoral para um projeto juvenil e lúdico. A magia que havia em "Hugo Cabret", aqui ficou resumido a poucas cenas, e o filme investe mais na montagem para provocar surpresas no espectador. Em 2 épocas distintas, 2 crianças fogem de suas casas em direção a Nova York para buscarem seus parentes. Rose, uma menina surda muda, está em 1927, e Ben (Oakes Fegley), em 1977. De alguma forma, essas 2 histórias se cruzam. Durante o filme todo, pensei em 3 projetos: " O artista", " Uma noite no Museu" e o seriado "Dark", da Netflix. A parte em preto e branco é tratada como se fosse um filme mudo. E boa parte do filme se passa em um Museu de história natural de Nova York. Juliane Moore e Michelle Willians fazem participações. Fico pensando a dificuldade que deve ser para encontrar um perfil de público para assistir a esse filme. Falta magia para conquistar a garotada, e uma trama mais madura para conquistar os adultos.

quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Ensiriados

"Insyriated ", de Philippe Van Leeuw (2017) Ex-Fotógrafo ( fotografou "A vida de Jesus", de Bruno Dumond") e agora Roteirista e Cineasta, o belga Philippe Van Leeuw apresentou "Ensiriados" no Festival de Berlin 2017, dentro da Mostra Panorama, e saiu de lá com os Prêmios de melhor filme do público e melhor Direção. Totalmente rodado em um apartamento no Líbano, o filme narra a história de uma família que tenta sobreviver durante a Guerra da Síria. Confinados em um apartamento ( eles são os últimos moradores do prédio), Oum Yazan (Hiam Abbas, a grande estrela Palestina) mantém seus 3 filhos, o pai, a empregada, o namorado de uma das filhas, o casal de vizinhos e seu bebe sob a sua guarda. Ela aguarda a chegada do seu marido para resgatar a todos e poderem sair de lá, mas ele está incomunicável. Como uma leoa, Oum defende a todos com unhas e garras, até que 2 soldados rebeldes invadem o apartamento. Tenso e muito bem dirigido, além das performances brilhantes de Hiam Abbas e de Diamand Bou Abboud, no papel da vizinha Halima ( e protagonizando uma cena muito tensa onde ela defende seu bebe dos rebeldes) , "Ensiriados" é um filme que tem a Mulher como força dominante na história, afinado aos novos tempos. As mães são leoas que defendem suas crias, e os homens ou são covardes, ou corruptos e estupradores ou ficam passivos `a tudo o que acontece. Bom trabalho de câmera dentro de um ambiente apertado, graças ao talento da fotógrafa Virginie Surdej.

terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Contra a lei

"Against the law", de Fergus O'Brien (2017) Drama biográfico baseado na história do jornalista inglês Peter Wildeblood, que em 1952 foi preso acusado de praticar homossexualismo. A lei, datada de 1885, proíbe que homens mantenham relações sexuais. Após permanecer quase 2 anos preso (Peter foi delatado pelo seu amante, o soldado Macnally, com quem ele teve um romance. Através da delação, Macnally foi absolvido e solto.). Em 1957, o Relatório Wolfenden, elaborado por uma comissão, baseado em depoimentos de Peter e de outros presos homossexuais, foi acatada pelo Governo inglês: através desse relatório, os gays podiam manter relações sexuais, contanto que dentro de suas casas, em ambientes fechados. Somente uma década depois que a lei foi revogada, mas segundo alguns dos belos depoimentos de idosos, quase nenhum gay se assumiu publicamente, amedrontados por retaliações. Alternando a parte ficcional com depoimentos de gays que sofreram prisões na época, "Contra a lei" é bastante esclarecedor. O ator Daniel Mays, que já trabalhou em filmes de Mike Leigh, e até mesmo trabalhou em "Rogue one", faz um excelente trabalho, no papel do conturbado Peter. Adorei a parte final, com os idosos citando nomes e gírias para gay afeminado.

Bright

"Bright", de David Ayer (2017) Porque assistir "Bright", produção da Netflix? 1) Se você é muito fã de Will Smith e estava sentindo falta dele interpretar aquele tipo cool, divertido, sedutor e desbocado 2) Se você curte filmes de ação que tem mais pancadaria, explosões e correria do que diálogos explicativos demais 3) Se você não está nem um pouco a fim de raciocinar, e apenas quer se deixar levar pelas imagens em ritmo de video game 4) Se você adora aquele tipo de filme policial protagonizado por uma dupla de policiais que não se aguentam 1 minuto juntos, mas que não conseguem se separar 5) Se você quer tentar encontrar referencias a "Senhor dos anéis", " Máquina mortífera", "Inimigo meu", e segundo um grande amigo meu, " Os aventureiros do bairro proibido" , de John Carpenter, mesclado a "Faca a coisa certa", de Spike Lee Eu nem tava muito a fim de ver o filme, mas diante dessa comparação explosiva entre Spike Lee e John Carpenter, me deixei render. No futuro, o mundo está mesclado entre humanos, Orcs (Ogros) e Elfos. Os humanos são a raça em maior número. Os Elfos são a classe mais abastada e vivem num bairro chique e glamuroso, para ricos. Já os Orcs são a escória, vivem em guetos. A dupla de policiais Daryl (Smith) e o ogro Nick (Joel Edgerton) trabalham em Los Angeles e seguem rotina de perseguir criminosos nas ruas. Um dia, porém, eles se envolvem com uma Elfo, Tikka, que traz consigo uma varinha mágica. A varinha ( alusão ao anel de "O Senhor dos anéis") traz poder a quem o possuir. Apenas os Brights ( seres especiais dotados de uma Poder, segundo a Profecia, de dominar a varinha) poderão usá-la, para o bem ou para o mal. Tikka está sendo perseguida por Leilah (Noomi Rapace), uma Elfo que quer dominar o mundo e que deseja o poder da Varinha. O filme é dirigido por David Ayer, que tem em seu currículo filmes policiais ambientados em Los Angeles ("Dia de treinamento", "Marcados para morrer"), e também o criticado "Esquadrão suicida". Aqui, ele cumpre a tabela de fazer um filme passatempo, que pode vir a ser uma franquia na Netflix. A primeira parte é mais confusa, e a segunda tem mais porradaria. Não fiquei apaixonado, me deu um certo tédio no início, mas fiquei meio vidrado em tantas explosões, tiros e pancadaria. Assim como em "Esquadrão..". a vilã aqui é uma Mulher, a fim de dominar o mundo. Metáfora ou não do empoderamento feminino, o melhor é se desligar dos neurônios e curtir como se fosse um game. Ou você acha que um filme que tem fadas que são tratadas como baratas voadoras é para ser levado `a serio?

Gata em teto de zinco quente

"Cat on a hot tin roof", de Richard Brooks (1958) Clássico drama baseado em famosa peça teatral de Tennessee Williams, que desdenhou do filme por ter eliminado o tema da homossexualidade do personagem Brick ( o código de conduta Hayes, na época, não permitia menções ao homossexualismo). O filme é uma brilhante adaptação, conduzido por maestria por Richard Brooks, que co-adaptou a peça. A performance memorável de todo o Elenco, e os diálogos ácidos e cruéis são as grandes forças do filme, que continua arrebatador. O filme se ambienta na racista região do Sul dos Estados Unidos. Brick (Paul Newman) é um ex-jogador de futebol, que se entrou ao alcoolismo. Casado com Maggie (Elisabeth Taylor), uma ambiciosa mulher que quer ter filho com Brick para ter direitos a uma parte da herança de Big Daddy ( Burl Yves, fenomenal), diagnosticado com câncer terminal. Big Daddy é um milionário fazendeiro, casado com Mamma e que tem outro filho, Gooper, casado com a também ambiciosa Mae (Madeleine Sherwood, antológica), pis de 5 filhos e de olho na herança do pai. Brick rejeita Maggie por conta de um fato trágico que ocorreu com seu melhor amigo, o também jogador de futebol Skipper, que se suicidou. Nessa noite onde todos irão comemorar o aniversario de Big Daddy, a verdade virá `a tona para todos. Esse é um tipo de filme que infelizmente não se produz mais em Hollywood: elegante, glamuroso, com atuações impecáveis e que se baseia 100 por cento no talento do elenco e do roteiro. A cada cena que se passa ( que parece ato de uma peça de teatro) , fica notório o quanto a Direção tem noção do tesouro que possui. Sem grande arroubos tecnológicos, a marcação de cena permite a movimentação dos personagens no quadro, dando profundidade, como se estivessem em um grande palco, mas com uma diferença enorme: atuam para o cinema. Esse é o tipo de produção que os atores deveriam assistir, e discutirem o tipo de interpretação possível para a época ( que já vinha sofrendo influencias de Lee Strasberg) e trazendo o naturalismo para o Cinema ( vide a performance de Paul Newman). Repleto de cenas antológicas, é um drama a ser revisto de tempos em tempos. O filme foi indicado a 6 Oscars, mas perdeu todas.

segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

Professor Marston e as Mulheres Maravilhas

"Professor Marston and the Wonder Women", de Angela Robinson (2017) Saí do filme completamente extasiado com a história de William Moulton Marston (Luke Evans), o criador do Cartoon da Mulher Maravilha em 1941. Quem diria que por trás da super heroína, havia uma história de taras, perversões e poliamor. O Professor Marston era psicólogo e Professor da Universidade de Radcliffe. Sua turma tinha apenas alunas, e ele estava se aprofundando na "Teoria DISC ( D (Dominante), I (Influente), S (Seguro), e C (Cauteloso), que estuda o comportamento humano. Casado com Elisabeth ( Rebacca Hall), também psicóloga e professora da mesma Universidade), ele escala uma aluna, Olive ( Bella Heathcote) para trabalhar com eles na pesquisa. Os 3 descobrem uma afinidade muito grande entre eles na forma de encarar o amor e se tornam amantes. Anos se passam, e com vários filhos, o casal de professores é demitido, por conta do escândalo. Tentando sobreviver de todo jeito, Marston, anos depois, começa a conceber o cartoon da Mulher Maravilha, que vem a ser uma junção de Elisabeth e Olive: uma mistura da inocência, arrogância, poder e submissão das duas mulheres que ele ama, num Universo pervertido do Bondage e da Dominatrix. Com uma história tão poderosa e provocante, a diretora e roteirista Angela Robinson coloca em pauta os temas do feminismo e do poliamor, tão em voga hoje em dia. Os 3 atores principais dão conta de seus personagens com muito esmero e bastante sensualidade. O filme prefere passar batido pelo ponto de vista dos filhos em relação a esse triângulo amoroso tão `a frente de seu tempo. Tecnicamente correto, o filme tem uma certa frieza narrativa, mas funciona pois instiga o espectador a querer saber mais e mais dessa história safada e arretada. Com certeza, ninguém conseguirá enxergar os filmes da Mulher Maravilha com olhos inocentes a partir de agora. Amei ver os cartoons da época, repletos de momentos Dominatrix.

Respiro

"Nafas", de Narges Abyar (2016) Belíssimo drama iraniano, indicado pelo Irã para concorrer a uma vaga ao Oscar de filme estrangeiro em 2018. O filme é um épico ambientado no Irã dos anos 70/80, durante a Guerra Irã/Iraque. Pela 1a vez, vi o uso de Drone e efeitos especiais em um filme iraniano. Os voos de drone mostram uma região árida, arrasada pela pobreza, mas com um vislumbre de beleza no verde que teima em crescer no deserto. Mal comparando, "Respiro" é o "Labirinto do Fauno" iraniano. O filme se apropria do recurso narrativo da protagonista rodeada pela violência doméstica e social e se apega `a fantasia para fugir daquele mundo. Ao invés dos seres fantásticos de "Labirinto do Fauno", Bahar, a pequena protagonista, se apega aos livros e se imagina fazendo parte das histórias ( essas histórias são apresentadas em forma de animação). Bahar, uma menina de 8 anos, mora com seu pai, seus 3 irmãos e a avó em uma região pobre próxima de Teerã. Acompanhamos a rotina de Bahar na escola, os maus tratos de sua avó e o desejo da menina em cuidar de seu pai, que sofre de asma. Bahar sonha em se tornar uma médica. Apaixonada por livros, ela se esconde para ler ( hábito proibido para as mulheres na época) e por isso, vice apanhando de sua avó e de seus professores. Aliás, como apanha essa menina durante o filme! Atriz mirim Sareh Nour Mousavi faz um trabalho formidável, sensibilizando o espectador com sua performance muito realista. A direção da diretora Narges AByar é bastante sensível, e o filme tem muitas cenas lúdicas e belas. Surpreende também o humor do filme, através da personagem da avó, uma verdadeira madrasta malvada dos desenhos da Disney. O filme foi realizado por Narges, que escreveu o roteiro, para alertar o mundo sobre a chacine contra as crianças, que são as grandes vitimas da Guerra. A cena final, de Bahar no balanço, é primorosa e comovente. O filme poderia ter meia hora a menos ( tem um total de 2 horas). Em determinando momento, ele se torna repetitivo e arrastado.

Feios, sujos e malvados

"Brutti, sporchi e cattivi", de Ettore Scola (1976) Vencedor da Palma de Ouro em Cannes de Melhor Diretor em 1976, "Feios, sujos e malvados" é daquelas obras-primas que o Cinema produziu e que precisam ser revistos de tempos e tempos. Aqui no caso, mais de 40 anos depois de sua realização, o filme continua muito atual em todos os seus temas propostos: abandono social, falta de controle de natalidade, cobiça, aumento da favelização dos grandes centros urbanos, poliamor, travestismo. Em um barraco de favela na periferia de Roma, moram Giacinto (Nino Manfredi, brilhante, um grande astro da comédia italiana), sua esposa, seus 10 filhos e respectivos amantes. Giacinto recebeu uma indenização de um acidente de trabalho que lhe cegou um olho, e por conta disso, seus filhos e esposa desejam roubar seu dinheiro. Machista e bruto, Giacinto não só não colabora com nenhum centavo para a sua família, como ainda traz uma amante para morar com eles. A família resolve entao que está na hora de matá-lo. Mordaz, ousado, polemico, esse filme, baseado em conto de Ruggero Maccari, mostra toda a sordidez do ser humano, mostrando seu lado mais mesquinho e animalesco. Muitas cenas antológicas em um tour de force dos atores que dão vida a personagens em tipos quase Fellinianos. Hoje em dia, o filme abriria um tópico sobre a representatividade da figura feminina, que são apresentadas como objetos sexuais, mas Ettore Sola aproveita para cutucar qualquer tipo de estereótipo. Excelente marcação de cena, planos em giros de 360 graus, e um olhar melancólico sobre uma sociedade decadente. O filme tem uma pegada neo realista italiana, apresentando os moradores e a convivência entre todos de forma documental. Excelente trilha sonora de Armando Trovajoli.

Emo, o Musical

"Emo, the Musical", de Neil Triffett (2014) Curta australiano Vencedor de vários prêmios, entre eles, o da Mostra Geração do Festival de Berlim em 2014. O sucesso foi tanto que o Diretor Neil Triffett realizou uma versão da mesma história em Longa-metragem, lançada em 2016. Ethan é um jovem Emo, e integrante da banda gótica de sua escola. Como parte da filosofia Emo, ele e seus colegas reclamam de tudo e não entendem porque as pessoas sao felizes e sorridentes. Um dia, ele conhece Trinity, a vocalista de uma banda Cristã da mesma escola. Ambos se apaixonam, mas Ethan entra em conflito por conta de sua filosofia e de seus amigos da banda. Transformada em Musical, "Emo" é uma delícia, uma brincadeira com o Universo "Glee". O tema não poderia ser mais apropriado: aceitar as diferenças, ou abandonar as suas crenças em nome de um ideal. Boas performances, e canções divertidas.

domingo, 24 de dezembro de 2017

Ecstasy

"Ecstasy", de Kyle Reaume (2016) Excelente curta Lgbts, exibido em competição em dezenas de Festivais, que tem como ponto forte a maravilhosa edição. O filme tem roteiro singelo, sem diálogos, e a construção da narrativa vai em cima da memória, unindo presente e passado. Um rapaz bebe em um bar, deprimido, até que enxerga seu ex com um novo namorado. Tomado de ciúmes, ele resolve pegar de volta o que é seu. Conciso, sem firulas, com boa dinâmica, Direção e construção de imagens. Gostei da estilização e da câmera lenta.

A Festa

"The party", de Sally Potter (2017) Escrito e dirigido pela Cineasta inglesa Sally Potter ( de " Orlando, a mulher imortal" e "Ginger e Rosa") , competiu no Festival de Berlim em 2017, de onde saiu com um Premio especial. O filme tem a estrutura de uma peça de teatro. Sao 7 atores em cena o tempo todo. Janet (Kristin Scott Thomas) é casada com Bill ( Thimothy Spall). Ela convida alguns amigos íntimos para uma festa em sua casa, para comemorar a sua promoção como Ministra da Saúde do Governo inglês. O primeiro casal a chegar é April (Patricia Clarkson) e Gottfried (Bruno Ganz). Depois, o casal lésbico Martha (Cherry Jonesz) e Jinny (Emily Mortmer). Por último, Tom (Cillian Murphy), cuja esposa, Margareth, chegará mais tarde. Durante os aperitivos, Bill faz um anúncio que abalará a amizade e a relação de todos os convidados. Apostando no humor negro, Sally Potter se diverte com o seu time formidável de atores. Todos atuam como se estivessem em um palco de teatro, o que explica a tendência ao overacting. A palavra americana "Party" tem duplo sentido: pode ser "Festa" ou "Partido". Isso porque o filme acaba sendo uma metáfora sobre a situação social e econômica na Inglaterra, discutindo a polaridade dDireita/Esquerda no Poder. De uma forma geral, o filme é entediante. mas a revelação no final faz valer a pena.

A doce vida

"La dolce vita", de Federico Fellini (1960) A obra máxima do Mestre italiano, tão cultuada que Paolo Sorrentino realizou o seu premiado "A grande beleza" se inspirando totalmente no filme de Fellini, de 1960. Nessa época, Fellini já era considerado um dos Grandes Cineastas italianos de todos os tempos: já tinha 2 Oscar de filme estrangeiro ( por "A estrada da vida" e " As noites de Cabíria"), Por "La dolce Vita", Fellini viria a ganhar sua primeira Palma de Ouro de melhor filme. E mais: "La dolce Vita" vem espremido na filmografia de Fellini por 2 obras-primas: " As noites de Cabíria" e na sequencia, " 8 1/2" ( antes de "* 1/2", Fellini dirigiu um episódio no Longa " Bocaccio 70). A cena de Anita Ekberg na Fontana di Trevi é tão famosa e icônica, que antes de eu assistir ao filme, achava que ela estava no filme todo. Fiquei chocado quando percebi que a história de Sylvia, sua personagem, fazia parte apenas de uns 20 minutos do filme ( o filme tem 3 horas de duração). Ambientado na Itália do Milagre económico, já refeita dos revezes do pós-Guerra, o filme apresenta uma sociedade decadente em termos sociais e profissionais. Marcello ( Marcello Mastroiani) interpreta um jornalista que vai atrás de celebridades e fatos bizarros. E' através de seu olhar que testemunhamos várias histórias que acontecem na Roma vestida de Sodoma e Gomorra, abençoada por uma estátua de Jesus no início de seu filme. Uma forte contradição, uma vez que o que acompanhamos são histórias banhadas em sexo, depressão, drogas e melancolia. Entre as histórias, temos: Madelene ( Anouk Aimeé), uma famosa decadente que é amante de Marcello, Sylvia ( Ekberg), uma famosa atriz sueca que vem para Roma filmar um longa; a suposta aparição de Nossa Senhora na periferia de Roma; o suicídio de um intelectual, que assassinou seus 2 filhos; uma excursão de milionários por uma mansão habitada por supostos espíritos. Fora essas, existem quase uma dezena de outros segmentos, mas um dos que mais me emocionou, foi o reencontro de Marcello com o seu pai. A cena onde eles vão para um cabaret é antológica. A fotografia em preto e branco de Otello Martelli é absurdamente linda, intensificando com sombras e escuros a tristeza desses ricos e famosos em busca de uma felicidade inexistente. A trilha sonora de Nino Rota dispensa comentários, deixa a todos com arrepios `a flor da pele. Li que o ex-produtor Dino de Laurentis queria escalar Paul Newman para o papel principal, e ante a recusa de Fellini, que insistia em um desconhecido Mastroiani, pediu demissão.

Bom dia, trsiteza

"Bonjour, tristesse", de Otto Preminger (1957) Clássico do Cinema, "Bom dia, tristeza" foi dirigido por Otto Preminger, um Cineasta austríaco radicado nos Estados Unidos e que dirigiu várias obras-primas, entre elas "Laura", " Anatomia de um crime" e "Carmen Jones". Essa adaptação do best seller de Françoise Sagan, que escreveu quando tinha 18 anos, é considerado um filme menor dentro de sua filmografia, o que é uma injustiça. O filme é dotado de uma beleza cênica impressionante: a fotografia em Technicolor, os figurinos de Givenchy, as locações em Paris e Cote D'azur, e a marcação em cena dos atores, em planos elegantes e brilhantemente enquadrados. O livro foi um escândalo na época do seu lançamento: fala do tédio dos burgueses, a frivolidade das pessoas ricas e o que mais chocou a todos: o desejo incestuoso da jovem Cecile, de 17 anos, por seu pai, o viúvo Raymond. A história se passa em 2 épocas: em 1958, dias atuais, em preto e branco, e 1 ano atrás, em Technicolor. Pelo ponto de vista e narração de Cecile, vamos descobrindo aos poucos o que aconteceu há um ano atrás e que foi determinante para a transformação dos personagens. Cecile ( Jean Seberg, deslumbrante) é a filha rebelde e inquieta de Raymond (David Niven). Durante o verão na Riviera, eles passam dias de prazer e diversão na luxuosa mansão deles. Raymond está acompanhado da jovem amante Elsa ( Mylène Demongeot, hilária). Todos vivem uma vida de futilidade. Um dia, eles recebem a visita de Anne (Deborah Kerr), famosa estilista. De comportamento mais aristocrata e tradicional, Raymond acaba se apaixonando por ele e ambos passam a manter uma relação. Anne age como uma mãe protetora de Cecile, que passa a odiá-la e fará de tudo para destruir o namoro. Um parágrafo sobre Jean Seberg: li um pouco sobre ela e fiquei chocado com o seu fim trágico. Seberg somente teve 2 sucessos: "Bom dia, tristeza" e "Acossado", de Godard. Ele a viu no filme de Preminger e não teve dúvidas de convidá-la para dividir a tela com Jean Paul Belmondo. ela virou ícone do movimento da Nouvelle Vague. Seberg teve uma carreira seguinte de filmes medianos, e acabou morrendo de overdose, Seu corpo foi encontrado dentro de seu carro, estacionado a poucos metros de sua casa, em Paris. Morreu aos 40 anos de idade. Foi Preminger quem a descobriu, durante teste de elenco para seu filme "Joana D' arc", selecionada entre 8 mil candidatas. A cantora francesa Juliete Greco canta a música tema do filme em um cabaret. E' um filme alegre e mágico na sua forma, mas melancólico e trágico na sua essência. Bela pedida para amantes de clássicos. Os créditos inicias composto por Saul Bass ( o mesmo de "Um corpo que cai" e "Anatomia de um crime") é maravilhoso!

sábado, 23 de dezembro de 2017

O estranho mundo de Jack

"A nightmare before Christimas", de Henry Selick (1993) Em 2018 essa animação vai completar 25 anos de realização. Erroneamente, muita gente acha que o filme foi dirigido por Tim Burton, e a publicidade do filme ajuda a confundir, pois aqui no Brasil chamam de "Tim Burton's A nightmare before Christmas". Mas o filme foi dirigido por Henry Selick, que também dirigiu as animações "Coraline" e " James e o pêssego gigante". O que mais adoro nessa animação baseada em criação de Tim Burton, é aquele universo de pesadelo infantil que todos amamos, além de ter uma verdadeira coleção incrível e apaixonante de personagens, daqueles que a gente sonha em ter uma prateleira em casa com todos os bonecos enfileirados. No mundo da Terra do Halloween, mora JAck, o rei do Horror. Ele é encarregado de, todo dia da Festa de Halloween, promover um grande evento. O problema é que Jack já encarou essa data como uma rotina, e deseja algo de diferente. Até que ele encontra por um acaso na floresta, vários portais que dai entrada a outras festividades: Natal, Páscoa, etc. Ao entrar no portal do Natal, ele se apaixona por tudo aquilo e resolve sequestrar Papai Noel e tomar posse da Festa. Mas tudo começa a dar errado. Encantador, com uma trilha sonora e canções deliciosas de Dany Elfmann, parceiro eterno de Tim Burton, Esse filme é um cult de Natal, talvez não tenha se popularizado aqui no Brasil por conta de seu conteúdo possivelmente assustador para a criançada. Li numa entrevista que a ideia de Tim Burton para o filme veio quando ele viu uma Publicidade de Halloween ser substituída por uma de Natal em uma Loja de Departamentos. Daí você pensa que gênio é aquele que consegue conceber criatividade em coisas tão banais assim, né?

Senhora Fang

"Mrs Fang", de Wang Bing. Vencedor do Premio de Melhor Filme no prestigiando Festival de Locarno em 2017 ( de onde o brasileiro "As boas maneiras" saiu com Grande Premio do Juri), "Senhora Fang" é um documentário que propõe uma larga discussão sobre os limites da ética profissional. Explico: o tema do filme é acompanhar os últimos 10 dias de vinda de Fang Xiu Ying, uma senhora de 67 anos, portadora do Mal de Alzheimer. Debilitada, sem falar, sem comer, ela apenas espera a Morte. O filme faz um registro de sua rotina na cama, imóvel, observando a tudo e a todos com os olhos com pouco movimento. Será que ela está entendendo o que as pessoas ao seu redor comentam sobre ela? Durante os dias, e o dia todo, ele está rodeada de familiares, amigos e vizinhos, que constantemente fazem comentários sobre ela: " Ela está horrível", " ela em breve vai morrer", " ela esta irreconhecível", etc Com que direito os familiares tem de vender as imagens da mãe moribunda para um filme? Com que direito o Cineasta tem de filmar uma mulher `a beira da morte? Será que ela faz idéia de que está sendo filmada? Esse é um ótimo filme a ser exibido e posteriormente debatido. Além do tema sobre aética profissional, vale também debater que tipo de filme é premiado em Festivais? O que o Juri espera de um filme? "Senhora Fang" é lento, muito lento. Planos de mais de 5 minutos, onde nada acontece: pessoas caminhando ( ela morava em uma aldeia pobre de pescadores), close no rosto da Senhora Fang de duração interminável...provavelmente o Diretor quiz apresentar como metáfora vidas onde Morte e Vida estão num limite muito ténue. Viver para que? Esse Filme não é para qualquer espectador. Como Cinema, apenas Cinéfilos ferrenhos irão apreciar. Como tema, deve ser difícil conseguir espectadores que estejam dispostos a testemunhar a morte de uma senhora diante de seus olhos, definhando a cada dia.

Arroz amargo

"Riso amaro", de Giuseppe de Santis (1949) Obra prima do Cinema neo-realista italiano, o filme já subverteu alguns ideais do Movimento cinematográfico surgido na Italia no pós Guerra. Foram escalados atores conhecidos, e a produção já teve um orçamento alto capaz de reproduzir na tela cenas épicas com muita figuração e efeitos especiais, como chuva torrencial. O filme também incorporou uma sub-trama policial, fazendo-o se aproximar do cinema noir americano que estava no auge na época. Mas o estilo documental do movimento continua irretocável. Ambientado no Vale do Pó, região do interior da Itália para onde mulheres desempregadas seguiam no mês de maio para colher arroz e ganhar uns míseros trocados. Entre essas mulheres, estão Silvana (Silvana Mangano, no inicio da carreira, uma sósia perfeita de Ingrid Bergman) e Francesca (Doris Dowling, atriz americana seguindo carreira na Italia). Silvana e Francesca são ambiciosas e procuram um meio para sair daquela probreza. Francesca na verdade é uma fugitiva, e se escondeu ali com seu amante, Walter (Vittorio Gassman), após roubarem joias de um Hotel. Silvana se apaixona por Walter e se encanta com o perfume do Poder que ele lhe promete. Ousado para a época, o filme tem como pano de fundo uma extrema sensualidade e erotismo, presente na trama. Um grupamento de soldados se encontra na região, e as mulheres toda noite saem em busca dos homens, para romance e sexo ao ar livre. A câmera e a fotografia do filme impressionam pelos seus belos planos arrojados, de longa duração. As cenas com as mulheres na plantação e na estação de trem também chamam a atenção pela sua grande producao: muita figuração, grandiosidade, o que seria a marca do produtor Dino de Laurentis, aqui com 30 anos, e que futuramente iria produzir alguns dos grandes épicos do Cinema. O tema do filme se aproxima bastante de outra obra-prima, "O tesouro de Sierra Madre", que mostra como a ambição e a cobiça podem destruir vidas inocentes.

Faça isso como um homem

"Hazlo como hombre", de Nicolás López (2017) Maior bilheteria do México em 2017, com mais de 2 milhões de espectadores, o que mais me chamou atenção nessa comédia politicamente incorreta é ter sido dirigida pelo mesmo Cineasta de "Aftershock", um filme de terror ambientada no Chile que fala sobre prisioneiros que fogem de uma prisão de alta periculosidade após um terremoto e saem matando todo mundo nas ruas. Nicolás López é chileno, e co-produziu essa comédia com o Mexico. Ele também produz filmes em Hollywood, e um dos últimos foi "Knock knock", suspense com Keanu Reeves. "Faça isso como um homem" tem uma premissa bastante polemica e que botará a galera do politicamente correto em polvorosa: um trio de amigos de longa data tem a amizade abalada quando um deles, Santiago, antes de se casar com a irmã de Raul, decide se assumir como gay. Eduardo, o terceiro amigo, acha normal, mas Raul, que é machista e homofóbico, se desespera e acha que Santiago está passando por uma fase ruim, estressado com o casamento. Raul passa a pesquisar em tudo quanto é canto, formas e terapias para fazer Santiago voltar a ser hetero. O filme, por mais tosca e absurda que seja a premissa, é bastante engraçado, com gags que se baseiam em todos aqueles clichês do universo masculino e machista. Essas situações são esculhambadas no filme, como por ex a famosa cena do sabonete caindo no chão em um vestuário masculino. O trio de atores principais é bastante divertido e carismáticos. Mauricio Ochmann , como Raul, é o grande destaque, mesmo porque o filme todo é sob o seu ponto der vista de homem rude e bruto.

Suburbicon: Bem-vindos ao Paraíso

"Suburbicon", de George Clooney (2017) Originalmente escrito pelos irmãos Coen, o roteiro de "Suburbicon" foi alterado por George Clooney para dar um sabor atual `a América da Era Trump. Impossível não identificar a feroz crítica ao seu Governo, sabidamente contra os imigrantes e outras minorias, e o seu desejo incontrolável de querer construir um muro que circunde a fronteira dos Estados Unidos contra a invasão mexicana. Ambientado em 1959, anos antes da explosão da Luta contra a segregação racial nos Eua, o filme apresenta o bairro de Suburbicon, um bairro totalmente idealizado, onde os moradores encontrarão todas as suas necessidades sem precisar sair de lá. E' nesse lugar que mora Gardner Lodge (Matt Damon), casado com Rose (Juliane Moore). Na mesma casa moram também Margareth (Juliane Moore), sua irmã gêmea, e o filho de Lodge, Nick ( Noah Jupe, o Jack de "Extraordinário"). Com a chegada da primeira família negra ao local, os Meyers, o ideal de Paraíso começa a se alterar: os moradores rechaçam a família, e mais, a casa de Lodge é invadida, e Rose é assassinada. Com um elenco em estado de graça, complementado pro Oscar Isaac ( em uma cena sensacional) e atores menos famosos mas igualmente bons, "Suburbicon" brinca com filmes e gêneros: além do Cinema dos irmãos Coen, temos também o Cinema de Hitchcock, em filmes como "Um corpo que cai" e a levada na trilha sonora homenageando Bernard Hermann. Outro filme possível é " O talentoso Mr Ripley", protagonizado pelo mesmo Damon, e onde o personagem vai se esvaindo em uma teia de assassinatos sem fim. Muita gente odiou o filme. Eu gostei dessa brincadeira com o Cinema noir, levado com muito humor negro e referencias ao cinema de muita gene bacana. Só posso sentir pena dos que não curtiram. Muito rancor, justamente a cutucada que Clooney quiz passar ao espectador desses novos tempos chatos do politicamente correto.

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Dois Rémi, Dois

"Deux Rémi, Deux", de Pierre Léon (2015) A lenda do doppelganger, termo que vem de uma lenda germânica sobre uma criatura que consegue se transformar em cópia idêntica de outra, ganha novamente uma adaptação cinematográfica. Livremente inspirado em "O duplo", de Dostoiévsky, " Dois Rémi, Dois" vem se juntar a filmes como " O duplo", " O homem duplicado", " A dupla vida de Veronique" e tantos outros que se utilizam do pretexto de um sósia subitamente surgir e bagunçar a vida de uma pessoa. O tema pode ser tratado como drama, comedia, ficção cientifica, fábula. O cineasta Pierre Léon preferiu trabalhar com um humor mais próximo ao de Jacques Tati: silencioso, de planos gerais. Remi ( Pascal Cervo, divertido nessa dupla performance) é um homem de 30 anos que leva uma vida simples: mora com seu irmão, trabalha em uma loja que vende produtos para gatos e namora a filha do patrão. Ele é tímido e sofre com isso. Um dia, surge um sósia seu, mais interessante, pró-ativo, seguro de sei. O sósia interfere na vida pessoal e familiar de Rémi, sem que as pessoas notem qualquer estranheza por estarem diante de 2 pessoas idênticas na sua frente. Curto, com pouco mais de 1 hora, "Dois Rémi, dois" é um filme curioso, feito para cinéfilos. Ele tem poucos atrativos para quem vai assistir um filme como passatempo. Cerebral, lento, com muitas arestas em aberto, o filme prefere deixar o espectador livre para pensar o que quiser. Um pequeno aperitivo para apreciadores de filmes franceses cults.

quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Assim é a vida

“Le sens de la fete”, de Éric Toledano e Olivier Nakache (2017) Imagine um filme que mistura as comédias clássicas “ Um convidado bem trapalhão” e “ Cerimônia de casamento”, de Robert Altman. Acrescente uma trilha sonora com clássicos de bailes de casamento, entre elas a obrigatória “ Cant take my eyes off of You”. Adicione um time de Atores brilhantes e divertidos, que alternam comédia e drama ( entre eles, Suzanne Clement, muda de Xavier Dolan, e uma atriz que é sósia de Omar Sy, inclusive em seus trejeitos, Eye Haydara). O resultado? Uma das comédias mais devastadoras que vi recentemente. Max é dono de uma empresa de Cerimônia de casamento. O filme acontece durante o dia de uma celebração, mostrando antes, durante e depois de um casamento, onde absolutamente tudo dá errado. As gags são hilárias, os atores são formidáveis. Excelente direção, marcação de cenas, roteiro, edição, fotografia. Uma aula de Cinema comercial feito com talento e profissionalismo. Os Cineastas são os mesmos do Blockbusters “ Os intocáveis”.

Aonde está Segunda?

“What happened to Monday?”, de Tommy Wirkola (2017) O Cineasta norueguês foi cooptado por Hollywood após sua franquia de terrir “Zumbis na neve” ter feito sucesso em seu pai natal. Na terra do Tio Sam ele dirigiu “ João e Maria”, e agora ele vem com essa criativa ficção científica distópica “ Aonde está segunda?” Num futuro, o planeta está assolado pela super população. Para dar conta da quantidade de gente, o governo cria uma política de filho único, e quem tem mais de um filho é obrigado a entregar para o governo. Uma mulher, Karen, dá à luz escondido a sete filhas de uma única vez. Ela morre no parto, e o avô das crianças ( Willian Dafoe” cria elas escondido. Ele dá o nome de um dia da semana para cada uma, assim cada uma sai pra rua durante um dia da semana, contanto que todas hajam como se fossem uma única pessoa. Um dia, porém, Segunda feira some, e as outras irmãs tentam descobrir seu paradeiro. O ponto alto do filme obviamente é o desdobramento da atriz sueca Noomi Rapace em 7 personagens totalmente diferentes. Deve ter sido extremamente para ela e para o Diretor darem conta das cenas onde as sete contracenam juntas. O elenco conta também com Glena Close, no papel de uma vilã oficial do Governo. Ótimos efeitos especiais e boas cenas de ação. O roteiro, apesar de criativo, tem algumas falhas, mas nada que impeça de tornar esse filme um grande passatempo.

O Rei do show

"The greatest showman", de Michael Gracey (2017) Filme de estréia do Cineasta Michael Gracey, mais famoso pelos seus trabalhos com efeitos visuais. Com grandes cineastas nos bastidores do projeto ( Bill Condon é um dos roteiristas, James Mangold, de "Logan", é um dos produtores executivos), o filme conta a hisória real de Phineas Taylor Barnum, considerado o primeiro grande show business man dos Estados Unidos. Por volta de 1850, ele criou o Barnum's Grand Scientific and Musical Theater, um circo que funcionava dentro de um prédio, onde misturava animais e freaks . P.T. Barnum foi o primeiro a trazer ao grande público tipos exóticos que até então, ficavam escondidos da sociedade. O filme traça paralelamente a vida romântica de Barnum, desde criança quando conheceu sua futura esposa, Charity (Michelle Willians). O grande trunfo do filme são os números musicais, belíssimos, orquestrados por Justin Paul ( compositor de La La land) e Benj Pasek. As músicas, encantadoras, e o grande elenco, seduzem o espectador ávido por romance, drama e musical. Quem nao gostar desses elementos citados, melhor ficar bem longe do filme. O filme não economiza nas histórias água com açúcar, tanto na trama de Hugh Jackman com Michelle Willians, quanto na trama de Zec Efron e Zendaya, que vivem um ator de teatro e uma trapezista, respectivamente, A mensagem do filme, que é a de aceitar as diferenças do outro, independente da cor, da raça, do tipo físico, é valida. Tecnicamente, o filme é impecável: fotografia, direção de arte, trilha sonora, montagem, figurino. Alguns números musicais são emocionantes, como a do trapézio, a de Rebecca ferguson e a do grupo do circo.

Even lovers get the blues

"Even lovers get the blues", de Laurent Micheli (2016) Em 1993, um Filme canadense se tornou cult por falar de uma geração que estava na faixa dos 30 anos, morando na grande cidade, e `as voltas com questões amorosas, diante de um futuro incerto tanto no campo profissional quanto pessoal. O filme se chamava "Amor e restos humanos", e mostrava todo tipo de relacionamento: hetero, gay e poliamor. Agora surge esse drama belga, intitulado "Even lovers get the blues", que repete a mesma premissa do famoso filme de Dennys Arcand. 3 casais: 2 heteros, um gay, E muita promiscuidade. E cenas de sexo explicito. Ah, como sofre essa geração dos 30 anos, sem rumo na vida, e que acredita que o sexo é a solução para os seus problemas. E dá-lhe drogas, musica eletrônica. E muito, muito vazio existencial. Laurent Micheli é um Diretor de teatro famoso na Bélgica, e aqui ele realiza seu primeiro longa. O filme tem bons momentos, mas de uma forma geral é cansativo e repetitivo. Aonde Laurent trabalha bem é com o seu grupo de atores, todos entregues aos personagens em cenas viscerais: masturbaçao, sexo oral, tá tudo valendo pro elenco. Para quem busca um filme adulto que fale sobre crises existenciais, esse filme é uma boa pedida.

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

As cinzas de Elias

"Elijah's ashes", de Ryan Barton-Grimley (2016) Comédia independente americana, vencedor de mais de 20 prêmios em Festivais, "As cinzas de Elias" é o exemplo de um self made Film: escrito, dirigido, estrelado, editado e produzido por Ryan Barton-Grimley. O filme é um road movie, e como todo road movie, serve para estreitar a relação entre 2 pessoas, no caso, 2 irmãos que não se viam há muito tempo e que se odiavam. Lawrence (Ari Schneider) trabalha como diretor de arte de uma empresa de cerveja, e perante sua clientela, age como hetero. Mas em casa, ele mantém relações com seu namorado, que fica triste pelo fato de Lawrence não se assumir como gay. Um dia, ele recebe a notícia que seu pai se matou. Ao ir ao velório, reencontra seu irmão Kevin (Ryan Barton-Grimley), que é homofóbico, e a mãe de ambos, que é alcóolatra. No testamento, o pai deixou a casa para os filhos, mas com a seguinte condição: que eles levem as suas cinzas até um cemitério que fica do outro lado do País. A partir daí, o filme vira um road movie, e durante a convivência, ambos os irmãos precisam aprender a se amar e a conviver em paz, aceitando suas diferenças. Simpático e divertido em muitos momentos, o filme oferece o que o espectador quer ver: uma diversão simples, baseada em boas interpretações e com diálogos e situações divertidas. O mais bacana do filme é que as piadas nunca são pela piada em si, mas calcadas em situações reais, que podem acontecer a qualquer um. De baixo orçamento, o filme cumpre o que promete. Não é nada original, mas é melhor do que muitos filmes de grande orçamento e com astros na produção, que prometem muitas risadas mas ficam apenas na intenção.

Bright Nights

"Halle nacht", de Thomas Arslan (2017) Escrito e dirigido pelo Cineasta alemão Thomas Arslan, "Bright nights" competiu no Festival de Berlin 2017, de onde saiu com o Urso de Prata de Melhor Ator para Georg Friedrich, no papel de Michael, um engenheiro divorciado. Michael mora com uma namorada. Um dia, ele recebe o aviso sobre o falecimento de seu pai, que morava nas montanhas da Noruega. Michael decide ir com seu filho adolescente, Luis ( Tristan Göbel), que mora com sua ex e que ele não fala há muito tempo. O filme se transforma em um road movie, fazendo um paralelo entre a falta de comunicação entre Michael e seu pai falecido, e Michael e seu filho Luis. E' raro assistir a um filme alemão que tenha um toque de acridoce, tão comum a filmes americanos, naquele gênero maravilhoso e redentor chamado "Feel good movie". "Bright nights" não tem absolutamente nada de original. Sua historia é previsível, o ritmo do filme segue lento e contemplativo. O que nos faz assistir ao filme com afinco é a bela atuação dos 2 protagonistas, em ótimo embate dramático, e as estonteantes locações na Noruega montanhosa. (particularmente, preferia que um dos atores do excelente filme de Aki Kaurismaki, "O outro lado da esperança", ganhassem o Urso de melhor Ator.)

Jesus

"Jesus", de Fernando Guzzoni (2016) Você algum dia imaginou assistir a um filme chamado "Jesus", com cenas de sexo explicito, com um protagonista chamado Jesus e fazendo sexo com homens e mulheres? E mais, esse mesmo Jesus espancando sem dó nem piedade um jovem homossexual em plena praça pública? Ou desobedecendo todos os conselhos de seu Pai? Usando drogas? Fazendo parte de um grupo cover de uma banda pop sul coreana no Chile? Se você tiver o mínimo de curiosidade, você assistirá a "Jesus", de Fernando Guzzoni, que também escreveu o roteiro. O filme participou de diversos Festivais Internacionais, e mostra uma geração jovem na capital do Chile totalmente sem rumo, movida por drogas, sexo e música pop. Uma espécie de "Laranja Mecânica" dos tempos da Geração Millenium na America Latina, o filme surpreende pela performance visceral de Nicolás Durán, no papel de Jesus, protagonizando cenas de sexo explicito com homens e mulheres. O filme é interessante, mas o seu roteiro desfragmentado na narrativa perde força, fazendo com o que filme sejam flashes na vida de Jesus.

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Victoria e Abdul: O confidente da Rainha

"Victoria and Abdul", de Stephen Frears (2017) Drama baseado no diário do hindu Abdul Karim, que durante 14 anos trabalhou incialmente como serviçal e depois como Munshi ( confidente e professor) da Rainha Victoria. Em 1887, 2 hindus são enviados da India para a Inglaterra para lhe entregar pessoalmente uma medalha de honra, oferecida pelo Governo indiano. Um dos hindus é Abdul Karim, um funcionário do presídio de Agra na India, responsável por catalogar os presos. Ele é chamado `as pressas para substituir um outro hindu, e foi escolhido por ser alto. Abdul Karim é um hindu muçulmano e extremamente leal ao Governo inglês e principalmente, `a sua Majestade. Isso contraria o pensamento de Mohammed, o outro hindu que o acompanha, que odeia a Inglaterra por ter feito da Índia um pais sob o seu comando. A Rainha Victoria de imediato se afeiçoa a Abdul , e as constantes promoções que ela faz a ele, provocam um mar de intrigas e ciúmes entre os filhos e os empregados da Rainha. Como toda produção épica de Stephen Frears, a parte técnica é absolutamente impecável: fotografia, direção de arte, figurino, maquiagem, trilha sonora. O roteiro, baseado no livro escrito a partir do diário de Abdul Karim, é bastante polemico, pois apresenta um hindu totalmente dedicado a ser serviçal de sua Majestade, o que provocou a ira de muitos indianos que ficaram indignados. Lembrei de imediato de " Conduzindo Miss Daisy", que tem uma segunda leitura bastante semelhante por conta de uma relação controversa entre subordinados e dominantes, aonde o subordinado não demonstra qualquer tipo de desagrado nesse troca. O ponto forte do filme é mesmo o trabalho dos atores. Mesmo uma pequena participação conta com um excelente trabalho dos atores. Mas o destaque vai para Judi Dench, repetindo aqui o seu papel já realizado em "Mrs Brown", de John Madde, aonde ela representou a mesma personagem. O filme alterna momentos de fino humor inglês e drama. O ritmo é irregular, mas no geral acaba sendo um bom passatempo, para os que não tiverem olhos tão severos sobre a colonização inglesa na India e apenas queiram assistir a uma historia de amor diferente.

Madame

"Madame", de Amanda Sthers (2017) Comédia dramática com pitada de romance, que mistura Cinderela, "Um convidado bem trapalhão", Paris e Rossy de Palma. Junte os astros Toni Colette e Harvey Keitel. Parece receita de um grande filme de sucesso. Mas infelizmente, essa receita co-escrita e Dirigida por Amanda Sthers não funcionou direito. Toni Colette e Harvey Keitel interpretam Ann e Bob Fredericks, um casal milionário que lida com o mercado de artes. Eles estão no momento morando em uma enorme mansão em Paris, e possuem um staff de empregados trabalhando para eles, incluindo Maria (Rossy de Palma). Anne resolve promover um jantar para 12 pessoas, mas o filho de Bob, Steve, resolve aparecer e passar um tempo com eles. Anne fica tensa, pois considera 13 um número de azar e convoca Maria para se fazer passar por convidada e se juntar na mesa, com a condição de não falar nem se misturar aos convidados. O que Anne não poderia imaginar é que Maria faz um enorme sucesso com seu jeito espontâneo e acaba conquistando o coração de um dos convidados. Rossy de Palma provavelmente foi escolhida porque o filme lida com o mito de Cinderela, mas ao contrário: um homem se apaixona por uma mulher feia. O que mais me incomodou, além do ritmo arrastado e da falta de humor genuíno na trama, foi o excesso de malvadezas de Anne. Toni Colette está bem no papel da mulher megera, mas as suas vilanias estão bem excedentes, praticamente um personagem de cartoon. Harvey Keitel está apenas correto, seu personagem não tem muita forca para segurar uma dramaturgia mais consistente. O filme é das duas mulheres, de Palma e Colette. De bônus, aa belas locações de Paris.

domingo, 17 de dezembro de 2017

O poder e o impossível

"6 Below: Miracle on the Mountain", de Scott Waugh (2017) Baseado na biografia best seller de Eric Lemarque, "Crystel clear", "O poder e o impossível" narra a história do próprio, que em 2004, no auge de uma crise por conta do vício em metanfetamina, decidiu se isolar em uma estação de esqui em Sierra Nevada, Califórnia. Ao praticar snowboard, ele é pego por uma grande tempestade de neve e luta para sobreviver por 8 dias, até ser resgatado. Eric perdeu as 2 pernas, por conta da hipotermia, e hoje em dia, ele é empresário, treinador de time de hóquei e faz palestras inspiracionais. O filme não esconde o seu propósito. Co-escrito pelo próprio Lemarque, é um filme de auto-ajuda, na tradição do recente sucesso "A cabana". Sao filmes que falam sobre superação através da motivação e do desejo de continuar vivendo. Curiosamente, esse ano tivemos outros filmes com proposta semelhante: " Jungle", com Daniel Redcliff, "Além das montanhas", com Idris Elba e Kate Winslet. Mas talvez o filme esteja mais próximo de "127 horas", de Danny Boyle, também baseado em história real, e que apresenta flashbacks durante o período de convalescência do protagonista, onde ele repassa a sua vida e as decisões erradas que fez. Para quem busca um filme que eleve a alma, e que faça chorar bastante no final, "O poder e o impossível" é o filme certo. O filme recebeu muitas críticas ruins, muito por conta do teor melodramático e do excesso de trilha sonora. Mas o ponto é que o filme tem essa proposta de emocionar, e faz justamente uso desses recursos para passar as suas intenções ao espectador. Josh Hartnett, que também produz o filme, está bem no papel. Mira Sorvino é uma bela surpresa, emocionante no papel da mãe. O filme pode ser visto também como uma metáfora que compara os dias de abstinência do uso de drogas de um viciado com o período árduo que ele passou nos 8 dias lutando pela sua sobrevivência nas montanhas geladas.

sábado, 16 de dezembro de 2017

Pais

"Fathers", de Palatpol Mingpornpichit (2016) Quando se fala em Cinema tailandês, normalmente os Cinéfilos pensam imediatamente no premiado Cineasta Apichatpong Weerasethakul. Mas a produção cinematográfica do País é enorme e bastante variada, realizando muitos filmes de gênero: ação, terror, comédia, romance e filmes com tema Lgbts. E' desse último que se trata "Pais". Na Tailândia, o casamento com pessoas do mesmos sexo ainda não foi aprovado. Phoon e Yuke formam um jovem e bem sucedido casal gay. Adotaram o pequeno Butr desde bebe, e agora, anos 10 anos de idade, ele segue feliz na convivência com os seus 2 pais. Mas um dia, ao defender seus pais perante o bullying de seus colegas de escola, que o chamam de maricas, Butr bate no colega. Após esse incidente, o pai do aluno que apanhou processa a escola, que acaba enviando uma assistente social que decide enviar Butr aos cuidados de um casal hetero. Mesmo exagerando no melodrama, o filme acerta ao tratar de um tema tão delicado e polemico com muita naturalidade e honestidade, sem tomar partido. Os dois atores principais possuem bastante carisma e o espectador torce por eles. Uma boa chance de conhecer um cinema tailandês que fala diretamente ao público, com uma linguagem mais acessível, mas sem abdicar da qualidade.

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

O Sacrifício do cervo sagrado

"The killing of a sacred deer", de Yorgos Lanthimos (2017) Premiado em Cannes 2017 com a Palma de Ouro de melhor roteiro, co-escrito pelo Cineasta grego Yorgos Lanthimos, o filme protagonizado pelos astros Nicole Kidman e Colin Farrell expõe o lado mais negro do ser humano. O cinema de Yorgos Lanthimos não é para qualquer um: uma espécie de Michael Henecke da Grécia, Lanthimos , em seus filmes "Alpes", "Dentes caninos", "O lagosta" traduz o horror da humanidade. Capazes de atos violentos, os personagens de todos os seus filmes matam sem compaixão. Não expressam sentimentos: são frios. Levando ao pé da letra a escola de Robert Bresson, os seus Atores agem como modelos robóticos, proferindo as falas de forma monótono, sem vida. Isso confere aos filmes um tom aterrorizante, angustiante e desesperador. Kidman e Ferrell repetem a dupla que fizeram em "O estranho que nós amamos", de Sophia Coppola, exibido na mesma edição do festival de Cannes. "O sacrifício do cervo sagrado" é um filme com forte simbologia religiosa. Logo de cara, conhecemos Martin (Barry Keoghan, de "Dunkirk"), um adolescente. Ele mantém uma estranha relação com o cardiologista renomado Stephen (Colin Farrell). Tudo leva a crer ser uma relação pedófila. Stephen é casado com Anne (Kidman) e pai de dois filhos, os adolescentes Bob e Kim. Mas a história toma rumos inesperados, tornando a trajetória dos personagens em uma corrente de violência e terror sem fim. Com uma trilha sonora aterrorizante repleta de metais que lembram os acordes de "O iluminado", o filme investe no terror psicológico e no realismo fantástico. Não dá para falar muito para não estragar a surpresa. O que posso dizer é que o filme toma uma dimensão bizarra e tensa. Incrível como um elenco de porte como Farrel e Kidman se expuseram em cenas viscerais. Por outro lado, existe uma cena antológica da Ex-Patricinha de Beverly Hills Alicia Silverstone, como a mãe de Martin, tentando seduzir Stephen. Yorgos faz um Cinema inteligente, adulto e provocador, infelizmente para poucos.