terça-feira, 29 de setembro de 2015

Cowboys da cocaína

"Cocaine cowboys", de Billy Corben (2014) Documentário ambicioso de 152 minutos, faz um retrato detalhado sobre a ascenção e queda dis traficantes latinos em Miami durante os anos 70 e 80, quando Miami foi considerado a cidade mais perigosa do mundo. Nos anos 70, Miami era um lugar para idosos e sem muita valorização. Mas a chegada de traficantes colombianos mudou o aspecto do lugar. Com o dinheiro do pó, a cidade se reergueu, se modernizou. Policiais, traficantes, pilotos de avião que carergavam drogas, amantes, assassinos de aluguel: todo tipo de gente dá depoimento aterrador e contundente sobre os anos mais violentos dessa região considerada a Casablanca americana: linda, mas perigosa. No inicio dos anos 80, uma embarcação enviada por Fidel Castro chega em Miami com os bandidos mais perigosos que existiam em Cuba. Sem ter como prendê-los, eles foram soltos e assim, a cidade multiplicou os crimes de estupro, assassinatos e assaltos. O Filme "Scarface" de Brian de Palma mostra historicamente essa chegada da embarcação, um "presente de grego" de Fidel. O filme relata a história de vários traficantes, e entre eles, a mais temida de todas, a colombiana Griselda Blanco, responsável pelo assassinato de mais de 200 pessoas em Miami e Nova York. Repleto de relatos, imagens de arquivo ( muitas imagens fortes inclusive, de gente com tiros e decapitadas) , é um documentário muito bem explicativo, porém repetitivo em determinado ponto. Vale como curiosidade, algo como uma versão remix de "O globo repórter". Nota: 6

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Everest

"Everest", de Baltasar Kormákur (2015) O cineasta islandês Baltasar Kormákur adora filmes baseados em histórias reais sobre personagens que viveram situações limite. Em "O Sobrevivente", de 2012, ele cria um tenso drama sobre um pescador islandês que sobrevive a um naufrágio e consegue sobreviver nas águas congeladas da Islândia. Em 'Everest", ele vai mais além: recria com detalhes o acidente que aconteceu no Everest, a montanha mais alta do mundo, em 1998, quando 4 pessoas morreram ao descer o pico. O filme faz uma crítica a grupos de expedição de esportes radicais que cobram uma fortuna de milionários para realizarem seus sonhos de atingir um risco máximo para as suas vidas. Em determinado momento do filme, um dos organizadores do evento da escalada pergunta aos participantes: "Porquê você quer escalar o Everest?"( considerando que entre 4 alpinistas, 1 morre). As respostas são as mais variadas possíveis, e nenhuma delas de fato consegue responder com um argumento mais contundente. Rob ( Jason Clarke) é o chefe do Grupo de uma das expedições. Ele é casado com Jan (Keira Knightley), que está grávida. Entre os milionários, está Beck ( Josh Brolin), americano casado com Peach ( Robin Wright) e em crise na relação, Doug ( John Hawkes), que precisa provar aos filhos de que é capaz de fazer algo na vida que o faça superar as expectativas, Guy ( Sam Worthington). Scott ( Jake Gyllenhaal) é líder de um grupo rival, e Helen ( Emily Watson) é a contato de base de Rob. O filme traz de volta um gênero de filme comum nos anos 70: os filmes catástrofe, onde se escalava pencas de atores famosos para fazerem pequenas cenas ao longo de um filme que dura quase 3 horas, e pior: o que todo mundo quer ver, a adrenalina, so acontece no terço final. E esse é o principal problema do filme: ele nunca engata, Para quem quer ver drama, vai se lambuzar de tanta chorumela melodramática envolvendo relações familiares. Para quem quer ação, vai faltar motivo: as cenas de efeitos não empolgam. O ritmo não é dinâmino e tudo é muito chato. Uma pena, contando o elenco mega star, com vários deles muito mal aproveitados. Em 2012, foi lançado um documentário chamado "O cume", onde através de histórias reais e imagens de arquivo, acompanhamos a tragédia de 11 alpinistas de várias nacionalidades que morreram ao escalar a 2a maior montanha do mundo. Esse dá de dez no filme de Baltasar Kormákur , que abriu o Festival de Veneza 2015 e foi recebido friamente por todos. Nota: 5

Now: in the wings on a world stage

"Now: in the wings on a world stage", de Jeremy Whelehan (2014) Documentário obrigatório para Atores e Diretores curiosos em investigar processos criativos, faz um registro do espetáculo teatral "Ricardo III", dirigido pelo cineasta Sam Mendes , de "Beleza americana", e protagonizada por Kevin Spacey, em 2012. O espetáculo foi conduzido pelo 'The bridge project": junção de produtoras americanas e inglesa, capitaneadas por Mendes e Spacey, com a finalidade de produzir peças clássicas unindo atores americanos e ingleses. "Ricardo III" foi ensaiado em Londres, e mostra, além dos primeiros ensaios, as apresentações da Companhia ao redor do mundo, durante 198 espetáculos que começou na Grécia e terminou em Nova York, passando por Beijing, Napoles, Sidney, Istambul, Doha e muitos outros lugares. O filme fala sobre um interesse conceito proposto por Mendes: Juntar atores que não se conheciam, de companhias teatrais variadas, e de métodos de interpretação distintos. Através de ensaios, ele cria uma união entre os atores, que de início sofreram a barreira cultural, e logo em seguida, formaram uma família que se envolveu por quase 1 ano juntos, diariamente. O filme entrevista elenco e equipe, que falam sobre o cansaço físico, o prazer de interpretar Shakespeare ( para muitos, pela 1a vez na vida), as viagens, as dificuldades de encontrar o personagem dentro da rotina teatral, as diferenças, o trabalho em equipe e claro, viagens inesquecíveis, deixando claro que formamos todos uma família durante a realização de um projeto. Spacey conduz o espectador em uma viagem criativa, e dá lições de comportamento do Ator no Teatro: por exemplo, ele diz aos atores que, tudo o que acontece no palco durante uma apresentação, faz parte do espetáculo. Se alguém ri durante uma fala sem querer, etc, isso deverá ser assimilado. Em determinado momento um ator , já no processo final das apresentações e com saudades da família, diz que a risada de uma espectadora o fez lembrar de sua filha e isso o fez se emocionar em cena. Sam Mendes também dá depoimento, mostrando como conheceu Kevin Spacey e como brigou pro ele para protagonizar "Beleza americana", contra a vontade dos produtores, que queiram alguém mais maisntream. São 19 atores, convivendo harmonicamente, Uma lição de profissionalismo e a sensação de que a vida do Ator é muito dura, porém prazerosa, e o trabalho, sempre em primeiro lugar. No final das contas, um filme bem melancólico, principalmente no final, já no desfecho das apresentações, quando a inevitável separação os faz pensar em quanto foram felizes juntos. Nota: 8

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Shaun, o carneiro

"Shaun, the sheep movie", de Mark Burton e Richard Starzak (2015) O carneiro Shaun surgiu como personagem de um epsiódio da famosa animação "Willian and Grommit", dos realizadores Mark Burton e Richard Starzak. A partir daí, devido ao sucesso, o carneiro ganhou uma série só sua, e agora, surge com esse longa, vencedor do Prêmio de melhor filme do Anima Mundi 2015. Um filme totalmente para todas as idades e que agradará desde os petizes até os adultos nostálgicos e cinéfilos, que verão muitas referências de filmes, de "Silêncio dos inocentes"a "ET". Shaun e seus amigos carneiros ficam entediados com a rotina comandada pelo dono fazendeirto e resolvem se rebelar, tirando um dia de férias. No entanto, essa rebeldia provocará um caos na vida de todo mundo, incluindo o cachorro Blatzer. O filme é hilário, tem gags impagáveis, a animação de massinha é sensacional e tudo é muito bonito. A trilha sonora é um primor, e a música título, "Feels like summer", provoca a nostalgia necessária para trazer lágrimas aos espectadores ao final da sessão. Nota: 8

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

A queda

"The falling", de Carol Morley (2014) Escrito e dirigido pela inglesa Carol Morley, Drama ambientado na Inglaterra de 1969, mais precisamente em uma cidade do interior. Em uma escola de moças, duas amigas inseparáveis, Abbie ( Maxine Peake) e Lydia ( Maisie Willians, a Arya Stark de "Game of thrones) passam juntas boa parte do tempo delas. A mãe de Lydia é cabeleireira e atende suas clientes, mas com uma particularidade: ela tem agorafobia e não sai de casa. O irmão de Lydia namora Abbie. Um dia, Abbie desmaia e cai no chão, e esse incidente irá mudar a vida de todos a partir daí. Onírico e misterioso, o filme tem um clima que vai de "Picnic na montanha misteriosa", "If", e "Almas gêmeas", todos filmes que se passam em escolas onde o ensinio e os professores são rigorosos. O filme tem um roteiro muito confuso, e estranhamente, trabalha com tantos temas tabus que acaba no final sem dar qualquer tipo de explicação mais lógica para tudo o que acontece. É como se uma névoa misteriosa sobrevoasse o lugar e transformasse a vida de todos, que expõe os seus fantasmas internos para as pessoas mais próximas. Incesto, lesbianismo, histeria coletiva, é um vale tudo muito doido que infelizmente, não encontrou eco em uma direção e um roteiro mais consistente. Cansativo, confuso, é um desperdício do talento de Maisie Willians, que ainda nao encontrou o projeto certo de cinema. Ponto apenas para a fotografia, e a trilha sonora, diga-se de passagem, é um equívoco. Nota: 5

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Wendy e Lucy

"Wendy and Lucy", de Kelly Reichardt (2008) Vencedor de vários prêmios em festivais, e tendo a sua estréia no Festival de Cannes 2008, de onde saiu aclamado pela crítica, "Wendy e Lucy" é um melancólico retrato de uma geração desesperançada, fruto da recessão econômica que assola os Estados Unidos desde então. Wendy ( uma atuação extraordinária de Michelle Wiliians), é uma jovem que viaja em um carro 1988 com sua cadela Lucy e 500 dólares no bolso. Destino: Alasca, para poder trabalhar. No entanto, seu carro quebra no caminho, e presa na cidade de Oregon, ela resolve roubar um supermercado para poder economizar dinheiro. Resultado: ela vai presa e seu cão desaparece. Após pagar fiança, Wendy busca desesperadamente encontrar a sua parceira e única amiga. No caminho, ela vai se deparando com personagens em igual ou pior situação que a sua. Amargo olhar sobre uma América falida, o filme, dirigido por Kelly Reichardt ( mesma realizadora do também triste "Antiga alegria") faz uma produção de baixo orçamento e retira de Michelle uma de suas atuações mais poderosas. A bela direção, minimalista, retirando poesia de muitos momentos de silêncio, e a fotografia de Sam Levy, realçando o lado sombrio da crise econômica, trazem ao espectador uma sensação de lamento. Um personagem comum, com uma existência comum, e por isso mesmo, tão contundente. Um olhar típico dos irmãos Dardenne, que buscam na figura do marginalizado a força de seus filmes. Nota: 8

Antiga alegria

"Old joy", de Kelly Reichardt (2006) Produção independente americana de baixíssimo orçamento, e de acordo com a entrevista da cineasta, a equipe era composta de 6 integrantes, incluindo os 2 atores. Se é verdade ou nã, o lance é que o filme é um legítimo representante do "Mumblecore", movimento cinematográfico americano com orçamento mínimo. A história simples mas cheia de desilusão e melancolia, retrata o reencontro de 2 amigos que não se vêem a tempos e agora estão na faixa dos quase 40 anos. Kurt, que leva uma vida meio hippie, liga para o amigo Mark, que ele não v6e a muito tempo. ele descobre que Mark está casado, tem casa e a esposa está grávida. Kurt convida Mark para um camping de final de semana, e dessa forma, reatarem a amizade e atualizarem informações sobre a vida. Mark aceota, e durante a viagem, descobre que Kurt continua sem nada na vida, sem qualquer esperança em relação ao seu futuro. Um filme curtp, com 76 minutos, e com poucos diálogos. Muito da força do filme vem decorrente do silêncio, das belas locações na estrada e floresta e da discreta trilha sonora. A direção faz um registro quase documental desse reencontro de amigos. Pouca coisa acontece, os diálogos são poucos, e tudo se concentra em olhares e silêncios. Os 2 atores, que interpretam numa vibe naturalista, estão bem. O filme tem um tom de eterna tristeza, e o desfecho corrobora para essa sensação. Uma parábola aflitiva sobre a amizade e os seus desdobramentos. O filme ganhou vários prêmios em festivais independentes. Nota: 7

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Só Deus sabe

"Heaven knows what", de Ben Safdie e Joshua Safdie (2014) Como eu sempre digo, a vida depende de 3 fatores: Talento, Sorte e oportunidade. Arielle Holmes é uma jovem de 19 anos. Sem teto, viciada em heroína. Moradora de rua. Um dia, o cineasta Joshua Safdie caminhava pelas ruas fazendo uma pesquisa para o seu novo projeto, quando se deparou com Arielle na rua. Ele ficou instigado com aquela figura e a questionou se ela não poderia fazer parte do seu projeto. Passado um tempo, eles ficaram amigos e ele a motivou a escrever as suas memórias, que ficou chamado de "Mad love in New York City". Joshua abandonou o seu projeto original e convidou Arielle a protagonizar a sua própria história. E assim saiu "Só Deus sabe", um filme hibrido de documental e ficção, no melhor estilo de John Cassavetes: totalmente naturalista. Joshua e Ben filmaram muitas cenas com câmeras escondidas, e Arielle, aqui com o nome de Harley, convive nas ruas com viciados de verdade, misturados com atores. Essa mescla incrivel de não atores e atores confere uma energia raramente vista em filmes, pois o que está se vendo ali é a não representação. Mesmo quem é ator profissional teve que se anular totalmente em termos de atuação. Essa é a contribuição documental ao filme. Harley ( Arielle) mora nas ruas com Ilya ( O ator Caleb Landry Jones). Ambos viciados em heroína, passam os dias pedindo dinheiro e se picando nas ruas de New York. Porém Ilya maltrata Harley, e a instiga para que se mate. Um filme forte, obrigatório para atores que querem interpretar drogados. Para quem busca entretenimento, evite totalmente de assistir ao filme. O que vemos durante seus 94 minutos são cenas intermináveis de consumo de drogas, tentativa desesperada de sobreviver nas ruas e zero motivação para sair desse mundo. Não existe a mitificação do drogado, muito menos um olhar piedoso por parte dos realizadores, o seu grande trunfo. Arielle, por conta do filme, se internou em uma clínica de Rehab, estudou e agora está contratada como atriz em uma agência, participando inclusive de outras produções. Destaque para a fotografia de Sean Price Williams, que filmou quase tudo com lentes teleobjetivas. Ele é o querido dos independentes americanos, um ás de filmar com pouca luz em locações e interiores. Nota: 8

domingo, 20 de setembro de 2015

A lei do desejo

"La ley del deseo", de Pedro Almodovar (1987) Lançado em 1987, "A lei do desejo" impulsionou a carreira de Pedro Almodovar, que até então tinha em sua carreira filmes de baixo orçamento tecnicamente toscos, e restritos a um publico mais cinéfilo. Com "A lei do desejo"e o posterior "Mulheres a beira de um ataque de nervos", Almodovar ganhou o status de realizador de primeiro escalão, arregimentando um público que o CInema espanhol já estava quase perdendo ( mesmo com Carlos Saura, Bigas Luna, Fernando Trueba e outros, mas nenhum deles com tanto acesso ao público mundial quanto Almodovar). O filme, estrelado por Carmen Maura e Antonio Banderas, atores fetiches de Almodovar, é uma obra quase Nelson Rodrigueana. Traiçoes, amores roibidos, incesto, mudança de sexo. Vale tudo nessa trangressão alegórica escrita pelo próprio Almodovar, que na época provocou enorme escândalo pelo seu conteúdo e fortes cenas de homoerotismo. Pablo( Eusebio Poncela) é Diretor de teatro e Cinema. Gay, ele tem um amante, Juan, mas se separam. Na sua vida surge o tresloucado e sedutor Antonio ( Antonio Banderas), apaixonado loucamente por Pablo,a ponto de mater para provar esse amor. Tina ( Carmen Maura) é irmã de Pablo e atriz, e para culminar com a loucura, transsexual. Nessa salada vale fazer críticas ao Governo, política, instituição familiar, polícia e igreja católica. Amodovar distribui tiro para tudo quanto é lado. Revisto quase 30 anos depois, o filme mantém uma força dramatúrgica, que mescla gêneros tão distintos quanto drama, melodrama, comédia, filme noir e musical. A fotografia escura e a trilha sonora repleta de músicas pop dos anos 80 ajudam a dar esse clima decadente pop que Almodovar tanto venera. O elenco está sensacional, Carmen Maura antológica. Nota: 9

O que é o Cinema

e o Cinema
"What is Cinema?", de Chuck Workman (2013) Em 1986, Chuck Workman ganhou o Oscar de melhor curta por "Precious images", uma sucessão de cenas famosas de filmes contando a história do cinema. Ele também é responsável pelas montagens que são exibidas durante o Oscar, principalmente a sessão de homenagem a falecidos. Em 2013, ele realizou esse documentário, com a pretensão de entrevistar Cineastas e definir para o espectador o sentido do Cinema. O problema do filme é que Workman atira para todos os lados, e não mantém uma unidade de pensamento. Ora entrevista Cineastas autorais, experimentais, ora Cineastas independentes mais conhecidos do público, como Robert Altman, sem se aplicar a uma tese. O que realmente mantém o interesse para o espectador cinéfilo são as imagens de filmes, aquele momento que todo apaixonado pela noite do Oscar ama: ficar tentando adivinhar qual o filme da cena apresentada. Alguns depoimentos também são muito instigantes, mas o que realmente resume toda a questão é a de Jim Jarmusch: "se alguém disser que só existe uma forma de fazer Cinema, fuja dessa pessoa". Nota: 7

O convidado

"The guest", de Adam Wingard (2014) Imaginem uma versão de "Drive" para o gênero suspense, meio que como uma versão hardcore de "Teorema", de Pasolini? Assim é "O convidado". Visual com cores hiperrealistas e trilha sonora de sintetizadores anos 80. Um deleite visual e sonoro que tem um roteiro instigante, e mesmo que meio samba do crioulo doido lá pelo meio em diante, a gente assiste porquê o filme tem um olhar pop e moderninho que nos deixa vidrado. O elenco é composto de rostos desconhecidos, o que lhe confere um charme extra de produção independente. David ( o ótimo Dan Stevens, a cara de Ryan Gosling) é um estranho que chega na casa da família Peterson, cujo filho morreu durante serviços militares. Ele se apresenta como um amigo do filho. A mãe, emocionalmente abalada, convida o rapaz para passar uns dias na casa. A filha é contra a idéia, mas aos poucos ele vai seduzindo a todos. O filho adolescente, que sofre bullying na escola, é protegido por David e ganha seu afeto. O que ninguém espera é que David pode não ser a pessoa quem diz ser. O curioso do filme é que ele flerta com vários gêneros: suspense, drama, romance, ação. A direcão de Adam Wngard se aproveita dos clichês de todos esses gêneros e brinca com estilo. É um filme curioso e que vale ser visto, mesmo que as reviravoltas sejam meio implausiveis. Nota: 8

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Mate-me por favor

"Mate-me por favor", de Anita Rocha da Silveira (2015) Em 1993, o Cineasta canadense Denys Arcand adaptou a peça "Amor e restos humanos", que falava sobre uma geração na faixa dos 30 anos ainda indecisos em relação a amor, sexo e futuro profissional. Ambientado em uma Montreal solitária e apática, o filme ainda reservava espaço para um personagem serial killer que saía matando as pessoas, fazendo uma metáfora sobre o fim dos sonhos dessa geração em um contexto mais amplo. Em "Mate-me por favor", Anita Rocha da Silveira, que também assina o roteiro, ambienta a história em uma Barra da Tijuca pouco amigável. Adolescentes na faixa de 16 anos descobrem o sexo, discutem relações, amizades e se vêem diante de um dilema: "qual o sentido da vida?". Para responder essa pergunta, o filme adiciona 2 personagens que vão correndo paralelo na história central: um serial killer que sai matando adolescentes nas noites sombrias dos terrenos baldios da Barra ( com direito a um discurso em tons fúnebres de uma personagem narrando o caso Guilherme de Pádua e Daniela Perez) e uma pastora funkeira, que arregimenta jovens para a sua igreja pós-moderna onde a palavra de ordem é cantar e dançar funk. Dentro de uma mistura de gêneros, e se aproveitando dos clichês do suspense para narrar a sua história, Anita começa o filme da forma mais óbvia: uma garota solitária ( Lorena Comparato), vaga melancólica na noite da Barra até ser assassinada. A partir dái, acompanhamos o périplo de 4 amigas que estudam na mesma escola e criam uma rotina onde nada muda. O que as tira da constante apatia? os assassinatos, que por um motivo estranho, provoca uma atração macabra em Bia (Valentina Herszage), que mora com seu irmão João ( Bernardo Marinho), mais velho. Ele, um viciado em internet. Ela, namorando um jovem evangélico, que insiste em levá-la para o culto da igreja funk. Curiosamente, o filme tem uma atmosfera muito semelhante ao recente "A corrente do mal", de David Robert Mitchell, que se apropria dos filmes de terror dos anos 80 e faz uma releitura naturalista, sem exageros interpretativos, e fazendo homenagem aos filmes dos anos 80. O elenco inteiro de "Mate-me por favor" trabalha em tom naturalista, o que é um diferencial. As meninas ganharam um Prêmio coletivo no Festival de Veneza 2015, em uma Mostra paralela. Dois elementos são importantíssimos e fundamentais para o sucesso do filme: a fotografia exuberante e hiperrealista de João Atala, que é brilhante, e a trilha sonora, climática, dando uma atmosfera pop , povoada de clássicos do funk melody dos anos 80. A direção de Anita é muito criativa e traz um olhar estilizado para esse universo dos Barra tijucanos que se assemelham àqueles personagens americanos que moram em casas do subúrbio, local ideal para assassinatos, aparições fantasmagóricas e traumatizados, visto em filmes como "Poltergeist", "Beleza americana" e "A hora do pesadelo". O filme tem cenas ótimas, principalmente as que acontecem dentro da igreja, e é um ótimo exemplar de filme de gênero, abrindo portas para temáticas novas dentro da nossa filmografia.

Outro/Eu

"Self/Less", de Tarsem Singh. Drama fantástico, bem ao gosto do cineasta indiano Tarsem Singh, realizador de "A cela", "Imortais", "Espelho, espelho meu" e outros filmes de visual extravagante. De novo, Singh se apodera de imagens fortes e duvidosas para contar a história de Damian ( Ben Kingsley), um bilionário que descobre que tem 5 meses de vida devido a um câncer. Ele descobre uma empresa que faz um feito inédito: transfere a mente de uma pessoa para um corpo sadio e jovem. Damian paga pelo tratamento e acorda com um novo corpo, jovem e sadio. Esse corpo, mais pra frente, descobriremos que se chamará Mark ( Ryan Reynolds), e que descobrirá segredos terríveis do laboratório onde ele fez a transferência de mente. Filme longo, direção arrastada e um elenco em sua maioria no piloto automático. Ben Kingsley está totalmente apagado, e Ryan Reynolds já havia feito trabalhados mais interessantes recentemente. A história em si não é inovadora, e o filme aliás é um remake de "Um segundo rosto", de John Frankenheimer, estrelado por Rock Hudson. A concepção visual do laboratório é bem pouco inovadora, em se tratando de Tarsem Singh. Vale como passatempo em uma tarde chuvosa. Nota: 6

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Ausência

"Ausência", de Chico Teixeira (2014) Vencedor de vários prêmios no Brasil e no exterior, entre eles Melhor filme e direção em Granado 2015 e Melhor ator no Festival do Rio 2014(Matheus Fagundes), o filme do mesmo realizador de " A casa de Alice" traz um relato triste e desesperançoso de uma família clássica baixa que se esfacela. Ó filme começa com o pai abandonando a família: ficam a mãe e os dois filhos: um adolescente, Serginho e um pequeno. Serginho acaba sendo o homem da família: ele trabalha de feirante e sustenta a casa. A mãe se afoga na bebida e vai se deprimindo. Sem afeto, Serginho busca uma figura paterna no professor Ney(Irandhir Santos), mas esse afeto acaba se confundido com a descoberta de sua sexualidade. Extraordinário trabalho dos 3 atores (Matheus Fagundes, Gilda Nomacce e Irandhir), aliado à um trabalho também com não atores. O roteiro e a direção traçam uma trajetória documental na vida dessa família: de ritmo lento, vamos vendo a destruição moral que vão acontecendo com todos. A fotografia de Ivo Lopes contribui para dar esse ar desolador e seco da narrativa. Um primor de execução, que merece ser visto por espectadores que vibram com filmes de poucas falas e muita atmosfera. Nota: 9

O corpo

"O corpo", de Lucas Cassales (2015) Vencedor de vários prêmios em festivais, incluindo Gramado 2015, o curta "O corpo" é um representante de um filme de gênero, no caso o terror psicológico, de onde saíram obras-primas do cinema como "Os inocentes", de Jack Clayton. O filme tem muito de sua força calcada na fotografia e na direção de arte, que criam um clima e uma atmosfera propícias para que a história tenha veracidade. Em uma fazenda no interior do Rio Grande do Sul, vive uma família de meia idade e um filho pequeno. A rotina da família é quebrada quando o Garoto encontra uma mulher nua desmaiada na estrada e a traz para casa. A partir daí, essa figura bem próxima a "Teorema" irá mudar a rotina de todos ali presentes. Em uma atmosfera sobrenatural, a direção do filme acerta ao apostar no final em aberto: afinal, o que é tudo aquilo? Trabalhando com sexo e violência, o filme provoca e instiga. Ponto para os ótimos atores, capitaneados por Cesar Troncoso. Filme de cinéfilo que será melhor apreciada por cinefilos.

Amor e compaixão

"Love and mercy", de Bill Pohlad (2015) Cinebiografia do cantor e compositor Brian Wilson, a cabeça pensante do Grupo pop americano "The beach boys", que dominou a música nos anos 60, inclusive lançando o disco "Pet sounds", considerado pela crítica o 2o melhor album da história da música, em 1966. O filme se passa em 2 épocas: nos anos 60, contando a ascenção do grupo e o declínio em função de drogas e diagnóstico de esquizofrenia paranóide de Brian Wilson, e nos anos 80, quando encontramos Wilson em tratamento médico acompanhado pelo seu psiquiatra, que receita drogas pesadas para ele. Nessa época, ele conhece sua futura esposa, Melinda, ao comprar um cadillac em uma revendedora de automóveis. Paul Dano e John Cusack se dividem na tarefa de conferir voz e corpo a Brian Wilson. Já achei estranho porque os 2 atores não têm nada em comum. Paul Giamatti, achei esquisito com a peruca pavorosa e fake que lhe colocaram, no papel do psiquiatra escroque. A única em cena que parece saber o que está fazendo é Elisabeth Banks, no papel de Melinda. ano e Cusack não t6em química em conjunto, e isolados, Dano sai ganhando. Cusack beira o caricato na sua composição de paciente psiquiátrico. O filme é longo, e narrativamente, é bem convencional. O que coloca o filme em interesse no espectador obviamente é a trilha sonora do grupo, incluindo a clássica "God only knows", e a bela fotografia de Robert D. Yoman, fotógrafo constante nos filmes de Wes Anderson, aqui conferindo tons pasteis na época de 60. Convencional, ainda que bonito. Nota: 6

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Os inocentes

"The innocents", de Jack Clayton (2961) O cineasta inglês Jack Clayton ficou famoso por ter dirigido a versão de 1974 de "O grande Gatsby", que se tornou um dos maiores fracassos da história do cinema. O que poucos lembram, é que ele foi responsável por 2 grandes obras di suspense psicológico, ambos envolvendo crianças: "Os inocentes" e "Todas as noite às 9". Com "Os inocentes", de 1961, Clayton concorreu à Palma de Ouro. O roteiro foi co-escrito por Truman Capote, baseado no livro "A volta do parafuso", de Henry James, escrito em 1898. O filme tem grande influência da psicanálise desenvolvida por Freud na época, e isso se revela em temas encontrados na história, alguns ligados à questão da sexualidade, outros por demência. Belissimamente fotografado em preto e branco por Freddie Francis, e com uma trilha sonora assmbrosa de Georges Auric, o filme trabalha o drama com tintas de supense sobrenatural e psicológico. O filme brinca com o espectador o tempo todo: o que vemos é real ou não? Deborah Kerr é Miss Giddens, governanta contratada para cuidar de 2 crianças em uma mansão. Aos poucos, ela vai descobrindo segredos horríveis de ex-empregados, e a possibilidade da casa estar assombrada e as crianças, possuídas. Magistralmente dirigida por Clayton, que provoca atmosfera assustadora somente se utilizando de fotografia, sons e silêncio, o filme tem um trabalho excelente de direção de atores. Deborah está deliciosamente teatral, divergindo da atuação "adulta" das crianças, que agem como pequenos demônios que flertam com o perigo o tempo todo. O filme "Os outros" obviamente se baseou em "Os inocentes", tanto em termos de história quanto de clima. O filme deixa o espectador tão confuso no final, que um filme foi realizado 10 anos depois, com Marlon Brando e dirigido por Michael Winner, fazendo um "prequel" de "Os inocentes" e dando a sua versão dos fatos. Scorcese considera esse um dos filmes mais assustadores da história do cinema. Muitos filmes copiaram seu estilo anos depois. Nota: 9

domingo, 13 de setembro de 2015

No porão

"Im keller", de Ulrich Seidl (2014) O Cineasta austríaco Ulrich Seidl é responsável pela trilogia mais sádica, sexual e pervertida de toda a história do cinema: "Paraíso Fé", Paraíso Amor" e "Paraíso Esperança". Agora com esse documentário exibido no Festival de Veneza, "No porão", Ulrich Seidl faz o que o cineasta Eduardo Coutinho, em "Edifíco Master" não fez: abrir as portas do porão e explorar o lado mais sombrio, fetichista e doentio do ser humano. Esperem todos os tipos de loucuras e taras, e no final a gente se pega pensando: Quem são os loucos, nós ou eles? Quem somos nós para julgar os outros? Coletando depoimento e situações as mais decadentes possíveis, Ulrich Seild quer mostrar o que os austríacos fazem no porão, um ambiente da casa desconhecido aqui no Brasil, pela sua total ausência nas residências. Normalmente nos filmes de ficção, o porão é usado como um depósito. Mas em filmes de terror e de suspense, é o local certo para aprisionar suas vítimas e fazer com elas coisas que até Deus duvida. Pois é esse o local aberto ao público visto aqui no filme: temos adoradores de tiros; criadores de cobras; uma mulher canrente que trata sua boeca como se fosse sua filha; uma prostituta gorda que serva de fetiche para um cliente criativo; uma mulher que se descobre masoquista; um escravo do sexo que faz tudo o que sua patroa pede, inclusive limpar a banheira com a língua; jovens roqueiros; um casal idoso que guarda mobília caríssima. Cada um com sua loucura, filmada com a linguagem narrativa que Ulrich adora: planos fixos, pessoas posando para a câmera, um total desapego da emoção. O filme é estritamente proibido para pessoas sensíveis. A não ser que você ache normal uma mulher pendurar um homem pelo seu testículo e ambos sentirem prazer com isso. Nota: 7

Plataforma

"Zhantai", de Jia Zheng Ke (2000) Um retrato extremamente desolador sobre uma geração que viveu amarrada à um Governo comunista que se baseou em preceitos de falta de liberdade de expressão. "Plataforma"tem esse título devido a uma música pop chinesa dos anos 80 com o mesmo título, e que falava sobre uma pessoa que esperava incansavelmente na estação de trem:"We are waiting, our whole hearts are waiting forever" O filme é um ambicioso painel sobre a juventude chinesa durante 10 anos: de 1979 a 1989, período no qual o Governo chinês foi aos poucos se abrindo para a política das "Portas abertas", permitindo a entrada da cultura ocidental em seu dia a dia. Mao Tse Tung morreu em 1976, e com ele, a política da revolução cultural. Mas em 1979, o Comunismo ainda imperava forte no dia a dia da população. O filme acompanha uma trupe de artistas, que se apresenta em lugares públicos fazendo performances de textos que exaltam Mao Tse Tung e o Governo Comunista. Aos poucos, com o passar dos anos e com a influência da cultura ocidental, essa trupe vai se transformando, até finalmente se tornar uma banda de rock eletrônica. Através da história dos atores, o espectador se torna uma testemunha de importantes acontecimentos que viraram a China nesse período. Muitas pessoas sofreram preconceito no início pro aderirem à moda ocidental e ao gosto das músicas pop, consideradas um lixo pelos comunistas. Jia Zheng ke filma essa história de forma extremamente técnica, porém carregada de emoção. Através de um extremo rigor formal ( planos fixos, cenas de apenas um plano, sem corte, planos longos), Jia Zheng Ke testa a paciência do espectador comum em 154 minutos de épico. Para os não cinéfilos, o filme se torna insuportável. O elenco, maioria formado por amadores, exala frescor e muita vivência real dos personagens, muito provavelmente porquê a inquietude da ficção fez parte da história dos atores. Esse gás, essa energia que vibra em cada ator, é algo muito valioso, nas mãos hábeis de Joa Zheng ke, vira ouro. O filme teve a exibição proibida na China, e somente era possível assistir através de sessões clandestinas ou comprando dvd pirata. Até hoje, o filme é visto como um panfleto anti-revolucionário, e por conta disso, Jia Zheng ke o dedica a seu pai, que sempre temeu o Governo comunista e tentava fazer com que seu filho não fosse preso pelos seus ideais politicos. Um filme obrigatório para cinéfilos, para historiadores e para quem entende que o Cinema é uma das maiores forças divulgadoras de ideais de um Autor. O filme foi rodado em Fenyang, provícnia onde nasceu Jia Zheng Ke e onde ele guarda suas memórias afetivas. Muitas cenas antológcas, como a dança do grupo durante a execução do pop brega "Gengis Khang" ou a dança das meninas em cima da carroceria de um caminhão na estrada. Melancolia e tédio de jovens que perderam o poder de sonhar por dias melhores. Nota: 8

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

O amante de Lady Chatterley

"Lady Chatterley's lover", de Jed Mercurio (2015) Adaptação do clássico de D.H.Lawrence, adaptada inúmeras vezes para o Cinema e Tv, inclusive com uma versão apimentada com Silvia Krystel nos anos 80. Escrito em 1928, foi proibido na Inglaterra até 1960. Além de forte carga de erotismo, o livro narra a relação sexual entre uma burguesa aristocrata e um operário. O livro narra a história de Lady Chatterley, que se casa com Sir Chatterley, dono de um império de mineração. Durante a 1a guerra, onde Sir Chatterley serve, ele é ferido e fica desabilitado da cintura para baixo,inclusive ficando impotente. De início, Lady Chatterley cuida dele, mas fica enciumada da enfermeira e ainda por cima, seus desejos sexuais não são mais preenchidos pelo marido. Um dia, o ex-minerador e ex-soldado Oliver Mellons ( Richard Madden, o Robb Stark de "Game of Thrones") chega pedindo emprego na mansão e é contratado como guardião da casa de caça. Logo, ele se tornará amante de Lady Chatterley, e ela fica dividida entre a vida burguesa ou o amor de um operário. Esse filme peca em todos os sentidos: elenco morno, zero carga de erotismo e uma direção careta que torna o filme enfadonho. Uma pena, pois a direção de arte e figurino são caprichados. Richard Madden, que deveria ser o chamariz do filme, está totalmente apagado e sem sal. Um filme totalmente para sessão da tarde ou para uma madrugada insone. Nota: 5

Love 3D

"Love 3D", de Gaspar Noé (2015) Provavelmente o mais polêmico cineasta depois de Lars Von Triers, ambos usam o marketing a seu favor. Exibido fora de competição em Cannes 2015, "Love" causou furor, ódio e paixão. Dessa vez Gaspar Noé, argentino radicado em Paris, faz uma retrospectiva de seus filmes e insere tudo nesse seu épico sexual de 134 minutos de duração. Mas é bom avisar quem for assistir ao filme, avido e curioso para se divertir com sexo explícito em 3D: dos 134 minutos, deve ter uns 15 minutos de sexo puro. Os outros 120 minutos estão reservados ao mais puro existencialismo, digno de um personagem de Antonioni depressivo pelo fim de um relacionamento e discorrendo sobre as razões de viver. De " Sozinho contra todos", Noé busca o existencialismo, as cartelas ultra pop coloridas, os planos tableau e a narração em off. De "Irreversível, vem a narrativa contada do fim até o início de um relacionamento e vários planos sequencia. De " Enter The void", ele repete o plano do penis penetrando na vagina pelo ponto de vista do útero e as cores berrantes e estroboscópicas dos neons, além das câmeras seguindo os personagens sempre pelas costas. A história é a mais simples possível; Murphy, um jovem estudante de cinema americano, está em Paris e conhece Electra, uma jovem pintora. Apaixonados, eles fazem juras de amor eterno, até que uma loira estonteante, Omi, invade a vida do casal. Menage a Troix, orgias e bacanais, transa com travesti, é um vale tudo nesse filme fetichista e visualmente estonteante. A fotografia é um orgasmo puro de tão bonita, os atores são todos belíssimos e vê-los trepando vale muito a pena. Gaspar Noé exacerba a sua megalomania e batiza um bebê de Gaspar e o ex namorado de Electra de Noé, além do protagonista ser um cineasta. Ao longo do filme vemos muitos pósters de filmes clássicos do cinema, provando que o filme é na verdade uma grande homenagem ao cinema e ao amor. É como diz Murphy, o sonho dele é fazer um filme sobre sexualidade emocional. Coube a Gaspar Noé fazer esse filme, mesmo que a gente tenha a absoluta certeza de que esse filme poderia ter sido contado com uns 40 minutos a menos. Reparem na cena de sexo a três: uma das mais lindas que já vi. Louvo os atores que se deixaram a serviço do filme e do diretor e se dedicaram cem por cento aos propósitos do filme. Nota: 7

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Um e dois

"One and two", de Andrew Droz Palermo (2015) Filme de estréia do Cineasta e roteirista Andrew Droz Palermo, que já havia realizado um longa documental. Exibido no Festival de Berlin 2015, dentro da Mostra "Geração", o filme é, por incrível que pareça, um misto de "Carrie", "A vila" e "A arvore da vida". Como se essa mistura não fosse possível, o cineasta ainda realiza a façanha de fazer um filme com 2 irmãos com super poderes em uma estética de filme independente e de arte. Afinal, a quem esse filme se destina? Não há dúvidas de que é um filme ousado em sua concepção. Filme fantástico, sobr eum universo fantasioso: uma família Amish mora em uma fazenda isolada em uma floresta cercada por um muro alto ( A vila). Os 2 filhos do casal, um casal adolescente, possuem poderes de telecinese: eles podem se transportar para onde quiser (Carrie). Tudo isso embalado por offs filosóficos, existencialistas dos personagens do Pai e do filho, que divagam sobre a condição humana, vida e morte. Acho pouco provável que o público adolescente compre esse filme: ele é lento demais, estiloso demais, sem ritmo e as cenas de ação são mais paradas do que um filme do Tarkovsky. O público adulto também não sei se compraria essa versão remix de "A vila", do Shayamalan. Mesmo porquê, no meio da história já descobrimos o segredo. E quando esse segredo vem à tona, vem sem qualquer tipo de mistério ou surpresa. É uma pena, pois a fotografia é um escândalo de bonita: o fotógrafo Autumn Durald faz imagens belíssimas focando natureza e pessoas em convívio com ela. O elenco faz o que pode nesse roteiro sem novidades. Resta ficar de olhos grudados nas belas imagens. Nota: 7

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Os agentes da U.N.C.L.E

"The man from U.N.C.L.E", de Guy Ritchie (2015) Filme de ação e espionagem derivado do seriado que foi exibido com sucesso na Teve de 64 a 68, tendo como um dos criadores Ian Fleming, autor de James Bond. O seriado foi criado como uma resposta ao excesso de filmes e seriados sobre espionagem que invadiram os anos 60, muito decorrente da Guerra Fria entre Estados Unidos e Rússia. "Os agentes da Uncle" tinha como diferencial o humor e o recrutamento de pessoas comuns para missões mirabolantes. No filme dirigido pelo Inglês Guy Ritchie, a ação se passa durante a Guerra Fria, início dos anos 60. Ritchie resolveu contar a história de como foi criada a U.N.C.L.E e como os seus 3 principais agentes se conheceram. O Agente americano da CIa Napoleon Solo (Henry Cavill, de "Superman"), o agente russo da KGB Illya (Armie Hammer de "A rede social") e a alemã Gaby ( Alicia Vikander de "Ex-machina"e namorada de Michael Fassbender) vivem às turras e precisam saber viver em harmonia e lidar com as diferenças para poder combater uma organização criminosa que quer destruir parte da humanidade ( de novo!!!). O maior barato do filme, além do elenco luxuoso e lindo, é o humor tipicamente inglês, que sacaneia tudo e todos, e a fantástica direção de arte ( Figurino e maquiagem idem). A trilha sonora, repleto de canções pop da época, também entram como um fabuloso recurso narrativo. A primeira parte do filme começa lenta, mas aos poucos vai conquistando o espectador justamente pelo seu charme e sofisticação. E o filme ainda evita mostrar violência explícita, que aliás é a marca registrada de Guy Ritchie. Novos tempos. De qualquer form,a Ritchie se mostra ainda um excelente narrador, usando e abusando de estilização para contar a sua história nostálgica. Nota: 7

domingo, 6 de setembro de 2015

A dupla vida de Veronique

"La double vie de Véronique", de Krzysztof Kieslowski (1991) Vencedor do Prêmio de Melhor atriz para Irene Jacob em Cannes no ano de 1992, esse filme do polonês Krzysztof Kieslowski, realizado antes de sua famosa trilogia das cores, expressa o intraduzível: o que faz com que duas mulheres que não se conhecem, e que moram em países diferentes, se sintam conectadas de alguma forma? Weronika ( Irene Jacob) é cantora lírica, e mora em Cracóvia, Polônia, país que está abandonando o regime comunista e se adaptando aos novos tempos. Durante uma manifestação em praça pública, ela avista Veronique (Irene Jacob), uma professora de música que está ali de férias. Ela não dá muita bola, e no dia de sua apresentação em um concerto, ela se sente mal do coração e morre. Imediatamente, somos reportados para Paris, e seguimos com a vida de Veronique, professora de música e também sofrendo do coração. Veronique, sem saber o porquê, se sente sozinha no mundo. A partir desse momento, ela quer mudar a trajetória de sua vida. Filme com extremo requinte de fotografia, a cargo de Slawomir Idziak, que filma tudo através de texturas, vidros, espelhos, etc, sempre reforçando o mistério e conceito do duplo no filme. A trilha sonora, extraordinária de Zbigniew Preisner, provoca uma intensa sensação de melancolia e tristeza. De ritmo lento, mas contemplativo e poético, o filme suscita mais dúvidas do que respostas: o que de fato, o filme quer falar? acaso, coincidência, metafísica? Todas as opções são válidas. No final, estamos certos de termos presenciado uma obra-prima do cinema. Das mais lindas já vistas na tela. Nota: 9

sábado, 5 de setembro de 2015

Bueiro

"Maen-hol", de Jae-Young Shin (2014) Suspense sul coreano, sobre um serial killer com trauma de infância, que sequestra mulheres e as traz até um subterrâneo, onde as tortura e as mata. Uma das vítimas é uma jovem surda muda, e a sua irmã mais velha faz de tudo para poder encontrá-la. O roteiro do filme é bem frágil, e o filme todo fica naquela brincadeira de gato e rato de algoz e vítimas se escondendo em corredores infinitos do subterrâneo, enquanto policiais ineptos tentam localizar as vítimas. Filme de estréia de Jae-Young Shin, me irritou profundamente pelo desenrolar da história e pelo desfecho totalmente odioso, sem qualquer tipo de necessidade. Sabe aquele filme que você acha que acabou, mas não acabou? pois é. Ódio. O que se salva: as atrizes Sae-ron Kim ( a menina do ótimo "A garota da porta") e Kyung Ho Jung, no papel da irmã mais velha. De resto, só irritação e a tentativa e desejo de Quero ser "O silêncio dos inocentes". Nota: 5

O conto dos contos

"Il racconto dei racconti", de Matteo Garrone (2015) Filme fantasioso, baseado em contos escritos por Giambattista Basile, em 1600, anterior aos Contos de Grimm. Dirigido pelo italiano Matteo Garrone, o filme concorreu pela Palma de Ouro em Cannes 2015. Em outros anos, Garrone já havia ganho Palmas para seus filmes "Gomorra" e "Reality". Impressiona que, após esses 2 filmes, ele tenha resolvido fazer uma co-produção com estrelas americanas e européias, e mais: todo falado em inglês, e dentro de um universo que parecia bem distante dos seus outros filmes. Filme fantástico, na linha de "Os irmãos Grimm" ou "As aventuras de Barão de Munchausen", ambos de Terry Gillian, de quem Garrone pega muitas referências, principalmente em relação ao universo surreal e onírico. Poderia até estender ao universo de Tim Burton: afinal, as 3 histórias aqui apresentadas, mesclam violência, humor negro e muita bizarrice. O diferencial, é que Garrone coloca pimenta, com cenas de sexo e nudez. Ou seja, fantasia macabra para adultos. A primeira história é com Salma Hayek: ela é uma rainha, casada, mas que não consegue engravidar. Um feiticeiro diz que se ela comer um coração de um monstro marinho, preparado por uma virgem, ela engravidará. A segunda história, é sobre um Rei (Vincent Cassel)sedento de sexo, que um dia ouve a voz de uma mulher e fica apaixonado por ela, sem saber que é uma velha que mora dentro de uma casa. A terceira historia, é de um Rei que quer casar a sua filha. Ao mesmo tempo, ele cria uma pulga que vem a se tornar um grande monstro. O problema do filme é que, além de ser muito longo, 125 minutos que parece uma eternidade, é que ele não tem ritmo. Chato, para piorar, as 3 histórias são entrecortadas, o que prejudica a narrativa delas, pois quando você está entrando na história, corta e vamos para uma outra, e assim vai seguindo. As 3 histórias em si não tem nada a ver uma com a outra. O filme fica variando entre querer contar um filme para adolescentes, e depois, para adultos, provocando uma grande crise de identidade. O que vale a pena: a parte técnica. Footgrafia de Peter Suschitzky e trilha sonora do craque Alexandre Desplat. Fora isso, os atores parecem estar todos no piloto automático. Salma Hayek está sem vida, burocrática. Alba Rohrwacher, excelente atriz italiana, faz uma ponta que acaba nem fazendo diferença, Efeitos ótimos, figurino, maquiagem. Mas tudo a favor de um filme frio e vazio. O que é uma grande pena. Nota: 6

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Jia Zheng Ke , o homem de Fenyang

"Jia Zheng Ke, o homem de Fenyang", de Walter Salles. Recuperando o seu excelente dom para conduzir um documentário ( vide o antigo seriado documental "China"), Walter Salles faz aqui um testamento emocionante sobre o legado do cinema do chinês Jia Zheng Ke para os cinéfilos do mundo inteiro. Fã confesso desde 1998, Walter acompanha o cineasta até a sua terra natal, a cidade de Fenyang, norte da China, onde até o dialeto é diferente. Lá, ele reencontra, 29 anos depois, amigos, parentes ( sua mãe e irmã), atores e principalmente, as locações que serviram de cenários para os seus filmes. Pode ser que você nunca tenha ouvido falar dos filmes "O mundo", "Plataforma", Em busca da vida", 24 cidades", Um toque de pecado". Mas se você entrou por um acaso na sala de cinema que está exibindo o documentário, com certeza, você ficará tentado a querer ver a todos os seu filmes. De fala mansa, olhar triste, contemplativo, os filmes de Zhenk ke são como ele: t6em o seu olhar, o seu ritmo, a sua melancolia por uma memória de um tempo que não existe mais. Em determinado momento, o cineasta diz que faz seus filmes em sua cidade natal para poder preservar a memória dela nos filmes, já que a modernidade da China significa destruir tudo o que é antigo. Muitos depoimentos são emocionantes e às vezes até hilário. Quando fala de seu pai, Zheng Ke chora. Quando fala da época em que era aluno de interpretação, Zheng Ke ri de como ele era péssimo ator. O seu fotógrafo dá um depoimento divertido dizendo que o cineasta o enganou, querendo usar uma tecnologia barata para poder fazer um longa. O filme, no entanto, é conduzido pela memória e pelo amor ao cinema. Tudo exala paixão pela sétima arte. É um filme obrigatório para cinéfilos, para quem ama a cultura e a história da China e principalmente, para os nostálgicos que acreditam que é na memória que devemos nos apegar para continuar seguindo na vida. Nota: 9

terça-feira, 1 de setembro de 2015

O jardim dos Finzi Contini

"Il giardino dei Finzi Contini", de Vittorio de Sica (1970) Obra-prima de de Sica, baseada em novela de Giorgio Bassani e vencedor de vários Prêmios Internacionais, entre eles, o Oscar de filme estrangeiro em 72 e o Urso de Ouro em Berlin. O filme é um dos mais melancólicos registros sobre a derrocada de uma família judia durante a 2a guerra mundial. Ambientada em 1938, na região de Ferrara, Itália, o filme mostra o cotidiano aristocrático e burguês da Família judia Finzi Contini. A enorme mansão é cercada por muros que mais parecem fortaleza, e um jardim enorme onde os amigos dos filhos do casal costumam vier jogar tênis, uma vez que na época, os judeus foram proibidos de frequentar o clube. Os judeus abastados ainda não tinham i'deia do terror que viria nos anos seguintes. Em 38, o fascismo ainda estava crescendo e a Itália anda não havia aderido à Guerra. Nesse contexto, os judeus viviam como se nada estivesse acontecendo, tentando levar uma vida normal. Mas aos poucos, eles sentem que as cosias estão mudando. Micol ( Dominique Sanda, que no mesmo ano havia trabalhado em "O conformista", de Bertolucci') e Alberto )Helmut Berger) são os filhos do casal Finzi Contini. Lindos e cultos, eles estão sempre acompanhados dos amigos Georgio e Malnate, ambos apaixonados por Micol. No entanto, ela refuta o amor de todos. O filme, visto hoje em dia, tecnicamente está bastante datado, pois de Sica exagera no uso da lente zoom e isso incomoda bastante. Atores amadores destoam bastante dos profissionais. No entanto, o roteiro é tão poderoso e contundente, que a gente esquece as falhas e entra totalmente na história. As belas locações de Ferrara, a trilha sonora de Manuel de Sica são elementos que também embalam o espectador. Cenas antológicas, como a da ceia de Páscoa, em clima de tensão, prova a maestria de de Cisa ao conduzir uma narrativa. Outra cena formidável é a partida de tênis no final. ME remeteu a "Blow up", de Antonioni. Nota: 8

Os últimos dias na terra

"Z for Zacharias", de Craig Zobel (2015) Drama futurista baseado no livro clássico de Robert C. O'Brien, adaptado anteriormente para a televisão em 1984. O filme se passa num futuro apocalíptico: toda a humanidade morreu devido a um acidente nuclear. Ann ( Margot Robbie, de "O lobo de Wall Street") sobreviveu porque a fazenda onde ela morava nas montanhas com o seu pai estava fora do alcance da contaminação. Sozinha com o seu cachorro, ela passa seus dias plantando e tentando sobreviver. Um dia, ela vê um homem tomando banho em um riacho e o adverte de que a água está contaminada. O homem, Loomis (Chiwetel Ejiofor, de "12 anos de escravidão'), é um cientista que sobreviveu por estar num bunker na hora do acidente nuclear. Loomis fica doiente e Anne cuida dele, até que ele melhora. Os dias seguem, eles moram juntos em uma casa e cuidam da plantação. Quando menos esperam, um outro homem surge: Caleb ( Chris Pine, de "Star Trek'). Ann o acolhe, mas a presença dele provoca em Loomis ciúmes. O filme pode ser visto como uma parábola sobre ódio e ciúme. Através desses 3 personagens, acompanhamos o lento desenrolar do amor e ódio que cresce entre os 3, mais precisamente em Loomis. A direção do filme é correta, previlegiando belíssimas locações na Nova Zelândia. O filme segue muito lento, pouquíssima coisa acontece. Tendo a dizer que se fosse um curta, teria sido muito mais efetivo. O filme só tem 3 personagens. Os atores estão ok, mas acredito que poderiam ter dado mais de si aos papéis. Faltou mais adrenalina, mais olhares, mais pulsações. Todo o início do filme lembra bastante "Eu, a lenda", com Will Smith. O sobrevivente e seu cachorro, até encontrar alguém. Mas a semelhança para por aí, pois esse filme é realista e não tem espaço para zumbis. Uma pena que o filme não traga nada de novo. Mesmo assim, foi selecionado para ser exibido em Sundance. Nota: 6

Sem tocar

"Bez Doteku", de Matej Chlupacek e Michal Samir (2013) Drama Tcheko sobre uma jovem de 18 anos, Julana, que mora com sua mãe e padrasto. O padrasto a assedia sexualmente a ponto de estruprá-la, mas a mãe nada faz, com medo de perder o amante. Jolana resolve se tornar prostitura em um bordel, mas os maus tratos do dono e dos clientes a fazem se lembrar do padrasto. Fantasia e realidade acabam se confundindo em sua mente já descontrolada. Filme curto, com 70 minutos, mas o suficiente para tão pouca dramaturgia e muita pretensão. Atores medianos, roteiro frágil e confuso. As cenas de erotismo são mal filmadas e sem qualquer tipo de beleza plástica. O que poderia ser um ótimo drama sobre violência doméstica acaba reduzido a um drama metido a moderninho e com cara de anos 80, datado. Nota: 5