sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Mate-me por favor

"Mate-me por favor", de Anita Rocha da Silveira (2015) Em 1993, o Cineasta canadense Denys Arcand adaptou a peça "Amor e restos humanos", que falava sobre uma geração na faixa dos 30 anos ainda indecisos em relação a amor, sexo e futuro profissional. Ambientado em uma Montreal solitária e apática, o filme ainda reservava espaço para um personagem serial killer que saía matando as pessoas, fazendo uma metáfora sobre o fim dos sonhos dessa geração em um contexto mais amplo. Em "Mate-me por favor", Anita Rocha da Silveira, que também assina o roteiro, ambienta a história em uma Barra da Tijuca pouco amigável. Adolescentes na faixa de 16 anos descobrem o sexo, discutem relações, amizades e se vêem diante de um dilema: "qual o sentido da vida?". Para responder essa pergunta, o filme adiciona 2 personagens que vão correndo paralelo na história central: um serial killer que sai matando adolescentes nas noites sombrias dos terrenos baldios da Barra ( com direito a um discurso em tons fúnebres de uma personagem narrando o caso Guilherme de Pádua e Daniela Perez) e uma pastora funkeira, que arregimenta jovens para a sua igreja pós-moderna onde a palavra de ordem é cantar e dançar funk. Dentro de uma mistura de gêneros, e se aproveitando dos clichês do suspense para narrar a sua história, Anita começa o filme da forma mais óbvia: uma garota solitária ( Lorena Comparato), vaga melancólica na noite da Barra até ser assassinada. A partir dái, acompanhamos o périplo de 4 amigas que estudam na mesma escola e criam uma rotina onde nada muda. O que as tira da constante apatia? os assassinatos, que por um motivo estranho, provoca uma atração macabra em Bia (Valentina Herszage), que mora com seu irmão João ( Bernardo Marinho), mais velho. Ele, um viciado em internet. Ela, namorando um jovem evangélico, que insiste em levá-la para o culto da igreja funk. Curiosamente, o filme tem uma atmosfera muito semelhante ao recente "A corrente do mal", de David Robert Mitchell, que se apropria dos filmes de terror dos anos 80 e faz uma releitura naturalista, sem exageros interpretativos, e fazendo homenagem aos filmes dos anos 80. O elenco inteiro de "Mate-me por favor" trabalha em tom naturalista, o que é um diferencial. As meninas ganharam um Prêmio coletivo no Festival de Veneza 2015, em uma Mostra paralela. Dois elementos são importantíssimos e fundamentais para o sucesso do filme: a fotografia exuberante e hiperrealista de João Atala, que é brilhante, e a trilha sonora, climática, dando uma atmosfera pop , povoada de clássicos do funk melody dos anos 80. A direção de Anita é muito criativa e traz um olhar estilizado para esse universo dos Barra tijucanos que se assemelham àqueles personagens americanos que moram em casas do subúrbio, local ideal para assassinatos, aparições fantasmagóricas e traumatizados, visto em filmes como "Poltergeist", "Beleza americana" e "A hora do pesadelo". O filme tem cenas ótimas, principalmente as que acontecem dentro da igreja, e é um ótimo exemplar de filme de gênero, abrindo portas para temáticas novas dentro da nossa filmografia.

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