quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Aquele que você alimenta


"The one you feed", de Dan Harwood (2020)
A cena mais bizarra do ano pertence a esse filme: durante um estupro que resulta em sexo anal, o abusador pega ovos e quebra nas costas de sua vítima, e com a clara e gema, lubrifica o ânus do rapaz e o estupra.
Drama de suspense psicológico LGBTQIA+, "Aquele que você alimenta" parece uma refilmagem de "O estranho que nós amamos" em versão contemporânea gay. Nenhum personagem tem nome: tem o estranho, o homem, e a mulher.
O estranho é o ator Gareth Koorzen. De luto pela morte do namorado, ele leva as cinzas do falecido até o deserto. Ao acampar de noite, ele é atacado por um urso e é salvo por um casa: um homem (Drew Harwood) e uma mulher (Rebecca Fraiser). Ambos o fazem de refém, e abusam sexualmente dele. O estranho tenta fugir, mas parece uma tarefa muito difícil.
Os três atores são amadores, muito fracos, e só se valem pela beleza e sensualidade. A câmera se apaixona pelos corpos masculinos, retratando cada poro de seus corpos suados e musculosos. Homoerotismo à flor da pele, repleto de homoerotismo explícito. Para voyeurs, é prato cheio.

A vastidão da noite

"The vast of night", de Andrew Patterson (2019)
Adaptação de um episódio de "The twilight zone", "A vastidão da noite" é o filme de estréia do diretor Andrew Patterson, que também adaptou o episódio para o longa. O filme recebeu diversos prêmios em Festivais internacionais, e é fácil dizer o porquê: assim como David Robert Mitchell reinventou o terror moderno com "A corrente do mal" em 2014, Andrew Patterson também traz novo olhar sobre a ficção científica, com planos de câmera mirabolantes e trilha sonora inquietante.
O roteiro acompanha dois amigos, os jovens Fay (Sierra McCormick), uma telefonista, e Everett (Jake Horowitz(, um radialista na cidade do Novo México em 1958, no auge da Guerra fria e da paranóia com os comunistas. O filme todo acontece um uma noite: a cidade toda está no estádio, acompanhando a final de uma partida de basquete. Fay e Everett trabalham de noite. Ambos escutam um estranho barulho durante a transmissão pelo telefone e rádio e resolvem ir atrás do que poderia ser.
As referências mais próximas são "Contatos imediatos do terceiro grau" e "Vampiros de almas" . O filme retoma o tema dos alienígenas que possivelmente poderiam invadir a terra. Ou seria tudo uma paranóia?
Autoral e com ar altamente estilizado, o filme tem planos de drone e steadi bastante longos e de cair o queixo. Além disso, tem cenas bastante longas de diálogos, focado nos atores mas com experimentação na forma. Os dois jovens atores são ótimos. Um filme muito interessante, rodado em 17 dias e em baixíssimo orçamento, o que deixa tudo ainda mais surpreendente

Relatos do mundo


"News of the world", de Paul Greengrass (2020)
Quem diria que o cineasta inglês Paul Greengrass, realizador de filmes de ação repletos de porradaria e violência, faria um dia um faroeste épico que faz o público chorar por 10 minutos? Adaptação da novela de Paulete Jiles escrito em 2016, "Relatos do mundo" parte de uma excelente premissa: Cinco anos após o final da Guerra da Secessão, o Capitão Kidd (Tom Hanks, que já havia trabalhado com Greengrass em "Capitão Philips") arruma uma nova profissão: por alguns trocados, ele viaja de cidade em cidade no Texas, para fazer relatos do que acontece no mundo, ou seja, um contador de histórias. Em uma de suas andanças, ele acaba conhecendo a pequena Johanna (Helena Znegel, a atriz mirim do intenso "Transtorno explosivo"). Seus pais alemães foram assassinados há seis anos atrás, e ela foi criada por índios Kiowa, que por sua vez, foram mortos pelo homem branco. Sem ter com quem deixar a menina, rebelde que só, Kidd resolve ele memso atravessar o deserto para entregá-la aos tios dela. No caminho, surgem todos os tipos de percalços, mas a relação entre Kidd e Johanna vai se estreitando.
O roteiro, repleto de referências à "Rastros de ódio" e "No tempo das diligências", ambas de John Ford, é até óbvio, mas é lindo em se tratando do eterno tema de duas almas tão distintas se entendendo ao longo desse road movie. O faroeste, um gênero que vez ou outra retorna ao cinema ( Vide "True grit", dos irmãos Coen), é bastante representativo nesse elemento intimista em plenitude geográfica para falar de figuras solitárias. Excelentes performances de Tom Hanks e da menina Helena. Que Deus abençoe Tom Hanks e que ele continue fazendo papéis que somente ele pode dar vida e alma.
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quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Meu pai


"The fatheri", de Florian Zeller (2020)
Adaptação da premiada peça teatral escrita pelo próprio diretor, Florian Zeller, o roteiro foi desenvolvido por Christopher Hampton, vencedor do Oscar de melhor roteiro por "Ligações perigosas".
O filme é uma devastadora representação mental do processo de demência na mente de um idoso de 80 anos, Anthony (Anthony Hopkins). O filme, habilmente, traça o olhar d eum homem que vai perdendo a sua lógica mental, misturando cenários, pessoas, situações. Sua filha, Ann (Olivia Colman) trouxe Anthony para morar com ela e seu marido, Paul, mas a presença do pai irrita o seu parceiro.
A edição do filme é primorosa: atores diferentes interpretam o memso papel, o cenário do apartamento vai mudando de acordo com o grau de demência de Anthony. É um roteiro bastante teatral, mas com as performances intensas de Hopikins e Olivia Colman, se torna um prazer e uma aula assistir. "Meu pai"é um drama bastante doloroso, triste e um tratado impiedoso sobre a velhice e sobre a doença.

Bela vingança


"Promising young woman", de Emerald Fennell (2020)
Vencedor de vários prêmios em importantes Festivais, 'Bela vingança" é o longa de estréia da showrunner da premiada série "Killing eve". O filme é fruto do movimento #metoo, traduzido em um estranho híbrido de humor negro, thriller e drama. Carey Mullighan protagoniza um dos cinco minutos mais odiosos que você verá no ano, uma cena revoltante, que me deixou em dúvida se no final, eu gostei ou não do projeto.
Cassandra (Mullighan) é uma ex-promissora estudante de medicina, mas que abandona tudo em prol de uma vingança: Nina, sua amiga de faculdade, se suicidou após ser vitima de um estupro coletivo dentro da Universidade. Os culpados não foram processados e o caso foi abandonado. Cassandra faz uma lista de todos os homens que estavam no estupro e vai ao encontro de cada um: ela se faz de bêbada, e espera para ver se o homem tomará vantagens sexuais dela ou não.
Uma crítica impiedosa à cultura do estupro, "Bela vingança" se vale muito pela performance de Carey Mullighan, uma
ótima atriz que esperava um papel como esse que alavancasse a sua carreira entre as grandes. Todos os homens pedradores são interpretados por comediantes, uma escolha muito acertada da diretora, provocando um estranhamento no espectador que não estava acostumado a ver aquele ator num papel tão hediondo. A fotografia é toda estilizada, lembrando momentos de "Drive", que a própria Mullighan interpreta, trazendo inclusive elementos de direçao de arte vintage anos 80. O final, bom... assistam e reflitam.

Minari


"Minari", de Lee Isaac Chung (2020)
Já não tenho mais lágrimas para chorar após assistir esse épico emotivo e intimista de uma família de imigrantes sul coreanos nos Estados Unidos dos anos 80. Grande vencedor do prêmio de melhor filme em Sundance 2020, além de dezenas de outros prêmios, "Minari" é o nome de uma planta usada para temperos na Coréia do Sul. Brad Pitt deve estar felicissímo, pois a produção é sua.
O roteiro, escrito pelo cineasta Lee Isaac Chung, é um relato semi-biográfico de seus pais e sua avó, que lutam para se imprem em sua cultura em um País com ideais totalmente diferentes dos seus, além da barreira linguistica.
David (Alan S. Kim, a criança de 7 anos mais fofa e talentosa que você verá em muito tempo) e sua irmã de 9 anos, Anne (Noel Cho), nasceram na Califórnia, quando seus pais, David (Stephen Yeun, de "Burning") e Monica (Yeri Han) migraram para lá nos anos 70. DAvid resolve investir todo o seu dinheiro acumulado na compra de uma fazenda no Arkansas. Monica se ressente de não poder participar da decisão de migrar para o campo rural. Ao chegarem no local, se deparam com uma casa sobre rodas e um terreno mal tratado. A cidade fica há uma hora do local, o que assusta Monica, já que David tem problemas de coração. O casal consegue emprego em uma fábrica de aves local, separando pintinhos machos de fêmeas. Para cuidar das crianças, Monica traz sua mãe da Coréia, a viúva Soonja (Youn Yuh-jung, absolutamente extraordinária), uma ex-jogadora. Soonja tem o seu modo irreverente de cuidar das crianças e de olhar a vida, o que deixa as crianças incomodadas.
Impossível não chorar nem se emocionar com esse belo melodrama, poético, repleto de cenas comoventes, algumas com doses de humor, quase tudo pelo olhar do menino, alter ego do cineasta. Os cinéfilos irão se lembrar de "Yi Yi", de Edward Yang, mas ali é um filme urbano, aqui é rural. A trilha sonora, a fotografia, é tudo lindo. Mas o elenco, em uníssono ( Will Patton também comove no papel do cristão fervoroso), é o grande prêmio que o público irá receber ao assistir essa maravilha.

Nomadland


"Nomadland", de Chloé Zhao (2020)
Grande vencedor do Leão de ouro de melhor filme no Festival de Veneza em 2020, além de ter faturado mais de 40 prêmios em Festivais internacionais, "Nomadland" é dirigido e escrito pela cineasta sino-americana Chloé Zhao, adaptado do livro escrito por Jessica Bruder.
O livro e o filme formam um relato contundente de uma América que não deu certo. Uma América que Trump quer esconder debaixo do tapete: milhares de americanos sem teto que perderam tudo e que moram na estrada, em vans, em cabanas, e vagam de estado em estado, em busca de empregos temporários que os sustente por um período, sem carteira assinada, sme vínculo empregatício, sem plano de saúde.
Frances McDormand é Fern, uma viúva que é obrigada a sair da cidade pequena onde mora, no Oeste, após o fechamento da única fábrica da cidade. Dirigindo solitária a sua van, ela encontra outros "nômades" pelas estradas, formando assim, uma família de desajustados.
A cineasta Chloé Zhao já havia feito muito sucesso com a crítica com o seu ótimo filme anterior, "Domando o destino". Em ambos os filmes, ela demonstra enorme habilidade em mesclar ficção e documentário, usando atores profissionais com não-atores.
As grandes cenas de "Nomadland" acontecem quando Fern contracena com nômades reais, que narram suas tristes histórias Frances McDormand apresenta toda a sua destreza se colocando no mesmo lugar dos não atores, respeitando as suas verdades. O filme é longo e um pouco cansativo, pela repetição das situações. Mas é um poderoso libelo sobre milhões de sem tetos desassistidos pelos governos, que necessitam de lar e empregos.

terça-feira, 29 de dezembro de 2020

O carrasco da mão negra


"Mio caro assassino", de Tonino Valerii (1972)
Um dos melhores giallos italianos, "O carrasco da mão negra" tem a trilha sonora composta por Ennio Morricone, que já havia realizado trilhas de Dario Argento, outro grande cineasta do gênero.
Com uma excelente trama que lembra bastante a estrutura de Agatha Christie, inclusive um final onde todos os supostos assassinos se encontram em um único lugar, o filme apresenta pelo menos uma grande cena antológica de assassinato: uma mulher é morta com com uma serra elétrica circular, uma cena chocante até mesmo para os dias de hoje e que certamente foi copiada por muito cineasta na sequência ( incluindo Brian de Palma em "Dublê de corpo").
Após um agente de seguros morrer decapitado ( através de uma escavadeira!!), o Inspetor Luca (George Hilton, um astro do cinema Uruguai na Itália) e seu assistente Maró acabam relacionando esse crime ao sequestro de uma menina há um ano atrás. Todos os envolvidos acabam sendo assassinados, e o Inspetor precisa elucidar logo quem é o serial killer antes que mais mortes aconteçam.
Mesmo com a canastrice de vários atores, o que é um fato corriqueiro nos giallos, o filme entretém pela ótima narrativa, pelo suspense constante e pela definição de quem é o assassino. Grande pedida.

domingo, 27 de dezembro de 2020

Amuleto


"Amulet", de Romola Garai (2020)
Filme de estréia da atriz e roteirista inglesa Romola Garai, "Amuleto" é um filme de terror que fez enorme sucesso no Festival de Sundance. O filme guarda muitas semelhanças com outro terror inglês, "O que ficou para trás", sobre refugiados africanos que moram em abrigos em Londres: ambos os filmes lidam com o tema da masculinidade tóxica, personagens que habitam uma casa mal assombrada e mulheres vítimas do machismo. O terror em ambos os filmes se torna uma metáfora da violência na sociedade.
Em 'Amuleto", Tomas (Alex Secareanu, do excelente "God's own country") é um ex-soldado romeno que se refugiou em Londres. Sem teto, ele é assaltado e acaba encontrando abrigo com a freira Claire (Imelda Staunton). Claire encontra um abrigo para Tomas na casa de Magda, uma jovem que mora com sua mãe, que está reclusa no sótão. Magda tenta um distanciamento de Tomas, mas aos poucos ela abre confiança nele. Mas a mãe de Magda não quer que ela se envolva com Tomas.
Drama de terror, 'Amuleto" tem uma curiosa trama que mistura fantasia e acerto de contas com o passado, na figura de uma estranha entidade mitológica. O filme se vangloria de ter ótimos atores nos papéis principais, incluindo a ganhadora da Palma de ouro Imelda Staunton. O romeno Alec Secareanu e a inglesa Carla Juri, no papel de Magda, dão conta do recado nessa trama que mais parece saída de um filme de Ari Aster, diretor de "Hereditário".

A voz suprema do Blues

"Ma Rainey's black bottom", de George C. Wolfe (2020)
A cantora Ma Rainey foi uma das pioneiras a gravar músicas em estúdio, nos anos 20. Nascida na Georgia, ela faleceu aos 53 anos de idade, em 1939. De temperamento difícil e pose de Diva, Ma Rainey era lésbica assumida. No filme, Viola Davis dá vida à Ma Rainey, em performance assustadora. Irreconhecível, com uma maquiagem que e figurino que desmistifica todo o glamour de Davis. Certamente será uma forte candidata ao Oscar em 2021
Mas o filme não é dela. ela cria o pano de fundo para o personagem Leeve (Chadwick Boseman, em seu último trabalho, e já debilitado fisicamente). É ele quem constrói o filme com a sua tragédia pessoal. Com um sonho de se tornar um grande músico do jazz, Leeve é contratado para tocar trompete durante a gravação de um disco de Ma Rainey, em 1927, Chicago. Leeve deseja vender as suas composições aos produtores brancos da gravadora. De cara, Leeve encontra resistência na própria Ma Rainey, uma artista de temperamento forte e que bate de frente com Leeve, que não aceita ser desdenhado e assediado moralmente por ela.
Adaptado de uma peça teatral da Broadway, o filme não esconde a sua base dos palcos. Bastante verborrágico, o diretor procura no 1o ato trazer um olhar mais cinematográfico ao filme, com cenas externas. Mas quando começa a gravação, o filme se torna claustrofóbico, e a maquiagem de suor em Viola Davis acentua mais essa sensação. A mensagem do filme deixa clara a falta de união da própria comunidade negra em se defender da sociedade branca dominante, e por isso, perdem espaço musicalmente, A cena final é muito aterradora nesse sentido, determinando o fim de uma era e de uma cultura, a tal a apropriação cultural. O monólogo de Chadwick narrando o estupro da mãe de seu personagem ja garante o seu lugar entre os indicados ao Oscar, é arrepiante. A ficha técnica é exuberante: fotografia, direção de arte, maquiagem. Só achei exagerado suor em Viola, mas tudo bem, valeu pela cena em que ela toma a Coca Cola

O crime de amor


"Le crime d'amour", de Guy Gilles (1982)
Que filme maravilhoso, eu amaria refilmar! Um obscuro suspense LGBTQIA+ francês de 1982, escrito e dirigido por Guy Gilles, é um filme que fala sobre obsessão, perversão, tensão sexual e sobre a busca da fama.
Herdeiro das narrativas dos cinemas de Robert Bresson e François Ozon, "O crime de amor" tem como protagonista Jean Doit (Jacques Penot), um belo rapaz que busca fama e reconhecimento. Essa chance surge quando ele encontra o cadáver de uma mulher, brutalmente assassinada em um terreno baldio. Jean decide entrar em contato com o jornalista Michel (Richard Berry) e relatar o incidente. Quando Michel conhece Jean, se apaixona imediatamente pela beleza do rapaz. Jean se aproveita do fascínio que provoca em Michel e começa a provocá-lo para que ele escreva sobre ele nas matérias dos jornais. Michel descobre que a morta é Jeanne, uma cantora que já foi famosa mas que estava em decadência, e que tinha uma irmã gêmea, Odette.
Repleto de homoerotismo, com cenas bastante sensuais e de provocação sexual, a trama é digna dos melhores suspenses detetivescos. Dirigido com estilo por Guy Gilles, que usa bastante da linguagem de Agnes Varda na montagem e de Bresson na direção de atores, "Um crime de amor" é um filme esquecido e obscuro, mas por isso mesmo, fascinante. O jovem ator Jacques Penot é a sedução em pessoa.

Napo


"Napo", de Gustavo Ribeiro (2020)
NapoSuper premiado curta de animação brasileiro, realizado por uma produtora de Curitiba, Miralumo, associada à Escola de Artes Digitais Revolution. Gustavo Ribeiro co-escreveu junto de Gabriela Antonia Rosa e dirigiu essa emocionante e delicada história que evoca clássicos da animação, como "A vida é uma festa" e "Up, altas aventuras". O que une os filmes é o tema da velhice e do Alzheimer, e a união de crianças e idosos na busca de memórias do passado.
John e um menino que mora com sua mãe. Um dia, ela traz para morar com eles o avô Napoleão. De início, o menino estranha a presença do idoso, que é bastante introvertido e quase não fala. Mas quando John acha um antigo álbum de fotos, tudo muda. O avô vê as fotos e se anima. John passa então a desenhar tudo o que o avô fala, criando uma linda relação com ele.
O desfecho do filme é bastante melancólico, e é impossível não se lembrar de "A vida é uma festa". Mas a grande qualidade do roteiro, dos traços da animação e da trilha sonora fazem esse filme ser um grande marco para a animação brasileira, conquistando prêmios mundo afora.

Uma noite de tempestade


"A stormy night", de David Moragas (2020)
Longa de estréia do roteirista e cineasta espanhol catalão David Moragas, que concluiu seus estudos na escola de Cinema de Tisch, em Nova York. Motivado a querer realizar o seu primeiro filme, após ter participado de vários festivais com seus curtas, Moragas abraçou o movimento Mumblecore e bancou "Uma noite de tempestade", com uma equipe pequena e apenas 3 atores. O filme acontece todo dentro de um apartamento em Nova York, e a fotografia em preto e branco aproxima o filme do cinema de Jim Jarmusch dos seus primórdios. Mas as referências assumidas de Moragas são as comédias românticas "Um lugar chamado Notthing Hill" e "Annie Hall". O próprio Moragas escreveu, dirigiu, produziu e protagoniza o filme, no papel de Marco, um jovem cineasta de passagem em Nova York e que precisa pegar o vôo para Los Angeles. Mas uma tempestade atrapalha seus planos, e ele acaba ficando na casa de um amigo. O amigo no entanto não se encontra, e deixa Marco ficar em seu quarto, em um apartamento que ele divide com um casal gay. Assim, Marco conhece Alan, com quem passa toda a noite conversando sobre diversos assuntos. os mundos dois dois são bastante diferentes, mas a tensão sexual aflora.
O filme funciona como um exercício de cinema de um cineasta que está estreando. É bem feito, tem bela fotografia, uma atmosfera de sensualidade no ar. O excesso de diálogos e tudo acontecer em uma única locação cansa em determinado momento, até porquê os diálogos não são primorosos. Mas vale assistir como uma lição para qualquer um que deseje realizar o seu primeiro filme: apenas faça.

sábado, 26 de dezembro de 2020

Alguém avisa?


"Happiest season", de Clea DuVall (2020)
Escrito e dirigido pela cineasta Clea DuVall, "Alguém avisa?" é uma comédia romântica dramática LGBTQIA+, repleta de momentos de superação, mensagens edificantes de aceitação e muitas dúvidas de seus personagens sobre como devem lidar com as suas vidas.
Abby (Kirsten Stewart) e Harper (Mackenzie Davis) formam um casal lésbico apaixonado. Quando o Natal se aproxima, Abby resolve ir até a cidade de Harper e se anunciar como a namorada dela. Para sua surpresa, Harper não comentou com a família sobre ser gay, pois acredita que isso afetará a campanha política de seu pai, que está se candidatando como prefeito. Harper convence Abby de ir com ela e em algum momento propício, se anunciarem, porém tudo dá errado.
O mais interessante do filme é que as cenas de humor são realistas, sem o momento pastelão ou exageros. O roteiro é cheio de lugar comum e a gente sabe tudo o que vai acontecer, mas isso não impede do espectador gostar do filme. Muito por conta do talento do elenco. Além de Stewart e Davis, que estão ótimas, o filme tem os veteranos Mary Steenburgen e Victor Garber, como os pais de Harper, dando dignidade às cenas. Mas quem rouba as cenas são Mary Holland, como a irmã mais jovem Jane, e Dan Levy, como o amigo gay John, hilário.

Los sonambulos


"Los sonambulos", de Paula Hernandez (2019)
Indicado pela Argentina à uma vaga ao Oscar 2021, "Los sonambulos" logo de cara lembra bastante "O pântano", da também argentina Lucrécia Martel. Ambos os filmes falam sobre um reencontro familiar na casa da matriarca; sobre desejos sexuais reprimidos dos jovens; da falência no casamento; da degradação moral e social da classe média; da crise econômica.
Luisa (Erica Rivas), sua filha Ana (Ornella D'Elía) e o marido de Luisa, Emilio, seguem para a casa de campo da mãe dele. Lá, encontram o irmão de Emilio, Sergio (Daniel Hendler), a esposa dele e os 3 filhos, sendo o maior, Alejo, um rebelde protegido pela avó. Alejo tenta seduzir a tia Luisa e também Ana, que tem 14 anos.
O filme vai se tornando mais tenso à medida que avança, e o desfecho se transforma em um caos total. Com ótima direção de Paula Hernandez que também assina o roteiro, é um filme com um olhar totalmente feminino: os homens são brutos, machistas, arrogantes, dominadores. Cabe às mulheres se ajudarem, principalmente Luisa e Ana. O mais curioso é mostrar a avó. Meme, como uma mulher conservadora e protetora dos machos alfa. Um bom filme, que se escora principalmente no bom trabalho do elenco.

Inverno eterno


"Orok tel", de Attila Szász (2018)
Devastador drama ambientado no final da 2a guerra mundial, "Inverno eterno" recebeu mais de 30 prêmios internacionais. O filme é baseado em uma história real: na Hungria, uma comunidade descendente de alemães, os suábios, foram levados à força por ordem de Stalin para os campos de comcentração na SIbéria. Essa foi uma vingança dos russos contra o que eles consideravam sangue alemão, mesmo os suábios não tendo nada a ver com os nazistas.
Irén (em atuação avassaladora de Marina Gera) é uma dessas mulheres. Ela é obrigada a deixar os pais e sua filha para trás e trabalhar em perigosas minas de carvão. Todos os presos passam fome, rio, se fugirem são mortos pelos soldados russos ou pelos lobos famintos, O tifo mata boa parte dos prisioneios, que não têm assistência. No meio de toda essa tragédia, Irén conhece outro preso, Rajmund. Ele ensina a ela para parar de sonhar ( o sonho é um passo para a loucura). Entre os dois, cresce uma afeição. A 2a guerra acaba, mas Stalin obriga os presos a continuarem ali trabalhando.
Que filme triste, e que desfecho arrebatador. O filme é daqueles que fazem o espectador repensar a crueldade do ser humano. Todo o tipo de maldade é praticado contra os prisioneiros, mas não chega a ser um drama sádico. É um filme que fala sobre resistência, força, luta, mesmo diante de tantas adversidades, e jamais perder a esperança.

O cão de caça


"The bloodhound", de Patrick Picard (2020)
Longa de estréia do roteirista e diretor Patrick Picard, "O cão de caça" é uma livre adaptação do clássico conto de Edgar Allan Poe, "A queda da casa de Usher". É uma produção de baixíssimo orçamento, todo rodado em uma casa e com 3 atores.
"O cão de caça" é um suspense psicológico. Francis é amigo de infância de JP, mas não se vêem há anos e acabaram perdendo contato. Um dia, Francis recebe uma mensagem de JP, pedindo para vir visitá-lo em sua mansão. Francis é pobre e não tem nenhuma renda. Ele acaba aceitando o convite do amigo rico. Vivian, a irmã gêmea de JP, alerta Francis de que ele pode sair morto da casa senão for embora. Francis não lhe dá ouvidos. Coisas estranhas começam a acontecer na casa.
Pretensioso até o último frame, o filme procura aliar a modernidade de uma mansão luxuosa de novos ricos, com o pedantismo dandi personificado por JP, em clara alusão à figura de Oscar Wilde. O filme tem um homoerotismo latente, mas que nao caminha para lugar algum. Realidade? Fantasia? Pesadelo? o filme nunca se explica. No final, fica uma mensagem de que ser rico é uma merda.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

Os sonhos de um sonhador- a história de Frank Aguiar


"Os sonhos de um sonhador- a história de Frank Aguiar", de Caco Milano (2010)
Há uns 7 anos eu queria assistir a esse filme. Desde que saiu uma crítica na Revista Veja, comparando o filme à "Cinderela Baiana", o meu cult brasileiro. A revista chamava os dois filmes de maiores bagaceiras do cinema brasileiro,e claro, eu não podia deixar de assistir. Mas foi difícil: o filme não entrou em cartaz, e ficou anos até ser liberado em um canal de streaming. De lá para c;a ( o filme foi rodado em 2010), Frank Aguiar foi acusado de bater em Renata Banhara, se candidatou a deputado federal em São Paulo, foi eleito vice -prefeito, trocou seu nome depois de tomar chá de Ayuaska. Com tantas reviravoltas na carreira, fica parecendo coisa de mil anos atrás assistir a um filme que tenta fazer um paralelo com a trajetória de Zezé de Camargo e Luciano, e o filme "Os dois filhos de Francisco". Os anos 2000 foram pródigos para o cinema brasileiro com uma enxurrada de cinebiografias musicais. E conforme diz o personagem de Chico Anysio no final do filme para Frank Aguiar, 'Sua vida daria um filme".
Francineto nasceu em 1970 em Itainópolis, Piauí, filho de família pobre, 5 irmãos. Seus pais, interpretados por Nelson Xavier e Rosi Campos, querem que ele seja advogado. Com muito sacrifício, Frank (Gustavo Leão) se forma em direito, mas o que ele quer mesmo é ser músico. Ele segue então para São Paulo, onde conhece o produtor Alemão (Chico Anysio) que o lança.
O filme não é tão ruim como eu queria que fosse, até porquê, com Rosi Campos, Nelson Xavier e Chico Anysio, por pior que seja, dá para assistir. O elenco de apoio é triste, o roteiro é bem tati bi tati, tudo é bem simples. Mas se você curte história de superação que leve a algum lugar, ou goste de forró, pode ser que curta o filme.

A sêca


"The dry", de Robert Connolly (2020)
Suspense adaptado do livro best seller escrito por Jane Harper em 2016, 'A sêca" é um filmaço com um desfecho que destroça corações. não li o livro, mas fiquei arrasado no final.
Aaron Falk (Eric Bana, ator australiano) é um investigador da polícia. Quando ele fica sabendo que sue melhor amigo de adolescência foi assassinado junto da família, ele é obrigado a retornar à cidade de onde ele saiu expulso, Kiewarra, junto de seu pai, acusado de um crime que Aaron alega não ter cometido. Os dois crimes, separados por 20 anos, parecem estar conectados. Aaron conta com a ajuda do delegado local, Rico, para tentar desvendar os crimes.
Com uma ótima trama, dividida em duas épocas paralelas, passado e presente, "A sêca" mantém o suspense o tempo todo. A direção trabalha bem o ritmo, os atores estão ótimos e fica difícil desvendar a trama, s;o no desfecho mesmo. A fotografia intensifica bastante a sensação de s%eca na região. Eric Bana é um ótimo ator que precisava retornar com bons papéis. Para quem curte filmes tipo whodonut, é uma otima pedida.

O céu da meia noite


"The midnight sky", de George Clooney (2020)
Tá todo mundo falando mal desse filme dirigido por George Clooney e adaptado do livro de Lily Brooks-Dalton , "Bom dia, meia noite". Sim, o filme tem um ritmo muito lento, pretensioso, etc e tal. Mas resolvi ir até o fim para ver aonde iria chegar. Enxerguei referências à "Gravidade"e "Interstellar". Do primeiro, vem a cena da tempestade de meteoros e o tema do isolamento. Do 2o, vem a questão do distanciamento, da relação entre pessoas próximas separadas pelo tempo.
Augustine (George Clooney) é um cientista workhaholick que por conta do trabalho, perdeu a mulher que amava, que foi embora grávida. Toda a população está abandonando o planeta, após uma catástrofe nuclear. Augustine está com câncer terminal e decide ficar na Terra, sendo o único ser humano. Mas logo ele descobre que uma menina está ali, escondida, e decide cuidar dela enquanto tenta contactar alguma espaçonave para vir resgatar a menina. Mas para piorar a situação, uma nave espacial em missão para Jupiter retorna à Terra, sem saber da tragédia, e Augustine tenta avisá-los para não entrarem na atmosfera.
Além de Clooney, o elenco tem Felicity Jones, David Oyelowo, Damien Bichir, entre outros. É difícil indicar o filme, pois a pessoa precisa estar muito a fim de assistir à uma ficção científica existencial. Ninguém espere um filme de ação, apesar de ter um ou outro momento. É um filme que discorre sobre a finitude da vida e do planeta. É melancólico, e para esses tempos de Covid, é um baixo astral ferrado.

Soul


"Soul", de Pete Docter (2020)
Primeiro protagonista negro de uma animação da Pixar, Joe (Jammie Foxx) é um professor de música para crianças rebeldes. Joe deixou de lado o sonho de se tornar um músico de jazz profissional e isso o deixa frustrado. Quando um ex-aluno o convida para fazer parte da apresentação da cantora de jazz Dorothy (Angela Basset), Joe se anima, mas no caminho para casa, cai num bueiro e morre. Considerando que sua morte foi um erro, Joe quer voltar para a Terra e poder fazer a apresentação, mas a sua única chance é convencer uma alma em formação, 22 (Tina Fey) a ir para a Terra com ele. Mas 22 se recusa, pois não se sente pronta para viver em um mundo onde ela não encontra uma missão.
A sinopse parece complexa, mas quando a gente descobre que o roteirista e diretor é o mesmo de "Divertidamente", tudo faz sentido. Uma das mentes mais criativas do cinema, Pete Docter elabora uma trama repleta de camadas emocionais, assim como já tinha feito em 'Divertidamente" e 'Up, altas aventuras". E sim, espere para chorar por meia hora, pois é isso o que irá acontecer.
No elenco, ainda tem a participação de Alice Braga, no papel de Jerry, um dos organizadores do além mundo. A trilha sonora , toda de jazz, é uma delícia. Curioso é que o roteiro lembra muito a mensagem de "La La Land": a música liberta, revigora. "Soul" é um filme mais adulto da Pixar, e vai falar mais ao público maduro do que à garotada. Uma obra-prima.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Pelos caminhos do inferno


"Wake in fright", de Ted Kotcheff (1971)
Considerado pela crítica um dos grandes clássicos do cinema, listado entre os 1001 filmes que devem ser vistos antes de morrer, "Pelos caminhos do inferno" é uma brutal perda de inocência do seu protagonista, John (Gary Bond), um pacato professor de escola primária de crianças da cidade de Tiboonda, localizada no deserto australiano. Quando chegam as férias de natal, John resolve ir até Sidney visitar sua namorada. John pega um trem e precisa passar um pernoite na cidade de Bundanyabba, também no deserto. A cidade é composta por homens beberrões e violentos. John é convidado a participar de uma aposta e acaba perdendo todo o seu dinheiro. Impossibilitado de viajar, e sem dinheiro, John aceita passar uns dias na fazenda de Doc (Donald Pleasence), um médico misógeno que estupra mulheres mas é um homossexual enrustido que está a fim de John.
O filme foi banido na Austrália e somente foi redescoberto em 2004. Concorrendo no Festival de Cannes em 1071, o filme chocou todo mundo com as cenas violentas de massacre de cangurus. Os animais são devorados por um cachorro, esfaqueados, mortos com tiros. As cenas são reais, e segundo os produtores, foram cenas filmadas durante a temporada de caça e editadas ao filme. Sujo, sórdido, repleto de uma atmosfera sufocante e dirigido de forma realista, é um filme que certamente inspirou outros grandes clássicos, como "Amargo pesadelo", de John Boorman. É um filme que expõe o pior do seu humano, a face mais degradante do instinto animal que aflora em todos, mesmo o mais pacífico dos homens. excelente fotografia e as atuações são maravilhosas. Destaque para a cena de bebedeira entre John e Doc que precede o estupro entre os homens.

Julio sumiu


"Julio sumiu", de Roberto Berliner (2014)
Longa de ficção de estréia do produtor e documentarista Roberto Berliner, "Julio sumiu" é uma adaptação de um livro escrito pelo Casseta Beto Silva, o que justifica o olhar repleto de clichês sobre tantos tipos cariocas, banhados em pura malandragem: a secretária gostosa, o traficante do morro, o delegado corrupto, o pai militar, o filho maconheiro, e claro, a cidade do rio de Janeiro dividida entre asfalto e morro.
O elenco estelar é eclético: Lilia Cabral, Fiuk, Augusto Madeira, Carolina Dieckmann, Babu Santana, Leandro Firmino, Stepan Nercessian, Renata Castro Barbosa, Dudu Sandroni, Pedro Nercessian. O filme foi lançado em 2014, mas se tivesse sido realizado hoje, certamente o olhar desses personagens, sob o ângulo do politicamente correto teria sido diferente. Afinal, ver Leandro Firmino fazer uma paródia de Zé Pequeno novamente seria impensável hoje em dia.
Edna (Cabral) e Eustáquio (Sandroni) formam um casal classe média, moradores da Rua Santo Amaro, na Glória, ao lado de uma comunidade. Ao acordar, Edna dá por falta de seu filho Julio (Pedro Nercessian), que ela acredita ter desaparecido. Ela pede para que Silvio (Fiuk), seu outro filho, a ajude a procurar por Julio. Mas Silvio está mais a fim de fumar maconha com seus amigos. Acreditando que seu filho tenha sido sequestrado pelo traficante Tião Demônio (Firmino), Edna sobe o morro. O que ela não esperava é que começasse um tiroteio, e que Tião deixe com ela 20 pacotes de cocaína, que ela leva para casa. Só que Silvio vê a cocaína e vende para pagar suas dívidas.
O filme tem um humor cheio de sacanagem e palavrões, bem ao gosto da linguajar carioca. Politicamente correto passou longe. Para quem curte um filme com bons atores, "Julio sumiu" pode ser uma boa pedida. Tem seus momentos, e alguns valem a pena. A curiosidade é ver na fotografia os fotógrafos de Kleber Mendonça, Fabrício Tadeu e Pedro Sotero.

Siberia


"Siberia", de Abel Ferrara (2020)
Filme que entrou em competição no Festival de Berlin em 2020, "Siberia" é o sexto filme feito em colaboração entre Ferrara e Willen Dafoe. O filme é uma viagem interior existencial de Clint, um homem que comanda um bar na SIbéria. Americano, ele se refugiou ali por conta de passado traumático, e decide investigar sua alma.
Confesso que não sou fã de nenhum dos 6 filmes realizados pela dupla. Acho todos presunçosos, apesar do bom trabalho de Dafoe, que vai à fundo em todos os personagens. "Pasolini" e "Tommaso" talvez sejam os melhores, mas me incomodou a misoginia em "Tommaso". 'Siberia" seria algo como "Na natureza selvagem", de Sean Penn, em versão experimental. Muitas cores fortes na fotografia, aura de pesadelo e trilha sonora com músicas Heavy Metal. As imagens da paisagem gelada são belíssimas. Mas não curti.

Felicidade adjacente


"Happiness adjacent", de Rob Williams (2020)
Totalmente rodado no Iphone 6S, "Felicidade adjacente" é um drama romântico LGBTQIA+ de baixíssimo orçamento, ao custo de 5 mil dólares, incluindo o valor das passagens de cruzeiro do elenco e da equipe. Curioso que no mesmo ano de 2020, Steven Soderbergh rodou um longa todo em um cruzeiro, "Let them talk". no mesmo esquema de filmar de forma escondida, com um elenco que inclui Meryl Streep e sem avisar os passageiros.
O filme apresenta Hank, um homem judeu, que embarca em um cruzeiro de Los Angeles até o México sozinho. Seu namorado, Brian, desistiu da viagem de última hora para cuidar do pai doente. Hank está irritado, pois planejou a viagem por 6 meses. Na viagem, ele conhece Kurt, um bissexual casado 7 anos com Kate, sua esposa que está odiando a viagem de cruzeiro. Hank e Kurt acabam se conhecendo melhor e transam. Kurt fica indeciso entre seguir sua vida com Hank, ou com sua esposa.
Apesar de todas as dificuldades de se realizar esse filme e apoiando a iniciativa de filmar com pouca grana, o filme é fraco, com um roteiro muito do razoável e com atores fraquíssimos. O lance de ter sido rodado em Iphone 6S nem acaba sendo uma questão. O problema é a baixa qualidade da narrativa. Um filme gay muito abaixo da qualidade, infelizmente. As cenas de sexo pelo menos são tórridas, para quem curte erotismo.

Seu nome gravado em mim


"Your name engraved herein", de Kuang-Hui Liu (2020)
Baseado em história real, "Seu nome gravado em mim" foi o maior sucesso de bilheteria em 2020 em Hong Kong e em Taiwan. O filme é um drama LGBTQIA+ e começa no ano de 1987, quando a lei marcial em Taiwan foi extinta. O governo e a população começou a experimentar a democracia, mas o processo ainda é bastante vagaroso. A-Han é um adolescente que estuda em uma rígida escola para rapazes, e que ainda vive sob o antigo regime conservador. Quando ele conhece Boirdy ) nome dado ao personagem de Matthew Modine em "Birdy", de Alan Parker, que prezava a liberdade), ambos imediatamente sentem uma forte atração. Mas a homossexualidade em Taiwan era proibida na época, e ambos evitavam expressar seu amor em público. O sofrimento é enorme, e para evitar que A-Han sofra castigo de sue pai e da escola, Birdy finge estar apaixonado por uma garota da escola, o que deixa A-Han desesperado.
Taiwan foi o primeiro país da Ásia a aceitar o casamento com pessoas do mesmo sexo. O filme procura apresentar o mesmo país há décadas atrás, quando o amor entre iguais era punido. As atuações dos jovens atores é um forte apelo para o filme. Ambos estão ótimos. A direção também traz sensualidade em doses leves, mas tudo filmado com bastante elegância e sutileza. O que prejudica o filme é a sua longa duração. A música tema se tornou um enorme hit em Taiwan. A cena final é linda, trazendo uma bela mensagem de compreensão.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Toda a minha vida

"All my life", de Marc Meyers (2020)
O jovem casal Jennifer e Solomon Chau se casaram no dia 11 de abril de 2015. 128 dias depois, Salomon faleceu de câncer no fígado. Essa é a história desse amor incondicional, baseado em história real.
O cinema possui esse sub-gênero dos filmes envolvendo jovens que morrem de alguma doença terminal. Eu mesmo sou apaixonado por esses filmes, é uma espécie de punição que o cinema tem para com jovens bonitos, repletos de aparente felicidade. Esse sadismo já rendeu grandes filmes lacrimogêneos. Aqui, Jennifer é interpretada por (Jennifer Carter, de "A morte lhe dá parabéns"). Salomon é Harry Chun Jr, de "Glee". Quando se conhecem, os jovens se apaixonam de imediato. Os amigos de ambos ficam encantados, cantam, fazem de tudo para que o casal seja feliz. Até que Salomon, aspirante a Chef de cozinha, descobre estar com câncer terminal. Eles tinham um casamento marcado. O dinheiro é aplicado no tratamento. Os amigos fazem vaquinha para arrecadar dinheiro para que eles possam se casar.
O curioso é que nesse filme, diferente do recente "Clouds" , a gente não chora. Mesmo com bons atores, o filme não emociona. Faltou investir em cenas mais trágicas. O tempo todo a gente vê Harry Chun lindo. Talvez tenha sido um pedido da família e de Jennifer de não vê-lo abatido com a doença. É um filme ok, mas faltou-lhe lágrimas. A melhor cena é quando Salomon canta com seus amigos para Jennifer, lembrando os bons momentos de "Glee".

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

A guarda costeira


"Hae Anseon", de Kim Ki-Duk (2002)
Falecido recentemente, vítima de Covid aos 59 anos, o cineasta e roteirista sul coreano Kim Ki-Duk colecionou diversos prêmios em Festivais mas também muitas polêmicas com seus filmes controversos. Um crítico ferrenho ao militarismo de seu país, Duk fala de violência em todos os seus filmes. "A guarda costeira" é de seus filmes menos conhecidos, e também, dos mais cruéis e violentos. De 2002, o filme antecede o filme que lançou Duk mundialmente, "Primavera, verão, outono, inverno..e primavera".
Ambientado no litoral que separa as duas Coréias, a região é tomada pelos militares que têm ordens para atacar qualquer atitude suspeita que possa parecer espionagem. Pescadores habitam na região e procuram conviver de forma pacífica com os militares, mas existe uma tensão. Myi Yong, namorada de um pescador, é levada por ele para transarem na área militar, à noite. Confundido com espiões, o soldado Kang fuzila o rapaz e o explode com uma granada. Myi Yong surta e enlouquece. Kang, ao descobrir o erro, também enlouquece. A jovem seduz e transa com todos os soldados. Kang decide matar um a um os seus colegas, que tentaram abortar à força a jovem, assim que descobrem que ela engravidou.
"A guarda costeira" não é um filme fácil de assistir. Misógeno, violento, repulsivo, é um típico Kim Ki Duk que quer chocar o espectador. em uma cena, a jovem segura a mão decapitada de seu namorado após a explosão. Em outra cena, ela é forçada a abortar com um soldado usando uma faca. Bastante cruel, o filme tem uma fotografia escura, e em vários momentos, lembra "Apocalipse Now", através da loucura dos personagens. O filme ainda reserva momentos de homoerotismo, com os soldados constantemente sendo vistos com os torsos musculosos e nús, em atividades esportivas. O Desfecho é bastante simbólico e uma mensagem sobre as regras rígidas do militarismo.

Os Croods- uma nova era


"The Croods- a new age", de Joel Crawford (2020)
Sete anos depois do primeiro filme da franquia, o desenhista Joel Crawford assume a sua estréia na direção com essa divertida aventura protagonizada por uma família pré-histórica. Diferente do "Flintstones", que viviam em um mundo civilizado, aqui os nossos heróis vivem entre constante ameaça no mundo. Para sobreviver, a família precisa ir em busca d eum lugar chamado 'O Amanhã". E quando aparentemente chegam no lugar paradisíaco, descobrem que uma outra família que habita lá, os Bemmelhor, escondem um segredo que pode acabar com tudo.
Não tem a mínima possibilidade de um filme com as vozes de Nicholas Cage, Ryan Reynolds, Emma Stone, Catherine Keener, Cloris Leachman, Clark Duke e Peter Dinklage seja ruim. Os primeiros fazem parte da família Croods, e Ryan Reynolds é o órfão Guy, que se une ao grupo e é apaixonado por Epp (Stone). Peter Dinklage interpreta o patriarca da família Bemmelhor. O filme é repleto de ritmo, e as cenas de ação são bem realizadas. Além da ação, o filme tem bastante humor. Uma ótima diversão que relembra os bons tempos da franquia "A era do gelo". A trilha sonora é uma delícia, incluindo "True", do Spandau Ballet.