"Ma Rainey's black bottom", de George C. Wolfe (2020)
A cantora Ma Rainey foi uma das pioneiras a gravar músicas em estúdio, nos anos 20. Nascida na Georgia, ela faleceu aos 53 anos de idade, em 1939. De temperamento difícil e pose de Diva, Ma Rainey era lésbica assumida. No filme, Viola Davis dá vida à Ma Rainey, em performance assustadora. Irreconhecível, com uma maquiagem que e figurino que desmistifica todo o glamour de Davis. Certamente será uma forte candidata ao Oscar em 2021
Mas o filme não é dela. ela cria o pano de fundo para o personagem Leeve (Chadwick Boseman, em seu último trabalho, e já debilitado fisicamente). É ele quem constrói o filme com a sua tragédia pessoal. Com um sonho de se tornar um grande músico do jazz, Leeve é contratado para tocar trompete durante a gravação de um disco de Ma Rainey, em 1927, Chicago. Leeve deseja vender as suas composições aos produtores brancos da gravadora. De cara, Leeve encontra resistência na própria Ma Rainey, uma artista de temperamento forte e que bate de frente com Leeve, que não aceita ser desdenhado e assediado moralmente por ela.
Adaptado de uma peça teatral da Broadway, o filme não esconde a sua base dos palcos. Bastante verborrágico, o diretor procura no 1o ato trazer um olhar mais cinematográfico ao filme, com cenas externas. Mas quando começa a gravação, o filme se torna claustrofóbico, e a maquiagem de suor em Viola Davis acentua mais essa sensação. A mensagem do filme deixa clara a falta de união da própria comunidade negra em se defender da sociedade branca dominante, e por isso, perdem espaço musicalmente, A cena final é muito aterradora nesse sentido, determinando o fim de uma era e de uma cultura, a tal a apropriação cultural. O monólogo de Chadwick narrando o estupro da mãe de seu personagem ja garante o seu lugar entre os indicados ao Oscar, é arrepiante. A ficha técnica é exuberante: fotografia, direção de arte, maquiagem. Só achei exagerado suor em Viola, mas tudo bem, valeu pela cena em que ela toma a Coca Cola
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