quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Vice

"Vice", de Adam McKay (2018) "Vice" superou o feito do Diretor Adam McKay em "A grande aposta", de 2016. Nesse, 2 obteve 2 indicações e ganhou o Oscar de melhor roteiro. Em "Vice", são 8 indicações, todas muito bem aplicadas. Dizer que Christian Bale está bem em um filme já virou clichê, mas de verdade, aqui ele está insuperável. A biografia do vice-presidente de George Bush (Sam Rockwell), Dick Chaney, é um roteiro que para qualquer Ator, é um presente incalculável. Amy Adams interpreta a mulher de Chaney, Lynne Cheney, que literalmente, evoca o ditado "Atrás de um grande homem, se encontra uma grande mulher". Para o bem ou para o mal. O filme cobre a vida de Chaney dos anos 60 aos dias de hoje. Nos anos 60, ele era um jovem rebelde, alcóolatra e drogado, colocado nos eixos pela então namorada Lynne, que via nele um grande potencial para um homem que iria dar certo na vida. Logo ele se tornaria um político, tentando candidaturas para a Presidência, sem sucesso. Quando George Bush o convida para ser seu vice na chapa, em 2000, Chaney reluta, apoiado por sua Mulher, que diz que o papel do Vice é sentar e esperar o Presidente morrer. Mas Chaney faz um acordo com Bush para ter mais poderes, principalmente na área diplomática. Chaney autoriza o abate de aviões suspeitos durante o 11 de setembro, dá início à Guerra do Iraque e outros eventos que custaram a vida de milhares de americanos e iraquianos, além da morte de Saddam Hussein, que segundo o filme, foi bode expiatório para acordos comerciais. Claro que o filme é uma biografia não autorizada de Chaney. O filme detona geral, com tudo e com todos. É incrível essa liberdade de imprensa americana que permite que todo mundo seja parodiado ou esculhambado. O elenco é um primor: além dos citados, tem Naomi Watts, Alfred Molina, Steve Carrel, Eddie Marsan, entre outros. Uma Aula de técnica, "Vice" é uma denúncia divertida e assustadora sobre governantes que decidem sobre a vida de seres humanos.

Clímax

"Clímax", de Gaspar Noé (2018) Acabada a sessão apoteótica do filme, em pré-estréia e na presença do Diretor Gaspar Noé, fica a pergunta: A quem se destina esse filme? Como indicar esse filme a alguém? Acredito que o mais fácil é lembrar as pessoas dos filmes anteriores do Cineasta visceral e polêmico: "Irreversível', "Um contra todos", "Love". Se mesmo assim a pessoa quiser assistir, diga a verdade: não vá achando que vai assistir a um filme tradicional, e sim, uma experiência xamânica, um ritual de sons, cores, corpos ensandecidos, uma câmera viva que realiza planos-sequências impressionantes, apenas com a intenção de colocar o espectador como convidado dessa Festa muito louca. O filme começa pela última cena, daí v6em os créditos finais. Alguém mais desavisado ira dizer: Ué, o filme ja acabou? Gaspar Noé já usou esse truque antes em outros filmes. Logo, o filme dá início aos depoimentos dos quase 20 dançarinos que irão se isolar em uma casa para ensaiar uma coreografia. Cada um responde a perguntas inusitadas, e respostas mais exdrúxulas possíveis, tipo: Porquê você quer dançar, do que tem medo, faria tudo pela dança? Ai dá-se início ao primeiro plano-sequência bombástico do filme, ao som de "Supernature", de Cerrone, em versão instrumental. Os dançarinos realizam uma dança que mais parece uma possessão demoníaca coletiva, um prenúncio do que virá a seguir. É espetacular, é arrebatador o que esses dançarinos fazem. Logo depois, comemoram e bebem sangria. E em tempo real, o filme proporciona uma experiência lisérgica, como poucos filmes fizeram: as pessoas vão se alterando aos poucos, até saírem do controle de seus corpos e mentes. Tudo porquê alguém "Batizou" a bebida com LSD. O filme é baseado em uma história real acontecido na França em 1996, quando um grupo ensaiava em uma escola e saíram do controle pelo uso de drogas. Pode-se tecer muitas metáforas sobre o filme, acredito ser algo muito pessoal que tipo de experiência esse filme trará a cada um dos espectadores. A crítica como um todo amou. Mas o público parece não compactuar com essa opinião. Mas quem é fã de Gaspar Noé, não pode deixar de assistir. É filme para tela de cinema. É a síntese do ritual Cinéfilo. Parabéns ao câmera e ao fotógrafo do filme, Benoît Debie , um cara muito muito muito foda. A câmera é a grande Personagem. Parabéns a cada um dos Atores/Bailarinos do filme, que vigor, que entrega visceral! Merecido o Grande Prêmio da Quinzena dos realizadores do Festival de Cannes 2018.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Crise

"Kris", de Ingmar Bergman (1946) Primeiro filme dirigido por Bergman, em 1946, baseado em famosa peça teatral, "Coração de mãe". O próprio Bergman dizia que esse era seu pior, que tudo ali era ruim. Um exagero. É um filme decente. Só que na verdade, por ser um melodrama, caberia mais na mão de diretores do gênero, como Douglas Sirk, com Lana Turner interpretando uma das protagonistas. Mesmo assim, o filme possui elementos que mais tarde, seriam melhor elaborados pelo Diretor: crise de consciência, suicídio, Morte rondando os personagens, reminiscências da infância, pesadelos, forte presença da Igreja católica. Nelly é uma jovem de 18 anos que mora com sua mãe adotiva, Ingebord, em uma cidade pequena no interior da Suécia. ela leva uma vida tranquila e pacata, até que surge Jenny, sua mãe verdadeira, que mora em Estocolmo. Ingebord fica arrasada, pois criou Nelly, abandonada por Jenny. Nelly, seduzida pela vida da cidade grande, resolve ir com sua mãe verdadeira. Porém, mãe e filha se apaixonam pelo menos homem, Jack, um ator desempregado e malandro. Um filme simples, mas para um primeiro trabalho, para quem nunca havia dirigido nenhum filme, está correto e decente. Imagino que na época essa história tenha sido um escândalo. Vale como curiosidade.

Dia especial

"Special day", de Teal Greyhavens (2018) Com roteiro espertíssimo escrito por Nikolai Von Keller, esse curta de terror de menos de 6 minutos vai num crescendo de suspense até um final que vai fazer todo mundo pular na cadeira. Emily acaba de completar 18 anos. Sua família está toda reunida na sala. Seus pais finalmente revelam para ela, o segredo que se esconde sobre toda a família quando alguém completa 18 anos. O que é exatamente, você somente saberá no último minuto. Todo rodado na sala de uma casa, esse filme de baixíssimo orçamento se baseia totalmente no roteiro e na direção, provocando uma atmosfera de suspense que prende o espectador, afoito em querer saber a resolução da história. Bons atores e de novo, ótimo jump scare final. https://vimeo.com/296502639

Right place, wrong Tim

"Right place, Wrong Tim", de Eros Vlahos (2018) Curta inglês escrito e dirigido pelo Ator Eros Vlahos, é uma comédia de humor negro surreal protagonizada pelo ator Asa Butterfield ( Hugo Cabret). Ambientada em um Set de uma Sitcom dos anos 90, daquelas bem vagabundas de apenas um cenário e com uma platéia ao vivo para ficar rindo, acompanhamos a família Bell: Pai, filha e filho. Depois de darem uma deixa bem brega para a entrada em cena de Tim (Asa), o pai e a filha percebem que Tim se transformou em vários clones, e pior, assassinos. Uma matança começa em cena e ao vivo, e a platéia se esborracha de rir, achando que tudo ali faz parte do show. Nem precisa pensar muito para entender que o filme é uma crítica feroz ao mundo do entretenimento e ao escapismo de produções ruins, que fazem a alegria dos espectadores. Alienados, são alvo fácil para a ganância dos produtores. O filme é para se divertir e melhor nem querer raciocinar muito. Asa está ótimo, com uma cara de Norman Bates totalmente alucinado. Efeitos trash condizentes com a proposta do filme. https://www.youtube.com/watch?v=f-jsfQZgSgo

terça-feira, 29 de janeiro de 2019

O pombo

"Guvercin", de Banu Sivaci (2018) Longa de estréia do Diretor turco Banu Sivaci, ganhou mais de 18 Prêmios Internacionais e ainda concorreu no prestigiado Festival de Berlim. O filme é bem minimalista, acontecem poucas coisas, muito provavelmente para apresentar a vida cinzenta de Yusuf (Kemal Burak Alper, ótimo), um jovem órfão de pai, que mora com sua mãe em uma casa pobre dentro de uma comunidade na periferia da grande cidade. Yusuf cria pombos no terraço para vender, e dedica todo seu tempo para cuidar das aves. Ele tem apreço a uma ave em especial, que ele apelida de Maverdi. Assim como ele, ela é diferente das outras aves. Maverdi é uma metáfora da vida de Yusuf. Um dia, seu irmão aparece e lhe arruma emprego em uma oficina de carros, contra a sua vontade. Yusuf quer voltar cedo todo dia do trabalho para cuidar das aves. Quando surge um pombo correio com uma mensagem presa em sua perna, Yusuf lê e a esconde. Esse fato irá transformar a vida do jovem , em um desfecho violento. O filme vale pelo trabalho do ator que interpreta Yusuf e pela câmera quase documental registrando a triste comunidade onde vive sua família. Fiquei pensando na grande dificuldade de filmar com os pombos, principalmente Maverdi, que interage com o ator. Não fiquei apaixonado, mas como gosto do cinema turco, acabou valendo.

No portal da Eternidade

"At Eternity's gate", de Julian Schnabel (2018) Biografia do pintor holandês, retratando seus últimos 80 dias de vida, quando morou nas cidades de Arles e Auvers-sur-Oise, ambas no Sul da França. Nesse período, Van Gogh, convalescendo fortemente de alucinações e de depressão, pintou 75 quadros, entre elas, "O quarto de Arles", um de seus quadros mais famosos. Foi nesse período que Van Gogh criou uma forte amizade com o pintor Gauguin ( Oscar Isaac) , cortou sua própria orelha à navalhadas, foi internado em uma clínica para loucos e finalmente, se suicidou no dia 27 de julho de 1890, com um tiro em seu estômago. Julian Schnabel é artista plástico, e por isso, privilegiou em seu filme o sensorial. O espectador se sente observando a paisagem que Van Gogh observa. A câmera na mão, intensa e esquizofrênica quase que o filme todo, faz com que nos sintamos na montanha russa emocional pelo qual passava Van Gogh. É um filme autoral, quase experimental em sua narrativa. A fotografia de Benoît Delhomme é um absurdo, reproduzindo as cores e luzes das obras de Van Gogh, e por isso mesmo, um crime não ter sido indicado a prêmios da categoria. "No portal da eternidade"se aproxima bastante do conceito da animação "Loving Vincente": é intimista, muito lento, um estudo dos personagens que circundaram Van Gogh e como foram projetados para as telas do artista. Ambos os filmes dão destaque ao visual, deixando menos espaço para os diálogos. Um filme para se deleitar, sem pressa. Um filme de Arte, literalmente. Willen Dafoe, que foi indicado ao Oscar de Melhor Ator e venceu no Festival de Veneza, é aquele monstro de interpretação que já esperávamos. Visceral.

Sam did it

"Sam did it", de Dominic Burgess (2018) Brilhante curta de humor negro, escrito, dirigido, produzido e protagonizado por Dominic Burgess, com a participação mais do que especial de Alfred Molina. Sam é um funcionário de um necrotério, e descobre que na maca, morto, está seu grande ídolo: Alfred Molina, ele mesmo, o Ator. Sam conversa com o morto, diz o quanto é fã. Depois faz fotos, descaracteriza o morto. Súbito, uma médica chega e dá uma notícia impressionante. Mas Sam...já fez! Com um roteiro corrosivo e inteligente, que faz uma super crítica ao culto das celebridades e a falta de respeito pelo próximo, estando ele vivo ou morto. Aliás, a história me remeteu imediatamente ao caso daquele cantor sertanejo brasileiro, que teve um video viralizado, gravado pelo funcionário do morgue. O trabalho de Dominic Burgess é excelente, em todos os níveis: Direção, atuação, roteiro. Alfred Molina como um morto também está ótimo, e imagino que Dominic Burgess seja sue amigo, pois para se sujeitar ao que ele tem que fazer....só sendo amigo. Imperdível! https://vimeo.com/230348611

Sal

"Salt", de Rob Savage (2017) Absolutamente chocado com a qualidade desse curta de terror de apenas 2 minutos de duração, que lembra bastante o conceito de 'Um lugar silencioso" e "Bird box", só que numa proposta diferente. em um mundo apocalíptico, monstros atacam os seres humanos. a única forma de se defender, é a pessoa se cercar de um círculo feito de sal, que impede a aproximação do bichano. Excelente direção, precisa e concisa em contar tudo em meros 2 minutos. Tecnicamente impecável, principalmente a edição. https://vimeo.com/297057335

segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Inspire, expire

"Andið eðlilega", de Isold Uggadottir (2018) Vencedor de vários Prêmios Internacionais, entre eles o de Melhor Direção em Sundance 2018, "Inspire, expire" é um comovente drama de mulheres, dirigido por uma mulher. Sororidade é o lema do filme, de temática LGBTQ+. Na islândia mora Lara (Kristín Þóra Haraldsdóttir), mãe solteira e lésbica, ex-drogada. Desempregada, ela vive em sérias dificuldades financeiras, e sem ter como pagar pelo apartamento, vai morar no carro, junto de seu filho pequeno, Eldar (Patrik Nökkvi Pétursson). Para surpresa de Lara, ela é aprovada para trabalhar no Aeroporto, como agente de fiscalização de passaportes. Querendo mostrar serviço, ela impede que uma mulher negra de Guiné-Bissao embarque, elo uso de passaporte falso. Adja (Babetida Sadjo) é presa e fica retida em um alojamento de refugiados. Lara se arrepende de ter denunciado Adja, ao descobrir que ela embarcaria com sua filha e irmã para o Canadá, fugindo de seu País de origem. Adja era casada com uma mulher, que foi assassinada. O caminho dessas duas mulheres se cruza de forma inesperada. Com um trabalho excepcional e sensível do elenco, o filme conquista o espectador principalmente pela performance das duas atrizes. O roteiro tenho questões, principalmente pelo excesso de coincidências que a trama forja para aproximar as duas mulheres. Outro ponto, amplamente criticado pelos jornalistas, é o fato do filme se apropriar do 'Magical negro", termo cunhado por Spike Lee para definir os personagens negros que surgem na trama para provocar a redenção de protagonista branco. Não há como negar que isso aconteça na trama. Mas o melhor é se apegar ao trabalho do elenco e se deixar levar pela sensibilidade da direção. A cena final é arrebatadora.

Criança perdida

"Lost child", de Ramaa Mosley (2017) A premiada Cineasta independente americana Ramaa Mosley co-escreveu esse roteiro que trapaceia o espectador no gênero: todo mundo acha que é filme de terror mas....será? Na verdade, o grande tema do filme é o abandono familiar. Pais que largam seus filhos à própria sorte, trazendo consequências trágicas. No Imd o filme é vendido como terror, mas é uma pena ser anunciado assim, porquê o filme na verdade é um drama psicológico, e dos bons, algo na linha tensa de "O quarto de Jack". Fern é uma mulher que retorna do front. em seu histórico, ela se alistou por conta do abandono de seu pai, que largou ela e seu irmão no meio da estrada. Fern retorna para sua casa, na pequena cidade interiorana de Ozarks, Missouri, para o enterro de sue pai. Mas na verdade, o que ela quer é reencontrar o seu irmão, que desapareceu. Durante suas buscas, Fern encontra um menino perdido na floresta, Cecil (Landon Edwards). Os moradores do local acreditam que ele é o Tatterdemalion, um demônio que seduz as pessoas para depois sugar sua energia. O trabalho dos atores é o forte desse filme. Landon Edwards , no papel de Cecil, é impressionante: carismático, bom ator, um pequeno James Dean, daqueles que a gente quer dar um abraço para dizer: "Não se preocupe, estamos aqui para te proteger". Levem Ranbim no papel de Fern, dá um show, muito por conta dela trazer uma força para a antipática e irritante personagem que ela interpreta. É muito fácil sentir raiva dela pelo menos até 2/3 do filme. O filme poderia ter sido mais enxuto, principalmente no epílogo, desnecessário, na floresta. O filme já havia acabado. A diretora e roteirista Ramaa Mosley deveria ter acabado seu filme 15 minutos antes. Mesmo assim, vale assistir.

As pontes de Sarajevo

"Ponts de Sarajevo", de Jean Luc Godard, Cristi Pugiu e outros 11 Cineastas (2014) Drama que concorreu no Festival de Cannes em 2014, esse projeto conta com 13 Cineastas europeus. Como todo filme em episódios, a qualidade varia bastante. No entanto, dos 13 filmes, eu de verdade só gostei de 2: A viagem de Zan, do espanhol Marc Recha, e SIlencio Mujo, da francesa Ursula Meier. Os 2 são encantadores e comoventes ao fazer um paralelo entre a juventude de hoje e seus ideais e seus antepassados que viveram os horrores da guerra. não que os outros filmes sejam ruins, mas não surpreendem. O de Godard, é mais do mesmo, fazendo aquela sua já conhecida colagem de imagens e áudios relatando os horrores da guerra e se utilizando de cartelas coloridas, algo que ele ja fez nos anos 60 com "Pierrot le fou". O italiano "O posto avançado" faz uma denuncia histórica e tem bons atores. De uma forma geral, os filmes lidam com temas como solidariedade, nostalgia, falta de envolvimento das novas gerações, luta a favor da cultura, perdas. A fotografia do episódio espanhol é de uma beleza inebriante, idem do português Riu Poças no episódio "Sara e sua mãe", pena que esse curta tenha ficado sem força narrativa. O Simbolismo da Ponte de Sarajevo e a cidade, onde ocorreu o assassinato do herdeiro do trono austríaco no dia 28 de junho de 1914, desencadeando a 1a Guerra Mundial. 1- Minha querida noite, Kamen Kalev - Reconstituição do assassinato do Arquiduque Franz Ferdinand, herdeiro do trono austro-húngaro e sua esposa, pelo camponês Gavrilo Princip 2- A vontade das nossas sombras- Vladimir Perisic - Discurso em Off de Gavrilo Princip justificando o seu ato criminoso, perante ao tribunal. em cima de imagens de jovens na época atual dentro de uma biblioteca. Seriam conspiradores? 3- O posto avançado- Leonardo di Constanzo. Denúncia contra o alistamento de camponeses italianos despreparados que foram obrigados a lutar no front, e milhares foram fuzilados por se negarem a ir para o front. 4- Principio, texto, Angela Schanelek - Uma aluna Sérbia e um aluno alemão, cada um em seu País, lendo o discurso de Gavrilo Princip em aula nos dias de hoje 5- Reveillon, Cristi Puiu - Durante o Natal, uma mulher diz ao marido que está lendo o livro "Análise espectral da Europa"m escrito por um autor alemão. O conteúdo dá pano pra manga para que o marido, ultra nacionalista, faça seus comentários xenófobos sobre países europeus 6- A ponte dos suspiros, Jean Luc Godard – Colagens audiovisuais de Godard, utilizando cenas de filmes, fotos e arquivo com o tema da violência e dos horrores da Guerra e do cotidiano 7- Reflexões, Sergei Lonitsa – Imagens sobrepostas de fotos de combatentes da Guerra da Bósnia com a cidade de hoje em dia 8- A viagem de Zan, Marc Recha – O melhor de todos, mostra um jovem Bosnio, Zan, cuja familia fugiu do País durante a Guerra e se refugiou na Espanha. Seu pai foi até a biblioteca Nacional que estava pegando fogo e pegou apenas um livro. Finda a guerra, os moradores de Sarajevo começaram a devolver os livros para a biblioteca da cidade. Zan quer encontrar o livro de seu pai e o devolver também 9- Album, Ainda Begic- Em off, sobreviventes narram como era viver na cidade em Guerra. Paralelo, vemos imagens de hoje em dia da cidade, uma esperança proveniente de dias melhores 10- Sara e sua mãe, Teresa Villaverde- Através do fechamento de um Museu e o discurso que um povo não pode viver sem cultura, o curta explora a relação entre uma mãe e sua filha pequena, que questiona os livros dentro de uma caixa, guardados pela sua mãe, que os preservou durante a Guerra da Bósnia 11- A ponte, Vincenzo Marra – Refugiados em Roma por 20 anos, desde que fugiram da Guerra da Bósnia, um casal entra em crise quando o pai do marido morre e a mulher que retornar para Sarajevo. O marido contesta, tem péssimas lembrança da Guerra 12- Menininho- Isild Le Besco – Um menino de 5 anos vaga pelas ruas de Sarajevo, narrando o desejo de ser um cidadão melhor para o futuro de seu País 13- Silencio Mujo- Ursula Meier – Um campo de futebol é construído ao lado do cemitério de Sarajevo. Quando o menino Mujo chuta a bola com força, ela vai parar no cemitério. Ele vai até lá recuperar a bola, mas encontra túmulos onde boa parte das pessoas morreram no início da década de 90, durante a Guerra.

O preço da solidão

"The Effect of Gamma Rays on Man-in-the-Moon Marigolds", de Paul Newman (1972) Curioso título para a mundialmente famosa peça de Teatro de Paul Zindel, ganhador do Prêmio Pulitzer em 1971, "O efeito dos raios gama sobre as margaridas do campo". O Ator Paul Newman, sempre associado aos seus olhos azuis e sua beleza física, aqui apresenta um extraordinário domínio sobre a técnica de Direção, se apropriando de uma peça de teatro e a transformando em Cinema. O filme ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes 1973 de Melhor Atriz para a performance matadora de Joanne Woodward. Joanne, esposa de Paul Newman na vida real, e Nill Potts, filha do casal na vida real, interpretando a filha caçula Mathilda de 13 anos, estão comoventes. O drama é bastante doloroso e o desfecho, um soco no estômago. Em Connecticut, moram a viúva Beatrice e suas duas filhas, Ruth e Mathilda, em uma casa decadente. O marido de Beatrice morreu na Guerra da Coréia, e ela está desempregada. Para ganhar uns trocados, ela aluga o quarto para uma idosa, cuja filha a largou ali. Beatrice se tornou alcóolatra e tem sonhos, mas todos desfeitos pela falta de ambição e pela forma destrutiva como lida com sua vida. Ruth, epilética, acredita esar se tornando igual à sua mãe. Mathilda, introvertida, participa de uma feira de ciências na escola com um trabalho sobre o efeito dos aios gama sobre as margaridas, uma metáfora sobre as possibilidades das mesmas pessoas, em condições iguais de convivência, terem resultados tão díspares de aproveitamento. O filme parece um trabalho de John Cassavettes, e a todo tempo me lembrava de Gena Rowlands no papel de Joanne Woodward. Um filme de mulheres, dirigido com bastante sensibilidade por Paul Newman.

domingo, 27 de janeiro de 2019

Creed II

"Creed II", de Steven Caple Jr.(2018) Devido ao grande sucesso do filme anterior dessa franquia, era inevitável que uma continuação estivesse a caminho. Porém, Ryan Coogler, que dirigiu o primeiro "Creed", estava ocupado na pré de "Pantera negra". Ele largou mão da Direção e o confiou a Steven Caple Jr., que fez igualmente um excelente trabalho. Sylvester Stallone co-escreveu o roteiro, que dá continuidade à saga de Rocky Balboa, pelo ponto de vista de Adonis Creed (Michael B. Jordan), filho do amigo de Rocky, Apolo Creed, morto em um combate há décadas atrás com o russo Ivan Drago (Dolph Lundgren). Pois "Creed II" repete exatamente essa história trágica da luta entre Apolo X Drako, só que agora, com os filhos de ambos lutando, Adonis e Viktor. Rocky e Ivan agora são os técnicos, e o sentimento de vingança de ambos os lados encontra níveis diferentes de adrenalina: enquanto Rocky pede para Adonis desistir da luta e não repetir os mesmos erros dele e de seu pai, Ivan quer se vingar de uma vida de humilhação, quando perdeu a luta para Rocky e toda a Russia se voltou contra ele. Particularmente, não gosto de filmes de luta. mas esse filme aqui tem um diferencial que é a sua eficiente trama dramática, norteada pelo tema da paternidade. Laços de amizade e confiança entre pais e filhos devem ser respeitados ou resgatados, e isso o roteiro lida muito bem, provocando uma sensibilidade que leva o público às lágrimas. Vai ser curioso ver uma platéía formada de marmanjos chorando no emocionante desfecho. Claro que o filme tem todo aquele arsenal de clichês de qualquer filme de luta: clipe de treinamento intensivo, música edificante, as porradas e sangue que levam à vitória. Vale pelo excelente elenco, capitaneado por Michael B. Jordan, um Stallone maduro e sensível e para um ótimo elenco de apoio .

sábado, 26 de janeiro de 2019

Hiroshima- Um Musical silencioso

"Hiroshima", de Pablo Stoll (2009) Logo de cara, o filme diz ao que veio: o primeiro plano do filme, com o protagonista saindo de seu trabalho na padaria e caminhando até sua casa, sem cortes, com a câmera o seguindo por trás e absolutamente nada mais acontecendo, dura 6 minutos. Eu adoro o cinema uruguaio desse Cineasta, pois ele costuma retratar a monotonia e tédio dos seus moradores. Seus 2 filmes anteriores, co-dirigidos pelo seu amigo precocemente falecido Juan Pablo Rebella, são verdadeiros cults: 'Whisky" e "25 watts". Juan Andrés Stoll, irmão de Pablo na vida real, interpreta o protagonista, assim como o pai e outro irmão deles interpretam a si mesmos no filme. Sua vida consiste em trabalhar de noite na padaria, cuidar dos afazeres domésticos de casa, que seus pais lhe cobram e ensaiar com a banda de rock no qual ele faz parte como vocalista. Às vezes, ele ganha um trocado extra posando de modeloo nú para artistas plásticos, em uma cena hilária. Nada de muito interessante acontece no filme, e é por isso mesmo que o filme tem um charme ao apresentar a vida desencantada de um jovem. O filme trata seus personagens de forma tão absurda, que eles não têm direito a falas. No lugar, aparecem cartelas, como nos filmes mudos. As músicas são ouvidas quando os personagens colocam headphones. Pablo Stoll tem aquele olhar patético e apaixonado pelos seus personagens, muito semelhante ao finlandês Aki Kaurismaki. É um tipo de humor que eu adoro, de situações, muitas gags visuais. É um filme de um Cineasta cinéfilo para cinéfilos, brincando com gêneros musical, faroeste, comédia, romance de forma deliciosa e apaixonante. A trilha sonora, um rock indie, é uma gostosura de se ouvir. Os atores, carismáticos. Super recomendo para quem busca um filme diferente e ao mesmo tempo, que subverte narrativa tradicional.

Máquinas mortais

"Mortal engine", de Christian Rivers (2018) Produzido e escrito por Peter Jackson, que confiou a Direção ao seu amigo Christian Rivers, vencedor do Oscar de efeitos especiais por "King Kong", foi o maior fracasso de bilheteria de 2018. Tendo custado 150 milhões de dólares, o filme arrecadou por volta de 80 milhões de dólares. "Máquinas mortais" é uma série composta de 4 livros, escrito por Philip Reeve. Ao final da sessão, fica muito difícil imaginar que histórias ainda viriam nos supostos 3 filmes, que pelo visto, nem deverão ser realizados. Li numa crítica que o filme é um arremedo de 'Star wars"e "Mad Max". Ainda acrescento "O Exterminador do futuro", uma referência muito evidente. Não achei o filme ruim como dizem, mas ele tampouco é inesquecível. Dá para assistir, vislumbrar os efeitos especiais, mas o maior problema do filme no meu ver, é a falta de carisma dos mocinhos e o roteiro bizarro, onde cidades são motorizadas e as cidades mais fortes literalmente engolem as mais fracas. Aliás, o visual dessas cidades motorizadas lembram muito o castelo da bruxa da animação de Myazaki, "O castelo animado". A história doida gira em torno de Hester Shaw, uma heroína que usa um lenço para cobrir seu rosto e sua enorme cicatriz. Ela quer se vingar da morte de sua mãe, provocado por Valentne (Hugo Weaving, quem mais???). Ele comanda a cidade motorizada de Londres, e quer dominar o mundo. Hester se junta a outros jovens revolucionários, entre eles, Tom e Anna, uma asiática bad ass. As referências a "Star wars" chegam a ser gritantes: A mesma batalha de naves espaciais ( o shape das naves é quase igual). o filho que se revolta contra o pai vilão, o Mestre asiático ( Yoda!!!), enfim....ah, e me irritou bastante a morte de um dos personagens, mas claro, esses filmes de heróis precisam ter uma morte redentora, mas pensei que em tempos de feminismo isso havia mudado. Se o filme tivesse meia hora a menos, poderia ter sido mais agradável. Vai para uma sessão da tarde completamente sem opção melhor.

As tranças de Maria

"As tranças de Maria", de Pedro Rovai (2003) Delicado e comovente drama baseado no poema homônimo de Cora Coralina, filmado no Município de Corumbá, Goiás. A história, ambientada em 1950, tem como protagonista Maria (Patricia França), uma jovem cabocla de longas tranças que vão até sua cintura. Ela mora com seu pai, o bronco e machista capataz Oração (José Dumont) e sua mãe Jacinta (Heloisa Millet), uma mulher submissa. Os pais querem casar Maria com o vaqueiro izié (Ilya são Paulo), tido como um bom rapaz e apaixonado pela moça. Mas Maria tem suas vontades e não aceita um casamento imposto. Questionando o papel da mulher em uma sociedade onde ela não tem voz nem vontades, Maria decide mudar o seu rumo. Ela descobre que no rio mora uma grande cobra e entende que seu destino não lhe oferece muitas opções. Lindamente fotografado por Claudio Portiolli, que enaltece as belas locações do agreste, e com uma trilha sonora melancólica que valoriza as imagens, de Guilherme Vaz, o filme traz temas muito atuais para serem discutidos: sociedade machista, busca da identidade, misticismo ( através da personagem de uma cartomante) e a obrigação das mulheres se casarem e constituírem família. O que mais surpreende, é a Direção de Pedro Rovai. Famoso por produzir clássicos da pornochanchada, como "Ainda agarro essa vizinha", "Beijo na boca""Bonitinha mas ordinária", Rovai mostra aqui muita sensibilidade e um olhar documental sobre uma cultura do interior que apresenta ao espectador costumes típicos que valorizam a Arte brasileira. A cena onde os homens carregam a cobra gigante e a cortam é muito inquietante. O elenco está em total sintonia com o tempo e os hábitos da época e da região. Que bons atores são Ilya são PAulo e José Dumont!

Uma guerra pessoal

"A private war", de Matthew Heineman (2018) Estréia na ficção do premiado documentarista americano Matthew Heineman, indicado ao Oscar pelo seus documentário "Cartel Land", que retrata a tensa fronteira entre México e Estados Unidos. Matthew tem em sua filmografia documentários que apresentam vários conflitos armados ao redor do mundo. Por isso, não é surpresa que ele tenha estreado na ficção com a biografia da correspondente de guerra Marie Colvin (Rosamund Pike, de "A garota exemplar"). Marie, americana, morreu no dia 22 de fevereiro de 2012, aos 56 anos, ao cobrir uma matéria em pleno campo de batalha em Homs, Síria. Marie era famosa pela sua obsessão em querer mostrar ao mundo a verdade da Guerra, e para isso, não tinha medo de morrer. Em 2001, no Sri Lanka, ele perdeu o olho esquerdo quando uma granada explodiu ao seu lado, mesmo se identificando como jornalista. Nem esse fato a impediu de querer continuar a expôr as mazelas da guerra. Desde então, ela usou um tapa-olho, o que virou sua marca registrada. O fotógrafo Paul Conroy (Jamie Dornan, o Mr Grey de "Cinquenta tons de cinza") se tornou seu parceiro por muitos anos, e estava presente no dia da morte de Marie. O filme é uma grande homenagem aos heróis de guerra, os jornalistas e fotógrafos que botam suas vidas em risco para apresentar a verdade dos fatos ao mundo. É impressionante a reconstituição das cenas de batalha, perfeita em todos os detalhes. Matthew Heineman, por estar presente em campos de guerra, deu credibilidade às cenas de ação, colocando a sua câmera quase que como em um registro documental. A atriz Charlize Theron produziu o filme, muito provavelmente comovida com a história dessa jornalista que se tornou alcóolatra e portadora e síndrome pós-traumático e mesmo assim, jamais desistiu de sua missão. Trabalhando desde os anos 80 para o jornal britânico Sunday Times, Marie é defendida com muita garra e vibração por Rosamund Pike, em seu melhor trabalho até então. Uma pena ela não ter sido indicada ao Oscar. ela reproduz com perfeição o tom de voz grave Marie, que aparece em um vídeo no final do filme. A fotografia é de Robert Richardson, 3 vezes vencedor do Oscar, por "Huco cabret"e "O aviador", ambos de Scorsese, e "Jfk", de Oliver Stone, com quem trabalhou também em Platoon" e "Salvador". Richardson também é o queridinho de Tarantino. seu trabalho aqui em "Uma guerra pessoal" é formidável, com uma câmera pulsante e viva que faz com que o espectador se sinta em plena guerra.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Caminhos perigosos

"Mean streets", de Martin Scorsese (1973) Realizado após o ótimo "Sexy e marginal" e entre 2 obras-primas posteriores, 'Alice não mora mais aqui" e "Taxi driver", "Caminhos perigosos", de 1973 e com roteiro do próprio Scorsese, é o primeiro trabalho de Scorsese no Universo dos gangsters, um tema que ele voltaria diversas vezes em filmes como "os bons companheiros", "Infiltrados" e "Cassino". "Caminhos perigosos" fala sobre amizade acima de qualquer coisa. Charlie (Harvey Keitel) é sobrinho de um mafioso agiota em Nova York. Sua função é cobrar dívidas das pessoas. Mas Charlie quer sair dessa vida. Católico, ele quer pagar seus pecados na rua, ajudando seu amigo Jonny (Robert de Niro). Charlie acredita que ajudando Jonnhy a sair da vida marginal, será uma forma de pagar seus pecados. Fora isso, Charlie namora a prima de Jonnhy, Teresa, que é epilética. O tio de Charlie pede para ele se afastar tanto de Jonnhy quanto de Teresa, diz que eles atrapalharão sua vida pessoal e profissional. mas Charlie insiste em permanecer com os dois, até que Jonnhy ameaça um dos agiotas que cobra uma dívida dele e as coisas se tornam perigosas para todos. O filme tem todo o frescor de um jovem cineasta experimentando linguagem. Tem muita câmera na mão e Scorsese buscou referências no Cinema da nouvelle Vague francesa principalmente de Agnes Varda e Godard ( vide a cena de pós sexo entre Charlie e Teresa). O filme não é perfeito, mas o seu conjunto é muito interessante, com cenas isoladas antológicas, como o delírio de Charlie no bar. A fotografia em tons vermelhos do bar também é bastante significativa. Harvy Keitel e de Niro estão na flor da idade, jovens, irrequietos, exalando vontade de querer fazer as coisas acontecerem. E a trilha sonora é magistral, com clássicos da época. Li que metade do orçamento foi para o pagamento dos direitos autorais das músicas. Tem gente que diz que Charlie é o alter ego do próprio Scorsese, que cresceu nas violentas ruas do bairro italiano e que, católico, se apegou à religião e ao cinema para fugir do crime (Charlie sempre vai ao cinema).

quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Nosso tipo de amor

"Our kind of love", de Azeem Bhati e Elham Ehsas (2018) Comovente curta inglês, dirigido por 2 jovens cineastas de descendência Afegã. Elham Ehsas, além de co-dirigir e co-escrever o roteiro, protagoniza junto de Afsaneh Dehrouyeh esse romance melancólico, que fala sobre choque de cultura. Samira é uma jovem afegã refugiada que veio morar em Londres para se casar com Harun, nascido na Inglaterra e 2a geração de Afegãos. Harun já é totalmente ocidentalizado, enquanto Samira está tentando se adaptar aos costumes do Ocidente. Apesar de ambos terem identidade Afegã, eles não se entendem culturalmente, mas por conta das tradições milenares de seu País, se casam através de imposição dos pais. O filme discute sub-liminarmente, questões atuais como machismo, sororidade e identidade cultural. Samira vem de uma cultura machista, e em determinado momento diz a Harun que se interessou por ele porquê ele lhe deu opção para refletir sobre se ele seria a pessoa certa para ela. Mesmo caminhando pelo drama, o filme tem alguns momentos de delicioso humor, principalmente na cena onde uma senhora japonesa tenta, à distância, ensinar Samira a usar os Hashis para comer sushis. A metáfora do "peixe fora d'água" ou mesmo aprisionado em um aquário, serve para ambos os personagens. Bela fotografia, e direção simples mas eficiente. Amei a contradição entre a tradição milenar de encontros impostos pelos familiares X os aplicativos de encontros.

Poderia me perdoar?

"Can you ever forgive her?", de Marielle Heller (2018) Excelente drama biográfico, ambientado em Nova York de 1992. A protagonista é Lee Israel (Melissa Maccarthy, formidável em papel dramático), uma autora de biografia de celebridades que fez muito sucesso nos anos 70 e 80, mas que caiu no ostracismo no final dos anos 80. Sua editora não quer mais publicar nada dela, e Lee se encontra em um desespero econômico: sem dinheiro para pagar aluguel, contas, nada. Tudo o que lhe resta de dinheiro, ela gasta com bebidas. Solitária e misantropa, Lee tem como única companheira sua gata. Um dia, Lee tem a idéia de vender uma carta original que ela possui de Katherine Hepburn. Lee se surpreende com o valor pago e tem uma idéia: falsificar cartas assinadas por escritores e artistas famoso. Estima-se que Lee vendeu mais de 400 cartas falsificadas. Ela acabou sendo presa pelo FBI, junto de seu amigo Jack (Richard E.Grant, fantástico). Jack é um traficante de drogas gay sem teto, por quem Lee se apieda e se tornam amigos. Dirigido com muita elegância por Marielle Heller, o filme tem um olhar humano e carinhoso sobre loosers e pessoas invisíveis. As performances premiadas de Richard E.Grant e Melissa valeram a ambos indicações ao Globo de Ouro e Oscar. A trilha sonora é maravilhosa, e o elenco de apoio composto por belos atores. A maquiagem de Melissa é muito boa, a deixando mais velha e acabada.

A bagunça que ele fez

"The mess he made", de Matthew Puccini (2017) Premiado Curta LGBTQ+, exibido em dezenas de Festivais, tem uma excelente performance de seu protagonista, Max Jenkins, no papel de Jude. Ele se encontra em uma clínica e muito nervoso, faz um exame de sangue para saber se contraiu HIV. O enfermeiro diz que o resultado sai em 15 minutos. O que fazer nesses 15 minutos de total desespero? Muito bem dirigido, com poucos diálogos e uma fotografia sensacional de Brandon Roots, o filme apresenta muitas camadas emocionais, e propõe ao espectador no seu desfecho, uma terrível dúvida. Alguns elementos durante a narrativa se mantém em aberto: quem era a menina que ligou para ele? Ele é casado com uma mulher? Ou com um homem? O que interessa ao diretor, um pouco como na obra-prima de Agnes Varda, "Cleo de 5 às 7", é acompanhar a montanha russa de emoções que percorrem a mente do protagonista, tão próximo da morte e por isso mesmo, desnorteado. Mas pera lá, o filme se passa em 2017!!!! Pois é amigos, há quase 3 décadas e a cura da AIds parece estar longe ainda. O terror do exame continua o mesmo. https://vimeo.com/203247965

O Grinch

"The Grinch", de Yarrow Cheney e Scott Mosier (2018) Mais uma adaptação do conto escrito por Dr. Seuss nos anos 50, "O Grinch" é uma história ambientada em um lugar fictício chamado Whoville, e seus habitantes, apaixonados por Natal, se chamam de Who. O Grinch é um ser esverdeado que se isola com seu cachorro Max nas montanhas, para ficar bem distante da comemoração de Natal, que ele odeia. Quando sua dispensa fica vazia, o Grinch é obrigado a ir até a cidade para comprar mantimentos. Lá, ele conhece uma menina, Cindy Lou, e descobre que ela quer sequestrar o Papai Noel para que ele o ajude com sua mãe solteira que tem que trabalhar e cuidar dos dois irmãos gêmeos dela. O Grinch resolve ao mesmo tempo, roubar toda a decoração de Natal da cidade, para que ninguém mais comemora nada. Bom, até uma criança de 5 anos sabe como vai acabar essa história, que é mega óbvia e que tem aquela mensagem clara de que Natal todo mundo ama e deve comemorar. No ano 2000, saiu uma versão com atores protagonizado por Jim Carrey, e confesso que na época eu não gostei do filme por causa da maquiagem horrorosa dos habitantes do lugar, que tinham aquele nariz de gato. Achei um horror. Essa animação pelo menos ignora isso e ainda tem o 3D. De uma forma geral, o filme é ok, achei meio chato e infantil demais, na versão do Jim Carrey era mais iconoclasta. O que gostei aqui, foi da dublagem de Benedict Cumberbatch, que faz a voz do Grinch. E só.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

O aniversário de Bob

"Bob's birthday", de David Fine e Alison Snowden (1993) Vencedor do Oscar de curta de animação de 1995, "O aniversário de Bob" fala sobre a crise da meia idade. Margareth e Bob formam um casal. Ela dona de casa, ele dentista. Margareth está em casa preparando uma festa surpresa pro marido, que está completando 40 anos. Na sua clínica, Bob está tendo a crise de idade. Ele s efaz vários questionamentos: Está na profissão certa/ Deve ter sua secretária como amante? enquanto isso, um cliente lhe diz que leu em uma matéria que os dentistas estão na profissão com maior índice de suicídios. Em casa, Margareth chamou todos os amigos do casal e os esconde. Bob chega, mas ele está em crise e Margareth mantém todos os amigos escondidos. Bob quer saber se Margareth quer ter filhos, quer se separar deles. E mais: Bob tira a roupa e Margareth se choca, ele diz que ele não tem mais idade para isso e ela lhe responde que ela adorava quando ele fazia isso. Esse curta, com 13 minutos de duração, é uma análise feroz e bastante melancólica sobre o passar dos anos. Os autores escreveram quando completaram 30 anos de idade. O filme é cruel, e faz pensar sobre as decisões que tomamos na vida. Inteligente, mordaz. Imperdível. https://www.youtube.com/watch?v=i6lw97Komjk&t=106s

Comportamento animal

"Animal behaviour", de David Fine e Allison Snowden (2018) O casal David e Allison ganhou o Oscar de curta de animação em 1995, com "O aniversário de Bob". Com "Comportamento animal", novamente eles competem para um Oscar na categoria no ano de 2019. O filme brinca com os estereótipos de um grupo de sessão de Terapia. O Psiquiatra é um cachorro, o Dr Clement. No grupo existe uma sanguessusa, um porco, uma louva a Deus , um gato e um Gorila. Como um bom Woody Allen, o filme é repleto de diálogos que refletem as neuroses das pessoas que moram na grande Metrópole; problemas com relacionamento, etc. Aonde os diretores brincam e fazem uma crítica é que chega uma hora onde o instinto fala mais alto, apesar das aparências. O psiquiatra, confrontado pelo macaco que lhe oferece um pedaço de pau, se volta às suas origens e se vê como um cachorro adestrado, que não recusa buscar o au. Apesar de animação e os traços dos animais indicarem fofura, não é um filme para crianças.

Fevereiros

"Fevereiros", de Marcio Debellian (2018) O Cineasta Marcio Debellian se juntou à montadora Diana Vasconcellos e juntos, conceberam esse deliciosos filme que a partir de uma situação bem curiosa, revelam ao mundo o talento de Maria Bethânia, aos olhos de seus irmãos, amigos e fãs, e também, a simplicidade com que ela administra na sua vida pessoal, o Catolicismo e o Candomblé. Maria Bethânia resguarda sempre o mês de fevereiro para que possa se dedicar totalmente à sua cidade natal, Santo Amaro, no recôncavo baiano. Ela participa de todos os festejos do mês: a limpeza da escadaria, a purificação, a procissão de Santa Barbara. É uma mistura feliz e sem crise da religião Cristã com a cultura do Candomblé. Caetano Veloso dá divertidos depoimentos, quando ele diz que, criança, tinha medo de Deus e achava que ao tomar a hóstia, sua vida iria mudar. O momento impagável do filme é uma uma conversa filmada entre Bethânia e Chico Buarque, sentados tranquilamente, e Bethânia dando todo um discurso usando a linguagem do candomblé, A expressão de Chico é hilária, sem entender nada do que é dito. Paralelo às comemorações em Santo Amaro, o filme apresenta o samba enredo da Mangueira de 2016, ano que em Bethania foi homenageada e acabaram ganhando o Campeonato. Os preparativos, os funcionários confeccionado adereços, depoimento do Carnavalesco, da porta-bandeira e também Bethânia diz de onde veio sua paixão pela verde e rosa. Para fãs, o filme é um deleite, mostrando a cidade de Santo Amaro, depoimento com Mabel Velloso ( irmã de Bethânia), imagens de arquivo de mangueirenses famosos. Eu nem sou fã confesso de Bethânia, mas saí do filme encantado. Imperdível.

terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Operação França

"The French connection", de Willian Friedkin (1971) O Cineasta Willian Friedkin foi abençoado pelo Deus do Cinema: em 3 anos, de 1970 a 1973, ele realizou 3 clássicos do Cinema, cada um de um gênero distinto e que revolucionaram a narrativa cinematográfica. O mais impressionante, é que nenhum desses 3 filmes tem nada a ver um com o outro, em termos de Direção, decupagem, estilo. "Os rapazes da banda" , de 1970, é baseado em uma peça de teatro e considerado o primeiro filme de Hollywood com o tema e personagens abertamente gays. "Operação França", de 1971, criou uma linguagem de cenas de ação copiada à exaustão até os dias de hoje, tendo ganho 5 Oscars, entre eles, de Melhor filme, diretor e ator para Gene Hackman; e depois, em 1973, com o terror "O exorcista", outro filme copiado sem dó nem piedade. "Operação França" até hoje impressiona com suas cenas de perseguição, feito impressionante se considerarmos que o filme foi todo realizado sem efeitos especiais, algo que hoje em dia, qualquer filme de ação de 3a categoria faz uso. Os dublês, os carros de perseguição, tudo era real, sem trucagens. São cenas antológicas: a perseguição no metrô entre Gene Hackman e Fernando del Rey; a perseguição de carro que vai atrás de um trem; e logo uma das primeiras cenas do filme, com Popeye ( Hackman), vestido de Papai Noel, e seu companheiro Buddy (Roy Scheider) correndo atrás de um traficante nas ruas do Brooklyn decadente. A história é bem simples: Popeye e Buddy formam uma dupla que perambulam pelas ruas de Nova York atrás de traficantes. Chega a eles uma informação de que um grande carregamento de heroína esta para chegar na cidade, vindo da França. Cabe a eles tentar entender de que forma esse carregamento, e com quem, chegará à cidade. O filme é baseado na história real da dupla, que atuou nos anos 60 e 70. O sucesso do filme foi tão avassalador, que 4 anos depois, John Frankenheimer rodou uma sequência, com o mesmo Gene Hackman e Fernando del Rey, com Popeye indo atrás dele em Marseille. Obviamente o filme não fez sucesso e recebeu muitas críticas. Aula de Cinema.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Temporada

"Temporada", de André Novais Oliveira (2018) Premiado no Festival de Brasília 2018 com 5 Troféus ( Melhor Filme, Atriz - Grace Passô- Melhor ator coadjuvante - Russo- Melhor fotografia e Melhor direção de arte), "Temporada" é o Longa ficção de estréia do Cineasta André Novais Oliveira, que também escreveu o roteiro. Em 2009, André criou, junto de outros Diretores de Contagem, a produtora "Filmes de Plástico". Os curtas e o documentário de André foram amplamente premiados em muitos Festivais no Brasil e no exterior. ( Quintal, Fantasmas, Ela volta na quinta). A protagonista do filme, Juliana (Passô), vem de Itaúna para Contagem às pressas, pois passou em um concurso público e precisa começar a trabalhar. Ela se junta a um grupo de agentes de saúde, que batem de porta em porta na periferia de Contagem. Sua prima arranjou um canto para Juliana morar, na periferia. Juliana está no aguardo de sue marido Carlos vir de Itaúna. Enquanto isso, ela passa os dias conhecendo moradores e se envolvendo com seus colegas de trabalho. Achei curioso que o próprio Diretor André trabalhou como Agente de saúde em 2007, e daí veio a idéia para o filme. Ele conheceu pessoas que foram muito hospitaleiras, e resolveu homenageá-las. No elenco, além dessa força da natureza que é Grace Passô, André escalou não atores, incluindo seus pais e seu irmão, presentes em seus outros trabalhos. Toda a performance do elenco é regido de naturalismo. não existem cenas que são eventos, e sim, situações rotineiras e eventualmente de emoção, como o maravilhoso monólogo de Juliana, onde ela relata à sua prima o ocorrido de sua gravidez. Mesmo em cenas intensas em diálogos, o elenco não cai na obviedade do melodrama. A grande sacada do filme é a mudança no corte de cabelo de Juliana. Na primeira metade do filme, ela assume um cabelo alisado. Logo depois, ela assume a sua identidade, deixando o cabelo crespo. Esse é o significado do título do filme: uma temporada onde muita coisa muda na vida dessa mulher. Sororidade, racismo, machismo são itens presentes em menor ou maior grau no filme, totalmente antenado com o mundo contemporâneo que vivemos.

Contos de Nova York

"New York Stories", de Martin Scorsese, Francis Ford Coppola e Woody Allen (1989) Confesso, assisti a esse filme ahá exatos 30 anos, quando foi lançado nos Cinemas com enorme estardalhaço: afinal, 3 dos maiores Cineastas da época se reuniram em um filme e cada um contribuiu com o seu olhar sobre a cidade que tanto amam, e isso antes dessa franquia "Nova York, eu te amo", etc. Os cineastas não economizaram nos fotógrafos, para trazerem o olhar sobre a cidade mais cosmopolita e icônica do Mundo: Nestor Almendros com Scorsese, Vittorio Storaro com Coppola e Sven Nykvst com Allen. Me lembro que na época, eu somente havia gostado do episódio de Woody Allen, e acredito que muita gente também. O do Scorsese fiquei bem decepcionado, e do Coppola, uma chatice. Revendo, mudei de opinião: o do Scorsese tem elementos muito interessantes e é sim, um ótimo filme. o Do Coppola continua chato, e do woody Allen, uma pequena obra-prima da comédia. "Lição de vida" é o episódio de Scorsese e tem como protagonistas Nick Nolte e Rosana Arquette, além de uma participação especial de Steve Buscemi. Nick é um renomado Artista plástico, e está em crise para criar uma nova pintura para a exposição que o homenageará. Quando sua assistente Paulette (Arquette) chega, se inicia uma relação de amor e ódio. Lionel sustenta Paulette, que também é artista mas sem talento. Lionel não tem coragem de dizer a verdade. Mas ela é jovem, o inspira. "A vida sem Zoe", o episódio de Coppola, fala sobre um universo de Milionários em Nova York. Zoe, uma menina rica e solitária, cujos pais vivem viajando, passa seus dias se relacionando com funcionários e amigas mimadas. O que vale aqui é a direção de arte, requintadíssima, e a fotografia. Um passeio pelo Luxo e Glamour de NY. "Édipo arrasado" é o melhor de todos. O problema de filmes em episódios é esse, a gente fica comparando. Woody Allen protagoniza a história de um advogado cinquentão que tem um problema sério com sua mãe mega protetora. Ele quer apresentar sua nova namorada, Lisa (Mia Farrow) para sua mãe ( Mae Questel, fabulosa), mas ela detona ele o tempo todo e o faz passar vergonha. Até que durante um evento de mágica, a mãe desaparece após participar de um número. Rever esse curta, sabendo de todos os problemas de Allen e de Mia Farrow, dá um sabor triste a essa parceria tão genial entre os 2, que resultou em tantas obras-primas. Muito triste privar o público de novos filmes de Woody Allen. Aqui, ele mostra em altíssimo nível todos o primor de seus diálogos, direção e domínio de cena.

Angel of anywhere

"Angel of Anywhere", de James Kicklighter (2018) Premiado Curta LGBTQ+ com uma inusitada história: um Stripper que age como terapeuta para seus clientes, homens e mulheres, e também auxilia os funcionários do lugar onde ele trabalha a resolver os problemas. Angel é o nome do Stripper, mas será que ele é um Anjo real? Na boite Club Anywhere, Angel é contratado por uma mulher tímida e com baixa auto-estima para ir em uma cabine privé, onde ela expõe seus problemas conjugais. Mais tarde, Angel vai trabalhar em uma Boite gay, e lá também ele é contratado por um Homem negro e enrustido para ir numa cabine privé. Angel não se prostitui, não usa drogas. Apenas quer entreter e ajudar psicologicamente seus clientes. O desfecho é uma grande sacada. Com excelente fotografia de Jonathan Pope, que utiliza cores hiperreralistas para iluminar seus ambientes internos, "Angel of Anywhere" é um filme sensual, bonito e interessante como drama, mostrando a solidão de personagens anônimos de uma grande cidade. Os 3 atores principais são bem interessantes. Vale assistir.

Fyre- Fiasco no Caribe

"Fyre", de Chris Smith (2019) 2 Filmes me vieram a mente assim que estava assistindo a esse documentário absolutamente assustador: "Perdido em La Mancha"e "Vip". O primeiro, é um documentário que mostrava os bastidores de uma preparação de um filme de Terry Gillian que acabou não acontecendo, por conta de problemas de logística, doença do elenco, estouro no orçamento, metereologia, etc. O 2o, é um drama brasileiro protagonizado por Wagner Moura e que é a biografia de Marcelo Nascimento da Rocha, um falsário que conseguiu fazer parte de grandes eventos se fazendo passar por pessoas famosas. "Fyre" apresenta o jovem empresário Billy McFarland, co-fundador do Aplicativo Fyre, que segundo ele e seu sócio Ja Rule, o cantor de rap, seria uma espécie de Uber da música: qualquer um poderia contratar o seu artista preferido usando o aplicativo. Para poder promover o aplicativo, ambos resolveram lançar um Festival de música, que eles consideravam o evento da década: Billy dizia ter comprado a Ilha de Exuma, nos Bahamas, que outrora pertenceu a Pablo Escobar. Ele contratou os melhores profissionais da mídia e produziu um vídeo promocional do Evento, usando super modelos para divulgarem a festa. Além das modelos, o vídeo vendia iates de luxo, casas chiques, Bandas e músicos famosos que cantariam nesse evento que aconteceria em 2 finais de semana entre Abril e maio de 2017. Através de Hashtags e posts, o vídeo bombou e milionários e influenciadores digitais compraram pacotes, que rapidamente se esgotou, a um preço altíssimo. O que o filme apresenta, em imagens de arquivo e depoimentos de quem trabalhou e fez parte do mega evento, é mostrar o verdadeiro desastre anunciado que se tornaria o Festival: sem comida, sem infra estrutura até mesmo de banheiro, Internet, nada. Assim que os convidados iam chegando, iam se dando conta da roubada que era o lugar. É assustador entender que hoje em dia, basta um único Post para bombar um evento sem que qualquer tipo de checagem de veracidade seja feita. O filme critica esse Universo de influenciadores, que depois vieram pedir desculpas por divulgarem o evento. Não entendo porque Ja Rule também não foi processado, uma vez que muita gente provavelmente comprou ingresso por conta de sua imagem. Tem um momento da entrevista que a gente entende o jogo sujo desses empresários fraudadores: um dos sócios é obrigado por Billy a pagar boquete em um agente da alfândega no Bahamas para liberar a entrada de água mineral na Ilha. É gritante a falta de respeito de Billy para com todos que trabalharam com ele. Pior, mesmo depois do cancelamento do evento, dos milhares de processos, ele continuou fraudando pessoas abrindo uma outra empresa, a NYC Vip, vendendo ingressos para eventos exclusivos. Esse documentário é obrigatório para todos que trabalham com propaganda, pois ele vende um anuncio mentiroso, e também com quem anuncia e divulga posts sem saber a veracidade dele. Fiquei me sentindo cada vez mais angustiado a medida que o filme avançava. Dava vontade de dizer "Bem feito, quem mandou pagar dezenas de dólares para esse evento? Tá com dinheiro sobrando.". Mas a verdade é que cada um faz o que quiser com seu dinheiro. Fica o alerta.

domingo, 20 de janeiro de 2019

A primeira noite de um homem

"The graduate", de Mike Nichols (1967) Todo mundo deveria rever esse clássico de tempos em tempos. Testemunhar um dos filmes que revolucionaram a Hollywood do final dos anos 60; testemunhar as tremendas performances de Dustin Hoffman, Anne Bancroft e Katherine Ross; ouvir sem parar a mítica trilha sonora de Simon & Garfunkel; estudar a decupagem que Mike Nichols, um dos maiores roteiristas e diretores do cinema americano, propôs ao filme, com bastante ousadia narrativa, se fazendo valer de muitos match cuts. Particularmente, eu me emociono toda vez que vejo a cena final, dos noivos fugindo da igreja e pegando um ônibus aleatório. Essa cena sintetiza o filme e toda a geração que é representada: qual o futuro dos jovens? Será que somente a liberdade será o suficiente para mantê-los unidos e vivos? ë sem duvida alguma, um final corajoso para um filme que se propõe ser uma comédia romântica. Eu havia me esquecido que tem umas cenas bem pastelão no filme, como por exemplo, a da recepção do Hotel, quando Benjamin, personagem de Dustin Hoffman, tenta reservar um quarto e ele está totalmente sem graça. É uma cena bastante visual, e me lembrei bastante do tipo de humor de Peter Sellers em "Um convidado be trapalhão.". A cena inicial também deixa claro quem é Benjamin: a antológica abertura do filme, copiada por Tarantino em "Jackie Brown", mostra Benjamin em uma esteira rolante do aeroporto, totalmente sem ação, passivo, sendo levado. Esse é o retrato crítico dos jovens representado genialmente por Dustin Hoffman, que na época do filme já estava com 30 anos, interpretando um personagem de 20 anos. O filme levou o Oscar de Direção para Mike Nichols, merecidamente, por retratar o feminismo,a revolução sexual, a geração destruída moralmente pelas sucessivas Guerras do Vietnã, Camboja, etc.

Em algum lugar do passado

"Somewhere in time", de Jeannot Szwarc (1980) Esse filme é a prova de que na briga entre Críticos e público, quem sai ganhando é o espectador. Detonado pela crítica desde a sua estréia, esse filme tem arrebatado cada vez mais fãs mundo afora. Considerado um dos maiores clássicos do Drama romântico, tendo influenciado grandes sucessos como "Ghost" e "Titanic", "Em algum lugar do passado" foi escrito e adaptado para as telas por Richard Matheson, que concebeu a história do amor que viaja no tempo depois de ver um Quadro da atriz Maude Adams no hall de um Hotel, e ele imaginou como seria voltar ao tempo e encontrá-la. O filme tinha tudo para dar errado, ma sé justamente essa junção de acertos e riscos que fez com que o filme desse certo. O Diretor Jeannot Szwarc tinha acabado de dirigir "Tubarão 2"e parecia a pessoa menos improvável de dirigir um Romance. A escalação do elenco também foi um risco: Christopher Reeve tinha acabado de fazer um sucesso estrondoso com 'Superman", como dissociar sua imagem do Homem de aço para um herói romântico que volta ao tempo para conhecer sua mulher amada? E a trilha inesquecível de John Barry, por um pouco não saiu. O produtor do filme disse que não tinha orçamento para bancar Barry daí a própria atriz Jane Seymour o convidou. Não existe a menor possibilidade de se pensar no filme sem ouvir a música tema, e a composição de Rachmaninoff , "Rapsódia do Tema de Paganini". Reeve interpreta um escritor, Richard Collier, no ano de 1972. No evento do lançamento do livro, uma idosa misteriosa surge e lhe entrega um relógio de época e diz: "Volte para mim". Passam-se 8 anos, Richard está em crise criativa e não consegue escrever sua peça teatral. Ele vai passar um dia em um Hotel à beira do mar, chamado Grand Hotel. Lá, ele olha para uma moldura com a imagem de uma mulher que o fascina, e ele descobre se tratar de Elise, atriz famosa de teatro de 1912 e que se apresentou nesse hotel em 1912. Obcecado, Richard acaba indo ao encontro de um Filósofo que o instrui na hipnose, e a possibilidade de voltar ao tempo. Provavelmente, todo mundo que já viu o filme pensará a seguinte frase: Um amor destruído por causa de um Penny. Mas antes desse trágico evento, o espectador se envolve de tal forma com esse amor entre Richard e Elise, por mais inverossímel que seja, e isso é a fórmula dos melhores romances, vide os clássicos dos anos de Ouro de Hollywood. Douglas Sirk investia em histórias tão mirabolantes, mas o público não se incomodava. Reeve está muito carismático no personagem, na sua eterna figura de bom moço, e dá pena pensar que sua carreira tão promissora foi interrompida de forma tão cruel. Jane Seymour está gloriosa e radiante, a imagem perfeita para uma heroína romântica. E confesso que eu nem lembrava que Christopher Plummer estava no filme, naquele papel clichê de vilão que ele faz super bem. Clássico de muitas Sessões da tarde, um filme para se rever sempre.

Paixões que alucinam

"Shock corridor", de Samuel Fuller (1963) Ouvi falar desse obscuro filme quando assisti ao Documentário de Marton Scorsese, "Uma viagem pessoal ao Cinema americano". Quando Scorsese mostrou trechos do filme, fiquei desesperado para assistir, e agora, pergunto-me como deixei passar esse clássico em branco por tanto tempo. O filme, de 1963, é um precursor da obra-prima de Milos Forman, 'Um estranho no ninho". Ambos falam de pessoas comuns que são internadas em uma Instituição psiquiátrica e sofrem as consequências de seus atos. Só que "Paixões que alucinam" foi realizado mais de 10 anos antes do filme de Forman. É um filme ousado, polêmico em vários aspectos. Ele se aproxima bastante de "A montanha dos sete abutres", de Billy Wilder, ao apresnetar a ganância de um jornalista pelos holofotes. Jonnhy é um jornalista que arma junto de sua namorada Cathy (uma stripper), seu editor-chefe do jornal e de seu amigo psiquiatra uma história fake para que ele possa sre internado na Clínica aonde houve um assassinato de um dos internos, em caso não solucionado pela polícia. Jonnhy acredita que assim, ele ganhará o cobiçado Premio Pullitzer. Só que Cathy é contra, pois acha que Jonnhy sofrerá durante a sua permanência no lugar. Jonnhy cria uma história onde Cathy é sua irmã e houve um caso de incesto. Ao ser internado, Jonnhy entrevista algumas testemunhas, na esperança de descobrir o assassino. Mas descobre também a corrupção de médicos e enfermeiros que bota em risco sua saúde mental. Um dos momentos mais polêmicos, é o de um personagem negro. Interno, ele acredita ser branco e fazer parte da Ku Klux Klan, e persegue outro interno negro, pregando a sua morte. Fico imaginando esse plot sendo realizado hoje em dia, a confusão que não seria. Acho inclusive que já seria difícil escalar um ator negro que quisesse interpretar esse personagem. Esse filme de Fuller é bastante complexo e rico em leituras. Pode ser visto também como uma alegoria da Guerra Fria e do Macartismo, duas crises politicas que trouxeram uma onda de perseguição contra cidadãos americanos. O personagem do interno Pagliacci, um homem obeso que canta árias de 'ópera, é antológico. Vale assistir e discutir depois com colegas a questão moral que o filme prega.

Conto de Cinema

"Geuk jang jeon", de Hong San Soo (2005) Concorrendo no Festival de Cannes 2005, um dos Festivais que mais prestigiam a filmografia desse premiado Cineasta sul coreano, constantemente comparado a Robert Bresson e Eric Rohmer, "Conto de Cinema" é um dos filmes dele que eu mais gosto. Por mais que contenha todos aqueles elementos que qualquer Crítico de cinema, em qualquer um dos filmes de Hong San Soo irá descrever - Planos-sequência, uso de Zoom, cenas de bar e restaurante com os personagens bebendo e comendo, personagens que trabalham com Cinema, Amores platônicos - "Conto de Cinema" lida com a metalinguagem, com o Filme dentro do filme, e o mais surpreendente: a história real que copia a ficção. No início do filme, o jovem personagem Sang-won esbarra por um acaso com Young-sil,, uma ex-colega da faculdade por quem ele era apaixonado. Ela abandonou os estudos e trabalha em uma ótica. Eles saem à noite e Sang confidencia para Young que quer se suicidar. Young decide se matar junto, e ambos fazem um pacto. Logo, descobrimos que essa história na verdade, é a história de um filme. Doong-Soo sai da sala de cinema onde estava sendo exibido o filme que nós espectadores acabamos de assistir. Descobrimos também que Sang Won é o Ator e Diretor do filme, e Young-Sil, a atriz, era sua paixão. Dong Soo estudou com Sang Won na faculdade de cinema, e veio prestigiar a Retrospectiva do Cineasta, que está morrendo no Hospital, agonizando de uma doença terminal. Doong Soo esbarra por um acaso com Young-Sil e se declara apaixonado por ela. Lendo essa sinopse pode parecer bem confusa, e o filme na verdade é um pouco sim, mas logo quando entendemos o que está acontecendo, as coisas ficam mais claras. Hong San Soo explora a barreira entre a ficção e a realidade de forma brilhante. A história do filme é reproduzida pela vida real, mas com detalhes curiosos: o Diretor e Ator do filme, Sang-Won, queria se matar na história. Na vida real, doente, ele não quer morrer. Só por esse plot, o filme já valia a pena ser visto. Mas aí Hong San Soo resolve explorar a história de amor entre um homem que tem uma atração quase psicopata pela musa, no caso, a Atriz. Bem dirigido e como sempre em todos os seus filmes, muito bem interpretado, ainda mais por conta dos planos longos.

sábado, 19 de janeiro de 2019

Lagosta no jantar

"Lobster dinner", de Gregorio Franchetti (2018) Filme de realização do jovem cineasta italiano Gregorio Franchetti quando estudou na Universidade da Columbia, Estados Unidos. Também autor do roteiro, o filme ganhou Menção Especial no Festival de Berlim 2018 na Mostra Geração KPlus. O filme narra a amizade entre 2 garotos de 12 anos que moram em Roma. Ambos estudam no mesmo colégio e são melhores amigos. Mas em casa, a situação é bem diferente. Michelle é de família rica, e é filho único. Leone mora com sua mãe solteira e suas 2 irmãs menores, e são de classe média. Quando Michelle é deixado em casa sozinho, ele resolve pegar as lagostas da geladeira e ir até a casa de Leone, para presentear a mãe do amigo com um delicioso jantar. A simples presença de Michelle, e a afeição que ele nutre pela mãe do amigo e vice versa, provoca um enorme ciúme com Leone. Muito bem dirigido e com ótima direção de atores, o filme surpreende pela pouca experiência do diretor, que aqui, realiza um filme de grande humanidade e camadas emocionais complexas. Gregorio valoriza os olhares, o silêncio. Um belo e triste filme. https://www.youtube.com/watch?v=VZF6sHrtO7E

Um homem, meu filho

"Un homme mon fils", de Florent Gouëlou (2017) Comovente road movie francês LGBTQ+, vencedor de vários prêmios em Festivais. Fred é um projecionista de cinema. Um dia, sua irmã que mora na Normandia, pede para que ele projete um filme em película no Festival de cinema que ela está organizando. Fred diz que chamará o pai deles para ajudar na projeção, já que ele não entende muito de película e sim, de exibição digital. A irmã, Cassandra, recusa a ajuda do pai, pois tiveram atritos no passado, por conta do machismo e da homofobia dele. Mas Fred o leva assim mesmo. No caminho, o pai descobre que Fred é uma Drag Queen e sem ele saber, vai assistir a um show dele. Escrito, dirigido e protagonizado por Florent Gouëlou no papel de Fred, "Um homem, meu filho"segue todos os clichês do gênero "Road movie", mas o faz com bastante dignidade e inteligência. É um filme sobre reconexão emocional, sobre curar feridas, mas também, sobre perdão. Excelente trabalho dos atores, principalmente de Jean-Marie Gouëlou, pai de verdade do Diretor, no papel de seu pai. Dentro e fora das telas, é um reencontro emocionante de pai e filho.

Close

"Close", de Vicky Jewson (2019) Livremente inspirado na história de Jacquie Davis, a mais poderosa Guarda-costas feminina do mundo, contratada por celebridades como Nicole Kidman, J.K. Rowlings, Diana Ross, Justin Bieber entre outros. Com treinamento em combate em ambientes de guerra, Jacquie, com sua enorme discrição conquistou muitos clientes poderosos mundo afora. Sam Carlson é o alter ego de Jacquie vivido com extremo carisma e talento por Noomi Rapace, uma atriz cada vez mais associada à personagens fortes e heróicos. Desde que estreou no papel de Lisbeth Serlings, na trilogia "Millenium", Noomi foi logo cooptada por Hollywood, onde realizou muitos filmes de ação e de ficção científica, entre eles, "Prometheus", de Ridley Scott. Sam é contratada para dar segurança à uma jovem herdeira de um grande Império da mineração no Oriente médio. Zoe (Sophie Nelisse, de ( "A menina que roubava livros") é orfã de pai e vive com sua madrasta, a pouco confiável Rima ( Indira Varma, de "The game of thrones"). Ao viajarem para a fortaleza da família em Marrocos, Zoe e Sam sofrem uma emboscada. Ao figurem, Zoe mata um policial, e é dada como criminosa fugitiva. Elas precisam buscar ajuda, mas não sabem em quem confiar. "Close " é um bom filme de ação, acima da média. O roteiro é bem clichê, apostando na batida fórmula de 2 pessoas que não se suportam irem se amando ao longo da narrativa. O que esse filme difere de outros tantos, é o fato de ser dirigido por uma mulher, e ter protagonistas femininas bem fortes. E de novo, Noomi Rapace merece muito respeito.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Millenium- A garota na teia de aranha

"The Girl in the Spider's Web ", de Fede Alvarez (2018) A carreira do jovem Cineasta uruguaio Fede Alvarez é impressionante. Quando resolveu bancar o seu curta "Panick Attack" em 2009, o cineasta americano Sam Raimi ficou tão impressionado que o convidou para dirigir o remake de "Evil dead". Logo depois, Fede filmou o seu maior sucesso, o ótimo "O homem nas trevas". Agora Fede prossegue a franquia americana de "Millenium", iniciada com o excelente filme de David Fincher com Rooney Mara e Daniel Craig. Nengum dos 3 retornou para essa continuação, e foram convidados Fede Alvarez e os atores Claire Foy ( do seriado "The crown") e Sverrir Gudnason ( ator sueco que interpretou Bjorn Borg em "Borg e Mcenroe") para darem vida aos hackers Lisbeth Salander e Mikael Blomkvist. O filme acontece 3 anos depois do filme anterior. Logo de cara tem um prólogo mostrando que Lisbeth, quando criança, tinha uma irmã, Camilla, ambas assediadas pelo pai, um criminoso. Lisbeth conseguiu fugir, mas Camilla ficou. Lisbeth agora é uma justiceira, que salva as mulheres de homens assediadores e violentos. Ao ser contratada por um cientista para roubar um programa que ele mesmo criou das mãos dos americanos esse programa tem o poder de detonar todas as bombas nucleares do mundo com um simples botão dado pela pessoa que controla o programa), Lisbeth acaba entrando em uma perigosa rede que envolve agentes americanos, agentes suecos e uma organização criminosa chamada "The spiders", comandada por uma pessoa misteriosa. Para quem não sabe, o escritor sueco Stieg Larsson, autor da trilogia "Millenium", morreu em 2004. A sua família contratou o escritor David Lagercrantz para escrever novos livros, esse "Teia da aranha" é o 4o livro. Não li o livro, mas o filme infelizmente não chega aos pés da trilogia sueca filmada com a atriz Noomi Rapace, e idem ao filme de David Fincher. Muita gente reclamou que Lisbeth aqui virou uma agente tipo James Bond, toda fodona e comandando mega cenas de ação. Isso não me incomodou, achei as cenas ótimas e dão ritmo ao filme. Claire Foy é excelente atriz e ninguém tem dúvida disso. Mas para mim, ela aparenta muito mais velha que as outras atrizes quando a interpretaram. Lisbeth é uma hacker muito mais jovem, e esse é o barato da personagem. Claire já passou muito da idade para interpretá-la, e isso tirou o charme da personagem. Não que tenha atrapalhado assistir ao filme. O que mais me deixou de boca aberta, é a total falta de sutileza de Fede em dirigir os personagens secundários. Você de cara já sabe quem vai ser o vilão na história, mesmo sem ele precisar abrir a boca. Fira isso, o roteiro peca pela total obviedade. J;a sabemos o que vai acontecer muito no início. Ninguém pode er dúvida sobre quem é o líder da organização "The spider", coisa mais óbvia do mundo. Uma pena, mas essa revelação deveria ter sido algo apoteótico e arrebatador. Mas o filme não é ruim. É bem produzido, tecnicamente perfeito, lindas locações na Suécia. Vale para um passatempo descerebrado em algum momento de tédio.

Happy & Gay

"Happy & gay", de Lorelei Pepi (2014) Deliciosa animação LGBTQ+ dirigida pela animadora lésbica Lorelei Pepi, que se apropria da linguagem e da narrativa musical dos famosos "Merrie Melodies" dos anos 30 e denuncia a homofobia e racismo dos personagens aparentemente ingênuos dessas historinhas bonitinhas. Premiado e exibido em quase uma centena de Festivais mundo afora, esse filme de 2014 apresenta dois casais Lgbtq+ que moram nos Estados Unidos dos anos 30. Um casal de gatas lésbicas convidam um casal de amigos cães gays para irem em um night club. Ao chegarem lá, eles se divertem junto de outros casais gays, em um ambiente recluso pois na época a manifestação gay era proibida. Até que acontece uma batida policial e bota todo mundo para correr. Os 2 casais se escondem em uma igreja, e são agredidos pelo Bispo e pelos fiéis. Há anos estava tentando assistir a esse desenho, e me encantei totalmente. Essa homenagem vintage a esse tipo de animação, que eu assistia desde criança ( e que incluía ícones como Betty Boop) associada a denúncias sobre a forma estereotipada que os gays eram retratados nos desenhos, me deixaram bastante encantado. Uma verdadeira pérola.Excelente trilha sonora de Brian Carpenter, fora as divertidas vozes dos animais.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

Jurassic cruising park

"Jurassic Cruising Park", de David Domingo (2017) Eu sinceramente não estou tendo palavras para descrever essa insanidade pra lá de divertida, que é o Parque de Dinossauros onde um casal gay vai fazer pegação. Propositadamente tosco, esse filme espanhol acompanha um casal de cientistas que avaliam as fezes dos dinossauros e os alimentam, que nem faziam Sam Niell e Laura Dern no "Parque dos dinossauros" de Spielberg. Só que o casal avista dois gays se pegando no mato, e os alertam que o tiranossauro vive por ali. Confesso que ri do início ao fim. David Domingo é tão cara de pau, e por isso mesmo o filme é tão engraçado, que ele rouba os diálogos e a trilha sonora de John Willians do filme original. Os efeitos com os dinossauros são mega toscos e hilários. Esse filme é a melhor paródia que vi em tempos.

Grande Pai, Pequeno Pai e outras histórias

"Cha và con và...", de Phan Dang Di (2015) Melancólico e intenso drama Vietnamita que participou de importantes Festivais em Competição, entre eles o Festival de Berlin, foi escrito e dirigido por Phan Dang Di . O Filme se ambienta no final dos anos 90 em Saigon, capital do Vietnã. Com super população e desemprego em alta, acompanhamos uma família e amigos que moram em uma favela à beira do rio. Vu é um jovem fotógrafo que vem da capital para morar na periferia de Saigon. De família pobre, ele divide um espaço na favela ribeirinha com Thang, que trabalha como segurança em um night club e também trafica drogas no local. Thang namora Van, que de dia estuda ballet mas de noite se apresenta na mesma night cub de seu namorado, em shows eróticos. Vu é apaixonado por Thang. Para poder ganhar dinheiro, ele acompanha Thang nas noitadas da balada e no tráfico. Thang também o encoraja a fazer vasectomia através de um programa do governo que estimula os jovens a fazerem a operação e ganharem ajuda financeira. O filme traz outras histórias paralelas: o pai de Vu traz uma jovem para se casar com seu filho Vu; o outro irmão de Vu sonha em ser cantor mas também se mete no tráfico. "Grande Pai, Pequeno pai e outras histórias" é um filme vietnamita diferente daqueles do mais famoso Cineasta do País, até então, Tran Anh Hung, que em filmes como "O cheiro da papaya verde", mostrando dramas com uma narrativa quase Tarkovskiniana de tão lentas. Phan Dan Di está mais próximo do chinês Tsai Min Liang: drama sensual, erótico, com tinta homoerótica, belamente enquadrado, com textura pop e com uma fotografia estilizada. O filme explora bastante as cenas de sexo, os corpos desnudos. A sensualidade exala até mesmo em copos suados ou repletos de lama. A fotografia explora o contraste entre a modernidade e a extrema pobreza de terceiro mundo de Saigon. A luta de seus moradores para sobreviverem, morando em condições paupérrimas. Mesmo assim, nas cenas noturnas, o filme explora a alegria, o amor.