sábado, 28 de fevereiro de 2015

Power/Rangers

"Power/Rangers", de Joseph Kahn (2014) Curta de 15 minutos dirigido pelo diretor de video clips Joseph Kahn, que já dirigiu artistas como Britney Spears. Aqui, ele faz uma homenagem não autorizada de fã, que provocou a ira do criador dos Power Rangers, Haim Saban, que obrigou o Youtube a retirar o vídeo do site. Vendo o filme, vê-se que gasto-se uma grana considerável para ser apenas um filme de fã: além do que, foram convidados 2 atores conhecidos, James Van Der Bik e Katee Sackhoff, para dar vida a 2 personagens Power Rangers. Eu mesmo nunca fui fà da 'srie e nem conheço nada do Universo deles, me limitando a vê-los no Globinho lutando contra monstros de borracha. O que me instigou aqui nesse filme é justamente ser uma versão dar, violenta e politicamente incorreta dos heróis de muita garotada, que vão adorar a violência e a porradaria dessa versão quase Tarantino de ser. Muito tiro na cabeça, muito sangue, cabeças explodindo, etc. Em um futuro, o mundo é dividido em Resistentes e Império das máquinas e. Rola uma traição entre um dos Power Rangers, que interroga a Power Range Rosa sobre o paradeiro de um outro Power, chamado Tommy. Enquanto isso, vemos cenas em flashbacks de outros Power Rangers sendo assassinados. Muito bem produzido e concebido, o filme tem ótimos efeitos. O desfecho me pareceu bem trash, achei até que era a Malévola. Vale como curiosidade e até mesmo o desejo de ver uma versão gótica em longa-metragem. Nota: 7

Carnaval de almas

"Carnival of souls", de Herk Harvey(1962) Minha curiosidade em assistir a esse obscuro filme B de terror de 1962, foi,após ler uma matéria do jornalista Tom Leão dizendo que Shayamalan plagiou essa pequena obra-prima em 'O sexto sentido". Claro que fui correndo assisti-lo. Pesquisei bastante sobre esse filme antes de ver. Afinal, eu nunca havia ouvido falar dele. Recentemente redescoberto e lançado em dvd pelo Selo de clássicos "Criterion", o filme foi produzido, escrito, dirigido e atuado por Herk Harvey. Sendo o seu único filme, afinal foi um imenso fracasso na época de seu lançamento. Li também que o filme influenciou vários cineastas : George Romero, que anos depois viria com "A noite dos mortos vivos"; David Lynch com "A estrada perdida" e o citado acima, "O sexto sentido". Mencionar o filme de Shayamalan já faz todo cinéfilo saber o que se passará no desfecho desse filme, e o destino da jovem Mary. No início do filme, Maru participa de um racha com outras duas amigas no carro. No outro carro, três rapazes. Ao atravessarem uma ponte, o carro dela derrapa e cai no rio. Após intensa busca, o grupo de salvamento encontra Mary, que sai do rio psicologicamente desequlibrada. Traumatizada, ela acaba indo até uma cidade do interior de Utah, e vai trabalhar como organista de uma igreja. Próximo, existe um parque de diversões abandonado, e ela tende a ir até lá em busca de algo que ela não sabe o que é. Paralelo, uma figura sinistra ( Harvey) surge para Mary, assustando-a , e ela tenta entender o que tudo aquilo significa. Concordo com as referências a Romero e David Lynch. "Carnaval de almas" trabalha com onírico, o surreal e o constante clima de tensão psicológica, onde o espectador não sabe o que acontecerá. A fotografia em preto e branco ajuda a dar uma atmosfera de filme maldito, underground, assustador ( para os padrões da época deve ter sido mesmo de tirar sono de muita gente). As cenas do Parque de diversões são muito bem boladas e a caracterização impressiona. O filme também tem um quê de "Psicose", nas cenas de fuga de carro de Mart. É um filme mito charmoso dentro de sua estrutura de produção B: amadora, pouca grana, registro quase documental. Reza a lenda que o filme foi realizado com apenas 5 técnicos no Set. A registrar também alguns enquadramentos curiosos e ousados para a época, e a trilha sonora, baseada em som de órgãos, de atmosfera sinistra. Nota: 7

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

A história da eternidade

" A história da eternidade", de Camilo Cavalcante (2014) Anotem esses nomes: No elenco, Irandhir Santos, Marcelia Cartaxo, Zezita Matos, Claudio Jaborhandy, Debora Ingrid, Leonardo França e Maxwell Nascimento. Na direção e roteiro, o pernambucano Camilo Cavalcanti. Na fotografia, Beto Martins. E na trilha sonora, o polonês Zbigniew Preisner, parceiro habitual do cineasta Kryssztof Kieslowski. Juntos, eles dão razão à palavra EXTRAORDINÁRIO. Um filme poderoso, pulsante, visceral, tocante e arrebatador. Não é filme para qualquer espectador, infelizmente. Ele é lento, longo, talvez cabeça demais no seu hermetismo que quer se embrenhar no sertão de memórias e de sofrimento. Através de uma divisão em 3 capítulos ( na verdade, desnecessário, talvez uma homenagem a Lars Von Triers), o filme fala sobre tesão, desejo, tragédia e a falta de comunicação que provoca a tragédia que ceifa o amor e a vida. Em um vilarejo dentro do sertão pernambucano, acompanhamos histórias de alguns personagens: Uma avó religiosa que recebe a visita inesperada de seu neto, que acaba despertando nela uma paixão incestuosa. Uma mulher que acaba de perder seu filho e de luto, se nega a se entregar ao amor verdadeiro de um cego repentista. Uma menina de 15 anos que sonha em ver o mar, e acaba entrando na alma artistica de seu tio, mesmo contra a vontade de seu pai autoritario. Essas historias costuram sentimentos de um vazio insuportável de seus personagens, que precisam dar um grito de liberdade. O único que faz isso é o Tio (Irandhir), que através da Arte e de uma caracterização que lembra Bispo do Rosário, se expressa através de sua dança e de seu trabalho artistico. O filme tem pelo menos três cenas primorosas que me deixaram encantado com a sua criatividade e encantamento: a do acende e apaga luz da menina, a da dança do Irandhir e a cena de Irandhir ensinando a sobrinha a " ver " o mar, dentro do sertão. Camilo Cavalcante, um cineasta que eu nunca havia ouvido falar, entrou para o rol de artistas importantes e obrigatórios do meu repertório cinéfilo. Bem-vindo a esse Universo maravilhoso do Cinema em estado bruto! E obrigado por esse presente. Nota: 10

Banquete

"Feast", de Patrick Osborne (2014) Delicioso e simpático curta de animação da Disney, vencedor do Oscar 2015 da categoria. Se baseando na premissa do seu clássico "Up, altas aventuras", onde temos um prólogo excepcional contando a vida de Carl sem diálogos, apenas em imagens, por quase 8 minutos. em "O banquete", essa fábula sem falas é desenvolvida em 6 minutos. Os traços da animação são os mais tradicionais possíveis, para não deixar dúvida para nenhum espectador que estamos assistindo a um filme da Disney. Poderia ter sido lançado em 1930. Inclusive, porquê a história lembra bastante "A dama e o Vagabundo: um cachorro que aproxima seu dono da paixão da vida dele. Através de comida ( sempre a comida, transmitindo emoção e sentimentos através do paladar de seus personagens, vide "Festa de Babette" e "Como água para chocolate"), acompanhamos a epopéia do pequeno cãozinho Winston. Abandonado, ele é encontrado na rua por um jovem, que o leva para casa, seduzindo o bichinho pelo paladar. A partir daí, o bichano cresce e amadurece com ele, até que uma mulher surge na vida do dono. Primeiro filme dirigido pelo animador Patrick Osborne, que já trabalhou em diversos clássicos Disney, o filme esbanja fofura, porém fiquei com uma impressão de deja vu. Não vi os outros concorrentes do Prêmio, mas esse aqui me pareceu bem corriqueiro. Nota: 7

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

A vida doméstica

"La vie domestique", de Isabelle Czajka (2013) Drama francês baseado no romance inglês "Arlington Park", de Rachel Crusk. Dirigido por uma mulher, o filme apresenta 4 mulheres vivendo uma rotina de mães suburbanas em Bel Air, arredores de Paris. Entediadas, desesperançadas, de saco cheio do papel de mãe e esposa. Assim são essas mulheres do novo tempo, que lutaram pela sua independência em outras décadas e que hoje em dia voltaram aos tempos de princesas deprimidas pós casamento. Os maridos são mostrados sempre como chatos, frios, entediantes. A protagonista é Juliette, mãe de 2 crianças e casada com um marido carinhoso, mas que ela despreza, tratando-o friamente. Por conta do casamento, ela abandonou sua carreira acadêmica e viveu em função da família. Agora, ela tenta retornar à profissão, mas acaba culpando a sua condição de esposa e mãe para declarar seu fracasso profissional. Paralelo às histórias dessas mulheres desgostosas de tudo, temos um sequestro de uma menina de 2 anos e meio, que aconteceu nas redondezas do bairro. O filme é uma produção modesta, com ótimas atuações. O roteiro é bom, pois trabalha com situações do cotidiano, sem grandes arroubos. O que incomoda é esse olhar feminista, de que homem é tudo chato e insensível. No final do filme, fico com a impressão que ninguém ali vale um centavo, e que quero todos bem longe de mim, incluindo as crianças chatas. Nota: 6

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

As lágrimas amargas de Petra Von Kant

"Die bitteren Tränen der Petra von Kant", de Rainer Werner Fassbinder (1972) Originalmente uma peça teatral escrita e encenada por Fassbinder em 1971, "As lágrimas amargas de Petra Von Kant" se tornou uma das peças teatrais mais encenadas na História. Aqui no Brasil, ganhou uma versão aclamada interpretada por Fernanda Montenegro, Renata Sorrah e Juliana Carneiro da Cunha. Fassbinder é representante, ao lado de Werner Schlöndorff, Werner Herzog, Win Wenders e Margareth Von Trotta, entre outros, do Novo Cinema Alemão, movimento que surgiu no final dos anos 60, trazendo como temática dos filmes a angústia e inquietude de uma geração de alemães que nasceram com o estigma de derrotados após as 2 grandes guerras mundiais. Fassbinder sempre foi fascinado pelo cinema melodramático do americano Douglas Sirk. Assim, nesse seu 13o filme, ele investe nesse gênero. O sucesso e a posterior derrocada de uma famosa e rica estilista por conta de um amor doentio fazem a alegria de qualquer roteiro de melodrama. Por ser baseado em peça teatral,. Fassbinder manteve a sua g6enese: o filme é todo ambientado em um único cenário: o quarto/escritório de Petra Von Kant. Além do enorme quarto, vemos um bar com garrafas de bebidas, mesa de escritório com uma máquina de escrever, uma escada que dá acesso à saída e um enorme painel, reproduzindo a pintura clássica renascentista "Midas e Dionísio", de Nicolas Poussin. O filme é todo protagonizado por mulheres: petra Von Kant, sua assistente Marlene, a amiga socialite Sidonie, a modelo Karin , sua mãe e sua filha. Fassbinder trabalha com duas de suas atrizes fetiches: Hannah Schygulla e Margit Carstensen, no papel principal. Porém, o personagem mais complexo e interessante se chama Marlene ( uma atuação formidável de Irm Hermann): ela é uma assistente escravizada e exculhambada por Petra, e ama esses maus tratos. A sua caracterização lembra a de um dos inúmeros manequins espalhados no cenário: sem piscar, sem falar, ela mesma parece um manequim, coma diferença que ela anda. A atuação de todas, sem exceção, é algo digno de nota: são atuações espetaculares. A fotografia de Michael Ballhaus, que futuramente veio a trabalhar com Scorsese em 'os bons companheiros", compõe cores fortes e vibrantes, dignas do melhor melodrama americano: amarelo, vermelho, enfim, cores quentes que trazem a emoção e sentimentos de seus personagens na sua cor. O filme é dividido em 5 atos: Petra é uma estilista famosa, e recebe a visita de Sidonie, sua amiga. Ela convida Karin, uma jovem que veio tentar a sorte na cidade grande. Petra, divorciada e viúva, imediatamente se apaixona por Karin. Petra adquiriu uma repulsa pelo sexo masculino e a presença de Karin a enlouquece. Petra pede que Karin venha morar com ela, e juntos, fazerem sucesso. O tempo passa, as duas dividem o mesmo espaço. mas Karin e' fria e manipuladora, assim como foi Petra. Só que dessa vez, os papéis se invertem: Petra, machucada pelo amor não correspondido, não consegue maltratar Karin. Um filme obrigatório para Cineastas, autores e atores, que aqui encontram um prato cheio de como filmar com pouco dinheiro, apenas se calçando em texto forte e atrizes talentosas. Resultado: uma pequena obra-prima do CInema. "As lágrimas.." acaba sendo o que "50 tons de cinza" tentou e não conseguiu: falar de dominação e submissão, dor e ódio, masoquismo e fetiches de uma forma verdadeira e pungente. Nota: 8

domingo, 22 de fevereiro de 2015

Amor à primeira briga

"Les combattants", de Thomas Cailley (2014) Quem foi que disse que o Gênero "Comedia" é desprestigiado nos Festivais de Cinema? Pois "Amor à primeira vista" venceu em 2 dos maiores Festivais de Cinema do mundo o prêmio de melhor filme. Em Cannes 2014, ele venceu todos os prêmios da Mostra paralela "Quinzena dos realizadores", um feito jamais alcançado por nenhum filme. No Cézar, ele venceu 4 prêmios: Melhor atriz, melhor filme de estréia, melhor edição e melhor novo Ator. Porquê tudo isso? Porquê o filme é maravilhoso, porquê o roteiro é delicioso, divertido, sensível, emocionante ( mesmo que lá pelo meio do filme dê uma escorregada, mas tudo bem, é roteiro de estréia). Porquê os dois atores protagonistas, Adèle Haenel e Kévin Azaïs, são dois rostos desconhecidos e por isso mesmo, surpresas para lá de gratificantes. Como eles são bons, carismáticos! O cineasta e roteirista Thomas Caulley é um cara de sorte. Poucas pessoas conseguem em um filme de estréia ganhar tantos prêmios, bombar nas bilheterias e chamar tanta atenção. E sendo ainda um jovem! Já tô vendo em breve uma refilmagem americana. O filme tem um grande mérito que é o de respeitar os espectadores, com situações críveis para personagens nas idades dele, nada de ridicularizar nem tratar os adultos como ignorante e estúpidos retardados. Tem gente que acha o filme sexista, machista, misógino. Mas esse ;e um mal infelizmente dos novos tempos: Tudo virou politicamente coreto, e as pessoas querem botar defeito em tudo, para justificarem a grande caretice que vivemos atualmente. Arnaud (Kevin Azais) é um jovem que trabalha com o seu irmão em uma carpintaria. O pai faleceu, e eles precisam tocar a pequena empresa. Um dia, na praia, Arnaud v6e uma tenda militar de alistamento e fica curioso. Ele conhece uma garota, Madeleine ( Adele Haenel), que também quer se alistar. Durante um exercício, ele luta com ela, e se estranham. A empresa é chamada para fazer serviço em uma casa e Arnaud descobre que a filha do casal é Madeleine. Ela é o oposto dele: enquanto ele é tranquilo, bacana, simpático, ela é irritante, pessimista e odeia tudo e todos. como a gênese da comédia vive dos opostos, ele se apaixona por ela. Até que ela se alista em um estágio de treinamento do exército, e ele resolve ir atrás só para estar perto dela. O filme, espertamente, mescla comédia, romance e drama em doses bem divididas. Há muito tempo eu não dava gargalhadas tão altas! Nota: 9

10.000 km

"10.000 km", de Carlos Marques-Marcet(2014) Em 2010, Drew Barrymore e Justin Long protagonizaram a comédia romântica "Amor à distância". Apaixonados, o casal é separado pela distância entre New York e San Francisco, o equivalente a 4700 km. Agora, o cineasta espanhol Carlos Marques-Marcet realiza a sua versão mais artística e menos comercial do filme. Em "10.000 km". um casal mora em Barcelona. Jovens, bonitos, eles planejam um bebê. Porém, a mulher recebe um convite para estudar por 1 ano com tudo pago em Los Angeles. Ap;os resolverem a crise da separação e de sonhos desfeitos de maternidade, eles mantém a chama acesa através de skype, sms e outras tecnologias. O cineasta Carlos Marques-Marcet morou em Los Angeles, e isso explica a sua afeição pelo tema de pessoas que se amam viverem em distância por um longo período. Ele agora faz parte de um grupo coletivo de cineastas espanhóis, intitulado "La Panda", onde executam filmes criativos de baixo orçamento. O filme é curioso, tecnicamente falando: ele abre com uma enorme cena de plano-sequência de 23 minutos!!!!!, onde o casal transa, escova os dentes, toma café, ele descobre os planos dela, discutem, dançam, etc. é incrível a espontaneidade tanto dos atores quanto do trabalho da câmera, sempre ali, fazendo um registro magistral do relacionamento, sem interferir. A partir daí, vemos o casal separados, e s vemos através de computador, celulares, fotos, etc. é um filme ousado em termos narrativos, pois o tempo todo, quase 100 minutos de projeção, só temos esses 2 atores. Nem figuração tem! é quase uma peça teatral que abusa do cinema para mostrar dinamismo. O maior trunfo do filme obviamente vem do despojamento do elenco, que improvisou muita coisa e co-assinam o roteiro. Natalia Tena ( a Osha de "Game of Thrones") e David Verdaguer dividem um super espaço nas telas com muita força, sensualidade, ternura e paixão por seus personagens. Não fosse por eles, o filme seria um grande saco, uma lavagem de roupa suja interminável. Acho até que o filme poderia ser enxugado em pelo menos 20 minutos. Me deu uma canseira lá pelo meio, quando a narrativa da história vai de dia a dia do drama contado do casal. Eu já tava querendo que pulasse para quase 1 ano, que é o prazo da jovem em Los Angeles. esse tipo de narrativa com 2 atores discutindo relação e em praticamente uma única locação ( no caso, 2 aptos), me remeteu ao Venezuelano "Na cama", onde 1 casal discute a relação em um quarto de motel. O filme foi rodado em Barcelona e em Los Angeles, mas eu mesmo fico na dúvida se essa casa de Los Angeles não seria mesmo em Barcelona. Não consegui achar informações sobre isso . Acredito que o filme deva atingir mais casais que vivam esse momento dramático de separação. E a gente sabe, separação significa esfriamento de relação. Não há tecnologia que substitua o corpo quente do lado na cama. Nota: 7

O triângulo do diabo

"The Bermuda triangle", de René Cardona Jr (1979) Esse filme de 1979 foi responsável por tirar várias noites de sono na época que eu assisti na Tv quando criança. eu achava tudo assustador, a começar pelo título que incluía "Diabo" ( no original nem existe, se chama "Triângulo das Bermudas"). O filme é forte candidato a um dos piores filmes de todos os tempos, e aí reside o seu charme. Para começar, o filme é dirigido por um cineasta mexicano, René Cardona Jr, já famoso na época por realizar um filmes bem trash. No elenco, temos a ilustre presença de John Houston, um dos maiores cineasta americanos de todos os tempos, fazendo aqui uma caricatura de si mesmo, o velho rabugento. Uma prova de que dinheiro compra tudo. Também temos Marina Vlady, atriz italiana que já venceu um prêmio de melhor atriz em Cannes nos anos 60. esse filme tenta repetir a fórmula dos filmes catástrofes, famosos na época, com astros protagonizando histórias de ação e aventura. Nesse "Triângulo do Diabo", o que menos existe é ação. Em quase duas horas de filme, o que vemos é um tédio profundo e algumas cenas hilárias, protagonizadas por uma menina possuída pelo diabo, que habita o corpo de uma boneca encontrada no oceano. Ou seja, uma pré- Anabelle. O filme narra a história de uma expedição em direção ao triângulo das Bermudas, para caçar tesouro submarino. Só que ao chegaram lá, estranhas coisas acontecem, e as pessoas vão morrendo uma a uma. As cenas de morte são divertidas, cafonas e bizarras. Tudo é mal feito, os atores são péssimos e dublados em inglês. Só para quem não sabe: O triângulo das Bermudas, uma área do Oceano no Caribe, é considerado um local onde consta vários casos de desaparecimento de barcos, navios, aviões. Isso remete a séculos. Nota: 2

sábado, 21 de fevereiro de 2015

Timbuktu

"Timbuktu", de Abderrahmane Sissako (2014) Um fato curioso me fez entender o que está se passando no mundo de hoje, e que ficou refletido na escalação dos 5 filmes que concorrem ao Oscar estrangeiro de 2015. Todos os 5 filmes possuem um tema em comum: o Estado opressor, que dizima, aniquila, qualquer possibilidade de um cidadão exercer os seus direitos. Liberdade é uma palavra que não existe, quanto mais lutar pelos seus direitos. O que o estado deseja? Que o cidadão permaneça calado, apenas obedecendo as leis insanas. Assim acontece em "Relatos selvagens" ( moradores de Buenos Aires vivendo momentos de tragicomédia, oriundos de um Governo falido), "Ida ( o comunismo na Polônia retratado por uma freira que se descobre judia), "Leviatã"( Na Russia democrata, o ranço do comunismo e da corrupção ainda permanece na burocracia do Estado), "Tangerina " (a guerra insana entre o Governo da Georgia e da Estônia, provocando o medo nos moradores) e finalmente, "Timbuktu". Nesse filme da Mauritâmia, acompanhamos a invasão de extremistas jidhahistas em Tombuktu, uma cidade no centro de Mali, África. Durante 9 meses, em 2012, os extremistas vieram com regras que proibiam música, jogo de futebol, relação extra-conjugal e outras atrocidades, como mulheres obrigadas a usar luvas. O filme se baseia em pequenas histórias reais, e pessoas comuns que ousaram ir contra essa obrigação. Os moradores da região são fanáticos religiosos, e pela fé em Deus, eles mantêm sua tradição cultural, enfrentando as proibições dos guerrilheiros. Entre essas histórias, temos a de uma família de pastores cujo pai acidentalmente mata um pescador durante uma briga. Para essas pessoas, eles somente teme a Deus, e aceitam conformados o seu destino, seja qual for. A beleza dessa história é que a mulher tenta mudar o destino do marido. Como um "Amarcord", o filme é repleto de poesia, mas infelizmente, proveniente de violência e tragédia. Muitas cenas antológicas: a partida de futebol em bola, a mulher sendo açoitada, o soldado dançando, observado pela louca da cidade, o desfecho das crianças correndo, a cena dos moradores cantando. Em 'Cidade de Deus", o filme foi criticado por extrair beleza da violência. Aqui também não deve ser diferente. O mais espantoso é descobrir que a maior parte do vasto elenco é composto por não-atores pescadores, refugiados. Aí fica a pergunta: a verdade incrustada nessas pessoas, sofridas pela violência e pela fome, fazem com que elas sejam melhores atores do que atores de verdade que não passaram por essa situação? Uma outra cena digna de nota: um dos soldados tentando gravar um depoimento amador para uma câmera. O outro guerrilheiro vai "dirigindo"as suas intenções e performance, como se fosse um Ator. Genial. E isso não é tudo: o filme tem 2 trunfos magistrais na parte técnica: a fotografia magistral de Sofian El Fani, e a trilha sonora pungente de Amin Bouhafa. Ambos nos levam para essa realidade brutal, fazendo com que, ao memso tempo que rimos e nos comovemos com cenas de um humanismo puro, a gente contorça a cabeça e feche os olhos para cenas de apedrejamento e de chicotadas em praça pública. Forte, doloroso, e muito cruel. Ao final da projeção, fica um vazio terrível. Em que mundo vivemos hoje? O filme concorreu em Cannes 2014, levando o Prêmio ecumênico. Nota: 9

Os passageiros

"Les passagers", de Jean-Claude Guiguet (1999) Um filme ensaio sobre a solidão, a carência afetiva, o desamor, a melancolia, a tragédia, a morte, o desemprego. Belamente filmado e fotografado, o filme é como se fosse uma sinfonia de uma grande Metrópole que está morrendo, no caso, Paris. Do trajeto de trem, onde os personagens se conhecem vemos um cemitério, como que enterrando todas as pessoas e seus desejos e vida que n!ao se concretizaram. "os passageiros"é um filme sui generis. O filme relata a rotina de passageiros, figuras anônimas, que fazem um trajeto pelos subúrbios de Paris diariamente. Ou vão para o trabalho, ou cemitério, ou encontrar alguém ou ir alugar algum. Costurando todas as histórias, existe Anna, uma médica no alto de seus 60 anos. Solitária, ela observa os passageiros e cria histórias sobre eles. Daí, quando esses passageiros saem do trem, acompanhamos suas verdadeiras histórias. As pequenas histórias são quase sempre de desamor, de tristeza. É um filme muito belo, quase uma poesia. Inclusive, lá pelo desfecho, ele se transforma em um ensaio verborrágico, de pessoas falando para a câmera. Uma cena me impressionou: no meio do filme, um senhor de meia idade faz um monólogo de quase 6 minutos sobre a homossexualidade e suas questões. Sublime atuação. O que mais amei no filme foi não ter nenhum ator conhecido. São pessoas anônimas, que poderia muito bem ser quem está sentado do seu lado no ônibus ou no metrô. E eu confesso que adoro criar histórias sobre as pessoas. O filme também se presta a fazer um discurso contra o desemprego, contra a política do Governo falido que não visa a sua população, e sim, seus interesses. Sôa comum, não? Concorreu em Cannes na Mostra "Um certo olhar"em 1999. Nota: 8

Devido a um rapaz

"À cause d'un garçon", de Fabrice Cazeneuve (2002) Se formos contar quantos filmes já foram realizados com o tema "saída do armário", provavelmente daria para encher um Casashopping com móveis para decorar quartos do Rio de Janeiro inteiro. Nesse drama francês, não há novidades. Vincent, um jovem nadador de 17 anos, é o rapaz modelo do colégio. As meninas querem namorar com ele, os rapazes o invejam, seus pais o idolatram e sua namorada é apaixonada por ele. O que há de errado em Vincent/ Ele é gay, e tem medo de se assumir e perder todos os seus previlégios. Mas um dia, surge um novo garoto na escola, e ele fará Vincent se balançar. Mas esse será um golpe duro: todos acabam sabendo de suas preferências sexuais, e Vincent precisará lidar com essa s;ubita reviravolta em sua vida. Um tema delicado tratado de forma honesta, sem grandes arroubos de roteiro, portanto, não esperem grandes reviravoltas. A direção é correta, os atores estão bem. O que é ruim? A trilha sonora, que é pavorosa e totalmente fora do eixo e desconectada com as cenas. Não fossem algumas cenas de nudez light, o filme facilmente poderia passar em um sessão da tarde. Tovesse sido lançado de forma mais adequada pelos distribuidores, poderia ter se transformado em um pequeno cult da garotada Lgbts, assim como "Delicada atração" e "Tempestade de verão". Nota: 6

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

A pequena morte

"The little death", de Josh Lawson (2014) O cineasta australiano Josh Lawson escreveu, dirigiu e protagonizou essa comédia de humor negro que tem como tema Sexo e fetiches. O filme é praticamente uma resposta aos "Ninfomaníacas 1 e 2", de Lars Von Triers. Josh Lawson junta no filme vários casais, todos com problemas sexuais. São várias histórias que se entrecruzam como em um filme de Robert Altman. Os fetiches são os mais loucos possíveis, e fico até na dúvida se eles existem: tem fetiche por ver alguém chorando, fetiche por ver alguém dormindo, fetiche por biscoitos, fetiche por estupros. O maior barato do filme é que o autor caga literalmente para o politicamente correto. Muitas cenas são insanas, fogem do padrão do que seria um bom comportamento. Estupros consentidos por uma esposa tarada, ou estupros sem que a outra parte saiba. Assim é esse filme, que faz rir, faz pensar em loucuras, mas peca pela repetição de suas idéias e pela falta de conclusão satisfatória em todas as histórias. No final, fica parecendo apenas brincadeiras sexuais de adultos tarados. Boa parte deles agindo como crianças retardadas. O elenco diverte e é o ponto alto do filme. Ah, o título "Pequena morte" é uma gíria que quer dizer "orgasmo". Falando em Altman, o filme até faz uma referência a um de seus filmes, "Short cut": a call-sex, quando vemos que a garota que atende do outro lado de voz sexy na verdade está em casa fazendo afazeres domésticos. Nota: 7

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Nuummioq

"Nuummioq", de Torben Bech e Otto Rosing (2009) Esse filme de 2009 é o primeiro filme a ser realizado na Groenlândia. É também o primeiro e único a ser indicado pelo País a disputar o Oscar de filme estrangeiro. Todo falado na língua local, é um drama muito triste e melancólico. O título, "Nuummioq", se refere ao morador que nasceu na capital, Nuuk. Impressiona o fato da equipe ser toda de amadores. A qualidade técnica é melhor que muito filme que temos visto,a destacar a fotografia e a direção. O elenco também é formado por não profissionais. Isso explica o tom naturalista das performances, principalmente do protagonista, Lars Rosing, no papel de Malik. Lars é irmão de um dos diretores, Otto Rosing. Alíás, Otto Rosing apenas começou as filmagens, e teve que ser sisbtituído pelo roteirista Torben Bech, pois foi diagnosticado com depressão profunda. Malik é um construtor de obras que mora em Nuuk. Ele e seus dois amigos, Michael e Carstern trabalham juntos em várias obras. Um dia, ao levar Carsten ao hospital por ele ter tomado Viagra e passou mal, Malik desmaia. Ele é diagnosticado como portador de câncer terminal. Essa notícia chega de forma devastadora para Malik: forte, jovem, bonito, paquerador, apaixonado pelos amigos e familiares, ele resolve não contar para ninguém de sua doença. A médica diz que ele precisa ir até a Dinamarca fazer um tratamento, que apenas ira prolongar em pouco tempo sua vida. Malik fica em conflito se vai fazer o tratamento ou se fica próximo dos amigos e da mulher que ama, Niv. Como não poderia deixar de ser, o ponto forte do filme são as belíssimas locações gélidas da Groendlândia. Me remeteu imediatamente ao filme do Ben Sitller,"Walter Mitty", filmado em parte lá. Que lugar maravilhoso. A história é forte, mas narrada em tom naturalista, sem apelar para melodrama. Os "atores" estão bem e o filme é bem conduzido. O ritmo é bem lento, e o filme se propõe a contar alguns sub-plots, talvez desnecessários, para estender a questão da mortalidade. Nota: 7

Bob Esponja: Um Herói Fora d'Água

"The SpongeBob Movie: Sponge Out of Water", de Paul Tibbit (2015) Após 10 anos do lançamento do 1o longa do Bob Esponja, a continuação segue com outro diretor, Paul Tibbit. Ele dirigiu vários episódios e também é roteirista, logo, a pessoa mais apropriada para dar prosseguimento a essa franquia milionária. Dessa vez, Bob esponja e sua turma precisam descobrir o paradeiro da formula secreta do hamburguer de siri, que estava para ser roubada pelo Plancton mas misteriosamente, desapareceu. Para isso, eles precisam seguir para a superfície, e resgatá-la das mãos do pirata Barba Burguer (Antonio Banderas). O que eu mais gosto dos desenhos do Bob esponja, é a total liberdade para pirar e fazer uso de qualquer artifício para provocar risadas e tiradas paródicas de tudo e de todos. Não sobra pra ninguém. Aqui, eles fazem até uma pequena referência a "O iluminado", na figura de 2 pirulitos-siamesas. Vários momentos de pura loucura, boa parte protagonizada por um golfinho guardião da galáxia. Toda vez que ele fala, é interrompido pelos chamados do golfinho. É de cagar de rir. Essa continuação não é tão divertida quanto ao longa original, mas garante ótimos momentos de anarquia. Eu ri bastante, e parecia um maluco no cinema. Acho até que Bob esponja funciona às vezes melhor com adultos do que com crianças. Nota: 7

O juizo final de Danny

"Dannys dommedag ", de Martin Barnewitz (2014) Filme de ação e aventura dinamarquês, uma novidade para o gênero cinematográfico do País. Uma pena que o roteiro tenha copiado os piores clichês do cinema americano para realizar essa produção. A começar pela falta de orçamento melhor para se produzir esse "Cloverfiled" independente. Os monstros aqui quase nunca são vistos, é aquele tal de aparição pra cá, aparição pra lá, sem focar nos bjchos. Pior, quase 2/3 do filme se passa dentro de um porão, onde 2 irmãos se escondem. O restante do filme se passa no...porão da escola! Tudo bem, o filme é sem grana..e até tenta dar um clima meio de filme de arte europeu. No elenco, para interpretar o pai, colocam o ator Lars Mikkelsen, que vem a ser o irmão menos famosos de Mads Mikkelsen, de "A caça". O filme já começa com aquele prólogo típico: uma embarcação pesqueira que é atacada apenas para apresentar aos bichanos que nem são vistos. É quase uma paródia de "Tubarão". O filme narra o drama dos irmãos Danny e Wollian. Eles não se dão, e vivem brigando. Na escola, Willian sofre bullying e Danny nada faz. O calor na cidade está em um estágio fora do normal, e isso faz com que criaturas do fundo do oceano surjam na cidade e matem a população. Danny e Willian tentam sobreviver e se aliam a outros sobreviventes para poder lidar com os monstros. Quem sabe talvez os monstros não sejam apenas uma metáfora da relação tempestuosa entre os irmãos? Sessão da tarde, pois nem sangue tem. Nota: 5

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Um outro homem

"Un autre homme", de Lionel Baier (2008) Drama suíço falado em francês, e filmado em preto e branco. O fllme narra a história de um jovem desempregado que mora com sua namorada professora em um vilarejo afastado de grande cidade, François (Robin Harsch) procura emprego e acaba fazendo uma entrevista para um pequeno jornal local. Ele não é jornalista e acredita escrever melhor que os profissionais. Arrogante e alpinista profissional, ele mente ao editor, dizendo que gosta de cinema, e a partir daí, ele assina também a coluna de crítica de cinema do jornal. François, no entanto, não gosta de ver filmes de arte. Sem saber o que escrever, ele descobre uma obscura revista sobre cinema francesa e copia literalmente as críticas, assinando como se fossem de sua autoria. Durante uma sessão de cinema para críticos na cidade grande, ele conhece a crítica Rosa Rouge. Ela logo descobre que François é uma farsa, mas ao invés de bani-lo, ela faz dele gato e rato em uma relação sexual de dominadora e submisso. Tendo obviamente o próprio cinema como tema, o filme discute a relação dos profissionais que são cada vez mais colocados de lado das críticas, que ficam nas mãos de amadores iletrados. A personagem de Rosa Rouge surge como um anj vingativo, que pune esses fraudadores. Bem dirigido, com um charme vintage de filmes franceses dos anos 60, principalmente os de Truffaut e de Claude Chabrol, o filme é uma modesta homenagem à arte do amor cinematográfico. O filme se permite a certas ousadias fetichistas, resgatando assim, a liberdade criativa dos cineastas de antigamente, que não se curvavam à censura. Nota: 7

The maker

"The maker",de Christopher Kezelos (2011) Fabuloso curta-metragem australiano em stop motion, de apenas 5 minutos. Nesse curto tempo, o filme fala justamente sobre o...tempo. E de forma extremamente concisa e brilhante. Uma criatura luta contra uma ampulheta e precisa realizar a sua grande obra no tempo determinado pelo instrumento. Uma espécie de "A noiva de Frankestein" , possui fotografia, direção de arte, música e direção precisas e irretocáveis. Fiquei bastante emocionado pelo lirismo e pela criatividade dos realizadores dessa obra. Para quem ama animação, é obrigatório. Nota: 10

Sugar

"Sugar", de John Palmer (2004) Drama canadense de baixo orçamento, baseado em curtas escritos pelo cineasta Bruce La Bruce, um dos expoentes do New Queer cinema americano. O filme ficou famoso também pela morte do protagonista Andre Noble, semanas após o lançamento comercial do filme. Andre era considerado um astro em ascenção no Canadá, e o filme foi comparado a "Garotos de programa", de Gus Van Sant, filme com Keanu Reeves e River Phoenix. O filme narra a história de Cliff ( Noble), que acaba de completar 18 anos. Seguindo uma orientação de sua irmã pequena, ele vai em busca de sexo. porém, atormentado por conflitos de identidade sexual, ele acaba conhecendo o garoto de programa Butch (Brendan Fehr). Butch é usuário de drogas e tem personalidade violenta, mas Cliff se apaixona por ele. Os dois travam uma amizade, mas enquanto Cliff deseja namorar Butch, esse somente pensa em fazer dinheiro com clientes e se drogar. Realizado de forma quase amadora, o filme se calça nas boas performances doa protagonistas, incluindo uma participação da atriz e diretora Sarah Polley, no papel de uma traficante. O roteiro recebeu alguns prêmios, e no Canadá o filme ganhou status de cult. Uma produção razoável, que investe em cenas pesadas dentro de um cenário de drama comportamental. Destaque para a menina que interpreta a irmã pequena de Cliff, ela é ótima. Nota: 5

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Somente para amantes

"For lovers only", de Michael Polish (2011) Delicado e lindo drama romanceado sobre dois amantes que se reencontram em Paris, durante um evento profissional. Apaixonados e sem poder negar o amor que sentem um ao outro, eles mentem para seus conjugues e adiam o retorno para casa. Os dois passam dias viajando pela França, e se amando como se os dias não acabassem jamais. Filmado com uma câmera SLR e com orçamento minimo e equipe pequena, o filme tem uma extraordinária foto em preto e branco do próprio diretor, Michael Polish e é protagonizado por seu irmão, Mike Polish, muito semelhante a Vincent Cassel. Obviamente, o filme tem uma tema muito semelhante com "Antes do entardecer", segundo filme da trilogia de Richard Linklater, ambientado em Paris. No entanto, o filme de Polish se aproxima mais da fotogenia e do apuro visual de "Um homem, uma mulher", de Claude Lelouch, do que do filme de Linklater. O filme tem poucos diálogos, e se baseia muito nas imagens e no silêncio dos personagens. Cada fotograma do filme parece uma foto de capa da Revitsa Vogue, de tão lindo e poético que é. Os dois atores exalam charme e sofisticação, e o filme tem bastante glamour, incrível para um filme rodado sem grana e em locações reais. Para casais apaixonados ou em crise de casamento, essa é uma boa pedida. Qualquer coisa, corram para um amante! Nota: 8

A possibilidade infinita do céu

"The endless possibility of sky", de Todd Verow (2012) Todd Verow é um dos maiores expoentes do New Queer Cinema americano, que surgiu nos anos 90, ao lado de Bruce la Bruce, Todd Haynes e Gus Van Sant. São filmes produzidos com muito pouco dinheiro, elenco amador, mas para compensar tamanha falta de recursos, muito sexo e transgressão. Aliás, Todd Verow em seus filmes costuma fazer o sexo brotar em profusão, de forma explícita e livre, sem qualquer tipo de censura. Sexo em grupo, sem camisinha, sujo e com muita adrenalina. Em "A possibilidade infinita do céu", ele mais uma vez trabalha com o seu ator fetiche, Brad Hallowell. Esse tipão James Dean de ser interpreta um jovem , Drew, que mora em uma pequena cidade do Maine, e entre o tédio da vida e o tédio do trabalha, transa alucinadamente e usa drogas sem qualquer limite. Drew escreve um diário e nele escreve sobre as pessoas que conhece e que vivem uma situação como a dele. São personagens sem futuro, desesperançados, que vivem para o sexo e para as drogas. Tem o ator pornô, tem o michê, tem o ex-namorado de Drew que se acha portador do HIV. Todos eles se encontram no apartamento de Madame Datina, um misto de cafetina e traficante, que oferece sexo e drogas para os que entram em seu cafofo. A direção e a atuação do elenco são amadoras, mas por incrível que pareça, possuem um charme de filme independente, fazendo um registro de uma sociedade decadente, assim como fizeram Andy Warhol, Paul Morrisey e John Waters em seus filmes undergrounds. O filme mistura animação, sexo explícito e muita purpurina para dar essa visão de mundo pessimista de Todd Verow. A frase do filme: "Quando você atinge o céu, tudo pra baixo é apenas queda". Nota: 6

Melody- Quando brota o amor

"Melody", de Waris Hussein (1971) Maravilhoso drama romântico inglês, que fala sobre o primeiro amor entre duas crianças de 10 anos. Filmado em 1971, esse longa tem muita semelhança com a obra-prima inglesa "If.", de Lindsay Anderson. Ambos os filmes fazem uma severa crítica ao sistema educacional inglês, onde os professores castigam os alunos com tapas e chibatadas. Os dois filmes também fazem uso da anarquia e da sátira para mostrar a rebeldia dos protagonistas. Malcom Macdowell, de "If..", encontra a sua versão mirim na performance irretocável de Mark Lester. Lester já havia protagonizado o filme musical "Oliver"em 68, junto de seu outro companheiro de cena, Jack Wild, que também está hilário, no papel de um aluno porra louca. A menina Tracy Hyde, modelo na época, é uma linda garota talentosa e que atrai a atenção da câmera. Os momentos românticos dois dois, culminando em um passeio na praia e no parque e de diversões, é antológico. O roteiro é assinado pelo então desconhecido Alan Parker, e as músicas da trilha sonora, dos Bee Gees. é romantismo para todo lado. os diálogos são verdadeiras pérolas, com falas do tipo: "Será que você me amará por 50 anos?", "Claro, já estou te amando por 1 semana.". Outro charme do filme é poder ver Londres do início dos anos 70, com os figurinos sensacionais, penteados, e aqueles atores ingleses que tanto amamos. O desfecho do filme é um dos mais anárquicos que já vi. Louco demais, pena que a caretice e o politicamente correto dos dias de hoje impossibilitem que cenas como essa voltem a ser realizadas. Daniel (Lester) é um garoto que adorar anarquizar com seu melhor amigo, Ornshaw (Wild), que mora com seu avô. Os pais de Daniel o ignoram. Um dia, durante uma aula de música, Daniel olha para Melody, uma aluna, e imediatamente se apaixonam. É tão lindo assistir ao filme, com sua pura ingenuidade e amor idealizado...nos anos 90 tivemos " Meu primeiro amor", com Macaulay Culkin e Anna Chlumsky​, que tentou resgatar essa atmosfera. Nota: 9

domingo, 15 de fevereiro de 2015

A qualquer preço

"I am here", de Anders Morgenthaler (2014) Kim Basinger retorna sua carreira com um drama dinamarquês que com certeza, é a sua melhor performance em toda a sua filmografia. Em uma atuação corajosa em um filme totalmente dark e perverso, Basinger não impõe limites para a sua performance. Visceral, vibrante, ela, aos 61 anos de idade, prova que ainda tem muito o que mostrar para os espectadores. Dirigido pelo dinamarquês Anders Morgenthaler, responsável pelo episódio "K for klutz" do filme de terror "Abs da morte", mantém uma linha de filmes europeus totalmente depressivos e que mostram uma sociedade falida, sem compaixão, perversa, solitária, sem amor ao próximo. Filmes como "A Europa está morta" ou "Import export" revelam o lado mais podre e transgressor do ser humano, capaz de agir violentamente quando se faz necessária a sobrevivência. Basinger é Maria, uma poderosa empresária na Dinamarca. casada com Peter ( Sebastian Schipper. de "Corra Lola Corra"), ela tenta a todo custo ter um bebê. Na última tentativa, ela perde o bebê, e causa, segundo o médico, é sua idade avançada. Proibida d etentar outra gravidez, ela entra num estágio de depressão e paranóia, o que faz seu marido abandoná-la. Maria, totalmente focada em ter um filho, resolve seguir até a Alemanha para comprar um bebê no mercado negro, onde é comum comprar bebês de prostitutas menores de idade. Mas ela acaba entrando em um jogo perigoso que pode arriscar sua vida. Tenso e angustiante, o filme faz um retrato cruel de uma Europa que não se encontra nos cartões postais. A direção de Anders Morgenthaler é certeira, apesar de apostar em elementos fantasiosos que podem fazer alguns espectadores estranharem ( o bebê perdido de Maria fala em off na sua mente). A fotografia mantém em tons escuros a atmosfera depressiva, assim como a trilha sonora. o Elenco de apoio é excelente, com destaque para o anão Jordan Prentice, de "Na mira do chefe". Não é um filme recomendado para qualquer um, devido ao seu baixo astral. Uma pena que não tenha sido comercializado nos cinemas, é um filme forte que botaria Basinger disputando prêmios. Nota: 8

Ainda adoráveis

"Lovelly, still", de Nicholas Fackler (2009) Drama sentimental que arranca risos e lágrimas do espectador a qualquer custo. E isso não é ruim. Apostando na fórmula clássica de filmes que possuem uma reviravolta na história, "Ainda adoráveis" encontra nos talentos inquestionáveis de Martin Landau e Ellen Burstyn o veículo certo para emocionar sem cair no romance barato. Dirigido e escrito por um cineasta estreante, foi um desafio que poderia ter enterrado de vez o filme. Afinal, contar a história de amor de pessoas de terceira idade, não é para qualquer um, ainda mais dirigindo esses dois monstros sagrados. Na 1a parte da história eu confesso até estar me sentindo incomodado com alguns sub-plots, como a do gerente do supermercado, Mike, mas depois tudo se esclarece e fica plausível. Outro item que me incomodava eram os recorrentes efeitos de tela azul e vermelha, algo como fantasmas passeando na tela, e isso também se explica na trama. O filme narra a história de Robert Malone ( Landau), um idoso solitário que trabalha em um supermercado, gerenciado por Mike. Um dia, ele observa, ele conhece Mary ( Burtsyn), uma senhora que se muda para a casa da frente junto de sua filha, Alex ( Elisabeth Banks). Os dois imediatamente se apaixonam, e se vêem até a véspera do Natal, quando prometem passar o dia todo juntos. Tímido, Robert se deixa levar pela espevitada Mary, até que um segredo surge para transformar a vida dos dois. O roteiro é engenhoso em enganar o espectador algumas vezes, como no lance dos remédios. Muita gente pode reclamar do excesso de melodrama da história, mas eu gostei, acho que resgata um tipo de filme que se faz muito pouco hoje em dia. Lindo, lírico, um rico painel de tipos solitários que deixa a gente com lágriuma no canto dos olhos. Simples na forma, mas feliz no resultado. Nota: 8

A pele de Vênus

"La Vénus à la fourrure", de Roman Polanski (2013) Exibido na Mostra competitiva em Cannes 2013, "A pele de Vênus" é uma adaptação da peça teatral "Vênus de vison", do americano David Ives. encenada com muito sucesso na Broadway. Polanski, em 2011, já havia realizado outra adaptação teatral, com a peça "O Deus da carnificina". O seu apreço por texto e trabalho com atores tem se intensificado ainda mais, após a reclusão que lhe foi imposta pelo Governo suíço, quando esteve presente em um Festival de cinema. Para fugir da mídia, Polanski tem filmado em estúdios ou locações únicas, evitando o assédio da imprensa. Com apenas dois personagens ( Mathieu Amalric e Emanuelle Seigner), o filme narra a relação entre um autor/Diretor e uma atriz. Thomas adapta o livro "A Vênus de vison", de Leopold von Sacher-Masoch, considerado o pai do fetiche masoquista. Ele também fará a sua estréia como Diretor teatral. Em um dia de muita chuva, ele faz mais de 30 audições com atrizes para o papel principal de Wanda, mas nenhuma lhe satisfaz. Quando resolve ir embora, já sem ninguém no teatro, eis que surge, atrasada, Vanda. Com o mesmo nome da personagem da peça, Vanda se acha perfeita para o papel. Thomas se recusa a fazer a audição, mas com a insistência de Vanda, ele cede. A partir daí, o filme discute relação de poder sexismo, machismo, fetiches, fazendo a inversão de papéis tanto na função Ator/Diretor, quando no sexo, homem/mulher, Dominador/Submisso. A mescla de ficção e realidade fica ainda mais intensa e confusa quando os personagens da peça se chamam os nomes doa personagens do filme. Brilhantemente executado por Polanski, ele conseguiu o feito de evitar que o filme se tornasse enfadonho, uma vez que ele acontece todo em um palco de teatro e apenas com 2 personagens. Para tanto, ele ajudou a fazer a adaptação da peça e contou com o trabalho de sua esposa, Emanuelle Seigner, e do Mathieu Amalric, um dos melhores atores franceses em atividade. O que se v6e na tela é um embate fabuloso entre 2 atores, que caem dentro dos personagens, sem medo de se expor ao ridículo e ao caricato. Abusando da sensualidade e vulgaridade, Emanuelle trabalha com perfeição o seu difícil papel. A trilha sonora de Alexandre Desplat dá o tom exato da sátira de época, e a fotografia do parceiro de Polanski, Pawel Edelman, reforça a dramaticidade do texto. O filme tem diálogos divertidissimos, fazendo desse filme uma deliciosa sátira como a muito não se via. Um presente para qualquer ator. Nota: 9

Gangues de Tokyo

"Tokyo tribe", de Sion Sono (2014) Baseado no mangá de Santa Inoue, "Tokyo tribe", "Gangues de Tokyo"com certeza é um dos filmes mais bizarros da história do cinema. Sion Sono, o cineasta mais cult do Japão, conseguiu realizar um filme mais anárquico e perturbador que seu filme anterior, "Porquê você não brinca no inferno?". Aqui, ele pega a atmosfera de "Blade Runner", "The warriors", "West Side Story" e "Laranja mecânica" e transforma tudo em um épico musical cantado em Hip Hop. Batalha de Hip Hop, garotas de bikini, estupros, gore, lutas de espada, paródia de "Kill Bill", tank girl, Samurai cibernético, Kung Fu, armas anhadas em ouro, centrifugador gigante para moer pessoas, piunks, nerds, canibalismo, mobílias humanas, neons coloridos, Mc apresentando o filme, fogos de artifício, discussão sobre tamanho de pau, terremoto...tudo isso e muito mais brota aos borbotões dessa fábula futurista. O principal é deixar o cérebro em casa. Daí, é só diversão. O filme é 100% uma viagem lisérgica rumo ao Cinema totalmente marginal e sem compromissos com regras. No futuro, Tokyo está dominada por várias gangues. Cada bairro é dominado por uma. Eles vivem em constante tensão, porém, respeitam seu espaço. Mas naquela noite, um evento fará com que o líder canibal de uma gangue resolva destruir todas as outras, e cabe a Kai, um líder de um grupo pacificador, tentar evitar a chacina, propondo a união de todos. O filme tem vários planos-sequências, mas o que abre o filme é simplesmente genial. Usando movimentos de grua e steadi em conjunto, o filme narra a trajetória das gangues de uma só vez. Repleto de cenas antológicas, embaladas por um visual vintage anos 80, com cenários mega coloridos, neons e grafites. Sion Sono é dos poucos cineasta no mundo que não tem medo de se expor ao ridiculo. Ele faz suas obras sem medo, e ganha fãs cada vez mais ávidos por histórias loucas de fetiches, sexo e perversão. Às vezes ele percorre dramas humanizados, como em "Himizu" , "terra da esperança" e "A mesa de jantar de Noriko", mostrando que também sabe contar um drama de forma extremamente eficiente e emocionante. Pop ao extremo, o filme fara á alegria de cinéfilos nerds que se amarram em filmes referenciais. O elenco se diverte, cantando hip hop e matando quem está na frente. Mega cult do novo milênio. Nota: 8

sábado, 14 de fevereiro de 2015

Selma- Uma luta pela igualdade

"Selma", de Ava Duverney (2014) Drama biográfico que espertamente, foca em um acontecimento do biografado, evitando assim aquele ranço que apresenta décadas da vida do personagem de forma esquemática. No caso, o filme narra os eventos das 3 tentativas de marchas que aconteceriam entre Selma, município do Estado de Alabama. até a capital do estado, Montgomery. São 85 kilômetros. Essa marcha tinha 2 objetivos: protestar contra a morte de um jovem negro durante ação policial, e a luta do movimento negro pelo direito de votar. Paralelo, o filme narra a trajetória de Martin Luther King, desde a sua nomeação para o Nobel da Paz em 64, passando pelas 3 marchas, e a luta pelo direito dos votos. Suas rusgas com o Presidente Lindon Johnson e o Senador George Wallace, contrários à igualdade racial na eleição, e como todo o seu esforço acabou afetando sua relação com sua esposa, Coretta. O filme termina com a última marcha, que seguiu até Washington, e com a aprovação da lei da igualdade de votos para todas as raças e sexo. O filme não mostra o assassinato de King, que aconteceria 3 anos depois. A cineasta Ava Duverney se cercou de técnicos negros ( o fotógrafo Bradford Young, o músico Common ( que também atua no filme, no papel do líder James Bevel) e cuja música, "Glory", ganhou o Globo de Ouro. O elenco principal é todo inglês: o protagonista David Oyelowo ( injustamente esquecido no Oscar, e que já apareceu em "Interestelar"), Carmen Ejogo ( a esposa Coretta), Tom Wilkinson ( Presidente Lyndon) e Tom Roth ( George Wallace). Estão todos excelentes. O elenco também tem porrada de participações especiais: Oprah Winfrey ( também produtora do filme), Martin Sheen, Cuba Gooding Jr, Giovani Ribisi, entre outros. A direção de Ava caminha entre o inevitável didatismo da história com momentos emocionantes, entre elas, as marchas da população. O Discurso final também é sensacional. Toda a parte técnica é impecável. Sendo um filme histórico, 'Selma" é longo, quase 130 minutos. Ao longo do filme, fiquei pensando na semelhança entre a estrutura desse filme e a de "Milk", de Gus Van Sant e vi muita coisa parecida. Luta de minorias, esforço pelo reconhecimento, manifestações, assassinatos...enfim, 2 bons exemplos de filmes de contestação histórica. Nota: 7

Two night stand

"Two night stand", de Max Nichols(2014) Estréia na direção do filho do consagrado Cineasta Mike Nichols, Max Nichols, é uma deliciosa comédia romântica, com um sabor nostálgico de clássicos antigos, como "Harry e Sally" e "Alguém muito especial". A trilha sonora é sensacional, evocando justamente esse momento vintage anos 80. Apostando 100% no talento dos jovens atores Analeigh Tipton e Miles Teller ( o jovem baterista de "Whiplash"), o filme é uma ótima pedida para casais românticos. Assim como em "Quem tem medo de Virginia Wolf", dirigido por seu pai, "Two night stand" se passa praticamente dentro de um apartamento. Dessa forma, o filme se baseia todo nos diálogos e nas performances dos 2 atores. Sem cair na teatralidade, os atores esbanjam espontaneidade e muita simpatia. Megan é aquela menina difícil, traumatizada por um namoro desfeito e descrente do amor. Alec também passa por um momento que será revelado depois, e ambos querem apenas afogar suas mágoas em uma relação de apenas uma noite. Os dois se conhecem em um site de bate-papo. Megan vai até a casa dele, passa a noite,mas no dia seguinte, ao ir embora, descobre que Nova York amanheceu de baixo de uma nevasca, Impossibilitada de ir embora, ela é obrigada a aguardar dentro do apartamento de Alec. Sem qualquer tipo de afinidade, os 2 passam o dia discutindo relação, diferenças, e quando menos vêem, estão mais próximos do que parece. O filme tem uma questão: ele é bastante verborráico. Talvez canse, mas vale a pena. Sim, o filme é cheio de clichês, mas é daqueles projetos onde agente já sabe o que vai acontecer, mas torce assim mesmo. Romance é isso, não? Miles Teller é o tipo da pessoa que todo mundo queria como o melhor amigo. Simpático, gente boa e com um mega carisma. Analeigh tem lindos olhos verdes, e aqui ela representa aquele tipo meio Meg Ryan. A diferença é que os tempos são outros, e a personagem faz streap, sexo oral e fala muito palavrão. O final é uma delícia. Lindo, daqueles de fazer casais sairem de mãos dadas, apaixonadíssimos. Nota: 8

Annie

"Annie", de Will Gluck (2014) Diretor da comédia 'Amizade colorida", com Justin Timberlake e Mila Kunis, Will Gluck faz uma moderna adaptação do musical da Broadway, "Annie", já levada aos cinemas por John Houston em 1982. Trocando a menina ruiva pela menina negra Quvenzhané Wallis ( de "Indomável sonhadora"), Gluck provocou a ira dos puristas. Mas antenado com a época do politicamente correto, Gluck distribui seu elenco com outros personagens negros, incluindo Jamie Foxx, no papel de Will Stacks, o candidato a presidente linha dura que se apaixona pela menininha órfã. Eu amo musicais, e aqui, tudo é uma delícia: as músicas ( "Tomorrow" é um mega clássico que eu já havia ouvido na voz de Grace Jones), a fotografia, o elenco ( todo mundo divertido, incluindo Cameron Diaz, injustamente candidata a pior atriz coadjuvante no "Framboesa de Ouro:"). Aliás, no IMDB o filme tem uma péssima média, com nota 5. Aqui no Brasil, as críticas foram bem favoráveis, incluindo a de Rodrigo Fonseca​ no jornal O Globo. O que realmente acho que deveria ter acontecido era ter cortado meia hora do filme. Acho inconcebível um filme infanto-juvenil ter 2 horas de duração. No máximo 90 minutos. Em ritmo de alegria, o filme transcorre colorido e dinâmico o tempo todo, sem dar descanso. Entremeado por uma história que, ao pé da letra, é bem dramática ( meninas órfãs maltratadas por uma pilantra alcoólatra que só pensa no dinheiro do seguro social), "Annie" conquista pela delicadeza das cenas musicais, pelo talento de seus atores, que não tem medo do ridiculo e se jogam 100% nos seus personagens. É um filme família, que no entanto, não sei se encontra respaldo por parte do público infantil, pelo menos aqui no Brasil. Lá nos Eua, o filme foi um sucesso, arrecadando mais de 100 milhões de dólares. A história é bem singela, narrada quase que em tom de conto de fadas: Annie mora com outras meninas órfãs e sonha um dia encontrar seus pais verdadeiros. Elas moram com uma Bebada que as maltrata. Um dia, Annie vai salvar um cachorro quase é atropelada, sendo salva pelo candidato a presidente Will Stacks. Um v;ideo amador bomba no Youtube e Stacks tem sua candidatura elevada às alturas. Ele resolve convidar Annie para fazer parte de sua campanha, e aos poucos, ela vai amolecendo seu coração de ferro. Mas um dia, os pais verdadeiros surgem, e querem levar Annie embora. Nota: 7

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

As horas mortas

"Las horas muertas", de Aarón Fernández Lesur (2013) Dirigido e escrito pelo cineasta mexicano Aarón Fernández Lesur, esse drama de baixo orçamento foi eibido em vários Festivais internacionais, entre eles Locarno e Tokyo, tendo recebido alguns prêmios. O filme tem um quê de "E sua mãe também", de Afonso Cuaron. Sebastian, um jovem de 17 anos, é chamado por seu tio, dono de um motel decadente de beira de estrada. O tio fará uma cirurgia e terá que se ausentar por cinco dias, e pede para Sebastian administrar o lugar. Sebastian logo descobre que o trabalho é quase um emprego escravo, tal a demanda de tarefas que ele precisa cumprir. Observador, ele percebe que uma cliente recorrente, Miranda, foi abandonada pelo amante e mesmo assim ela vai até lá passar as tardes. Unidos pelo tédio e desesperança, eles se tornam amigos, até que Sebastian passa a enxergar Miranda de outra forma. Bem dirigido, porém extremamente cansativo. Os planos são longos, o tempo morto ( proposital, conforme o título sugere) causa tédio no espectador. Mesmo assim, essa aposta no cinema de observação, sem pressa, é uma interessante visão do cineasta que quer passar para o espectador a sensação de vazio que habita todos nós. Sem futuro, sem amor, sem uma proposta concreta de vida, os personagens vagam pela desilusão. O filme é longo e poderia ter uns 30 minutos a menos. Tem um sob-plot de um menino que caça cocos que poderia ter sido eliminada que não farias a mínima diferença. Como uma "Mrs Robinson", a personagem de Miranda ensina os prazeres do sexo para um jovem inseguro e ingênuo. Os atores estão bem, fotografia optando por tons escuros, intensificando o drama da história. Nota: 7

Cinquenta tons de Cinza

"Fifthy shades of Grey", de Sam Taylor-Johnson (2015) Curioso como a direção do filme coube a Sam Taylor Johnson, que é uma cineasta inglesa tem em seu currículo o filme "O garoto de Liverpool", de onde conheceu seu marido, o ator Aaron Taylor Johnson. Vários DIretores haviam sido convidados, entre eles Joe Wright e Steven Soderbergh, mas declinaram. Baseado no best seller de E. L. James, a trilogia "Cinquenta tons de Cinza " (na verdade, o Grey, traduzido para cinza, é o nome do protagonista, Christian Grey. O título se refere a um contrato entre Grey e Anastasia, uma jovem estudante de literatura por quem ele se apaixona. O Contrato, redigido por Grey, prevê uma relação entre Dominador e Submissa, expressa em vários itens e cláusulas. Descobrimos que Grey, um bilionário solteiro, curte ser Dominador e possui um quarto de Jogos eróticos em seu apartamento. Ele vê em Anastasia a pessoa perfeita para manter uma nova relação: Jovem, bonita, ingênua, curiosa, apaixonada e...virgem! E como a mensagem do filme quer pregar, dinheiro compra tudo, menos a felicidade. Jamie Dornan e Dakota Johnson ( Filha dos atores Don Johnson e Melanie Grifiths) fazem o que podem, mas o que se ouviu ao longo do filme na sessão que assisti eram risadas que para mim, soavam mais como constrangedoras, tal o absurdo da história e da relação entre o casal. Tecnicamente, o filme é muito bonito: fotografia, direção de arte, figurino, trilha sonora, tudo requintadíssimo, dando vida a esse Universo do bilionário sedutor. Mas como levar a sério um filme , cujos livros venderam mais de cem milhões de cópias, onde o tema principal é sexo sadomasoquista, e o que vemos nas cenas são simples palmadinhas que qualquer criança já levou pior de seus pais? Acho que faltou ao critério dos produtores americanos uma visão mais explicitamente erotizada desse universo do machista sedutor, melhor presente em clássicos como "9 semanas e meia de amor"e " Louca paixão", de Paul Verhoeven, realizada em 1973! A conclusão que tiro é que nesses nossos novos tempos, o mundo ficou careta. Quando Lars Von Triers filma "Ninfomaníaca" e mostra uma cena masoquista entre Charlotte Gainsbourg e Jamie Bell é uma grita danada, e o filme acaba sendo banido em vários países. Nenhum produtor sensato quer isso para seu filme, se ele almeja lucro. E assim, faz-se uma versão asséptica e fria sobre uma relação carnal, somente sexo, sem amor. O filme, devo dizer, é um grande tédio, e o desfecho, abrupto, pegou os espectadores se surpresa. Parece tudo uma pegadinha. Aguardemos os próximos dois filmes da trilogia. Nota: 4

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Na mira da morte

"Targets", de Peter Bogdanovich (1968) Clássico de 1968, é a estréia de Peter Bogdanovich na direção. Ele era assistente de direção do lendário produtor de filmes B Roger Corman. O Ator Boris Karloff estava sob contrato da produtora de Corman e ainda tinha 2 dias de disponibilidade. Corman então convidou Bogdanovich para escrever um roteiro qualquer, contanto que tivesse Boris Karloff no elenco, e lhe entregou a direção. O resultado é esse drama violento sobre um serial Killer, veterano do VIetnã, que compra armas e sai matando todo mundo que encontra pela frente. Antes, ele mata sua família. No paralelo, temos a história de Byron Orlok, alter ego de Karloff. Ele é um ator veterano que resolve abandonar o cinema, mesmo quando um roteirista lhe entrega um roteiro para ele. Segundo Orlok, a violência dos filmes não lhe agrada. Porém, os caminhos do serial killer e de Orlok se convergirão em um Drive In, durante a exibição de um filme com a presença do grande astro. Com um baixíssimo orçamento, Bogdanovich cria um estilo muito interessante de filmar. Com aquele ar de filme independente feito no estilo guerrilha, o filme assusta pela frieza e crueldade. Fosse hoje em dia, enfrentaria sérios problemas com a Censura, principalmente pelas cenas onde o atirador se esconde e sai atirando em todo mundo em uma auto-estrada e depois no Drive In. A cena dele matando a família é antológica. O filme consta do livro "1001 filmes para se ver antes de morrer", Foi o último filme de Boris Karloff. Nota: 8

domingo, 8 de fevereiro de 2015

Um homem uma mulher

"Une homme et une femme", de Claude Lelouch (1966) Lançado em 1966, esse ícone do movimento francês "Nouvelle vague", caracterizado por ser um Cinema de autor e entregando os seus atores ao improviso, ganhou na época mais de 40 prêmios, sendo um dos únicos na história do cinema a receber os 3 principais: Palma de Ouro, Oscar de Filme estrangeiro e Globo de Ouro de filme estrangeiro. No Oscar, abocanhou também o de roteiro, curioso por ser um filme de diálogos improvisados. O filme seduz o espectador por todos os motivos: o elenco, encabeçado por Anouk Aimeé e Jean Louis Trintgnant, ambos em estado de graça, com a câmera completamente apaixonada por eles. A fotografia esplendorosa de Claude Lelouch, a trilha sonora de Francis Lai, a montagem revolucionária de Claude Barrois e de Claude Lelouch. A história do filme em si é convencional: um piloto de corrida viúvo se apaixona por uma roteirista de cinema também viúva. Ambos se conhecem quando vão buscar seus respectivos filhos nem uma escola internato. Ambos se apresentam, e durante três finais de semana, o amor e a paixão floresce. No entanto, os fantasmas do passado de Anne ( Anouk Aimeé) ainda se fazem presentes, e cabe a Jean Louis ( Jean Louis Trintignant) fazer se apagar na memória de Anne. A forma como o filme é narrado é deslumbrante e revolucionário. Misturando tempo ( presente e passado), cores e preto e branco (através do estado emocional dos personagens) e embalados por músicas de arrepiar a alma, fazem do filme talvez o mais romântico da história do cinema. Cenas antológicas, como o desencontro emocional após o sexo, ficam nas nossas cabeças por muito tempo. Para se chorar de verdade. Nota: 9

A palavra

"Obietnica", de Anna Kazejak (2014) Ótimo drama polonês sobre a adolescência perdida e revoltada, sinal de que os jovens do mundo inteiro passam pelo mesmo problema: incomunicabilidade e uso de redes sociais como forma de expressar emoções. Lila ( Eliza Rycembel, excelente), é uma estudante apaixonada por Janek, seu namorado. Ela mora com sua mãe e seu padrasto, e se comunica com seu pai através do skype, e sente muita falta dele, mas ele nunca pode visitá-la, por conta do trabalho. Um dia, Lila descobre que Janek beijou uma menina. Possessa e com crises de ciúme, através do skype ela ordena que Janek se livre da garota, ao contrário ele nunca mais poderá falar u tocar nela. Temendo perder o amor de Lila, Janek leva ao pé da letra o pedido de Lila e mata a garota. Desesperada, Lila procura incriminar Janek a todo custo, antes que a polícia descubra tudo. Com um roteiro objetivo e contundente, a cineasta e roteirista Anna Kasejak faz um retrato bastante desolador da juventude. A sua grande força vem do elenco jovem: são jovens atores que passam naturalidade, e parecem todos saídos de "Kids", de Larry Clark. Eles bebem, trepam, promovem festas, loucuras. A fotografia de Klaudiusz Dwulit é muito boa, e para um filme de baixo orçamento, com excelente qualidade técnica. A direção de Anna é concisa e ela extrai o melhor de seu elenco. Moderno e com aquela frieza européia que adoro. e com deliciosa trilha sonora. Foi exibido no Festival de Berlin na "Mostra geração". Nota: 8

O destino de Júpiter

"Jupiter ascending", de Andy e Lana Wachowski (2015) Fantasia de aventura de ficção científica escrita e dirigida pelos irmãos Wachowski, responsáveis pela trilogia "Matrix", "Speed racer" e "A viagem". Eu na verdade fico muito pasmo que, após o excelente "A viagem"( que eu adoro e 90% do mundo odeia), os Wachoski venham com um filme tão estranho e confuso como esse "Jupiter ascending". De novo retratando o tema do Messias, da reencarnação e de um mundo a ser dominado, dessa vez a poção mágica dos diretores/roteiristas falhou. No entanto, acredito eu, só existe uma forma de se assistir a esse filme: deixando o cérebro em casa, aceitar toda a loucura de uma história que mescla "Star wars", "Surfista prateado", "Thor" e "Guardiões da galáxia" e entrar no clima carnavalesco dos figurinos e direção de arte. Assim, talvez, seja possível se divertir. Com um baita climão FILME B de alto orçamento, o filme diverte pelas piadas involuntárias. Afinal, porquê alguém iria enfeiar Channing Tatum com orelhas pontudas, olhos pintados de preto e cheio de cicatrizes, se não for para sacanear? O elenco inteiro deve ter se divertido bastante com tanta doideira na história. Mila Kunis, Eddie Redmayne ( de "A teoria de tudo'). Sean Bean ( Ned Stark de "Game of thrones"), todos bem canastrões e por isso mesmo, divertidos. Os diálogos, a maquiagem, figurino, tudo remete a um anos 80 cafona de "Flash Gordon". Esse filme muito em breve será um clássico kitsch. A história gira em torno de Jupiter (Mila Kunis), filha de uma russa e um americano astrólogo. Ele morre durante um assalto, e sua mãe se muda para Chicago. Jupiter cresce e junto de sua mãe, trabalha como faxineira. Até que um dia, durante um exame clínico, ela é salva da morte por um jovem que se diz guardião de uma legião espacial e que avisa a ela que ela é uma Rainha e dona do Planeta Terra. No entanto, três irmãos, donos de vários planetas, desejam sua morte e o domínio da Terra. Os efeitos são toscos ( com algumas exceções), a história é confusa. Ah claro, o filme é longo, 127 minutos. Bom, dá para se assistir, é um passatempo, mas ao final, fica a sensação de que o filme é um tremendo de um abacaxi reciclado. O que é uma pena. Nota: 5

sábado, 7 de fevereiro de 2015

Pessoas pássaro

"Bird people", de Pascale Ferran (2014) Exibido na Mostra "Um certo Olhar", em Cannes, esse drama existencialista, romântico e fantasioso dirigido pela cineasta Pascale Ferran é uma experiência daquelas "ame ou odeie". Embarcar nesse filme é uma difícil tarefa, e é mais do que evidente dizer que é um filme para cinéfilos. Qualquer espectador comum acho que sairia no meio do filme revoltado e pedindo o dinheiro de volta. O filme narra a trajetória de 2 pessoas solitárias e perdidas no mundo em que e encontram. Elas resolvem reagir contra a passividade que os assola e precisam, cada um de sua forma, dar o seu grito de libertação. Gary (Josh Charles, de "The good wife" e do cult "Duas formas de amar") é um homem de negócios que viaja de país em país entrando e saindo de reuniões de trabalho. Ao chegar em Paris, ele se hospeda no Hotel Hyatt, que fica em frente ao Aeroporto Charles de Gaulle. Ali, trabalha a estudante a camareira Audrey (Anaïs Demoustier), entediada com tudo e desejando algo a mais em sua vida. Súbito, no dia seguinte, Gary decide não mais viajar e ao mesmo tempo, pede demissão do trabalho, se separa de sua esposa e abandona tudo o que ele possui. Audrey, por sua vez, assim como em "Mal dos trópicos", de Apitchapong Weerasethakul ( quando do nada, um dos personagens se transforma, sem qualquer explicação, em um tigre), também passa por uma transformação, só que no seu caso, física. O título do filme poderia ser traduzido metaforicamente como pessoas que no caso de Gary, viajem de avião o tempo todo, ou pessoas que não se encontram em um lugar físico, perdidas no mundo, ou literalmente, como Audrey, que se transforma fisicamente. Nessa verdadeira fábula sobre "como ser feliz", já concessões narrativas que fazem o filme se transformar do nada em algo quase como um filme da Disney, porém, dentro do conceito Cinema de Arte. O que me espanta, de verdade, é a coragem da cineasta em narrar em 130 minutos, uma história singela que poderia ter sido contada em um curta de 20 minutos. As cenas são extremamente longas, todo aquele papo de Gary com colegas de trabalho e esposa poderia ter sido eliminado. Mas me parece que a cineasta Pascale quiz intensificar a sensação de tédio dos personagens para os espectadores. Nada justifica o filme sair de Paris e seguir até Dubai e Nova York só para mostrar elenco de apoio falando em telefones. Fosse aqui no Brasil, seria tudo no croma. A excelência do filme vai para a fotografia, deslumbrante, e para o melhor ator em cena, o pequeno pardal, um misto entre computação gráfica e animal de verdade. A cena do vôo ao som de "Space Odity", de David Bowie, é linda. Estranho, bizarro, mas no final das contas, uma história de amor. Longa, entediante, mas bela. Nota: 6

O fio

"Le fil", de Mehdi Ben Attia (2009) Drama francês dirigido pelo cineasta Tunisiano Mehdi Ben Attia. O filme tem como tema principal a questão da aceitação: religiosa, sexual e familiar. Malik é um jovem arquiteto francês de ascendência tunisiana, que volta para a Tunísia para morar com sua mãe Sara ( Claudia Cardinale). Recém viúva, ela é a típica mãe super protetora e burguesa, que nao aceita nada que esteja fora da ordem e dos bons costumes. Por conta disso, Malik não consegue contar para ela que ele é homossexual. Para amainar o seu suplício, ele e sente atraído pelo jovem Bilal, o empregado que sua mãe contratou para tomar conta da mansão. Fico impressionado como esse filme é uma decepção enorme. Apesar das belíssimas locações e fotografia, o roteiro, direção e trilha sonora acabam com o filme. A direção deixa frouxo vários momentos no filme, inclusive as passagens d e tempo são muito bruscas e as cenas de emoção, soam extremamente falsas. Talvez a culpa seja dos 2 jovens protagonistas, bonitos mas muito fracos em suas performances. O filme tem todo o desenvolvimento de uma grande novela mexicana. Cenas exageradas, personagens caricatos, uma ambientação kitsch prejudicada pela trilha sonora tenebrosa, que traduz erroneamente emoções. Quando é para ser emocionante, a música provoca constrangimento por não se adequar ao que vemos. Os clichês se acumulam vorazmente: a melhor amiga do gay que é lésbica, a mãe que não aceita a saída do armário do filho, o filho gay revoltado que vai até uma zona de prostituição de michê para transar com o primeiro que aparecer. Mas o maior motivo de chamariz para esse filme obscuro se chama Claudia Cardinale. A grande diva do cinema italiano, que abrilhantou filmes de Fellini e Sergio Leone, se tornou uma caricatura da mulher sensual e linda que ela ja foi quando jovem. No papel da burguesa Sara, ela faz o que pode. Mas a grande antipatia da personagem afasta qualquer afeição dos espectadores por ela. Pode ser que lá no final, quem sabe, a gente goste dela um bocado. Como diria Madonna, "Get the fuck out of here, you Bitch!". Ah, o fio do título é uma bobagem metafórica do filho que se sente "aprisionado" por amarras, tanto na questão sexual quanto religioso, e a extrema culpa por não revelar sua sexualidade para seus pais. Ah, o conflito moral... Nota: 4

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Terreno pantanoso

"La isla minima", de Alberto Rodríguez (2014) Suspense espanhol vencedor de vários prêmios, é um apanhado de clichês sobre serial killer e também sobre as diferenças entre uma dupla de detetives que precisam se entender para poder trabalhar em conjunto. O dado novo e mais interessante no roteiro é que se passa em 1980, exatamente após o término da Ditadura de Franco na Espanha. Dois detetives, Juan e Pedro, seguem até uma cidade do Sul da Espanha, próximo a Andaluzia, para investigar o sumiço de duas adolescentes. Logo, eles descobrem que elas foram assassinadas por um serial killer. Para evitar novos assassinatos, os dois precisam buscar o paradeiro do assassino. Mas os habitantes da região, ainda anestesiados pela Ditadura, pouco fazem para auxiliar os detetives. E mais: Pedro descobre um terrível segredo do passado de Juan. Além da surpresa no roteiro, o grande ponto forte do filme é a fotografia de Alex Catalán, que valoriza as locações pantanosas do filme , trazendo uma atmosfera de filme noir, meio maldito. A trilha sonora , também vencedora de prêmios, ajuda a dar o clima necessário. No entanto, o ritmo lento do filme prejudica o desenrolar da história. Os personagens não são lá muito carismáticos.A direção é boa e cria alguns momentos de tensão, mas deveriam ter tirado uns 20 minutos do filme. Em algum momento, eu até achava que o filme fosse uma refilmagem do coreano "Memórias de um assassino", tal a semelhança. Nota: 7

domingo, 1 de fevereiro de 2015

Gritos e sussurros

"Viskningar och rop", de Ingmar Bergman(1972) Bergman concebeu o roteiro do filme através de uma imagem recorrente que constantemente vinha em sua mente: a de 3 mulheres caminhando em um belo campo ensolarado, com roupas brancas, falando tão baixo que o espectador não conseguiria escutar. Buscando referêncas em "As 3 irmãs", de Tchekov, Bergman conta a história de 3 irmãs no início do Sec XX na Suécia. : Agnes (Harriet Anderson) , Karin (Ingrid Thulin) e Maria (Liv Ulmann). Agnes mora sozinha, com sua empregada Anna (Kari Sylwan), em uma mansão rural. Agnes está sofrendo de câncer e é visitada por suas 2 irmãs. Ao longo do filme, vamos descobrindo que a relação das três percorrem memórias de muita tristeza, ódio e dor, fazendo com que, mesmo diante da eminente morte de Agnes, elas se confrontem em violentas discussões e ações de extrema brutalidade verbal. Anna é a única que entende que Agnes necessita de amor verdadeiro, mesmo que esse amor venha dela, uma empregada. Rever esse filme quase 30 anos depois foi uma descoberta extraordinária: é uma imensa obra-prima, irrepreensível, com uma Direção precisa e genial de Bergman. Ele filma longos planos, com marcação dos atores dentro da cena, em movimentação brilhante. A edição de som, criativa e surpreendente, insiste em badaladas de relógios e sussurros que causam estranheza e uma dimensão de terror psicológico que prende a respiração do espectador. Que filme é esse que estamos assistindo? Drama, terror? Quando a sessão acaba, sentimos um peso na alma e no coração tão grande, que leva um tempo para digerirmos tamanho sofrimento e violência. O filme ganhou o Oscar de fotografia, a cargo de Sven Nykvist, fiel fotógrafo de Bergman, e um prêmio técnico em Cannes. O filme trabalha com tom vermelho na fotografia, direção de arte e figurino. Para Bergman, “Desde criança, sempre imaginei o interior da alma como uma membrana úmida, tingida de vermelho. Mas esse vermelho é aqui também cor de luto e do passado, cor do que perdemos e nunca mais podemos recuperar. Quem quiser, pode também pensar que é a cor do inferno.". O filme tem uma carga teatral bem forte: cenário quase único, tom hiperrealista do vermelho em cena e as performances intensas das 4 atrizes, que atuam como se estivessem em um palco intimista. Um primor de interpretação, recheado de cenas antológicas. eu nem saberia dizer qual cena me impressionou mais. Talvez a de Maria com o médico se olhando ambos no espelho e constatando a idade que passou. Ou a cena onde Agnes, urrando de dor, implora pelas irmãs que a rejeitam. Ou o belo momento final, com todas elas em um balanço. E o que dizer d acena das irmãs reunidas com seus respectivos conjugues? Um festival de mentiras e hipocrisia, que marca a fachada moral e ética com que os burgueses se escondem. Um filme obrigatório, mesmo que dificil de se assistir. Nota: 10