terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

As lágrimas amargas de Petra Von Kant

"Die bitteren Tränen der Petra von Kant", de Rainer Werner Fassbinder (1972) Originalmente uma peça teatral escrita e encenada por Fassbinder em 1971, "As lágrimas amargas de Petra Von Kant" se tornou uma das peças teatrais mais encenadas na História. Aqui no Brasil, ganhou uma versão aclamada interpretada por Fernanda Montenegro, Renata Sorrah e Juliana Carneiro da Cunha. Fassbinder é representante, ao lado de Werner Schlöndorff, Werner Herzog, Win Wenders e Margareth Von Trotta, entre outros, do Novo Cinema Alemão, movimento que surgiu no final dos anos 60, trazendo como temática dos filmes a angústia e inquietude de uma geração de alemães que nasceram com o estigma de derrotados após as 2 grandes guerras mundiais. Fassbinder sempre foi fascinado pelo cinema melodramático do americano Douglas Sirk. Assim, nesse seu 13o filme, ele investe nesse gênero. O sucesso e a posterior derrocada de uma famosa e rica estilista por conta de um amor doentio fazem a alegria de qualquer roteiro de melodrama. Por ser baseado em peça teatral,. Fassbinder manteve a sua g6enese: o filme é todo ambientado em um único cenário: o quarto/escritório de Petra Von Kant. Além do enorme quarto, vemos um bar com garrafas de bebidas, mesa de escritório com uma máquina de escrever, uma escada que dá acesso à saída e um enorme painel, reproduzindo a pintura clássica renascentista "Midas e Dionísio", de Nicolas Poussin. O filme é todo protagonizado por mulheres: petra Von Kant, sua assistente Marlene, a amiga socialite Sidonie, a modelo Karin , sua mãe e sua filha. Fassbinder trabalha com duas de suas atrizes fetiches: Hannah Schygulla e Margit Carstensen, no papel principal. Porém, o personagem mais complexo e interessante se chama Marlene ( uma atuação formidável de Irm Hermann): ela é uma assistente escravizada e exculhambada por Petra, e ama esses maus tratos. A sua caracterização lembra a de um dos inúmeros manequins espalhados no cenário: sem piscar, sem falar, ela mesma parece um manequim, coma diferença que ela anda. A atuação de todas, sem exceção, é algo digno de nota: são atuações espetaculares. A fotografia de Michael Ballhaus, que futuramente veio a trabalhar com Scorsese em 'os bons companheiros", compõe cores fortes e vibrantes, dignas do melhor melodrama americano: amarelo, vermelho, enfim, cores quentes que trazem a emoção e sentimentos de seus personagens na sua cor. O filme é dividido em 5 atos: Petra é uma estilista famosa, e recebe a visita de Sidonie, sua amiga. Ela convida Karin, uma jovem que veio tentar a sorte na cidade grande. Petra, divorciada e viúva, imediatamente se apaixona por Karin. Petra adquiriu uma repulsa pelo sexo masculino e a presença de Karin a enlouquece. Petra pede que Karin venha morar com ela, e juntos, fazerem sucesso. O tempo passa, as duas dividem o mesmo espaço. mas Karin e' fria e manipuladora, assim como foi Petra. Só que dessa vez, os papéis se invertem: Petra, machucada pelo amor não correspondido, não consegue maltratar Karin. Um filme obrigatório para Cineastas, autores e atores, que aqui encontram um prato cheio de como filmar com pouco dinheiro, apenas se calçando em texto forte e atrizes talentosas. Resultado: uma pequena obra-prima do CInema. "As lágrimas.." acaba sendo o que "50 tons de cinza" tentou e não conseguiu: falar de dominação e submissão, dor e ódio, masoquismo e fetiches de uma forma verdadeira e pungente. Nota: 8

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