sexta-feira, 30 de setembro de 2022

O advogado do viado


 "The advocate for fagdom", de Angélique Bosio (2011). Documentário que narra vida e obra de um dos cineastas mais trangressores do cinema queer, o canadense Bruce LaBruce. Dono de uma filmografia composta de filmes com temas e imagens repletas de tabus e fetiches, como gerontofilia, estupro coletivo, prostituição, sexo com amputados, BDSM e afins, LaBruce é celebrado em Festivais do mundo inteiro e angariou uma legião de fãs que vai de cineastas premiados como Gus Van Sant, Harmony Korine e John Waters. 

O filme apresenta cenas de seus filmees. Bruce se mudou para Nova York e lá realizou curtas, até o seu primeiro longa, "No skin off my ass", que mostra cenas sexualmente explícitas entre LaBruce e um skinhead nazista, que se torna seu toy boy. Depois vieram outros cults como "Hustler white", protagonizado por Tony Ward, namorado de Madonna na época em cenas explícitas; o polêmico "Exército dos frutas", que traz revolucionários esquerdistas envolvidos em revolução e orgias. Bruce quase sempre se escala em seus filmes, e traz também todo um discurso revolucionário criticando a sociedade e o capitalismo, através do sexo. Seus filmes fazem a festa dos cinéfilos afoitos por narrativas transgressoras, e muitos o consideram um dos precursores do movimento "New queer cinema", que surgiu no final dos anos 80. 

quinta-feira, 29 de setembro de 2022

O espírito sagrado


 "Espíritu sagrado", de Chema García Ibarra. Longa de estréia do cineasta espanhol Chema García Ibarra, que também escreveu o roteiro, "O espírito sagrado" venceu mais de uma dezena de prêmios em importantes Festivais, entre eles, Locarno. O filme é bizarro, estranho, trazendo um roteiro complexo que mistura gêneros, do drama à ficção científica à um tipo de humor ácido que mais se assemelha ao universo de Mika Kaurismaki, onde o patético se sobrepõe à tudo. Mas mais pra frente, tudo dá lugar à um filme denúncia, cruel, com um desfecho até esperado, mas trágico. Não é fácil tentar explicar sobre o que o filme quer falar. Seria algo como uma história ambientada na cidade pobre de Elche, na Espanha. Lá , crianças desaparecem, entre elas, a filha de Charo. Veronica (Lium Arques, uma menina de 6 anos impressionantemente talentosa), a outra filha de Charo, tem uma perspicácia bastante adulta sobre o mundo que a rodeia. Paralelo, temos uma sociedade que cultua OVNIS, comandada por Julio. Quando Julio morre, seu filho, José, assume a associação. Eles acreditam em abdução e na chegada dos OVNIS. Essas histórias acabarão se entrecruzando de forma dramática.

O filme tem entre outros temas, a pedofilia e tráfico de órgãos. O cineasta Chema trabalhou exclusivamente com não atores, e deles resgata a apatia e o tédio, características peculiares de seus personagens. Em alguns momentos lembra muito a cinematografia grega com seus filmes cruéis e secos. 

A queda


 "Fall", de  (2002)

Angustiante filme de suspense co-escrito e dirigido por , é impossível não pensar em "Medo profundo", que traz uma dramaturgia muito semelhante ao apresentar ao espectador o desespero de duas mulheres que lutam pela sobrevivência. Em "A queda", somos apresentados a um prólogo onde 1 casal, Becky e Dan, escalam uma montanha com a amiga do casal, Hunter. Dan sofre um acidente e morre na queda. Meses depois e de luto, Becky é convencida por Hunter a escalar uma torre abandonada de tv, no deserto do Mojave, de 600 metros, e ali, jogar as cinzas do falecido. No entanto, ao escalarem, as amigas ficam presas e não conseguem se comunicar com ninguém por falta de sinal. Com fome, sede e ameaçadas pelo sol e pelos urubus, as amigas lutam pela sobrevivência. O filme é muito bem realizado e os efeitos de 3D são bastante criveis. É o tipo de filme que deixa o espectador irritado pelas decisões idiotas das protagonistas, e também, pelo sadismo do roteiro em fazê-las sofrer a todo custo, até o seu desfecho inesperado. As atrizes estão ótimas, e o elenco ainda conta com a presença luxuosa de Jeffrey Dean Morgan como o pai de Becky.  

terça-feira, 27 de setembro de 2022

Canção de lugar nenhum


 “No land's song”, de Ayat Najafi (2014)

Premiado documentário co-produzido por Alemanha/França e Irã, “Canção de lugar nenhum” parte da história da jovem Sara Najaf, irmã do documentarista iraniano Ayat Najafi: A pianista Sara Najafi foi a primeira mulher iraniana a se formar em composição. O irmão Ayat, diretor, testemunhou ao longo dos anos as dificuldades de sua irmã em cultivar sua paixão em um país onde, após a revolução islâmica de 1979, as mulheres são proibidas de se apresentarem sozinhas diante de uma platéia de homens. Dentre várias leis, uma delas diz que as mulheres não podem cantar como solistas em público - pelo menos não em frente aos homens. Mulher cantar solo significa que ela pode excitar sexualmente uma platéia masculina. Ou então ela deve cantar com outros homens, ou se for cantar sozinha, que tenha platéia feminina. Determinada a mudar esse cenário, a solista Sara Najafi decide ir contra a lei e organizar um concerto só com mulheres cantando. Para desafiar a censura e o tabu em seu país, Sara decidiu organizar um concerto oficial para cantoras solo, envolvendo as francesas Elise Caron e Jeanne Cherhal e a tunisina Emel Mathlouthi. O resultado é um belo filme que trata de um tema infelizmente ainda bastante comum em muitos países: a sociedade patriarcal e arcaica que ainda insiste em ver a mulher como dona de casa, sem poder estudar ou ganhar independência, e ainda sendo obrigada a usar burca e lenços na cabeça escondendo seu rosto. O filme é corajoso, assim como todas as mulheres e homens que toparam entrar em uma empreitada que desafia o governo iraniano, correndo o risco de serem presos. Uma Grande celebração ao empoderamento feminino e o desejo de igualar direitos com os homens. 

Heartless


 "Heartless", de Haukur Björgvinsson (2021)

Excelente filme de ficção científica islandês, "Heartless" lembra filmes como "A lagosta", de Yorgos Lanthimos, que usa o gênero para fazer uma crítica e reflexão sobre relacionamentos amorosos e o Poder do Estado que determina o que cada indivíduo deve fazer. Em uma sociedade distópica, as pessoas são obrigadas e trocarem seus parceiros a cada sete anos, sendo punidos severamente caso não aceitem. A punição consiste em ficarem presos por sete anos dentro de uma cápsula gigante, sem contato humano. Nessa troca de parceiros, não existe distinção entre gêneros nem idade. Um jovem casal, Anna e Gunnar, estão apaixonados e torcem para que na troca de parceiros, permaneçam juntos, fazendo juras de amor eterno. Mas chega o dia, e Gunnar recebe como parceiro um rapaz em sua primeira relação, e Anna, um homem de terceira idade. Gunnar quer fugir com Anna.

Muito bem feito para um filme de baixo orçamento, com um roteiro minimalista mas muito sintético em sua proposta, o filme é elegante, e traz reflexões, segundo seu diretor e roteirista, sobre os relacionamentos que o ser humano encontra durante a sua vida e as decisões que cada um toma sobre o seu futuro com aquele indivíduo. Criativo e inteligente.

segunda-feira, 26 de setembro de 2022

Plaza CAtedral


 "Plaza Catedral", de Abner Benaim. Premiado drama panamenho, indicado pelo país à uma vaga ao Oscar 2023 de filme estrangeiro. O filme ganhou comoção mundial por conta do assassinato do seu protagonista, Fernando Xavier de Casta, o menino de 12 anos do filme, morto com tiros meses antes do lançamento do filme. É impossível não associar o filme a "Pixote, a lei do mais fraco", de Hector Babenco, por ter uma história de ficção e de vida real muito semelhantes. Em "Pixote", o ator Fernando Ramos da Silva também foi morto. O filme termina com créditos anunciando que todo dia, crianças e adolescentes morrem na América Latina, vítimas de violência.

Uma mulher angustiada de 42 anos, Alicia (Ilse Salas, atriz mexicana),  traz um passado traumático: seu filho de 6 anos morrer de acidente e ela acabou se separando do marido e da sociedade. Ela trabalha como corretora de imóveis de luxo, e ao retornar para seu condomínio, conhece Chefe (Fernando Xavier), um menino que vive nas ruas de flanelinha, vigiando e lavando carros. Alicia se estressa com o garoto, mas um dia, ela o encontra sangrando na sua escada e passa a cuidar dele. Alicia descobre que o menino faz parte de um esquema de policiais corruptos, e decide combater quem o ameaça.

Um filme vigoroso, com duas ótimas performances e que, infelizmente, acaba tornando a história do ator Fernando exatamente igual ao de seu personagem. 

Morte, morte, morte


 "Bodies, Bodies, Bodies", de . Grande sucesso no Festival SXSW 2022, essa produção de terror adolescente da A24 é uma brincadeira com o gênero Slasher, adaptado aos tempos de feminismo e misoginia. Um filme feminino, dirigido, escrito e protagonizado por mulheres, "Morte, morte, morte" traz suspense e humor ácido aliados à contexto social como pano de fundo.

Um grupo de 7 jovens amigos ricos se unem em uma mansão siolada para celebrar a "festa du furacão": um furacão está se aproximando e eles decidem ficar confinados na mansão para um jogo chamado "Bodies, bodies, bodies': munidos apenas de lanternas e no escuro, aquele que se deixar "matar" por alguém se faz de morto, enquanto os outros procuram encontrar o assassino. Mas o que não esperavam é que um deles, David (Peter Davidson) aparecesse realmente morto. Sem sinal de celular e sem energia, os sobreviventes passam a desconfiar um dos outros, enquanto novas mortes passam a surgir.

Uma releitura do cult de terror "A noite das brincadeiras mortais",  o filme traz críticas ao mundo das redes sociais e das falsas amizades, alimentadas por muita inveja e fofocas. As protagonistas são um casal lésbico, Sophie e Bee (Maria Bakalova, de "Borat"e indicada ao Oscar de coadjuvante pelo filme).O filme cumpre seu papel de entreter, trazendo um frescor na narrativa e no elenco totalmente diverso, e personagens idem, agregando etnias e gêneros. 

domingo, 25 de setembro de 2022

Hotel desire


 “Hotel desire”, de Sergej Moya (2011)

As mais lindas cenas de sexo explícito estão nesse filme alemão, um sofisticado e elegante filme erótico escrito e dirigido por Sergej Moya e com presença de dois estonteantes atores, Saralisa Volm como a camareira Antonia, e Clemens Schick, como o artista plástico cego Julius Pass.  Antonia é uma mãe solteira que coloca o filho de sete anos no ônibus que o levará para a França para passar férias com o pai. Antonia acaba chegando atrasada para o trabalho de camareira em um hotel de luxo. Rodeada de patrões e funcionários do sexo masculino, que a hostilizam, Antonia é repreendida por chegar atrasada. Uma colega camareira encontra Antonia chorando no camarim. Entre outros problemas, Antonia diz que não se relaciona com um homem há sete anos. A colega a encoraja a ser feliz e ter leveza na vida, e a beija na boca, para excitá-la. Após fazer seus afazeres d camareira em diversos quartos, por onde passa despercebida e totalmente invisível, Antonia entra no quarto aparentemente vazio de um homem solteiro, que sai nu e molhado do banheiro para atender o telefone. Ela fica paralisada enquanto ele fala e então começa a procurar suas roupas, sobre as quais ela percebe que ele é cego. Procurando seus sapatos, ele encontra seus pés e em silêncio começa a explorar seu corpo. Ela responde lentamente, e logo o casal faz sexo.

A fotografia, totalmente estilizada e parecendo um grande comercial de perfume luxuoso, é favorecida pelas lindas dependências de um hotel chique. A trilha sonora acompanha o clima de porto chic. As cenas de sexo, totalmente entregues no explícito pelo casal de atores, é linda e mesmo expositiva, não é vulgar, é tesuda, sexy. Um belo filme sobre desejos reprimidos. 

sábado, 24 de setembro de 2022

Ingresso para o Paraíso


 “Ticket to Paradise”, de Ol Parker (2022)

Comédia romântica que resgata os icônicos Julia Roberts e George Clooney de volta ao gênero onde fizeram enorme sucesso nos anos 90, dirigido pelo mesmo realizador da continuação de “Mamma Mia!”. O filme traz todos os clichês  já vistos em filmes anteriores de ambos, e certamente o espectador já sabe como o filme vai terminar. Mas de fato isso nem interessa, pois o foco aqui é ver na tela grande esse reencontro de dois titãs de Hollywood, em um filme que lembra “Podres de ricos”, só que dessa vez, ambientado em Bali, Indonésia ( apesar do filme ter sido rodado na Austrália).

David (George Clooney) e Georgia (Julia Roberts) são bem sucedidos em suas carreiras. No entanto, estão divorciados há anos, e não se toleram. Quando descobrem que a filha Lily, em viagem para comemorar sua formatura para Bali, se apaixona por um local e deseja se casar com eles, se desesperam e decidem viajar para lá e impedir que ela cometa o mesmo erro que os dois quando se conheceram.

O filme é simpático e traz lindas locações. Mas não é tão engraçado, apostando mais no romance e no jogo de erros. Julia Roberts e George Clooney são bastante carismáticos para sustentar a atenção do espectador em um filme mediano. O elenco de apoio traz bons atores. Um passatempo satisfatório que agradará os fãs dos atores e do gênero. 

quinta-feira, 22 de setembro de 2022

Irmãos da noite


 "Bruder der nacht”, de Patric Chiha (2016)

Premiado documentário LGBTIQAP+, escrito e dirigido pelo austríaco Patric Chiha. Ele conhecer a dura realidade de jovens ciganos que se prostituem nas ruas de Viena e decidiu contar a história deles em um filme estilizados ue mistura documentário e cenas dramatizadas interpretadas pelos próprios, com um visual que remete a “Querelle”, de Fassbinder, com muitas cores vermelhas e azul no cenário e na iluminação. Esses jovens búlgaros vieram de seu país para sustentar suas famílias – mas acabaram se prostituindo por conta do dinheiro fácil. Entre depoimentos e cenas de festas e bebedeiras, os rapazes, e entre eles, uma jovem mulher Trans em processo de transição, narram suas aventuras sexuais com clientes, além de relatar sonhos de uma vida melhor. Alguns desejam comprar mulheres para casar, outros querem carros, viagens. Em uma vida útil bastante efêmera para os garotos de programa, os mesmos parecem não se importar com o futuro. É um filme triste, cruel, que apresenta representantes de uma geração que acreditam eram uma vida melhor, mas que na realidade, mal possuem um lugar para dormir. 

Aids- as fitas não escutadas


 "Aids- The unheard tapes”, de Mark Henderson (2022)

Documentário contundente que apresenta durante 3 horas e dividido em 3 partes, um olhar diferenciado sobre a epidemia da Aids que teve início em 1982, mais precisamente, no Reino Unido. A homossexualidade ainda era vista como crime no país e as pessoas poderiam ser presas ou demitidas pelo simples fato de serem gays. Nos Estados Unidos, os primeiros casos de uma doença associada à comunidade gay ainda não havia chegado no Reino Unido. 

Com o surgimento de uma casa noturna chamada ‘Heaven”, a comunidade Lgbt poderia se divertir, flertar e conhecer novas pessoas. Terry Higgins era um barman na boate. Um dia, no verão de 1982, ele desmaiou enquanto trabalhava e foi levado às pressas para o hospital. Ele faleceu de AIDS em 4 de julho de 1982, uma das primeiras pessoas no Reino Unido a morrer da doença. 

O filme revela pela 1a vez áudios dos primeiros casos de HIV no país, quando ainda não se sabia nada da doença. À medida que a doença crescia, um grupo de pesquisadores pioneiros começou a gravar entrevistas em áudio com homens gays infectados. Essas entrevistas - um relato franco e íntimo da vida no coração da epidemia de AIDS - foram arquivadas na Biblioteca Britânica e nunca foram transmitidas antes. A série os traz à vida com atores dublando as gravações de voz originais. Ver atores dublando e dando vida a pessoas mortas é emocionante. São relatos tristes e falam sobre violência, homofobia, bullying, medo de morrer. Os capítulos se chamam “Ignorância", "A geração da Aids” e “Lázaro”. 

O 1o retrata o início da epidemia e o medo de todo o mundo. O 2o foca nos final dos anos 80, com uma geração inteira convivendo com a doença. E o 3o, uma nova possibilidade de sobrevida, com o surgimento do AZT e coquetel. O trabalho dos atores que dublam e que traz sentimentos é arrebatador e bastante dramático. É de sair arrasado ao terminar de assistir ao filme. 

Mario Testino- O fotógrafo favorito de Diana


 "Mario Testino- Diana's favourite photographer", de Louise Hooper (2002)

Documentário que explora vida e obra do consagrado e aclamado fotógrafo peruano Mario Testino, nascido em Lima em 1954, filho de pai de ascendência italiana e mãe de ascendência irlandesa. Filho da classe média alta, Testino sempre foi apreciador do luxo, glamour e beleza. Em 1976, se mudou para Londres, e desde então, se consagrou como fotógrafo de celebridades mundiais, que vai de Lady Di à Madonna, passando por Gwyneth Paltrow, Kate Moss, Cauã Raymond, Rodrigo Santoro, entre outros. O filme acompanha sessões de moda em Lima, Rio de Janeiro, Londres. É maravilhoso testemunhar o trabalho de Testino, a sua forma de lidar com a máquina fotográfica e a relação com os modelos, deixando-os à vontade. O filme foi lançado em 2002, e obviamente não encobre os casos de assédio sexual que Testino foi acusado por vários modelos em 2018. 

quarta-feira, 21 de setembro de 2022

Eu sou normal? Um filme sobre a puberdade masculina

 

‘Am I normal? A film about male puberty”, de Debra Franco e David Sheppard (1979)

Produzido pelo Projeto de Planejamento Familiar de Boston e pelo Departamento de Saúde e Hospitais dos Estados Unidos, “Eu sou normal” é um filme ficcional com a finalidade de explicar aos adolescentes masculinos as mudanças corporais que acontecem em seus corpos. Jimmy, um menino de 13 anos acorda coma. Cueca molhada e, intrigado, decide perguntar para várias pessoas o que aconteceu com ele. Ele pergunta aos meninos da escola, à enfermeira, a um professor, ao seu pai, a um técnico do zoológico, e ninguém sabe lhe responder de forma apropriada ou, como seu pai, cria metáforas por conta do embaraço do tema. Incrível que esse filme tenha sido lançado em 1979 e exibido em salas de aulas, hoje em dia certamente seria proibido. Jimmy comenta com os colegas que ficou excitado só de conversar com uma menina no corredor; o técnico foi zoológico lhe diz que já viu pênis de vários tamanhos; a enfermeira lhe explica sobre masturbação e ejaculação. O filme é tão à frente do seu tempo, lidando com temas e exemplificando de forma explícita através de animação. Acaba sendo hilário e muito divertido, pois nos faz entender que o mundo já foi mais liberal. 

terça-feira, 20 de setembro de 2022

Reimaginando a História sem fim


 "Reimagining the neverending story”, de Wilhelm Bittorf e Ulli Pfau (2014)

Para quem é fã do clássico infanto juvenil “A história sem fim”, não pode deixar de assistir a esse nostálgico e revelador documentário que mostra os bastidores de um dos mais amados filmes do cinema. Adaptado do best seller homônimo escrito pelo alemão Michael Ende em 1979, o filme foi lançado em 1984. O filme contém muitas curiosidades acerca dos bastidores: Foi o filme mais caro até então rodado na Alemanha, ao custo de 27 milhões de dólares. O escritor Michael onde ficou irritado com o roteiro, dizendo que se afastou do livro original, e proibiu que sue nome constasse no crédito inicial. O compositor de música eletrônica Giorgio Morder compôs uma trilha eletrônica lançada apenas no mercado estrangeiro, menos na Alemanha, incluindo a música tema cantada por Limahl. O filme foi rodado em estúdios em Munique e as externas no Canadá. Todos os efeitos do filme são práticos, já que na época ainda não havia tecnologia via CGI. O croma tinha acabado de surgir e todos os seres eram manipulados por técnicos. Ouvir técnicos do filme ainda vivos é uma delicia , pois contam histórias de como o filme os fez buscarem tecnologia que ainda não eram acessíveis na época, e obrigando a todos. A criarem e pensarem em soluções para realizar tantos efeitos. Assistir ao making of de cenas bastante complexas envolvendo técnicos e elenco é uma verdadeira aula de técnica em cinema. E claro, rever cenas e ouvir trechos de sua trilha nos faz querer rever o filme pela milésima vez.

O próximo passo


 "En corps", de . Belo drama francês dirigido por Cedric Klapisch, realizador do cult "O albergue espanhol". Em "O próximo passo", o tema gira em torno do mundo da dança clássica, através de sua protagonista, Elise (Marion Barbeau, primeira bailarina do balé da Ópera de Paris e estreando como atriz com muita propriedade em papel complexo). Ao testemunhar seu namorado a traindo na coxia durante uma importante apresentação, ela se descuida e sofre um acidente no tornozelo, o que a impede de continuar dançando. Apesar dos especialistas dizerem que ela não conseguirá mais dançar, Elise vai lutar para se recuperar, buscando novos rumos no mundo da dança contemporânea. Elise precisará lidar com vários fantasmas para poder seguir adiante: a morte de sua mãe, a proteção de seu pai, o ex namorado e um coreógrafo que a ajuda a se levantar novamente, com quem acaba se apaixonando. 

O filme é lindamente filmado em suas cenas de dança, com uma fotografia elegante e exuberante que realça os movimentos dos corpos dos bailarinos. O elenco formado por bailarinos e por atores experientes como Pio Marmai , François Civil e Denis Podalydes, no papel de seu pai. Pra quem ama filmes que falem sobre resiliência, perseverança e viradas na vida, vai certamente amar esse filme. e ainda testemunhar incríveis números de balé clássico e de street dance, hip hop. 

Sexta feira 13


 "Friday the 13 th", de . Clássico dos clássicos do slasher, "Sexta feira 13" foi lançado em 1980 e logo tornou-se um dos filmes independentes mais rentáveis do cinema, custando 550 mil dólares e rendendo 40 milhões. O filme foi um sucesso estrondoso e a ele se seguiu uma franquia com inúmeras continuação, além de cross overs bizarros como "Jason X", no espaço, e "Jason X Freddy", e também um remake de 2009. O mais curioso, é que Jason, um dos vilões mais famosos do cinema, não aparece nesse filme original. Tanto Jason quanto a sua máscara de Hockey só se fazem presentes a partir da parte 2.

O filme lançou Kevin Bacon , estrelando ao lado de jovens atores que, segundo o cineasta, foram escalados porquê têm perfil de atores de um comercial da Pepsi. O filme reforçou a máxima moralista de que quem faz sexo ou consome drogas morre. Um grupo de jovens decide passar o final de semana no Crystal Lake, famoso acampamento onde no passado, houve um acidente trágico. Avisados de que suas vidas correm perigo, os jovens decidem seguir assim mesmo, e claro, um a um vão morrendo de forma brutal, em efeitos práticos elaborados pelo mestre Tom Savini, que produziu efeitos para giallios famosos assim como para os zumbis de George Romero. A trilha sonora de Harry MAnfredini também ficou famosa, roubando acordes de "Psicose", de Bernard Hermann, e introduzindo o clássico coral "Kikiki mamama". Sempre vale a pena rever. 

segunda-feira, 19 de setembro de 2022

Marcel the shell with the shoes on


 "Marcel the shell with the shoes on", de . Longa em animação stop motion que traz o personagem Marcel the shell, criado pela dupla  e Jenny Slate em 2010 em pequenos curtas exibidos no Youtube, e que já foram vistos por mais de 50 milhões de espectadores. Exibido em importantes Festivais, como SXSW, o filme traz Marcel e sua avó Nanny (Isabela Rosellini) morando sozinhos em uma casa de Airbnb, cujo novo morador é um documentarista. O casal que morava na casa se separou e a gaveta onde estavam as outras conchas da família foram levados embora. O documentarista decide fazer um documentário sobre Marcel, que dá depoimentos acerca da solidão, sobre sua avó que está com sinais de demência. Com a sua simplicidade, Marcel seduz a todos com seu carisma e olhar perspicaz sobre a vida.

Uma animação com uma criança com conflitos de existencialismo parece até o Charlie Brown ou a Mafalda. Mas Marcel faz parte dessa linhagem de personagens aparentemente infantis que faz reflexão sobre tudo, sem esquecer que é uma criança. Inquieto, faz perguntas, responde outras.  Com um trabalho de stop motion impecável e fotografia idem, o filme diverte, comove e faz rir. 

Reflexão


 "Vidblysk", de Valentyn Vasyanovych (2021)

Assistir em 2022 a um drama de guerra ucraniano ambientado em 2014 quando se deu início à Guerra entre Ucrânia e Rússia é desalentador e aterrorizante. O filme, dividido em 2 atos bastante distintos, lembra "Brothers", de Susanne Bier. Serhiy (Roman Lutskyi) é um cirurgião ucraniano. Ele é divorciado de Olha (Nadia Levchenko) e tem uma filha adolescente, Polina (Nika Myslytska, filha do cineasta). A ex de Serhiy se casou novamente com Andriy (Andriy Rymaruk), que está na linha de frente da guerra. Serhiy é capturado pelas forças militares russas no leste da Ucrânia e exposto a cenas horríveis de humilhação e violência. Entre elas, ele é obrigado a testemunhar torturas e mortes de prisioneiros, entre eles, Andryi. Após sua libertação, ele volta para seu apartamento e tenta encontrar um propósito na vida reconstruindo seu relacionamento com sua filha e ex-mulher. Sehyi vive o dilema de não contar para ninguém que ele mesmo foi o responsável pela morte do atual marido de sua ex.

Brutal no seu 1o ato, com cenas de tortura que acho que nem "Jogos mortais" o faria, ( até furadeira é utilizada), "Reflexão" é exatamente como o seu título propõe: refletir sobre os horrores da guerra e o seu efeito sobre a humanidade. e pensar que hoje em dia a situação está muito pior do que a retratada no filme.
O filme é apresentado em longas cenas estáticas, bem compostas, com raros movimentos de câmera. Porrada no estômago e um filme que deixará marcas no espectador.

domingo, 18 de setembro de 2022

Quebrando mitos


 "Quebrando mitos", de Fernando Grostein Andrade e Fernando Siqueira (2022)

Excelente documentário realizado no exílio pela dupla Fernando Gronstein e Fernando Siqueira, ambos casados e morando na Califórnia. Gronstein é irmão de Luciano Huck e dirigiu os documentários 'Quebrando tabus" e "Coração vagabundo", esse sobre Caetano Veloso. Gronstein estreou na ficção no sensível "Abe", sobre um menino judeu que sonha em ser Chef. O ator Fernando Siqueira protagonizou o ótimo curta LGBTQIAP+ "Antes que seja tarde". Gronstein abre o seu coração e sua vida privada e se expõe por inteiro no filme: relata a luta que sofreu desde criança em precisar mostrar ao mundo a masculinidade que sua família e amigos próximos esperavam dele. Sofreu bullying e todo tipo de piadinhas públicas que praticamente quem faz parte da comunidade Lgbt sofre todo dia. Hoje, aos 41 anos, ele faz um paralelo sobre a educação da masculinidade tóxica e a ascenção de Bolsonaro e de seus fiéis seguidores, associados à misoginia, racismo, homofobia, ataques à comunidades indigenas, devastação da floresta amazônica, ampliação do garimpo. Marielle Franco, chacinas, armamento da população, descrença do vírus da covid, igrejas evangélicas....não fica pedra sobre pedra nesse filme de 90 minutos que expõe o Brasil de Bolsonaro. Narrado com emoção e objetividade pelo próprio Gronstein, o filme está disponível no canal do Youtube.

Gás


 “Gas”, de Luciano Melcchiona (2005)

Adaptado da peça teatral escrita pelo mesmo, “Gás" é a estréia no cinema do italiano Luciano Malcchiona, que mistura narrativa de teatro com dramaturgia de audiovisual para falar sobre uma juventude perdida, nos moldes de “Laranja mecânica” e “Transpotting”. O filme é um grito de desespero de jovens totalmente sem rumo: eles se drogam, fazem sexo, roubam, praticam violência. Garotos e garotas de classe média, classe operária e até mesmo ricos, não importa a classe social, o dilema da frustração com o mundo é o mesmo. O filme remete também a ‘Edukators”, cult alemão, onde jovens sequestram um rico empresário como forma de contestação. Aqui, eles sequestram um homem de meia idade que assedia uma das meninas e resolvem puni-lo. O personagem principal é Luca, vinte e quatro anos, uma vida desprovida de entusiasmos e paixões. Ele tem um péssimo relacionamento com seu pai. Sua mãe defende seu pai. Luca namorar Ludovica, uma mulher mais velha. Mas é com Riccardo, irmão mais velho de Ludovica, que Luca irá encontrar seu verdadeiro amor e se descobrir gay, vivendo um romance às escondidas. O filme tem uma edição confusa, que vai e volta no tempo, e somente no último ato entendemos como as coisas se encaminharam para um desfecho catártico. Um bom filme, que renderia uma ótima peça de teatro com um elenco jovem. 

Maigret


 “Maigret”, de Patrice Leconte (2022)

O filme de detetive “Maigret” reúne três grandes artistas: o escritor belga George Simenon, o ator francês Gerard Depardieu e o cineasta francês Patrice Leconte, realizador dos ótimos “Um homem meio esquisito”, “Caindo no ridículo” e “A pequena loja dos suicídios”. Simenon publicou o primeiro livro com o detetive Maigret em 1931, escrevendo um total de 75 romances com o personagem. Certamente o filme foi produzido após o grande sucesso das adaptações de Agatha Cristie por Kenneth Branagh, dando vida ao detetive Hercule Poirot. Mas Leconte, diferente de Branagh, e até porqu6e não dá para rivalizar com a brutal diferença nos orçamentos, aposta em um filme menor, mais minimalista, mas superior em construção de atmosfera e personagens. O filme é adaptação o livro ‘Maigret e a jovem morta”. O Comissário Maigret (Gérard Depardieu) investiga a morte de uma jovem de vestido de noite encontrada numa praça parisiense, esfaqueada brutalmente. Nada permite identificá-la, ninguém parece conhecê-la. Durante a investigação, conhece uma jovem delinquente que se assemelha estranhamente à vítima, despertando nele a memória de outro desaparecimento, mais antigo, que lhe deixou marcas profundas.

Gerard Depardieu está excelente na pele do detetive, e espero que mais livros sejam adaptados para o cinema repetindo a parceria com Leconte/Depardieu. A construção da narrativa, lenta como em narrativas clássicas, é uma delícia para poder perceber detalhes na direção de arte, figurino, trilha sonora, sem o excesso de CGI dos filmes de Branagh. Aqui, não existe um elenco all star, até porquê Depardieu já rouba todas as atenções.

sábado, 17 de setembro de 2022

A catedral


 ‘The cathedral", de Ricky D'Ambrose (2021)

Drama semi-autobiográfico do roteirista e diretor Ricky D’ambrose, “A catedral” é uma pequena jóia, uma obra de arte esculpida em planos de natureza morta. O filme retrata a vida de Jesse, filho do casal Lydia e Richard, dsde seu nascimento até os 17 anos de idade, quando decide estudar na faculdade de cinema. O filme começa em 1987, ano do nascimento de Jesse. Ainda pequeno, ele ouve que seu tio faleceu de uma doença, mas sua família se recusa a dizer exatamente qual doença ( por serem extremamente católicos, se envergonham de dizer que foi de HIV). O filme é todo visto pelo olhar de Jesse, que acompanha a dissolução do relacionamento de seus pais, que se divorciam quando ele tem 10 anos. Os pais de sua mãe maltratam Richard, existe um sem número de parentes e todos possuem questões conflituosas de relacionamento um entre os outros. A forma como o diretor Ricky D’ambrose apresenta a narrativa é muito interessante: para acentuar a questão da memória afetiva de uma criança, na maioria das vezes detalhes de mãos, pés, copos, etc, pois é o que a criança consegue registrar. O filme tem um registro minimalista, elegantemente composto, e as performances são naturalistas, quase como se Jesse tivesse colocado uma câmera e passasse a registar tudo o que acontece ao seu redor. Lembra muito a narrativa de Chantal Akerman, com seu tempo estendido. Paralelo ao filme, surgem imagens documentais e de comerciais que apresentam fatos importantes ocorridos nos Estados Unidos dos anos 80 até o início dos anos 2000. Um belo filme, certamente para cinéfilos. O filme concorreu em Sundance e Veneza.


O segredo do Lago Mungo


 “Lake Mungo”, de Joel Anderson (2008)

Terror cult australiano de 2008, “O segredo de Lago Mungo’ foi considerado por muitos críticos como um dos melhores mockmentaries já realizados, trazendo elementos do found footage e do falso documentário com influência do realismo fantástico de David Lynch. Não por acaso, o sobrenome da família se chama Palmer, homenagem a um dos mais famosos personagens de Lynch, Laura Palmer. Na cidade de Ararat, Austrália, vive uma família feliz: os pais June e Russell, e os filhos adolescentes Matthew e Alice, essa, e 16 anos. Um dia Alice desaparece, e acaba sendo encontra dias depois no Lago Mungo, morta por afogamento. Os pais buscam ajuda psiquiátrica e de parapsicólogos, pois acredita, verem manifestações sobrenaturais na casa onde moram.

A história é simples, e nem é tão aterrorizante. O que faz o filme ser muito interessante é ele ser uma trama mais de mistério do que propriamente ser de terror, apesar de possuir umas 3 cenas que de fato, assustam. São muitos os temas apresentados, e por spoilers, não poso citar, pois envolvem plot twists. Realizado com baixo orçamento mas com bastante criatividade, “O segredo de Lago Mungo” já enganou muitos espectadores, que de fato acreditaram que era um filme sobre um fato real com pessoas reais, tal a credibilidade como o diretor e roteirista Joel Anderson realizou a narrativa.

sexta-feira, 16 de setembro de 2022

Já fui famoso


 “I used to be famous”, de Eddie Sternberg (2022)

Lindo drama inglês, na tradição de feel good movies musicais como “Yesterday” , “Apenas uma vez” e “Mesmo se nada der certo”. Ambientado no bairro do sudoeste de Londres, Peckham, o filme nos apresenta a Vince (Ed Skrein), um músico chegando aos 40 anos, decadente e no ostracismo. Vince no início dos anos 2000 foi um integrante da famosa Boy Band Stereo dreams, mas por conta de uma tragédia familiar envolvendo seu irmão Ted, que faleceu de uma doença quando Vince estava em turnê, o fez sair da banda. Hoje, Vince se vira nos trinta para ganhar um trocado, e não tem mais credibilidade para seguir carreira musical com os produtores. Um acaso faz com que o adolescente Stevie (Leo Long) surja na sua vida. Stevie tem agorafobia, e é um ótimo baterista. Stevie acaba sendo o impulso que Vince precisava para ganhar um gás. Mas a mãe de Stevie, Amber, proíbe que Stevie participe da empreitada musical, temendo que o filho sofra bullying.

Defendido por ótimos atores, ‘Já fui famoso” trata de dois temas bastante amplos em discussão: a culpa e a busca pela fama. Em ambos os casos, Vince se torna vítima, se martirizando pela morte de seu irmão. Alternando momentos de drama com muita emoção, o roteiro defende bem a sua história que quer contar. Mesmo sem novidades, o roteiro transita na emoção, trazendo um desfecho óbvio, mas que não deixa de ser comovente.

Boa noite, mamãe


 "Goodnight Mommy", de Matt Sobel (2022)

Refilmagem americana do excelente filme de terror austríaco de 2014, agora protagonizado pela atriz Naomi Watts. Fiquei pensando qual o sentido de se fazer um remake de um terror que possui um grande plot twist, senão for para fazer diferente. Mesmo com algumas pequenas mudanças, mais em termos de violência extrema envolvendo crianças ( os europeus não têm questão moral em usar crianças em cenas de violência, ao contrário dos americanos), toda a história é a mesma, e por isso, para quem viu o ótimo filme original, perde totalmente o frescor. Para que não assistiu ao filme de 2014, minha dica: o assista ao invés do remake. É mais angustiante, horripilante, tenso. Dois irmãos gêmeos, os pequenos Lucas e Elias, são deixados pelo pai em uma mansão isolada para passarem o final de emana com a mãe deles, interpretada por Naomi Watts e sem nome de personagem. Ela passou por uma cirurgia plástica e passa o filme todo cm bandanas cobrindo seu rosto. Lucas passa a desconfiar do comportamento da mãe deles e diz a Elias que ela provavelmente é uma impostora no lugar da mãe. Aos poucos, o filme se transforma em um pesadelo, um jogo mortal de gato e rato para tentar descobrir o que está acontecendo naquela casa.

As interpretações de Watts e dos meninos Cameron e Nicholas Crovetti são ótimas. Mas como disse anteriormente, o filme americano suaviza e muito o horror e violência do filme original, onde as crianças eram mais perversas e doentias.

A órfã 2: a origem


 "The orphan: first kill", de William Brent Bell (2022)

13 anos depois do original "A órfã", os produtores decidiram lançar um prequel sobre Esther/Leena. Mas um filme como esse tem 2 questões: 1) sabemos que Leena morre no filme original. 2) Nessa continuação, é óbvio que ela não vai morrer, já que está na continuação. então qual o motivo de se fazer um filme sobre uma personagem que sabemos morre no filme seguinte? Bom, a personagem é interessante e provou isso no filme original, que ainda tinha um elenco luxuoso, que vai de Vera Farmiga a Petter Skkasgard. Aqui, Julia Stiles interpreta a mãe de Esther, uma menina desaparecida e que Leena e faz passar por ela. Só que a mãe de Esther, e seu outro filho adolescente, Gunnar, estranham o comportamento de Esther. O marido no entanto acredita que a mudança de comportamento é devido ao tempo que a menina ficou dada como desaparecida e não dá muita atenção.

Os dois filmes têm um sub plot que bate na tecla de Esther/Leena ficar apaixonada pelo marido da mãe adotiva. É o mote do homem burro e bobo que desacredita a esposa, o famoso gaslightin. Esse filme perde em surpresas para o original, apesar de ter boas cenas. Mas os personagens tomam decisões idiotas, desde o início do filme, e esse irrita bastante. Isabelle Furhmann repete seu papel, dessa vez sendo necessários intervenções de CGI e uso de dublês de corpo.

quinta-feira, 15 de setembro de 2022

Ivan


 "Ivan", de Dani Manzini (2020)

Drama experimental brasileiro vencedor de 6 prêmios no Fetsival Guarnicê 2021, entre eles, melhor filme juri popular, ator, atriz coadjuvante e fotografia ( esplêndida, de Rafael Giacondino). Gilda Nomacce, espetacular no filme e fazendo homenagem à clássica cena de Isabelle Adjani em "Possessão", acabou não levando o prêmio de atriz, infelizmente. O filme tem uma narrativa complexa e totalmente autoral, com referência à filmografia de Bela Taar e Tarkovsky: longos planos, estilizados, bem enquadradados e buscando a grandiosidade da natureza perante o destino dos homens. A sinopse: Brasil, em 1976, Armando (Carlos Ramírez), um migrante latino-americano e Sonja (Gilda Nomacce) vivem uma relação à beira do caos. Sonja mergulha em uma espiral de insanidade, na ânsia de compreender os processos da gestação de seu filho Ivan (Giovanni de Lorenzi). Enquanto isso, Armando tenta sobreviver às fraturas disfuncionais que o cercam e o obrigam a ressignificar a palavra “loucura”. O ator colombiano Carlos Camirez interpreta o marido de Sonja (Nomacce). Ele um contador de escritório, ela grávida de Ivan. O menino, agora com 17 anos, nasceu com deformidade óssea do crânio, usando um saco na cabeça, tipo a do menino no terror espanhol "O orfanato". Por conta das condições do filho, que é obrigado a viver isolado pelos pais, a relação do casal vai e tornando cada vez mais próxima à destruição familiar e criando lapsos de loucura na mãe e reflexões existencialistas na figura paterna. Não é um filme fácil de e acompanhar, restrito certamente à cinéfilos raiz pelo eu hermetismo. Mas a fotografia torna tudo um grande deslumbre visual, e quem for no cinema querendo buscar uma obra provocativa, reflexiva e com um visual esplendoroso, não pode deixar de ver o filme