segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

A queda do Comunismo como visto na pornografia Gay

“The fall of communism as seen in gay pornography”, de William E. Jones (1998) Contundente e assustador documentário americano, que mostra de que forma surgiu o Mercado de pornografia gay no Leste Europeu logo após a queda da Cortina Vermelha em 1989. Milhares de jovens famintos, desempregados, passando necessidade. Foi o cenário ideal para que produtores de pornografia gay americanos rumassem para Praga, Budapeste e Moscou, os maiores fornecedores de atores e modelos desse mercado. O auge dessa indústria foi no período de 93 a 98. Os cachês desses modelos eram por volta de 10% do valor que pagavam ao ator americano. O filme é dividido em 2 capítulos: o primeiro, intitulado “Velho e novo”, mostra como os filmes pornográficos misturavam ícones do comunismo com a era capitalista. Em uma cena de “Camaradas em armas”, um jovem soldado, vestido com uniforme de soldado comunista, tem atrás de si um quadro do Presidente Mikhail Gorbatchov. Os títulos seduziam o público, ávido em consumir tudo o que continha elementos dessa região da Europa: O vampiro de Budapeste”, o Jovem de Praga”, “Brigada vermelha”, “Jovens russos inocentes”, Amor russo”. Produtos do Leste Europeu estavam na moda, todo mundo queria filmar lá, com custos bem abaixo dos Estados Unidos. O narrador explica que muitos desses “atores” olhavam para a câmera e tinham uma postura hostil por que não tinham qualquer experiência em fazer cenas de sexo, anda mais pornografia gay. Na 2a e mais cruel parte, são apresentados alguns “Testes de elenco” da época realizados por diretores americanos com jovens russos: os testes eram filmados em quartos pequenos, somente o Diretor, o Ator e um tradutor. O Próprio diretor fazia a câmera. Os atores são todos jovens, alguns aparentando serem menores de idade. O Diretor faz perguntas tipo “O que você curte no sexo”, “Você se masturba com qual frequência”, etc. Todos respondem timidamente, desconfortáveis. O Diretor vem e os examina como se examinam os escravos: checa os dentes, coloca o dedo dentro da boca, abusam sexualmente, pede para que tirem a roupa para ver se estão em boas condições físicas, e por fim, pedem para se masturbar. O filme termina com a seguinte pergunta de um Diretor para um dos atores: “Porquê você está aqui’? E o rapaz responde, objetivamente: “Pelo dinheiro”. Por essa, Stalin não esperava.

Estamos Vivos

"Estamos vivos", de Filipe Codeço (2016) Primeiro longa do Cineasta Filipe Codeço, escrito por Alvaro Chaer, também protagonista dessa história que traz à tona , traumas e fantasmas do passado de uma família desajustada. Durante o filme, recorri a 4 filmes que me vieram à mente: "Feliz Natal", de Selton Mello, "Festa de família", de Thomas Vintemberg, "As coisas simples da vida", de Edward Yang e "Arca russa", de Alexander Sokurov. Dos filmes de Selton e Vintemberg, vem a matriz da história, que é a lavanderia à céu aberto cuspida por integrantes de uma família criada no desamor e na desesperança. Do filme de Edward Yang, vem o olhar dos adultos através das lentes de uma criança: no filme chinês, o menino recebe uma câmera fotográfica e registra tudo. No filme de Codeço, Rafa, um menino autista de 8 anos, registra absolutamente tudo com sua filmadora. E do filme "A arca russa", vem esse olhar documental, apontando para cada detalhe, obra, parede, objeto de arte que compõe o Museu de Leningrado, através de um plano-sequência de quase 100 minutos, culminando em um baile desconcertante. Em 'Estamos vivos", o plano-sequência dura 84 minutos e termina com uma catarse coletiva, orquestrada em um baile performático pela Maestra Patrícia Niedermeier, uma atriz visceral interpretando a irmã mentalmente desequilibrada de Miguel, seu irmão. A produtora do filme, Cavideo filmes, é mestra em lançar curtas em planos-sequência, vide os premiados "7 minutos" e "Engano". O desafio agora foi experimentar essa sensação da vida real em tempo real em um longa. O Diretor Filipe Codeço assume a câmera e o alter ego de Rafa e filma tudo. É um olhar seletivo do menino, muitas falas são ditas em off, não vemos os atores falando, porquê a câmera de Rafa está mais preocupada em filmar os detalhes da casa envelhecida e parada no tempo do que registrar os rostos dos familiares que não parecem importante para ele. Afinal, o que importa para uma criança autista? Miguel vem com sua esposa e filho se reconectar com seus irmãos, após a morte do Pai. Miguel não os vê há exatos 11 anos: tempo o suficiente para ninguém mais se reconhecer ou pior, guardar mágoas por esse tempo todo. O filme é isso: uma DR mesclada à técnica do plano-sequência. Nos curtas citados, funcionou magistralmente. Aqui, para ter tido um resultado mais primoroso, uma enxugada na duração teria sido, acredito eu, mais efetivo. Existem tempos mortos demais ( resultado da busca pelo plano-sequência). E senti falta de uma interferência maior de Rafa, que não fosse apenas pela câmera, afinal, ele não fala nada, justificado pelo seu autismo. O ponto alto do filme é sem dúvida alguma, o trabalho do elenco. Parabéns ao Diretor pela preparação e pela organicidade da performance dos atores. https://vimeo.com/241297231?fbclid=IwAR1t4hWfrkoRU0yPQU3FXStiaaBEffIpexvstVJaU3HtP5UZEbSgfvMyqHk

Mario, Kike e David

"Mario, Kike y David", de Miguel Lafuente (2016) Curta espanhol LGBTQ+, vencedor do prêmio do público no Festival Mix Brasil 2017 e tendo participado de dezenas de Festivais mundo afora, "Mario, Kike e David" é um belo manifesto a favor da bissexualidade. O filme mistura drama, romance e documentário, filmado na Parada gay em Madrid. Kike e Mario se conhecem em um aplicativo de sexo. Mario vai ao encontro de Kike ao apartamento dele e fazem sexo. O que era para ser apenas um encontro casual, acaba virando uma visita regular de Mario ao apartamento de Kike. eles fazem sexo e conversam sobre a bissexualidade de cada um deles e a diferente forma deles verem a figura feminina dentro da relação . O filme aborda de forma séria mas também romântica e divertida, a questão da bissexualidade, que na maioria das vezes é usada como uma fachada para esconder a homossexualidade, por ser mai aceita dentro da sociedade. Com belas cenas de sexo e boas atuações, o filme transmite esse tesão entre os dois rapazes e assim, acreditar mais na melancolia de Kike ao perder Mario. Realizado praticamente dentro de um apartamento, esse curta de baixo orçamento se baseia apenas no bom roteiro e no trabalho dos atores, carismáticos. A parte na rua, com a Parada Gay, deve ter sido filmada de forma totalmente documental, vê-se inclusive pela diferença de textura na fotografia.

The old man and the gun

"The old man and the gun", de David Lowery (2018) Todo o mundo já sabe que Robert Redford anunciou esse como sendo seu ultimo filme da sua carreira. Se isso for realmente verdade, é um belíssimo Canto do cisne. “The old man and the gun” é uma espécie de antologia de tudo o que Redford já fez no cinema: charmoso, conquistador, assaltante carismático. Inclusive já no final, existe uma sequência que por si só, já vale por todo o filme e que reúne algumas cenas da carreira de Redford: um clip onde se mostram várias cenas de fuga de Redford em outros filmes. É uma cena emocionante embalada por uma música comovente composta por Daniel Hart. O filme é uma homenagem explícita a Redford: o diretor David Lowery filma como se fosse um filme antigo dos anos 80: com câmera super 16 MM, granulada, visual vintage, recuperando aquela época de ouro do cinema onde Redford desenvolveu seus filmes mais conhecidos. O filme é baseado na história real do assaltante de bancos Forrest Tucker. Desde os 15 anos de idade, ele assalta, é preso, e consegue fugir. Ele já fugiu mais de 16 vezes. Famoso por assaltos sem uso da violência, apenas com delicadeza e um papo reto, ficou conhecido pelo seu sorriso e pela sua educação na hora do assalto. O filme, espertamente, nem sequer mostra a arma em suas mãos na hora dos assaltos, e quando também ele abre o paletó, a câmera não revela a arma. Existem 3 pontos no filme: a história de Tucker, a obsessão do policial John Hunt em persegui-lo e a paixão pela fazendeira Jewel (Sissy Spacek), que mesmo sabendo que ele é assaltante, se deixa seduzir pelos seus encantos. Mas o filme é de Redford: ele está aquele carisma que o celebrizou, em um papel magnético e perfeito para ele. Talvez só Clint Eastwood pudesse fazer esse papel, mas Clint já está bem idoso. O elenco de apoio é fenomenal: Além de Casey Afleck e Sissy Spacek, tem os comparsas de terceira idade Danny Glover e Tom Waits e Elisabeth Moss. Não é um filme perfeito, ele tem um ritmo que lá pelo meio fica claudicante, mas é bem dirigido, tem boas cenas de ação e também, belas cenas de romance entre Redford e Sissy. Que ótimos atores, que delicadeza e sutileza nas interpretações.

Tyrel

"Tyrel", de Sebastián Silva (2018) O Cineasta chileno Sebastián Silva é dos mais celebrados mundialmente, junto de Sebastian Lelio e Pablo Larain. Sebastián Silva ganhou fama internacional com seu drama "A criada"e desde então tem feito muitos projetos nos Estados Unidos, entre eles, o bom drama "Nasty baby, com com Kristen Wiig. “Tyrel” é o seu filme mais polêmico. Provavelmente inspirado no grande sucesso de “Corra!”, de Jordan Peele, Sebastián quase faz um remake, obviamente sem os elementos de horror e sobrenatural, e sim, realista. Sebastián parte de um princípio mais básico, e que todo mundo já passou, independente de sua raça, gênero, pensamento político ou credo: como você reage quando não se sente inserido em um grupo muito diferente do seu? Tyler (Jason Mitchell) é um jovem negro que viaja com um amigo até uma região isolada na periferia de Nova York para o aniversário de um pessoa que ele não conhece. Está nevando bastante e a estrada está ruim. Ao chegar na casa, Tyler é apresentado a todos, mas percebe que é o único negro do grupo. Os homens são do tipo boçais, metidos a machistas e repletos de brincadeiras bobas. Entre eles, tem um gay e um argentino, mas são todos igualmente brancos. Entre uma brincadeira e outra, algumas com mensagens racistas ditas de forma ingênua pelo grupo vão aos poucos deixando Tyler se sentindo um peixe fora da água. Um dos rapazes do grupo insiste em chamar ele de Tyrel. O grupo bebe sem parar, inclusive Tyler, que vai se deixando levar pelos impulsos da bebida. É fácil buscar similaridades com “Corra!” : protagonista negro; ele viaja com um personagem branco até uma região isolada para conhecer um grupo de pessoas que ele desconhece; o ator Caleb Landry Jones, que estava no elenco do filme de Jordan Peele, também está aqui em um dos papéis principais. Mas a comparação para por aqui. O filme foi exibido em muitos Festivais importantes, inclusive Sundance e Seattle. Suscitou críticas contraditórias; teve quem amasse, teve quem odiasse. A plateia em si achou uma bobagem, dizendo que é um filme que fala sobre a vitimização do negro, que quer encontrar elemento racistas aonde não há. Talvez a;i esteja o grande ponto de “Tyrel”: ninguém é mal, ninguém é vilão. São personagens comuns, iguais a todos que conhecemos. Como julgar pessoas que foram criadas com determinado pensamento, que se sentem felizes dentro de um Status quo? O melhor é se unir ao grupo, ou sair dele? O filme deixa muitas pontas em aberto. É um filme que cutuca, sempre de forma sutil. O espectador pode ver o filme querendo ler as entrelinhas o apenas passar por cima e ver um filme sobre um bando de amigos que passam o final de semana bebendo e falando merda. Cada um escolhe o filme que quer ver. Duas cenas do filme não me saem da cabeça: durante um jogo, uma pessoa pega a seguinte brincadeira: imitar um negro falando. Em outra cena, Tyler vai buscar ajuda em uma casa vizinha, e descobre que a mulher é casada com um negro, que não só não lhe ajuda, como o expulsa de sua casa. Coisas a se pensar nesse explosivo filme que deve suscitar boa discussão.

Ímpar

"Uneven", de Rafael Ruiz Espejo (2016) Esse curta mexicano com certeza é dos mais criativos que já assisti. Escrito e dirigido por Rafael Ruiz Espejo, narra a história bizarra de uma meia solitária, sem seu par, que se apaixona e sente tesão pelo seu dono. Ela faz de tudo para que o dono a vista e dessa forma ela se sinta útil e consiga ter orgasmo. Sem diálogos, é um filme muito divertido e até sexy, parece bastante a linguagem visual dos filmes do canadense Xavier Dolan. A cena do rapaz vestindo a meia e se masturbando com ela e a meia tendo orgasmos, merece todos os prêmios e louros pela ousadia. Linda fotografia e trilha sonora.

Small arms

"Small arms", de Arman Cole (2017) O Cineasta Arman Cole se baseou na história real de um atirador que matou 6 pessoas na Universidade de Santa Barbara, na época que ele estudava lá. O atirador dizia que constantemente sofria bullying e humilhação por parte das mulheres. No filme, Ethan, um estudante, sofre ameaças homofóbicas. Cansado e se sentindo desprotegido, Ethan resolve comprar uma arma como auto-defesa. Ele acaba conhecendo David, que o leva até a sua casa nos arredores da cidade para prender a atirar e a usar outras armas. Mas aos poucos, Ethan vai descobrindo quais as reais intenções de David. Bem construído, indo para um suspense crescente, o filme tem boa atuação dos dois atores. O roteiro meio que engana o espectador, que vai esperando um tipo de filme e termina sendo outro totalmente inesperado. https://www.youtube.com/watch?v=QpFRwdVh8Is

domingo, 30 de dezembro de 2018

Bang Gang- Uma história de amor moderna

"Bang Gang (une histoire d'amour moderne)", de Eva Husson (2015) Filme de estréia da roteirista e cineasta francesa Eva Husson. Ela se baseou em uma história real para falar de sexo e promiscuidade na adolescência. Assistindo ao filme, é impossível não associá-lo a "Kids", de Larry Clark. Uma geração sem ambição, com a vida toda voltada para sexo, drogas, redes sociais, falta de comunicação com os pais. "Kids"é de 95, e 20 anos depois, o discurso do sexo sem proteção continua igual. O filme foi acusado de ser moralista, pois boa parte dos jovens se ferra contraindo doença venérea. Como diz um personagem: 'E se fosse Aids?"" Em uma cidade litorânea do interior da França, George e Laetitia, melhores amigas, conhecem Alex. elas se sentem atraídas por ele. primeiro George, depois Laetitia caem na sedução do garoto. Enciumada, George propõe que Alex promova orgias em sua mansão: sem regras, vale tudo: sexo, drogas. O filme é bem dirigido, a fotografia é bonita, tem estilo. Mas é um filme arrastado, sem ritmo. Os personagens não são tão carismáticos quanto em "kids". A gente se preocupa com o destino dos personagens? Não creio. As cenas de sexo são bem lights, e o filme acaba apostando na nudez da garotada. Para espectadores que gostam de um soft porn estilizado, vale assistir. Caso contrário, melhor ver outra coisa.

A noite dos desesperados

"They shoot horses, don't they", de Sidney Pollack (1962) Adaptação do livro de Horace McCoy, "A noite dos desesperados"é um dos grandes clássicos do cinema americano dos anos 60. Lançado em 1969, ganhou o Oscar de ator coadjuvante para Gig Young, no inescrupuloso papel de Rocky, e teve ainda outras 8 indicações, incluindo para Atriz (Jane Fonda) e atriz coadjuvante ( Susanah York), estupendas. O filme provavelmente é um dos mais pessimistas da história do cinema. Ambientado no ano de 1932, em plena depressão americana, conta a história de pessoas comuns que perderam tudo, incluindo seus sonhos, e segue até Califórnia para participarem de um concurso de dança cujo prêmio é o valor de 1.500 dólares para o casal que permanecer de pé após semanas dançando sem parar. O tempo de descanso é de 10 minutos a cada 2 horas, e as refeições são feitas em pé, dançando, à vista de toda uma platéia que paga para assistir ao sofrimento dos participantes. Entre eles, estão (Robert (Michael Sarrazin), jovem aspirante a ser Diretor de cinema); Gloria (Jane Fonda), aspirante a atriz que perdeu tudo na vida; o casal de atores frustrados Alice (Susanah York) e Joel, e também Sailor, um marinheiro que participou da 1a guerra, e um casal cuja esposa está grávida. O mais cruel, assistindo a esse filme nos dias de hoje, 50 anos após a sua realização, é perceber o quanto ele foi profético em relação ao culto das celebridades, à platéia querer assistir em tempo real o sofrimento e a luta de pessoas anônimas, que é o que acontece nos Realities shows, 24 horas por dia acessível ao espectador. Estava tudo ali: o apresentador escroque, os participantes querendo derrubar um ao outro, a platéia participativa e com times formados. Como diz o chavão, "The show must go gon". Uma aula de direção e de montagem frenética, e fico pensando como filmaram as cenas da pista e da maratona com aquelas câmeras pesadas da época. O trabalho dos atores está impressionante, e a gente realmente acredita no cansaço físico de todos ali. Sonho em ver o Making of para entender como foi feita a preparação de todos ali. O titulo original, 'They shoot horses, dont they", é uma referência aos cavalos que, quando machucados, são sacrificados.

O sol é para todos

"To kill a mockinbird", de Robert Mulligan (1962) O Cineasta americano é um nome pouco conhecido, mas 2 dos maiores clássicos do cinema foram dirigidos por ele: "Houve uma vez um verão" e "O sol é para todos". Curiosamente, os 2 filmes são bem próximos: falam sobre perda, são protagonizados por crianças e é narrado por um adulto relembrando fatos de sua infância. Adaptado do livro da escritora Harper Lee, que ganhou o Prêmio Pulitzer de melhor livro do ano de 1961, o filme ganhou 3 Oscars: melhor ator para Gregory Peck, melhor roteiro adaptado e melhor trilha sonora. A atriz mirim Mary Badham , que interpreta Scout, a filha de Atticus Flirt, personagem de Peck, foi indicada ao Oscar de atriz coadjuvante e na época a mais jovem atriz a ser indicada. O filme é ambientado no Alabama, sul dos Estados Unidos, no ano de 1932. O país ainda sofria as consequências da Grande depressão, e o sul tinha uma política forte de segregação racial. O Advogado Atticus, viúvo pai de 2 filhos, a menina Scout, de 8 anos, e Jem, menino de 12 anos. Homem íntegro e honesto, Atticus sempre encontra a melhor forma de dizer aos seus filhos tudo o que acontece ao redor. Um dia, Atticus é é indicado pelo Juiz da cidade para defender Tom Robbinson, um homem negro acusado de ter estuprado uma jovem branca. A partir daí, a cidade, que é racista, se volta contra Atticus e seus filhos sofrem bullying na escola. Paralelo, tem a história das crianças que temem o vizinho Boo Radley ( Robert Duvall, em seu primeiro papel no cinema), uma pessoa nunca vista e e que todos acham que é um assassino. Uma obra-prima incontestável, o filme tem como protagonista as crianças, principalmente Scout ( alter ego da escritora Harper Lee. O filme é todo pelo ponto de vista das crianças, que tentam absorver as maldades do ser humano pelo seu olhar ingênuo. A cena do tribunal é uma verdadeira aula de direção: o trabalho dos atores, enquadramento, diálogos. A forma como a platéia negra é colocada no segundo andar, a fala do Reverendo pedindo para Scout se levantar. Um primor. Muito do filme se deve ao trabalho das 3 crianças (existe também Dill, o vizinho que dizem, é uma referência a Truman Capote, amigo de Harper). Elas agem como crianças e não tentam ser adultas, como acontece em boa parte dos filmes com crianças chatas. Gergory Peck tem um personagem memorável, e inclusive, Atticus é considerado, por uma pesquisa do American Film Institute, o maior herói americano, passando por cima de Indiana Jones. e outros. Engraçado que muita gente lembra desse filme apenas como o filme de tribunal, ,as existe um outro filme, que é meio que de suspense, das crianças e a relação com a casa de Boo Radley, que é o que remete ao titulo original do filme "Para matar um sabiá": não se matam sabiás, pois eles cantam para alegrar nossos dias e não fazem mal à ninguém.

Piscina

"Piscina", de Carlos Ruano (2017) Divertido curta espanhol que fala sobre amizade e outting. Premiado em alguns Festivais, o filme apresenta Santi e Jota, melhores amigos. Em um dia de calor em Madri, ambos desejam ir para a piscina, mas não tem dinheiro para ir ao clube. Jota aproveita para dizer a Santi que não namora mais Luiza. Chocado, Santi começa a dizer nomes de várias mulheres, achando que Jota está tendo um caso. Ante a negativa do amigo em dizer com quem está namorando, Santi arma um plano: ambos seguem até um centro de Cientologia, pois no último andar tem uma piscina. Mas para frequentar o lugar, precisam responder a um teste de personalidade. Jota é o primeiro a responder, e sua resposta afetará a amizade de ambos para sempre. Engraçado, mas também emocionante, o filme apresenta dois personagens bem construídos, e Santi é daquelas pessoas que ou a gente ama ou odeia ter por perto. Ótima interpretação de Ferran Vilajosana. A direção e o roteiro de Carlos Ruano são bem espertos e ele fez bem em fazer um filme curto, para contar somente o necessário. Vale assistir. https://www.youtube.com/watch?v=sG8X40vHi1w

Green Book- O Guia

"Green Book", de Peter Farrelly (2018) Duas grandes surpresas nesse belo filme que me fez cair em prantos no final: Descobrir que o Diretor de comédias Peter Farrelly ( de "Quem vai ficar com Mary") sabe fazer drama, e que o talentoso ator dramático Viggo Mortensen sabe fazer comédia. "Green Book- O guia" é uma comédia dramática, e o termo "Green book" é um livro publicado nos anos 60 e distribuído no Sul dos Estados Unidos, reconhecidamente de política segregacionista, que listava hotéis e bares que aceitavam clientes negros. E mais: o filme é baseado na história real que uniu a amizade improvável entre Tony Lip (Viggo Mortensen, estupendo), um italiano racista mas amante da música negra, e Don Shirley (Mahershala Ali, sensacional), um pianista negro de repertório de música clássica e que desconhece a sua própria cultura. Tony é segurança de uma boite noturna e tem índole violenta. Honesto e fiel, ele acaba desempregado quando a boite é fechada por ordem judicial. Ele faz uma entrevista de emprego para ser motorista e descobre que seu patrão será um pianista negro. Além desse fato, ele precisa estar 8 semanas viajando pelo Sul do País. Sua esposa permite a viagem e assim o filme se torna um road movie sobre aceitação racial, sexual, cultural e o início de uma grande amizade. Assistindo ao filme, é impossível não se lembrar de "Conduzindo Miss Dayse", mas dessa vez a relação é contrária. O motorista é branco e hetero, o passageiro é negro e gay. O roteiro é adaptado das cartas escritas entre os 2 amigos, colhidos pelo filho de Tony e editadas. É um filme feito para emocionar, e contém cenas antológicas. Uma delas, a que marca a personalidade de Tony, é quando ele observa sua esposa servindo dois copos de água para entregadores negros em sua casa e discretamente, ele joga os copos fora no lixo., É uma aula de interpretação e de direção. Os 2 protagonistas estão comoventes, e o filme tem merecidamente colhido prêmios por onde anda. Eu queria ler alguma resenha de Spike Lee sobre o filme e saber se ele acha o personagem de Mahershala Ali um "Magical negro", termo que ele criou para designar os personagens negros que são coadjuvantes e que estão ali para servir ao protagonista branco e ajudá-los a se transformarem, que era o caso de "Conduzindo Miss Dayse". Tomara que ele curta o filme, pois é muito bom e emocionante.

Sailor's delight

"Sailor's delight", de Louise Aubertin, Eloïse Girard, Marine Meneyrol, Jonas Ritter, Loucas Rongeart e Amandine Thomoux (2018) Animação francesa que participou do Cine Fondation, voltado para estudantes de Cinema, durante o Festival de Cannes 2018. O filme é uma divertida sátira ao universo das Sereias, famosas por seduzir os homens em alto mar e depois devorá-los. Só que dessa vez, a Sereia não consegue jogar seus encantos para dois marinheiros de uma embarcação chamada "Priscilla". Curto, com 5 minutos, o filme suscitou certa polêmica, apesar de ser uma sátira. Alguns espectadores viram aí machismo (mesmo os personagens sendo gays), misoginia e sexismo, além da exploração de mão de obra feminina. Assista e tire as suas conclusões. https://www.youtube.com/watch?v=SGsgSj7wOPM

A grande cidade

"A grande cidade", de Carlos Diegues (1966) Um dos grandes clássicos do Cinema novo, "A Grande cidade"foi o 2o Longa dirigido por Carlos Diegues, e produzido por duas das maiores produtoras de cinema da época, a Mapa Filmes e a Lc Barreto. Com o sub-título de As Aventuras e Desventuras de Luzia e Seus 3 Amigos Chegados de Longe", o filme é dividido em um prólogo e 4 episódios distintos, interligados pela mesma personagem, Luzia. No prólogo, o malandro Calunga (Antonio Pitanga) conversa com os passantes e joga para o espectador várias perguntas, contrastando a imagem da cidade maravilhosa com a realidade da pessoa comum que precisa trabalhar em condições inumanas. Esse prólogo usa a linguagem documental. Nos episódios a seguir, acompanhamos Luiza (Anecy Rocha, irmã de Glauber), uma alagoana de 19 anos, que chega ao Rio de Janeiro para encontrar seu noivo Jasão (Leonardo Villar), que saiu de sua cidade para tentar a sorte na cidade grande. Esse episódio se chama "Luiza". Depois temos os episódios "Jasão", mostrando que ele se tornou um perigoso assaltante, "Inácio", com Joel Barcellos interpretando um nordestino que ajuda Luiza e quer que ela volte para o Nordeste com ele; e "Calunga", apresentando a rotina do malandro. Como nos filmes do Cinema Novo, "A grande cidade" fala do homem do povo, fala das desigualdades sociais econômicas, da corrupção dos políticos e a forte religiosidade dos brasileiros. No episódio "Inácio", Carlos Diegues brinca com alegorias, quando o personagem imagina o que o espera quando ele retornar ao nordeste. O filme tem influências do Neo-realismo italiano e da Nouvelle Vague, principalmente de "Acossado", de Godard. A música-tema foi composta pelo sambista Zé Keti, e no elenco, um elenco gigantesco, que vai de Maria Lucia Dahl, Arnaldo Jabor, Hugo Carvana, Jofre Soares, entre outros.

sábado, 29 de dezembro de 2018

Mentiras sinceras

"Mentiras sinceras", de Pedro Asbeg (2011) Documentário que registra os 14 meses de criação do espetáculo teatral "Mente mentira", texto de Sam Shepard e pela 1a vez encenada no Brasil nessa montagem dirigida por Paulo de Moraes, Diretor do super premiado Grupo Armazém. Produzida por Malvino Salvador, Pedro Asbeg e Cavi Borges, "Mente mentira" teve sua estréia em Araraquara, São Paulo, e aqui no Rio de Janeiro, tive a honra de assistir a montagem no Teatro de Cultura Laura Alvim, em 2011. O filme, obrigatório para qualquer pessoa envolvida com Teatro (Ator, Diretor, Autor), acompanha todo o processo da construção da peça que vai desde a primeira leitura, perfil de personagens, direção de atores, montagem do cenário, concepção de luz, divulgação e estréia, onde naturalmente, quase todo o elenco diz a frase chavão " estou com frio na barriga". É muito interessante acompanhar cada processo da realização do espetáculo. Ver as diretrizes que o Diretor toma, a marcação de cena, os exercícios para buscar interação e emoção, as escolhas. No entanto, o melhor do filme, é botar em pauta aquele eterno embate entre Criador e Criatura: Quem é o Ator? Quem é o Personagem? Até que ponto os 2 se misturam? Com uma montagem brilhante de Arthur Frazão, o filme embaralha material de arquivo com cenas de família americana do interior, contrastada com imagens dos atores, e do discurso em Off acaba mesclando, tanto do Ator quanto do Personagem. Lindo também, é ouvir a atriz Malu Valle confidenciar que ela interpreta uma mãe, mas que ela mesmo nunca fui mãe, e que como Atriz, ela precisa buscar a poesia para entender esse sentimento que ela Atriz desconhece. Para você que é Ator, assista obrigatoriamente esse filme. É um presente para você entender melhor porquê você está nessa profissão. Atores como Zé Carlos Machado, Fernanda de Freitas, Thiago Fragoso, Malu Valle, Malvino Salvador entre outros, estão aqui para te dizer o porquê amam ser Atores. Link para assistir ao filme: https://vimeo.com/74672886

Terça feira depois do meio dia

"Just Past Noon on a Tuesday", de Travis Matthews (2018) O Cineasta americano Travis Matthews esteve presente em 2017 no Mix Brasil em São Paulo, para apresentar seu último longa, "Discreto". Provavelmente daí, deve ter surgido a parceria para realizar esse curta "Terça feira depois do meio dia", escrito e dirigido por Matthews, mas filmado em são Paulo com atores paulistas. Tiago (Gustavo Vinagre, um dos diretores de "Nova Dubai") visita o apartamento de Marco, recentemente falecido de overdose dentro de uma sauna gay. A irmã de Marco permite que ele visite o apartamento para se despedir, sem que a família saiba, pois estão todos se sentindo constrangidos com a situação de sua morte. Tiago, sozinho no apartamento, pega o diário de Marco e descobre que ele tinha um "Fuck buddie", Marcelo ( Ronaldo Serruya, de "Corpo elétrico"). Marcelo surge no apartamento, e após ambos se apresentarem, eles transam o sexo mais fetichista que possa existir, uma forma de suprir a ausência física de Marco. Nesse filme, Travis Matthews sai do seu habitual experimentalismo e traz de volta a narrativa convencional repleta de sexo explícito e muita melancolia que o fez famoso com o premiado curta "I want your love". Bela fotografia de Matheus Rocha. O roteiro achei ok, já vi outros curtas com essa mesma temática da aproximação sexual como forma de enfrentar o luto pela morte de alguém. A diferença aqui, que o sexo é sujo, e para quem curte cheiradas em suvaco fedido, rimming, etc, vai curtir bastante.

Be my Cat: Um filme para Anne

"Be my Cat: A film for Anne", de Adrian Tofei (2015) Esse filme de terror na linguagem do found footage, o 1o a ser realizado na Romênia, parte de uma excelente premissa: com o advento do cinema digital e o barateamento de equipamento de câmera, qualquer um pode fazer um filme. Até mesmo um serial killer. Adrian Tofei ( que escreve, dirige, produz, fotografa e protagoniza) dá vida ao seu alter ego Adrian: fã confesso da atriz Anne Hathaway, ele quer fazer um filme para provar a ela que ela deve aceitar protagonizar o seu filme. Para isso, Adrian contrata 3 atrizes que farão o maior sacrifício de uma Atriz: morrer literalmente pelo papel. Com uma interessante premissa de metalinguagem para discutir o limite entre Ficção e realidade e principalmente, o limite moral das orientações dadas por um Diretor para a sua Atriz, o que aqui envolve assédio moral, físico e sexual, o filme é dos mais insanos que você já terá visto. É angustiante e aflitivo, mas também bem curioso. O espectador abe o destino das 3 atrizes, mas nem por isso deixa de assistir. O Diretor Adrian Tofei sabe dessa ânsia sádica e voyeur do espectador e alimenta ele com cenas de pura misoginia e machismo. Um filme provocador e polêmico, vencedor de inúmeros prêmios em Festivais de filmes de terror. 2 Poréns, que não fazem esse filme ser melhor do que é: ele é longo para a sua proposta e acaba ficando cansativo e repetitivo, deveria ter uns 20 minutos a menos. E o sangue é muito fake, não imprime nenhuma tensão.

Primo

"Primo", de Federica Gianni (2017) A cineasta italiana Federica Gianni é radicada nos Estados Unidos. Em "Primo", ela realiza seu filme na região de Maremma, em Toscana, famosa pela caça de javalis. Federica se aproveita desse evento para discutir e botar na pauta o tema da masculinidade. Homens do campo preconceituosos com os homens da cidade, tanto pelo comportamento, quanto pela forma de se vestirem. Primo segue com sua namorada até Maremma para conhecer os pais dela, no dia do aniversário da mãe da namorada. Ele acaba conhecendo 2 amigos da namorada, que o convidam para caçar javalis no dia seguinte. Em principio relutante, mas querendo provar sua masculinidade para sua namorada, Primo topa ir caçar. Mas dois fatos que acontecem durante a caça fará mudar a sua vida para sempre. Bem dirigido e com bons diálogos, Federica consegue 'invadir" o universo essencialmente masculino de seu filme, sem que para isso quisesse torná-lo mais humano ou simpático. Os personagens masculinos provavelmente são uma referência do que Federica deve ter visto durante toda sua vida: machistas, homofóbicos, conservadores. Em uma cena, um misto de excitação sexual e de revolta por parte de Primo, é muito bem orquestrada por Federica. Bons atores, linda fotografia e a locação da vila no Alto da montanha é um verdadeiro Paraíso.

Rio 40 graus

"Rio 40 graus", de Nelson Pereira dos Santos (1955) Longa de estréia de Nelson Pereira dos Santos, que também escreveu o roteiro. Com uma forte influência do Neo-realismo italiano, o filme deixa de lado as chanchadas da Atlântida e os romances da Vera Cruz para mostrar as mazelas sociais de uma das cidades mais lindas do mundo, mas que esconde uma desigualdade econômica que as lentes do fotógrafo Helio Silva mostram cm muita comoção. Rodado 100% em locações reais, o filme apresenta um contraste entre o Rio turístico, das paisagens lindas de exportação, e do Rio da periferia, das favelas, do submundo. "Rio 40 graus" é considerado o filme seminal para a criação do Movimento do Cinema novo que aconteceria anos depois, apresentando um retrato nu e cru do Brasil, dentro das alegorias, e falando de política, do brasileiro marginalizado, da corrupção da elite, da opressão do homem do povo. Nelson Pereira era filiado do Partido comunista, e quiz fazer um filme do ponto de vista do favelado. O filme foi censurado pelo Governo, que na falta de um argumento melhor para poder proibir o filme, disse que "o filme apresenta uma mentira para a população, pois no Rio o máximo de temperatura registrada era de 39,6 o". O filme também foi acusado de divulgar idéias comunistas. Com a pressão dos intelectuais, o filme acabou sendo liberado. A trama é dividida em diversos sub-plots, mas todos derivados de um grupo de 5 meninos negros que moram em uma comunidade: eles saem de seus barracos para vender amendoim na rua e assim, ganhar dinheiro para comprar uma bola de futebol. O filme acompanha cada uma das crianças, e também, as histórias das pessoas com quem essas crianças interagem. O filme critica a política, o futebol, os estrangeiros turistas e na época ( hoje seria praticamente impossível), filmou em vários cartões postais da cidade: Praia de Copacabana, Pão de açúcar, Museu Histórico Nacional ( que pegou fogo em 2018) , Maracanã. Como herdeiro do neo-realismo, o filme mescla atores profissionais com não-atores, e isso fica claro em diversas cenas a diferença de qualidade de performance. Mas dado a natureza do projeto, que é a de mostrar com o máximo de realidade a rotina das pessoas reais da cidade, esse fato acaba sendo deixado em segundo plano. Várias cenas antológicas: a do menino no Zoológico, sorridente, olhando a paisagem; a cena final, que vai do festejo para a imagem da mulher na janela, esperando o retorno do filho. Obrigatório.

Rio Zona Norte

"Rio Zona Norte", de Nelson Pereira dos Santos (1957) 2o longa dirigido por Nelson Pereira dos Santos, lançado em 1957, faria parte de uma Trilogia carioca, antecedida por "Rio 40o", de 1955. O longa seguinte, "Rio Zona Sul", acabou não sendo realizado. O filme tem forte influência do neo-realismo italiano, principalmente de "Noites de Cabíria", de Fellini. O protagonista é uma figura marginalizada, no caso um sambista nascido e criado no morro, negro, de bom coração e ingênuo, se deixando ludibriar por todos que dão golpe nele. Espírito de Luz ( Grande Othelo, antológico) é um sambista de samba de raiz, que mora em uma comunidade da Zona Norte. No início do filme, o vemos caído nos trilhos do trem, supostamente caiu do trem e se machucou bastante. 3 homens o encontram e o deixam à espera de uma ambulância. Agonizando, Espírito se relembra dos últimos meses de sua vida: o assassinato de seu filho Laurindo, envolvido com o crime; o golpe que seu agente (Jece Valadão) lhe dá, vendendo seus sambas para outros compositores sem lhe dar crédito; o ser relacionamento com Adelaide, uma mulher que vislumbra a fama e o posterior abandono dela; e o desejo de Espírito de ter seu samba gravado por Angela Maria ( a cena final dela cantando com Grande Othelo é fabulosa). O filme foi considerado pela Abraccine um dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos. O excesso de trilha sonora melodramática, e o mau rendimento de alguns personagens importantes interpretados por não atores não chegam a comprometer o filme, pois o brilho de Grande Othelo é tão intenso em todas as vezes que ele entra em cena, que acabamos pro relevar qualquer outra questão técnica. O filme apresenta as mesmas mazelas sociais que o Rio de Janeiro enfrenta nos dias de hoje: superlotação do transporte público, descaso das autoridades, racismo, violência, ganância dos grandes empresários. Uma pena assistir ao filme hoje em dia e perceber que nada mudou. https://www.youtube.com/watch?v=yhUvkuWrVAE

Trophy boy

"Trophy boy", de Emrhys Cooper (2018) Exibido em diversos Festivais, incluindo em Cannes 2018, "Trophy boy" foi escrito, produzido, dirigido e protagonizado por Emrhys Cooper. Valeu a pena o investimento no projeto: "Trophy boy" pode não ser nada original, ,as funciona bem como uma crítica às redes sociais e ao mundo virtual onde todo mundo é feliz, rico, vivendo no eterno Glamour. James (Emrhys Cooper) vive uma vida de Estrela. Sempre nas melhores Festas, acompanhado das pessoas mais lindas e influentes, fotografado para capa de revistas e um ator de sucesso. Seu apelido nas redes sociais é "Trophy". Mas todo essa vida é fake. James na vida real, é bancado por um homem mais velho, que o despacha após anos de relacionamento, por achar que James está velho. De volta à vid real, James descobre que o mundo não he pertence mais. O prólogo, apresentando o mundo "fake"de James, é muito bem produzido e ditado. O roteiro , mesmo repleto de clichê,s funciona bem, graças ao carisma de Emrhys Cooper e do ator Anthony Johnston, que interpreta Andy, uma metáfora de tudo que James não quer ser. Divertido e dramático ao mesmo tempo, com um belo final, que dá o recado para os que lutam desesperadamente para receber likes. https://vimeo.com/259475704

Party animal

"Party animal", de Yorgos Zois (2018) Cativante curta grego, que apresenta uma amizade improvável: um jovem que adora escutar música eletrônica e frequentar baladas, e um idoso recluso em um asilo. Um rapaz viciado em baladas e escutar música eletrônica sai da boite e retorna para sua casa. Chegando lá, ele leva um esporro de seus pais, que reclamam que ele chegou tarde e faltou ao primeiro dia do trabalho. O rapaz segue, ouvindo dance music no headphone, até um asilo, aonde ele irá trabalhar como faxineiro. Ao chegar no trabalho, entediado, o rapaz coloca os fones de novo. Um idoso fica curioso e pede para escutar também. Ao escutar a música, o idoso passa a sentir desejo de dançar. Homenageando tantos as baladas de música eletrônica quanto os antigos musicais de cinema, o diretor Yorgos Zois encanta com essa fábula sobre paixão e amizade, e como tirar proveito das adversidades da vida ao ser favor. A sequência de dança do rapaz com o idoso é muito bacana. Linda fotografia e trabalho de câmera/ https://www.youtube.com/watch?v=7QBaAm13q6o

Refugiados bem vindos

"Refugee's welcome", de Bruce La Bruce (2018) O Cineasta alemão Bruce La Bruce com certeza é dos maiores representantes do Cinema Queer no mundo. Seus filmes sempre trazem sexo explícito misturado a panfletagem política, discurso social e crítica ao conservadorismo. Sempre polêmico, coloca como protagonistas em seus filmes figuras odiadas pela sociedade de uma forma humanizada: em 'Skin Flicks", um skin head se apaixona por um gay; em "Raspberry Reich", ele apresenta um grupo de esquerdistas comunistas praticando sexo e amor livre em prol das regras de convívio na sociedade. Em "Refugiados bem vindos", Bruce se une à Cineasta Erika Lust, famosa pelo seu ativismo político e feminista que criou o projeto de filmes intitulados "X Confessions": sexo como forma de discurso político. Bruce quiz homenagear a Alemanha, por ela ser um dos países que mais recebe refugiados na Europa. em quase todos os lugares, existe a placa "refugee's welcome", como forma de deixar claro a hospitalidade do País. Ao mesmo tempo, é um dos Países onde os refugiados mais sofre nas mãos de neonazistas, por conta da alta taxa de xenofobia. O filme narra a história de Moonif, um jovem refugiado sírio, que acaba de se instalar em um campo de refugiados no Centro de Berlin. ele recebe orientação para não andar pela cidade, mas curioso, Moonif resolve caminhar para conhecer Berlin. Ele vai até um bar, onde presencia uma performance de Pig Boy, um homem grandão e todo tatuado. Ao sair pelas ruas d enoite, Moonif é atacado por neo nazistas e apanha muito, além de ser estuprado. Pig Boy surge e salva Moonif, levando-o para casa para cuidar de suas feridas. Os dois acabam sentindo uma grande afeição e transam. Bruce quiz fazer uma metáfora sobre o Amor e o sexo como uma forma de unir fronteiras e povos. A cena de sexo é belamente filmada, repleta de tesão. O filme termina de forma debochada, fazendo uma crítica à religiosidade cristã, mostrando um colega de quarto de Pig Boy como se fosse Cristo.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Todos já sabem

"Todos lo saben", de Asghar Farhadi (2018) O cineasta iraniano mais festejado em todos os Festivais de cinema da atualidade, tendo ganho Palma de Ouro por roteiro, 2 X o Oscar de melhor filme estrangeiro ( A separação", "O apartamento") e incontáveis prêmios mundo afora, conseguiu um prestígio tão grande que foi convidado a dirigir um filme na Espanha, com roteiro escrito por ele e protagonizado por 3 dos maiores Astros do cinema de língua latina: Penelope Cruz, Javier Barden e Ricardo Darin. "Todos já sabem" abriu o Festival de Cannes 2018, mas diferente de seus outros filmes, obteve críticas mornas. O que é uma pena. O filme é um ótimo exercício de drama com suspense, na linha de Agatha Christie. Passamos o filme todo tentando descobrir o responsável por um sequestro, e todos são suspeitos, através do roteiro complexo e repleto de sub-tramas de Asghar Farhadi. Nesse sentido, a narrativa se aproxima bastante de "À procura de Ely", o filme que o lançou ao estrelato. Laura (Penelope Cruz) viaja até um vilarejo no interior da Espanha, para o casamento de sua irmã. Casada com o argentino Alejandro Darin), que não pôde ir ao casamento, ela viaja com seus 2 filhos: a adolescente Irene, e o pequeno Diego. Laura reencontra sue antigo namorado, Paco (Barden), agora casado com Bea e dono de um vinhedo. Durante o casamento, Irene desaparece. Na mesma noite, Laura recebe o pedido de um resgate, e caso avise à polícia, Irene será morta. Aos poucos, revelações sobre o passado de cada um dos familiares vai vindo à tona, inclusive de Laura, Paco e Alejandro, que viaja para tentar solucionar o caso. O primeiro ato do filme prepara o espectador para o que virá a seguir: uma longa apresentação dos personagens, para que o espectador saiba exatamente quem é quem ali. Com uma trama ardilosa, Asghar Farhadi surpreende o tempo todo. O filme em alguns momentos aposta em melodrama e reviravoltas dignas de novela mexicana, mas nada disso atrapalha o andamento da trama ( a não ser que o espectador odeie esse tipo de plot twist). É um filme bem dirigido, com ótima atuação de todo o elenco, e confesso que já resolvi o desfecho na metade do filme. Prestem atenção na apresentação dos personagens d primeiro ato. Cada frase dita é fundamental para se entender o que virá a seguir.

Discreto

"Discreet", de Travis Mathews (2017) Mais conhecido por ter dirigido o falso documentário sobre as filmagens perdidas do policial "Parceiros da noite", de Willian Friedkin, que continham supostas cenas de sexo explícito real que aconteceram em um bar de leather men, Travis Matthews concorreu no Festival de Berlin 2017 com esse estranho drama experimental, que segundo alguns críticos, emula o universo de David Lynch Alex é um homem na faixa dos 30 anos que perambula pelas ruas do Texas com a sua van, sem destino certo. Para sobreviver, ele promove encontros sexuais entre gays e rouba dinheiro deles. Alex também frequenta saunas gays para encontros sexuais. Um dia,a sua mãe diz que seu avô está de volta, doente, morando em uma casa na redondeza. Alex se apavora: ele se lembra de seu avô, que abusou sexualmente dele quando ele era um garoto. Agora o avô está doente, sem poder falar e com Parkinson. Alex quer vingança, mas ao mesmo tempo, cuida do idoso, que não consegue se virar sozinho. Com um tema tão polêmico, Travis Mathews coloca tudo a perder, ao misturar uma sub-trama muito ruim sobre a obsessão de Alex por uma Youtuber, a japonesa Mandy, que posta vídeos zen budistas para relaxamento e pensamentos pseudo-reflexivos. Se o roteiro se detivesse apenas à trama de vingança de Alex e paralelo, a sua decadência psicológica e moral pós abuso sexual, já teria um puta filme. Mas essa mistura de ficção e um experimentalismo vazio não funcionou. O filme é chato, sonolento e bastante pedante

Cas

"Cas", de Joris van den Berg (2016) O romance LGBTQ+ holandês "Cas"ganhou diversos Prêmios em Festivais mundo afora, e é um lindo drama sobre amor, companheirismo e a descoberta do fim da relação. O cineasta Joris van den Berg inspirou-se no gibi 'Dancing on the volcano' de Floor de Goede, no qual é descrita uma complexa relação triangular. Van den Berg e seu roteirista Bastiaan Tichler estavam procurando uma história sobre um relacionamento que está chegando ao fim. A esse fato, acrescentaram personagens gays. Ambientada em Armsterdam, o filme traz Pepijn (Wieger Windhorst, que também é músico na vida real) e Sjors (Kevin Hassing), Eles formam um casal jovem, feliz e muito bem sucedido. No entanto, após 7 anos de relação ( olha a coceira dos 7 anos!!), o casal tem pensamentos distintos sobre que rumo tomar no relacionamento. Pepijn é mais aventureiro, livre, e quer que eles viagem por 6 meses mundo afora, sem compromissos. Sjors é o oposto: centrado, esta prestes a ser promovido no trabalho e não se permite viajar por tanto tempo. Fora isso, Sjors quer adotar uma criança, ao contrário de Pepjin. Um dia, ao voltar para casa, Pepjin vê Cas, um estudante gay, no sofá de casa. Sjors explica que convidou Cas a passar uns dias ali morando no sofá, até ele encontrar uma outra residência. Eles se conheceram no grindr. Pepjin fica com ciúmes e procura não demonstrar, mas aos poucos percebe que é ele quem está interessado em Cas, e não Sjors. Dosando bem romance, comédia e drama, o filme é dirigido com muita delicadeza e domínio da direção de atores. Todos os 3 atores estão ótimos, e o roteiro tem um carinho muito grande pelos personagens. Mas o grande trunfo do filme é o carisma de Wieger Windhorst: seu personagem é o que mais traz camadas diferenciadas, e é impossível não se apaixonar pelo seu estilo de vida. A cena de sexo entre os e é belamente fotografada e filmada, e o desfecho, arrebatador.

O Circo

"The circus", de Charles Chaplin (1928) Espremido entre 2 das maiores obras-primas do Chaplin, "Em busca do Ouro", de 1925, e "Luzes da cidade", de 1931, "O Circo" foi um dos filmes favoritos de Bergman, que o assistia todo ano. Um verdadeiro arsenal das maiores gags visuais de Carlitos, o vagabundo eternizado por Chaplin, o filme foi realizado num período em que Chaplin enfrentava problemas pessoais: a morte de sua mãe, problemas com seu casamento. Nem assim, o filme deixou de ser engraçado. As cenas no salão de espelho, de Caplin imitando um boneco e batendo na cabeça de um homem, de Chaplin no malabarismo e o burro que cisma com ele estão entre os grandes momentos da comédia de todos os tempos. A história é simples e recorrente em seus primeiros filmes: sem dinheiro e com fome, Chaplin acaba parando por acidente em um Circo, comandado por um Homem sem escrúpulos e que maltrata seus funcionários. Por ser engraçado, Carlitos acaba sendo contratado para animar o circo, e claro, se apaixona pela filha do dono do circo. Filmes como "O palhaço", de Selton Mello, e "Os saltimbancos trapalhões" com certeza buscaram referências aqui, e provavelmente até Fellini e seus palhaços tristes. Um filme obrigatório em qualquer estante cinéfila. https://www.youtube.com/watch?v=ErW72W_n

A ilha de Bergman

"Bergman och filmen, Bergman och teatern, Bergman och Fårö", de Marie Nyreröd (2005) Bergman é dos poucos Cineastas cujo nome virou praticamente um gênero para filmes. Idolatrado por gerações de Cinéfilos, mesmo mais de uma década após a sua morte (faleceu em 2007), ele sempre foi bastante recluso e introspectivo, e fechando para visitações na sua casa localizada na Ilha de Faro. Pois pela 1a vez, uma Cineasta teve acesso à sua casa e o entrevistou. Aos 88 anos de idade, Bergman abriu seu coração e sua alma para Marie Nyreröd, que com bastante inteligência, sobriedade e tranquilidade, conduziu com charme e elegância o filme. Bergman fala sobre tudo: Cinema, Teatro, seus amores, suas traições, como localizou a Ilha de Faro, porquê resolveu morar ali, porquê é uma pessoa solitária. Fala da Morte, da presença marcante de sua mãe em sua vida, seu primeiro cinematógrafo, da cena da Morte em "O sétimo selo", da direção de atores, processo de escrever um roteiro. E para os fãs, Bergman abre os portões de sua casa, onde logo na porta está escrito: "Cuidado com os cachorros. Sendo que não existem cachorros há mais de 30 anos ali. Um documentário imprescindível para quem Ama e faz Cinema, veio se juntar a outras obras importantes sobre o cineasta sueco: "Liv e Bergman", 100 anos de Bergman". Com a diferença que aqui, é Bergman quem fala de si, o tempo todo. O filme ganhou o prêmio de Melhor documentário estrangeiro em 2005 na Mostra de Cinema de São Paulo.

Ponte

"Bridge", de Bonnie Moir (2016) Dirigido pela Cineasta australiana Bonnie Moir, e escrito e protagonizado por Benjamin Rigby, "Ponte" narra a história de Dan, um homem na faixa dos 30 anos, que pela 1a vez, resolve ir até um local de pegação gay que fica embaixo de uma ponte. Assustado e bastante tenso, ele perambula pelo local, até que se sente atraído por um jovem. O garoto no entanto, diz que as suas preferências sexuais são os homens mais velhos, os Daddies. Dan retorna outro dia, e outro, até que reconhece o carro de seu pai no estacionamento. Enxuto, com excelente direção de Bonnie Moir, é um filme com muito pouco diálogo e muita experiência cinematográfica, com a câmera seguindo o personagem pelos lugares decadentes embaixo da ponte. O filme me lembrou bastante o cult "Um estranho no lago", de Alain Guiraudie, filme francês que mostra com sordidez e muito fetiche os frequentadores de um parque que se encontram para fazer sexo. https://vimeo.com/277826934.

O filme que vamos ver

"La peli que vamos a ver", de Roberto Pérez Toledo (2018) Fran e Javier acabaram de se conhecer. Os dois vão para a casa de Fran e transam. Após o sexo, os 2 combinam de assistir a um filme. Fran sugere assistir a "120 batimentos por minuto". Javier não quer filme francês, muito menos filme que fale sobre HIV. Irritado com a falta de cultura e de sensibilidade do outro rapaz, Fran diz estar com Aids. Será verdade? Curta espanhol muito oportuno, que em menos de 6 minutos, discorre sobre um assunto muito atual: com os aplicativos de pegação, as pessoas deixaram de se conhecer melhor e já vai direto ao sexo. Para quem quer algo além do sexo, na maioria das vezes vai quebrar a cara. Divertido e ao mesmo tempo um tapa na cara, com ótimos diálogos e um bom trabalho dos 2 atores.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

He loves me

"He loves me", de Konstantinos Menelaou (2018) Escrito, produzido e dirigido pelo Cineasta e Artista visual grego Konstantinos Menelaou, "He loves me" emula o clássico de Robert Mullighan, "Houve uma vez um verão". Todo narrado em Off, acompanhamos um casal gay, em crise de relacionamento, fazendo uma viagem até uma praia deserta no litoral da Grécia. No texto em off, um dos namorados reflete sobre a vida em comum, as traições, o tesão, o ciúme, os olhares apaixonados. Discorre também sobre a viagem que o espectador está assistindo, narrada em verbo passado. Como voyeurs, presenciamos o casal fazendo sexo, se masturbando, mergulhando, rolando na areia, dormindo juntos, caminhando nús, se divertindo, comendo. Os atores Hermes Pittakos e Sanuye Shoteka são casados na vida real, e por isso o filme funciona tão bem. Eles se permitem fazer de tudo, sem constragimentos, tudo real. as lentes do fotógrafo Kostis Fokas expressam com muita volúpia a relação do casal, e registram as locações em cores vibrantes. A trilha sonora dá um toque de new age, e a direção de Konstantinos Menelaou vai de acordo com o ideal de seu projeto. Todo financiado por Crowdfunding, ele levou anos desenvolvendo o filme, que tem um caráter de video arte, experimental e conceitual. Konstantinos Menelaou quiz falar sobre relacionamento aberto de um casal gay, e ele escolheu fazer o filme na natureza para levantar a possibilidade de que a natureza e a sua exuberância podem interferir nos sentimentos das pessoas.

Mowgli: Entre dois mundos

"Mowgli: legend of the jungle", de Andy Serkis. O Ator Andy Serkis pode não ser famoso para o público em geral, mas as suas criações com certeza o são: ele deu vida ao Gollun, de "O Senhor dos anéis", deu vida a Caesar, de "O planeta dos macacos" e tanto outros personagens digitais. "Mowgli" é sua 2a Direção. Ele estreou há 2 anos atrás com o drama "Uma razão para não esquecer", onde ele contava a história real de um advogado, interpretado por Andrew Garfield, que contraiu uma doença que o deixou tetraplégico. Essa sua versão de "Mowgli", baseado em "O livro das selvas", é um projeto anterior ao Live-action da Disney, de 2016, mas acabou sendo adiado para não sofrer a concorrência. O filme foi adquirido pela Netflix, e conta com um elenco de peso dando voz aos personagens: Cate Blanchett ( a serpente Kaa), Christian Bale ( A pantera Bagheela e a voz inconfundível de Bale faz lembrar Batman o tempo todo), Benedict Cumberbatch como o tigre Shere Khan e o próprio Serkis na voz do Urso Balloh. Mas a grande diferença entre essa versão e as 2 versões da Disney, é que essa é inviável para crianças. Para se ter uma idéia, um dos personagens carismáticos aparece no terceiro ato decapitado e com a cabeça espetada. É para provocar pesadelos em qualquer criança. Fora isso, Serkis tornou todos os animais mesmo os fofos, em feras com ar assassino, para dar mais veracidade aos perigos da selva. A fotografia escura também contribui para essa atmosfera sombria e adulta, mais apropriada para fábulas macabras. Fora isso tudo, é um filme bastante violento: facadas, mordidas sangrentas, tudo é mostrado em detalhes pela produção. A parte técnica é muito boa, e os efeitos também, apesar de alguns animais , como os pássaros, parecerem bastante falsos em seus traços. Outro ponto a se registrar: o excelente trabalho do menino Rohan Chand, no papel de Mowgli. Intenso, mais visceral do que o menino da Disney, e enfrentando cenas bem fortes.

O amigo de Tel Aviv

"The friend from Tel Aviv", de Federica Gianni (2015) Esse filme conta a história real de Nitzan Krimsky, o protagonista que saiu de Tel Aviv há anos e mora em Nova York como Artista plástico. No filme, Nitzan Krimsky tem o nome de Noam: nascido mulher, Nitzan transicionou para um corpo masculino, sendo designado Homem trans. Morando com Louise, uma mulher mais velha que se apaixonou por ele, Nitzan recebe uma ligação de Natan, um amigo e antigo flerte platônico que ele tinha quando ainda morava em tel Aviv como mulher. Ao chegar na festa promovida por Louise, Natan se surpreende com Nitzan e seu corpo masculino, que lhe traz uma tensão sexual muito mais apurada do que antes. Ver um filme onde o próprio Ator conta a sua história e interpreta a si mesmo, é bastante intenso. A cena que Louise lhe obriga a tirar a camisa e mostrar seu corpo novo para Natan, é ao mesmo tempo, excitante e sádica. Um filme que merece ser visto e debatido, dentro dos parâmetros modernos de aceitação dos vários gêneros existentes e que mesmo assim, sofre bastante preconceito pelos conservadores e homofóbicos.

A família

"La família", de Gustavo Rondón Córdova (2017) Primeiro filme Venezuelano a competir no Festival de Cannes, dentro da Mostra Semana da Crítica, e também selecionado pela Venezuela para representar o País para uma vaga ao Oscar 2019, "A família"é uma cacetada sem tamanho, uma dura realidade sobre a tragédia que se abateu na Venezuela desde a grave crise econômica e migração da população para outros Países. A Venezuela da periferia de Caracas apresentada no filme, não difere em nada a qualquer País do terceiro mundo. Um enorme abismo social, desemprego, favelas super povoadas, evasão de escola e principalmente, a falta de assistencialismo em prol da juventude. Os protagonistas do filme são os meninos crescidos na favela: desde cedo, testemunhando assassinatos, crianças de 8 anos empunhando arma e assaltando, tráfico e muita violência. Pedro, um garoto de 12 aos, mora com seu pai Andrés. Andrés quase não para em casa, fazendo bicos em tudo quanto é lugar para poder trazer dinheiro para casa. Pedro passa o dia com seus colegas da comunidade, testemunhando os adultos às voltas com tráfico, arma,s mulheres, bebidas e festas. Seduzidos por esse Universo, Pedro e os outros garotos crescem marrentos, brutos, sem qualquer resquício de civilidade. Por um acidente, Pedro acaba matando um garoto da gangue rival. Seu pai ao saber disso, foge com Pedro para a cidade, temendo que os bandidos os matem. Durante essa travessia, pai e filho tentam se reaproximar. Mas Pedro decide retornar à favela e saber o que aconteceu com seu melhor amigo, Jonnhy, que estava cm ele na hora do acidente. Herdeiro do neorrealismo italiano e do cinema dos irmãos Dardenne, que aponta a sua câmera documental para as figuras marginalizadas pela sociedade. " A família" tem duas performances avassaladoras. Giovanni García e Reggie Reyes, este último como Pedro e sem qualquer trabalho anterior na interpretação, surpreendem e vivem de forma quase espiritual a vida dessas duas figuras amaldiçoadas pela pobreza. Acompanhar a trajetória dos dois é bastante sofrida. As cenas onde o filho observa o pai trabalhando em sub-empreog, e aos poucos, vai tentado imitá-lo, são emocionantes e contundentes. Mais foda ainda, é a cena onde o filho presencia o pai apanhar por ter roubado garrafas de bebida de uma festa onde trabalhou como garçon. Um drama arrebatador. eu quase não conhecia o Cinema da Venezuela e fiquei bastante feliz de ter visto esse filme.

Bumblebee

"Bumblebee", de Travis Knight (2018) Travis Knight tem apenas 2 longas em seu currículo, mas já ganhou admiração dos executivos de Hollywood: ele estreou com a premiada animação "Kubo e as cordas mágicas", onde Travis assumidamente homenageou Akira Kurosawa e Hayao Miyazaki, suas maiores referências do cinema asiático. Agora com "Bumblebee", o prequel da milionária franquia de Michael Bay, Travis Knight conseguiu uma grande façanha que Michael Bay não havia conseguido até então: fazer a melhor homenagem ao cinema de Steven Spielberg, se escorando naquilo que Spielberg já ensinou desde o seu primeiro filme: aposte na emoção e na fantasia da relação do humano com o ser diferente. Travis fez o filme que todo fã nostálgico saudoso dos anos 80 ( e consequentemente, a nova geração viciada em 'Stranger things") mais gosta: falar das amizades antes da era da internet e do celular. Além de Spielberg outro grande homenageado é John Hughes, famoso Cineasta único em retratar o conflito de geração e o amadurecimento do adolescente, às voltas com problemas envolvendo família, perda de ente querido ( quer algo mais Spielberg do que o protagonista não ter pai???), escola, bullying e primeiro amor. E tudo graças a Deus, embalado por uma das melhores coletâneas dos anos 80, que tem tudo aquilo que a gente mais ama: The Smiths, Rick Astley, A-ha, Tears for fears, Duran Duran, e até a atriz Heilee Steinfield revisitando a época com a música "Back to life". O mais curioso é que apenas uns 15% do filme lembra os Transformers de Michael Bay, nas inevitáveis batalhas e lutas metálicas e épicas onde se destrói meio mundo. Os outros 85% é um filme de Spielberg e Hughes, onde existem referências explícitas aos filmes "Et, o extraterrestre" e "O Clube dos cinco". A história é clichê, mas bastante funcional: Charlie (Hailee Steinfeld, revelada pelos irmãos Coen em "Bravura indômita" e filha de Mark Rufallo no delicioso "Se nada mais der certo") é órfã de pai e mora com sua mãe, padrasto e irmão caçula. Melancólica e introspectiva, ela sente a perda do pai. Charlie trabalha em um quiosque e seu sonho é ter um carro. No seu caminho, ela encontra um fusca amarelo, que mais tarde ela vai descobrir ser Bumblebbe ( apelido que la dá) e que está na terra para salvar o mundo dos Decepticons. O filme investe mais no drama e na amizade da menina com o robô, tema comum de 8 entre 10 filmes de ficção científica dos aos 80. "Bumblebbe" é uma emotiva viagem no tempo que presenteia seu público com esse registro de época singular. E que maravilha é assistir Hailee Steinfeld e perceber que ela está crescendo e se tornando uma carismática e talentosa atriz.

Ursinho

"Ursinho", de Stéphane Olijnyk (2018) Selecionado para a Competição oficial do prestigiado Festival de Clermont Ferrand, e participando do Festival Mix Brasil 2018, "Ursinho" foi escrito e dirigido pelo Cineasta francês Stéphane Olijnyk, que levou anos desenvolvendo esse projeto, financiado com recursos próprios e com apoio da CNC (Centre Nacional de la Cinematographie) e do Canal Arte. Stéphane Olijnyk filmou na comunidade do Pavãozinho e nas ruas de Copacabana, e também na famosa Sauna Gay Point 202. Ursinho (Digão Ribeiro) - apelido dado por seu pai- é um jovem de 30 anos, negro, favelado, sem escolaridade. Ele mora com seu pai, deficiente físico, em um barraco no Pavãozinho, na parte alta. Ursinho vive de fazer serviços de faxina em apartamentos de moradores de Copacabana. Um dia, ele vai fazer serviço no apto do Sr Fortíssimo (Luís Furlanetto), um idoso aposentado. Ursinho descobre que ele aluga o quarto da empregada para um michê (Rafael Braga), por quem ele fica totalmente fascinado. Mais tarde, ao frequentar a sauna gay, Ursinho descobre que o mesmo michê trabalha lá. Mas a sua timidez e baixa auto-estima o impedem de se aproximar do rapaz. O filme surpreende pelo olhar sem piedade para as figuras invisíveis de Copacabana. Não existe compaixão. Negros, idosos, transformistas, gays, garotos de programas, todos vivem a sua rotina tentando desesperadamente sobreviver. A fotografia de João Padua recria com tintas realistas o ambiente da favela e das ruas de Copacabana, e contrasta com a atmosfera da Sauna, que é lúdica, luxuriosa, fetichista, coberta de cores hipersaturadas. É um filme voyeurista, sacana, cheio de sacanagem, de putaria. Mas também imerso em solidão, tristeza, amargura e cheiro de morte, tanto física ( o pai doente, o idoso solitário) quanto psicológica. Ursinho, que nem nome tem, se deixa abater pela condição de inferioridade que a sociedade e o padrão de consumo e de beleza lhe impõem. A sua única possibilidade de subida na vida, é literalmente, subindo a escadaria da comunidade. Ponto para a Direção de Stéphane Olijnyk. É um filme que machuca, o seu desfecho é cruel. O elenco, escalado pela produtora de elenco Duda Gorter, está excelente: Digão Ribeiro, Rafael Braga, Luís Furlanetto. Viscerais, trabalhando no registro naturalista. É filme provocador, adulto, e que instiga reflexões.

No telhado

"En la azotea", de Damià Serra Cauchetiez (2016) Super premiado curta espanhol LGBTQ+, tem como ponto forte o ótimo trabalho de todo o jovem elenco. Um grupo de meninos se encontra todos os dias às 17 horas no alto de um prédio, para observar a vizinha do prédio da frente tomando banho de sol nua. Mas nesse dia, um dos meninos terá sua atenção tomada por um rapaz que também toma banho de sol pelado. Tratando de temas como descoberta da sexualidade e homofobia, o diretor Damià Serra Cauchetiez lida com bastante sensibilidade o trabalho dos garotos com a tensão sexual provocada pela excitação de ver um corpo masculino nú, Simples mas bem construído, o filme poderia ter sido rodado em qualquer parte do mundo, até mesmo em comunidades do Rio de Janeiro. Voyeurismo, brincadeira boba de garotos metidos a machos e provocação acontece com todo mundo, e cada um reage de forma diferente. Vale como reflexão para um mundo onde a sociedade machista comanda a educação dos meninos.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

O filho

"El hijo", de Venci Kostov (2012) Polêmico curta espanhol LGBTQ+, escrito e dirigido por Venci Kostov. Pedro é um adolescente revoltado. Seu pai, um policial, o abusa sexualmente. Na escola, Pedro faz parte de um grupo de baderneiros que passam a noite quebrando lojas e batendo em homossexuais nos guetos. Pedro tem um amante, seu colega de sala, Luiz, e transam às escondidas. A mãe de Pedro, é quem ele mais ama no mundo. Imersa em sua cozinha, ela ignora quem realmente são seu marido e seu filho. Uma noite, Pedro e seus colegas espancam garotos de programa e seus clientes em uma avenida afastada da cidade. Pedro reconhece seu pai como um dos clientes. O diretor Venci Kostov dirige com cautela e sensibilidade um tema tão complexo quanto o do incesto. Graças ao talento dos 3 atores principais ( os que interpretam Pedro, o pai e a mãe), o filme atinge um nível de realismo e maturidade absurdos. É um trabalho visceral a dos atores, e merecem elogios. O roteiro conta também com clichês de homofobia, mas a trama funciona bem. As cenas do pai observando o filho em momentos de intimidade ( tem uma cena cruel, do pai obrigando o filho a tomar banho e o observa nu no chuveiro) são avassaladoras.

Animais fantásticos: Os crimes de Grindelwald

"Fantastic Beasts: The Crimes of Grindelwald", de David Yates (2018) Gostei muito mais dessa 2a parte da franquia "Animais fantásticos". Efeitos sensacionais, várias cenas épicas e aquele gostinho que tive quando assisti a "O império contra-ataca": aquela sensação de que esse é um filme intermediário. O roteiro joga várias surpresas, e deixa tudo em aberto. Como é foda essa escritora J. K. Rowling. Ela merece cada libra que ela ganha. que mente criativa, caramba! São uma porrada de personagens e criaturas que surgem ao longo do filme. Acho inclusive que há um excesso de personagens e de sub-tramas, muitas intrigas familiares, romances desenlaçados. Mas o que é inegável: Johnny Depp nasceu para esses papéis. Não dá para imaginar outro Ator interpretando um vilão tão debochado, cool, e carismático. A mídia insiste em querer derrubar a carreira do Ator, mas que bom que ele continua sendo escalado. Confesso que não sou expert nesse Universo do Harry Potter e me perdi em vários momentos. Quem é Aurelius Dumbledore????? Muita informação, saí do filme parecendo que caí num liquidificador. Um dia compro um dicionário Hogwarts para entender um pouco melhor tudo isso aí. Ah sim, quero um ornitorrinco daqueles, coisa fofa.

Lockjaw

“Lockjaw”, de Chris Michael Birkmeier (206( Curta LGBTQ+ exibido em diversos Festivais, foi rodado em preto e branco e apresenta um dilema para um casal gay: Peter e Rory são felizes, moram juntos e aparentemente nada lhes falta. Durante um papo descontraído em casa, tomando um café, Rory se incomoda que Peter está teclando no celular enquanto conversam. Acaba descobrindo que Peter criou um perfil no Tinder, e pior, deu Match com uma pessoa. Rory se irrita, pergunta se Peter avisou que tinha um namorado. Peter diz que sim, e propõe que façam sexo à três. Rory se recusa, mas por amor, cede. Mas enquanto aguardam a chegada da terceira pessoa, o relacionamento do casal parece desmoronar. Bons atores, bons diálogos e um tema pertinente aos dias de hoje, onde um relacionamento parece estar com dias contados e substituído pelo prazer volátil dos aplicativos. Filme enxuto e no tempo certo.

Night out

“Night out”, de Stratos Tzitzis (2017) O roteirista e cineasta grego Stratos Tzitzis realiza o seu “Shortbus” alemão. Para quem não se lembra, ‘Shortbus” é o cult independente americano de John Cameron Mitchell que sacudiu o Festival de Cannes quando foi exibido em 2006, com seu coquetel explosivo de sexo explícito, em histórias entrecruzadas de casais de todos os sexos, gêneros, raças e credos às voltas com conflitos amorosos. Todos se encontram na Boite/Cabaret Shortbus, onde tudo é permitido. Em “Night out”, Stratos Tzitzis faz o mesmo. Sua intenção é mostrar a vida sexualmente ativa de alemães e estrangeiros que moram em Berlin. De dia ou d enoite, tudo converge para o Nightclub KitKat Club, onde as pessoas transam com quem querem, em orgias, dark rooms, tudo altamente permissivo e liberal. Trans, gays, lésbicas, heteros, vale tudo para todos, é a alegria do Poliamor. O que faltou no filme foi um bom roteiro e bons personagens que justifiquem acompanhar as histórias. Todos os personagens ao bastante rasos, e acaba que o único ponto de interesse mesmo no filme é a putaria e a vontade de conhecer esse KitKat Club. Fosse um filme brasileiro, todo mundo iria dizer que no Brasil só se mostra sacanagem nos filmes nacionais. Será que os alemães pensam o mesmo?

terça-feira, 25 de dezembro de 2018

Versátil

"Versatile", de Carlos Ocho (2017) Curta espanhol escrito e dirigido por Carlos Ocho. Alex e Hugo formam um jovem casal gay. Eles são bonitos, bem sucedidos. Os dois estão de bem com a vida. São 8 meses de namoro. Mas hoje, as coisas irão mudar. Alex é passivo. Hugo é versátil. Eles chegam de uma festa, estão excitados. Alex se prepara para fazer o passivo, mas súbito, Hugo pede para que Alex mude seu papel sexual: Hugo quer ser o passivo da vez. Chocado com a postura do namorado, Alex se recusa. O casal começa a discutir forte a relação, baseada no papel sexual de cada um deles. O tema poderia render uma ótima comédia de Almodovar, mas na mão de Carlos Ocho, vira um drama de performances consistentes e fortes de Eudald Font e Christian Escudero. Os diálogos são francos, honestos, duros. Não há mais espaço para o amor, e sim, para revelações. Bem conduzido, econômico, um filme de baixo orçamento baseado apenas no trabalho de 2 atores, um apartamento e um roteiro de tema controverso.

Psychokinesis

"Psychokinesis", de Yeun Sang-Ho (2018) O cinema sul coreano é polêmico: tem quem goste em quem odeie. Independente do gênero: terror, ação, drama, comédia, fantasia, ficção científica, os sul coreanos sempre colocam uma porção de pastelão no meio da história. Às vezes funciona bastante, como no filme de monstro "O hospedeiro". Aqui, em "Psychokinesis", o cineasta Yeun Sang-Ho, do cultuado filme "Invasão Zumbi", brinca de filmes de super herói. Dependendo do seu ponto de vista e do seu humor, pode ser que você se divirta, ou então, se irrite bastante. Eu me diverti. Gosto dessa mistura inusitada de comédia e de personagens caricatos que a filmografia sul coreana tem. A trma desse filme lembra bastante do filme americano "Poder sem limites". Pessoas comuns que expostas a um material radioativo proveniente do espaço se transformam em super heróis. Aqui, no caso, o pacato Seok-heon, durante um passeio nas montanhas, bebe de uma água contaminada por um material alienígena e adquire poderes de poder mover objetos e de poder voar. Ele se reaproxima de sua filha Roo Mi, que ele abandonou quando ela era criança. Com a morte da mãe de Roo Mi, dona de um restaurante, por acidente provocado por donos ambiciosos de uma construtora que querem construir um Shopping no terreno do restaurante, Seok-heon trava uma luta sem igual contra os vilões. Com efeitos especais que nada devem ao padrão americano ( apesar de uma ou outra cena ficar nítida o uso de croma e cabos de sustentação) , o filme tem personagens carismáticos e boas cenas de ação. Aonde o filme fica mais prejudicado, é no seu roteiro, bastante ingênuo e com pontas soltas ( por ex, a grande vilã simplesmente desaparece do filme). Mas vale como passatempo para um domingo de tarde. Pipoca matutina.

Lizzie

"Lizzie", de Craig William Macneill (2018) Adaptado para o cinema e para a tv, e também como série de tv com Cristina Ricci, "Lizzie", adaptação do famoso caso envolvendo Lizzie Borden, ganha nova versão, dessa vez produzido e protagonizado por Chloe Sevigny e co-estrelado por Kirsten Stewart. Em 1892, em Fall River, Massachussetes, o pai e a madrasta de Lizzie foram encontrados mortos a machadadas, cada um com mais de 40 golpes. A suspeita recaiu sobre Lizzie, mas após julgamento, ela foi absolvida, pois nada foi provado contra ela. Essa nova versão, adaptada para os tempos de diversidade sexual e feminismo, apresenta uma versão polêmica: Lizzie tem uma relação conflituosa com seu pai e madrasta. Ela acreditava que seu pai estava querendo tirar ela do testamento. Fora isso, ele a maltratava fisicamente. Quando a empregada Bridget (Stewart) começou a trabalhar na casa dos Borden, Lizzie presenciou seu pai estuprando a serviçal. Lizzie nutria um flerte sexual por Bridget, o que aparentemente era correspondido. O desfecho do filme apresenta uma versão muito pessoal na hora do assassinato, mas segundo constam os arquivos reais, nada foi comprovado. O cineasta Craig William Macneill conduz o filme com bastante frieza narrativa, refletida em seu ritmo bastante lento. É um filme ousado, violento e bastante angustiante. Vale assistir pelo trabalho das duas ótimas atrizes ( e como Stewart tem crescido como atriz!!). Em atuações viscerais, ambas ficam nuas em cena. Não é um filme fácil de ser absorvido, dada a natureza de sua história cruel. Para quem não consegue assistir cenas de maus tratos com animais, há uma cena cruel contra pombos. O filme concorreu em Sundance 2018, mas saiu d elá sem prêmios.