quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Os rapazes da banda


"The boys in the band", de Joe Mantello (2020)
Refilmagem do clássico longa dirigido por Willian Friedkin em 1970, “Os rapazes da banda” é originalmente uma peça histórica, lançada no Off Broadway em 1968 e escrita por Mart Crowley. Na época do lançamento, a peça foi um verdadeiro escândalo, por fazer uma representação da vida de 8 gays assumidos, de boa classe social e discutindo assuntos fúteis, mas tendo como pano de fundo a solidão e a depressão.
Em 2018, o diretor Joe Mantello resolveu remontar a peça na Broadway, em edição comemorativa dos 50 anos de lançamento, e escalou um elenco de atores famosos e assumidamente homossexuais. Pois é esse mesmo elenco que agora dá vida ao filme, com a mesma direção e o mesmo elenco da peça, além de ter sido produzido pelo mago da tv, Ryan Murphy. Jim Parsons, Zachary Quinto, Matt Bommer entre outros, revivem os personagens com muita alegria, melancolia e veneno destilado para destruir as amizades. E uma nota especial: o elenco está absolutamente soberbo, à vontade em seus papéis. POR FAVOR, ADAPTEM A PEÇA PARA OS PALCOS BRASILEIROS!!
Parson interpreta Michael, um dramaturgo que mora sozinho em um belo apartamento em Nova York. Ele decide montar uma festa de aniversário para um amigo, Harold (Quinto) e convida vários amigos. Porém, quando Alan chega, todos ficam desconfiados. Michael acredita que Alan é um homossexual enrustido e fará de tudo, durante a festa, para desmascarar a verdade sobre ele.
Com uma direção incrível de Mantello, que realiza uma tarefa muito difícil, que é a de ambientar todo o filme praticamente em um único cenário, o filme se fortalece bastante pela escalação de um time de atores de peso. Jim Parson definitivamente merecia uma indicação ao Oscar por essa performance arrebatadora. Toda a parte técnica: figurino, direção de arte, fotografia, trilha sonora, ambientando o filme no final dos anos 60, é de primeiríssimo nível. Imperdível!

terça-feira, 29 de setembro de 2020

La llorona


“La llorona”, de Jayro Bustamante (2019)
Premiado em importantes Festivais de cinema, como Veneza e San Sebastian, ‘A chorona” é uma produção da Guatemala que se apripria da lenda urbana da Chorona para contar um terror ainda maior: a ditadura militar na Guatemala. Nos anos 80, milhares de indígenas da etnia maia Ixil foram chacinados pelos militares, principalmente as crianças. Os militares tomaram as terras indígenas. Na lenda, uma mulher teve os seus filhos afogados e deseja vingança, matando os filhos de outras famílias. O filme traz essa lenda para os dias de hoje. Um general reformado, Enrique, é finalmente acusado e sentenciado pela chacina. Enfermo, ele fica na sua casa, morando com esposa, filha e neta, além das empregadas indigenas. Enrique escuta um choro e acredita que uma das empregadas indigenas está possuída, querendo matar a sua neta. Paralelo, familiares das vítimas fazem vigília na casa do general, exigindo vingança.
Dirigido pelo diretor mais premiado da Guatemala, Jayro Bustamante
, diretor dos mega premiados “Ixcanul” e “Tremores”, Jayro mescla drama, documento político e terror para falar sobre o acerto de contas de um povo contra os seus algozes. Mas atenção, não é filme para fãs de terror. É uma alegoria política sobre crimes contra uma cultura, e de que forma esses crimes estão sendo expostos na mídia.

Mudança de sexo


"Cambio de sexo", de Vicente Aranda (1977)
"E seis meses depois, Maria José teve o seu primeiro orgasmo feminino". Com essa frase, o Cineasta espanhol Vicente Aranda realiza um clássico do cinema LGBTQIA+ , um filme obscuro que entrou para a história por ser um pioneiro na história de um protagonista que faz mudança de sexo por insatisfação com o seu corpo, baseado em história real. Antes mesmo de filmar o seu primeiro curta, Almodovar certamente deve muito de seu cinema à 'Mudança de sexo": nesse filme de 1977, duas musas do futuro cinema de Almodovar estão presentes: Victoria April e a transsexual Bibi Anderssen, que faz um polêmico nú frontal, o primeiro de uma mulher trans no cinema. Hoje em dia, a escalação de Victoria April seria rechaçada pelo discurso do "lugar da fala": ela interpreta José Maria, um jovem que mora com uma família conservadora e que sofre bullying na escola, por seu perfil fragilizado. O pai quer que José Maria transe com uma prostitua, mas ele se recusa e foge. José vai trabalhar e um salão e lá conhece a trans Bibi, que a leva para conhecer o seu show de cabaré. Logo, José confessa o seu desejo de fazer cirurgia de mudança de sexo, para poder agradar a um homem que ela conheceu, mas que não teve coragem de dizer que é um homem.
A fotografia é do mestre Nestor Almendros, ganhador do Oscar por "Cinzas no paraíso", de Terrence Malick. Vicente Aranda ficou bastante conhecido por filmes como "Amantes" e "O amante bilingue", vindo a falecer em 2015. Mesmo sendo escalada para viver um homem, Victoria April está ótima, esbanjando talento e carisma. Bibi tem aquele star quality que tanto encheu os olhos de Almodovar. cantando e dublando em cenas de cabaré.

segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Remédio amargo

El preacticante", de Carles Torras (2020)
O cinema espanhol tem dominado o mundo do streaming com produções do gênero suspense e terror. Em ‘Remédio amargo”, o filme trata do eterno tema do abuso doméstico e do relacionamento tóxico. Angel (Mario Casas) é casado com Vane (Déborah François). Ele é um paramédico com más intenções: durante os acidentes com as vítimas, ele costuma roubar pertences delas. Durante uma das rondas, a ambulância onde Angel está sofre um acidente e ele se torna paraplégico. Vane de início cuida do marido, mas Angel se torna cada vez mais insuportável, não aceitando a sua condição de cadeirante. Aos poucos, Angel vai se tornando ciumento, e acredita que Vane o está traindo. Quando essa suspeita se confirma, ele sequestra Vane e a deixa trancada em casa.Um filme médio, mas ainda assim, que vale a pena assistir. Pode deixar a platéia feminina bastante irritada com os constantes abusos do personagem de Angel, que não economiza vilania para obter aquilo que ele quer se vingar de sua condição e colocar a culpa em Vane. Pra fazer a história seguir, o filme abusa de situações inverossímeis, mas nada que estrague o prazer da cena final.



Aviso, não toque!



domingo, 27 de setembro de 2020

Não se deve profanar o sono dos mortos


"No profanar los suenos de los muertos", de Jorge Grau (1974) Clássico do terror espanhol de 1974, que veio na esteira do grande sucesso comercial de "A noite dos mortos vivos", de George Romero. O filme é uma co-produção Itália e Espanha, e possui cenas bastante violentas e gore do que as realizadas por George Romero: zumbis devorando carne, uma mulher que tem os seios arrancados, um homem que tem a barriga arrebentada e vísceras devoradas. A história é bem curiosa: um jovem dono de uma loja de antiquários, George, leva uns artefatos para o interior, para entregar a um cliente. No caminho, ele conhece Katie, uma jovem que foi visitar uma irmã, Edna, casada com um cientista. Guthrie. ele criou uma máquina que espanta os insetos das plantações, mas esse mesmo artefato faz os mortos ressuscitarem. Logo, a cidade estará invadida por uma horda de zumbis.
Um dos grandes filmes de zumbis dos anos 70, é obrigatório para quem gosta dos filmes vintage: bom roteiro, bons efeitos e uma deliciosa trilha sonora, que inclui uma música que anuncia a chegada dos zumbis.

sábado, 26 de setembro de 2020

À sangue frio


"In cold blood", de Richard Brooks (1967)
Que obra prima! Baseado no famoso e polêmico livro escrito por Truman Capote no ano de 1966, o filme retrata de forma quase documental o brutal assassinato da família Clutter, fazendeiros ricos de Holcomb, Kansas. Dois criminosos, os losers Perry Smith (Robert Blake) e Dick Hickock (Scott Wilson), bolam um plano para invadir a casa e roubar dinheiro que acreditam estar em um cofre. Mas quando chegam na casa e descobrem que não há dinheiro, em m ímpeto de fúria, matam o pai, mãe e dois filhos.
O que torna a narrativa controversa é que o filme é todo narrado pelo ponto de vista dos criminosos. O filme apresenta os assassinatos apenas no ato final, deixando em aberto até então como ocorreu o assassinato múltiplo O espectador vai se afeiçoando ao personagem de Perry, um homem torturado por traumas do passado. A polêmica que desagradou tanta gente é que o filme procura humanizar e entender os motivos pelos quais os criminosos agiram com tanta brutalidade. A direção de Richard Brooks, o roteiro, escrito em conjunto com Truman Capote, a belíssima e dramática fotografia em preto e branco e a trilha sonora de Quincy Jones são grandes trunfos do filme. Mas o elenco merece palmas e aplausos de pé: todos, os dois criminosos, os familiares, os investigadores, todos os atores estão formidáveis. Tudo é realizado em formato documental, com bastante frieza narrativa e com economia de trilha. Uma aula de direção, edição e roteiro, o filme certamente influenciou muitos filmes que vieram depois, principalmente na cena final, com o cumprimento da pena de morte por enforcamento. Todo mundo copiou aqui, até mesmo "Dançando no escuro", de Lars Von Triers. A cena da confissão de Perry em frente à uma janela onde chove lá fora, é um primor de fotografia: o reflexo da chuva batendo na janela sobre o rosto de Perry faz sobrepor como se fossem lágrimas descendo de seu rosto. Genial.

O estripador da Rua Augusta


"O estripador da Rua Augusta", de Geisla Fernandes, Felipe M. Guerra (2014)

Divertido curta trash gore paulistano, parte de uma idéia sensacional: na soturna e violenta noite da Rua Augusta, uma vampira sexy (Monica Mattos, atriz pornô), caça suas vítimas noas boites decadentes da região. No entanto, ela não contava que sua próxima vítima fosse um serial killer (Henrique Zanoni), Ao descobrir que ela é vampira, o serial killer a dopa e ao acordar, ela descobre que está acorrentada com correntes benzidas em água benta. O serial killer diz à ela que seu sonho se realizou: matar uma mulher que ao morrer, ressuscita, podendo assim ser assassinada de todas as formas possíveis. ele arranca o coração dela, marreta seu rosto, prega um prego enorme em seu joelho, arranca os mamilos, enfim, faz verdadeiras sessões de tortura. Até que, cansado dela, resolve matá-la de vez e ir atrás da próxima vítima. Graças aos ótimos efeitos especiais do craque Kapel Furmman, o filme, mesmo que dentro de uma narrativa trash, funciona super bem. OS atores são amadores, a fotografia é ruim, mas essa dosagem é que faz o filme ser um grande achado. O filme homenageia os torture porn, gênero popularizado com "Jogos mortais", "O Albergue" e tantos outros filmes. Um clássico do cinema independente.

sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Desconexo

"Desconexo", de Luís Avallos. Produzido, escrito, dirigido e protagonizado por Luís Avallos, "Desconexo" é um curta LGBTQIA+ que foi selecionado para o prestigiado Festival OutFest los Angeles em 2020. Realizador de diversos curtas, Luís Avallos traz um grito de insatisfação de toda uma geração de jovens que não se encaixa no atual Governo: em off, na televisão, os personagens escutam a repórter falando sobre a queimada na Amazônia, sobre a derrocada na Ancine e sobre a censura do Governo que proíbe filmes que atentam contra a sagrada sagrada família brasileira. Para contestar todo esse circo de horrores, Luís fez um filme que fala justamente sobre desejo e tesão entre dois rapazes, vizinhos de um prédio que nunca se falaram, imersos em sua solidão, varando madrugadas em câmeras se masturbando para anônimos. Quando o Governo decide interromper a conexão de Internet, sem previsão de retorno, os dois vizinhos, interpretados por Júlio Oliveira e Luís Avallos, se falam pela primeira vez. O desejo que bate forte dentro de cada um deles, jamais se revela. Existem toques, tensões sexuais. Mas como o próprio Governo prega, o amor consumado não é permitido. As cenas são belamente filmadas, a fotografia estilizada ajuda a dar uma atmosfera de sensualidade, sem jamais vulgarizar as imagens. Os dois atores estão ótimos e bastante convincentes em seus papéis. Fotografia e trilha sonora super no clima da história, valorizando os momentos de provocação e de tesão. 


Enola Holmes


 "Enola Holmes", de Harry Bradbeer (2020)

Adaptado da série de livros escritos pela escritora Nancy Springer, o filme "Enola Holmes" se ambienta na Inglaterra do Século XIX. A jovem Enola Holmes (Millie Bobby Brown, a Eleven de 'Stranger things") mora com sua mãe, Eudoria (Helena Bonham Carter). Os dois irmãos de Enola , Sherlock Holmes (Henry Cavill) e Mycroft (Sam Claflin) moram em Londres e trabalham como detetives. Ao contrário do que os irmãos conservadores imaginam, Enola está sendo educada pela sua mãe para poder se defender de um mundo machista: aprende a dar tiros, arco e flechas, artes marciais, porrada e toda uma literatura de ciências. Quando completa 16 anos, Enola descobre que sua mãe desapareceu. Enola vai atrás dela em Londres, mas seus irmãos querem interná-la em um instituto para mulheres. Enola foge, e no trem, ela conhece o jovem Tewkesbury (Louis Partridge), um rapaz aristocrata que foge de sua família poderosa,

osi acredita que alguém está querendo matá-lo.
Harry Bradbeer, ele acaba trazendo a mesma narrativa: a protagonista fala pra câmera, e fala sozinha muitas vezes. Eu não gosto desse recurso, deixa o filme chato e não faz a mínima diferença não ter essa quebra da quarta parede. Além disso, o filme é longo demais, e acaba perdendo o ritmo. O que segura o filme é o elenco, principalmente Millie Bobby Brown, que está maravilhosa e segurando total a protagonista, com muito carisma. Helena Bonhan Carter e aquele patrimônio inglês, difícil imaginar um filme de fantasia inglês sem ela no elenco. O jovem Louis Partridge também é uma ótima escalação. Henry Cavill e Sam Clafinn estão ok, mas os personagens são bastante apagados na história. Um bom passatempo, pipoca esticada mas mesmo assim, valendo a pena assistir.

0.0 Mhz


"0.0 Mhz", de Sun-Dong Yoo (2019)

Adaptado da graphic novel escrita por Jak Jan. é mais uma produção de terror que vem da Ásia. O cinema sul coreano tem explorado na última década um sucesso comercia de crítica e público no mundo inteiro. Drama, romance, suspense, terror, ação. Todos os gêneros têm funcionando super bem. Mas assim como tem filmes excelentes, têm filmes ruins. "0.0 Mhz" é da safra ruim. Filmes de casa assombrada por espíritos sempre existirão no cinema asiático, não adianta. As "Samaras "fazem parte da cultura pop. O problema aqui nem é a Samara, mas sim, a chupação total em cima de O Grito". E alguém ainda aguente no cinema atual, que os protagonistas pela enesima vez façam parte de um grupo de paranormais que visitam uma casa assombrada para espantar os espíritos? Personagens sem carisma, final sem graça e bobo, e as imagens de um poço e de um vídeo por onde o espírito passa, já cansaram. Só para quem nao resiste à uma cópia de Samara. Senão, passe batido.

Língua Franca

"Língua Franca", de Isabel Sandoval (2019)
Premiado em diversos festivais, "Língua Franca" é um drama LGBTQIA+ filipino escrito, dirigido e protagonizado pela Cineasta Trans filipina Isabel Sandoval. O filme é todo rodado no Brooklyn, em Nova York, e conta a história de Olivia (Isabel Sandoval), uma imigrante filipina ilegal nos Estados Unidos. Olivia trabalha para uma idosa com demência como cuidadora e empregada. Olivia precisa arranjar um green card ou caso contrário, será deportada, dentro da política de imigração de Trump. Sua irmã Trixie, também trans, consegue um marido "comprado". O que Olvida arranjou, se apaixonou por uma mulher e desistiu do casamento. Olivia acaba se envolvendo com Alex, neto da idosa. Alex não tem emprego e vive de pequenos golpes. Alex se oferece para "casar" com Olivia, mas ela desconfia das intenções dele.
Um drama sutil, delicado, mas muito melancólico e depressivo. As cenas são todas bastante depressivas e a história, muito baixo astral. Para quem curte filme cm essa atmosfera, vai adorar. É um filme sobre personagens losers, que não deram certo na vida, e as opções de futuro são praticamente nulas. ótimo trabalho do elenco.

Rot

"Rot", de Andrew Merrill (2019)
Ótimo filme de terror psicológico, "Rot" lembra os filmes de baixo orçamento de David Cronemberg que ele fazia nos anos 70 e início dos anos 80. As maiores referênciaa aqui seriam 'Shivers" e "Rabbid, enraivecida na fúria do sexo". Em "Rot", um parasita contamina as pessoas e as deixam enfurecidas. Entre eles, Jessie, um enfermeiro que, irritado pelo rompimento do namoro com sua namorada, fará de tudo para atacar ela e ao núcleo de amigos em comum.
De baixo orçamento, essa produção independente se apropria de um um maior realismo que os filmes de gênero, podendo até ser associado a um filme de zumbis sem maquiagem nem efeitos. Somente nos últimos cinco minutos, o filme dá uma pirada boa, mostrando um pênis ereto, lar do parasita!!!!!!!!!!. Uma cena certamente que entrará para a história. No mais, um bom filme, dentro da norma do novo cinema de terror independente.

quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Foxy Brown


"Foxy Brown", de Jack Hill (1974)
Um dos filmes mais celebrados e importantes do gênero "Blackexpoitation", "Foxy brown" foi homenageado por Tarantino em seu filme "Jackie Brown", escalando como protagonista a mesma atriz, Pam Grier, musa do movimento. "Blackexpoitation" era um gênero onde a comunidade negra podia produzir filmes para ser consumido pelo público afro-americano. Diretores, roteiristas elenco, era o momento da representatividade e inclusão. Foram filme de baixo orçamento e filmados rápido para poder ganhar dinheiro. "Foxy Brown" foi um grande sucesso, apesar das críticas que falavam da objetificação da mulher negra e dos negros, associados à prostituição e ao tráfico de drogas.Aqui, os vilões são os brancos, e nessa guerra entre raças, Foxy Brown sai dando bordoadas, tiros e muito mais.
Pam Grier interpreta Foxy. Ela quer se vingar do assassinato de seu namorado por uma quadrilha de traficantes, e para isso, não mede esforços. O filme é um grande clássico, divertido e cheio de presença de espírito. Eu morri de rir em várias cenas, os diálogos são incríveis e os personagens, estereotipados, são muito divertidos, mesmos os vilões. Proibido em diversos países, acusado de obscenidade ( o filme tem uma cena antológica e ousada em um bar de lésbicas barra pesadas, todas caricatas), A cena final, que envolve um monomotor, também é demais.
Um filme para ver e rever, uma delícia sem igual.

quarta-feira, 23 de setembro de 2020

A Deusa da fortuna

"La Dea fortuna", de Ferzan Ozpetek (2019)
Drama LGBTQIA+ do mesmo diretor dos grandes sucessos italianos, 'A fada ignorante" e "O primeiro que disse", "A deus da fortuna" lida com preconceitos dentro de uma união gay. Arturo (Stefano Accorsi) e Alessandro (Edoardo Leo) aparentemente formam um casal belo e bem sucedido. Mas diante das aparências, existe uma verdade: ambos estão em crise. Arturo é um tradutor frustrado por não conseguir seguir a carreira de roteirista, e Alessandro é um encanador. Uma amiga d elonga data, Annamaria (Jasmine Trinca), mãe solteira de duas crianças, chega após longo tempo de ausência e pede um favor aos amigos: ela precisa se internar e quer que eles cuidem dos dois filhos pequenos. Mas a permanência de Annamaria no hospital se alonga, e a presença das crianças provoca uma crise enorme no casamento do casal, deixando claro que se não resolverem as suas diferenças, a relação se acabará.
Com menos humor que seus filmes anteriores, o filme aposta no melodrama familiar, cercado de homofobia, ciúmes e uma avó malvada, em ótima performance de Barbara Alberti. Para quem gosta de um drama;hão, é uma boa pedida. Caso contrário, mantenha-se afastado.

Tudo bem

"Tudo bem", de
Caio César
. (2020)
Projeto aprovado no Edital da Secretaria de Cultura do Rio de Janeiro, #CulturaPresenteNasRedes, com finalidade de promover a realização de filmes durante a quarentena, "Tudo bem" é um curta que vislumbra o melhor do cinema independente carioca. Dirigido e escrito por
Caio César
, e com atuações espontâneas e muito carismáticas e apaixonantes da dupla de atores
Daniel Rangel
e
Heslaine Vieira
, o filme fala sobre o Amor na quarentena. Com boa dose de drama, romance e humor, a narrativa apresenta duas pessoas que se conhecem antes da quarentena, mas que, diante do lockdown e das dificuldades de aproximação de contatos físicos, acabam descobrindo que se gostam pelo simples fato dos olhos falarem o que as palavras não dizem. Máscaras cobrem os sorrisos, mas os olhos, expostos, refletem emoção mais do que necessária para que alguém diga "eu gosto de você". O filme é um exemplo mais do que fiel de que um bom roteiro e ótimos atores, além de boa direção que respeite o espaço dos personagens, são mais importantes do que orçamento apertado. A criatividade transparece quando os desafios orçamentários surgem, e aí, nada melhor do que focar no que é importante: os atores.
Link para assistir ao filme:

terça-feira, 22 de setembro de 2020

The dead ones


"The dead ones", de Jeremy Kasten (2020)
Bastante elogiado pela crítica, 'The deda ones" é um terror sobrenatural com um roteiro bem confuso. O filme é uma mistura de "Elefante", "Tiros em Columbine", "Os novos mutantes" , "O clube dos cinco" e "The purge".
Com violência gore e cenas de chacina dentro de uma escola, o filme acompanha 4 adolescentes que são obrigados pela professora a ficarem de castigo após terem vandalizado as dependência da escola. Eles passam a noite limpando o local, mas logo eles descobrem que estão em uma armadilha: ficaram trancados no local, se poderem fugir. 4 pessoas vestidas com máscaras dos cavaleiros do apocalipse invadem a escola e resolvem matar os adolescentes.
O filme segue em 2 momentos: a da escola, com os 4 cavaleiros seguindo os adolescentes, e um passado presente, onde os mesmos 4 invadem a escola em funcionamento e chacinam todos ali. É um filme bastante macabro, com cenas bastante violentas, principalmente quando mostra a chacina. Para quem assistiu 'Os novos mutantes", lembra bastante o roteiro, quando forças sobrenaturais procuram matar os adolescentes confinados no espaço claustrofóbico.
De qualquer forma, é um filme curioso, instigante, que vai parecer bastante confuso em vários momentos, mas no final fecha a sua história.

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Malila; A flor do adeus

"Malila; the farewell flower, de Anucha Boonyawatana (2017)
Premiado drama metafísico LGBTQIA+ tailandês, "Malila" foi escrito e dirigido pela cineasta trans Anucha Boonyawatana. Curiosamente, o filme lembra bastante um outro filme tailandês, "Mal dos trópicos", do cineasta tailandês mais famoso do circuito de Festivais, Apichatpong Weerasethakul. Assim como "Mal dos trópicos", o filme é dividido em 2 atos, mesclando presença de espíritos e reencarnação na vida de dois homens jovens que se amam.
Shane e Pich são ex-amantes. Mas Pich abandonou o amor para se casar. A filha de Pich foi devorada por uma cobra, e a esposa o abandonou. Shane perdeu a mãe recentemente, e está com câncer terminal. Os dois reatam o amor, envolto em luto. Pich resolve se tornar monge para tentar descobrir uma cura espiritual para Shane e curá-lo do câncer.
Dirigido com muita sensibilidade, o filme tem um ritmo muito lento e certamente irá afugentar o espectador que não está acostumado a filmes de arte. As cenas de sexo são belas, mas pudicas. É um filme bastante contemplativo, mostrando a interação do homem com a natureza e principalmente, a relação com a morte iminente.

domingo, 20 de setembro de 2020

O Diabo de cada dia

"Devil all the time", de Antonio Campos (2020)
Filho do jornalista Lucas Mendes, o roteirista e cineasta Antonio Campos adaptou o livro de Donald Ray Pollock e realiza um ambicioso drama de suspense que cobre 20 anos da vida de diversos personagens, indo dos anos 50 a 70, exatamente no pós segunda guerra mundial até a Guerra do Vietnã.
Com um elenco mega estelar: Robert Pattinson, Tom Holland, Bill Skaasgard, Riley Keough, Harry Melling, Mia Wasikowska, JAson Clarke, entre outros, o filme tem como tema a maldade humana baseada em preceitos cristão, usando como argumento a fé em Deus para poder praticar os crimes.
A violência impera no filme: feminicídio, serial killers, vingança, ritual religioso com sacrifícios, suicídio, assassinatos, estupros. O filme é uma compilação do pior da escória humana.
A narração do próprio autor do livro, Donald Ray Pollock , cobre todo o filme, mesclando épocas, personagens e dando mais informações ao espectador, algo como Lars Von Triers em seus filmes, para trazer dados psicológicos dos seus personagens.
A estrutura do filme é em formato filme painel, à la Robert Altman: todos os personagens de certa forma acabam se cruzando, direta ou indiretamente: tem o veterano de guerra Wallace (Skaasgard) e seu filho, Arvin ( Holland). O Pastor abusador (Pattinson). O casal de serial killers (Jason Clarke e Riley). A mulher fervorosa
(Wasikowska) que acredita em seu marido, um pastos psicopata (Melling). Além desses, outros personagens surgem, mais como vítimas da fé, e em nome dela.
Antonio Campos tece cada história com maestria, provocando surpresas o tempo todo e costurando bem todas as sub-tramas. Fico imaginando o grande trabalho que foi editar o filme, e tantos vai e vens narrativos. O elenco todo está excelente, mas o destaque absoluto vai para Holland e Pattinson, saindo de suas vestes de Homem aranha e Batman para enfrentar o maior vilão de todos: o próprio ser humano.

sábado, 19 de setembro de 2020

Sete anos em maio


'Sete anos em maio", de Affonso Uchoa (2019)
Obra prima! Obra prima! Que caralho de filme, um dos melhores brasileiros dos últimos anos! Dirigido por Affonso Uchoa, cineasta mineiro de Contagem, e co-diretor do igualmente primoroso "Arábia", 'Sete anos em maio" é um extraordinário exercício de se colocar no lugar do outro, através de memória afetiva e de traumas físicos e emocionais.
Premiado e exibido em diversos Festivais brasileiros e internacionais, o filme possui dois protagonistas: Rafael dos Santos Rocha e Maicon Felipe, mas eles ao mesmo tempo, representam todas as vítimas da truculência policial.
O filme é dividido em duas partes: na primeira, Rafael e MAicon representam policiais corruptos, somente para se colocarem no lugar do outro e entender esse lugar da truculência e do bullying, regidos pelo Poder que uma farda e arma proporcionam. Na 2a parte, ambos dão monólogos contundentes sobre o ocorrido em suas vidas após uma ação policial que mudou a vida deles para sempre. Uma aula de atuação naturalista dada por não atores, um brilhante estudo de personagens.
A cena final, onde um policial encena o exercício do "vivo u morto" com dezenas de moradores de comunidade, é um momento dos mais antológicos e viscerais do cinema brasileiro.
Obrigatório!

A escolhida


"Antebellun
", de Gerard Bush e Christopher Renz (2020)
Certamente, um dos filmes mais polêmicos dos últimos anos, "Antebellum", no seu original, tem provocado discussão sobre o seu conteúdo anti-racista, através de uma narrativa que investe em fantasia e no universo repleto de plot twists dignos de Shayamalan.
O filme acontece em 3 atos: um que se passa no período da Guerra civil americana, com os escravos negros sendo torturados, estuprados e assassinados pelos confederados. No 2o ato, temos uma mulher, Veronica (Janelle Monáe), que é contratada por uma mulher misteriosa, Elisabeth (Jena Malone) para uma palestra. Veronica é uma mulher empoderada, que luta contra a sociedade machista e racista. No 3o ato, as duas histórias de certa forma, entram em colapso. Mas o que de fato está acontecendo? Bom, impossível falar uma linha a mais sem dar spoilers, então não posso falar mais nada.
O mais fascinante no filme é o magnífico plano-sequência, repleto de ação e de maneirismo de câmera. O elenco, principalmente Jena Malone, Janelle Monáe e Gabourey Sidibe ("Preciosa), aqui investindo em um papel cômico. Quem quiser procurar por críticas do filme, irá encontrar muitos espectadores revoltados com a história e com a "vingança" que se instala. Curiosamente, um filme antenado com os tempos pós George Floyd. O filme foi escrito e dirigido pelos novatos Gerard Bush e Christopher Renz., que têm no currículo vídeos clips. A produção é dos mesmos produtores de "Corar!", que resolveram fazer todo um marketing investindo nessa associação, inclusive de tema onde o protagonista negro se v6e envolvido em uma rede de intrigas administrada por brancos racistas.

sexta-feira, 18 de setembro de 2020

Eu sinto a sua falta

"Tu me manques", de Rodrigo Bellott (2019)
Adaptado de sua própria peça teatral, montada na Bolivia em 2015 e vencedor do prêmio de melhor peça do ano, foi recordista de público e crítica. "Eu sinto sua falta", foi indicado pela Bolivia para o Oscar de filme estrangeiro em 2019. O diretor boliviano Rodrigo Bellott dirigiu os premiados "Perfídia" e "Dependência sexual", dois ótimos dramas LGBTQIA+ viscerais.
O elenco é dos sonhos: o protagonista é Oscar Martinez, um dos maiores atores argentinos existentes ("O cidadão ilustre", 'Relatos selvagens"). Rossy de Palma, musa de Almodovar, é a melhor amiga da trupe de personagens gays. E o casal gay, é formado pelos dois atores latinos mais lindo, sexies e exuberantes que vocês terão visto em qualquer filme, além de talentosos.
O roteiro é baseado em uma terrível estatística: o suicídio entre pessoas da comunidade LGBTQIA+ é 4 vezes superior a de pessoas heteros cis. Gabriel (Jose Duran) é um jovem boliviano que vai para Nova York estudar e trabalhar. Quando vai comprar roupa para uma entrevista em uma loja, ele conhece o vendedor Sebastian (Fernando Barbosa). Os dois ficam amigos, e logo, se tornam amantes, apesar de Gabriel negar a sua homossexualidade. O pai de Gabriel, Jorge (Oscar Martinez) é um ator na Bolivia, mas de educação bastante conservadora, além de homofóbico. Quando Gabriel, ao retornar para a sua casa, para avisar à família que é gay, devido à pressão de Sebastian, ele acaba se suicidando. Sebastian fica chocado. Jorge rejeita Sebastian, por acreditar que ele foi responsável por "tornar" o filho , um gay. Mas consumido pela tristeza, jorge vai a Nova York, tentar se aproximar de Sebastian e procurar entender quem era o seu filho. Ele descobre que Sebastian escreveu uma peça de teatro, baseada na história de homofobia contra Gabriel e de tantas outras histórias.
Lindamente dirigido, com bastante emoção e sutileza, o filme faz o espectador derramar litros de lágrimas. A fotografia, a trilha sonora, tudo é bastante delicado. Os atores estão fantásticos, e o monólogo final de Oscar Martinez e de aplaudir de pé. E de brinde, as cenas de sexo mais chiques, belas e sexies com o casal de atores em cenas de nudez que irão deliciar os apaixonados por corpos esculturais.
E uma versão arrasadora de "Always on my mind", que já baixei.

quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Polter

"Polter", de Álvaro Vicario (2019)
Definitivamente, um dos melhores curtas que assisti nos últimos anos, "Polter" é um filme espanhol que ganhou o prêmio de melhor curta no Festival de Sitges. Mesclando de forma inteligente e bastante criativa uma história que envolve saída do armário, fenômenos Poltergeist e muito humor, "Polter" tem uma direção excelente, um ator fabuloso e um roteiro dinâmico e surpreendente.
Um homem , Jose (José Lozano, brilhante) está em casa e liga para o serviço telefônico para atividades paranormais. A casa está sendo revirada por espíritos e ele fica desesperado.
Uma excelente aula de realização de um curta, com uma história concisa e que dá conta do recado. O filme está sendo exibido na plataforma do Festival CineFantasy 2020.
Link:

Nimbus

"Nimbus", de Marcus Buccini (2020)
Que primor esse curta de animação de Pernambuco! Exibido na plataforma do Festival CineFantasy 2020, o filme foi dirigido e animado pelo professor Marcos Buccini, do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). O roteiro é uma poesia só: um nordestino, sofrendo com a sêca, faz um pedido. Esse pedido chega aos céus, e os operários das nuvens se prontificam a realizar o pedido.
O filme todo é esse processo de realização da chuva, narrado com muita criatividade e elementos lúdicos. A trilha sonora é um brinde à parte, uma lindeza.
Um filme realizado com a técnica stop motion. Vale super assistir,
Link:

quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Você tem orgulho?

"Are you proud?", de Ashley Joiner (2019)
Documentário inglês que traça o movimento LGBTQIA+ na Inglaterra por um período de 50 anos, desde a lei que promovia os atos homossexuais no país, até as lutas contra a homofobia, em eventos importantes como o Stonewall, a chacina em orlando, o advento da Aids, etc.
Com dezenas de entrevistas, muitas com idosos que relatam que nos anos 50 viveram casamentos de fechada, pelo fato de não poderem se assumir como gays. O filme possui registros documentais históricos, das passeatas desde os anos 50 até os dias de hoje, incluindo entrevistas com ativistas e civis que mantêm a luta pela dignidade e pelo orgulho de serem pertencentes ao universo LGBTQIA+.
Um filme importante para quem quer fazer pesquisa histórica desse período tão amplo.

O inocente

"L 'inocente"", de Luchino Visconti (1976)
Canto do cisne do Mestre italiano Luchino Visconti, que faleceu antes de ver o filme finalizado. Durante as filmagens, Visconti já estava bastante debilitado, dirigindo na cadeira de rodas. O filme é uma adaptação do romance "O intruso", de Gabriele d'Annunzio.
Lançado em 1976, 2 anos depois de "Violência e paixão", "O inocente" se passa no final do século 19, na Itália. Tulio (Giancarlo Giannini), é um aristocrata casado com Giuliana (Laura Antonelli). Sem nenhum pudor, Tulio avisa à Giuliana que ele está apaixonado por Teresa (Jennifer O'Neill), sua amante, e que nunca sentiu nada por ela. Porém, ao abandonar sua esposa, Tulio descobre que ela se apaixonou por um romancista, Ambrosio, e que está gravida dele. Tulio resolve reaver a relação com Giuliana, mas ela não o deseja mais.
Como sempre, a elegância na direção de Visconti se vê presente em cada fotograma: o detalhe refinado na direção de arte, figurino, maquiagem, tudo um grande deslumbre. O filme é rodado com bastante sofisticação. Visconti ama o discurso da decadência na aristocracia, repleta de trama de amor, traições e ciúmes, como se fosse uma grande ópera, uma de suas grandes paixões. O filme tem um ritmo bastante lento, mas sempre exalando uma atmosfera de nobreza e adorno sofisticado. Giancarlo Gianinni ainda era desconhecido na época que protagonizou o filme. Laura Antonelli e Jennifer O'Neil estão belíssimas, e Laura se expõe totalmente nua com muita espontaneidade.

Let's dance

"Let's dance", de Ladislas Chollat (2019)
Ai que filme lindo caralho, chorei diversas vezes. Tem tudo o que adoro: melodrama, história de superação, atores jovens e desconhecidos mega talentosos, musical, trilha sonora mega foda, uma história de amor e um final....ai, pra chorar cem litros.
Filme francês dirigido e escrito por Ladislas Chollat, "Let's dance" tem um roteiro que vai te lembrar "Fama", "Flashdance", "Footloose", "La La Land" e todos aqueles filmes aonde os protagonistas precisam superar seus medos, suas diferenças para conquistar o seu espaço. Não há nada de novo no filme. Mas o que chama a atenção, são os números musicais de Hip Hop geniais, filmados de forma dinâmica estilizada. Os atores são todos ótimos, carismáticos e a gente realmente torce por eles.
3 amigos chegam em Paris para tentar a competição no Masters of Hip Hop. Entre eles, Joseph, Desempregado e sem ter como se manter, ele vai tentar se reconectar com seu pai, professor em uma escola de balé, para ajudá-lo, mas o orgulho fala mais alto. Joseph se apaixona por uma das bailarinas, e a junção do balé e hip hop os farão ser melhores do que são. Mas eles precisam decidir entre a carreira e a paixão entre eles.
A crítica certamente irá detonar. mas que m ama tudo isso que mencionei, irá adorar. Um filme leve, gostoso, com drama, romance e humor em belas medidas.

terça-feira, 15 de setembro de 2020

Terminal Praia Grande

"Terminal Praia Grande", de Mavi Simões (2019)
Que filme interessante essa estréia na direção da maranhense Mavi Simões. Também autora do roteiro, Mavi investe no cinema fantástico para contar a história de uma mulher, Catarina (Áurea Maranhão) , que após uma noite de festa em sua casa, acorda com enorme ressaca. Os seus dias se tornam repetitivos, mas ela está com a firma decisão de se mudar para são Luís, mas algo a impede.
Numa incursão aos cinemas de David Lynch, Luis Bunuel e até mesmo Scoresse, em determinando filme, Mavi contrói uma história de amor repleta de insinuações estilizadas na imagem, no som e nas performances anti-naturalistas do elenco. Vale assistir a esse filme com estética tão particular, sedutor e pleno de beleza.
Visto no Site do Festival CineFantasy 2020.

segunda-feira, 14 de setembro de 2020

George Hilton- O mundo é dos audazes

"George Hilton- Il mondo é degli audaci", de Daniel Camargo (2019)
Documentário co produzido por Brasil e Itália, dirigido pelo brasileiro Daniel Camargo. Daniel mora em Milão e dirigiu e escreveu um filme narrando a vida e obra de George Hilton, pseudônimo para Jorge Hill Acosta y Lara, nascido em Montevidéu em 1934. Hilton seguiu para a Europa, disposto a fazer fama e sucesso no cinema. Após fazer pequenas participações, foi no faroeste spaghetti, a partir dos anos 60, que Hilton adquiriu uma carreira sólida. Depois, emendou com filme do gênero giallio, que é um sub-gênero do suspense, com bastante gore, violência, suspense e erotismo. Trabalhou com cineastas como Luzzi Cozzi, Sergio Martino, Lucio Fulcii, Lamberto Bava, todos mestres do Filme B, desprezados pela crítica, mas grande sucesso de bilheteria. Muitos dos filmes ganharam status de cult e clássicos, e reverenciados por fãs dos gêneros.
Camargo entrevista não somente George Hilton, mas também, atores que contracenaram com ele, cineastas e produtores. Dessa forma, o filme adquire uma grande importância, por apresentar não somente a carreira de Hilton, mas fazendo também um panorama do cinema popular italiano, suas dificuldades com a censura, a criatividade para driblar baixo orçamentos e principalmente, o amor ao cinema.
Hilton teve uma grande tragédia, que foi a morte de sua filha. Ele faleceu no dia 28 de julho de 2019.
Filme em competição no Festival CineFantasy 2020, através do site do Cine Belas Artes.

domingo, 13 de setembro de 2020

Undine

"Undine", de Christian Petzold (2020)
Que lindo filme! Vencedor do Urso de ouro de melhor atriz no Festival de Berlin 2020, para Paula Beer, no papel da protagonista Undine, o roteirista e cineasta alemão Christian Petzold investe numa nova dramaturgia, após o grande sucesso de sua trilogia da guerra: "Barbara", 'Fênis" e "Em trânsito". Cristian repete os mesmos atores de 'Em trânsito", Paula Beer e Franz Rogowski. Aqui, ele se apropria do mito de Undine, uma sereia que seduz os homens e os traz para o fundo do mar para morrer, e produz um drama romântico realista, com pitadas de momentos oníricos.
Undine é uma historiadora que trabalha para o Departamento de planejamento urbano. Ela recebe turistas e narra para eles a história da construção da cidade de Berlin. Logo no início do filme, Johannes, seu namorado, rompe o namoro com ela, para ficar com outra mulher. Undine entra em crise, mas logo conhece Christoph (Rogowski), um mergulhador industrial por quem ambos se apaixonam. Undine acaba também aprendendo a mergulhar. Quando tudo parece ir bem, Johannes volta para querer reconquistar Undine. Christoph entra em crise de ciúmes e acaba sofrendo um acidente no mergulho, entrando em coma.
Com um roteiro pleno de reviravoltas na trama, Petzold traz um romance com tintas de tragédias fabulares, representando por ótimos jovens atores. Filmado com elegância, Petzold narra uma história de amor que sufoca, deixando claro que o amor consome e alguns casos, matar, ou metaforicamente, ou realisticamente. Belas cenas, com alguma dose de humor, principalmente na brilhante cena do encontro de Undine e Christoph no restaurante, depois do acidente com um enorme aquário.

Alugue um amigo

"Rent a pal", de Jon Stevenson (2019)
Filme de estréia do fotógrafo Jon Stevenson, que também escreveu o roteiro, 'Aluga-se um amigo" lembra bastante "Videodrome", clássico de David Cronemberg. Mas o melhor do filme é a presença de Will Wheaton no elenco ( ele é o protagonista do cult "Conta comigo").
David (Brian Landis Folkins), é um homem de 40 anos solitário, e mora com sua mãe, uma idosa com demência. David compra uma fita VHS para conseguir uma companheira ( uma espécie de Tinder onde as pessoas gravam depoimentos para paquera). No entanto, quando David vai pegar uma segunda leva de Vhs, uma fita estranha vem junto: 'rent a pal". Ao ver a fita, David vê que se trata de Andy (Wheaton(, um amigo virtual do VHS, para pessoas solitárias. O que David não imagina, é que aos poucos, Andy vai controlando sua mente.
Com trilha sonora de sintetizadores, o filme tinha tudo para dar certo. Mas a sua excessiva duração ( 20 minutos a menos, genteee) teria feito melhor ao filme, que pena com o ritmo. Vale pelo inusitado do lance dos VHs e pelo elenco. Mas existe uma dificuldade para se encontrar o tom certo aqui, que às vezes passeia pela galhofa.

sábado, 12 de setembro de 2020

Dias

"Rizi", de Tsai Ming-liang. O cinema do cineasta malásio taiwanês Tsai Ming Liang definitivamente é uma prova de fogo ara cinéfilos raiz. Dono de uma filmografia radical, onde o tempo é expresso em seu tempo realista, sem interferências. Cada plano dura minutos, mas parece, ao espectador uma eternidade. Nada ou quase nada acontece de extraordinário. Dormr, andar, sentar, observar, deitar na banheira, comer, se tornam obsessões do cineasta, que faz o espectador reaprender a deixar todo o stress do lado de fora do cinema, quase que como uma sessão zen budista expressa na tela em duas horas de filme. O filme concorreu em Berlin 2020. Protagonizado mais uma vez pelo seu ator fetiche, Lee Kang-sheng, que atua em todos os seus filmes há mais de 30 anos. Dessa vez, Tsai se inspirou na vida real de Lee: o ator ficou 3 anos sentindo uma dor enorme, doente. O seu personagem é assim: possui uma dor nas costas, faz todo tipo de tratamento, mas nada dá certo. Metade do filme é Lee dormindo, olhando, fazendo sessões de terapia. Paralelo, temos um jovem garoto de programa e massagista, Non, interpretado pelo não ator Anong Houngheuangsy, que Tsai conheceu na rua vendendo comida. Seduzido pela beleza do rapaz, Tsai o convidou para o filme. Ambos sao solitários ao extremo: no meio do filme, a vida dos dois converge: Non aplica massagem, e depois, sexo com Lee. Mas o que poderia ser o início de uma grande amizade, volta a se tornar a solidão de ambos.
Com belos registros da cidade de Bangkok, aonde o filme acontece, Tsai se apropria do tempo real e da obrigação da observação a matéria prima de seu filme.
A cena da massagem é uma das mais eróticas que você irá ver em um bom tempo.

As férias de Sr Hulot

"Les vacances de Monsieur Hulot", de Jacques Tati (1953)
Primeira aparição do personagem Mr Hulot no cinema, a icônica criação de Jacques Tati inspirada em Buster Keaton e Caplin, "As férias de Mr Hulot" concorreu em Cannes e teve indicação ao Oscar de melhor roteiro. Em 1958, Tati retornaria com o mesmo personagem em "Meu tio", que acabou levando o Oscar de filme estrangeiro.
A história do filme é bem simples: Mr Hulot vai passar uma temporada em um resort na costa litorânea francesa. O filme apresenta, em formato de pequenos sketches, a grande confusão que Hulot se mete, involuntariamente, com outros hóspedes e no seu entorno.
É impressionante a criatividade de algumas cenas: a do balde de tinta, com Hulot pintando um pequeno barco, é uma delas. Como ele conseguiu fazer, sem efeitos de computação, a lata indo e vindo ao sabor da maré? É uma cena de gênio. Outro momento espetacular, é quando Hulot se acidenta com seu barco, e ele se assemelha a uma grande boca, e ao se aproximar da praia, as pessoas saem correndo, achando que é um tubarão. Tati construiu 35 anos antes de Spielberg esse temos ao predador dos mares. O trabalho de direção, edição e com muita eficiência, da edição de som, que constrói piadas sonoras sensacionais.
Tati é um mestre das gags visuais, e aqui, ele somente fala uma palavra o filme todo, que é o seu nome. Quem é fã de Mr Bean pode enxergar de onde o ator buscou referências para o seu humor silencioso.
Fico imaginando como a nova geração millenium consegue absorver essa comédia de ritmo lento e de humor ingênuo...
Obra prima e obrigatório.

5 Estrelas

"Cinco estrelas", de Rodolfo Sanches (2020)
Depois de dirigir as atrizes
Gilda Nomacce
e Luciana Paes, das mais talentosas e brilhantes no país, no longa "Galeria Futuro", o cineasta Fernando Sanches resolveu repetir a dose com as duas no curta "Cinco estrelas". O filme serve de teaser para um longa chamado "As 7 pecadoras", e pelo curta, é possível ver grandes referências do cinema de Tarantino e Robert Rodriguez. Gilda interpreta Kátia, uma atriz de teatro e tv, que pega um Uber. Ela quer ir para uma festa no interior, com mais de duas horas de distância da capital paulista. O que ela não esperava, era pegar um carro com uma motorista Punk e psicótica, interpretada por Luciana Paes. durante o trajeto, a motorista se mostra extremamente inconveniente. Quando a situação se torna insustentável, o pneu fura em uma região inóspita. E para surpresa e pavor de K'tia, ela descobre que no porta-malas, está uma arma calibre 12, apelidada de Tábata.
Com uma excelente parte técnica, o filme diverte bastante com diálogos ótimos e performances irretocáveis das atrizes. Sö não é perfeito porquê o filme tem uma cara demais de teaser de um projeto maior, com o seu final em aberto e sem explicação.
O filme foi visto no Site do Cine Belas artes, no Festival CineFantasy.