quinta-feira, 31 de março de 2022

SP crônicas de uma cidade real


"SP crônicas de uma cidade real", de Elder Fraga (2019)
Drama policial dirigido por Elder Fraga e escrito por um time de roteiristas, é uma coletânea de 5 episódios, todos em São Paulo, e trazem a violência urbana como tema principal. Com um enorme elenco, com nomes de atores famosos com estreantes, o filme abraça crônicas policiais que poderiam estampar qualquer tijolo de páginas de jornal. Histórias simples, onde a equipe técnica demonstra habilidade nos efeitos. No entanto, existe um uso excessivo de drones, utilizados para costurar as histórias, passando de um bairro para outro, e assim, fazendo um mosaico da grande metrópole paulistana.
1) "Extração"- Troca de reféns que na verdade são informantes: de um lado a polícia, do outro, os bandidos
2) "Uma lata de atum"- Homem mantém em cativeiro um rapaz que abusou de sua filha pequena
3) "Teu dia chegará"- Um bandido que matou um policial à sangue frio em um assalto teme que esteja sendo procurado, e conversa com um delegado em um bar
4) "Vênus no espelho"- Um psicopata que é professor de artes discute uma tese sobre a relação entre o belo e o grotesco, enquanto mantém uma mulher presa em cativeiro
5) "Folha em branco"- um homem acorda desmemoriado e vê uma mulher morta na sala. Ele é atormentado por um outro homem, que ele não sabe se é real ou fruo de sua imaginação.
Um filme curioso, que peca no roteiro pelas histórias simples
(Vênus no espelho" emula "O silêncio dos inocentes") e um elenco numeroso com performances mistas. Mas na soma geral vale ser vista pelo grande esforço da produção em levantar um projeto tão ambicioso.

A noite anterior


 "La nuit d'avant", de Pablo García Canga (2019)

Um monólogo de 17 minutos de uma mulher, interpretada por Maud Myler, que está sozinha de noite em um hotel de uma grande metrópole.e Ela liga para seu parceiro e relata para ele as impressões sobre um filme que ela assistiu na véspera. Ela narra minuciosamente a trama, as ações. E o filme é isso.

Um filme cinéfilo cuja idéia veio do próprio cineasta, impressionando com um email de uma amiga que lhe escreveu descrevendo um filme a qual ela havia assistido ( um filme de Vincent Minelli, "The clocks"). Com uma ótima performance de Maud Myler, o espectador apaixonado por cinema fica tentando entender se o filme descrito é real, ou se ela está descrevendo a vida dela mesma. O filme me remeteu a "A voz humana", de Jean Cocteau, interpretada no cinema por Anna Magnani, Ingrid Bergman, Tilda Swinton, e que traz uma mulher deprimida pelo abandono do amante que fala com ele ao telefone.

Zero fucks given


 "Rien à foutre", de Julie Lecoustre e Emmanuel Marre (2021)

Drama premiado com prêmio especial em Cannes, "Zero fucks given" é dirigido e escrito pelas cineastas Julie Lecoustre e Emmanuel Marre e apresenta o dia a dia de uma aeromoça de uma cia aérea européia de baixo custo. Cassandra (Adèle Exarchopoulos) vive o luto pela morte de sua mãe, e trabalhar como aeromoça é uma forma dela esquecer o mundo de fora. Cada dia pousa em um país diferente, com colegas diferentes e com transas locais diferentes. Mas a apatia de Cassandra repercute em uma cena onde ela não consegue sustentar um sorriso por 30 segundos.

O filme tem um olhar documental sobre a rotina de quem trabalha em cias aéreas, e o desgaste com passageiros e suas bagagens, comida de bordo, etc. O elenco, com exceção de Adele ( estrela de "Azul é a cor mais quente") é toda formada or equipes de comissários reais. Um filme curioso, mas bastante entediante. Adele está bem no papel, transitando entre emoções.

quarta-feira, 30 de março de 2022

Um segundo


"One second", de Zhang Yimou (2020)
Emocionante drama dirigido pelo mestre chinês Zhang Yimou, autor de grandes obras primas do cinema , como "Lanternas vermelhas", Herói", "O caminho para casa", "O clã das adagas voadoras", entre outros. "Um segundo"venceu mais de 20 prêmios internacionais, e ficou famoso por ter sido retirado pela China da competição do Festival de Berlin em 2020, sendo acusado de censura pelo teor do filme.
O filme se passa em 1975, último ano da revolução cultural chinesa. Um homem foge de um acampamento para contra revolucionários por conta de uma briga e vai até uma cidadezinha no deserto para assistir a um filme que será projetado para a população. Zhang (Yi Zhang) deseja assistir ao documentário que passa antes do filme, pois acredita que sua filha revolucionária, que ele não vê desde que fi preso, se encontra no filme. Ele pede ajuda ao projecionista Mr Movie (Wei Fan) para ajudar a exibir o filme e encontrar sua filha. Mas uma jovem órfã, Liu (Haocun Liu) rouba uma lata, pois seu irmão pequeno quer que ela faça um abajur de celulóide. Entre os dois, a relação começa com rusgas, mas depois desenvolve para uma linda relação quase que de pai e filha.
Uma contundente homenagem à sétima arte, "Um segundo" poderia ser uma extensão do episódio que Yimou dirigiu no filme "Cada um com seu cinema, onde ele apresenta um cinema mambembe chegando numa cidade. Historicamente, durante a revolução, um dos maiores passatempos da população era assistir a filmes revolucionários, quando todos cantavam juntos o patriotismo das histórias. Um elenco excepcional em uma história que homenageia o cinema e os cinéfilos.

segunda-feira, 28 de março de 2022

Grande liberdade


"Grosse freiheit", de Sebastian Meise (2021)
Que peça de teatro incrível esse filme daria, com 2 protagonistas masculinos! Excelente drama LGBTQIAP+ alemão, vencedor do prêmio de melhor filme na Mostra Um certo Olhar do Festival de Cannes 2021, "Grande liberdade" acompanha Hans Hoffmann (Franz Rogowski, extraordinário), um judeu que sobrevive ao holocausto, mas por conta de seus impulsos homossexuais, é constantemente preso, e pelo período de 30 anos, ele vai e volta à prisão. Na Alemanha, estava vigente a lei 175, que prendia qualquer pessoa flagrado em atos com pessoas do mesmo sexo. A pessoa era presa e ficava meses na prisão, até ser solto. No entanto hans não consegue conter o seu apetite por sexo, e é filmado pela polícia várias vezes fazendo sexo em banheiros públicos. Mas o filme quer falar sobre a sua relação com Viktor (Georg Frriedrich), preso por assassinar um homem e homofóbico. Em princípio agressivo, aos poucos Viktor vai se abrindo para Hanns, que sente atração nesse relacionamento abusivo, passivo-agressivo cm Viktor, provavelmente lembrando todo o período de terror que vivera nos campos de concentração. A cena final, de Hanns perambulando pelos porões de uma nightclub, onde homens fazem sexo explícito em celas que lembram as prisões de Hanns, é antológica, um dos momentos mais fortes e contundentes que vi recentemente no cinema.

Esse filme para virar uma peça de teatro é incrível, dando oportunidade a dois atores de mostrarem sua visceralidade. A direção de Sebastian Meise traz um filme degradante mas ao mesmo tempo fraternal, uma relação doentia e uma amizade incomum. Franz Rogowski é certamente um dos maiores atores da atualidade, sempre interpretando personagens fora da caixinha, e aqui, se dedicando por inteiro em cenas fortes. 

sábado, 26 de março de 2022

Las motitos


"Las motitos", de Ines Maria Barrionuevo e Gabriela Vidal. Drama argentino vencedor de prêmios em importantes festivais, como Mar del Plata, "Las motitos" foi dirigido por Ines Maria Barrionuevo e Gabriela Vidal e escrito por Gabriela Vidal. O filme é um drama social focado na juventude moradora da periferia de Córdoba, e sua história já foi vista inúmeras vezes: um jovem casal de 15 anos se descobrem grávidos.  Juliana (Carla Gusolfino) e Lautaro (Ignacio Pedrone) moram em um bairro humilde e assediado por policiais, que fazem batidas entre os moradores em busca de traficantes e pequenos ladrões.. Eles não sabem como ou a quem recorrer para evitar a ilegalidade e a falta de moradia até que Flor (Carolina Godoy), mãe de Juliana, percebe o que está acontecendo e reage.
Um filme que apresenta o conflito de gerações, na falta de comunicação entre mães e filhos - a mãe de Lauritano também é mãe solteira e cuida de 3 filhos. A força das personagens femininas, que se unem na sororidade e no apoio entre elas para poderem sair de situações complexas, onde os homens não entendem ou não querem buscar saídas. Excelentes interpretações de todo o elenco, em registro naturalista. 

After Yang

 

"After Yang", de Kogonada. Concorrendo no Festival de Cannes na mostra "Un certain regard" e vencedor de um prêmio especial em Sundance, "After Yang" é dirigido pelo sul coreano radicado nos Estados Unidos Kogonada, realizador do premiado drama "Columbus", em 2017.  Protagonizado por Colin Farrel e Jodie Turner Smith ( do premiado drama "Queen & Slim"), vivendo o casal Jake e Kyra. Ambos vivem em um mundo futurista, onde andróides convivem com humanos, servindo como empregados domésticos, professores, acompanhantes. Jake tem uma loja onde vende chás, e tem uma filha adotiva, Mika, de 8 anos, chinesa. Yang é o andróide da família e cuidou de Mika desde seu nascimento, e ela o considera seu irmão mais velho. Quando Yang passa a ter mal funcionamento e para de funcionar, Mika se desespera, assim como Jake, que nutria por ele um sentimento como a de um filho. Jake tenta mandar consertar, mas por ser revendido, não há consertos e ao tentar decsobrir a compradora original, descobre que Yang era apaixonado por ela, além dele gravar momentos especiais da vida de todos que ele acompanhou em vida. Um belo drama filosófico e existencialista, que usa a ficção científica como base para tecer elocubrações acerca de memórias, vida, morte, amor e solidariedade em um mundo onde as pessoas são frias, sem emoção e de pouco envolvimento emocional. Fazer o paralelo com o mundo da pandemia do covid é bem o propósito do projeto, que traz um gosto de melancolia muito forte e nos deixa pensativos sobre as perdas que temos em vida. 




sexta-feira, 25 de março de 2022

Transversais


 "Transversais", de Emerson Maranhão. Documentário LGBTQIAP+ escrito e dirigido por Emerson Maranhao. Rodado totalmente no Ceará, o filme acompanha 5 personagens trans: duas mulheres trans — Érikah, 33, e Samila, 38 —, dois homens trans — Kaio, 42, e Caio, 27 — e a mulher cis Mara, 42, mãe da adolescente trans Lara. Em 2019, o presidente Bolsonaro havia feito um comunicado sobre o resultado de um edital de projetos para a tv pública e questionou a seleção de "Transversais", entre outros projetos Lgbt, pela temática. O caso ganhou repercurssão, e originalmente um seriado de 5 episódio, o documentarista decidiu unir tudo em um único documentário.

O filme traz depoimentos emocionantes, principalmente quando conhecemos os pais cis de Lara, e o medo dos pais de que a filha sofresse preconceito , incluindo com a própria família conservadora. Os depoimentos trazem temas que são uniformes para todos: a descoberta de um outro olhar sobre si mesmo, o início da transição, a aceitação e/ou rejeição de pessoas próximas e sociedade e de que forma continuam suas batalhas diárias. Um filme objetivo, claro e com ótimos entrevistades. 


Os intranquilos


 "Les intranquilles", de Joaquim Lafosse (2021). Drama contundente sobre um marido bipolar que concorreu na competição oficial de Cannes 2021. Com atuações precisas e viscerais de Damien Bonnard (Damien) e Leila Bekhti (Leila), o filme explora até onde vai o amor de um casal quando uma das partes fraqueja diante de uma doença mental incurável.

Damien é um pintor e artista plástico renomado. Ele mora em uma bela casa de campo com sua esposa, Leila, uma artista que pinta móveis, e o filho do casal, Amine (Gabriel Merz). Mas Damien é bipolar e decide não tomar mais remédios, o que faz ele ter uma série crise que desestabiliza a vida do casal. Leila está muito esgotada esgotada e passa a não dar conta de tantas funções. O filho ama o pai, mas a instabilidade emocional de Damiel assusta  Leila, que teme que ele faça uma grande besteira que vá reverberar na saúde física dela e do filho.

Apesar de longo, "Os intranquilos" é um drama denso e defendido com garra por um excelente elenco. É uma história barra pesada e que traz uma bela mensagem de determinação e amor, pelos pontos de vista da esposa e do marido, que chegam num limite de como fazer esse relacionamento seguir adiante depois de ficar claro que a situação só irá piorar. 



quarta-feira, 23 de março de 2022

História do oculto


  "Historia de lo oculto", de Cristian Ponce (2021)

Complexa e hermética história que mescla drama, terror em clima de paranóia e conspiração, escrita e dirigida pelo cineasta argentino Cristian Ponce. O filme foi apresentado no Festival de Cannes e concorreu em Sitges e Mar del plata. O filme é em preto e branco, com cenas chaves em cores, e mistura as janelas 4:3 e 2:35, de acordo com a narrativa. Claramente uma metáfora sobre a situação política argentina dos anos 80, e como nos dias de hoje ainda se vive em uma espécie de loop do tempo, onde nada na política mudou. 

Um famoso programa de tv chamado “60 Minutos para a meia-noite” está prestes a acabar, por ser considerado uma farsa e ter perdido todos os seus patrocinadores. Para  a última emissão, numa tentativa de conseguir o sucesso novamente, surge um caso no mínimo suspeito: Adrián Marcato, dono de uma das empresas mais importantes do país, é associado a rituais satânicos e suspeito de ter ensinado bruxaria ao presidente do governo. O programa, que avança esta informação em primeiro mão, procura apenas uma confirmação, mas para isso restam apenas sessenta minutos. A equipe de produção procura entender o que Marcato irá dizer ao vivo, mas eles próprios passam por terríveis experiências, ao tomarem uma raiz oferecida por Marcato.

Difícil falar sobre o filme, quando se é leigo em política argentina ou sobre a literatura de Lovecraft, autor a quem o filme faz menção. Para assistir ao filme sem essas referências, fica algo que vai na linha de um 'Alem da imaginação" misturado com algum chá de Ayuaska, uma doideira que culmina em um desfecho que me frustou bastante, até porque não ficou muito claro. 



Terror no estúdio 666


 "Studio 666", de BJ Macdonnel. Comédia de terror trash concebida pelo vocalista da famosa banda de rock Foo Fighters, Dave Ghrol, que protagoniza o filme junto de seus colegas da banda, Taylor Hawkins, Rami Jaffee, Chris Schiflett Pat Smear e Nate Mendel. O filme é uma piração total que flerta com diversos clássicos do gênero, como "Massacre da serra elétrica", "O exercista", 'Evil dead", entre outros.

O filme foi rodado durante a pandemia, e traz a banda Foo Fighters nos preparativos de gravar seu 10o disco. Mas o agente pressiona David Ghrol, que diz estar totalmente sem inspiração. O agente então sugere que eles passem uma temporada em uma mansão gravando o disco, e a banda topa, sem saber que ali, em 93, uma banda de Dead metal foi assassinada quando o líder leu um livro demoníaco e foi possuído, matando todos os integrantes e deixando uma música satânica incompleta. Ghrol é possuído e deseja terminar a música com a banda, assumindo o controle de tudo e se estressando com todos. 

O filme é difícil de ser levado à sério, mas pode ser visto como uma grande brincadeira e metáfora sobre a crise do artista, principalmente quando ele está em um grupo e ele deseja ter carreira solo. Levado às últimas consequências do trash, o filme tem gore, mas tudo temperado com muito humor ácido e sangue jorrando aos borbotões. Os integrantes da banda certamente farão a alegria da banda, um presentaço para quem curte o grupo. Mas é doideira, e a história, arrastada, com uma longa duração que merecia meia hora a menos. 


terça-feira, 22 de março de 2022

Jackass para sempre


"Jackass forever", de Jeff Tremaine (2022)

Lançado com enorme sucesso em 2000, a série "Jackass", de Johnny Knoxville e uma trupe de amigos rendeu 3 temporadas até 2002. No cinema rendeu 3 filmes, sendo o último em 2010, o 3D. Agora, a trupe, já na casa dos 50 e todos com cabelos brancos e físicos já nem tão esculturai assim, se juntam para mais uma empreitada de sketches onde o que importa é criar brincadeiras estúpidas e quanto mais doer nos participantes, melhor. C;aro, não podem faltar chutes no saco, brincadeiras com cobras e aranhas, muita pancadaria, rampa humana, etc. O mais incrível é que a produção inclui o cineasta mega cult Spike Jonze, e o filme rendeu muitas críticas elogiosas de quase todos os sites e críticos. Muitos dizem que o fato do filme ter feito sucesso tem a ver com a necessidade do público precisar rir por conta da pandemia, ainda mais situações esdrúxulas com as apresentadas no filme. Confesso que o que mais me fez gostar do filme, é acompanhar a obsessão e paixão da mesma trupe em, 20 anos depois, querer manter o mesmo ritmo alucinado de brincadeiras de mau gosto, mas eles se divertem tanto, ou pelo menos aparentam, que só resta a nós espectadores pensar: "Bom, isso tudo foi feito para nós, público, então vamos apreciar".

domingo, 20 de março de 2022

Freaks out


 Freaks out”, de Gabriele Mainetti (2021)

Vencedor de impressionantes 10 prêmios em mostra paralela no Festival de Veneza, mas também concorrendo na Mostra official, “Freaks out” é um ousado híbrido italiano de “X-men”, “Quarteto fantástico”, “Wanda vision” e “Star wars” com a estética de Tim Burton e Guillhermo del Toro, grandes referências para o roteiro co-escrito pelo cineasta.

A história se passa em Roma, 1943. Um grupo de 4 artistas de circo trabalham para o dono do espetáculo, Israel. Quando os nazistas avançam sobre Roma, o circo é destruído, Israel preso por seu judeu. Os 4 amigos fogem, decididos a encontrar o paradeiro de Israel. Matilde tem o poder de manipular a eletricidade, como Wanda vision. Cencio (Pietro Castelitto, ator e cineasta) tem o poder de controlar os insetos; Mario, um portador de nanismo que tem o poder da telecinese e Fulcio, um homem peludo , uma homenagem do filme a Chewbacca, de “Star Wars:. Mas eles não contavam com a presença de Franz (Franz Rogowski
, mega astro alemão), um oficial nazista que tem o poder de ver o futuro quando cheira éter. Ele sabe que os alemães perderão a guerra e que Hitler se matará, e para evitar isso, ele deseja sequestrar os 4 mutantes e transformá-los em armas que ele unificará ao exército nazista.
O filme é muito interessante, pipocão de respeito, e impressiona pela qualidade técnica dos efeitos, em se tratando de um blockbuster italiano. A trilha, a fotografia, desenho de produção, tudo funciona, além do carisma do elenco. Mesmo assim, não é um filme para crianças: é violento, tem gore e o Mario passa o filme todo se masturbando. Talvez o maior defeito do filme seja a sua duração, quase 150 minutos, o que é desnecessário, por conta de tantas sub-tramas e vai e vem na história.

Nr 10


 "Nr 10", de Alex van Warmerdam (2021)

CO-produção da Holanda e Bélgica, "Nr 10" é dirigido pelo mesmo realizador do instigante "Borgman". Em "No 10". Warmerdam deixa em aberto o significado do título, mas que pode se referir à quantidade de filmes que ele já dirigiu, sendo esse seu 10o filme.

O filme intrigou todo mundo por conta de, no meio da narrativa, o roteiro dá uma guinada radical na história e muda de gênero. Nem dá para contar muito sobre esse 2o ato pois configurará spoiler. Essa aposta em mudança de gênero já foi visto em filmes como "Mal dos trópicos", de Apitchapong, que começa como um romance gay e segue para uma fantasia surrealista e mágica no meio de uma floresta. "Nr 10" segue essa linha corajosa de narrativa, deixando o espectador entregue a um jogo de "amar ou odiar' o que estiver vendo em cena.
Günter (Tom Dewispelaere) é um ator de meia-idade ensaiando uma peça com um pequeno grupo de atores. Ele tem problemas com um ator do elenco, e também, está tendo um caso com a namorada do diretor da peça. No passado, Gunter foi encontrado em uma floresta alemã aos 4 anos de idade e entregue à adoção. Ele agora tem uma filha, Lizzy, que o apresenta ao novo namorado. Estranhamente, quando Gunter caminha em uma ponte, um homem lhe fala uma palavra intraduzível em seu ouvido, e isso tomará um rumo radical na vida dele.
Assisti até o último minuto do filme e assim que acaba, ficaram muitas dúvidas para mim, mas pelo visto o filme não se propõe a querer explicar mais do que já está sendo visto. Curioso, mas me pareceu uma brincadeira de cineasta rebelde que diz que quer sacanear seu espectador com algo inusitado. Mas valeu a provocação.

Michelangelo- O pecado


 "Michel ange- Il pecatto", de Andrey Konchalovskiy (2019)

Super produção Rússia/Itália, dirigida pelo cineasta Andrey Konchalovskiy, realizador de "Tio Vânia" , "Os amantes de Maria" e "Paraíso".

O filme pega uma período em particular do artista Michelangelo, quando pintava a Capela Sistina, em uma obsessão que o deixava sem dormir e sem tomar banho. Florença, início do século XVI. Quando o chefe da nobreza de Della Rovere, o papa Júlio II, morre, Michelangelo (Alberto Testone) fica obcecado em obter o melhor mármore para completar sua tumba. A lealdade do artista é testada quando Leão X, da família rival Medici, ascende ao papado e o encarrega de uma nova e lucrativa encomenda - a fachada da basílica de San Lorenzo. Forçado a mentir para manter o favor de ambas as famílias, Michelangelo é progressivamente atormentado por suspeitas e alucinações, levando-o a examinar implacavelmente suas próprias falhas morais e artísticas. Michelangelo se apega a Dante Alighieri, a quem ele venera, tendo inclusive decorado "A divina comédia", e passa a ter alucinações.
O filme com quase 140 minutos se torna um fardo para o espectador por conta de seu ritmo extremamente lento e uma direção burocrática. O que faz manter o interesse são as lindas locações em Lazio e Toscana, além da ótima direção de arte e fotografia. Uma sequência que impressiona é a obsessão de Michelangelo por um enorme bloco de mármore existente no alto de uma montanha e que ele deseja transportar inteiro, ao contrário dos pedreiros que querem quebrá-lo em pedaços. O ator Alberto Testone, no papel principal, está muito semelhante ao pintor, e o restante do elenco é composto por não atores.

sábado, 19 de março de 2022

Eiffel


 "Eiffel", de Martin Bourboulon (2021)

Super-produção francesa protagonizada por Romain Duris no papel do engenheiro Gustave Eiffel, que concebeu o projeto da Torre Eiffel e a inaugurou em 31 de março de 1989. Mas o que poucos sabem, ou pelo menos é o que a romantização desse filme sugere, que a torre foi projetada pelo amor de Gustave a Adrienne Bourges (Emma Mackey), um amor do passado que retorna à sua vida, porém, casada e por conta disso, impossibilitados de reaverem o amor. Gustave é viúvo e tem uma filha adolescente. O projeto inicial era o de construir túneis de metrô, em uma política de modernização de Paris. Mas o reencontro com Adrienne o faz mudar radicalmente de projeto e agora, construir a torre de 300 metros de altura.

O filme se apega mais ao romance de Gustave e Adrianne e a construção da torre vira pano de fundo. Um melodrama clássico, dirigido de forma burocrática e acadêmica por Martin Bourboulon, que se apega à fórmula de "Titanic" e outros blockbusters românticos de época com amores impossíveis para fazer o espectador suspirar. O filme funciona pela sua extrema qualidade técnica: fotografia, figurino, maquiagem, arte e os efeitos espetaculares da construção da torre. Os atores estão bem, mas o excesso de romantismo deixa de lado a verdadeira estrela do filme, a torre Eiffel.

Cubo


 'Cube", de Yasuhiko Shimizu (2021)

Refilmagem japonesa do clássico de terror "Cubo", filme canadense de 1997 escrito e dirigido por Vincenzo Natali e que se tornou um dos filmes independentes mais bem sucedidos da história. "Cubo" rendeu uma franquia e agora Vincenzo, que produz a versão japonesa, deseja abrir uma nova franquia com o Japão.

Quem é fã de "Cubo" sabe que ele originou muitos filmes que vieram depois, o terror de sobrevivência no estilo "Jogos mortais". 6 Pessoas desconhecidas entre elas acordam e se vêem dentro de um enorme cubo sub-dividido em outras salas repletas de armadilhas. Sem saber como chegaram ali, eles precisam se unir para sobreviver e passar de sala em sala, mas o rancor, os traumas de cada um e o instinto de sobrevivência fará com que alguns queiram passar por cima dos outros.
Essa versão tem um ritmo mais lento e as mortes demoram a acontecer, após o prólogo. Os efeitos e a iluminação são mais bem feitos que o original, mas que ainda assim, é superior, por possuir o charme de filmes sem orçamento mas realizados com maior criatividade. E as mortes do original são bem mais sangrentas e criativas.

Expired


"Expired", de Ivan Sen (2021)
Dirigido, escrito, produzido, trilha composta e editado pelo australiano Ivan Sen, 'Expired"( ou "Loveland") é um drama noir totalmente chupado de "Blade runner". Guardada as devidas proporções orçamentárias, o filme se passa em Hong Kong do futuro, chuvosa, repleta de neons e tendo andróides convivendo com humanos. O protagonista Jack (Ryan Kwanten) narra em off a seu drama existencialista: abandonado pelo pai, vendido por sua mãe e agora, um assassino e aluguel. Ele deseja um dia poder reencontrar sua mãe. Quando vai para uma boite, conhece a dançarina vietnamita April ( Jillian Nguyen ), por quem se sente atraído. Mas essa aproximação faz com que Jack comece a sentir que seu corpo está passando por mudanças, e ele decide procurar o dr Bergman (Hugo Weaving) para entender o que se passa.
Não é preciso raciocinar muito para entender o desfecho da historia, baseado novamente em "Blade runner". O que prejudica muito o filme e o seu ritmo, muito lento para poder atrair atenção de fãs de ficção científica ou de ação. Ivan Sen realiza um filme existencialista, sobre a dimensão sobre temas como amor e morte, mas o faz de forma intimista.

Até a próxima vez


"Hasta que nos volvamos a encontrar", de Bruno Ascenzo (2022)
Co-produção Espanha/Peru, escrita e dirigida pelo cineasta peruano
Bruno Ascenzo. O filme é um drama romântico sobre um jovem empreendedor espanhol, Salvador (Maxi Iglesias), filho de um empreendedor imobiliário arrogante, que viaja até Cusco, Peru, para começar uma negociação para compra de terras e erguer um hotel 7 estrelas. Mas ao chegar ao hotel onde ele se hospedará, ele se apaixona pela sobrinha da dona, Ariana( Stephanie Cayo), uma jovem idealista e que luta pela preservação do patrimônio natural da região. Os dois se apaixonam, apesar das diferenças, e Salvador precisará lidar com o seu pai, que cobra a venda das terras.
Um filme sem surpresas no roteiro, bastante óbvio, mas que se apropria das belezas e dos monumentos culturais e naturais da região. As locações e a fotografia são belíssimas, e o casal principal tem bastante química, o que já garante o passatempo.

sexta-feira, 18 de março de 2022

Vale night


"Vale night", de Luís Pinheiro (2021)
O cineasta Luís Pinheiro dirigiu a comédia "Mulheres alteradas" e a ação "A garota da moto", e agora em "Vale night", ele mescla os gêneros, realizado um filme com uma busca estética que valoriza a câmera e os planos-sequências virtuosos. Trazendo vários filmes como referência, principalmente "After hours", o roteiro acontece durante 24 horas na vida dos personagens, envoltos com o desaparecimento do bebê do jovem casal Vini (Pedro Ottoni) e sua esposa, Daiana (Gabriela Dias), 18 anos e que por conta do nascimento do bebê teve que largar os estudos. Mas quando Daiana vai passar o fim de semana com sua mãe (Tia Má) e avó (Neusa Borges), Vini aproveita para dançar um funk, até que descobre que o bebê sumiu. Com ajuda de Linguinha (Yuri Marçal) e Dj Pulga (Lynna da Quebrada), Vini encontra muitas confusões e personagens que cruzam a noite da periferia paulistana.
O filme tem momentos divertidos e trata de temas sociais bastante importantes e relevantes, como a evasão escolar de jovens meninas da periferia por conta da gravidez. Mas o roteiro é costurado de forma a forçar encontros que primam pela coincidência, e um deles é totalmente deus ex-machina, e como dizem os americanos, o espectador precisa ligar o "Suspension of desbelief". Mas pela importância do tema e pela diversidade de gêneros que o elenco promove, vale super ser assistido.

Águas profundas


"Deep water", de Adrian Lyne (2022)
Adaptação do romance escrito por Patricia Highsmith em 1957, "Águas profundas" marca o retorno de Adrian Lyne, 20 anos após ter lançado "Infidelidade". E como não podia deixar de ser, Lyne novamente toca no seu tema preferido: relacionamento de um casal em crise e que sofre uma reviravolta após a ação de um agente externo. Foi assim em "Atração fatal", "9 1/2 semanas de amor", "Lolita"e "Infidelidade".
Vic (Bem Afleck) e Melinda ( Ana de Armas) formam um belo casal: bonitos, ricos, com uma filha maravilhosa, Trixie. Mas isso aos olhos dos outros. O casal está em crise, e para evitar um divórcio, Vic aceita que sua esposa tenha casos extra-conjugais. Mas quando os amantes desaparecem e surgem mortos, Vic é considerado suspeito.
Um filme que parece ter sido filmado há 20 anos atrás, tal a burocracia com que Lyne o filma. O filme é longo, arrastado e o suspense é bem light. Com um elenco de coadjuvantes de peso, como Jacob Elardi e Finn Wittrock, o filme vale como passatempo, mas o desfecho certamente deixará muita gente confusa ou irritada.

Master


"Master", de Mariama Diallo (2022)
Concorrendo no Festival de Sundance, "Master", escrito e dirigido por Mariama Diallo, vem na tradição do cinema de Jordan Peele, que discute o racismo dentro do gênero terror. Na Universidade Ancaster college, New England, a professora Gail Bisho (Regina Hall) é efetivada dentro da política que a universidade quer promover, de diversidade em todas as áreas. A caloura Jasmine (Zoe Renee) também chega repleta de disposição, se dispondo a querer estudar bastante e de fazer amizades. Mas para a surpresa de ambas, são poucas as negras ali existentes, e as que estão ali, incorporaram uma forma de lidar com os brancos de quase serventia e de querer agradá-los.
O quarto onde Jasmine fica hospedada já foi palco para vários suicídios de alunas negras, sendo a primeira, em 1968. Tanto Jasmine quando Gail passam a ser assombradas pelo passado racista e de escravidão existente ali no local.
Com ótimas performances, "Master" é um filem sombrio, trágico e pessimista, que deixa claro que o racismo está presente na vida da comunidade negra, mesmo quando a sociedade branca alega não ser racista. Um filme que incomoda o espectador porque o cutuca, o provoca e o faz refletir sobre os seus atos diários.

quinta-feira, 17 de março de 2022

Emboscada


 "Lured", de Douglas Sirk. Remake do francês "Pieges", de Robert Siodmak, de 1939, 'Emboscada" é um clássico noir dirigido pelo mestre Douglas Sirk, famoso pelos melodramas como "Imitação da vida" e "Sublime obsessão", mas cuja carreira inicial misturava gêneros. O filme é estrelado pelos astros Lucille Ball ( em papel dramático), George Sanders e Boris Karloff. Em Londres, um serial killer mata jovens mulheres seduzindo-as através de anúncios amorosos em jornais. Depois de matá-las, ele manda cartas misteriosas para a polícia. Sandra (Ball) é uma dançarina americana que veio para trabalhar em Londres. Quando sua colega de trabalho Lucy desaparece, Sandra decide procurá-la com a ajuda do inspetor Harley (Charles Coburn), que pede para Sandra ser uma isca do serial killer. Sandra acaba conhecendo vários possíveis suspeitos, entre eles, Robert ( Sanders), por quem ela se apaixona. Um filme mais curioso do que bom, comandado por mestres como Douglas Sirk e um time de atores notáveis. A trama é boa, mas falta uma dose maior de suspense. 

Ghost tropic


"Ghost tropic", de Bas Devos (2019)
Concorrendo no Festival de Cannes 2019, "Ghst tropic" é um premiado drama de Bruxelas, trazendo um olhar ao mesmo tempo melancólico e esperançoso em relação à humanidade.
Khadija (Saadia Bentaïeb) é uma mulher de 58 anos que trabalha como faxineira em uma empresa durante o dia. Ao cair da noite, ela se despede dos colegas e pega o metrô. Cansada, Khadija acaba dormindo e ao acordar, se dá conta que está do outro lado da cidade. Está tarde e não existe mais metrô, e para piorar, ela não tem o dinheiro o suficiente para pegar um táxi. Khadija decide caminhar horas até sua casa, e no caminho, irá se deparar com um segurança de shopping, com um homem que passa mal na rua e com um atendente de uma loja de conveniência. Mas o que a perturbará é quando encontra a sua filha vagando pela madrugada com um rapaz.
De ritmo extremamente lento, com longos planos, o filme oferece contemplação sobre a noite na cidade, com o vazio, os silêncios e as observações sobre trabalhadores noturnos. Sobra espaço para se debater sobre a observação do trabalho sub-emprego para mulheres de terceira idade e a expectativa de novas gerações que têm outros desejos sobre suas vidas e sue futuro. Linda performance da atriz Saadia Bentaïeb em registro minimalista e contundente.

terça-feira, 15 de março de 2022

Entre festas


 "Hiacynt", de Piotr Domalewski. Premiado drama polonês baseado em fatos reais. Com conteúdo LGBTQIAP+, o filme flerta com o policial e o suspense para narrar o período de 1985 a 1987 no país, ainda sob o domínio do comunismo e com forte presença da polícia que vigia toda a população em uma sociedade conservadora. A operação Jacinto foi criada para cadastrar homossexuais e vigiá-los o tempo todo. Os homossexuais eram considerados pelo governo como criminosos, e estima-se que o caderno rosa teve mais de 11 mil cadastrados. O que se diz é que a operação teve início para manter o controle da Aids que estava surgindo no país, e também, pela alegada desvio de conduta. O jovem policial Robert (Tomsz Zietek) trabalha com o seu pai, um chefe d apolícia. Robert namora a oficial Halinka, e aparentemente em uma vida normal e feliz. Quando a polícia decide encerrar o caso de assassinatos de homossexuais, robert secretamente decide ir atrás do serial killer. Ele decide investigar um jovem

estudante, Arek,  que supostamente estava na festa frequentada por gays e de onde estão sendo sendo assasinadas as pessoas. 

O filme lembra demais o clássico "Parceiros da noite", com Al Pacino fazendo um policial que se infiltra na comunidade gay e se faz passar por um lgbt, até que ao conhecer um rapaz, começa a se envolver. "Entre festas" é um ótimo drama, com uma trama envolvente, bons atores e um visual que apresenta a frieza do mundo comunista europeu. 

Carlito se va para siempre


 "Carlito se va para siempre", de Quentin Lazzarotto (2018)

Belíssimo curta LGBTQIAP+ peruano, resultado de um workshop de direção ministrado por Werner Herzog e que resultou em inúmeros prêmios em festivais.

No vilarejo indígena de Palma Real à beira do Rio Amazônia no lado peruano, vive Carlito. Ele é silencioso e bastante observador. A sua comunidade foi quase toda evangelizada, e Carlito se sente um peixe fora d'água. Mas esse dia, será um dia diferente. Ele pega sua mochila, e decide ir embora, sem se despedir de ninguém. Quando se aproxima de uma canoa, sua avó surge e se despede dele. Carlito segue seu caminho, e se encontra com um outro rapaz. E fica feliz.
Mais do que o simples roteiro, a força do filme se reside na construção das imagens, filmadas em locações paradisíacas, e apresentando a vida pacata de um povo esquecido. A descoberta da sexualidade e o entendimento da busca pela felicidade e por um caminho que seria impensável em uma sociedade regida por tradição e preconceito.

Os últimos românticos



"Os últimos românticos", de João Cândido Zacharias (2019)
Excitante curta LGBTQIAP+ onde três rapazes fazem relatos de pegação, em 2 monólogos excelentes e sem cortes, mostrando um naturalismo e espontaneidade vibrantes de 3 jovens atores muito interessantes e talentosos.
No primeiro monólogo, um rapaz relata uma experiência sexual que ele teve em um cinema lotado assistindo "Blade runner 2049" e sentado ao lado de um rapaz, encosta sem querer a mão no genital do outro.
Na 2 cena, dois rapazes na cama relatam suas experiências com pegação: o primeiro rapaz é o cara que estava no cinema com o primeiro depoimento. O 2o rapaz relata sua experiência em um ônibus.
Filmado com extrema simplicidade mas deixando claro que com um ótimo texto, bons atores e muita criatividade, é possível fazer um filme muito bom.

A história de Dirk Diggler


"A história de Dirk Diggler", de Paul Thomas Anderson (1988) Estréia na direção do cultuado cineasta Paul Thomas Anderson, "A história de Dirk Diggler" foi rodado como um curta de estudante do então estudante de cinema, que na época, em 1988, tinha 17 anos.
O filme, todo rodado e editado em VHS, tem uma textura suja, condizente com o olhar vintage sobre o filme. Narrado em off por um narrador em tom sensacionalista, o filme mostra a ascenção e queda de Diggler: seu sucesso com os filmes pornôs, a sua relação bissexual com seu amigo e parceiro de cena Reed e a pressão do Diretor e produtor Jack Horner. O uso de drogas, a tentativa de ser cantor de rock e astro de uma fracassada série de tv até sua morte ainda jovem. E um desfecho delicioso e cafona, com um clip mostrando momentos da vida de Diggler, ao som de


 


segunda-feira, 14 de março de 2022

The souvenir- Parte 2


The souvenir- Part 2”, de Joanna Hogg (2021)
Um raro caso de filme independente que tem uma continuação, “The souvenir- parte 2” é sequência direta do filme homônimo de 2019, e ambos bastante premiados e produzidos por Martin Scorsese, fã do trabalho da cineasta e roteirista Joanna Hogg.
O filme é autobiográfico da cineasta e conta a sua vivência com seus pais e a faculdade de cinema que ela está graduando. Julie (Honor Swinton Byrne, filha de Tilda Swinton) é o alter ego de Joanna. No filme anterior, ela vivia um relacionamento tóxico com Anthony, um homem mais velho que a ssediava moralmente e tinha grande influência sobre Julie. Nessa parte 2, o filme começa com Julie passando um tempo na casa de seus pais, Rosalind (Tilda Swinton) e Willian (James Spencer Ashworth). Julie vive um luto pela morte inesperada de Anthony por overdose. Julie decide retornar para a faculdade e fazer seu curta de graduação. Ela muda o roteiro e decide exorcizar sua história com Anthony no roteiro, mas é criticada pela bancada de professores ( todos homens. Mas Julie insiste e monta uma equipe de filmagem. No entanto, devido à sua pouca experiência, parte da equipe, principalmente o produtor e o fotógrafo, a pressionam, deixando claro que Julie não sabe o que quer, além dos próprios atores, que questionam o método de Julie de dirigir.

Um filme com foco no olhar feminino, sobre mulheres que passam seus dias sufocadas pela presença masculina, tóxica e ameaçadora, seja no âmbito profissional ou pessoal. Para quem trabalha com audiovisual, é um filme que apresenta o dia a dia que estamos acostumados a ver, com muita pressão. Um ótimo time de atores desconhecidos, abrilhantados pela jóia da Tilda Swinton. E como é lindo ver mãe e filha na ficção e na vida real trabalhando juntas!!

Huda's salon


Huda’s salon”, de Hany Abu-Assad (2021)
Indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro com “Paradise now”, o palestino Hany Abu-Assad lança mais um polêmico drama, mostrando o conflito entre palestinos e israelenses em terras ocupadas. Dessa vez, ele traz a história para Belém, ocupada pelos israelenses e com um muro dividindo as terras. A relação entre palestinos e israelenses é bastante tensa, e para as mulheres, resta pouca chance de sobreviver com liberdade, pois tem o agravante da sociedade patriarcal e machista.
“Em ‘Huda’s salon”, a narrativa é bastante tensa e vai num crescendo de suspense quase insuportável e angustiante.
Reem (Maisa Abd Elhadi)é uma jovem mãe de um bebê de dois meses, e casada com o ciumento Yousef (Jalal Masarwa). Em um dia como outro qualquer, ela vai até o salão de Huda (Manal Awad), lugar que ela frequenta a tempos, para fazer o cabelo. Mas para sua surpresa, ela é drogada por Huda e tem fotos comprometedoras feitas por Huda, que a obriga a trazer informações para os israelenses, caso contrário, as fotos dela serão divulgadas. Reem se desespera e tem medo de contar ao marido o ocorrido. Huda, por sua vez, é presa pela polícia secreta palestina e é interrogada pelo policial Hasan (Ali Suliman), que quer saber quem são as mulheres que estão nas polaróides encontradas na casa dela, acusadas de traição.
Com apenas 4 atores e uma direção impecável, “Huda’s salon” jamais é óbvio, e faz com que o espectador torça pelas protagonistas, assim como procura dar voz e razão para todos os personagens. Um filme corajoso, denso, que certamente provocará a ira de palestinos e israelenses pela forma ousada e visceral como mostra algumas cenas.

sábado, 12 de março de 2022

Ascenção


  ‘Ascension”, de Jessica Kingdon (2021)

Excepcional documentário que remete aos filmes dirigidos por Godfrey Reggio nos anos 80: “Koyanisqatsi”, “Powaqatsi”, que são imagens lúdicas, poéticas e reveladoras mostrando a sociedade industrial , a população e o meio ambiente conectados ao processo da modernidade e da inevitável universo do consumismo e do capitalismo.

A cineasta Jssica Kingdon e seu fotógrafo Nathan Truesdell viajaram por 51 locais distintos na China e divide seu filme em 3 blocos: classe trabalhadora, classe média e a elite chinesa, enriquecida com a entrada da China ao mundo capitalista. São imagens impressionantes, algumas parecendo obras de arte. Os melhores segmentos são o de uma fabrica que fabrica bonecas sexuais, absolutamente bizarro. No 3o ato, mostrando os ricos, todos em situações impensáveis na China de anos atrás. E o que dizer da aula de etiqueta, onde as pessoas precisam aprender a abraçar e a sorrir, hábitos complexos de um oriental, mas necessário na união com o capital ocidental. Para sorrir, mostre 8 dentes, diz o professor. O filme venceu mais de 10 prêmios internacionais, entre eles, melhor documentário em Tribeca 2021.

Red- Crescer é uma fera


“Turning red”, de Domee Shi (2022)
Primeiro filme da Disney Pixar dirigido por uma mulher, “Red- Crescer é uma fera” é realizado pela mesma cineasta do curta “Bao”, premiado com o Oscar de melhor curta de animação em 2019.
O filme traz referências de sua cineasta, Domme Shi: fala sobre uma comunidade de chineses que moram em um bairro do Canadá. O ano é 2002, o auge das Boy Bands. Meili(Rosalie Chiang),13 anos, é uma excelente estudante e tudo na sua vida é bastante regrado e eficiente, ganhando elogios de todos, principalmente de sua mãe, Ming (Sandra Oh). Meilin e seus pais gerenciam um tempo frequentado por turistas. A idade de 13 anos no Canadá já é considerado entrada para a vida adulta, e esse fato faz com que Meilin se sinta pressionada pela entrada na puberdade, além de desejar ter mais liberdade. Ela sente atração por meninos e principalmente, apaixonada pela boy band 4-Town, que irá fazer um show na cidade. Sua mãe proíbe que ela vá, e isso faz com que Meilin se transforme em um gigante panda vermelho, resultado d etensão e stress.

O filme é bastante simpático e traz traços mais próximos ao anime, com os olhos amendoados e inserção de reações nas imagens. É um filme que lida com temas importantes como sororidade, feminismo, primeiro amor e mudanças corporais, metaforicamente ilustrados através do panda.

Exorcismo sagrado


"The exorcism of God", de Alejandro Hidalgo (2021)
Terror em co-produção México, Venezuela e Estados Unidos, "Exorcismo sagrado" busca o tempo todo pegar referências de "O Exorcista", de Willian Friedkin, inclusive copiando as mesmas cenas, como a chegada do padre na casa da possuída. Mas curiosamente, o filme tem elementos visuais e de narrativa que lembram outros clássicos do terror, como "A profecia" e "Demons, os filhos das trevas", de Lamberto Bava, com sua maquiagem trash e zumbis tosqueiras.
"Que lugar é esse, Padre?- Uma prisão do terceiro mundo- Eu não sei se devo espalhar água benta ou alvejante.". Essa frase proferida por um dos padres denota o tipo de humor ácido que surge espontaneamente no filme, fazendo graça aonde não deveria ter. A história é interessante: O padre Peter Williams (Will Beinbrink) está no México em uma região pobre. Ele luta pela causa dos pobres. e é bastante ativo entre a população. Ele é acionado para um exorcismo, no entanto, ele ainda não está preparado para tal missão. Temendo pela morte da possuída, ele aceita fazer o exorcismo, mas a sedução do demônio Balban acarreta uma ação violenta que culminará em uma brecha de tempo de 18 anos depois. O padre agora trabalha no campo com os sem terra mas é chamado para um novo exorcismo: uma jovem de 18 anos está na prisão e necessita da ajuda dele. É a sua chance de se redimir de seus atos passados.
O filme é corajoso quando fala metaforicamente sobre os abusos sexuais dos padres, só que aqui, o demônio é literal, mas fica fácil entender a simbologia. O final também lembra bastante "A profecia". O filme muitas vezes parece um filme bastante tosco, um filme B trash, e para o meu gosto, acho até divertido. O que atrapalha são os excessos de diálogos e ritmo. A cena de Cristo crucificado virando um demônio é realmente polêmica e corajosa, pois rompe de vez com um simbolo católico de forma bizarra.

sexta-feira, 11 de março de 2022

Dog


‘Dog”, de Channing Tatum e Reid Carolin (2022)
Drama feel good movie que marca a estréia do ator Channing Tatum na direção. Aqui, ele co-dirige com o seu amigo roteirista Reid Carolin. Channing interpreta Briggs, um ex-Ranger, que é uma divisão de elite do exército americano. Por problemas de TDSA, Briggs é obrigado a sair da corporação, mas seu sonho é poder retornar. Essa oportunidade surge quando lhe passam uma missão especial: levar a cadela Lulu, uma ex-ranger que durante anos acompanhou um outro ranger, e que foi morto em combate. Briggs deve levar Lulu até o velório do soldado, sendo esse seu último pedido. Mas Lulu está irritadiça e por isso será sacrificada após o velório. Briggs aceita, mas impedido de viajar de avião pelas condições do animal, ele precisa viajar de carro até o Arizona. Durante a viagem, muita coisa irá acontecer, mudando definitivamente a vida tanto de Briggs, quanto de Lulu.
Como roteiro, o filme é super óbvio e todo mundo sabe como o filem irá terminar. O que vale no filme é que as cenas com a cadela são emocionantes, e ela sim, é a grande atração do filme. O filme aposta mais no drama do que numa tentativa de humor, que é pouco. E também fala de temas mais densos, como a cena onde Lulu ataca um homem vestido como alguém do oriente médio, pois ela foi treinada para essa ação.