domingo, 1 de fevereiro de 2015
Gritos e sussurros
"Viskningar och rop", de Ingmar Bergman(1972)
Bergman concebeu o roteiro do filme através de uma imagem recorrente que constantemente vinha em sua mente: a de 3 mulheres caminhando em um belo campo ensolarado, com roupas brancas, falando tão baixo que o espectador não conseguiria escutar. Buscando referêncas em "As 3 irmãs", de Tchekov, Bergman conta a história de 3 irmãs no início do Sec XX na Suécia. : Agnes (Harriet Anderson) , Karin (Ingrid Thulin) e Maria (Liv Ulmann). Agnes mora sozinha, com sua empregada Anna (Kari Sylwan), em uma mansão rural. Agnes está sofrendo de câncer e é visitada por suas 2 irmãs. Ao longo do filme, vamos descobrindo que a relação das três percorrem memórias de muita tristeza, ódio e dor, fazendo com que, mesmo diante da eminente morte de Agnes, elas se confrontem em violentas discussões e ações de extrema brutalidade verbal. Anna é a única que entende que Agnes necessita de amor verdadeiro, mesmo que esse amor venha dela, uma empregada.
Rever esse filme quase 30 anos depois foi uma descoberta extraordinária: é uma imensa obra-prima, irrepreensível, com uma Direção precisa e genial de Bergman. Ele filma longos planos, com marcação dos atores dentro da cena, em movimentação brilhante. A edição de som, criativa e surpreendente, insiste em badaladas de relógios e sussurros que causam estranheza e uma dimensão de terror psicológico que prende a respiração do espectador. Que filme é esse que estamos assistindo? Drama, terror? Quando a sessão acaba, sentimos um peso na alma e no coração tão grande, que leva um tempo para digerirmos tamanho sofrimento e violência. O filme ganhou o Oscar de fotografia, a cargo de Sven Nykvist, fiel fotógrafo de Bergman, e um prêmio técnico em Cannes. O filme trabalha com tom vermelho na fotografia, direção de arte e figurino. Para Bergman, “Desde criança, sempre imaginei o interior da alma como uma membrana úmida, tingida de vermelho. Mas esse vermelho é aqui também cor de luto e do passado, cor do que perdemos e nunca mais podemos recuperar. Quem quiser, pode também pensar que é a cor do inferno.".
O filme tem uma carga teatral bem forte: cenário quase único, tom hiperrealista do vermelho em cena e as performances intensas das 4 atrizes, que atuam como se estivessem em um palco intimista. Um primor de interpretação, recheado de cenas antológicas. eu nem saberia dizer qual cena me impressionou mais. Talvez a de Maria com o médico se olhando ambos no espelho e constatando a idade que passou. Ou a cena onde Agnes, urrando de dor, implora pelas irmãs que a rejeitam. Ou o belo momento final, com todas elas em um balanço. E o que dizer d acena das irmãs reunidas com seus respectivos conjugues? Um festival de mentiras e hipocrisia, que marca a fachada moral e ética com que os burgueses se escondem.
Um filme obrigatório, mesmo que dificil de se assistir.
Nota: 10
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