"M8- Quando a morte socorre a vida", de Jeferson De (2019)
Adaptação do livro escrito por Salomão Polakiewicz em 1996, "M8" é um retrato do Brasil que não se diz racista, mas que esconde em cada olhar, em cada gesto, em cada fala, um discurso de ódio racial.
Maurício (Juan Paiva) é morador de comunidade e mora com sua mãe, Cida (Mariana Nunes), enfermeira. Maurício passou para medicina em uma prestigiada Universidade Federal do RJ e vai para o seu primeiro dia de aula. Logo de cara, ele chega atrasado e sofre bullying dos funcionários. Ao final da aula, é confundido por um aluno branco como sendo um funcionário. Maurício é cercado de atitudes racistas, até mesmo pelos funcionários negros da faculdade. Quando começa a namorar uma colega branca, sofre ainda mais as consequências de ser negro: somente quando conhece um grupo ativista de mães negras em busca de seus filhos desaparecidos, Mauricio encontra motivos para levar a sua aula de medicina adiante: ele desconfia que o cadáver de um jovem negro, apelidado de M8, seja filho de uma delas. Mauricio resolve fazer uma busca sobre o paradeiro do rapaz.
Curioso o quanto que esse drama tem de similaridade com o recente "Morto não fala", de Dennison Ramalho. No filme de Dennison, o personagem de Daniel de Oliveira trabalha em um morgue e consegue se comunicar com os cadáveres. Maurício, frequentador de terreiro com sua mãe, também possui dom de ver os mortos e se comunicar de certa forma com eles. Mas em "M8", o diretor Jeferson de e o roteiro preferem não investir no gênero fantástico, preferindo falar sobre preconceito e discurso de ódio, tanto na corporação policial, quando na elite, na faculdade e até mesmo na classe média e funcionários terceirizados.
Um filme importante pelo discurso, com uma cena final que emana um gripo de dôr de todas as famílias que perderam seus entes queridos.
No todo, no todo, fiquei encantado mesmo foi com o trabalho da extraordinária atriz Mariana Nunes, e com a saudade do eterno Pietro Mario
Nenhum comentário:
Postar um comentário