"2 ou 3 choses qui je sais d'elle", de Jean Luc Godard (1967)
Realizado entre dois de seus filmes mais conhecidos, "Made in Usa" e "A chinesa", "2 ou 3 coisas que eu sei dela" foi lançado em 1967, no auge da crise da Guerra do Vietnã, e início das construções de condomínios populares na periferia de Paris. Godard se inspirou em um artigo sobre donas de casa de um conjunto habitacional no subúrbio de Paris, que se prostituíam para alimentar o próprio consumismo supérfluo. O filme se aproxima bastante de "Zabriskie point", de Antonioni, ao fazerem um discurso crítico contra a sociedade de consumo. Godard , que narra o filme em um off sussurrado, alerta que o consumismo fez a sociedade esquecer de Hiroshima, de Asuchwitz, da fome, do desemprego, do Vietnã....
O filme, como todos os filmes de Godard dos anos 60, é um experimento linguístico, onde mistura-se ficção, documentário e teses sócio-políticas divagadas pelo próprio Godard, em off, oe pelos personagens.
O filme já começa com uma linda metalinguagem: Godard apresenta a atriz Marina Vlady: seus cabelos, sua roupa. Daí, ele apresenta Juliette: seus cabelos, sua roupa, que são o mesmo que o de Marina Vlady. Ou seja, Vlady é Juliette. Nesse exercício metalinguístico, reside a essência do filme. Vlady/Juliette vez ou outra quebra a quarta parede para falar com o espectador. Ela é uma mulher casada e com dois filhos, que para sustentar seus desejos consumistas, se prostitui.
"Você sabe a diferença entre o Amor falso e o Amor verdadeiro? O Amor falso é quando eu continuo sendo a mesma. O verdadeiro Amor é quando eu mudo, quando o meu amado muda." Esse belo diálogo é dado por Juliette ao seu indiferente marido. É no meio de frases de efeito como essa que o filme encanta e traz um protagonismo luminoso de Vlady, ao mesmo tempo que a atriz fetiche de Godard, Ana Karina, estampa um poster na parede. Visualmente, o filme é belíssimo, cheio de frases e palavras estilizadas na tela grande.
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