segunda-feira, 7 de junho de 2021

Cine Marrocos


"Cine Marrocos", de Ricardo Calil (2019)
Vencedor do prêmio de melhor filme documentário do Festival "E tudo verdade", em 2019, 'Cine Marrocos" é um filme que trata de vários temas: Cinema, sem tetos, refugiados, ocupação, desapropriação, desmon te da cultura, abandono de prédios públicos, fome, desemprego, depressão, o fazer audiovisual, um País à bancarrota.
O Cine Marrocos se localiza no bairro República, centro de São Paulo. Inaugurado em 1951, é um prédio que, além do cinema, "O melhor e mais luxuoso cinema da América Latina", abriga 12 andares de escritórios. Em 94 encerrou an atividades, e em 2013 o prédio foi ocupado pelo Movimento dos Sem Teto do Sacomã (MSTS), composto por refugiados, desempregados e moradores de rua. Em 2016, usando a força policial, a prefeitura desapropriou todos os mais de 1000 moradores, 300 famílias.
Não tem como não se lembrar de "Hotel Cambridge", de Eliana Caffé. Só que ricardo Callil, que escreveu e dirigiu "Cine Marrocos", foi para um viés bastante curioso e inclusivo: enquanto durava a ocupação, ele escalou 20 moradores para fazerem parte de um grupo de atores para encenarem trechos de filmes famosos que foram exibidos durante um Festival de cinema internacional que ocorreu no local: convidados como Joan Fontaine, Abel Gance, Robert Cummings entre outros, aplaudiram as sessões de "Julio César", "Crepúsculo dos deuses" e "A grande ilusão". Os 20 moradores , que não possuem nenhum feedback nas artes, usam o sofrimento e dôr de suas histórias para usarem nas cenas. A partir daí, o filme apresenta a história de cada um deles, e como a cena dele é vista filmada e encenada.
É impossível para um CInéfilo ou apaixonado pelo cinema não se comover com o filme, e com a possibilidade inclusiva que a arte pode dar para quem precisa dela. Mas infelizmente não existe um suporte do governo para manter esse fogo aceso. O filme terminar com a reprodução da famosa cena final de "Sunset Boulevard", com norma Desmond ficando desfocada, é um sinal trágico dos tempos cruéis que estamos vivendo.

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