sábado, 30 de maio de 2020
O Anjo nasceu
"O anjo nasceu", de Julio Bressane (1969)
Listado entre os 100 melhores filmes brasileiros pela Abraccine, faz pensar que o filme de Murilo Salles, 'Como nascem os anjos", traz muita referência a esse clássico de Bressane, não somente com a semelhança dos títulos, mas com a trama. Dois bandidos, Santamaria (Hugo Carvana) e Urtiga (Milton Gonçalves) estão cercados pela polícia em uma comunidade no morro. Santamaria está ferido na perna, levou um tiro. eles invadem uma casa de classe média alta localizada no morro. Lá, eles matam o dono e mantém como reféns a esposa (Norma Bengell) e a empregada (Maria Gladys). Representante do cinema marginal, “O anjo nasceu” traz semelhanças com ‘o bandido da luz vermelha”, de Rogerio Sganzerla: em ambos os filmes, os bandidos invadem casas e matam seus donos de classe média alta. Esbanjando na violência, um correlato ao período violento da ditadura pelo qual o País estava atravessando, Julio Bressane ousa em vários momentos no filme: logo no prologo inicial, ele já dá spoilers do filme todo, com flashes do que iremos ver. Equipe técnica e claquetes surgem a cada instante. Os personagens de Urtiga e Santamaria são misóginos, homofóbicos, mata sem piedade. Santamaria é religioso da umbanda e tem uma cena divertida fazendo um despacho com galinhas pretas e cachaça. MA as maior de todas as ousadias está reservada para o último plano do filme; um plano fico, de 7 minutos, do carro dos personagens sumindo na estrada e a câmera fica focada na estrada, sem nada acontecer, ao som de “Peguei um Ita no norte”, de Dorival Caymmi. Mas talvez a cena mais emblemática para mim, de todo o cinema marginal, é uma cena onde Santamaria e Urtiga estão nús. Urtiga está ajoelhado de frente para Santamaria, como se fosse fazer um boquete. Eles estão posados, como estátuas. Seria um indício de homossexualidade dos personagens? Fiquei sem respostas.
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