terça-feira, 12 de maio de 2020
O que arde
"O que arde", de Oliver Laxe (2019)
É impressionante o currículo do jovem cineasta franco-espanhol Oliver Laxe, que com 28 anos de idade ganhou o Prêmio de melhor filme na Mostra Quinzena dos realizadores em Cannes no ano de 2010, com o filme "Você são os capitães". Depois, em 2016, ganhou o prêmio especial do Juri na Mostra Semana da crítica de Cannes com "Mimosas". E agora, na mesma Cannes, na Mostra Um certo olhar, ele ganha o grande prêmio do juri por "O que arde", perdendo o prêmio de melhor filme pro brasileiro "A vida invisível", de Karim Ainouz.
Impressionante também é saber que o filme é todo com não atores, e que os dois protagonistas, Amador Arias e Benedicta Sánchez ( de 84 anos!) ganharam os prêmios de atuação em importantes Festivais, como Goya e Tessalonik.
A fotografia do filme também é uma monstruosidade de esplendor, rodado em 16 mm. Filmando florestas em chamas ou árvores de eucaliptos sendo devastadas por tratores, Mauro Herce traz uma espetacularidade digna de Vittorio Storaro em "Apocalipse now".
Outro feito do filme é ter sido o primeiro filme em língua galega a concorrer em Cannes. O filme foi rodado nas montanhas da Galícia, região onde moraram os avos do diretor. Lá, mora Amador ( o diretor nomeou todos os seus personagens cm os nomes dos atores, deixando mais evidente o naturalismo das ações), um homem de meia idade, recém saído da prisão, acusado de ter tocado fogo na floresta, devastando kilômetros de árvores. Amador não tem nada: nem amigos, dinheiro, trabalho. Ele retorna para a casa de sua mãe Benedicta, que mora sozinha com suas 3 vacas. Benedicta tenta arrumar emprego para Amador, em vão. Ele é mal visto por todos na região. Quando um novo incêndio se aproxima, Amador novamente é acusado.
Brilhante como direção, o cineasta Oliver Lax rege o filme como uma grande ópera da natureza tanto real quando humana. As árvores sendo devastadas e queimadas são uma metáfora da vida de Amador e de todos os que moram na região. É um filme triste e pessimista, mas ao mesmo tempo, belo pelas suas imagens absurdamente poéticas. O filme possui um olhar documental sobre tudo e todos. Mas confesso que fico chocado como foram feitas as cenas do incêndio.
Um registro: que beleza e que maravilha é assistir a atriz Benedicta Sánchez em cena. Pequena, frágil, mas com uma força interior tanto em sua imagem quanto em seu olhar emotivo e profundo. E é nos silêncios de seus personagens que o filme comove.
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