segunda-feira, 11 de maio de 2020
Aruanda
"Aruanda", de Linduarte Noronha (1960)
Listado entre os 100 melhores filmes brasileiros pela Abraccine, "Aruanda" é um documentário considerado um dos precursores da estética do Movimento do Cinema novo, que viria a surgir nos anos 60.
Linduarte Noronha era jornalista e crítico de cinema na Paraíba. Quando descobriu uma história sobre um quilombo onde os moradores viviam como se estivessem ainda em uma sociedade primitiva, totalmente afastada da sociedade, Noronha resolveu filmar um documentário para registrar a incrível saga desses descendentes de escravos fugitivos.
O Quilombo Olho d'Água da Serra do Talhado se localiza em Santana do Sabugi, Paraíba. Linduarte mistura ficção e documentário para narrar a sua história. Escalando os próprios moradores, Linduarte os coloca para interpretar a 1a parte do filme, no Século 19, quando a família do ex-escravo Ze Bento migra para uma terra ao lado de um rio, onde ele inauguraria o Quilombo pacifico. A parte documental acontece no século 20, já no final dos anos 50. Às mulheres cabe produzir cerâmica de forma artesanal, e os homens, o cultivo do algodão. No final, eles vão para a cidade vender a cerâmica.
O que deixou vários cineastas como Glauber Rocha atônitos é a excelência do filme, registrando em um poderoso e dramático preto e branco na fotografia de Rucker Vieira, único integrante da equipe do filme,toda uma miséria do brasileiro que mora no sertão. As imagens chocantes desses pobres lutando por sobrevivência, em imagens poéticas, exploravam o que o Cinema Novo tanto desbravava, que era estética da fome. Esses brasileiros do sertão, do interior, era o material humano de Glauber e de todos os cineastas do Cinema novo, que apontaram suas câmeras para esses personagens, desviando do homem da cidade grande. Toda a sequência das mulheres produzindo a cerâmica de fato é muito linda e comovente. Na trilha sonora, a canção "ô mana deixa eu ir", composta por Villa Lobos, traz uma lufada de poesia para o mundo cão apresentado no filme. A curiosidade é que Linduarte pediu a câmera e acessórios emprestados para Humberto Mauro, senão fosse isso, o filme não poderia ter sido realizado.
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