quarta-feira, 20 de maio de 2020
A margem
“A margem”, de Ozualdo Candeias (1967)
Fiquei tão impactado com esse filme, listado entre os 100 melhores filmes brasileiros pela Abraccine, que tive que pesquisar quem era Ozualdo Candeias, de quem eu quase nada tinha ouvido falar. “Nascido no Mato Groso, abandonou a escola ainda no primário e trabalhou no campo, foi militar, caminhoneiro, chofer de táxi, office-boy, lustrador de móveis, metalúrgico, operário e funcionário público.” Começou a trabalhar em cinema realizando curtas e foi assistente de direção do Zé do Caixão em “À meia noite levarei sua alma”, em 64. Ozualdo realizou um filme que de forma sublime, traz referências do cinema neo-realista italiano, do cinema mudo (o personagem do louco com uma flor é Chaplin puro), do realismo fantástico e ouso até dizer do cinema de Misogushi, “Contos da lua vaga”, com a embarcação fantasma que busca os seus mortos.
Tudo isso embalado por uma sensacional trilha sonora composta pelo Zimbo Trio. Filmado em preto e branco e com baixíssimo orçamento, Ozualdo narra a história de personagens marginalizados que moram nas margens do Rio Tietê, no ano de 1967. O Tietê ainda era coberto por vegetação e tinha uma favela no seu entorno. Ali Ozualdo conta 2 histórias de amor, em uma estrutura narrativa que logo depois seria celebrado por Robert Altman, que é o filme painel, com personagens se cruzando pelo caminho. Temos um desempregado de terno e gravata que se relaciona com uma prostituta, e um louco que traz consigo uma flor e o oferece para uma jovem que de dia trabalha como vendedora de café, e de noite se prostitui. O filme praticamente não tem diálogos, e os poucos que tem, parecem ter sido dublados depois. O elenco é todo formado por não-atores. Críticos consideram o filme um dos precursores do cinema marginal, que surgiu forte no ano seguinte com Rogerio Sganzerla e “O bandido da luz vermelha”. O nome do movimento veio do título do filme de Ozualdo, batizando um dos mais revolucionários momentos do cinema brasileiro.
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