quarta-feira, 13 de maio de 2020
Matou a família e foi ao cinema
"Matou a família e foi ao cinema", de Julio Bressane (1969)
Lançado no mesmo ano que "O bandido da Luz vermelha", de Rogério Sganzerla, outro filme seminal para se entender a linguagem e os conceitos do que se chamou de Cinema marginal, ou udigrudi, "Matou a família e foi ao cinema" traz uma metalinguagem ousada sobre filme dentro do filme. Um dos primeiros filmes dirigidos por Bressane, que no mesmo ano rodou "Um anjo nasceu", aos 23 anos de idade, "Matou a família.."ganhou refilmagem de Neville D'almeida em 1991, mas com uma proposta totalmente diferente.
A atriz Marcia Rodrigues ficou famosa em 1967 por personificar no filme dirigido por Roberto Santos a "Garota de Ipanema". Ela e Renata Sorrah são as protagonistas do filme de Bressane. No auge da beleza e juventude, os closes de ambas abrem e fecham o filme lindamente. A premissa do filme começa logo em seu inusitado prólogo: em um apartamento de classe média em São Paulo, um casal discute cosias fúteis na presença do filho, já adulto. Cansado e apático, o rapaz mata o pai à navalhadas e a mãe à facadas. Depois, ele vai até o cinema e assiste um filme chamado 'Perdidas de amor", cujas protagonistas são as personagens de Marcia Rodrigues e Renata Sorrah. Elas interpretam duas amigas de classe média que passam o final de semana em uma casa do interior. Elas acabam revelando paixão uma pela outra, e entre cenas tórridas, elas pegam em armas. A partir da', o filme narra outras histórias, todas interligadas pela violência, como anúncios de pé de página de uma coluna policial de um jornal.
O filme apresenta uma clara metáfora do Brasil da ditadura. Todos os personagens pegam em armas e saem defendendo os seus valores, sejam elas quais forem. É a expressão de liberdade. Um povo armado em defesa de si mesmo, de seus ideais. Não é um filme fácil de se acompanhar, ele é todo fragmentado. Essa era a idéia básica do cinema marginal: a desestabilização dos preceitos clássicos de um cinema narrativo. O improviso, os defeitos técnicos, a contestação social e política da classe média.
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