domingo, 10 de novembro de 2019
Uma mulher alta
“Dylda”, de Kantemir Balagov (2019)
O cineasta russo Kantemir Balagov aos 28 anos de idade lançou em Cannes 2017 o polêmico “Tesnota”, vencedor do Prêmio Fipresci na Mostra Um certo Olhar. O filme foi um verdadeiro escândalo ao mostrar uma cena real de decapitação de um preso político por terroristas. Agora em 2019, Balagov novamente ganha um Fipresci e também o Prêmio de Melhor diretor em Cannes na Mostra Um certo olhar por esse drama lésbico “Uma mulher alta”. Mostrando uma relação obsessiva e psicótica entre duas mulheres, pode-se ver ecos de “Persona” e “Lágrimas amargas de Petra Von Kant”, obras primas de Bergman e Fassbinder.
Em 1945, na cidade de Leningrado, logo após o fim da 2a Guerra Mundial, acompanhamos o dia a dia de Ilya, uma jovem alta que trabalha como enfermeira em um hospital para vítimas da guerra. Ela cuida de uma criança, Paschka, que na verdade é filho da soldado Masha, que deixou o filho aos cuidados de Ilya enquanto ela luta no front. Ilya possui uma doença adquirida com os traumas da guerra: constantemente, ela “sai do ar”, em estado inconsciente por breves minutos. Por causa de uma das crises, ela acaba matando a criança, ao cair em cima dela, em uma das cenas mais trágicas da história do cinema. Quando Masha retorna da guerra e pergunta pelo filho, ela entra em choque ao saber da morte dele. Sem poder ter outro filho por conta de acidente no front, Masha pede para que Ilya engravide e dê o filho para ela. Ilya se recusa, mas por nutrir uma paixão platônica por Masha, acaba cedendo.
Com 140 minutos de duração, o drama tem um ritmo extremamente lento mas contemplativo. A fotografia e absolutamente deslumbrante, lembrando quadros famosos, como “Moça com brinco de pérolas”. Contrastando cores pastéis e cores vivas, o filme mostra que mesmo com o fim da guerra, a destruição mental e psicológica permanece nos sobreviventes, algo como o devastador “A escolha de Sofia”.
O trabalho das duas protagonistas é acachapante: Viktoria e Vasilisa, como Ilya e amanhã, produzem uma agonia na tela que deixa o espectador em suspenso. Performances brilhantes dentro de uma densidade aterrorizante do drama das personagens.
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