segunda-feira, 4 de novembro de 2019
Sedução da carne
“Sedução da carne”, de Julio Bressane (2018)
Exibido em diversos Festivais de cinema autoral, entre eles Locarno e o Festival de Lisboa e Cintra, de onde saiu com o Grande prêmio do júri, “Sedução da carne” é realizado por um dos grandes expoentes do Cinema marginal brasileiro, Júlio Bressane.
Com uma única atriz em cena, Mariana Lima, que interpreta a escritora Siloé, que divide a cena com um papagaio e pedaços de carne que adquirem vida.
Siloé é viúva há três anos e desde então não sai de casa, adquirindo agorafobia. No prólogo, o filme apresenta lugares exóticos onde o casal provavelmente viajou, em imagens amadoras. Quando o filme foca na escritora, ganha contornos de teatro experimental: uma caixa quadrada de fundo preto, um divã e mais nada. Mariana Lima declama em tom pomposo textos romanceados que diz a sinopse, é inspirada em Nitzche. Ela declama para o papagaio, em uma relação insinuosamente erótica. Depois, o filme é entrecortado com imagens documentais de um matadouro, onde cavalos e bois são abatidos barbaramente. A seguir, pedaços de carne criam vida e passam a seduzir a escritora, finalmente se entregando literalmente aos prazeres da carne.
É difícil conceituar o filme sem ter lido entrevistas com o diretor para entender qual o propósito do filme. Muitas possibilidades estão expostas pela concepção surrealista do projeto, que tem um terço final remetendo a filmes de David Cronemberg dos anos 80. Em determinado momento, o Set de filmagem é revelado, expondo a metalinguagem entre literatura, teatro e cinema.
Um filme hermético sem dúvida, como toda a obra de Bressane, e como tal, provocadora. Mariana Lima se entrega em trabalho visceral, em performance que somente seria possível dentro de uma relação de confiança entre atriz e diretor.
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