segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Tuã Ingugu (Olhos d'água)

"Tuã Ingugu (Olhos d'água)", de Daniela Thomas (2019) A cineasta Daniela Thomas, em seus últimos trabalhos, tem apontado a sua câmera para a história do Brasil. Em "Vazante", Daniela expôs o drama da escravidão. Em "O Banquete", o tema era o Governo Collor. Agora, em "Tuã Ingugu (olhos d'água)", produzido pela Syndrome produções, o foco são os Kalapalo, etnia que vive no Parque Indígena do Xingu. Na aldeia Caramujo, o Cacique Faremá Kalapalo fala sobre a importância da água para a sobrevivência de sua comunidade: é ela que traz alimentos, que provê água para beber e é fonte de vida. Com a chegada da civilização e sua indústria, cada vez chegando mais próximo das aldeias, com seus poluentes que trazem o veneno para a água do rio que mantém a subsistência dos Kalapalo, o cacique prevê a extinção de sua tribo. Dito assim, parece tudo muito didático. Mas Daniela, que também é diretora de arte e montadora, tece uma linda narrativa, quase em tom de 'Era uma vez": logo no seu prólogo, a narração em off do Cacique embala imagens fabulares de crianças indígenas brincando com lanternas na noite, simulando estrelas. As imagens lúdicas das crianças dão lugar à cenas da rotina da aldeia: pesca, danças, rituais, convivência harmoniosa sob o off do mesmo cacique e também da aldeã Kanhu Matipu, enquanto ela prepara deliciosas tapiocas. Mas logo vem a virada da narrativa, com imagens aterrorizantes das fábricas e plantios de soja e milho, dizimando florestas e vegetações. Tudo fotografado com esmero por Leo Bittencourt, que trabalhou em outro projeto da mesma produtora, o premiado drama "Fica comigo". Daniela prova que é possível fazer um filme com mensagens de alerta ecológico e ambiental sem ser pedante e burocrático, se apropriando da narrativa cinematográfica para encantar e seduzir o espectador .

Um comentário:

  1. Tomei conhecimento da obra de Daniela Thomas, com Terra Estrangeira e na época não tinha maturidade política e artística quase nenhuma para acessar a obra. Esse ano fui surpreendido com um belíssimo trabalho visual em Vazante e com a visceralodade tragicômico de Banquete. Ainda não vi essa obra mais recente dela. Mas não duvido que esteja imbrincada de uma semântica delicada e beligerante. Como a que fui exposto em Vazante. Filme tecnicamente é esteticamente muito bem realizado, considerando que houve uns deslizes no argumento e na composição de algumas personagens. Talvez por opção mesmo da diretora em manter o discurso sócio politico ali mesmo no início do século XIX. O que não deixa de ser um épico de acintosidade contemporânea.

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