domingo, 6 de março de 2011

Viver a vida


" Vivre sa vie" de Jean Luc Godard (1962)

Drama dividido em 12 cenas, narra a história de Nana, uma aspirante a atriz, que abandona marido e filho pequeno em prol de seu trabalho. Pobre, ela trabalha em uma loja de discos como vendedora. Endividada ao extremo, ela acaba se prostituindo. Conhece um cafetão, Raoul, que a levará a desgraça.
Incrível como eu até hoje não havia visto essa obra-prima de Godard. Sou fã de seus filmes nessa fase dos anos 60 e 70. Dos anos 80 para cá, poucas são as obras que me interessam. A fase áurea de Godard é justamente a que traz inovação na linguagem, a ruptura com a dinâmica do cinema tradicional.
Aqui em " Viver a vida", Godard flerta com o melodrama. Nana é uma anti-heroína, daquelas que lutam por um ideal, mas a vida acaba se tornando um fardo para a sua existência. Assim como nas protagonistas dos filmes de Lars Von Triers, Godard não se permite que a personagem seja feliz. Talvez em um único instante, na cena da dança na sinuca, ela se permite entregar ao prazer: a dança lhe traz leveza, paz, felicidade. de resto, ela procura se manter da melhor forma possível. Quando ela descobre o amor, já é tarde demais.
Interessante a divisão dos capítulos, todos nomeados , uma espécie de resumo do que iremos ver. O trabalho de câmera é excepcional: alguns capítulos são em plano-sequência, como a da loja de discos. O uso do travelling é fantástico. parece que estamos presenciando um ballet. A cena do bar, quando rola o tiroteio, tambèm é incrível: na hora dos tiros, a câmera vai se acordo com o ritmo dos tiros. Foda!
Godard é tão ousado, que na cena inicial, que dura quase 10 minutos, os personagens contracenam praticamente de costas. Quase não vemos seus rostos, apenas refletidos ao longe no espelho, ou vistos de perfil.
A fotografia em preto e branco carrega em si a tristeza do filme, e a trilha sonora de Michel Legrand pontua o sofrimento da personagem. Interssante a cena do cinema, quando Nana está assistindo a " O martírio de Joana D´arc", de Dryer. Os closes de atriz do filme (Falconetti) se confundem com o de Ana Karina. Um prenúncio do que irá acontecer com a personagem. A morte como libertação de espírito.
Mas o filme não seria nada se não fosse a presença enigmática de Ana Karina. Linda, ela capta o espectador em todas as suas emoções. A tristeza eminente de sua personagem ganha forças com o seu olhar , com a sua postura. Adoro a cena que ela mede o seu corpo. É de uma graciosidade incrível.
A cena final é de uma brutalidade poucas vezes vista. O filme simplesmente acaba com o desfecho da personagem. assim mesmo, narrada secamente. Godard mostra aqui a excelência de seu trabalho como diretor e narrador de histórias, como poucos.

Nota: 10


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