domingo, 6 de março de 2011

As amizades particulares



" Les amitiés particuliéres/This special friendship", de Jean Dellanoy (1964)

Adaptação cinematográfica da obra homônima, escrita por Roger Peyrefitte. A obra é descrita como autobiográfica, narrando o período que Roger ficou como interno de um colégio de padres católicos.
O filme narra a história de Georges de Sarre, um adolescente de 16 anos, de família aristocrática. Ele é transferido até um rígido colégio de formação religiosa, na França dos anos 20. Lá, ele conhece Lucien, por quem ele se sente atraído. Porém, Lucien já tem um namorado secreto, André Ferron. Georges arma contra André, o que provoca sua expulsão. Abalado, Lucien se deprime. Georges o conforta, mas Lucien não estreita a sua amizade com Georges, que esperava uma entrega por parte dele. No entanto, Georges vem a se apaixonar por Alexander, um garoto de 12 anos. A paixão é mútua. Ambos trocam cartas de amor, sempre mantendo a relação em segredo. Os dois se encontram em um pequeno celeiro abandonado próximo ao colégio. O tempo passa, e os padres do local se revelam pedófilos, desejando ardentemente os meninos. Um deles, enciumado da relação de Georges e Alexander, exige o término da amizade, o que culminará em tragédia.
Um filme ousado para a época, e que lida com muita coragem com temas como homossexualismo e pedofilia. Fosse feito hoje em dia, o filme seria atacado por toda a mídia e causaria muito tumulto. Na época em que foi realizado, a questão da pedofilia não era tão acirrada como hoje, e tudo era visto como uma forma de amor entre pessoas de idade distintas.
A força do filme advém da coragem dos atores em interpretar papéis tão complexos, sem expressar qualquer tipo de falso moralismo. Existe uma entrega formidável, principalmente da dupla Georges ( Francis Lacombrade) e de Alexandre (Didier Haudepin). Vai um destaque absoluto para o trabalho de Didier, incrivelmente talentoso e astuto para a sua idade, conferindo profissionalismo e humanidade ao papel.
A fotografia em preto e branco reforça o clima melancólico do filme, e a locação ambientada em um colégio religioso do início do século XX é perfeita.
A inteligência da direção do filme omite passagens mais objetivas, deixando em aberto ao espectador se a relação dos dois garotos era simplesmente amizade ou se chegou as vias de fato.
Após ver o filme, ficou claro para a mim uma forte referência de Almodovar para o seu filme " Má educação", em muito semelhante a essa história.

Nota: 8

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