sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Assunto de família

"Manbiki kazoku", de Hirokazu Koreeda (2018) "Era uma vez, uma família muito feliz...". "Assunto de família" poderia ter começado com essa cartela anunciando os personagens dessa carismática família que vive da prática de roubos. Ou também, poderia ter sido anunciada como a continuação da obra-prima de Koreeda, "Ninguém pode saber", que rendeu ao ator mirim Yûya Yagira a Palma de Ouro de Melhor Ator em 2004. O seu personagem Akira, poderia perfeitamente dar continuidade ao personagem Shota, que protagoniza "Assunto de família". É através do olhar do menino, que acompanhamos cada um dos integrantes da inusitada família: Seu pai trabalha em uma construção civil, sua mãe em uma lavanderia, sua irmã mais velha é uma escort girl que se apresenta em webcams, a avó vive em casa reclamando de tudo e de repente, seu pai traz para casa uma nova integrante: uma menina pequena de 5 anos de idade, maltratada pelos pais. Aos poucos, o pai vai ensinando à pequena a prática do roubo. o que vai provocando ciúmes de Shota. Koreeda é um grande Mestra que tem em sua filmografia, grandes filmes retratando a rotina de famílias desestruturadas. "Assunto de família" tem momentos que lembram Truffaut, Ettore Scola, pelo carinho com que trata as figuras marginalizadas. É muito complexo, para o espectador, tomar qualquer juízo de valor sobre a história e atos desses personagens. Contar algo aqui configuraria spoiler, uma vez que no ato final, todas as máscaras vão sendo derrubadas e esclarecidas. O filme é repleto de cenas comoventes e antológicas: a sequência da praia, culminando com um momento belíssimo da avó; a cena da fuga do supermercado; a cena do menino no ônibus, no final; a trepada do casal dentro de casa. Koreeda é um excelente Diretor de atores, e contrói suas cenas em planos longos e sem muita cobertura. O filme ganhou a Palma de Ouro em Cannes de Melhor filme, em 2018, merecidamente. Que atores extraordinários!

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