domingo, 4 de novembro de 2018

A casa que Jack construiu

"The house that Jack built", de Lars Von Trier (2018) Uma cena de "A casa que Jack construiu" define a diferença cultural entre a França e o Brasil: Jack (Matt Dillon, arrebatador) empunha um rifle e mata duas crianças, acertando tiros em suas cabeças estourando seus miolos. Em Cannes onde o filme estreou em primeira mão, a platéia praticamente abandonou a sala do cinema nesse momento, em protesto contra a violência gratuita. Na sessão do cinema Odeon, abarrotado de espectadores, absolutamente nenhuma pessoa abandonou a sala. Não sei se a violência no País anestesiou as pessoas em relação à violência, mas todos assistiram ao filme do início ao fim, em atordoantes e angustiantes 155 minutos de cenas de torturas, facadas, espancamento, mutilação de seios, etc. Trier, que sempre foi acusado de misoginia em suas obra, aqui não é diferente: suas vítimas são em quase toda a totalidade, mulheres. O curioso é que na platéia, metade do público eram mulheres, e muitas amaram o filme. Definitivamente, Trier não tem a mínima preocupação em querer agradar seu público, que se mantém fiel, mesmo não gostando de muitos de seus filmes. E porquê as pessoas querem ver seus filmes: para presenciar cenas de sexo explícito e violência extrema? Quem é mais aterrorizante? Jack ou o público, que ri dos assassinatos? A estrutura narrativa é a mesma de "Ninfomaníaca": o protagonista relata para um ouvinte ( O poeta Eneida (Bruno Ganz), os seus assassinatos, divididos em 5 incidentes e um epílogo metafórico, A platéía presencia pelo menos 10 assassinatos bárbaros, elevados a um nivel de tortura psicológica insana. Mas metade do filme, são pensamentos filosóficos e intelectuais acerca das obras de arte. São cenas longas, até mesmo monótonas. Lembra muito o Cinema do inglês Peter Greenaway. Jack busca a sua grande Arte perfeita, ao mesmo tempo, que tenta construir sua casa, sem sucesso. A cena final, com a resolução da casa construída, é assustadora e Dantesca. Muita gente odiou o filme, outros o alçaram à condição de obra-prima. Espécie de pout pourri de sua filmografia ( inclusive , o filme tem um clip exibindo cenas de seus outros filmes), "A casa que Jack construiu" pode ser absurdamente longo, monótono, sádico, mas algo é inegável: Trier sabe como poucos, o Poder que tem em suas mãos, de manipular seu público e manter constantemente interesse em sua obra. O elenco, eclético, se entrega aos personagens polêmicos do filme, dando destaque a Uma Thurman, irreconhecível no papel da primeira vítima de Jack.

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