segunda-feira, 27 de janeiro de 2020
Espelho de carne
“Espelho de carne”, de Antonio Carlos da Fontoura (1985)
“Quem perde, vira”. Com essa frase, e com uma cena protagonizada por Daniel Filho e Dennis Carvalho, o filme “Espelho de carne” se tornou um clássico do cinema nacional. Lançado em 1985, o filme tem como um de seus maiores méritos, o elenco formado por grandes nomes do cinema e televisão: além de Daniel Filho e Dennis Carvalho, tem as grandes estrelas Joana Fomm, Maria Zilda, Hileana Menezes e Iara Neiva, que faz a empregada em uma das cenas mais divertidas do filme. Em participações especiais, Moacyr Deriquém e Roberto Bataglin.
O filme é uma grande metáfora da classe média conservadora da emergente Barra da Tijuca. Como nos filmes de Bunuel, os personagens sofrem reflexo de elemento sobrenatural, como em “O anjo exterminador”, e fazem seus instintos sexuais e violentos aflorarem, terminando tudo em uma grande bacanal de sensações e prazeres obscuros. Outra referência é a obra-prima de Pasolini, "Teorema", onde um homem misterioso entra em uma casa de uma família classe média e seduz a todos.
Alvaro (Dennis Carvalho) compra um espelho e um leilão. O espelho pertenceu ao Palácio dos prazeres de Madame Solange, um famoso bordel do início do século XX. Ao trazer o espelho para seu apartamento, Alvaro e sua esposa recatada Helena (Hileana Menezes) sofrem os efeitos do poder sobrenatural do espelho: ele faz as pessoas liberarem suas fantasias sexuais, sem repressões. Um casal vizinho, Jairo (Daniel Filho) e Ana (Joana Fomm), e uma outra vizinha divorciada Leila (Maria Zilda) acabam participando de jogos eróticos, promovendo uma intensa libertinagem regada a sexo, drogas e muita loucura sem regras.
A grande importância desse filme, contemporâneo de outro clássico da época, “Rio Babilônia”, de Neville D almeida, é justamente terem sido produzidos durante a ditadura militar. O sexo que explode na tela desses filmes acaba sendo uma afronta contra a censura imposta pelos militares. Aqui, o Diabo em pessoa vira uma presença malígna, mas ao mesmo tempo sedutora, representando a ruptura com os padrões conservadores ligados ao erotismo e à religião.
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