sábado, 18 de janeiro de 2020

1917

"1917", de Sam Mendes (2019) "O tempo é o inimigo". Com essa frase, Sam Mendes elabora um dos filmes tecnicamente mais extraordinários da história do cinema. O roteiro, escrito pelo próprio Sam Mendes com a roteirista Krysty Wilson-Cairns, é elaborado através das histórias que o pai de Sam Mendes, Alfred Mendes, narrou e que ficou registrado em sua biografia, contando histórias acontecidas durante a 1a guerra mundial quando ele fazia parte do 19o batalhão. Sam Mendes uniu boa parte das histórias e as transformou na figura heróica do soldado Schofield (George Mackay), que junto do soldado Blake (Dean-Charles Chapman), têm a missão de entregar uma mensagem até um batalhão. A mensagem pede para que o ataque previsto contra os alemães seja cancelado, evitando a morte de 1600 soldados, pois foi descoberto que se trata de uma armadilha. A mensagem tem que chegar no máximo um pouco antes do amanhecer, hora marcada para a ofensiva. Com um trabalho absolutamente irrepreensível da câmera e fotografia de Roger Deakins, que aqui faz mágica, colocando a sua câmera em lugares que simplesmente, não sei como foi feito. É como se a câmera não existisse, e pudesse flutuar, entrar na água, se arrastar nas trincheiras, entrar em cavernas, etc. Para tornar tudo mais complexo, Sam Mendes e Roger Deakins conceberam tudo para ser um único plano sequência de 2 horas de duração, com emendas feitas para passarem de forma despercebida, semelhante ao filme "Birdman". Aliás, é de "Birdman"que vem a referência de seu cineasta: "1917"é como a junção do desafio de "Birdman"com a epopéia de um homem só de "O regresso". Pense nesses dois filme se você terá "1917". Esse filme só existe por conta do plano-sequência, que torna tudo mais tenso e desafiador, afinal, existe um tempo preciso para que a ação ocorra. George Maccay , que interpretou o filho mais velho de Viggo Mortensen em "Capitão Fantástico", está esplêndido, e é uma pena que não tenha sido indicado ao Oscar de melhor ator. Ele carrega o filme literalmente nas costas em momentos viscerais e brilhantes. Colin Firth, Benedict Cumbarbach e Richard Madden fazem participações especiais em um filme com um excelente de atores ingleses desconhecidos. O mais curioso, é que o filme faz um marketing errado: na verdade, a idéia não é que o filme seja visto com de um plano único: existe um momento óbvio de passagem de tempo, com clara indicação de corte. Eu diria que é um filme de 2 planos, mesmo que as emendas passem imperceptíveis. (Qualquer fotógrafo e técnico de cinema vai perceber os cortes). Até há pouco tempo, ninguém falava de "1917". Mas bastou ele ganhar os Globos de Ouro de Melhor filme e melhor diretor, roubado todas as atenções de Tarantino e Scorsese, que eram os favoritos com "O irlandês"e "Era uma vez em ...Hollywood", para que o filme ampliasse seus horizontes e fosse visto por quase todo mundo.

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