sábado, 1 de fevereiro de 2020

Para Sama

"For Sama", de Waad Al-Kateab e Edward Watts (2019) Uma imagem simboliza esse extraordinário documentário que ganhou o Golden Eye para melhor documentário no Festival de Cannes e concorre ao Oscar da categoria em 2020: uma mulher grávida, ferida pelo bombardeiro em Aleppo, na Síria, está na maca de um hospital improvisado. Os médicos correm para fazer uma cesariana e salvar o bebê. Ele nasce morto. Mas um dos médicos não desiste e começa uma sessão de reanimação no menino, que continua morto. Minutos depois, após muita palmada e massagem respiratória, o menino abre os olhos. Essa é uma das cenas mais primorosas e tocantes que você verá em anos. “Para Sama” é um filme realizado pela jornalista síria Waad Al-Kateab como um testamento para a sua filha pequena Sama, que nasceu sob os escombros de uma cidade destruída pela guerra civil que se iniciou em 2011. Totalmente narrado como uma declaração de amor para a filha, Waad filmou tudo, fotografou e registrou mais de 400 horas de material. Ao fugirem para a Inglaterra, o produtor e cineasta Edward Watts a ajudou a condensar e editar o material em 1:36 de duração. O resultado é um filme premiadíssimo e aclamado pela crítica e público como um dos momentos mais dramáticos e chocantes registrados da Guerra da Síria, mas que serve como um alerta contra todos os crimes que se voltaram à humanidade. Sob o olhar da mulher guerreira que é Waad, o filme vai e volta no tempo, captando a Síria desde 2011 até os dias de hoje. Em 2011, quando Waad se mudou para Aleppo para estudar na Universidade, mesmo contra a vontade de seus pais, ela já registrou em sua câmera os primeiros movimentos estudantis e civis contra a ditadura do presidente Bashar al-Assad, herdeiro de seu pai que governou o País por mais de 30 anos. O governo reage contra os oposicionistas e começa a bombardear e atacar os civis da cidade. O conflito, apoiado pelo governo russo fiel ao ditador sírio, se alastra até hoje. Waad conhece o médico Hamza, se casa com ele ( a cena do casamento no apartamento é de uma beleza sofrida) e juntos contróem um hospital improvisado que cuidará dos feridos de guerra. Eles juntam voluntários, mas os bombardeios se aproximam cada vez mais. Quando Sama nasce, Waad e Hamza decidem continuar na cidade para cuidar dos feridos. Waad sofre por Sama, e em determinando momento, pede perdão a ele por ter trazido ela ao mundo. O desfecho do filme, com imagens dos companheiros e pessoas que morreram durante o conflito, é de fazer chorar o espectador por um bom tempo. Um filme obrigatório, um momento de reflexão que deveria fazer a todos repensarem suas trajetória de violência contra o ser humano.

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