sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020
Filmworker- Minha vida com Stanley Kubrick"
"Filmworker", de Tony Zierra (2017)
Obrigatório documentário para fãs de Kubrick, estudantes de cinema e cinéfilos, "Filmworker" conta a história impressionante de Leon Vitalli, um ator inglês que estava em ascenção na Inglaterra nos anos 70 e que abandonou toda a sua carreira para trabalhar como assistente pessoal de Stanley Kubrick, seu ídolo e Mestre. "Filmworker" apresenta imagens inéditas de bastidores de filmes de Kubrick, com seu já conhecido perfeccionismo, e com imagens formidáveis de trabalho com atores e seu método para extrair deles o que ele deseja.
O filme apresenta diversos depoimentos de técnicos, atores, pesquisadores e os filhos de Leon Vitalli, que procuram entender o porquê de alguém se apagar profissionalmente e dedicar quase 30 anos de sua vida para trabalhar de forma totalmente servil, quase 24 horas por dia, para uma pessoa que abusava da boa vontade dele.
Leon Vitalli descobriu sua paixão por Kubrick quando assistiu a "2001" e disse que era o melhor filme que já havia assistido. Depois assistiu "Laranja mecânica"e decidiu que precisava trabalhar com Kubrick como ator. A chance veio em 1975, quando ele fez um papel pequeno em "Barry Lyndon". Ryan O'neil, que interpretou Barry Lyndon, dá um depoimento dizendo que Kubrick o obrigou a bater com o máximo de força em Leon Vitalli na cena, repetindo mais de 30 vezes. Leon permitiu o tratamento em prol da melhor atuação possível. Em troca, Kubrick aumentou a sua participação no filme. Quando o filme acabou, Vitalli falou com Kubrick que adoraria trabalhar com ele por trás das câmeras. Sem qualquer experiência técnica, Kubrick sugeriu que ele fosse trabalhar em qualquer função e depois o procurasse. Leon trabalhou em uma versão sueca de "Frankestein"como protagonista e pediu para trabalhar de graça como editor. Depois disso, ligando para Kubrick, ele lhe deu uma missão: ler o roteiro de "O iluminado". depois, deu-lhe a missão de ir aos Estados Unidos para fazer teste de elenco para Danny. Vitalli testou mais de 4 mil crianças, até que bateu o olho em Danny Llyod. Por ser ator, Leon acessou Danny de forma a concluir para Kubrick que o menino era o ideal para o filme. Durante as filmagens, Danny e Leon criaram uma relação de amizade. Leon foi fundamental como acting coach para Danny e Shelley Duvall. Depois, em "Nascidos para matar", Leon viu milhares de testes de elenco. Para o papel do Sargento, havia sido escolhido um ator, mas quando Leon viu o Sargento R. Lee Ermey dando coach aos atores, teve certeza de que ele seria o ideal para o papel. Kubrick confiava bastante em Leon. Lhe dava várias missões: supervisionar as legendas dos filmes no mundo inteiro, checar laboratórios, material de imprensa, absolutamente tudo. É curioso um depoimento de Matthew Modine, que trabalhou em "Nascidos para matar", que achava que Leon era um X-9 de Kubrick para ver e os atores fumavam maconha ou não estudavam suas cenas.
Com a morte de Kubrick em 1999, Leon continua dedicado à sua obra, apesar de não estar contratado por nenhum responsável pela sua herança intelectual. Leon se ressente que as exposições de Kubrick pelo mundo, ninguém o convide. Muito triste ouvir os depoimentos de seus 3 filhos, dizendo que cresceram sem a presença do pai ao seu lado, pois dedicava o tempo integral para servir Kubrick.
Com mais de 70 anos, Leon passa dificuldade financeira, mas não se arrepende de ter dedicado sua vida profissional para ser sombra de seu Mestre.
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