quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020
A escolha de Issac
"A escolha de Issac", de Sérgio Gag (2018)
O cineasta Sérgio Gagliardi Gag adaptou um conto do escritor e professor paranaense da UFM, Flávio Ricardo Vassoler, "E se o transatlântico, enquanto vai a pique, fizer o elogio do próprio naufrágio?" e o resultado foi a participação em diversos Festivais, entre eles, o prestigiado Festival Cine Ceará 2018.
Tendo como temas o relacionamento abusivo, suicídio, misoginia, fanatismo religioso dentro de um ambiente familiar, Sérgio Gag me fez refletir sobre a importância de escalar atores densos que possam dar veracidade a um projeto tão complexo e ao mesmo tempo, rico de nuances na dramaturgia.
Francisco Gaspar e Ariclenes Barroso compõem com muita propriedade o conto de 2 irmãos que se odeiam, uma fábula que adapta ao mesmo tempo, a relação conflituosa entre Caim e Abel e também, a de pai e filho na parábola de Abrão e Isaac. No filme, os papéis são invertidos: é Issac (Ariclenes) que tem que decidir se mata ou não Abrão (Francisco Gaspar).
Logo após uma rixa entre os irmãos, Abrão sofre um acidente e fica tetraplégico. Ao retornar para casa em uma cadeira de rodas, ele imediatamente destrata seus 3 irmãos homens: além de Isaac, tem outros 2. Abrão é o irmão mais velho e é ele quem comanda os negócios da família, uma marcenaria. Todos, inclusive sua esposa, Madalena, se reportam a Abrão, e o obedecem sem questionamentos. Culpando Issac pelo seu acidente, Abrão o provoca constantemente, xingando e abusando moralmente o rapaz. Um dia, Abrão lhe propõe o impensável: que o irmão o mate.
Com uma direção correta de Sérgio Gag, o filme oferece diferentes estruturas narrativas: teatral, quando o ator Francisco Gaspar declama em fundo preto, um texto sobre o Poder de Napoleão e sua tentativa de suicídio diante da iminente derrota; uma linguagem Glauberiana, repleta de alegoria e misticismo, por conta de uma personagem, uma idosa vestida de preto, que circula entre os personagens, qual uma bruxa de "Macbeth" dando uma de oráculo; e a narrativa realista, que conta a história dos irmãos. Um filme repleto de ousadia, com um bom time de atores coadjuvantes, que só peca pelo excesso de trilha sonora na primeira parte do filme. Um silêncio ou som ambiente poderia ter sido mais interessante para provocar a tensão da sequência da chegada do irmão em casa.
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