"O livro dos prazeres", de Marcela Lordy (2020)
"Uma aprendizagem ou Livro dos prazeres" é uma obra de Clarice Lispector publicada em 1969. A roteirista e cineasta Marcela Lordy estréia em longa-metragem adaptando uma complexa e intimista obra junto da roteirista argentina Josefina Trotta. O filme é uma co-produção entre os dois países, e tem como co-protagonista o ator argentino Javier Drolas, protagonista do cult "Medianeiras".
Marcela adapta a obra para os dias de hoje. A própria personagem, Lori, reclama com o seu irmão, Davi (Felipe Rocha), que o pai votou em Bolsonaro.
Lori vem de Campos para a capital do rio de Janeiro para morar no apartamento grande em frente à praia de sua falecida mãe. Lori é a única mulher entre os irmãos. ela vai trabalhar como professora primária, e a diretora reclama que o conteúdo das aulas, existencialista, é incoerente com a idade das crianças.
Como a protagonista de "À procura de Mr Goodbar", Lori tem vários amantes, e os traz para seu apartamento para fazer sexo e nada mais. Na verdade, ela nutre especial paixão ao professor de filosofia Ulisses (Drolas), mas ambos fazem um pacto de só se relacionarem quando Ulisses sentir que ele deve se entregar à ela. Lori passa por experiências com vários amantes, mas ela entende que cada vez mais ela se parece com sua mãe: vivendo uma vida solitária, ausente de todos.
O filme, belamente fotografado por Mauro Pinheiro jr e com ótima atuação de Simone Spoladore, guarda curiosa semelhança com o drama de Murilo Salles, 'Nome próprio", filme que Marcela Lordy foi assistente de direção. O vazio, o medo, o minimalismo do apartamento, os silêncios, as buscas e flertes sexuais. A angústia e o olhar feminino sobre pequenas coisas, pessoas, o mundo que o cerca. Um filme intimista, um libertação pelo sexo, mas com os ditames de 'meu corpo, minhas regras: Lori escolhe quem ela quer. A obra de Clarice adaptada aos tempos do feminismo e da reflexão sobre o machismo e a masculinidade tóxica.
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